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Originalmente publicado no blog A Wealth of Common Sense em 24 de outubro de 2024
Um leitor perguntou-me:
Bem Carlson, é justo descrever-te como um permabull (otimista permanente)?
Esta é uma pergunta válida.
Sou um grande adepto de pensar e agir para o longo prazo, do investimento buy & hold (comprar e manter) e de manter uma perspetiva otimista acerca do futuro. Sou um tipo “copo meio cheio”.
Se a escolha fosse entre ser um permabull ou um permabear (pessimista permanente), optaria sempre pelo permabull.
Mas não me descreveria como permabull pelo simples facto de que sei que coisas más podem e vão acontecer. É difícil ser sempre otimista quando sabemos que os recuos são inevitáveis.
Esta semana estava a fazer algumas projeções simples para a minha reforma. Tenho 43 anos. Não faço ideia de quando vou querer reformar-me, mas vamos assumir 65 anos, porque é a idade mais comum. Portanto, tenho mais de 20 anos.
Nessas duas décadas, teremos provavelmente duas ou três recessões, três a quatro bear markets, pelo menos um crash enorme, talvez uma crise financeira ou duas, crises geopolíticas, guerra, turbulência política e alguns eventos completamente imprevisíveis (como uma pandemia).
Ninguém sabe estas coisas com certeza absoluta, mas é a minha assunção de base. Eu sei que coisas más vão acontecer, mas continuo a investir para o longo prazo e mantenho-me otimista relativamente ao futuro.
Numa entrevista recente, pediram-me para partilhar três dos meus livros preferidos sobre o investimento. Uma dessas escolhas é Devil Take the Hindmost de Edward Chancellor.
É o meu livro preferido de história financeira. Cada capítulo descreve um episódio histórico de especulação que correu mal – desde os mercados acionistas originais de 1600 à Bolha dos Mares do Sul, a Mania das Ferrovias, o Crash de 1929 e a Bolha do Japão dos anos 1980.
Cada evento histórico é único, mas a natureza humana é a única constante. Ficamos demasiado excitados. Levamos as coisas longe demais. Os bons tempos tornam-se maus.
Os tempos bons são mais divertidos, claro, mas adoro ler sobre os crashes. Sonhos destruídos. Pessoas a perderem tudo. Preços a atingirem mínimos que ninguém imaginou possíveis.
Não sou um homem sem coração. Não derivo qualquer prazer em ler sobre a dor dos outros. Mas ler história financeira tornou-me um investidor 100% melhor porque me recorda que devemos ser humildes para nos mantermos em jogo.
E é ao ler sobre os tempos maus – guerras, recessões, crises financeiras, crashes, etc – que aprendemos as melhores lições. Ninguém aprende com um bull market. Os testes acontecem quando os mercados caem.
Embora a nossa história como espécie esteja recheada de tragédias, sofrimento, retrocessos e conflitos, as pessoas continuam a acordar de manhã à procura de melhorar a sua situação. Apesar de todas as guerras, desastres, crises financeiras e recessões económicas, a nossa história também está repleta de progresso, inovação, determinação e padrões de vida mais elevados.
Num artigo escrito para o New York Times, publicado em outubro de 2008, Warren Buffett escreveu o seguinte:
“No longo prazo, as notícias no mercado acionista serão boas. No Séc. XX, os Estados Unidos sofreram duas guerras mundiais e outros conflitos militares traumáticos e dispendiosos; a Depressão; um dúzia de recessões e pânicos financeiros; choques petrolíferos; uma epidemia de gripe; e a demissão de um presidente em desgraça. Ainda assim, o Dow subiu de 66 para os 11 497.”
Bem, no Séc. XXI, já passamos por três guerras, o 11 de setembro, três recessões, dois crashes de mais de 50%, um golpe falhado no Capitólio, uma pandemia que literalmente encerrou o mundo e a inflação mais elevada em quatro décadas. Ainda assim, o Dow subiu de 11 497 para 43 275.
Podem acontecer coisa desagradáveis no curto prazo e, ainda assim, as coisas podem acabar muito bem no longo prazo.
Tudo depende do nosso horizonte de investimento.
Morgan Housel publicou um tweet excelente com o qual eu concordo a 100%:
Parafraseando Churchill, comprar e manter (buy & hold) é a pior estratégia de investimento que existe… à exceção de todas as outras.
No entanto, só porque sou um investidor buy & hold, isso não quer dizer que estou permanentemente otimista.
Reconheço que correções bear markets, crashes e contrações económicas vão acontecer. Também reconheço que o retorno histórico dos mercados acionistas de 10% ao ano inclui estes eventos. Temos de levar o mau juntamente com o bom.
O bom sempre pesou mais que o mau. Vou continuar a manter esta filosofia até que provem o contrário.
Originalmente publicado no blog Collaborative Fund em 14 de outubro de 2024
Quando acabámos a universidade, eu e a minha mulher (na altura, minha namorada) compramos um apartamento nos subúrbios de Seattle. Era fantástico – uma localização perfeita, um apartamento belíssimo, até tinha vista sobre o lago. A economia estava tão má que não pagamos quase nada pelo apartamento.
Há alguns meses, recordava com a minha mulher que aqueles tempos foram fantásticos. Tínhamos 23 anos, tínhamos bons empregos e vivíamos a nossa versão do Taj Mahal. Isto foi antes de termos filhos, por isso dormíamos até às 10 horas ao fim de semana, dávamos caminhadas, almoçávamos, dormíamos uma sesta e saíamos para jantar. Era assim a nossa vida. Durante anos.
“Aquilo é que era vida! Melhor era impossível”, dizia eu à minha mulher.
“De que é que estás a falar?”, perguntou ela, “Estavas sempre mais ansioso, e provavelmente mais deprimido do que alguma vez estiveste.”
Obviamente, ela tinha razão.
Se eu recordar um pouco mais profundamente, eu era mesmo infeliz. Estava assoberbado com as ansiedades do início de carreira, aterrorizado com a possibilidade de falhar e preocupado com a iminência de ser despedido. E com boas razões: Eu era mau no meu emprego. Era inseguro. E receoso acerca da fragilidades das minhas relações.
Na minha cabeça, hoje, olho para trás e penso, “Eu era muito feliz naquela altura. Aqueles foram os meus melhores anos.” Mas na realidade, na altura, eu pensava, “Mal posso esperar que estes anos acabem.”
Há um ditado russo sobre a nostalgia: “O passado é mais imprevisível do que o futuro”. É muito comum que as memórias das pessoas acerca do passado se “desliguem” daquilo que as pessoas realmente estavam a sentir na altura.
Tenho uma teoria sobre o motivo pelo qual isto acontece: quando estudamos História, sabemos como a história acaba, o que torna impossível imaginarmos aquilo que as pessoas estavam a pensar e a sentir no passado.
Quando pensamos nas nossas próprias vidas, não nos recordamos como nos sentíamos no passado; lembramo-nos de como deveríamos ter pensado – com o que sabemos agora.
Recordo-me de me ter sentido muito mais feliz do que agora porque, ao recordar-me desses tempos, agora sei que a maior parte das coisas que eu receava nunca aconteceram. Não fui despedido, a minha carreira está ótima, as relações continuam fortes. Mesmo as coisas que eram duras e tiveram desfechos menos agradáveis, eu consegui superá-las.
Eu sei isso, agora.
Mas, na altura, não o sabia.
Por isso, quando olho para trás, vejo um miúdo que não tinha preocupações. Ainda que, nessa altura, não fizesse outra coisa que não preocupar-me.
É difícil recordar como nos sentíamos quando não sabemos como a história acaba.
Há um ditado russo sobre a nostalgia: “O passado é mais imprevisível do que o futuro”.
Perguntaram-me recentemente numa conferência como deviam os investidores sentir-se relativamente ao mercado acionista dado que basicamente ele subiu sempre nos últimos 15 anos.
O minha primeira reação foi: tem razão. Se tivesse começado a investir há 15 anos e consultasse a sua conta pela primeira vez, ficaria surpreendido. Ganhou uma fortuna.
Depois, pensei, espera um minuto. Subiu sempre nos últimos 15 anos? Parafraseando a minha mulher: De que é que estás a falar?
Vamos fazer de conta que o crash de 22% no verão de 2011 nunca aconteceu?
É suposto esquecermo-nos que as ações caíram mais de 20% em 2016 e novamente em 2018?
Vamos – bom dia? – fingir que a pior calamidade económica desde a Grande Depressão não aconteceu em 2020?
Que o sistema bancário europeu quase colapsou?
Que os salários estavam estagnados
Que a dívida americana sofreu um downgrade?
Estamos agora a esquecer-nos que praticamente em todos os momentos dos últimos 15 anos, pessoas inteligentes defendiam que o mercado estava sobrevalorizado, uma recessão estava perto, a hiperinflação estava ao virar da esquina, o país estava falido, os números eram manipulados, o dólar valia zero e por aí adiante?
Eu acho que esquecemos estas coisas porque agora sabemos como a história acaba: o mercado acionista subiu muito. Se mantivemos a nossa carteira, nenhum destes eventos teve importância. Por isso é fácil descontar – ou até ignorar – como nos sentíamos na altura. Olhamos para trás e pensamos, “Isto foi tão fácil, dinheiro de graça, o mercado subiu sempre.” Poucas pessoas, no entanto, se sentiram dessa forma durante os últimos 15 anos.
Muito do que importa no investimento – e isto é verdade para muitas das coisas da vida – é como gerimos a psicologia da incerteza. O problema de recordar o passado é que nada é incerto. Achamos que não havia nada com que nos devíamos preocupar, porque a maior parte das coisas com que nos preocupávamos acabou por passar.
“Devíamos ter sido felizes e calmos, porque tudo correu bem”, é o que dizemos ao nosso “eu” passado. Mas o nosso “eu” passado não fazia a mínima ideia de como as coisas iam acabar. A incerteza dita quase tudo no momento presente, mas, ao olhar para trás, fazemos de conta que a incerteza nunca existiu.
Muito do que importa no investimento é como gerimos a psicologia da incerteza.
A minha mulher e eu compramos recentemente uma casa nova. Tal como na maior parte do país, custou muito mais dinheiro do que custaria há uns anos.
Começamos a falar de como as casa eram baratas em 2009. Na nossa região, as casas custam, literalmente, quatro a cinco vezes mais do que custavam nessa altura – mais, as taxas de juro eram baixas em 2009 e havia uma infindável oferta de casas no mercado. Dissemos algo do género, “Que sorte que as pessoas tinham em 2009.”
Mas depois caímos em nós, “Espera aí, nós estamos nostálgicos pela economia de 2009?” Foi a pior economia em 80 anos. Só se dizia que tudo estava terrível. As casas eram baratas porque o desemprego estava nos 10% e o mercado acionistas tinha caído 50%.
Olhando para trás, sabemos que 2009 não foi apenas o fundo do mercado, mas também o início de um novo boom (ainda que com volatilidade). Mas não sabíamos disso na altura e isso deu-nos bastante com que nos preocuparmos – e hoje é fácil esquecermo-nos disso. O que nos pareciam riscos, hoje parecem oportunidades. O que sentíamos como perigos, hoje parecem-nos aventuras.
De uma forma similar, os americanos têm nostalgia pela vida nos anos 50. Vedações brancas, prosperidade da classe média, famílias felizes, uma economia em franco crescimento. Havia também o risco de aniquilação nuclear. Hoje sabemos que os mísseis nunca foram lançados. Mas as crianças no 5º ano que faziam simulacros de ataques nucleares e se agachavam debaixo das secretárias? Não faziam ideia e viviam neste medo, que é impossível de contextualizar hoje, uma vez que sabemos como a história acaba. Portanto, era óbvio que aquelas crianças não eram tão felizes como nós julgamos que eram.
Subscrevo algumas contas no Instagram dedicadas à nostalgia dos anos 90. Era uma criança nessa década, por isso adoro essas coisas. Os comentários nesses posts são, inevitavelmente, uma variação de: “Esses forma os melhores anos. O final dos anos 90 e início dos anos 2000 foram a melhor altura para estar vivo”. Talvez tivesse sido muito bom. Mas também tivemos: uma profunda recessão em 2001, uma eleição presidencial contestada, o 11 de setembro – que alterou completamente a forma como vivemos – duas guerras, uma recuperação económica lenta, e por aí adiante. É fácil esquecer tudo isto porque sabemos que a economia recuperou, as guerras acabaram e não sofremos mais nenhum grande ataque terrorista. No espelho retrovisor, tudo parece certo, mas na altura a incerteza reinava.
O que pareciam riscos, hoje parecem oportunidades. O que sentíamos como perigos, hoje parecem-nos aventuras.
Claro que as coisas poderiam ter acontecido de forma diferente. E para muitas pessoas – as que foram despedidas, ou perderam a casa, ou morreram numa guerra – a nostalgia por um tempo passado mais feliz é válida.
Mas tal como Thomas Jefferson disse, “Quanto dor nos custaram os males que nunca aconteceram?”
Parte da razão pela qual a nostalgia existe é porque, sabendo o que sabemos hoje, frequentemente recordamos o passado e dizemos, “realmente não tínhamos motivo para nos preocuparmos.” Adaptávamo-nos e seguíamos em frente. Esta não será uma lição importante quando olhamos para o futuro?
Compreender porque a nostalgia económica é tão poderosa – porque é quase impossível recordar o quão incertas as coisas eram no passado quando sabemos como a história acaba – ajuda a explicar aquilo que eu acredito ser a lição mais importante da história económica, que é verdadeira para a maioria das pessoas na maior parte do tempo:
O passado não foi tão bom como o recordamos. O presente não é tão mau como pensamos. O futuro será melhor do que prevemos.
Artigo publicado originalmente na revista EXAME de agosto de 2024
Às vezes, o pior inimigo está mesmo dentro de nós próprios e, no mundo do investimento, assume a forma de vários vieses, que devem ser controlados para tomarmos as melhores decisões.
O sucesso no investimento está mais correlacionado com a forma como nos comportamos do que com os conhecimentos que temos sobre mercados financeiros. Ter algum conhecimento, disciplina e paciência é o suficiente para que “as coisas” corram razoavelmente bem. Investir é simples, mas não é fácil.
Deixe-me apresentar-lhe dois investidores muito diferentes:
Richard Fuscone licenciou-se em Dartmouth e tem um MBA na Universidade de Chicago. Foi chairman da região Américas da Merrill Lynch. Reformou-se em 2000, para se dedicar a “interesses pessoais e filantrópicos”.
Grace Groner nasceu em1909, no Illinois, Estados Unidos da América, e ficou órfã aos12 anos. Iniciou a carreira durante a Grande Depressão. Trabalhou 43 anos na mesma empresa como secretária. Vivia numa casa modesta, viajou pelo mundo e nunca se casou.
Em 2010, estes dois investidores foram notícia por razões muito diferentes. Fuscone pediu proteção contra credores, para evitar que a sua mansão com 11 casas de banho, duas piscinas, dois elevadores e garagem para sete automóveis fosse penhorada pelo banco. Isto aconteceu após ter sido obrigado a vender a casa de férias na Flórida. Grace morreu com 100 anos. Foi notícia pelo facto de ter deixado uma pequena fortuna de cerca de 7 milhões de dólares à universidade em que tinha estudado, para financiar bolsas de estudo. Em 1935, Grace comprou três ações da empresa onde trabalhava, Abbott Laboratories, por 180 dólares. Nunca as vendeu e reinvestiu sempre os dividendos recebidos. Segundo o seu advogado, ao longo da vida fez doações para os mais necessitados da sua área de residência.
Seguramente, existem poucos campos de conhecimento em que a secretária de uma empresa farmacêutica pudesse ter mais sucesso do que um cirurgião, um piloto de aviões ou um engenheiro de programação. Grace conseguiu fazer melhor do que um reputado gestor de Wall Street.
Por que razão estas histórias são possíveis?
Psicólogos e neurocientistas descobriram duas características muito relevantes no processo de tomada de decisões. A primeira é que estamos programados para o curto prazo, o que torna a possibilidade de ganhos rápidos extremamente atrativa. A segunda é a nossa tendência para adotarmos comportamentos de rebanho. O sentimento de exclusão é sentido na mesma parte do cérebro que sente a dor física.
“É muito difícil imaginar que se possa desenvolver verdadeiro conhecimento na previsão do comportamento dos mercados acionistas. Não é possível, porque o mundo não é suficientemente regular para que as pessoas aprendam as regras” Daniel Kahneman
Inúmeros estudos mostram que os seres humanos, sem exceção, são afetados por desafios comportamentais (vieses comportamentais ou armadilhas mentais), que condicionam o nosso processo de tomada de decisões e que nos levam a ser muitas vezes o nosso pior inimigo.
Porque sofremos estes vieses?
Segundo Daniel Kahneman (prémio Nobel da Economia, em 2002), a melhor forma de perceber como o nosso cérebro funciona é imaginarmos que temos dois sistemas: o sistema X e o sistema C. O primeiro é comandado pela emoção, toma decisões de forma automática, sem fazer esforço. As decisões são baseadas na semelhança, na familiaridade e na proximidade temporal. O sistema C requer um esforço deliberado e tenta resolver os problemas através de uma abordagem lógica e dedutiva. Como qualquer processo lógico, verifica a informação, passo a passo. Para que o sistema C acredite em algo, precisa de provas. Todos nós julgamos que o sistema C é que comanda a nossa tomada de decisões. Na prática, o sistema X (e os vieses que produz) está muito mais no comando do que gostamos de admitir.
Alguns dos vieses mais perigosos que nos afetam quando investimos são:
Excesso de confiança
É a tendência para sobrevalorizar as nossas capacidades, o que pode resultar em excesso de trading, diversificação desadequada e levar-nos a ignorar riscos.
Confirmatório
Muitas vezes procuramos apenas a informação que confirma a nossa opinião. Infelizmente, os media e as redes sociais potenciam ainda mais este viés. Quando somos confrontados com informação que discorda connosco, temos a tendência para considerar que essa informação está enviesada.
Autoatribuição
Todos temos um sentido de autoestima relativamente frágil e um dos mecanismos-chave para o proteger é o viés da autoatribuição: a tendência para considerar que os bons resultados se devem à nossa habilidade e os maus ao azar. Para os investidores, este viés é uma das mais fortes barreiras à aprendizagem. Este mecanismo de defesa impede-nos de reconhecer os erros que cometemos e, assim, não aprendemos nada.
Experiência direta
É a tendência para dar mais peso às nossas experiências pessoais, em detrimento de estatísticas ou de experiências alheias. Algo que se passou connosco ou com alguém próximo assume demasiada importância na nossa tomada de decisão. A maioria dos portugueses acha que investir na bolsa é um jogo, devido às más experiências que tiveram.
