16 regras para os mercados e para o investimento
Artigo publicado no blog Compound Advisors a 30 de dezembro de 2020.
16 regras para os mercados e para o investimento
1) Seja humilde ou os mercados acabarão por encontrar uma forma de o humilhar.
Ter mais confiança é uma coisa boa em muitas áreas da vida. Os mercados, no entanto, não são uma delas. Os investidores mais confiantes tendem a transacionar mais e a assumir riscos exagerados, levando a um desempenho pior.
Um investidor com excesso de confiança no início de 2020 teria aprendido uma lição valiosa sobre humildade no final de março.
2) Não há recompensa sem risco. Se parece bom demais para ser verdade, provavelmente é.
O índice Nasdaq 100 está a caminho de atingir o 12º ano consecutivo de ganhos.
Parece uma caminhada sem risco, até que aprofundamos um pouco a análise e reparamos nas muitas quedas dolorosas ao longo dos anos, incluindo um crash de 30% em 2020 ...
E estes são bons tempos, em que os máximos históricos são uma ocorrência frequente.
Após o pico de março de 2000, os investidores do Nasdaq 100 teriam que esperar 15 anos antes de atingir um novo máximo, com uma queda de 83% pelo caminho...
3) Quanto mais longo for o horizonte de investimento, maiores serão as probabilidades de sucesso.
Num qualquer dia no mercado de ações, as probabilidades de um retorno positivo são de apenas 53%, pouco melhores do que lançar uma moeda ao ar. Alargando o horizonte de investimento para um ano e as probabilidades de sucesso aumentam para 75%. Num período de 20 anos, os investidores em ações dos EUA nunca tiveram um retorno negativo.
A lição mais importante do livro mais famoso sobre trading de ações (Reminiscences of a Stock Operator) não tem nada a ver com trading ...
"Não foi a pensar que ganhei muito dinheiro. Foi a estar quieto."
4) Desta vez é diferente. Nós não vimos este filme antes. Ninguém viu.
Antes de 2020, o bear market mais curto teve pouco menos de dois meses, com o S&P 500 a cair 36% durante o crash de 1987.
Em 23 de março de 2020, o S&P 500 tinha caído 35% em pouco mais de um mês. Nessa altura, todo o mundo estava confinado e os EUA enfrentavam um colapso económico que fazia lembrar a Grande Depressão.
A 23 de março, olhando para a história passada, seria razoável assumir que a queda iria continuar.
No entanto, não. O S&P 500 começou a subir no dia seguinte (24 de março) e nunca mais olhou para trás. Nasceu um novo bear market mais curto da história (33 dias), e o mercado voltou aos seus máximos históricos em agosto.
5) Os preços-alvo são inúteis. As previsões são tontas.
Os investidores adoram preços-alvo.
Porquê?
Porque oferecem certezas (um número específico numa data específica) para uma empreitada incerta (investimento).
Todos os anos, Wall Street dá às pessoas o que elas desejam. Estes foram os preços-alvo de algumas das maiores empresas financeiras para o S&P500 para o final de 2020...
Surpreendentemente, todos eles acabaram por ficar abaixo do número real do final do ano, apesar do facto de que termos tido uma pandemia global, a maior contração trimestral da economia de todos os tempos e o maior pico na taxa de desemprego desde a Grande Depressão.
Quem poderia ter previsto tais eventos e a subsequente reação dos mercados?
Ninguém.
6) Planos> Profecias. Evidência> Opiniões.
Os anos de eleições presidenciais atraem inevitavelmente os adivinhos, e este ano não foi exceção.
"O mercado de ações irá cair se Joe Biden ganhar."
Parece-lhe familiar?
Se não parece, devia. Antes das eleições de novembro de 2016, o maior hedge fund do mundo publicou uma profecia semelhante: as ações iriam "crashar" se Donald Trump fosse eleito.
Que evidências tinham eles para suportar estas previsões cataclísmicas?
Nada.
O que realmente aconteceu?
Em ambas as ocasiões, as ações subiram de forma quase vertical logo no dia seguinte.
Nunca deixe que uma profecia se atravesse no seu caminho.
7) Existem ciclos e tendências. Isso não significa que sejam fáceis de prever ou navegar.
O S&P 500 subiu mais de 600% desde o mínimo de fecho em março de 2009. Para cima e para a direita, como diz o ditado.
Dinheiro fácil?
Longe disso. Verificaram-se 27 correções no S&P 500 de mais de 5%. Cada uma delas tinha uma "razão" preocupante associada...
Guerras comerciais. Tarifas. Curvas de rendimento invertidas. Taxas crescentes. Temores eleitorais. Brexit. Crises da dívida europeia. Coronavírus. Medo da depressão global. E assim por diante.
Todos elas pareciam o fim do mundo na altura.
8) Concentração = forma mais rápida de construir riqueza e forma mais rápida de a destruir.
Bezos. Gates. Buffett. Zuckerberg.
Esta lista dos americanos mais ricos tem uma coisa em comum: a concentração nas ações de uma única empresa que fundaram.
É tentador acreditar que este é o modelo que deveríamos seguir nas nossas próprias carteiras de investimentos, mas para a maioria, isto seria um erro.
Porquê?
As probabilidades de escolhermos uma única ação e ela se tornar uma das grandes vencedoras não estão a nosso favor.
