Como encontrar um negócio excecional?
Artigo publicado originalmente na edição de junho da revista Exame
Investir não tem de ser complicado. Basta encontrar negócios excecionais, comprá-los a preços sensatos e esperar.
Mas como é que encontramos estes negócios? Afinal de contas existem milhares de empresas cotadas em bolsa por todo o mundo.
A importância de uma checklist
Um negócio excecional tem de reunir um conjunto de critérios rigorosos.
Estes critérios servem de guião. São uma lista de princípios que guiam o nosso processo de análise. Segui-los garante que agimos sempre do mesmo modo e ajuda a minimizar erros de julgamento.
Tal como um piloto verifica a sua checklist antes de aterrar um avião, o nosso processo existe para garantir que um negócio cumpre todos os nossos requisitos.
A procura por um negócio excecional começa por uma análise quantitativa. Procuramos empresas que tenham um histórico de crescimento orgânico de receitas, elevados níveis de rentabilidade, boa geração de cash flow e balanços sólidos.
Estes critérios levam-nos naturalmente a pôr de lado negócios comoditizados como empresas petrolíferas, assim como empresas financeiras demasiado complexas, como seguradoras.
Tal como Warren Buffett, acreditamos que nos devemos manter dentro do nosso círculo de competências, isto é, investir em negócios que conseguimos compreender facilmente.
Seguir este processo reduz naturalmente o nosso universo de investimento a um número limitado de negócios.
O próximo passo é conhecer este grupo de empresas em profundidade.
Os números são importantes, mas não nos dizem tudo
A parte mais importante do nosso trabalho é estudar e compreender o negócio. O objetivo é aferir se a empresa tem, ou não, uma vantagem competitiva duradoura, se é gerida por pessoas honestas e capazes e se beneficia de ventos favoráveis ao crescimento.
Procuramos responder a perguntas como:
- Como é que este negócio ganha dinheiro?
- Quem são os seus clientes?
- O negócio está em risco de disrupção?
- Tem uma vantagem competitiva duradoura?
- Tem poder de fixação de preços?
- Como se comportará numa recessão?
Para o fazer, recorremos a informação publicamente disponível, incluindo as apresentações e relatórios anuais. Ouvimos também uma vasta variedade de podcasts, lemos livros, assistimos a entrevistas das equipas de gestão e falamos com peritos e concorrentes.
De certo modo, este trabalho é como o jornalismo. É fundamental ter sentido crítico para questionar toda a informação que recolhemos e as opiniões que formamos.
Investir é uma arte, e não uma ciência
Por vezes perguntam-nos o que é mais importante, a análise qualitativa ou quantitativa? Acreditamos que ambas se complementam. Os números ajudam a suportar as nossas opiniões, permitindo-nos construir uma história.
Uma história promissora não é o suficiente, os dados financeiros têm de a suportar. Do mesmo modo, os números dizem nos muito sobre o passado, mas pouco sobre o futuro. A experiência e discernimento do analista são fundamentais para perceber a sustentabilidade da vantagem competitiva e se a equipa de gestão é, ou não capaz.
Investir, ou não?
Lá porque o investimento é simples, não significa que seja fácil. Exige trabalho, esforço, curiosidade e paciência.
Procuramos conhecer tudo sobre um negócio antes de decidir se vamos ou não investir. Este processo requer tempo para estudar, questionar e refletir. Não existem vias rápidas ou atalhos. Estudar um negócio demora o seu tempo e o processo não deve ser apressado.
A nossa análise indica-nos se o negócio é excecional ou não. O passo seguinte é decidir se será ou não um bom investimento. Para tal, é fundamental considerar o preço a que está a transacionar no mercado.
O nosso objetivo é comprar negócios excecionais a preços sensatos, e evitar negócios razoáveis a preços excecionais.
Para nós, só as melhores empresas servem.