Ancoramento
Quando confrontados com a incerteza, todos temos a tendência para nos agarrarmos ao irrelevante, como se fosse uma muleta ou uma âncora. Por exemplo, o preço a que compramos uma ação ou máximo de uma cotação impede-nos muitas vezes de tomar uma decisão de venda quando toda a informação disponível, racionalmente, levaria a essa decisão.
Retrovisor ou hindsight
“Eu já sabia” é um dos mais perigosos vieses que enfrentamos e refere-se ao facto de, após um evento ter tido lugar, estarmos convencidos de que sabíamos o que iria passar-se. A bolha tecnológica no final dos anos 90 ou a Crise Financeira de 2008/2009 são bons exemplos disso. Muitos dos que já sabiam estavam totalmente investidos.
Por que motivo esta informação é relevante no investimento?
Ter o temperamento adequado é mais importante do que ter um QI elevado. Os vieses emocionais que sofremos impelem-nos a cometer erros que afetam o nosso bem-estar financeiro. Estar alerta para estes vieses é o primeiro passo para nos prevenirmos e aprendermos a passar as nossas decisões por um processo dedutivo, bem estruturado e assente no conhecimento.
Para conseguirmos uma perspetiva ampla, é preciso cultivar a curiosidade e procurar orientação. Em 2012, na EXAME, escrevi o ensaio “Finanças Comportamentais”, em que abordo com maior pormenor este assunto. Apesar de o ter escrito há mais de 12 anos, mantém-se atual, porque a natureza humana nunca muda.
No seu livro “O Investidor Inteligente”, publicado em 1949, Benjamin Graham, que foi professor de Warren Buffett na Columbia Business School, apresentou-nos um indivíduo chamado Sr. Mercado:
“Imaginem que, numa determinada empresa, o leitor possui uma pequena participação que lhe custou 1000 dólares. Um dos seus sócios, chamado Sr. Mercado, é muito prestável. Todos os dias, ele avalia a sua participação e oferece-se para a comprar ou para lhe vender uma participação adicional. Por vezes, essa avaliação parece plausível e justificada pelos desenvolvimentos no negócio e pelas suas perspetivas futuras. No entanto, frequentemente, o Sr. Mercado deixa-se levar pelo seu entusiasmo ou pelos seus receios e os valores que propõe aparentam ser pouco menos que absurdos.”
Obviamente, o Sr. Mercado é uma metáfora para os mercados financeiros como um todo. Dado o comportamento inconsistente do Sr. Mercado, os preços que ele diariamente atribui às ações podem divergir – por vezes dramaticamente – do seu valor justo. Quando ele está excessivamente entusiasmado, podemos vender-lhe a preços intrinsecamente demasiado elevados. E quando ele está excessivamente receoso, podemos comprar-lhe a preços que fundamentalmente são demasiado baixos. Assim, os erros de cálculo do Sr. Mercado oferecem oportunidades de lucro aos investidores que estão interessados em tirar partido delas.
Há muito para dizer sobre as excentricidades dos investidores e, ao longo dos anos, já disse muito. Mas a súbita queda dos mercados a que assistimos na primeira semana de agosto –e a rápida recuperação – compele-me a compilar o que escrevi anteriormente sobre o assunto, juntamente com alguns cartoons hilariantes, e acrescentar algumas novas observações.
Antes de mais, revisitemos os eventos mais recentes. Como resultado da pandemia Covid-19, do aumento vertiginoso da inflação e das rápidas subidas de taxas de juro por parte da Reserva Federal americana, 2022 foi um dos piores anos de sempre para a combinação de ações e obrigações. O sentimento atingiu o fundo a meio de 2022, com os investidores deprimidos com expectativas universalmente negativas: “Temos inflação e isso é mau. E a subida das taxas de juro para a combater causará, com certeza, uma recessão, e isso é mau.” Os investidores não conseguiam imaginar algo de positivo.
Depois os humores aliviaram-se e, em finais de 2022, os investidores uniram-se à volta de uma narrativa positiva: o crescimento económico lento faria com que a inflação caísse, e isso permitiria que o Fed começasse a baixar taxas em 2023, o que redundaria em vigor económico e ganhos de mercado. Um rally significativo teve início e continuou quase ininterruptamente até este mês. Embora os cortes nas taxas de juro antecipados em 2022 e 2023 ainda não se tenham materializado, o otimismo ganhou ascendência no mercado. O índice S&P500 subiu 54% (excluindo dividendos) nos 21 meses que terminaram em 31 de julho de 2024.Nesse dia, o presidente do Fed, Jerome Powell, confirmou que o Fed estava cada vez mais próximo de um corte de taxas e as coisas pareciam estar bem encaminhadas para crescimento económico mais robusto e mais ganhos no mercado acionista.
No mesmo dia, porém, o Banco do Japão anunciou o maior aumento das taxas de juro de curto prazo em mais de 17 anos (para uns extraordinários 0,25%!). Isto chocou o mercado acionista japonês, ao qual os investidores estavam lentamente a regressar há mais de um ano. Adicionalmente, e mais importante, este anúncio causou o caos nos investidores que estavam envolvidos no “carry trade”. Durante anos, as infinitesimais – e frequentemente negativas – taxas de juros do Japão significavam que as pessoas podiam pedir dinheiro emprestado a custos baixos no Japão e investir esse dinheiro emprestado numa variedade de ativos, lá e noutras localizações, que prometiam maiores retornos. Isto levou a posições extremamente alavancadas. Parece estranho que um aumento de 25 pontos base nas taxas de juro possa obrigar ao fecho destas posições. No entanto, foi o que aconteceu, levando a vendas em cascata numa variedade de classes de ativos por parte dos investidores que queriam diminuir a sua alavancagem.
No dia seguinte, os Estados Unidos publicaram noticias económicas mistas. No dia 1 de agosto, soubemos que o Manufacturing Purchasing Managers Index tinha caído e que os pedidos de subsídio de desemprego tinham subido. Em contrapartida, as margens de lucro das empresas continuam boas e os ganhos de produtividade surpreenderam pela positiva. No dia seguinte, ficamos a saber que as subidas no emprego se tinham moderado com as novas contratações a subirem menos que o esperado. A taxa de desemprego cifrava-se nos 4,3% no final de julho, uma subida face aos3,4% do final de abril de 2023. Isto continua a ser muito baixo em termos históricos, mas, segundo a subitamente popular “Regra de Sahm” (não se queixem a mim, eu também nunca tinha ouvido falar disto), desde 1970, um aumento de0,5% ou mais na média de três meses da taxa de desemprego face aos 12 meses anteriores nunca se verificou sem que a economia se encontrasse já em recessão. À volta da mesma altura, a Berkshire Hathaway de Warren Buffett anunciou que vendeu uma boa parte da sua posição massiva em ações da Apple.
Em conclusão, estas notícias representaram um golpe triplo no mercado. O flip flop resultante de otimismo para pessimismo causou uma queda significativa no mercado. OS&P500 caiu em três dias consecutivos – 1, 2 e 5 de agosto – um total de 6,1%. A repetição de erros a que já assisti durante décadas foi tão óbvia que não resisto a catalogá-los abaixo.
O que está por trás da volatilidade do mercado?
Nos primeiros dois dias de agosto, estava no Brasil, onde me pediram frequentemente para explicar este súbito colapso. Eu aconselhei a leitura do meu memo de 2016, “On the Couch”. A principal conclusão desse memo era que, no mundo real, as coisas variam entre “bem bom” e “não tão bom”, mas no investimento, a perceção flutua entre “impecável” e “desesperado”. Isto diz-nos 80% daquilo que precisamos de saber sobre este assunto.
Se a realidade muda assim tão pouco, porque é que as estimativas de valor (é o que os preços de mercado são suposto ser) variam tanto? A resposta tem a ver com alterações no humor. Tal como escrevi há 33 anos, no meu segundo memo:
As variações de humor dos mercados acionistas assemelham-se ao movimento de um pêndulo… entre a euforia e a depressão, entre celebrar desenvolvimentos positivos e ficar obcecado com os negativos e, assim, entre demasiado caro ou demasiado barato. Esta oscilação é uma das características mais fiáveis do mundo do investimento e a psicologia do investidor aparenta passar muito tempo nos extremos do que numa “média feliz”. (First Quarter Performance, abril 1991)
As oscilações de humor contribuem muito para alterar a perceção dos eventos pelos investidores, fazendo com que os preços variem drasticamente. Quando os preços colapsam, como aconteceu no início de agosto, não é porque as condições, subitamente, pioraram. É porque elas são percecionadas como más. Alguns fatores contribuem para este processo:
· Uma consciência reforçada das coisas num lado do espectro emocional,
· Uma tendência para ignorar as coisas no outro lado, e
· Similarmente, uma tendência para interpretar as coisas de uma forma que encaixa na narrativa prevalente.
O que isto significa é que, nos tempos bons, os investidores estão obcecados pelos pontos positivos, ignoram os negativos e interpretam as coisas favoravelmente. Depois, quando o pêndulo oscila, os investidores fazem o oposto, com efeitos dramáticos.
Uma ideia importante na economia é a teoria das expetativas racionais, descrita pela Investopedia da seguinte maneira:
A teoria das expetativas racionais… postula que os indivíduos baseiam as suas decisões em três fatores primários: a sua racionalidade humana, a informação disponível e a sua experiência passada.
Se os preços das ações fossem realmente o resultado da avaliação desapaixonada e racional dos dados, uma notícia negativa faria o mercado cair um pouco, a seguinte má notícia faria cair um pouco mais e assim por diante. No entanto, nós vemos que um mercado otimista é capaz de ignorar notícias negativas individuais até que uma massa crítica de más notícias se acumula e um ponto de viragem é atingido, os otimistas rendem-se e o colapso tem início. A grande citação de Rudiger Dornbush sobre a economia aplica-se muito bem aqui: “… as coisas demoram mais tempo a acontecer do que julgamos e depois acontecem mais depressa do que imaginamos.” Ou como o meu sócio, Sheldon Stone, costuma dizer: “O ar sai muito mais depressa do balão do que entrou.”
A natureza não linear deste processo sugere que algo muito diferente da racionalidade está a agir. Mais especificamente, tal como em muitos outros aspetos da vida, a dissonância cognitiva desempenha um papel significativo na psicologia dos investidores. O cérebro humano está programado para ignorar ou rejeitar dados que vão contra crenças anteriores, e os investidores são particularmente bons nisto.
Enquanto estamos no assunto da racionalidade, estava à espera de uma oportunidade para partilhar o seguinte screenshot de 13 de junho de 2022:
Este foi um dia duro para os mercados: as taxas de juro estavam a subir graças à atuação do Fed e outros bancos centrais e, em resultado, os preços dos ativos estavam sob intensa pressão. Mas vejam a tabela. Todos os índices de ações de todos os países caíam significativamente. Todas as moedas caíam face ao dólar. Todas as matérias-primas também estavam a cair. Apenas uma coisa subia: o yield das obrigações… o que significava que os preços das obrigações estavam também a cair. Não havia uma classe de ativos ou um país que não caísse nesse dia? Que tal o ouro, que supostamente se comporta melhor em tempos difíceis? O meu argumento é que, nos grandes movimentos de mercado, ninguém faz análises racionais ou faz distinções objetivas. Simplesmente “deitam o bebé fora com a água do banho”, fruto das oscilações psicológicas. Tal como se costuma dizer, “em tempos de crise, todas as correlações vão para 1.”
Adicionalmente, os dados da tabela exibem um fenómeno extra que está frequentemente presente durante movimentos extremos: o contágio. Algo de mau acontece nos mercados americanos. Os investidores europeus vêm isto como um sinal de sarilhos e vendem. Os investidores asiáticos detetam que algo negativo está iminente e vendem durante a noite. E quando os investidores americanos chegam na manhã seguinte, assustam-se com os desenvolvimentos negativos na Ásia, que confirmam as suas inclinações pessimistas e vendem. Isto é muito parecido com o jogo do telefone que eu jogava quando era pequeno: a mensagem pode ser mal comunicada à medida que é passada entre jogadores, mas incentiva ainda assim ações infundadas.
Quando a psicologia oscila dramaticamente, pode-se dar importância a afirmações sem sentido. Assim, durante o declínio de três dias no início de agosto, verificou-se que os investidores estrangeiros venderam, mais do que compraram, ações japonesas e os investidores reagiram a essa notícia. Mas se os estrangeiros venderam mais, isso significa que os japoneses compraram mais. Por que motivo se dá mais importância a um fenómeno do que a outro?
Para complicar ainda mais as coisas, em termos de análise racional, temos o facto de que a maior parte das notícias no mundo do investimentos podem ser interpretados positiva ou negativamente.
O cartoon seguinte resume esta ambiguidade com menos palavras. É altamente aplicável ao tremor de mercado que inspirou este memo:
Outra fonte de erros de cálculo é a tendência dos investidores para o otimismo e o pensamento positivo. Os investidores em geral – e os investidores em ações, em particular – devem, por definição, ser otimistas. Quem senão pessoas com expetativas positivas (e/ou um forte desejo por mais riqueza) estariam disponíveis para se separarem de dinheiro hoje na esperança de terem mais no futuro?
Charlie Munger, o já falecido sócio de Warren Buffett, citava o antigo estadista grego, Demóstenes, que afirmava, “Nada é mais fácil que a autoilusão. Porque aquilo que um homem deseja, ele acredita que é real.” Um excelente exemplo é o “Pensamento Goldilocks”: a crença que a economia nunca será suficientemente forte para causar inflação nem suficientemente fraca para cair numa recessão. As coisas às vezes funcionam assim – é o caso, atualmente – mas não tão frequentemente como os investidores querem crer. As expetativas que se inclinam para o lado positivo encorajam comportamento agressivos por parte dos investidores. E se estes comportamentos são recompensados em tempos bons, habitualmente mais agressividade é o resultado. Raramente os investidores se dão conta que (a) pode haver um limite para boas notícias consecutivas ou (b) uma subida pode ser tão excessivamente forte que uma queda se torna inevitável.
Durante anos, citei Buffett que alertava os investidores para temperarem o seu entusiasmo: “Quando os investidores perdem a noção de que os lucros das empresas crescem, em média, 7% ao ano, eles tendem a meter-se em sarilhos.” Por outras palavras, se o crescimento dos lucros das empresas é, em média, 7% ao ano, não deveriam os investidores ficar preocupados se as ações apreciam 20% ao ano durantes vários anos (tal como aconteceu nos anos 90)? Sempre pensei que era uma excelente citação, mas quando perguntei a Buffet quando a tinha dito, ele disse-me que infelizmente nunca tinha dito aquela frase. Continuo, no entanto, a achar que é um aviso importante.
Esta recordação imprecisa faz-me lembrar John Kenneth Galbraith e a sua referência a uma das mais importantes causas de euforia financeira: “a extrema brevidade da memória financeira”. É esta característica que permite aos investidores excessivamente otimistas encetar comportamentos agressivos, despreocupados pelo conhecimento do que esse comportamento anterior causou no passado. A juntar a isto, esta falta de memória facilita o esquecimento de erros passados e o investimento na última moda milagrosa.
ANTES
Biff: E agora, a nossa correspondente financeira, Janet McFreely, junta-se a nós para nos explicar porque é que o mercado simplesmente nunca vai cair.
Janet: Obrigado, Biff! O espantoso crescimento do setor tecnológico impulsionou-nos para além do antiquado ciclo do Boom e Bust para uma nova economia de prosperidade perpétua! Se o Dow não atingir os 36 mil pontos numa década, comerei a minha Palm Pilot!
Biff: Bem, então – parece que tenho de ligar ao meu corretor!
Janet: Só se quiseres comprar! Ah, ah!
Biff: Ah, ah! Já de seguida – um típico milionário dot-com mostra-nos a sua mesa de matraquilhos de ouro maciço! Mas antes, a publicidade!
AGORA
Biff: E agora, Janet McFreely, junta-se a nós para discutir a histórica inevitabilidade da facilmente previsível queda das dot.com!
Janet: Obrigado, Biff! Esta é uma bolha clássica nos mercados! Os investidores deviam estar delirantes para acreditar que a Priceline.com valia mais que algumas companhias aéreas juntas!
Biff: Em que é que eles estavam a pensar? Onde foram buscar informação tão errada?
Janet: Uh – não creio que haja forma de saber, Biff. Talvez nos chats da internet ou qualquer coisa.
Biff: Ah, ah! A internet… De seguida, um ex-milionário dot-com mostra-nos a fritadeira no seu novo emprego! Mas antes, a publicidade!
O mundo dos investimentos poderia ser menos instável se existissem regras imutáveis – tal como as que governam a gravidade – que pudéssemos confiar para que produzissem os mesmos resultados. Porém, não existem tais regras, uma vez que os mercados não têm como base leis naturais, mas sim as areias movediças da psicologia dos investidores.
Por exemplo, há um adágio muito antigo que diz que devemos “comprar com o rumor e vender com a notícia”. Isto é, a introdução de expetativas favoráveis é um sinal de compra, uma vez que as expetativas frequentemente continuam a subir. Isso, no entanto, acaba quando as notícias chegam, uma vez que o ímpeto para mais ganhos já foi realizado e não existem mais boas notícias para levar o mercado ainda mais para cima.
No entanto, no despreocupado ambiente de há um mês atrás, disse ao meu sócio Bruce Karsh que talvez a atitude prevalente se tenha tronado “comprar com o rumor e comprar com a notícia”. Por outras palavras, os investidores estavam a agir como se fosse sempre altura de comprar. Racionalmente, não se deve descontar a probabilidade de um evento positivo duas vezes: quando a possibilidade do evento é apresentada e quando o evento ocorre. Mas a euforia pode levar a melhor sobre muita gente.
Um outro exemplo da ausência de linhas orientadoras significativas pode ser encontrado neste excerto de um dos mais antigos recortes nos meus arquivos:
Um padrão continuado de consolidação e rotação sugere que se deve aumentar o ênfase em comprar ações quando estão relativamente mais fracas e vendê-las quando se verifica relativa força. Isto representa um contraste marcado com períodos anteriores onde o ênfase na força relativa provou ser eficaz. (Loe, Rhoades & Co., 1976)
Em resumo, às vezes espera-se que as coisas que subiram mais continuem a subir mais, e às vezes espera-se que as coisas que subiram menos, sejam as que vão subir mais. A isto, muitos responderão “duh”. Conclusão: há muito poucas regras eficazes para os investidores seguirem. O sucesso no investimento deve-se sempre a uma análise hábil e não a aderência cega a formulas e regras.
A psicologia volátil, perceção enviesada, reação excessiva, dissonância cognitiva, excesso de otimismo, falta de memória, e a falta de princípios fiáveis. Esta é uma extensa lista de males. Juntas, constituem a principal causa dos máximos e mínimos extremos do mercado e são responsáveis pelas oscilações dramáticas entre ambos. Benjamin Graham afirmou que, no longo prazo, o mercado é uma balança que avalia o mérito de cada ativo e lhe atribui um preço apropriado. Mas no curto prazo, é meramente uma máquina de votos e o sentimento dos investidores que a utiliza, oscila selvaticamente, incorporando pouca racionalidade e atribuindo preços diários que refletem muito pouco em termos de inteligência.