A maior parte das empresas (72%) tem um desempenho muito inferior aos Bilhetes de Tesouro no longo prazo e mais de metade têm um retorno vitalício negativo.
Qualquer ação individual pode ir para zero. Lembre-se disto da próxima vez que ficar tentado a apostar tudo num único nome.
9) A única certeza é a incerteza. Espere o inesperado. Suspenda a descrença.
Com tempo suficiente, o mercado fará qualquer um de tolo se basearmos as nossas expectativas para o futuro no que aconteceu no passado.
Os mercados financeiros não seguem uma curva em sino. Pelo contrário, os mercados operam no mundo das fat tails, onde eventos extremos têm muito maior probabilidade de ocorrer do que uma distribuição normal (ou gaussiana) poderia prever.
No final de 2019, era esta a história do crude...
E hoje:
Notou a diferença nas imagens?
Isso mesmo: preços negativos.
Os futuros do crude apresentaram preços negativos em abril por um breve momento, quando o mundo estava inundado com a oferta e a procura colapsou. O que isto significava é que os traders estavam, na realidade, a pagar a outros para receberem o seu petróleo porque não havia lugar para o armazenar.
Estatisticamente, com base em todos os dados anteriores disponíveis, isto nunca deveria ter acontecido, nem uma única vez na história do universo. Mas aconteceu, e com tempo suficiente, acontecerá outra vez.
10) O tempo é infinitamente mais valioso do que o dinheiro.
A alocação de ativos prudente é a fundação de um plano de investimentos de longo prazo bem-sucedido, enquanto a alocação de tempo prudente é a fundação de um plano de vida bem-sucedido.
Muitas vezes, os investidores concentram-se no primeiro e raramente pensam no segundo.
Nenhuma quantia de dinheiro pode comprar o passado. Concentre-se mais no último.
11) Poupar é mais importante que investir. Sem poupança = sem investimento.
Os retornos dos investimentos atraem toda a atenção, mas para a maior parte das pessoas, o quanto elas poupam é muito mais importante.
Ao longo de 30 anos, poupar 8% do rendimento com uma taxa de retorno de 1% é muito melhor do que retorno de 8% com uma taxa de poupança de 1%.
Isto é uma coisa boa, porque poupar mais é algo que realmente conseguimos controlar, ao passo que obter um retorno maior no investimento não é uma função do esforço.
12) Não fazer nada (baixa frequência) é melhor, de uma forma geral, do que fazer algo (alta frequência). Em primeiro lugar, não faça asneira.
Nos mercados, somos constantemente incentivados a fazer alguma coisa. Comprar. Vender. Vender a descoberto. Cobrir as posições.
Mas, para a maior parte dos investidores, estas movimentações não apresentam quaisquer provas confiáveis que sugiram serem preferíveis a não fazer nada.
Não deverá então ser surpreendente descobrir que a atividade está inversamente correlacionada com o retorno.
13) Não tenha medo de dizer "Não sei". Mantenha-se dentro do seu "círculo de competência".
- Onde estará o S&P 500 no final de 2021?
- E o yield dos Bilhetes de Tesouro a 10 anos?
- O ouro será um bom investimento hoje?
- E a Bitcoin?
- Quando é que a Reserva federal aumentará as taxas novamente?
É tentador acreditar que, para ter sucesso no investimento, temos que ter as respostas para estas perguntas, mas frequentemente, o oposto é mais verdadeiro.
Pensar que sabemos algo e agir de acordo com essa opinião pode ser muito mais prejudicial do que admitir que simplesmente não sabemos.
14) A melhor estratégia é aquela que conseguimos seguir o tempo suficiente para colher os benefícios do juro composto.
Identificar a "melhor" estratégia é uma tarefa quase impossível, mas mais difícil ainda é manter-se fiel a essa estratégia.
Repare no "fundo da década" de 2000 a 2009: CGM Focus. Ganhou mais de 18% ao ano (mais de 3% melhor ao ano do que o seu rival mais próximo), enquanto que os seus participantes perderam 11% ao ano.
Como é que isto é possível?
Os investidores injetaram dinheiro no fundo após fortes subidas e retiraram dinheiro após quedas. Compraram caro e venderam barato, incapazes de persistir nos tempos difíceis.
Em 2020, foi despejado capital no ETF ARK Innovation, que ganhou uns espantosos 170% no ano (fecho de 22 de dezembro). Será que estes novos investidores permanecerão no fundo quando os inevitáveis recuos acontecerem? A história diz que a probabilidade é muito baixa.
15) A diversificação e alocação de ativos protegem-nos da incapacidade de prever o futuro.
16) Aprenda a controlar as suas emoções ou serão as suas emoções a controlar.
O medo e a ganância são emoções primordiais. Fomos programados para reagir a essas emoções. Isto serviu-nos bem de uma perspetiva evolucionária, mas no investimento, fazem mais mal do que bem.
Quando os mercados caem, temos medo de perder tudo e somos induzidos a vender para parar a dor.
Quando os mercados sobem, temos medo de perder ganhos futuros e somos levados a comprar para acabar com o arrependimento.
Quando for tentado a agir com base no medo ou na ganância, afaste-se. Respire fundo, faça uma longa caminhada, leia um livro, veja o seu filme preferido. O mercado estará lá quando voltar e o seu estado de espírito estará em melhores condições para tomar qualquer decisão.
Existem três grandes forças no mundo: a estupidez, o medo e a ganância.
Albert Einstein