10 Lições de 2020
Publicado anteriormente no blog Of Dollars and Data no dia 19 de janeiro de 2021.
10 Lições de 2020
Embora muito de nós queiramos esquecer 2020 (eu incluído), foi um ano repleto de lições de investimento das quais poderemos beneficiar nas décadas vindouras. Abaixo, compilei uma lista de 10 lições que poderemos utilizar para sermos melhores investidores em 2021 e mais além.
1. Os preços podem sempre cair mais
Mesmo quando as coisas parecem não poder piorar, às vezes elas pioram. Os traders de petróleo descobriram esta verdade da pior forma possível quando o preço spot do barril entrou em terreno negativo pela primeira vez na história:
Não me recordo de ver a comunidade FinTwit tão chocada com um único evento. A lição aqui é simples: mesmo quando pensamos que batemos no fundo, os preços podem continuar a cair. Às vezes, temos que esperar o inesperado.
2. Quanto maior a queda, maior o potencial da recuperação.
Se os mercados provaram alguma coisa este ano, foi que grandes quedas nos preços criam o potencial para recuperações ainda maiores. Porquê? Simples matemática. Se uma queda de 20% exige uma recuperação de 25% para ficar a zero, então uma queda de 33% exige uma recuperação de 50% e por aí adiante:
Uma vez que 2020 testemunhou uma queda de 33% no S&P500 (do máximo anterior ao mínimo), isto significa que a inesperadamente rápida recuperação foi ainda melhor para aqueles que entraram perto dos mínimos no final de março. Embora ninguém pudesse prever que uma tal recuperação se seguiria, o facto é que ela significou lucros enormes para quem manteve o rumo.
3. A volatilidade está viva e de saúde.
Se nos tivéssemos esquecido da volatilidade, 2020 foi um despertador eficiente. Se analisarmos os retornos diários do Dow desde 1929, 2020 foi um ano de recordes:
A juntar ao facto de ter tido duas quedas diárias superiores a 10%, março de 2020 foi também o mês mais volátil da história dos mercados. 2020 ajudou-nos a recordar que o excesso de retorno esperado das ações sobre as obrigações às vezes tem um preço a pagar.
4. O preço é o que alguém está disposto a pagar por algo.
2020 viu Bitcoin a atingir novamente os 20 mil dólares (nota do tradutor: hoje está a níveis bem mais elevados), a Tesla ultrapassou os 66 biliões de dólares de capitalização (nota do tradutor: idem) e o petróleo caiu para baixo dos 0 dólares por barril. Embora nenhum destes preços faça sentido para alguns investidores. Enquanto existirem mercados, os ativos serão sempre apreçados pelo que alguém está disposto a pagar por eles. Isto nunca foi tão evidente como na recente subida nas avaliações das empresas tecnológicas não lucrativas. Mas, desde que suficientes compradores estejam dispostos a pagar estes preços elevados, elas continuarão.
Embora estas ocorrências possam parecer uma oportunidade de vender a descoberto, são tudo menos isso. Tal como reza a famosa frase:
"O mercado consegue manter-se irracional mais tempo do que conseguimos manter-nos solventes"
Tentemos manter isto na nossa mente quando os investidores parecerem estar a perder a deles.
5. Bitcoin não se comporta como um porto de abrigo
Apesar do que os evangelistas da Bitcoin pregaram em anos anteriores, 2020 provou, para lá de qualquer dúvida, que Bitcoin não se comporta bem em mercados caóticos. Tal como outros ativos de risco, o preço da Bitcoin caiu rapidamente em março de 2020:
E, embora, eu concorde que a Bitcoin, de uma forma geral, tem uma menor correlação com outros ativos de risco nos tempos bons, isto não é necessariamente verdadeiro quando o sangue corre nas ruas.
E embora tenha mudado de opinião acerca de alguma coisa relacionadas com a Bitcoin, a sua classificação como ativo de risco, não é uma delas.
6. Os mercados frequentemente rimam, mas raramente se repetem
Com as avaliações estratosféricas de vários IPO's de empresas tecnológicas, podemos recordar-nos de 1999. No entanto, embora os preços das ações possam ser elevados, 2020 não é 1999. A diferença entre o crescimento no NASDAQ de 1995 a 1999 comparado com o período de 2016-2020 é como da noite para o dia:
Este gráfico ilustra que há uma grande diferença entre "bolha" e "BOLHA". Tal como o meu colega, Michael Batnick escreveu:
"Não acho que o mercado está numa bolha, mas está cercado por bolhas."
Embora não estejamos em 1999, alguns investidores estão. Os mercados frequentemente rimam, mas raramente se repetem.
7. Os traders no Robinhood tiveram um impacto limitado no mercado
Embora muitas manchetes em 2020 insistissem que os traders no Robinhood estavam, em conjunto, a fazer subir os preços das ações, há poucas evidências que suportem esta afirmação. A maior parte do efeito da atividade de trading no Robinhood parece limitada a ações individuais, particularmente aquelas que são mais pequenas e têm menor volume de transação. Podemos concluir isto analisando as ações mais e menos correlacionadas com a atividade de trading no Robinhood:
As ações com a maior correlação com os utilizadores Robinhood são também das mais pequenas e menos líquidas de 2020. As maiores ações não tiveram impacto significativo. Portanto, embora seja tentador dar crédito aos traders no Robinhood pela subida nos preços, os dados sugerem outra coisa.
8. Os mercados não são sempre eficientes
Embora os mercados sejam eficientes na maior parte do tempo, é interessante ver quando eles se agitam. O melhor exemplo disto aconteceu quando a Zoom Technologies (ZOOM) viu o seu preço a subir 1800% desde o início de 2020 até meados de março. O problema? Era a Zoom errada!
Zoom Video Communications, a criadora do software de videoconferências, transaciona com o ticker ZM, não ZOOM:
Quando os reguladores se deram conta, a atividade na Zoom incorreta foi suspensa. Desde essa altura, a Zoom Technologies transaciona com o ticker ZTNO e o preço está a cair 25% desde o início de 2020. Os mercados habitualmente são eficientes, mas quando não o são, a história é sempre interessante.
9. Às vezes, as regras não se aplicam
Apesar de gostarmos de acreditar que há sempre um livro de regras para seguir nos mercados, às vezes nenhuma das regras se aplica. Toda a sabedoria do mundo não nos prepara sempre para o que vai acontecer a seguir. É por isto que o termo "unprecedented" (sem precedentes) se tornou a palavra de 2020:
Por isso, da próxima vez que se encontre em território desconhecido, acalme-se, relaxe e lembre-se que isto também vai passar.
10. Ninguém sabe nada
Se 2020 me ensinou alguma coisa, foi aquilo que Jack Bogle gostava de dizer, "Ninguém sabe nada." Claro que prever o futuro é sempre difícil, mas 2020 mostrou-nos o quão difícil pode ser. Se alguém me dissesse que as ações americanas iriam subir mais de 10% no mesmo ano de uma pandemia global, eu não teria acreditado. Isto é, no entanto, o que torna os mercados tão complexos e mistificantes, especialmente em 2020, um ano como nenhum outro.