Ao invés de tentar reinventar a roda, repetirei aquilo que já escrevi em dois memos passados:
Especialmente nas quedas, muitos investidores atribuem inteligência os mercado e esperam que seja o mercado a dizer-lhes o que se está a passar e o que fazer. Este é um dos maiores erros que podemos cometer. Tal como Benjamim Graham notou, o mercado do dia a dia não é um analista fundamental; é um barómetro do sentimento dos investidores. Não o podemos levar demasiado a sério. Os participantes no mercado têm um conhecimento limitado do que está realmente a passar-se em termos fundamentais e qualquer inteligência que possa estar por trás das suas compras e vendas é obscurecida pelas oscilações emocionais. Seria errado interpretar a recente queda mundial como se o mercado “soubesse” que tempos difíceis se aproximam. (It´s Not Easy, setembro de 2015)
O meu ponto é que os mercados não avaliam o valor intrínseco dos ativos diariamente e certamente não fazem um bom trabalho durante crises. Assim, os movimentos de mercado não nos dizem muito acerca dos fundamentos económicos. Mesmo nos melhores tempos, quando os investidores são guiados pelos fundamentais e não pela psicologia, os mercados mostram aquilo que os participantes acham que vale, não qual é exatamente o valor. O valor é algo que o mercado desconhece, tal como o investidor médio. E conselhos de um investidor médio não conseguem obviamente ajudar-nos a ser investidores acima da média.
Os fundamentos económicos – de uma economia, empresa ou ativo – não se alteram significativamente de um dia para o outro. Assim, os movimentos de preços tem mais a ver com (a) alterações na psicologia do mercado e, consequentemente, (b) alterações em quem ter ou não ter determinado ativo. Estas duas afirmações são mais válidas quanto mais os preços diários variam. Grandes variações mostram que a psicologia está a mudar radicalmente. (What Does the Market Know?, janeiro de 2016)
O mercado flutua ao sabor dos caprichos dos seus participantes mais voláteis: aqueles que estão disponíveis para (a) comprar a um preço bem acima dos dias anteriores quando as notícias são boas e o entusiasmo domina e (b) vender a desconto substancial quando as notícias são más e o pessimismo reina. Tal como escrevi em On the Couch, de vez em quando, o mercado precisa de ir ao psiquiatra.
É importante notar que, como o faz o meu sócio John Frank, em comparação com o número total de acionistas de cada empresa, não são necessárias muitas pessoas para fazer subir o preço nas bolhas ou fazer cair nos crashes. Quando as ações de uma empresa que, há um mês, valiam 10 biliões de dólares, estão a transacionar a 12 ou 8 biliões, isto não significa que toda a empresa mudaria de mãos a estes preços; só uma pequena fatia. Independentemente disto, uns poucos investidores emocionais podem fazer variar os preços muito mais do que deveriam.
A pior coisa que podemos fazer é aliarmo-nos a estes investidores quando eles se lançam nestas corridas. É muito melhor assistir a isto da bancada, ajudados pelo conhecimento que temos de como os mercados funcionam. Melhor ainda é aproveitar as reações excessivas do Sr. Mercado e fazer-lhe a vontade, vendendo-lhe quando ele está com vontade de comprar a preços elevados e comprar-lhe quando ele está desesperado para vender. Eis como Benjamin Graham completou a apresentação do Sr. Mercado que inclui na página 1:
Se for um investidor prudente ou um empresário sensato, vai permitir que a comunicação diária do Sr. Mercado determine a sua visão do valor da sua participação de 1000 dólares na empresa? Só no caso de concordar com ele ou quiser fazer negócio com ele. Pode ficar contente em vender-lhe quando ele lhe oferece um preço ridiculamente elevado e igualmente feliz por comprar-lhe quando o preço é reduzido. Mas no resto do tempo, será mais sensato formar as nossas próprias ideia do valor das nossas participações, com base nos relatórios financeiros das empresas.
Por outras palavras, o principal trabalho do investidor é notar quando os preços de mercado se afastam do valor intrínseco e determinara como agir em resposta. Emoção? Não. Análise? Sim.
22 de agosto de 2024
Três coisas para refletir nesta correção no mercado acionista:
É por isso que adoro os mercados.
Tudo estava calmo. Não havia volatilidade de monta este ano. De repente, BAM.
As ações caem pelo mundo inteiro. Os investidores reajustam os seus portfólios à pressa.
As pessoas estão preocupadas com uma recessão, a bolha da IA que pode rebentar, a inação do FED, o mercado de trabalho, o carry trade do Yen e muito mais. O VIX disparou do nada:
O S&P500 está apenas 7,8% abaixo dos máximos históricos. Não estamos sequer tecnicamente numa correção, mas notava-se um sentimentos real de pânico nos mercados na segunda-feira.
Nunca deixo de ficar fascinado com o elemento humano dos mercados financeiros. É um ciclo constante de medo, ganância, inveja, pânico e euforia. Os mercados financeiros são como um laboratório para testar as emoções e o comportamento humanos em grande escala.
As coisas podem passar do “aborrecido” para o “excitante” num piscar de olhos porque a natureza humana nunca muda.
Adoro o mercado acionista.
O mercado acionista não é a economia, mas às vezes é. Na segunda-feira, tivemos uma crash ao estilo de 1987 nas ações japonesas (via Chartr):
Foi o pior dia para o Nikkei desde a Segunda-Feira Negra de outubro de 1987.
Pior que 2008. Pior que 2020. Pior que qualquer coisa nos anos 90 depois da maior bolha de ativos financeiros da história ter rebentado.
Isto não é brincadeira.
Os mercados pelo mundo inteiro seguiram o Japão e as ações caíram.
É possível que os mercados acionistas estejam a descontar uma recessão ou alguma crise financeira calamitosa. Estas coisas são raras, mas acontecem.
Também é possível que isto foi apenas o caso de alguns investidores que se tornaram demasiado complacentes, com demasiada alavancagem e foram apanhados desprevenidos no carry trade (a explicação mais simples é que as taxas de juro estavam muito baixas no Japão. Os investidores pediam dinheiro emprestado no Japão com taxas reduzidas e investiam-no noutras localizações. Estavam a fazer isto com dinheiro emprestado. Quando as taxas caíram nos Estados Unidos e subiram no Japão, este trade deixou de fazer sentido.)
Quando aconteceu o crash de 1987 e o mercado caiu mais de 20% num único dia, algumas pessoas temeram o regresso da Grande Depressão:
Muitos investidores assumiram que um crash de proporções épicas garantia que uma recessão estava para breve.
Nunca chegou.
Às vezes o mercado acionista antecipa estes coisas e “prevê” uma recessão, mas não acerta sempre. O bear market de 2022 é um exemplo perfeito do mercado acionista prever 9 das últimas 5 recessões.
Às vezes a economia impacta o mercado acionista.
Às vezes, o carry trade do Yen explode, forçando os traders com excesso de alavancagem a liquidar as suas posições, originando uma cascata de vendas e um flash crash num dos maiores mercados acionistas do mundo.
Às vezes“não sei” é a melhor resposta.
A turbulência de segunda-feira será um precursor de coisas piores ou será apenas um “ping” no radar?
Não sei!
O Nikkei caiu mais de12% na segunda-feira, mas subiu mais de 10% na terça-feira.
Foi apenas um flash crash? Vamos ver.
Também não sei se a economia se vai deteriorar o suficiente para causar uma recessão. Se olharmos para a história da taxa de desemprego, ela costuma seguir tendências:
É muito raro assistir a uma subida rápida na taxa de desemprego que não continue a subir. Historicamente, quando isto acontece, uma recessão está para breve.
O crescimento dos salários está a cair, a contratação de pessoal está a abrandar e a criação de novos empregos está a arrefecer.
No entanto, o rácio de participação da força de trabalho em idade ativa continua a subir:
Estamos a aproximar-nos do máximo histórico no rácio de participação na força de trabalho de quem tem entre 25 e 54 anos.
E se simplesmente estamos em situação de pleno emprego e o mercado de trabalho não tem outra direção a seguir senão para baixo? E se isto é apenas uma situação de normalização?
Há argumentos fortes para ambos os casos.
Podemos também argumentar que o FED tem a capacidade de intervir e resolver os problemas se baixarem as taxas e tornarem o crédito mais barato. As indústrias mais sensíveis às taxas de juro, como o mercado da habitação, agradeceriam custos de financiamento mais baixos. Assim como as pessoas que compram carros, que têm cartões de crédito e donos de pequenos negócios que precisam de crédito para financiar as suas atividades.
Isto pode acabar por se revelar um flash crash de curto prazo causado por investidores complacentes com demasiada alavancagem.
Também é verdade que dias de grandes quedas e subidas tendem a ocorrer durante períodos de pessimismo.
Estou disposto a dizer “não sei” relativamente às preocupações com a economia e com os mercados porque é muito difícil prever o que os mercados vão fazer, especialmente no longo prazo.
Vince Vaughn participou no podcast SmartLess e, quando lhe perguntaram porque é que tinha medo do oceano, ele respondeu, “Eu respeito o oceano. É uma entidade poderosa”.
Eu sinto o mesmo em relação ao mercado acionista. Eu respeito o mercado acionista. É uma entidade poderosa.
Mas continuo a nadar no oceano e invisto em ações.
Comprei ações ontem quando elas caíram. Mas não estava a tentar aproveitar a queda ou a fazer uma previsão macroeconómica.
Comprei ações porque é isso que faço de duas em duas semanas. Acontece automaticamente independentemente do que se está a passar nos mercados ou na economia.
O meu plano financeiro respeita a volatilidade e a incerteza porque elas são dois componentes irredutíveis da paisagem do investimento.
O meu plano não exige que eu tenha a capacidade de prever o que vai acontecer amanhã nos mercados. Porque ninguém sabe o que vai acontecer amanhã.
Originalmente publicado no blog Collaborative Fund em 30 de abril de 2024
O Japão tem cerca de 140 empresas que têm, pelo menos, 500 anos. Algumas afirmam que estão há mais de 1000 anos em atividade.
É espantoso pensar naquilo que estes negócios já enfrentaram– dúzias de guerras, imperadores, terramotos catastróficos, tsunamis, depressões, e uma série de outros eventos sem fim. E, no entanto, continuam a vender bens e serviços, geração após geração.
Estes negócios ultra duráveis são conhecidos como “shinise”, e diversos estudos mostram que os “shinise” tendem a partilhar uma característica: têm muito dinheiro em caixa e não têm dívida. Isto explica em parte como resistem a séculos de calamidade constantes.
Adoro esta citação do autor Kent Nerburn: “A dívida define o nosso futuro e quando o futuro está definido, a esperança começa a morrer”.
Não é apenas a esperança que começa a morrer, mas também o número de eventos a que conseguimos resistir.
Esta imagem representa a volatilidade ao longo da nossa vida. Não apenas a volatilidade dos mercados, mas também a volatilidade na vida: recessões, guerras, divórcios, doenças, mudanças, cheias, mudanças de opiniões, etc.
Sem dívida, o número de eventos voláteis a que conseguimos resistir ao longo da vida poderão cair dentro de um intervalo como este:
Alguns eventos extremos poderão arruinar-nos, mas no geral somos bastante resistentes.
Com mais dívida, o intervalo de eventos a que conseguimos resistir encurta-se:
E com toneladas de dívida, encurta-se ainda mais:
Acho que esta é a forma mais prática de encarar a dívida: À medida que a dívida aumenta, reduzimos o intervalo de eventos a que conseguimos resistir na vida.
Isto é tão simples. Mas é muito diferente da forma como a dívida é tipicamente encarada – é uma ferramenta para antecipar a procura futura e alavancar ativos, onde a única desvantagem é o custo do capital (a taxa de juro).
Quando encaramos a dívida como o estreitamento de eventos resistíveis, duas coisas se tornam muito importantes.
Uma, começamos a ponderar o quão comum é a volatilidade.
Espero manter-me por cá mais 50 anos. Qual é a probabilidade de, durante esses 50 anos, eu passar por algum destes eventos: guerras, recessões, ataques terroristas, pandemias, más decisões políticas, emergências familiares, crises de saúde imprevistas, problemas com os filhos e outras desventuras?
Cem por cento. A probabilidade é 100%.
Quando pensamos assim, levamos a redução de eventos a que conseguimos sobreviver bem a sério.
A segunda é que começamos a pensar nos eventos que nos podem destruir.
A volatilidade financeira é um evento óbvio – não conseguimos pagar as prestações da dívida. Mas também há a volatilidade psicológica – por qualquer razão, não conseguimos tolerar mentalmente o nosso emprego. Temos volatilidade na família, que pode ser qualquer coisa desde um divórcio a ter de cuidar de um familiar. A volatilidade com os filhos dava para encher um livro. Volatilidade na saúde, na política, e assim por aí adiante. O mundo é um lugar louco.
Eu não sou um zelote anti-dívida. Há um lugar e um tempo para a dívida e, se utilizada responsavelmente, pode ser uma ferramenta fantástica.
Mas, assim que encarar a dívida como o estreitamente daquilo a que conseguimos resistir num mundo volátil, começamos a encará-la como um constrangimento ao ativo que mais importa: ter opções e flexibilidade.
No mundo dos investimentos, o nome Warren Buffett é sinónimo de sucesso e prosperidade com este livro, o leitor pode aprender como Warren Buffett conseguiu isso e como ele também pode conseguir.Construindo do zero, Buffett escolheu as suas ações sabiamente e com cuidado, por sua vez acumulando a enorme fortuna pela qual agora é famoso. Mary Buffett, ex-nora deste lendário génio financeiro e uma empresária de sucesso por seus próprios méritos, juntou-se ao famoso Buffettologist David Clark para criar Buffettology, um guia de investimento único que explica as estratégias vencedoras do mestre.
A tecnologia é o setor mais ativo e lucrativo do mercado de ações, mas pode ser um pesadelo para os investidores. Empresas que hoje dominam poderão ser vendidas a preço de saldo dentro de poucos anos.Mark Mahaney, analista de empresas tecnológicas há mais de 25 anos, partilha connosco as lições que aprendeu com os seus triunfos e, principalmente, com os seus erros. Com Mahaney, revisitamos a história da Internet comercial, incluindo o Dot Com Boom e o Dot Com Bust, as empresas que atingiram um sucesso espetacular e as que falharam miseravelmente e revela dez lições para a construção de um portfólio de ações de tecnologia.Nothing But Net oferece conselhos poderosos para as próximas duas décadas - lições que podemos começar a aplicar hoje e ao longo dos próximos anos.
Um guia detalhado para superar as armadilhas psicológicas encontradas com mais frequência no investimento. Vieses, emoção e excesso de confiança são apenas três das muitas características comportamentais que podem levar os investidores a perder dinheiro ou obter retornos mais baixos. As finanças comportamentais, que reconhecem que existe um elemento psicológico em todas as tomadas de decisão do investidor, podem ajudá-lo a superar esse obstáculo. Em O Livro do investimento Comportamental, o especialista James Montier apresenta alguns dos desafios comportamentais mais importantes enfrentados pelos investidores. Montier revela as barreiras psicológicas mais comuns, mostrando claramente como a emoção, o excesso de confiança e uma infinidade de outras características comportamentais podem afetar a tomada de decisão de investimento. O livro apresenta maneiras comprovadas de identificar e evitar as armadilhas dos vieses do investidor, indica como aprender com os nossos erros de investimento em vez de repeti-los e explora os princípios comportamentais que permitirão que o leitor tenha sucesso como investidor. Escrito num estilo simples e acessível, O Livro do Investimento Comportamental permite ao leitor identificar e eliminar traços comportamentais que podem minar os seus esforços de investimento e mostra-lhe como conseguir retornos superiores.
Numa mistura inovadora de ciência e imaginação, o ex-líder da Google China e um dos mais importantes escritores de ficção especulativa unem forças para responder a uma pergunta: como vai a inteligência artificial mudar o nosso mundo nos próximos vinte anos?A IA vai definir o século XXI, mas muitas pessoas sabem muito pouco sobre ela, exceto as visões de robots distópicos ou carros voadores. Embora o termo exista há já meio século, é só agora, defende Kai-Fu Lee, que a IA está prestes a revolucionar a nossa sociedade, tal como tecnologias como a eletricidade e smartphones o fizeram antes. Nos últimos cinco anos, a IA mostrou que pode aprender jogos como o xadrez em poucas horas - e vencer sempre os humanos . A IA ultrapassou os humanos no reconhecimento de fala e objetos, superando até mesmo os radiologistas nos diagnósticos do cancro do pulmão. Dentro de duas décadas, teremos dificuldades em reconhecer a vida cotidiana.Neste livro provocador que alia a narrativa especulativa e a ciência, Lee, um dos maiores especialistas em IA do mundo, juntou-se ao célebre escritor Chen Qiufan para revelar como a IA vai invadir todos os aspectos do nosso mundo, em 2041.
Este livro defende que as forças subjacentes da demografia e da globalização farão em breve reverter três tendências globais de várias décadas a inflação e as taxas de juros vão subir, mas levarão a um retrocesso na desigualdade.O que quer que o futuro reserve, argumentam os autores, nada será como o passado.Os ventos deflacionários das últimas três décadas devem-se principalmente a um enorme aumento na oferta de mão de obra disponível no mundo, devido a tendências demográficas muito favoráveis ??e à entrada da China e da Europa Oriental no sistema comercial mundial.Este livro mostra como estas tendências demográficas estão prestes a reverter-se drasticamente, coincidindo com um recuo da globalização.O resultado? Pode-se esperar que o envelhecimento aumente a inflação e as taxas de juros, trazendo uma série de problemas para uma economia mundial superendividada, mas também deverá aumentar a participação do trabalho, de modo que a desigualdade diminua.Abarcando muitos fatores sociais e políticos, bem como aqueles que são mais puramente macroeconômicos, os autores abordam temas como envelhecimento, demência, desigualdade, populismo, aposentadoria e financiamento de dívidas, entre outros. Este livro merece a atenção de qualquer pessoa que esteja interessada em saber para onde vai a economia mundial.
