Braga na liga de gestão de fortunas
Casa de Investimentos esperou quatro anos para chegar ao mercado. Será dirigida por mulheres.
Braga já tem o clube de futebol na Liga dos Campões, recebeu o primeiro hotel de cinco estrelas e torna-se a primeira cidade fora de Lisboa e do Porto a acolher uma gestora de fortunas.
A Casa de Investimentos - Gestão de Patrimónios é inaugurada para a semana, com um cariz marcadamente feminino. Emília Vieira, fundadora da loja Fincor em Braga, depois de sete anos por praças internacionais, e Cândida Rodrigues, com uma carreira de 25 anos na banca (BES; Credit Lyonnais e BBVA) surgem como as principais impulsionadoras da empresa, liderando uma equipa de seis pessoas.
Lançasr a 12ª gestora de fortunas do país no atual ambiente recessivo e na ressaca de casos dolorosos como o BPP e BPN pode afigurar-se como um ato corajoso ou aventureiro, mas o processo foi posto em marcha há quatro anos. Seria aprovado pelo Banco de Portugal no fim de 2008 e o registo na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários surgiria apenas em julho deste ano.
Este lapso de tempo "não altera em nada a filosofia e posicionamento numa atividade que é intemporal", diz Emília Vieira. O negócio "tem todas as condições para fazer sucesso porque tem uma componente de aconselhamento e não estará dependente das oscilações diárias dos mercados", acrescenta.
Cândida acredita que os valores da "confiança, proximidade, isenção e independência" serão suficientes para atrair, numa primeira fase, aforradores do triângulo Braga-Famalicão-Guimarães. Num segundo momento, a Casa de Investimentos conta formatar um fundo de investimento, seduzir pequenas poupanças e adquirir uma vocação nacional, apesar de já contra com investidores do Porto e Lisboa, entre os 60 da carteira que transita da Fincor.
A empresa nasce em Braga "porque somos todos bracarenses", explica Emília. O mercado das "fortunas ocultas", se existe, "é igual ao das outras regiões do país".
A sociedade conta com um capital de 500 mil euros e tem por meta atingir rapidamente os cem clientes, sem se preocupar demasiado com o valor da carteira sob gestão. Os promotores consideram que 25 mil euros é a base mínima, mas fortunas de milhões serão as mais cobiçadas.
"A prioridade é tornar a Casa uma referência do mercado", diz Emília Vieira. A companhia atua também, junto de empresas, na consultadoria de investimentos e com programas de formação.
Com o marido, o corretor Pedro Alves, Emília esteve no lançamento da loja Fincor mas depressa se cansou do frenesim da corretagem e de seguir os movimentos diários das cotações. Prefere a calma olímpica de Warren Buffett (com uma rentabilidade anualizada de 21,5%), investindo em "boas marcas e grandes nomes", quando os preços "estão abaixo do seu valor intrínseco". Cita empresas como a Pfizer, a Johnson & Johnson, eBay ou o Wells Fargo, o seu banco preferido.
Na base do seu modelo de avaliação há um conceito chave: moat (fosso), uma forma de medir a vantagem competitiva pelo fosso que separa a empresa dos seus concorrentes. Valorizar uma carteira "é tão simples como fazer dieta: é preciso resistir às tentações diárias e pôr em prática a receita teórica". A gestora acredita que "esta década será uma das melhores da história das bolsas mundiais".
Depois de uma passagem pelo BPA, Emília Vieira tirou o Mestrado em Finanças na Universidade de Lancaster - a sua tese sobre taxas de juro teve direito a um artigo no "Financial Times". Instalou-se em Londres e participou em programas de formação de equipas em bancos como a UBS, JP Morgan ou Paribas em várias praças mundiais.