O nosso pior inimigo somos nós
Psicólogos e neurocientistas descobriram duas características que são particularmente relevantes na tomada de decisões. A primeira, é que estamos programados para o curto prazo e consideramos a possibilidade de ganhos no curto prazo extremamente atrativa. A segunda, é a nossa tendência para adotar comportamentos de rebanho. Adotar estratégias de investimentos contrárias à maioria é muito difícil. Ou seja, somos afetados por desafios (vieses) comportamentais que condicionam o nosso processo de tomada de decisões racionais.
O excesso de otimismo e o excesso de confiança, embora importantes na nossa sobrevivência como espécie, nas decisões de investimento levam-nos a cometer graves erros. Estes vieses têm origem na ilusão de controlo e ilusão de conhecimento. A ilusão de conhecimento é a tendência que as pessoas têm de acreditar que a precisão das suas previsões aumenta com mais informação. A verdade é que mais informação não é necessariamente melhor informação. A utilização que fazemos da informação disponível é que importa. A tendência para sobrevalorizar as nossas capacidades é amplificada pela ilusão de controlo -- a crença que as pessoas têm de que conseguem controlar acontecimentos incontroláveis. A aleatoriedade é frequentemente confundida com controlo.
O viés confirmatório, mostra-me o que quero ver, realça o mau hábito que temos de procurar apenas a informação que concorda connosco. Tendemos a formar um ponto de vista e passamos o tempo a procurar informação que o confirme. Gostamos de ouvir quem concorda connosco, de ouvir as nossas próprias opiniões refletidas nos outros. Hoje, com os algoritmos dos media sociais, este viés é altamente potenciado porque nos apresentam o que procuramos e nada que o contradiga e nos ajude a clarificar o pensamento.
Um problema adicional ao viés confirmatório é o viés dos médios hostis. Isto é, não só procuramos apenas a informação que concorda connosco, mas, quando somos confrontados com informação que discorda de nós, temos a tendência de considerar a fonte dessa informação como tendo um ponto de vista enviesado.
Autoatribuição, caras é mérito nosso, coroa é azar, evidencia que temos um relativamente frágil sentido de autoestima e um dos mecanismos-chave para o proteger é o viés da autoatribuição: a tendência de atribuir os bons desfechos à nossa habilidade e os maus desfechos ao azar. Este viés constitui um dos mais fortes limites à aprendizagem que os investidores encontram. Este mecanismo de defesa impede-nos de reconhecer os erros que cometemos e, desta forma, de aprendermos com os erros cometidos no passado. Nas palavras de George Santayana, "a história repete-se e esquecer o passado é estar condenado a repeti-lo".
Hindsight: eu já sabia, um dos mais perigosos vieses que enfrentamos é o viés do retrovisor (hindsight). Refere-se ao facto de, após um evento ter tido lugar, nós estarmos convencidos de que sabíamos o que se iria passar. Se olharmos para a bolha tecnológica, para a grande crise financeira de 2008 ou mesmo para a COVID-19 em 2020, os exemplos deste comportamento abundam. Seguramente, assim será com a Guerra Ucrânia/Rússia. Hoje, os mesmos investidores que cometeram estes erros, reescreveram a sua história.
Obviamente, se todos estão convencidos de que conseguem prever o passado, é natural que estejam excessivamente certos de que conseguem prever o futuro. Assim, o hindsight é o mais poderoso gerador de excesso de confiança.
Ancoramento, o irrelevante tem valor, quando confrontados com a incerteza, todos temos a tendência de nos agarrarmos ao irrelevante como se fosse uma muleta ou uma âncora. Esta incorporação do irrelevante acontece frequentemente sem qualquer reconhecimento consciente do facto. Que âncoras influenciarão os investidores? A toda a hora, os preços das ações são publicitados: nos jornais, na internet, no ticker que está permanentemente a rodar na parte inferior dos canais financeiros de televisão. Os investidores agarram-se a estas miragens de preços e, erradamente, fazem-nos equivaler ao valor dos negócios subjacentes.
Por último, um viés relacionado com o medo, o viés da aversão à perda, explica a tendência natural do ser humano de tentar evitar perdas em contraponto com ganhos equivalentes. Por exemplo, uma pessoa que ganhe 100 euros numa lotaria atribui uma importância menor a esse evento do que a uma perda de 100 euros. Este viés reflete uma tendência natural de tentarmos evitar perdas no património financeiro ao manter o capital em dinheiro ou equivalentes de curto prazo, explicando por isso uma tendência natural para o market timing.