Uma sondagem de 2020 concluiu que 60% das pessoas pensam que o ritmo de mudança nas suas vidas é muito rápido. As gerações anteriores, confrontadas com motores a vapor ou elevadores pela primeira vez, provavelmente também pensavam assim. Mas, segundo Azeem Azhar, analista de tecnologia e empresário, entramos de facto num período de mudança desestabilizadora e sem precedentes: uma era totalmente nova da sociedade humana e da organização económica a Era Exponencial.Azhar identifica a computação e inteligência artificial, eletricidade renovável e armazenamento de energia, biotecnologia e manufatura (por exemplo, a impressão 3D) como as áreas em que as inovações surgem a um ritmo exponencial: inventam-se e escalam-se novas tecnologias a um ritmo cada vez mais rápido, e simultaneamente, diminuem-se rapidamente os preços.O problema é que, embora a mudança tecnológica esteja a acelerar rapidamente, a nossa sociedade evolui a um ritmo mais gradual e incremental. Resultado? Está a abrir-se uma divisão entre a tecnologia e a sociedade, a denominada, segundo Azhar, lacuna exponencial.Temos vindo a inventar novas tecnologias desde os tempos dos machados de pedra e das pás de madeira. De acordo com Azhar, no entanto, temos muita dificuldade como espécie em compreender a mudança exponencial: As nossas mentes evoluiram para um mundo que ainda não tinha descoberto o poder da mudança rápida.No entanto, indivíduos e empresas ignoram esta mudança rápida por sua conta e risco. Em 2007, Steve Ballmer, da Microsoft, descreveu o iPhone, dizendo: Isto não tem a mínima hipótese de ganhar quota de mercado significativa. Como Azhar observa: Ballmer caiu na lacuna exponencial.Segundo Azhar existe agora um abismo de incompreensão mútua entre os tecnólogos e o resto da sociedade. Os políticos mostram muitas vezes uma profunda ignorância até mesmo das tecnologias mais básicas: Eles são como pessoas que tentam abastecer um carro enchendo a bagageira com feno.Azhar é assumidamente otimista quanto ao poder da tecnologia: Estamos a entrar numa era de abundância. O primeiro período da história humana em que a energia, comida, computação e muito mais serão trivialmente baratos de produzir.
O que quer que a liberdade financeira signifique para nós viver a vida que quisermos, não trabalhar de acordo com os horários dos outros, ser dono do nosso destino ou qualquer outro sonho a forma de a atingir é investir.Neste livro conciso e acessível, Ben Carlson e Robin Powell mostram como tomar o caminho da liberdade financeira através da poupança e do investimento.Não se trata de ficar rico de um dia para o outro. Criar riqueza através do investimento com o objetivo de longo prazo da liberdade financeira exige disciplina, sacrifício e tempo.Mas é possível, e quase qualquer um pode fazê-lo, se munido das informações corretas.Invest Your Way to Financial Freedom partilha connosco todas as etapas que precisamos de seguir para alcançar os nossos objetivos e inclui respostas claras e simples para as seguintes perguntas:Porque é que poupar é importante?Porque é que investir é a melhor forma de criar riqueza?O que podem os investidores esperar do mercado de ações?É tarde demais se não começarmos cedo a poupar e a investir?
Os nossos objetivos pessoais precisam de uma estratégia de longo prazo.Assim como alguns CEOs privilegiam os lucros trimestrais em detrimento dos investimentos estratégicos necessários para o crescimento de longo prazo, o mesmo acontece nas nossas vidas pessoais e profissionais.Todos sabemos intelectualmente que o sucesso duradouro exige persistência e esforço. No entanto, a pressão implacável omnipresente no mundo moderno leva-nos a escolher o que parece fácil, garantido ou o que está na moda.Em The Long Game, Dorie Clark defende um caminho diferente. Clark partilha princípios que podemos aplicar à nossa situação específica, bem como histórias da sua própria carreira e experiências de outros profissionais. Todos temos as mesmas vinte e quatro horas, mas com as estratégias certas, podemos aproveita-las de forma mais eficiente.Este não é um processo que dará resultados da noite para o dia, mas a recompensa a longo prazo é imensa.
A sugestão de hoje surge-nos de Hugo Palma, informático de profissão e formação, filósofo e desportista por paixão, inconformado com o desinteresse por natureza. Leitor de menos livros de ficção do que por vezes gosta de admitir, mas os temas não ficcionais ganham quase sempre na constante batalha do próximo livro a atacar."O otimista diz O copo está meio cheio. O pessimista diz O copo está meio vazio. O racionalista diz Este copo é o dobro do tamanho que precisa de ser.Para muitos filosofia é sinónimo de algo desprovido de aplicação prática, uma ciência romântica da qual pouca utilidade poderá ser espremida. Proponho que repensem a filosofia como a base para toda a lógica argumentativa mas sem perder de vista o sentido de humor e a capacidade de rir de nós próprios. Neste livro são abordados conceitos basilares da filosofia antiga através de pequenas histórias e anedotas numa voz livre de preconceitos e classicismos. Se filosofia sempre foi aquele tema que pareceu aborrecido ou se simplesmente quer uma resumida e divertida passagem pelos principais filósofos antigos, este é o livro para si."
Mais uma obra-prima de um dos meus autores favoritos. . . Se procura saber mais sobre muitas das forças fundamentais que moldam a vida humana, este é o livro a ler. É um tour de force Bill Gates Nunca tivemos tanta informação ao nosso alcance e, no entanto, a maioria de nós não sabe como o mundo realmente funciona. Este livro explica sete das realidades mais fundamentais que governam a nossa sobrevivência e prosperidade. Desde a produção de energia e alimentos, passando pelo mundo material e pela globalização, até aos riscos que ameaçam a nossa civilização, o meio ambiente e o seu futuro, How the World Really Works oferece-nos uma verificação de realidade muito necessária no fim de contas, antes de podermos enfrentar os problemas de forma eficaz, temos que compreender os factos.Neste livro ambicioso e provocador, vemos, por exemplo, que a globalização não é inevitável - os perigos de permitir que 70% das luvas de borracha do mundo sejam fabricadas em apenas uma fábrica tornaram-se evidentes em 2020 - e que as nossas sociedades têm vindo a aumentar cada vez mais a sua dependência dos combustíveis fósseis, tornando cada vez mais improvável a sua completa e rápida eliminação. Por exemplo, cada tomate cultivado em estufas exige, para a sua produção, o equivalente a cinco colheres de sopa de gasóleo; e ainda não temos formas comercialmente viáveis ??de fabricar aço, amónia, cimento ou plástico, à escala exigida globalmente, sem combustíveis fósseis.Vaclav Smil não é pessimista nem otimista, é um cientista; ele é o perito líder mundial em energia e um polímata surpreendente. Com base na ciência mais recente, Smil responde à pergunta mais profunda dos nossos tempos: estamos irrevogavelmente condenados ou espera-nos uma utopia mais brilhante? Convincente, rica em dados e revisionista, esta obra-prima interdisciplinar encontra falhas em ambos os extremos. Olhar o mundo através desta lente quantitativa revela verdades ocultas que alteram a forma como encaramos o nosso passado, presente e futuro incerto.
Um guia em forma de manualPara que todos os clientes possam entender melhor a filosofia de investimento e como este processo de seleção é posto em prática, a Casa de Investimentos lançou, este ano, o Manual do Investidor. O livro é um guia e também uma promessa para todos os clientes e quer mostrar que temos uma filosofia de investimento bem estruturada. Só as melhores empresas servem, conforme explicou Emília Vieira, CEO e fundadora da Casa de Investimentos.O manual contém as linhas mestras do investimento, de um processo que passa por analisar profundamente estas empresas e fazer uma análise qualitativa, a história da empresa, os seus processos. Não há caminhos rápidos. E rápidos também não são os ganhos. É por isso que a gestora tem um foco de longo prazo, ignorando o ruído de curto prazo.Investir em ações não é um jogo de sorte e azar, realçou Emília Vieira, notando que todos nós somos vítimas dos nossos vieses comportamentais. Cada um valoriza a experiência que tem. Mas, nos últimos mais de 100 anos, o ativo que melhor rentabilizou o capital foram as ações.
The Perfection Trap, de Thomas Curran, professor da London School of Economics, explora como a busca pela perfeição pode tornar-se uma obsessão perigosa que leva ao esgotamento e à depressão - impedindo-nos de alcançar os nossos objetivos.Hoje, o esgotamento e a depressão estão em níveis recorde, impulsionados por uma combinação de intensa competição no local de trabalho e redes sociais opressivamente omnipresentes.A sociedade publicita continuamente a necessidade de querer mais e de ser perfeito.Nesta obra, Curran sugere introspecção e mudanças sociais mais amplas. Mostra-nos o que podemos fazer como indivíduos para resistir à pressão moderna de sermos perfeitos e, ao fazê-lo, conquistarmos para nós próprios uma vida com mais propósito.The Perfection Trap dirige-se a todos aqueles que já se sentiram oprimidos pela necessidade esmagadora competir para além de qualquer racionalidade.
Um livro profundamente relevante de um dos principais escritores financeiros do mundo, The Price of Time explica a situação financeira global atual e como aqui chegámos.No início era o empréstimo, e o empréstimo tinha juros. Há pelo menos cinco mil anos que as pessoas pedem dinheiro emprestado e emprestam dinheiro com juros. Esta prática nem sempre foi popular no mundo antigo, a usura era geralmente vista como exploradora, um caminho potencial para a servidão e escravidão.No entanto, à medida que o capitalismo se estabeleceu a partir do final da Idade Média, as críticas aos juros foram sendo atenuadas porque os juros eram uma recompensa essencial para que os credores aplicassem o seu capital. E o juro desempenha muitas outras funções vitais: incentiva as pessoas a poupar; permite que valorizem ativos preciosos, tais como casas e todos os tipos de títulos financeiros; e permite-nos pôr um preço no risco.Todas as atividades económicas e financeiras acontecem ao longo do tempo. O juro é frequentemente descrito como o preço do dinheiro, mas na realidade é melhor descrito como o preço do tempo: o tempo é escasso, o tempo tem valor, o juro é o valor do dinheiro no tempo.Nas duas primeiras décadas do século XXI, as taxas de juros caíram mais do que nunca. O dinheiro fácil após a crise financeira global de 2007/2008 causou vários efeitos nefastos, incluindo o aparecimento de várias bolhas de preços de ativos, um abrandamento no crescimento da produtividade, desencorajando a poupança e exacerbando a desigualdade e forçando investidores sedentos por rendimento a assumir riscos excessivos.O mundo financeiro encontra-se agora num lugar difícil e Edward Chancellor está aqui para nos explicar porquê.
Qualidade. Todos nós fazemos diariamente julgamentos sobre a qualidade. No entanto, articular uma definição clara de qualidade no contexto do investimento é um desafio. Este livro aborda esse desafio e destila anos de experiência prática de investimento numa sistematização definitiva desta filosofia de investimento.A teoria financeira afirma que os resultados anormais não perduram, que o desempenho excecional rapidamente se tornará mediano. Investir em qualidade implica procurar empresas com os atributos certos para superar essas forças de reversão à média e, mais importante, investir nessas excelentes empresas para o longo prazo.Este livro aponta e analisa as características que aumentam as probabilidades de uma empresa ter sucesso ao longo do tempo - bem como aquelas características que impedem esse sucesso. Ao longo do livro são abordadas uma série de fascinantes casos de estudo reais que ilustram os traços que significam qualidade.
Antes de 1870, a humanidade vivia em extrema pobreza, com um lento arrastar de inovação que não conseguia acompanhar o crescimento demográfico. Então irrompeu uma grande mudança: a inovação acelerou o passo, duplicando as nossas capacidades tecnológicas a cada geração e transformando completamente a economia, uma e outra vez. Os nossos antepassados assumiriam que teríamos utilizado tais poderes para construir uma utopia global. Mas não foi assim. Quando 1870-2010 terminou, o mundo acordou para o aquecimento global; depressão económica, incerteza e desigualdade; e a ampla rejeição do status quo. Slouching Towards Utopia, do economista Brad DeLong, conta a história de como ocorreu esta explosão de riqueza material sem precedentes, como ela transformou o mundo e por que motivo não nos conseguiu levar à utopia. De notável amplitude e ambição, este livro revela que o século passado não foi tanto uma marcha em direção ao progresso, mas sim um cambalear na direção certa.
Nesta obra, John Kay, escreve: O setor financeiro cresceu em demasia, distanciou-se dos negócios normais e da vida quotidiana e transformou-se numa indústria que, na maior parte das vezes, faz negócios consigo própria, fala sozinha, e julga-se a si mesma com os padrões que ela própria criou. E o mundo cá fora adotou esses padrões, salvando as instituições financeiras que nos falharam com a sua ganância e incompetência.Numa análise crítica ao que se tornou o negócio do setor financeiro, Kay realça que o livro pretende apresentar um plano provisório para as autoridades se prepararem para a próxima crise. É hora de voltar ao trabalho: o negócio sério e responsável de gerir o dinheiro das outras pessoas.
Porque o faz nas ações?
Todos os investidores sabem que comprar barato e vender caro é a fórmula segura para ganhar dinheiro. Então, que sentido faz querer vender quando o mercado cai e querer comprar quando sobe?
Comprar num mercado a cair é muito difícil, não apenas para o comum dos investidores, mas sobretudo para os gestores de dinheiro. Primeiro, obriga a que se faça o contrário da maioria dos investidores, o que exige saber o que se está a fazer, disciplina para executar e firmeza de carácter para aguentar opiniões contrárias. Segundo, é muito provável que não se acerte nos mínimos das ações que queremos comprar e que, durante algum tempo, tenhamos que ver as nossas posições negativas, por vezes de forma substancial. Explicar aos investidores, que não gostam de ver o seu património financeiro desvalorizar, que esta é a melhor altura para adicionar novas posições agora baratas ou reforçar as já existentes, porque estão mais baratas, é ainda mais difícil.
Por isso, a maioria das instituições financeiras não faz o esforço para contrariar as decisões, tomadas por impulso e medo, dos investidores. Estas instituições ganham mais quantas mais transações de compra e venda se fizerem. É fácil concordarem e aconselharem a vender e a regressar ao mercado quando as notícias forem boas e tudo estiver a subir. Nessa altura, os investidores pagarão mais por esse conforto. Esta não é uma estratégia de criação de valor consistente e com boas rentabilidades.
Em 16 de outubro de 2008, Warren Buffett recomendou, num artigo no New York Times, que comprassem ações americanas e que ele próprio estava a comprar. Desde esse dia até aos mínimos de mercado, em 6 de março de 2009, o índice das maiores 500 empresas americanas recuou cerca de 26%. Durante este período, o melhor investidor de todos os tempos foi criticado nos canais de televisão, blogs etc. Na verdade, quem comprou quando Buffett aconselhou, teria ganho cerca de 22% até final do ano seguinte. Os investidores que ficaram de fora do mercado acionista porque investiram nos chamados investimentos "seguros" ou porque ficaram à espera de melhores notícias, estiveram sempre à espera do melhor ponto de entrada. Esses tiveram um custo de oportunidade muito grande porque quando tiveram conforto com as notícias positivas que surgiram, já o mercado tinha recuperado mais de 70% das perdas. Isto não aconteceu apenas aos pequenos investidores. Muitos estudos publicados em 2013 e 2014 demonstraram que muitos investidores institucionais falharam o rally nas ações.
O que sabe o Mercado sobre o Valor dos ativos?
A história repete-se tantas vezes. Os investidores cometem sempre os mesmos erros e não conseguem ignorar o preço a que a toda a hora o mercado cota as suas ações. Quando vêm um imóvel a ser vendido por menos 20 ou 30% compram-no e criam até uma tese, por vezes demasiado otimista, para o possível rendimento futuro. A grande diferença é que o mercado financeiro todos os dias apresenta uma cotação para essas ações. Na realidade, enquanto a sessão está aberta, o mercado apresenta muitos preços. A maioria dos investidores não diferencia o preço do valor. Preço é o que está a cotar em determinado momento. Valor é o que intrinsecamente resulta da capacidade da empresa ganhar lucros para o futuro. Não há dúvida que se o tal imóvel cotasse todos os dias num mercado muito líquido, teria variações muito maiores e veríamos a mesma volatilidade que vemos nas ações.
Ou seja, aquela que é uma enorme vantagem, a capacidade de tornar os ativos caros em dinheiro ou comprar ativos muito baratos que produzam bons rendimentos, torna-se para a maioria dos investidores numa enorme desvantagem, porque psicologicamente não conseguem aguentar o mercado a cair e querem "cortar as perdas": "não vou ficar sentado a ver a carteira cair". Nestas alturas, deviam aproveitar para comprar muito valor por pouco dinheiro. A maioria dos investidores no mercado têm um conhecimento muito limitado do que valem os ativos e, por isso, têm medo e ancoram-se no preço, considerando que o mercado está certo, sabe mais do que eles individualmente e é melhor vender.
Na semana passada, em carta aos clientes, Howard Marks, conceituado investidor em valor, dizia o seguinte: "nestas correções, muito investidores imputam inteligência ao Mercado e esperam que ele lhes diga o que se está a passar e o que devem fazer. Este é um dos maiores erros que podem cometer. Tal como Benjamin Graham diz, o Mercado no dia a dia não é um analista fundamental; é um barómetro do sentimento dos investidores. Não devemos levá-lo muito a sério. Os agentes que participam no Mercado têm uma compreensão limitada daquilo que realmente se está a passar em termos de fundamentos económicos e qualquer inteligência que possa estar por trás das suas compras e vendas é anulada pelas suas variações emocionais. Seria errado interpretar as recentes quedas globais como um sinal de que o Mercado "sabe" que se avizinham tempos difíceis."
O Mercado é o conjunto de pessoas que participam nele e do seu conhecimento coletivo. Todos os que transacionam no mercado votam na formação dos preços, pessoas de todos os níveis de conhecimento e habilitações juntam-se para formar o preço. Estas pessoas variam em termos de conhecimento, experiência e emoções. O Mercado não atribui peso superior a umas pessoas em detrimento doutras, especialmente no curto prazo. Quando milhares de pessoas entram em pânico é muito natural que influenciem muitas mais. Como comprar e vender está ao alcance de um telemóvel ou qualquer computador, é natural que não se reflita nas tomadas de decisão.
Sabemos todos que o Mercado é muito mais emotivo do que racional e que quando as notícias são adversas, o pessimismo é exagerado, os média procuram os profetas da desgraça e potenciam ainda mais as quedas.
Qual é o principal objetivo do investimento?
O principal objetivo do investimento deve ser a segurança do capital e obter um retorno muito satisfatório a prazo. Para isso, é preciso comprar barato, comprar coisas cujo preço subestime o valor dos ativos ou lucros subjacentes. Ou seja, procuramos situações em que o Mercado está errado, não está a cotar o verdadeiro valor dos negócios subjacentes destas empresas. Já escrevemos aqui várias vezes que o investidor contrário deve fazer, em geral, o oposto do Mercado, especialmente nos seus extremos.
Charlie Munger, sócio de Warren Buffett, aconselha: "Procure mais valor, em termos de cash flow futuro, do que o que está a pagar. Aja apenas quando tiver uma vantagem. É muito básico. Tem que compreender as probabilidades e ter a disciplina de só investir quando as probabilidades estão a seu favor". Hoje somos da opinião que as probabilidades estão muito favoráveis para o investidor de longo prazo.
O que nos diz um Mercado em queda acerca do Valor?
