Escolher ações para 2048
Artigo publicado originalmente no Wall Street Journal de 21 de abril de 2023
Escolher ações para 2048
Conheçam os selecionadores de ações que escolhem ações uma vez e depois não fazem mais nada - durante um quarto de século.
Tiffany Gray, 22 anos, é finalista na licenciatura em finanças e gestão de patrimónios na Delaware State, uma universidade historicamente negra em Dover, Delaware. Jonathan Rivers, 20, é estudante com uma dupla especialização em ciências ambientais e estudos religiosos na Universidade de Virgínia.
Tiffany e Jonathan, juntamente com os seus colegas, vão selecionar um portfólio com cerca de 15 a 20 ações e vão mantê-lo durante os próximos 25 anos.
Isto parece uma loucura, e talvez o seja, mas os investidores, de todas as idades, podem aprender com estes jovens.
Eles fazem parte de uma experiência de extremamente longo prazo criado por Thomas Gayner, CEO da Markel Corp., uma empresa de seguros sediada em Glen Allen, Virgínia. Gayner gere o portfólio de investimentos da Markel desde 1990, tendo-o feito crescer até aos 22 mil milhões de dólares com uma abordagem paciente e conservadora.
Gayner criou um fundo de investimento estudantil em cada uma destas duas universidades. Até 2047, a família de Gayner contribuirá, em 25 parcelas anuais, com um total de 750 000 dólares para os dois clubes de investimento.
Os estudantes - 29 na Virgínia e nove no estado de Delaware - utilizarão esse dinheiro para selecionar investimentos que ficarão congelados nos próximos 25 anos. A cada ano, os membros selecionarão mais uma rodada de ações para o quarto de século seguinte. Ninguém, independentemente do que aconteça, jamais poderá vender qualquer das ações.
A partir do 26º ano, os estudantes que escolheram as ações há 25 anos vão desembolsar metade do dinheiro acumulado que será destinado a bolsas de estudos; a outra metade será reinvestida, para o futuro, pelos estudantes daquele ano.
Esta semana, ao entrevistar estes estudantes, fiquei impressionado com a forma como se chamam a si próprios "analistas" e como se referem aos seus potenciais investimentos como "negócios" e "empresas", não como "ações".
Tiffany Gray, do estado de Delaware, afirma: "Temos que olhar para além daquilo que pode acontecer apenas nos próximos um ou dois anos, para três anos, cinco anos, 10, 25 e até 50 anos. Não temos medo do longo prazo. É uma inspiração."
Jonathan Rivers, da Virgínia, afirma: "Se pudermos encarar o investimento de uma forma diferente da maioria dos jovens e que até mesmo a maioria dos investidores profissionais considera um grande desafio, esta é uma oportunidade incrível".
Uma lição destes novos clubes de investimento é antiga: o espantoso poder de permitir que os vencedores (os melhores investimentos) corram (se mantenham em carteira) o mais tempo possível. Não podemos perder mais de 100%, nem nos piores investimentos (a menos que os tenhamos comprado com dinheiro emprestado), mas os ganhos potenciais nos maiores vencedores são ilimitados.
Desde os inícios de 1993 até 28 de fevereiro de 2023, por exemplo, segundo o Center for Research in Securities Prices, 58 ações ganharam mais de 10 000% cada. Dez retornaram mais de 25 000%.
Estas "super-ações" incluem as agora famosas gigantes Apple Inc., Qualcomm Inc. e Monster Beverage Corp. - mas também empresas pequenas como a fabricante de ares condicionados AAON Inc., a holding de tabaco e imobiliário, Vector Group, Ldt. e a fabricante de equipamento de cozinhas, Middleby Corp.
Recuando no tempo ainda mais, o fundo de investimento conhecido atualmente como Voya Corporate Leaders Trust foi fundado em 1935 com uma carteira de 30 ações "congeladas". Graças a um punhado de grandes vencedores, o seu desempenho de longo prazo tem sido excelente, embora as suas despesas anuais de 0,49% sejam demasiado elevadas para um fundo que, literalmente, não faz nada.
O segredo é não vender. Num artigo de 1984 chamado "The Coffee Can Portfolio", o veterano investidor Robert Kirby recorda o marido de uma cliente, que copiava exatamente todas as recomendações de compra que a empresa de Kirby tinha feito à sua esposa, e investia cerca 5 000 em cada uma delas.
Ao contrário da esposa, porém, o marido ignorou todas as recomendações de venda. Ele nunca vendeu uma ação. Várias das suas posições ultrapassaram os 100 000 dólares. Uma delas, que se tornou a Xerox Corp., ultrapassou os 800 000 dólares, mais do que o valor de todo o portfólio da sua esposa.
O efeito de longo prazo que resulta de permitir que os "vencedores corram" é fácil de subestimar; a mente humana não foi programada para extrapolar taxas de crescimento gigantescas ao longo de períodos de várias décadas.
Para capturar todos os grandes vencedores possíveis, podemos comprar um fundo que replique a totalidade do mercado de ações. Ou podemos comprar diretamente todas as ações no mercado e depois parar - e nunca mais fazer outra transação.
Os alunos dos clubes de investimento de Tom Gayner já compreendem o incrível poder do juro composto.
"Se nós e os nossos sucessores conseguirmos escolher apenas alguns vencedores, eles impulsionarão os retornos, e os nossos perdedores não importarão", diz Joe Beck, 22, que ajuda a gerir o fundo estudantil da Universidade da Virgínia.
Tudo isto recorda uma ideia que Warren Buffett costuma defender: imagine que apenas poderíamos fazer 20 investimentos em toda a nossa vida. Seriamos forçado a conhecer em pormenor os potenciais investimentos, a concentrarmo-nos em apenas algumas oportunidades e mantê-las em carteira o máximo possível.
Outro líder do clube de investimento da Virgínia, Jacob Slagle, 21, diz: "Isto força-nos realmente a pensar nos negócios de uma forma diferente: será que consegue sobreviver 25 anos?"
Omar Parker, Jr., um estudante de 20 anos do clube investimento de Delaware State, já pensa para além de 2048: "Quando já tivermos desaparecido", diz ele, "o nosso fundo será um legado para as gerações futuras."