Roger Federer versus Mercado Acionista
Artigo da autoria de Ben Carlson publicado originalmente no blog A Wealth of Common Sense em 16 de junho de 2024
Roger Federer fez recentemente o discurso de abertura nas cerimónias de final de ano na Dartmouth University.
Esta excerto deixou-me boquiaberto:
“No ténis, a perfeição é impossível… nas 1526 partidas singulares que joguei na minha carreira, venci cerca de 80% dessas partidas… Agora, tenho uma pergunta para todos vós… que percentagem de PONTOS acham que ganhei nessas partidas?
Apenas 54%
Por outras palavras, até os tenistas de topo ganham pouco mais que metade dos pontos que disputam.
Quando perdes cada segundo ponto, em média, aprendes a não dar demasiada importância a cada ponto perdido.
Aprendes a pensar: OK, cometi uma dupla falta. É só um ponto.
OK, subi à rede e a bola passou por cima de mim. É só um ponto.”
Federer venceu 80% das suas partidas, mas apenas 54% dos pontos nessas partidas.
Louco, não é?
Um dos tenistas mais dominadores de todos os tempos venceu a maioria dos seus jogos, mas não de uma forma dominadora. Era mais uma questão de pequenas vantagens no curto prazo que “capitalizaram”, através da sua consistência, no longo prazo.
Claro que, quando ouvi esta parte do discurso de Federer, o meu cérebro financeiro fez imediatamente a conexão com o mercado acionista.
As vitórias de Federer, em partidas e em pontos, são basicamente as mesmas do mercado acionista!
Estou sempre a martelar a ideia de que o mercado acionista é essencialmente uma moeda ao ar no curto prazo, mas tem uma taxa de vitórias fabulosa no longo prazo.
Em termos diários, ao longo dos últimos 100 anos, o S&P500 subiu, ou esteve neutro, cerca de 54% das vezes, tal como Federer.
Ainda mais chocante, o dia negativo médio é um pouco pior que o dia positivo médio.
Apesar de um retorno médio diário de apenas 3pb, o juro composto do mercado no longo prazo é avassalador.
Estes números diários referem-se apenas ao preço das ações (não incluem dividendos). Em termos apenas de preço, o S&P500 está a subir, desde 1927, perto de 39 000%.
O yield dos dividendos neste período foi de um pouco menos de 3,7%. Com os dividendos reinvestidos, o retorno total desde 1927 salta para uns vertiginosos 1,3 milhões %.
Eu sei que ninguém tem este horizonte de investimento, mas os benefícios do juro composto podem ser extraordinários se conseguirmos manter o rumo.
E a taxa de vitórias aumenta quanto mais longe formos:
Se Federer tivesse desistido de cada vez que perdeu um ponto, tiebreaker ou set, ele não teria vencido 20 títulos Grand Slam.
Se dermos demasiada importância aos desfechos de curto prazo, é difícil ser um investidor bem-sucedido.
Pequenas vantagens que capitalizam ao longo de horizontes temporais extensos podem fazer maravilhas.