As desvalorizações nos mercados financeiros dizem apenas o que aconteceu e como os investidores reagem, não o que vai acontecer. Não nos dizem nada acerca de eventos futuros. Seguir a opinião dos comentadores ou previsores também não ajuda a investir melhor. Muitas vezes o mercado não avalia bem os ativos e o seu preço difere muito do valor. O mercado avalia de forma diferente os setores e há os que estão a desfavor com os investidores. O que realmente nos diz o que valem os ativos é a análise profunda dos fundamentais das empresas, do seu modelo de negócio, das suas margens operacionais, da sua capacidade de fortalecer vantagens competitivas, da solidez dos seus balanços, da capacidade dos seus gestores a alocar capital e, consequentemente, da capacidade de gerar lucros para o futuro.
Os investidores médios não avaliam o valor intrínseco no dia a dia e fazem um trabalho pior em tempos de crise. Assim, os movimentos de curto prazo dos preços não nos dizem nada sobre os fundamentos dos negócios. Não se esqueça: os fundamentos económicos de uma empresa não variam muito de dia para dia. As variações diárias dos preços têm mais a ver com as variações nas emoções dos investidores.
Existe apenas uma forma inteligente de investir: saber o que algo vale e comprar abaixo desse preço. Vender porque está a cair não tem nada a ver com o valor do ativo - vende-se apenas porque se tem medo que o preço vá cair ainda mais. Seguir os conselhos do Mercado, do que a maioria está a fazer, não nos ajuda a conseguir resultados acima da média.
O que fazem os melhores investidores do mundo?
Os melhores investidores sabem que as flutuações de preço de curto prazo não são fundamentalmente significativas e que os melhores resultados serão atingidos se as posições forem mantidas ignorando a volatilidade. Ao contrário, a maioria dos investidores vendem pelas mais variadas razões: porque têm medo, porque estão alavancados, porque alguém os aconselha a isso. Vender nestas circunstâncias pode transformar uma flutuação temporária numa perda de capital permanente impedindo que a recuperação subsequente seja totalmente aproveitada. Este, na nossa opinião, é um grave erro que muitos investidores cometem.
Os movimentos futuros dos preços dos ativos só podem ser previstos com base na relação entre o preço e os fundamentais económicos da empresa - os lucros. Dada a volatilidade e a irracionalidade do Mercado no curto prazo, apenas podemos fazer isso no longo prazo.
O verdadeiro investidor não vende nestas correções. Comporta-se como um dono do negócio e mantém a sua atenção no valor que estas empresas têm quando comparadas com o preço a que transacionam. Aproveitam, quando existe dinheiro disponível, para reforçar as suas posições que desvalorizaram e para adicionar bons títulos que recuaram muito de preço. É isso que também temos feito e continuamos a não ver alternativas de investimento tão seguras e rentáveis a prazo.
Desta vez não é diferente e o que realmente tem valor muito acima do preço, voltará a refleti-lo.
1. Swaps "bola de neve"
Na semana passada, foi julgado em Londres o caso dos swaps que envolvem o Banco Santander Totta e as empresas de transportes públicos portuguesas. Matt Levine, da agência noticiosa Bloomberg, escreve mais uma vez sobre o assunto:
"Um dos principais objectivos de um banco de investimento é tirar o risco financeiro das mãos dos clientes. Um determinado cliente tem um risco que não o deixa dormir, dirige-se a um banco de investimento e o banco vende-lhe um produto que lhe retira o risco em troca de uma comissão choruda.
Mas não é possível fazer desaparecer este risco. Quando o banco se responsabiliza pelo risco, para onde é que ele vai? Para os credores do banco? Para os depositantes ou contribuintes? Isso não seria o ideal. A melhor resposta, do ponto de vista do banco, é encontrar outro cliente a quem possa passar o risco. Frequentemente, isto encaixa na perfeição, uma vez que o risco de um cliente pode ser uma oportunidade para outro e assim o banco pode intermediar a compra e a venda do risco (o exemplo clássico são as companhias aéreas que fixam os preços do combustível com as empresas petrolíferas). Às vezes, conseguem encontrar-se clientes que gostam de risco e querem mais: hedge funds agressivos ou fundos de pensões com horizontes de investimento mais longos poderão querer ser portadores de riscos de vários tipos e se um banco consegue tirar risco a outros clientes e transferi-lo para estes fundos, pode ganhar dinheiro e ao mesmo tempo fazer do mundo um sítio melhor.
Mas o mundo não é um paraíso e outra coisa que os bancos de investimento fazem é procurar clientes que não querem mais risco financeiro mas que podem ser convencidos a aceitá-lo mediante uma comissão. Às vezes, isto funciona muito bem mas quando não funciona - quando o risco se materializa - é sempre um pouco embaraçoso. Porque motivo, poderemos interrogar-nos, anda um sofisticado banco de investimento a vender risco financeiro a uma empresa de, por exemplo, transportes públicos?
Se o banco está a retirar risco dos clientes, eles pagam-lhe. Na realidade, pagam a mais. O banco cobra mais do que o valor justo do risco porque é assim que os bancos ganham dinheiro. Se são os clientes a tirar risco ao banco, o banco paga-lhes mas abaixo do valor justo."
A Metro do Porto e mais três empresas portuguesas de transporte públicos contrataram junto do banco Santander uns swaps "bola de neve", já conhecidos como o pior trade do mundo. As empresas deixaram de pagar em 2013 e devem já ao banco 1,3 mil milhões de euros.
Apesar deste ser um negócio absolutamente ruinoso, o tribunal decidiu a favor do Santander e de que as empresas devem pagar. No acordão, o negócio e a sua motivação são explicados: estas empresas, com um endividamento para além do razoável, tinham encargos com juros muito elevados que pretendiam reduzir. Entre 2005 e 2007, foram ao mercado financeiro à procura de uma solução que lhes permitisse baixar esse custo. Eis o que acordaram com o Santander:
1. o Santander pagaria às empresas uma taxa variável;
2. as empresas pagariam ao Santander uma taxa fixa;
3. as empresas pagariam também um spread extra se a taxa variável estivesse acima de 6% ou abaixo de 2%;
4. o spread de cada trimestre seria somado ao spread do trimestre anterior: se a taxa variável em determinado trimestre fosse 6,25%, o spread para esse trimestre seria de 0,25%; se no trimestre seguinte fosse de 6,50%, o spread seria 0,75% (0,25+0,50) e assim por diante. Esta é a "bola de neve".
O swap "bola de neve", em circunstâncias normais, seria muito mais barato que um swap de taxa fixa normal e só em circunstâncias pouco comuns é que seria desfavorável para as empresas de transportes. O problema é que as circunstâncias menos comuns têm maior probabilidade de acontecer do que a teoria nos ensina e, neste caso, as consequências são terríveis. Com a crise financeira de 2008, as taxas caíram para menos de 2% e estão negativas há vários meses. A taxa que o Metro do Porto teve que pagar pelos swaps ultrapassou os 40% e as outras empresas estão com o mesmo problema.
Há muitas questões que se podem colocar neste negócio, desde logo: Os responsáveis nas empresas públicas foram assim tão incompetentes ou jogadores? O Santander agiu de má fé e enganou todos estes técnicos que trabalhavam ( e às tantas ainda trabalham) nestas empresas? Segundo o juíz do caso, Sir William Blair, existem algumas indicações que o Santander agiu talvez com um pouco de má fé:
"É necessário que se diga desde já que existem documentos que, embora não sejam típicos de toda a documentação, não são nada favoráveis à imagem do banco. Uma apresentação de 2005 da Global Treasury (portanto não tendo origem em Portugal) com o objectivo de aumentar a venda de "produtos exóticos" encoraja os funcionários do banco a "Pensar em grande: não se critiquem. recompensem a agressividade".
Apesar do exposto, o juíz concluiu que o banco não cometeu ilegalidade nenhuma e que as empresas portuguesas tinham obrigação de saber no que se estavam a meter.
2. Produtos Estruturados
Em fevereiro de 2010, um estudo da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) reportado pelo Expresso alertava os investidores para o facto dos produtos estruturados oferecerem menos que os depósitos tradicionais. Estes produtos, com exposição à evolução de sectores no mercado de ações, matérias-primas, taxas de juro e outros ativos subjacentes, criam a ilusão ao investidor de poder beneficiar do potencial de valorização destas ações ou produtos com risco muito baixo. A sua remuneração depende da evolução de cenários futuros, podendo garantir a totalidade do capital aplicado ou não. Estes cenários possíveis são construídos atribuindo uma probabilidade muito baixa a eventos desfavoráveis para os investidores. Nesse estudo, a CMVM diz: "a distribuição de pagamentos entre diferentes estados de natureza (cenários) é difícil de apreender pelos investidores, mesmo os mais sofisticados ou com maiores conhecimentos em matéria de natureza financeira".
Estes produtos são publicitados com rentabilidades potenciais elevadas, embora exista "uma forte probabilidade de ocorrência do cenário de não ser pago qualquer retorno ou apenas o retorno mínimo consagrado na ficha técnica do produto", como referece o estudo da CMVM.
Para a estruturação destes produtos, são utilizados produtos derivados muito complexos, o que torna quase impossível ao investidor saber do que se trata e permite à instituição, que o estrutura e vende, ganhar comissões muito elevadas sobre o dinheiro dos seus clientes.
O que isto realmente demonstra é uma grande capacidade comercial destes bancos para conseguirem não perder clientes ou encontrar sempre outros dispostos a perder dinheiro. Das duas uma, ou estas instituições não estão interessadas em manter clientes para o longo prazo ou então julgam-nos incapazes para avaliar se ganharam ou perderam. Como se faz este trabalho, ano após ano, sem deixar de ter com quem fazer negócio?
Estes são dois casos em que a complexidade e a falta de transparência de quem vende estes produtos, devem servir de aviso aos investidores. As instituições financeiras procurarão sempre maximizar os seus retornos à custa dos seus clientes e, muitas vezes, fazem-no sem escrúpulos.
3. Taxas de juro negativas
Vivemos num momento estranho da história com taxas de juro negativas e ninguém consegue dizer quando tempo se manterão. Ao emprestar dinheiro a um excelente pagador poderá ter que o fazer a taxas negativas, ou seja, pagar para emprestar o seu dinheiro. As obrigações de vários governos europeus estão negativas: no caso suíço até aos 10 anos, no alemão até aos 7, no francês e holandês até 5 anos. Cerca de 7 biliões de dólares (biliões europeus) estão a transaccionar com yields negativas. Do mesmo modo, obrigações das melhores empresas europeias têm yields negativas. Os investidores parecem preferir perder dinheiro a tê-lo parado ou alocá-lo a outras classes de activos.
Quem é que comete esta irracionalidade? Na maioria dos casos são os gestores institucionais, os Fundos de Investimento, os Fundos de Pensões e os Planos de Poupança Reforna, que são obrigados, pela própria concepção legal destes produtos, a ter os valores investidos nos chamados "ativos sem risco". São também os investidores particulares que, ao subscreverem fundos de investimento de obrigações, estão a pagar comissões de gestão elevadas para que lhes façam este "magnífico" trabalho e paguem aos emitentes para serem donos desta dívida. Este é um exemplo de como uma falha institucional dos limites mínimos impostos para estes produtos e investidores institucionais os "obrigam" a manter-se investidos em ativos, que, nesta conjuntura extraordinária, não fazem qualquer sentido.
Estas conjunturas são claramente propícias para que os investidores relaxem os critérios a emprestar o seu dinheiro e que o façam a troco de uma taxa um pouco melhor. Acontece ainda, que, não raras vezes, nestes chamados investimentos de risco baixo, encontram-se obrigações da Argentina, e de outras empresas falidas ou em processo de reestruturação das suas imensas dívidas que obrigarão os investidores a perder parte significativa dos valores investidos. Classificar estas obrigações como ativos com baixo risco é ser incompetente, estar distraído ou actuar com má fé.
Em resumo, o atual ambiente de taxas de juro e política monetária cria as condições para que a indústria financeira crie e proponha produtos que não servem os interesses dos investidores.
Escolha uma filosofia simples de valor e mantenha-se fiel a ela nos bons e nos maus momentos.
Investir numa carteira diversificada de acções de excelentes empresas mundiais compradas a desconto significativo do seu real valor - com margem de segurança - é a melhor forma de proteger e valorizar o património financeiro.
O mundo do investimento está virado do avesso. Hoje, ao emprestar dinheiro a um bom pagador, poderá ter que o fazer a taxas negativas, ou seja, terá que pagar para emprestar o seu dinheiro. As obrigações dos governos suíço, alemão, francês e holandês estão negativas até aos 6 a 8 anos e as obrigações das melhores empresas europeias também têm yields negativos. Os investidores parecem preferir perder dinheiro a tê-lo parado ou alocá-lo a outras classes de activos.
O que fizeram ao valor temporal do dinheiro? Perante esta realidade, quais são as melhores alternativas que garantam segurança do capital e retornos satisfatórios?
O que realmente funciona no investimento e tem produzido retornos consistentes é a filosofia de Investimento em Valor. Nas últimas seis décadas, Warren Buffett e Charlie Munger, entre outros excelentes investidores, são a prova do seu enorme sucesso. O investimento em acções de boas empresas mundiais, com balanços sólidos, rentabilidades acima da média, vantagens competitivas duráveis e geridas por gestores capazes e honestos, compradas a desconto do seu valor justo, continua a ser a preferência destes investidores extraordinários.
Numa altura em que o mundo financeiro parece não fazer sentido é ainda mais importante ter uma filosofia de Valor e mantermo-nos fiéis a ela.
Investir em valor é comprar 1 euro por 50 cêntimos, é comprar muito valor com pouco dinheiro. O segredo do investimento em acções pode ser resumido à avaliação profunda dos activos e da sua capacidade de gerar lucros no futuro e à disciplina e paciência para só comprar quando está barato e vender quando o preço justo é atingido.
A generalidade dos investidores tem muita dificuldade em executar uma receita tão simples: comprar quando a maioria está a vender - porque as notícias são más - e vender quando a maioria está a comprar - porque as notícias são boas. Contudo, quase todos fazem o contrário. As instituições financeiras preferem estratégias com mais transações e que lhes permitem ser, não raras vezes, o maior beneficiário da riqueza dos clientes.
Num mundo em que todos sabem o preço de tudo e poucos sabem o verdadeiro valor dos activos, grande parte dos investidores não tem horizonte de investimento nem o temperamento adequado para aplicar esta receita e beneficiar da capitalização dos retornos ao longo do tempo. O investidor individual, que pode e deve ter um horizonte de investimento de décadas, deve expor uma parte significativa do seu património a acções, a classe de ativos que nos últimos 115 anos, melhor remunerou o capital: 9,5% de média anual, apesar de neste período se terem vivido duas guerras mundiais, várias recessões e a grande depressão e a crise financeira de 2008.
Investir numa carteira diversificada de acções de excelentes empresas mundiais compradas a desconto significativo do seu real valor - com margem de segurança - é a melhor forma de proteger e valorizar o património financeiro. "Coleccionar" estes negócios dá-nos o direito aos dividendos - hoje muito superiores às taxas de juro dos depósitos e das obrigações - e aos ganhos de capital a prazo. Estas empresas são verdadeiras máquinas de fazer dinheiro para os seus acionistas.
O segredo do investimento é que não tem segredos: é investir com margem de segurança, comprando a pessimistas e vendendo a otimistas.
O investimento inteligente não é complexo, o que não significa que seja fácil. O que o investidor precisa é da capacidade de avaliar correctamente investimentos devidamente "selecionados".
As melhores empresas são aquelas que conseguem investir largas quantidades de capital com taxas de retorno elevadas, acima da média do sector e do mercado. São estas que nos interessam.
Warren Buffett explica as vantagens competitivas como o instrumento que permite às empresas manterem os concorrentes à margem. Os concorrentes tentarão sempre obter uma parte desses lucros e, na maior parte das vezes, conseguem-no, reduzindo as rentabilidades do negócio. Há, no entanto, empresas que conseguem manter e aumentar as suas vantagens competitivas durante décadas. São as superestrelas, as que produzem sustentadamente uma remuneração acima do seu custo de capital.
Importa determinar o motivo pelo qual a empresa teve sucesso em manter os seus lucros. É fundamental estar numa indústria atraente e beneficiar de uma estratégia que potencie vantagens competitivas.
De uma forma geral, existem cinco formas de uma empresa conseguir uma vantagem competitiva durável:
- Criar uma diferenciação de produto real através de funções, tecnologia ou patentes,
- Criar a percepção de diferenciação do produto através da reputação da marca,
- Cortar custos e oferecer um produto ou serviço similar a um preço mais baixo,
- "Prender" os clientes com custos de mudança elevados e,
- Afastar concorrentes através da criação de barreiras à entrada.
Como podemos avaliar as vantagens competitivas e a sua durabilidade?
- Analisar os lucros históricos e verificar se a empresa tem sido capaz de gerar retornos sólidos nos seus ativos e capitais próprios.
- Se a empresa consegue retornos sólidos e lucros consistentes, o que impede os concorrentes de lhe "roubar" os lucros?
- Quanto tempo durarão estas vantagens competitivas?
- Como competem entre si as empresas desta indústria? Há muitas firmas lucrativas ou apenas se sobrevive?
O investidor deve procurar um conjunto de boas empresas cujos negócios subjacentes tenham fundamentos económicos soberbos, que sejam geridas por gestores capazes e honestos e comprá-las a preços sensatos. Ocasionalmente, estes negócios cotam preços que nos dão margem de segurança para investir. É aí que compramos.
Desta forma, estamos a maximizar algo que conseguimos prever - a performance financeira da empresa - e a minimizar aquilo que não conseguimos adivinhar - o entusiasmo ou pessimismo do mercado.
Lembre-se, uma empresa vale o valor presente de todo o dinheiro que vai ganhar no futuro.
O PIB português é de 179 mil milhões de euros e o espanhol é de 1077 mil milhões, seis vezes maior que o nosso. A Bolsa portuguesa tem uma capitalização de 53 mil milhões e a espanhola de 898 mil milhões, dezassete vezes maior. A diferença poderia ser uma questão de valorização, as acções portuguesas poderiam estar muito mais baratas que as espanholas, mas não é o caso. Quando se comparam métricas como receitas e lucros, percebe-se que a Bolsa portuguesa representa uma fatia muito menor da economia do que nos mercados desenvolvidos, em particular na Europa e nos EUA.
Na última década, a Bolsa portuguesa foi um fracasso. Os accionistas, os verdadeiros donos das empresas, assistiram a uma destruição de valor enorme e a experiência foi terrível: 100 mil euros aplicados no PSI-20 transformaram-se em 74 mil. O mesmo montante aplicado num índice de ações europeias como o MSCI Pan Europe valeria hoje 136 mil; e aplicados em ações dos EUA (no S&P500) seriam 210 mil. De quem foi a culpa? Na verdade, de quase todos: da economia, do sector financeiro, das empresas, dos reguladores, do Estado e, em parte, dos investidores que procuram sempre o lucro fácil.
