A importância das equipas de gestão
Artigo publicado na edição de maio da Revista Exame
O que faz, na ótica de um investidor, uma boa liderança de uma empresa cotada? Há várias características a ter em conta, que se complementam e aumentam as probabilidades de retorno financeiro
Investir em negócios excecionais é a melhor estratégia para se criar riqueza a longo prazo. Para nós, os negócios excecionais devem ter três pilares: vantagens competitivas, avenidas de crescimento e boas equipas de gestão. Escrevemos, nos últimos artigos, sobre os dois primeiros pilares. Hoje, falamos sobre a importância das equipas de gestão.
Porque são Importantes?
As equipas de gestão desempenham um papel decisivo em três aspetos chave:
Cultura: as equipas de gestão influenciam de forma decisiva a cultura das empresas. Excelentes empresas costumam ser obcecadas com os clientes, fomentam uma mentalidade de melhoria contínua e tratam todas as partes interessadas de forma justa.
Alocação de capital: é o elo entre o negócio e a geração de valor para os acionistas. Procuramos empresas disciplinadas a alocar capital nas oportunidades com maiores retornos potenciais. Quando não consegue investir de forma rentável em novas oportunidades de crescimento do negócio, a empresa deverá ponderar a recompra de ações (se transacionarem a preços sensatos) ou mesmo pagar dividendos aos acionistas.
Estrutura de capital: as equipas de gestão são responsáveis por definir a estrutura financeira das empresas. Procuramos empresas com balanços fortes e evitamos empresas muito endividadas. Níveis de dívida elevados aumentam o risco e retiram liberdade na gestão. Empresas muito endividadas ficam dependentes da banca, obrigacionistas ou da emissão de novas ações que, quando emitidas, diluem a posição dos acionistas.
Que Características Procuramos?
Alinhamento de interesses: gostamos de que as equipas de gestão tenham os seus interesses alinhados com os acionistas. Quando detêm participações relevantes na empresa ou têm os pacotes de remuneração ligados à criação de valor a longo prazo, os gestores têm a sua “pele” em jogo.
A LVMH é um bom exemplo. Os negócios em que uma família ou o fundador mantêm uma posição relevante, são, por regra, negócios que pensam na criação de riqueza em termos geracionais e conseguem gerir o interesse de todas as partes, de forma equilibrada.
Foco no longo prazo: são necessários vários anos para se criar uma marca e conquistar a confiança dos clientes. Procuramos equipas de gestão que tomam decisões orientadas para resultados de longo prazo, mesmo que impactem o crescimento/rentabilidade no curto prazo. A obsessão com resultados trimestrais ou cotação da empresa no curto prazo são motivos de alerta. Alguns gestores cedem à pressão do mercado, estabelecem objetivos muito ambiciosos no curto prazo e perdem o foco do que é decisivo para triunfarem a longo prazo.
A Adobe é um exemplo de uma equipa de gestão que sacrificou resultados de curto prazo, quando transitou para o modelo de subscrição em 2012. Foram muito criticados por analistas e investidores, porque no curto prazo as margens caíram.
Contudo, essa transição permitiu aumentar o mercado endereçável e expandir a margem em dez pontos percentuais.
Gestores experientes e dedicados: quando avaliamos equipas de gestão, privilegiamos um histórico de estabilidade. A estabilidade está normalmente associada ao desenvolvimento de talento dentro da organização. Parte importante do trabalho de um CEO é criar uma bolsa de talento, por forma a, quando chegar o momento, um sucessor natural poder ser nomeado. Gostamos de ver gestores com histórico longo, que conhecem bem o negócio e que passaram grande parte da carreira nessa empresa ou, pelo menos, a mesma indústria.
A Microsoft é um exemplo de uma empresa com um histórico de estabilidade e de desenvolvimento interno de talento. Ao longo da sua história, teve apenas três CEO. Acreditamos que conhecimentos profundos da empresa e da indústria, aliados a uma cultura sólida, são fatores decisivos para o sucesso de um negócio a longo prazo.
Comunicação íntegra e transparente: gostamos de gestores que comunicam de forma honesta e transparente com os acionistas e valorizamos empresas que discutem abertamente os seus erros, demonstrando vontade de aprender com eles. Vemos isso como um sinal de uma cultura de melhoria contínua, que não tem receio de experimentar. Por fim, as contas de uma empresa devem transmitir um conhecimento justo e claro do desempenho financeiro. Evitamos estruturas complexas, em que as contas incluem notas de rodapé longas e de difícil compreensão, bem como ajustamentos aos resultados reportados.
Investir em negócios excecionais é mais seguro e também mais rentável.
É por isso que só as melhores empresas servem.