Na última década, por várias razões, a economia portuguesa deixou de crescer e, pior, entrou numa recessão que pôs tudo em risco. Uma Bolsa é o espelho que reflecte o sector empresarial de uma economia e a sua eficiência. E, nos últimos anos, não reflecte nada de bom. O Estado e as empresas, inebriados pelo dinheiro fácil, a juros baixíssimos, endividaram-se demais. Muitos gestores não tomaram as melhores decisões de alocação de capital e não agiram no melhor interesse dos verdadeiros donos do capital, os accionistas. A PT e o BES, duas das maiores capitalizações, evaporaram-se entre erros de gestão e fraudes contabilísticas. Nestes casos, tudo falhou: corporate governance, os gestores, os reguladores e os accionistas de referência. Sendo estes os casos mais graves, os exemplos de destruição de valor para os accionistas aconteceram em muitas outras empresas.
Por outro lado, tivemos imensas situações em que os minoritários foram o parceiro pobre dos negócios, ficando à mercê dos gestores e dos interesses dos "parceiros maioritários". A Cimpor é um exemplo em que uma pequena fatia de minoritários ficou pendurada numa empresa quase sem float. O resultado é a destruição da cultura de investimento em acções, com investidores desalentados com o massacre a que foram sujeitas as suas poupanças. Não admira que muitos nem queiram ouvir falar em investir em acções. Apesar de a realidade lá fora ser bem diferente, a sua experiência pessoal - as perdas que sentiram e a forma como foram separados do seu dinheiro - não lhes permite beneficiar do investimento naquela que é a classe de activos que, historicamente, melhor remunera o capital.
Nos EUA, desde 2006, aconteceu uma série de desastres: AIG, Lehman, Fannie Mae, Madoff. No entanto, quem investisse 100 mil euros no S&P500 teria agora 210 mil euros. Porquê? Porque, por cada falência, centenas de empresas criaram riqueza e multiplicaram o valor dos accionistas, grandes e pequenos.
A verdadeira função de uma Bolsa de Valores é permitir aos empreendedores o acesso a uma fonte de financiamento e aos investidores, como donos de parte do negócio, participarem no seu sucesso e nos seus lucros. Ou seja, permitir à poupança partilhar das maravilhas do capitalismo.
Segundo o dicionário Webster, "o capitalismo é um sistema económico baseado na propriedade do capital com o investimento a ser determinado por decisão privada e com os preços, a produção e a distribuição de bens e serviços determinados num mercado livre". A isto acrescentaria que o capitalismo deve ser alicerçado na honestidade, decência e confiança. O desafio da Bolsa Portuguesa é recuperar estes valores.
Jason Zweig colaborou com a revista Money, a Time e a CNN. É colunista do Wall Street Journal desde 2008, autor de vários livros, e um acérrimo crítico da "indústria financeira". O seu mais recente livro foi publicado no passado mês com o título "The Devil´s Financial Dictionary".
Zweig, neste livro satírico, avisa que se os investidores querem ser parceiros em vez de alvos, terão que dominar a linguagem que a indústria financeira utiliza para esconder e não revelar informação. Virar as palavras ao contrário e fazê-las significar o oposto não é exclusivo da indústria financeira; esta é a imagem de marca de muitas atividades humanas, personificada pelo Ministério da Verdade no Livro de George Orwell, "1984".
Mas, raramente está tanto em jogo no claro entendimento da linguagem: se formos enganados pela algaraviada da indústria financeira e investirmos no produto errado, o nosso sonho de uma reforma próspera pode ser reduzido a cinzas.
Este livro procura destilar as complexidades, obscuridades e as pomposidades da indústria financeira em "definições" que todos podem compreender. Deixo aqui uma pequena seleção de palavras e expressões a que a indústria financeira atribuiu significados muito peculiares:
Ação, o direito de propriedade de uma fração de um negócio; para muitos "investidores", o direito de jogar um jogo de vídeo. A palavra stock (ação em inglês) tem origem no teutónico stukko que significa tronco - esta antiga metáfora perdeu-se nesta era em que a TV e a internet reduziram a ideia de ação a um símbolo e a uma torrente de cotações num ecrã. O tronco de uma árvore é uma sólida fundação para inúmeros ramos que crescem cada vez mais alto a menos que sejam podados e, nesse caso, têm um novo impulso de crescimento.
Analista, um suposto especialista que, em teoria, estima o valor de uma empresa através da avaliação das suas partes constituintes mas que, na prática, funciona como um vendedor ou membro de uma claque.
Avesso ao Risco, indisponível para correr riscos - para já. Quando o preço dos ativos dobra ou triplica, até o investidor mais avesso ao risco quererá tê-los em carteira. Tal como o historiador económico Charles P. Kindleberger escreveu no seu livro Manias, Panics and Crashes, "Não há nada mais perturbador para o bem estar e bom julgamento de alguém do que ver um vizinho enriquecer".
Comportamento de Rebanho, a tendência dos investidores para ignorar o que está barato e agir como ovelhas, movendo-se em rebanho em vez de pensarem por si próprios. A multidão transmite segurança, por isso os investidores compram ativos, não porque estão subvalorizados mas porque toda a gente os está a comprar; e vendem-nos, não porque se verificou uma alteração nos fundamentos económicos da empresa mas porque todos estão a vender. O comportamento de rebanho é comum nos investidores individuais, nos analistas, nos traders de obrigações soberanas, nos traders de futuros, nos gestores de fundos de ações, nos gestores de hedge funds e nos grandes compradores de ETF's; é comum em todos os setores do mercado de capitais; e em todos os mercados de ações pelo mundo fora.
Compliance, o conjunto de procedimentos através dos quais as instituições financeiras obrigam os seus colaboradores a respeitar a letra da lei e, simultaneamente, os libertam para violar o seu espírito. Os departamentos de compliance das instituições financeiras estão a abarrotar de pessoal. Pelo contrário, os departamentos de consciência, que fazem respeitar o espírito da lei, sofrem de uma perene falta de recursos humanos. Tal como Warren Buffett notou: "Aqueles que seguem a estrada moral, na indústria financeira, encontram muito pouco trânsito".
Confiança, uma qualidade, semelhante à crença religiosa mas baseada em evidências menos fiáveis, que tende a ser elevada quando devia ser baixa e baixa quando devia ser elevada. Períodos de confiança elevada tendem a ser perniciosos; quanto melhor se sentem os investidores hoje, mais se vão lamentar mais tarde. Nessas alturas, poucos conseguem, no entanto, tomar consciência desse facto.
Consultor, na indústria financeira, um especialista que cobra comissões elevadas para aconselhar os clientes a investir em estratégias de investimento que estão na moda e que em breve ficam "ultrapassadas". De forma a gerar mais comissões, o consultor aconselha também os clientes a abandonarem estratégias ultrapassadas que estão prestes a ficar na moda. Os clientes, ano após ano, aceitam de boa vontade estes conselhos uma vez que, desta forma, têm sempre alguém a quem culpar pelos resultados abismais.
Fundo de Investimento, fundo em que os investidores partilham os riscos equitativamente e os gestores partilham as comissões.
Frugalidade, a prática, hoje obsoleta, de gastar menos do aquilo que se ganha; outrora considerada uma virtude, agora é encarada como um perturbador desvio comportamental.
Longo Prazo, na indústria financeira, uma expressão utilizada para descrever um período de tempo que terá início daqui a trinta segundos e terminará, no máximo, dentro de algumas semanas.
Maturidade, aquilo que todas as obrigações têm e que à esmagadora maioria dos traders em obrigações faz falta.
Obrigação, um compromisso contratual em que o devedor se obriga a pagar uma dívida com juros. Os credores que não prestam atenção ao seu investimento arriscam-se, no entanto, a não reaver o seu dinheiro. Bond (obrigação em inglês), um termo de provável origem teutónica, veio a simbolizar um compromisso. Shylock, da peça "O Mercador de Veneza" de Shakespeare, concordou em emprestar a António 3000 ducados por três meses se, nas palavras de Shylock, António fosse ao notário e selasse a sua obrigação. António declarou: "Em dois meses, um mês antes de este empréstimo ser devido - espero ganhar mais de três vezes o valor desta obrigação". Embora António não estivesse a pensar apenas nas recompensas financeiras, a sua declaração torna claro que as obrigações estão, desde há muito, associadas a expectativas pouco realistas.
Paciência, qualidade aparente em formas de vida inferiores como tartarugas e caracóis mas rara entre humanos que investem em ativos financeiros. Cada compra ou venda de um ativo financeiro acarreta custos de transação e, a maioria, impostos. Numerosos estudos comprovam que, quanto mais transações os investidores fazem, menor é o seu retorno. Mas a vontade de enriquecer depressa é tão visceral que apenas os investidores mais disciplinados conseguem cultivar suficiente paciência para atingir os seus objetivos. Os outros conseguirão apenas empobrecer mais depressa. Tal como Ralph Waldo Emerson escreveu no seu ensaio. "Prudência": "Se a colmeia é perturbada por mãos estúpidas e apressadas, em vez de mel, oferece abelhas."
Performance, um espetáculo montado para entreter a audiência e satisfazer os egos dos "artistas". Há muito tempo e, por certo, não por coincidência, a indústria financeira escolheu esta palavra para descrever aquilo que procura para os seus clientes. Infelizmente, os membros da audiência sentir-se-ão entretidos enquanto que os seus portfólios perderão dinheiro. Os egos dos gestores, pelo contrário, não sofrerão qualquer dano.
Preço, um número que frequentemente é uma ilusão e, quase sempre, uma distração. O preço dado a uma ação ou outro ativo financeiro muda com uma velocidade frenética - milhares de vezes ao dia - causando danos intelectuais corrosivos. Frequentemente tem pouco a ver com o valor embora seja mais interessante e mantenha os media financeiros bastante ocupados. O fluxo contínuo e a precisão espúria do preço provoca uma ilusão de certeza.
Produto Estruturado, produtos de investimento especialmente estruturados para serem lucrativos para os emitentes e incompreensíveis para os clientes.
Risco, a probabilidade de um investidor não saber o que está a fazer mesmo que pense que sabe; pré-requisito para perder mais dinheiro num período de tempo mais curto do que alguma vez imaginaria possível. Elroy Dimson, professor de finanças da London Business School, definiu filosoficamente o risco desta forma: "Risco significa que mais coisas podem acontecer do que aquelas que realmente acontecem." No fim de contas, o risco é a diferença entre o que os investidores pensam que sabem e o que acabam por aprender - sobre os seus investimentos, sobre os mercados financeiros e sobre si próprios.
Rumor, na indústria financeira, o equivalente a um facto.
Seguro, um termo utilizado para promover um investimento que está prestes a explodir.
Valor, uma fonte de enorme confusão, tal como quando os jornalistas escrevem: "A ação perdeu 20% do seu valor na sessão de hoje...". Na realidade, não perdeu 20% do seu valor; perdeu sim 20% do seu PREÇO. O valor do negócio subjacente variou, com certeza, muito menos - se é que variou. O preço é medido momento a momento; o valor desenvolve-se ao longo de meses e anos. Tal como Benjamin Graham ensinou Warren Buffett: "Preço é o que paga, valor é o que recebe".
O valor é o que um ativo vale para um comprador sensato com acesso a toda a informação necessária para a avaliação, com base no dinheiro que o ativo gerará ao longo de toda a sua vida. O valor de uma ação depende do potencial de criação de dinheiro do negócio subjacente, que pouco varia de trimestre para trimestre e muito menos de dia para dia.
Valor Intrínseco, o que uma ação vale com base no valor presente de todo o dinheiro que se espera que o negócio subjacente irá gerar no futuro, levando em conta quanto o seu dinheiro renderia nesse período de tempo e o facto incontornável que esses cash flows futuros estão envoltos em incerteza. Uma vez que o valor intrínseco é apenas uma aproximação e deverá ser visto como um intervalo de estimativas, a maioria dos investidores prefere focar-se no preço que, minuto a minuto, é absolutamente preciso - e muitas vezes errado.
Desejo um Próspero Ano Novo e mais Investidores em Valor.
"Os investidores perdem muito mais dinheiro a prepararem-se para correções ou a tentar antecipar correções do que nas correções propriamente ditas."
-- Peter Lynch
Apesar da valorização de alguns dos principais índices, os últimos tempos não têm sido fáceis para os investidores e parece que tudo conspira para que tomem as piores decisões possíveis:
1 - taxas de juro a zero e quase ausência de retorno em investimentos de taxa fixa;
2 - excesso de oferta de produtos financeiros e conselheiros/consultores financeiros - os chamados "ajudantes" - dispostos a abraçar qualquer estratégia "fácil" e com resultados rápidos;
3 - a falta de paciência para aguardar que os investimentos deem frutos;
4 - incertezas, que existem sempre, que por vezes não são ignoradas.
Nos primeiros dias de janeiro, alguns profetas da desgraça previram quedas de mais de 50% nos mercados acionistas. Apesar da maioria das pessoas não saberem quem são, o que fazem ou o que ganham com tais opiniões e sobretudo, se alguma vez estiveram certos ou se ganharam dinheiro para os seus clientes, tomaram decisões de investimento e de vendas de ativos, motivados por estas opiniões.
Para tornar tudo mais difícil, o ano de 2016 está marcado por dois eventos relevantes: em junho, a consulta popular no Reino Unido sobre a permanência ou saída da União Europeia - que resultou no Brexit - e pelas eleições americanas, a realizar já no dia 8 de novembro.
O ser humano está geneticamente programado para prestar mais atenção às más notícias. Os nossos antepassados nas savanas, quando ouviam um restolhar na erva, imaginavam sempre que era um predador e não apenas o vento. Esta era uma arma de sobrevivência: se se assustassem e fosse apenas o vento, não havia problema nenhum. Pelo contrário, se não prestassem a devida atenção e fosse um leão, perderiam a vida. Por isso, são impelidos para a ação, mesmo que posteriormente se verifique que esta era desnecessária.
Este comportamento verifica-se diariamente nos mercados: muitas vezes sem qualquer justificação os investidores entram em pânico e vendem as suas posições. Esta é uma forma de estancar as perdas potenciais dos seus investimentos. Outra abordagem muito comum é a tentativa de adivinhar a melhor altura para sair ou entrar, com base na probabilidade de determinados acontecimentos se verificarem. Preferem tomar decisões sobre acontecimentos que não conseguem controlar do que agir sobre aquilo que conseguem avaliar - a qualidade dos ativos.
Um jogo de soma negativa
Foi o que fizeram no dia em que se conheceram os resultados que confirmaram a saída do Reino Unido da União Europeia. Os mercados abriram com quedas muito elevadas porque os investidores foram surpreendidos pelos resultados. No entanto, a pressão vendedora demorou apenas dois ou três dias e passadas duas semanas os mercados haviam recuperado e alguns ultrapassado os máximos anteriores. Muitos investidores perderam nas comissões de transação e regressaram ao mercado para comprar a preços mais altos.
A história tem mostrado que as eleições não têm um impacto duradouro na performance global dos mercados. A eleição poderá causar alguma volatilidade de curto prazo. No entanto, está comprovado que manter a disciplina é a estratégia de longo prazo mais acertada. Uma análise de como o mercado se comportou durante diferentes governos - democratas e republicanos - desde 1960 revela que, no longo prazo, não existem diferenças significativas.
Que impacto terão as eleições nos seus investimentos?
Nas últimas semanas a preocupação dos investidores tem estado centrada nos resultados das eleições americanas. Motivados pelo efeito de surpresa do referendo no Reino Unido, muitos reduziram a exposição a ações para a eventualidade do mercado cair caso o candidato republicano ganhe as eleições.
E se não ganhar? E se os mercados não caírem? Voltam a entrar a que preços?
A história tem mostrado que as eleições não têm um impacto duradouro na performance global dos mercados. A eleição poderá causar alguma volatilidade de curto prazo. No entanto, está comprovado que manter a disciplina é a estratégia de longo prazo mais acertada.
Uma análise de como o mercado se comportou durante diferentes governos - democratas e republicanos - desde 1960 revela que, no longo prazo, não existem diferenças significativas. Ambos os partidos conseguiram retornos anuais na ordem dos 12%.
Um bom conselho raramente muda
De uma forma geral, os investidores não conseguem seguir uma estratégia de investimento sensata e de longo prazo. São seduzidos pela atração do trading constante, caro e pouco produtivo. A consequência quase inevitável são resultados desapontantes.
Os bons conselhos raramente mudam enquanto que os mercados mudam constantemente. A tentação de agradar é quase irresistível. E embora as pessoas precisem de bons conselhos, o que querem ouvir são conselhos que soem bem, os que confirmam a sua crença ou opinião.
O conselho que soa melhor no curto prazo é sempre o mais perigoso no longo prazo. Todos querem o segredo, a chave, o mapa para o caminho rosado que leva ao El Dorado: o investimento mágico de alto retorno e baixo risco que dobra o dinheiro em muito pouco tempo. Todos querem apanhar os retornos dos produtos da moda e evitam aquilo que caiu em desgraça. O jornalismo financeiro, assim como as instituições financeiras, seguem um princípio básico do marketing: quando os patos grasnam, dêem-lhes de comer.
As emoções que nos condicionam
"Espíritos animais" é a expressão que John Maynard Keynes utilizou no seu livro de 1936, "A Teoria Geral do Emprego, Juro e Dinheiro", para explicar as emoções que influenciam e condicionam os nossos comportamentos e decisões: "A juntar à instabilidade devida à especulação, existe a instabilidade devida à característica da natureza humana que dita que uma grande proporção das nossas atividades depende de impulsos espontâneos e não de expectativas matemáticas ou económicas. Provavelmente, a maioria das nossas decisões apenas pode ser encarada como resultado de espíritos animais, isto é, uma tendência espontânea para a ação ao invés da inação e não como o resultado de uma média ponderada de benefícios quantitativos multiplicada pelas probabilidades quantitativas".
Segundo os neurocientistas, há um conjunto de situações em que somos mais suscetíveis de tomar decisões irracionais e que automaticamente nos conduzem a decisões emotivas: quando o problema é complexo, quando a informação está em permanente mudança e aparece de forma incompleta e confusa, quando os objetivos estão mal definidos, quando o stress é elevado, quando as decisões dependem da interação com terceiros e quando muito está em jogo. As decisões de investimento com que aforradores se deparam encaixam bem nas circunstâncias descritas.
Haverá sempre incertezas políticas, económicas e outras. E depois? A incerteza pode-nos ser favorável.
Haverá sempre opiniões contrárias, por isso é que há milhões de vendedores e compradores a fazer negócio. No entanto, nós sabemos que ter uma mente independente, por vezes contrária, é fundamental. Não nos tornamos investidores em valor para sentir a validação dos outros. Tornamo-nos investidores em valor porque esta é a melhor e talvez a única estrela polar para todos aqueles capazes de se manterem pacientes, orientados para o longo prazo e avessos a riscos desnecessários.
O verdadeiro investidor em valor tem cadeira permanente no mercado financeiro.
Ao longo dos últimos 6 anos o que fizemos foi manter firme a nossa estratégia de criação de valor. Porque razão haveríamos de vender ações em 2011 quando a agência de rating S&P baixou o rating da dívida americana? Os mercados recuaram temporariamente 18 a 20%. Nós aproveitámos para comprar ações americanas que estavam baratas: Walmart, Wells Fargo, Pfizer, General Electric, Microsoft, entre outras.
Porque razão haveríamos de vender no passado dia 24 de agosto de 2015 quando ações como a Johnson & Johnson caíram 20% sem qualquer notícia que tivesse a ver com a empresa? Nós aproveitamos para comprar esta e outras empresas que, passadas algumas horas, tinham recuperado grande parte das perdas.
Porque razão haveríamos de vender ações no dia seguinte ao referendo no Reino Unido que deu a vitória ao Brexit? Nós estivemos a comprar. Alguns dias depois, os mercados estavam acima dos níveis anteriores ao referendo.
Peter Lynch, que geriu o fundo Magellan entre 1977 e 1990, ganhou em média 29,2% ao ano. Numa das suas célebres citações disse:
"Não me recordo de alguma vez ter visto o nome de alguém que prevê o mercado na lista anual das pessoas mais ricas do mundo da Forbes. Se fosse realmente possível prever correções do mercado, acho que alguém já teria feitos milhões com isso".
A reação dos mercados financeiros ao voto britânico foi muito forte. Durante a sessão asiática, a libra caiu mais de 10% face ao dólar cotando mínimos dos últimos 30 anos e a queda face ao yen foi ainda mais acentuada. Os investidores reagem muito mal a surpresas e odeiam a incerteza que o resultado do referendo origina.
Os jornalistas e comentadores de televisão falam como se tivessem a roupa interior a arder e conseguem incutir ainda mais ansiedade e vontade de agir nos investidores, profissionais ou não. A surpresa faz com que sintamos mais urgência em agir do que o habitual mas isso é uma ilusão.
As questões e opiniões sobre que impacto económico o Brexit terá para os investidores e para o crescimento económico, que consequências políticas emergirão e como afetará a circulação de pessoas e bens são escalpelizadas com todo o tipo de cenários. É muito provável que o que na realidade vai acontecer seja significativamente diferente. Contudo, a especulação tomou conta do discurso e da ação nos mercados financeiros.
Na sexta-feira, dia 24, a revista inglesa The Economist escrevia o seguinte: "Os investidores iniciaram a fuga para a segurança das obrigações do tesouro americano. Com a abertura dos mercados na Europa, os principais índices seguiram a tendência asiática e caíram cerca de 10%. Mas as quedas nos mercados asiáticos são também, em larga parte, um julgamento preliminar do impacto do referendo na economia mundial. Claro que, muitas vezes, os mercados reagem excessivamente. A Grã-Bretanha representa apenas 3,9% da economia mundial; não é suficientemente poderosa para influenciar o clima económico mundial da mesma forma que os Estados Unidos ou a China. No entanto, a economia americana tem estado letárgica e a capacidade da China de escapar da sombra da sua gigantesca dívida tem causado grandes preocupações. A economia britânica tem grande influência na Europa, onde é uma consumidora fiável num continente que privilegia mais a poupança. Qualquer disrupção ao crescimento europeu, nesta altura, não é particularmente bem vinda. O Banco de Inglaterra declarou hoje que, "Estamos bem preparados para isto". Poderá cortar as taxas para 0,5%. Poderá até reativar o programa de recompra de ativos, comprando obrigações com dinheiro acabado de imprimir. No entanto, uma recessão em Inglaterra é altamente provável. O investimento das empresas será atingido pela incerteza quanto ao acesso tanto ao mercado único como a outros locais onde a Grã-Bretanha aproveitou a boleia dos acordos comerciais negociados pela União Europeia. Em tempos de agitação, as empresas adiam todas as despesas. O mesmo é verdade para os consumidores."
De tantas opiniões ouvidas nos últimos dias, o que seguramente se pode concluir é que ninguém sabe exatamente o que se vai passar. Sabe-se contudo, que as diversas autoridades monetárias estão preparadas para agir, mantendo o dinheiro muito barato e dando liquidez ao sistema financeiro para que as grandes variações cambiais e nos preços de matérias primas e ativos financeiros, possam acontecer sem que os choques causem maiores danos ou pânico. Nas grandes crises, o maior problema é a falta de liquidez, as "portas" estreitas por onde o rebanho quer sair ou entrar ao mesmo tempo.
O preço a que se faz negócio nessas situações é sempre muito desfavorável: os investidores pagam caro o otimismo e pagam barato o valor que o pessimismo gera.
Jason Zweig, colunista do Wall Street Journal e defensor do Investimento em Valor, escreve "Quanto mais doi, mais pode ganhar: Investir depois do Brexit". Realça a queda tão abrupta do ETF Vanguard FTSE Europe, que num só dia caiu 11,3%, a maior variação desde a sua criação em junho de 1990 e ultrapassando a queda de outubro de 2008 em plena crise financeira.
Zweig, admirador do trabalho do Professor de Cambridge Elroy Dimson, cita-o no artigo: "a surpreendente volatilidade que todos sentimos na sextafeira passada seria quase impercetível se se tivesse manifestado num horizonte temporal mais alargado". O Professor Dimson é uma autoridade mundial no estudo dos retornos de investimento de longo prazo nas principais classes de ativos e um dos autores do livro "O Triunfo dos Otimistas - 101 anos de Retornos de Investimentos Globais". Neste livro, concluem que os otimistas triunfaram e os otimistas foram aqueles que investiram em ações, a classe que nesse período melhores retornos proporcionou a nível mundial.
O Professor Dimson diz ainda, "para os que estão dispostos a ser investidores ativos e têm o horizonte de tempo para uma abordagem de longo prazo, tempos como este apresentam uma oportunidade"
Certamente que os investidores têm muitas questões que gostariam de ver respondidas: quando é que vamos ter o retorno? Onde investir? O que devo verdadeiramente recear nos investimentos que tenho em carteira? Quem devo ouvir?
1. Continua o assalto à poupança.
Com as taxas perto de zero ou negativas em muitas economias desenvolvidas, com a dívida pública alemã a cotar um rendimento negativo (yield) mesmo para maturidade a 10 anos, os investidores e aforradores que foram disciplinados e que pouparam, veem agora ser "transferida" parte da sua riqueza (o rendimento justo pelas suas poupanças) para quem se endividou demais, gastou o seu e o que lhe foi emprestado.
Quem investiu em em dívida alemã no início dos anos 80, teve rendimentos perto de 10% ao ano. Este foi o cenário um pouco por todo o mundo porque as taxas caíram de 15 ou 16% para quase zero. Ao longo destes 35 anos, os rendimentos foram caindo para mínimos de -0,122% às 16h10 de dia 29 de junho. Ou seja, segundo a opinião de Henrik Bohme, jornalista da Deutsche Walle (agência noticiosa que faz parte de um canal estatal) que escreve "Opinião: A maior bolha de todos os tempos", a propósito do investimento em obrigações. O jornalista diz mesmo "a Alemanha entra para o clube dos países em que se recompensa quem contrai dívidas. A partir do momento em que o BCE disse que "fará o que for necessário" para salvar o euro, iniciou-se a maior desapropriação dos aforradores em tempos recentes. Ou seja, quem investe neste e noutros títulos de dívida, com yields negativos, está no momento zero a entrar num investimento que dá prejuízo. Também já ouvimos recentemente que, para conservar dinheiro, os investidores terão que aceitar yields negativas. Mas o que é isto? A yield negativa não significa que se vai perder dinheiro nesse investimento? Então o que leva o investidor a fazer tal disparate? Porque não sabe o que está a fazer? Porque confiou a um consultor ou gestor de dinheiro o seu património? Porque tem medo e estes são os únicos investimentos que julga seguros? Porque tem medo de ter dinheiro parado (depósitos à ordem ou a prazo) exposto ao balanço dos bancos e ser chamado mais tarde a assumir perdas da instituição financeira?
2. A grande oportunidade.
Hoje os investidores têm neste contexto tão difícil uma grande oportunidade para traçar uma estratégia a prazo que preserve o capital e permita um retorno satisfatório, alocando gradualmente mais capital a ações de empresas sólidas que continuarão a criar riqueza e a produzir lucros.
Princípios fundamentais do investimento:
1. Não precisamos de ser especialistas para conseguir retornos satisfatórios no investimento. Devemos reconhecer as nossas limitações e seguir um caminho que garanta que as coisas corram razoavelmente bem.
2. Concentre-se na produtividade futura do ativo em consideração. Se não sentir conforto ao fazer uma estimativa "por alto" dos rendimentos futuros do ativo, esqueça-o. É fundamental compreendermos as ações que levamos a cabo.
3. Se, pelo contrário, nos concentrarmos num possível futuro aumento de preço do ativo que estamos a pensar adquirir, estamos a especular. Não conhecemos especuladores bem sucedidos. O facto de um ativo ter aumentado de preço no passado recente nunca é motivo para o comprar.
4. Pense apenas no que os investimentos que faz vão produzir, na sua qualidade e rendimento associado. Não se preocupe com as variações diárias. Mantenha-se firme na estratégia de valor. 5. Formar opiniões macroeconómicas ou prestar atenção às opiniões e previsões macroeconómicas de outros é uma perda de tempo. Na realidade, é perigoso porque pode baralhar a nossa perceção dos factos que são realmente importantes.
Procure prestar atenção aos melhores investidores do mundo, os que ganharam ao longo de décadas excelentes retornos para os acionistas e para os Clientes.
3. Se tivéssemos um canal de televisão, na sexta-feira passada poderíamos abrir desta forma o serviço de notícias:
Bom dia Sr. Telespectador, temos excelentes notícias para si. Se tem um horizonte de investimento de 4, 5 ou mais anos, disponibilidade para investir e quer garantir o seu poder de compra no futuro, aproveite este desconto: os mercados financeiros estão a cair e algumas das ações que já estavam baratas, estão ainda mais baratas. Desta vez não é o downgrade da dívida americana, a crise de dívida grega, os possíveis conflitos entre a Rússia e a Ucrânia, ou a queda dos índices de ações da china. Desta vez, para surpresa geral, o Reino Unido votou pela saída da União Europeia.
Mantenha-se sintonizado connosco, procuraremos ao longo do dia apresentar-lhe os saldos nos vários mercados, de onde teremos notícias dos nossos enviados especiais (investidores com histórias de décadas a criar valor).
Não sabemos o que mercado fará amanhã, daqui a um mês ou daqui a um ano. Por isso prevenimo-nos, avaliamos ativos de grande qualidade e temos sempre a nossa watch list recheada de ativos de grande qualidade para que, nestas situações, possamos transmitir-lhes a informação que precisa para tomar decisões reflectidas, com segurança e consistentes com uma estratégia de valor.
Note bem que não estamos a dizer-lhe que já caiu tudo e que a partir daqui subirá. E agora, já de seguida, a previsão metereológica, essa sim com previsões muito mais certeiras do que as dos analistas dos mercados financeiros e de grande parte dos comentadores dos principais canais de notícias financeiras. A capacidade para aguentar o choque da surpresa é o que separa os grandes investidores de todos os outros.
Todos sabemos que os políticos, gestores de dinheiro, empresários e gestores de curto prazo procuram vida fácil, e nos últimos dias temos visto que o "Brexit" vai ter as costas largas e servir de desculpa para tudo.
O Reino Unido representa 3,9% da economia mundial, é a quinta maior potência. A sua moeda, a libra, tem nesta altura um peso de 4,9% nas reservas mundiais de moeda. Apesar de não ter o mesmo impacto na economia mundial que têm os EUA ou a China, a saída da União Europeia terá certamente impacto na economia mundial. O verdadeiro impacto económico, político e social irá saber-se a prazo. Para já, a especulação assumiu o comando nos mercados financeiros e na retórica dos políticos.
Hoje, 30 de junho, os mercados já recuperaram grande parte das quedas verificadas nos dias 24 e 27. No entanto, os mercados cambiais continuam muito perturbados com grandes quedas da libra face ao dólar, ao iene e ao euro. A organização mundial de comércio (WTO) veio alertar para o aumento do protecionismo no G20 e para os desafios que coloca ao investimento global. A livre circulação de pessoas e bens será afetada e terá custos para os negócios. Muitas decisões de alocação de capital nas empresas serão adiadas.
Os mercados odeiam a incerteza. Os bancos centrais estão em alerta para "assistir" os mercados e assegurar a liquidez do sistema bancário. O Banco de Inglaterra está disposto a imprimir dinheiro e a baixar as taxas de juro. A Reserva Federal dos EUA adiará a subida de taxas de juro e o BCE está disponível para aumentar o programa de recompra de dívida e injetar mais liquidez nos mercados financeiros.
Este é um dos primeiros efeitos do 'Brexit': vamos continuar a seguir políticas que não põem um custo no valor do dinheiro e que só vêm agravar a irracionalidade nos mercados obrigacionistas. Esta bolha também rebentará um dia. Além das obrigações de vários governos europeus, onde se destaca a Alemanha com juros negativos até aos 10 anos, as obrigações das empresas europeias com melhores níveis de 'rating' cotam com taxas de rendimento negativas até 3, 4 e 5 anos. Quando não se recebe juros por um investimento a 10 anos, não é fácil de perceber que algo está tremendamente errado nesta classe de ativos? Continuamos a assistir ao maior "assalto" à poupança de que há memória e à recompensa de quem contrai dívidas e é indisciplinado.
Ou seja, com esta incerteza quanto ao futuro, a fuga dos investidores para as obrigações e a disposição dos bancos centrais em acomodar os mercados, acentuou-se ainda mais a discrepância que se tem vindo a observar na última década: o dividend yield do MSCI Pan Europe ronda os 4% enquanto os títulos a 10 anos do governo alemão conferem uma ligeira perda aos seus detentores até à maturidade. O diferencial entre os dois é o maior do histórico do índice e ultrapassou agora o valor registado durante a crise financeira de 2008, em que se verificou o "cruzamento de 'yields'" (o rendimento dos dividendos das ações passou a ser superior ao dos governos de longo prazo). Mas os valores atuais são de tal forma extremos que muito dificilmente as ações não baterão as obrigações na próxima década.
Nos próximos tempos é de esperar uma quantidade anormal de ruído. Vai-se ouvir de tudo um pouco: negociações de saída, cenários de recessão, empresas a sair do Reino Unido, segundo referendo, países que querem seguir o Reino Unido. Os analistas vão continuar a falhar nas suas previsões. Para enfrentar esta incerteza vai ser fundamental manter um passo firme e uma estratégia consistente de valor nas decisões de investimento. Estamos convictos que estas perturbações vão continuar a gerar oportunidades para comprar boas empresas a grandes descontos do seu valor intrínseco. Para nós, isto não muda nada. É preciso manter o rigor na avaliação, a disciplina no desconto a que queremos comprar face ao valor e a paciência para que o investimento mostre todo o seu potencial de criar riqueza.
Entretanto, todos sabemos que os políticos, os gestores de dinheiro e os empresários e gestores de curto prazo procuram vida fácil, e nos últimos dias temos visto que o 'Brexit' vai ter as costas largas e servir de desculpa para tudo: para que políticos populistas e sem escrúpulos se demitam de governar com rigor, para que gestores de dinheiro sem dever de fidúcia e horizonte de investimento não assumam as suas responsabilidades e façam o seu trabalho no melhor interesse de todas as partes. Ao invés de alicerçarem as relações com aqueles que representam em honestidade e confiança, transformam-se em ilusionistas e vendilhões.
A mediocridade será assegurada. A culpa vai ser do "Brexit".
Há uns anos, John Kay, reputado economista escocês e colunista do Financial Times, relatava num artigo de opinião a parábola do Touro, que transcrevo abaixo:
"Em 1906, o grande estatístico Francis Galton assistiu, numa feira rural, a um concurso onde se tentava adivinhar o peso de um touro. Participaram oito centenas de pessoas. Galton, como estatístico que era, fez testes estatísticos sobre os números. Descobriu que a estimativa média era extremamente próxima do peso real do touro. Esta história foi contada por James Surowiecki, no livro "The Wisdom of Crowds".
Poucas pessoas sabem o que se passou de seguida. Alguns anos mais tarde, a balança do concurso parecia estar a ficar cada vez menos fiável. A reparação seria muito dispendiosa; no entanto, o organizador da feira teve uma idéia brilhante. Uma vez que os concorrentes eram tão bons na estimativa do peso do touro, era desnecessário reparar a balança. O organizador simplesmente recolheria as estimativas de todos os concorrentes e calcularia a média.
Da mesma forma, a psicologia do investimento em rebanho movimenta-se num padrão regular, tal como um pêndulo. Do optimismo ao pessimismo; da credulidade para o cepticismo; do medo de perder oportunidades ao medo de perder dinheiro; da vontade de comprar à urgência em vender.
Surgiu, no entanto, um novo problema. Uma vez que estes concursos eram cada vez mais populares, alguns participantes tentavam fazer batota, ao ponto de procurarem conseguir informações privilegiadas do agricultor que tinha criado o touro. Temia-se que, se algumas pessoas tivessem essa vantagem, as outras se recusariam a participar nos concurso de adivinhação do peso. Com apenas alguns participantes, não se poderia confiar na sabedoria da multidão. O processo de descoberta do peso poderia ficar comprometido.
Decidiu-se então introduzir regras rigorosas. O agricultor foi convidado a preparar boletins trimestrais sobre o desenvolvimento do seu touro. Estes boletins eram publicados nos portões do mercado para que todos pudessem ler. Se o agricultor partilhasse com amigos qualquer outra informação relevante sobre o animal, esta deveria ser também publicada nos portões do mercado.
Qualquer pessoa que participasse no concurso com conhecimento, sobre o touro, que não estava disponível para todos, seria expulso do mercado. Desta forma, seria mantida a integridade do processo de adivinhação do peso.
O conteúdo destes anúncios regulatórios era escrutinado por analistas profissionais que aconselhavam os seus clientes sobre as suas implicações.
Pagavam almoços e jantares aos agricultores; mas, a partir do momento em que os agricultores foram obrigados a ter cuidado com as informações que divulgavam, essas refeições tornaram-se menos frutíferas.
Alguns analistas mais inteligentes perceberam que a informação sobre a nutrição e a saúde do touro não era assim tão útil. Uma vez que já não se pesava o touro, a chave para o sucesso não era adivinhar corretamente o seu peso, mas sim adivinhar corretamente o que as outras pessoas iriam adivinhar. Ou o que os outros imaginariam que os outros iriam adivinhar. E assim por diante.
Algumas pessoas, como o velho agricultor Buffett, tentaram chamar a atenção para o fato de que os resultados deste processo estarem cada vez mais divorciados da realidade da criação de touros. Foi completamente ignorado. A verdade é que os animais do agricultor Buffett pareciam saudáveis e bem alimentados e a sua situação financeira era cada vez mais próspera; mas Buffett era um simples camponês que não compreendia como os mercados funcionavam.
Foram criados organismos internacionais para definir as regras de avaliação do peso do touro. Havia dois padrões concorrentes - Os Princípios de Pesagem do Touro Geralmente Aceites e os Padrões Internacionais de Pesagem do Touro. Ambos concordam, no entanto, com um princípio fundamental, consequência da necessidade de eliminar o papel da subjetividade individual. O peso do touro foi definido oficialmente como a média de todas as estimativas.
Por vezes, havia poucas ou mesmo nenhumas estimativas do peso do touro. Mas rapidamente se resolveu esse problema. Matemáticos da Universidade de Chicago desenvolveram modelos a partir dos quais era possível calcular a média das estimativas, se essas estimativas tivessem sido levadas a cabo. Deixou de ser necessário qualquer conhecimento de pecuária, apenas era preciso um computador potente.
Por esta altura, havia já uma enorme indústria de adivinhadores de peso profissionais, organizadores de concursos de adivinhação de peso e consultores que ajudavam, a troco de uma comissão, as pessoas a refinar as suas estimativas. Algumas pessoas sugeriram que seria mais barato reparar a balança. Foram, no entanto, ridicularizadas. Porque motivo se regressaria a um tempo em que se dependia apenas de uma pessoa quando podemos beneficiar da sabedoria agregada de tantas pessoas inteligentes? Entretanto, o touro morreu. No meio de toda esta atividade, ninguém se lembrou de o alimentar".
A importância da balança
John Kay ilustra, com a parábola do touro, que há uma complexidade totalmente desnecessária nos mercados financeiros e cujo resultado final para o investidor é praticamente zero ou negativo. Tanta atividade, tanta sofisticação, tantos recursos dispendidos e no final o touro morre?
A melhor fundação para um investimento de sucesso é o valor. A balança permite saber o peso, o que vale e o que se poderá extrair do bem. Temos que ter uma ideia sólida do que vale aquilo que estamos a pensar comprar.
A nossa perspetiva de valor tem que ter base em alicerces fatuais e analíticos sólidos. Só assim, saberemos quando comprar ou vender. Apenas uma forte ideia do valor pode dar-nos a disciplina necessária para realizar lucros num ativo altamente valorizado que todos acham que vai continuar a subir ou para manter em carteira e comprar mais durante uma crise mesmo que os preços caiam todos os dias. Obviamente, para que estes esforços dêem fruto, a nossa estimativa de valor não precisa de ser exata. Deve, no entanto, ser aproximada.
A relação entre preço e valor guarda a chave para o sucesso no investimento. Comprar abaixo do valor é o caminho mais fiável para o lucro. Pagar acima do valor raramente funciona.
No curto prazo, o mercado é uma máquina de votar - reflectindo um 'recenseamento' que requer apenas dinheiro e não inteligência ou estabilidade emocional mas no longo prazo, o mercado é uma máquina de pesar - uma balança.
Para além da Balança
A relação entre preço e valor é influenciada pela psicologia e fatores técnicos, forças que podem dominar os fundamentais no curto prazo. As variações extremas nos preços devidas a estes fatores fornecem oportunidades para grandes lucros ou grandes erros. Para conseguir os primeiros e evitar os últimos, devemos manter-nos fiéis ao conceito de valor e lidar com a psicologia e os fatores técnicos.
As economias e os mercados têm ciclos positivos e negativos. Qualquer que seja a direção que tomam em determinado momento, as pessoas acreditam que essa direção será eterna. Esta forma de pensar é muito perigosa uma vez que envenena os mercados, causa avaliações extremadas e inflaciona bolhas e pânicos aos quais muitos investidores não resistem.
Da mesma forma, a psicologia do investimento em rebanho movimentase num padrão regular, tal como um pêndulo. Do otimismo ao pessimismo; da credulidade para o ceticismo; do medo de perder oportunidades ao medo de perder dinheiro; da vontade de comprar à urgência em vender. O balançar do pêndulo faz com que grande parte das pessoas compre a preços altos e venda a preços baixos. Assim, fazer parte do rebanho é uma receita para o desastre enquanto que remar contra a maré nos extremos do mercado ajuda a evitar perdas e leva eventualmente ao sucesso.
O conforto de ser investidor em valor
Para a maioria dos gestores profissionais de fundos, prisioneiros da medição trimestral da performance - e de todo o sistema evidenciado na parábola do touro - o valor de um ativo é aquilo que alguém está disposto a pagar por ele.
Em contraste, para um investidor em valor e, portanto paciente, um ativo vale o mais alto do seu valor fundamental e do seu valor de mercado: se o preço de mercado é superior ao valor fundamental, o investidor em valor pode vender ao preço de mercado e procurar alternativas. Se o preço de mercado é inferior ao valor fundamental, o investidor em valor pode continuar a manter o ativo em carteira e beneficiar dos retornos dos cash flows estimados.
Como Ben Graham e Warren Buffett dizem há décadas, o volátil Sr. Mercado (que, por vezes, está disposto a comprar coisas por mais do que elas valem ou vendê-las por menos do seu valor) é nosso amigo, não inimigo. O investidor em valor tem uma vantagem no que diz respeito ao valor fundamental porque faz uso da "balança", dispensa as opiniões da maioria, os consultores desnecessários, os analistas adivinhos e atua baseado no valor do bem.
Os preços de mercado representam um concurso de popularidade (por vezes irracional) de curto prazo, semelhante a uma eleição mas, no longo prazo, tendem a ganhar em valor devido aos retornos no capital, crescimento económico e inflação (e para os investidores particulares, nos dividendos recebidos) - semelhante a uma balança. Este ano que agora termina foi um bom exemplo do que aqui escrevo. Faremos o seu balanço no próximo artigo.
Desejo um Bom Ano a todos.
Theresa May, recém-empossada primeira-ministra, declarou esta semana que o 'Brexit' vai ser um êxito. David Cameron, na saída, disse: "Eu fui o futuro outrora".
Passadas algumas semanas sobre o resultado do referendo no Reino Unido, os mercados acionistas recuperaram mas o futuro continua incerto. É natural que a volatilidade dos preços dos ativos se mantenha e que se continue a especular sobre os possíveis acordos que venham a ser negociados e o impacto económico desta separação.
Mesmo sem especular sobre o processo de separação, há uma série de efeitos que já são percetíveis e vão marcar os próximos tempos. Em primeiro lugar, este parece ser mais um capítulo nas guerras cambiais a nível global. Os bancos centrais já competiam para ver quem injetava mais liquidez na economia, levando as taxas de juro para níveis negativos num dos maiores confiscos da poupança da história. Para prevenir um pânico generalizado pós-'Brexit' e com a violenta desvalorização da libra, todos se disponibilizaram para continuar a conduzir políticas monetárias fortemente expansionistas e os EUA adiaram subidas de taxas de juro. Na prática, ninguém quer ver a sua moeda valorizar demasiado e perder competitividade para o vizinho.
Este é um efeito tremendo: os bancos centrais têm carta branca para continuar com políticas que não põem um custo no valor do dinheiro, aumentando a bolha nos ativos de taxa fixa. A emissão de dívida a 30 anos do Governo americano foi feita esta quarta-feira à taxa de 2,17%, o mínimo histórico. Já se paga para emprestar dinheiro ao Governo alemão a 10 anos, ao Governo japonês a 20 anos e ao Governo suíço a 50 anos. Esta distorção tremenda patrocinada pelos bancos centrais está a colocar os investidores numa busca desesperada por rendimento, que muitas vezes ignora os riscos subjacentes. Tendo em conta que as ações europeias estão a pagar um dividendo de cerca de 4%, a diferença entre o rendimento pago pelas ações face às obrigações de dívida pública é a maior desde os anos 50. Na próxima década, muito dificilmente as ações não serão um melhor investimento do que as obrigações de governos.
Poderemos assistir ao ressurgir de um neomercantilismo (bem presente no populismo de Donald Trump), que além das guerras cambiais faça regressar o espectro de tarifas e barreiras ao comércio. A WTO (Organização Mundial do Comércio) tem vindo a alertar para o reaparecimento de medidas protecionistas que prejudicam o crescimento mundial. O efeito de uma nova onda de políticas beggar thy neighbour (empobrecer o vizinho) pode constituir um retrocesso à globalização das últimas décadas e afetar negativamente o crescimento económico mundial.
Os bancos centrais têm carta branca para políticas que não põem um custo no valor do dinheiro, aumentando a bolha nos ativos de taxa fixa.
Por outro lado, a saída britânica vem colocar na ordem do dia duas reformas: a das instituições europeias e a do sistema bancário. Se a reforma da eurocracia de Bruxelas vai depender da vontade política e é necessária para solidificar o projeto europeu, a reforma do sistema bancário é muito mais premente e inevitável. Ao contrário dos EUA, que intervieram decisivamente no pico da crise para estabilizar o sistema financeiro, a resposta europeia foi fragmentada, país a país, e deixou uma série de bancos em situações complicadas. As notícias dos últimos dias, com a suspensão de resgates em fundos imobiliários ingleses e o arrastar de uma solução para a banca italiana, começa a lembrar o início da crise financeira em 2007. E grande parte da banca europeia negoceia em níveis que indicam a necessidade de fortes aumentos de capital, seja em Itália, Alemanha ou Portugal.
Acima de tudo, o 'Brexit' vai ser uma excelente desculpa para gestores e políticos. Já tivemos alguns exemplos nas últimas semanas, mas nos próximos meses (porventura anos) vamos ver uma série de grandes empresas e governos a culpar o processo de secessão britânica pelos resultados falhados. Mas tirando alguns sectores que estão diretamente expostos e são afetados por ele (veja-se o caso do sector imobiliário de Londres), o 'Brexit' não deveria afetar quem tem boas políticas de gestão ou de investimento.
Na conferência de acionistas da Berkshire Hathway, em abril passado, quando questionado sobre a possível saída do Reino Unido, Warren Buffett frisou que achava melhor o Reino Unido manter-se na União Europeia. No entanto, mesmo que soubesse antecipadamente o resultado do referendo, não mudaria absolutamente nada nas suas decisões de investimento.
Um bom investimento não deve depender de cenários macroeconómicos. Deve ser feito pela qualidade do ativo e o desconto a que se consegue comprar face ao seu valor intrínseco. A incerteza pode ser amiga do investidor de longo prazo.
"Sendo os administradores de tais empresas os gestores de dinheiro alheio, mais do que do próprio, não se pode esperar que o vigiem tão ansiosamente como os sócios particulares fazem com o seu. [...] A negligência e profusão, portanto, prevalecem sempre."
-- Adam Smith, A Riqueza das Nações
Nos últimos oito anos, os vinte maiores bancos do mundo pagaram mais de 235 mil milhões de dólares em multas pela violação de regulamentos financeiros. Estas multas afetaram os esforços dos bancos em reforçar os seus capitais, reduziram dividendos e levaram a enormes perdas de riqueza para os seus acionistas e reduziram os montantes disponíveis para emprestar à economia. Quando parece que todos perderam, a questão que se coloca é como foi possível e em benefício de quem?
1 . Wells Fargo - uma entrevista há cerca de um ano o CEO do Wells Fargo, John Stumpf, declarou: "Não quero que ofereçam um produto a alguém que não sabe qual é o seu benefício ou que o cliente não o compreenda, não o queira ou não precise dele".
Nas últimas semanas ficamos a saber que pelo menos 5300 colaboradores do Wells Fargo, o banco mais valioso do mundo em capitalização bolsista, abriram, ao longo de cinco anos, dois milhões de contas falsas em nome de milhares de clientes sem o seu conhecimento e autorização. O Wells Fargo cobrou então pelo menos 1,5 milhões de dólares em comissões nessas contas que foram criadas simplesmente para aumentar a remuneração dos colaboradores cujos programas de incentivo os recompensavam pela abertura do maior número de contas possível. Algumas das contas foram encerradas imediatamente após o colaborador receber a comissão. O objetivo deste esquema era cumprir objetivos de aberturas de contas e não roubar vastas somas de clientes desprevenidos. Entretanto, ao longo de vários anos, o banco foi despedindo estes colaboradores.
O Wells Fargo, que se estima vir a ganhar este ano 20,6 mil milhões de dólares, foi condenado a pagar apenas 185 milhões de dólares de multa uma vez que os benefícios financeiros colhidos pelo banco nestas operações fraudulentas são relativamente pequenos.
O banco, que historicamente manteve sempre uma boa reputação não apenas na capacidade de gerir o risco das suas atividades, mas também na sua atividade de cross-selling, tem como maior acionista a Berkshire Hathaway, empresa de Warren Buffett, que detém cerca de 10% do banco. O Sr. Buffett até ao momento não fez qualquer comentário sobre este assunto. No entanto, a sua exigência no comportamento ético dos gestores é bem conhecida e discutida nas suas cartas anuais e Assembleias acionistas ao longo de décadas. É dele a famosa citação "Perca dinheiro para a empresa e eu serei compreensivo. Perca um pedacinho de reputação e eu serei implacável".
Passados oito anos sobre o início da grande crise financeira de 2008, a legislação que, entretanto, entrou em vigor não conseguiu reduzir os incentivos perversos que encorajam a indústria financeira a arriscar em demasia à custa dos clientes, dos acionistas e dos contribuintes.
Apesar de toda a regulação e de milhares de milhões de dólares gastos em compliance, como foi possível que tantos colaboradores estivessem envolvidos nesta atividade tão flagrantemente corrupta? Pressionados pela gestão para cumprir objetivos muito difíceis de alcançar, estes colaboradores optaram pela via mais fácil e não lucrativa para o banco. No final de contas, os clientes foram prejudicados e o banco nem sequer ganhou dinheiro com isto. O banco é o grande perdedor, com danos reputacionais enormes e a perda de confiança dos reguladores, acionistas e clientes.
2. Deutsche Bank - num artigo da revista The Economist, do passado dia 24 de setembro, "Não vai pagar! Não pode pagar?", revela-se que o Departamento de Justiça (DoJ) americano multou o Deutsche Bank em 14 mil milhões de dólares pela emissão e venda de títulos hipotecários entre 2005 e 2007. O Banco alemão já anunciou que vai recorrer e acredita que poderá negociar um acordo por valores menores. O DoJ já tinha multado a Morgan Stanley em 3,2 mil milhões, o Bank of America em 16,7 e o Citigroup em 7.
Segundo a The Economist, o Deutsche Bank terá muitas dificuldades em pagar esta multa sem recorrer a um enorme aumento de capital. Em 2015 teve prejuízos de 6,8 mil milhões de euros, eliminou o dividendo e avisou os acionistas que não iria ter lucros em 2016. Em 27 de setembro a cotação do DB estava em mínimos de 30 anos e a capitalização bolsista em cerca de 14,5 mil milhões.
A pergunta que se coloca é simples: o que levou os gestores da banca a enveredarem por uma estratégia de venda de produtos estruturados complexos, que a esmagadora maioria dos clientes não entende, que têm um comissionamento tão elevado que, na maior parte das vezes, resultam em perdas para os clientes e, como se pode ver pelos seus resultados, levam a uma perda de valor imensa para os seus acionistas, os verdadeiros donos do capital destes bancos?
3. Na semana passada, num artigo do Financial Times, é apresentado um estudo de Thomas Philippon Professor de Finanças na Universidade de Nova York. Este concluiu, analisando informação desde finais do séc. XIX, que o setor financeiro americano não teve absolutamente nenhuns ganhos de produtividade nos últimos 130 anos. Estas conclusões poderão ser extrapoladas para a maior parte dos países. Todos os outros setores da economia reduziram custos e aproveitaram a revolução informática para aumentar os seus ganhos.
Por que motivo foi o setor financeiro incapaz de oferecer um serviço melhor e mais barato? Porque é que as forças de mercado não conseguiram promover maior eficiência?
As respostas a estas perguntas podem ser encontradas no livro "What they do with your money" ("o que fazem com o seu dinheiro) de Stephen Davis, Jon Lukomnik e David Pitt-Watson. Segundo os autores, a cadeia de intermediários financeiros cresceu de tal forma que os donos do capital perderam de vista as várias camadas de intervenientes no mercado. A opacidade permite que aqueles que têm conhecimentos nesta área utilizem a sua capacidade para se servirem a eles próprios sem passar os benefícios aos clientes finais. Os ganhos de produtividade são distribuídos dentro da indústria sob a forma de comissões e retrocessões. O sistema é institucionalmente corrupto no sentido em que incentivos tóxicos encorajam os agentes financeiros a ignorar as suas obrigações fiduciárias e a servir-se, em benefício próprio, do dinheiro alheio.
Os autores do livro realçam o facto de que as comissões, escondidas e explícitas, cobradas pelas instituições financeiras, reduzirem significativamente os retornos para os fundos de pensões e os investidores ao longo do tempo. Salientam também que muita da actividade financeira se resume ao trading entre instituições financeiras.
4. Passados oito anos sobre o início da grande crise financeira de 2008, a legislação que, entretanto, entrou em vigor não conseguiu reduzir os incentivos perversos que encorajam a indústria financeira a arriscar em demasia à custa dos clientes, dos acionistas e dos contribuintes.
Os incentivos para enganar os mercados são enormes: os bónus são demasiado altos, a ameaça de cadeia para os prevaricadores é mínima e os chefes não são responsabilizados.
Segundo Sheila Bair, ex-presidente da FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation), "se os incentivos estiverem alinhados com os interesses dos clientes e acionistas, o capitalismo será visto como um instrumento de comportamento moral e não uma obstrução. A complexidade da legislação regulatória beneficia as grandes instituições que dispõem de enormes equipas jurídicas que encontram buracos na lei e conseguem acordos com os reguladores que impedem os processos criminais sobre os responsáveis dos bancos".
Sheila Bair conclui: "nestes acordos judiciais em que os bancos pagam multas de milhares de milhões de dólares, o dinheiro sai praticamente todo dos bolsos dos acionistas. O setor financeiro, traders e gestores que assumem grandes riscos na tentativa de conseguir lucros e bónus enormes só compreendem duas coisas: a pobreza ou a cadeia. Um novo código de ética não resolve problema algum".
Apesar da abundância de regulação produzida desde a crise de 2008, continuamos a assistir a uma enorme destruição de riqueza e confiança por parte do sistema financeiro. É, por isso, fundamental fazer um reboot do capitalismo no setor, simplificando a oferta de produtos, aumentando a transparência de custos e comissões, reestruturando a cadeia de incentivos, responsabilizando os gestores e implementando muitos dos princípios perdidos do governo das empresas. Só assim será possível restabelecer o laço fiduciário que deve constituir a essência do serviço prestado por uma instituição financeira.