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Artigo originalmente publicado em Gates Notes
Feliz 90º Aniversário, Warren!
Warren Buffett completa hoje 90 anos. É difícil acreditar que o meu grande amigo está a entrando na sua décima década. Warren tem a acuidade mental de uma pessoa de 30 anos, a gargalhada maliciosa de uma criança de 10 e a dieta de uma criança de 6. Warren disse-me, uma vez, que tinha analisado os dados e descoberto que os alunos da primeira classe têm as melhores probabilidades atuariais, então decidiu comer como um. Ele estava só a brincar, em parte.
Para ler o artigo integral clique aqui.
Artigo publicado originalmente na revista Resurgence em junho de 1996.
O Paradoxo do Crescimento
Uma sociedade devotada ao crescimento pode tornar-se uma sociedade escravizada por descontentes, mas uma sociedade sem crescimento é uma sociedade sem iniciativa.
Para mais pessoas terem acesso às coisas boas da vida, tem de existir crescimento da economia. Aqueles que sonham com uma sociedade sem crescimento estão a querer ignorar as consequências. Lagos com águas estagnadas ficam fétidos. O dinheiro é viscoso, se deixado à sua sorte. Não se alastra, apega-se. Sem crescimento, a riqueza disponível tenderia a concentrar-se indesejavelmente em pequenos aglomerados, criando guetos de ricos e de pobres. Precisamos da dinâmica do crescimento para manter os bens em circulação, dando oportunidade àqueles que nada têm de deitar a mão a algo, sem terem de o arrancar a quem o tem.
O paradoxo é que enquanto o crescimento cria oportunidade, o crescimento é frequentemente alimentado pela inveja. A produção é fomentada pelos desejos dos consumidores. Quando temos tudo aquilo de que necessitamos, o crescimento deixa de existir a menos que nos orientemos para o que queremos, mas não precisamos necessariamente e tendemos a querer o que os outros têm e nós não. Isto começa a cultivar uma economia de coisas inúteis - aquilo a que os japoneses chamam "chindogu"
[...]
Mais seriamente, talvez, uma economia alimentada pela inveja cria uma sociedade condenada à insatisfação, uma sociedade em que muito poucos vão experienciar o "bem estar", porque haverá sempre coisas que os outros têm que muitos vão cobiçar, em que a oferta de "bens de estatuto", valorizados pela sua escassez, vão sempre, por definição, ser menos abundantes que a procura dos mesmos.
[...]
O primeiro passo para a liberdade pessoal é a definição de "suficiente": dinheiro suficiente, coisas suficientes, progressão profissional suficiente, reputação profissional suficiente. Se não sabe o que é "suficiente", então quererá sempre mais e, por definição, nunca estará satisfeito, ou livre para fazer outra coisa qualquer, porque nunca saberá o significado de "mais do que suficiente". [...] Cada um de nós tem de descobrir qual o nosso nível aceitável de pobreza, a nossa definição pessoal de "suficiente", se queremos obter o máximo da nossa vida.
Um limite superior para "suficiente", no nosso próprio interesse, tem de ser equilibrado com um limite inferior para os outros. Se "mais do que suficiente" é desnecessário, "menos do que suficiente" é intolerável, e deveria ser reconhecido como tal por uma sociedade decente. Equilibrar as duas definições de suficiente, a superior e a inferior, manteria o crescimento mas distribuiria a riqueza de uma forma mais equitativa.
[...]
A única coisa, acredito eu, que nunca podemos ter o "suficiente" é melhoria - melhor saúde, melhor educação, melhor qualidade de vida, melhores contribuições para o mundo à nossa volta. Não existe, por isso, qualquer limite que consiga ver à expansão benéfica destes serviços "bons para si", desde que não se convertam numa nova forma de consumismo. [...] Desde que tenhamos cuidado com este aspeto, podemos encorajar o crescimento na parte de serviços da economia sem criar um mundo de inveja, porque não há razão pela qual toda a gente não devesse ser mais saudável, saber mais ou ser mais bem tratada. Não é um jogo de soma nula, mas um em que todos ganham.
[...]
Se queremos restaurar a alma da nossa sociedade, temos de repensar os nossos indicadores económicos e adotar a doutrina do Suficiente. Paradoxalmente o resultado final será não menos crescimento, mas mais crescimento, e eu acredito, melhor crescimento porquanto mais amplamente partilhado.
Artigo completo na versão original: link
Créditos da foto: Edward Howell em Unsplash
Em artigo publicado originalmente no blog do CFA Institute, Lauren Foster analisa a intervenção de Aswath Damodaran na "CFA Institute Equity Research and Valuation 2019 Conference".
O Dilema da Disrupção: Histórias e Números
Existe um ditado, frequentemente confundido com uma maldição chinesa; "Que possas viver em tempos interessantes".
Aswath Damodaran moderniza-o para descrever a nossa era atual: "Vivemos em tempos disruptivos".
A disrupção está em todo o lado. Jovens rivais estão constantemente a desafiar o status quo, quer seja uma empresa que descobriu uma nova forma de cultivar comida em pavilhões, desenvolver diamantes num laboratório ou fotografar a Terra.
"Num determinado sentido, podemos dividir o mundo em disruptores e "disrompidos"", declarou Damodaran perante a audiência da
CFA Institute Equity Research and Valuation 2019 Conference. "Não importa qual o negócio em que se encontra, ou está a ser disrompido e, nesse caso, sente-se deprimido ou é um disruptor, e está a sentir-se mais otimista - mas está a queimar dinheiro a um ritmo alucinante".
Embora seja mais difícil avaliar disruptores, o ponto positivo é que temos a oportunidade de brilhar quando avaliamos empresas jovens. Exceto numa questão: a disrupção é desconfortável. Profundamente desconfortável.
Fique à vontade com o desconforto
Porque temos tão pouco à vontade com a disrupção? Porque ela traz a coisa que mais tememos: incerteza. "Nós, seres humanos", diz Damodaran, "não gostamos de lidar com a incerteza". E respondemos à incerteza da forma com sempre o fizemos:
- Procurando a influência divina: "Rezar pela intervenção de um poder superior é o sistema de gestão de risco mais antigo e mais praticado de todos", diz Damodaran.
- Com inércia e negação: "Quando confrontados com a incerteza, alguns de nós ficam paralisados", declara. "Junto com a paralisia, está a esperança de que, se fecharmos os olhos, a incerteza desaparecerá".
- Com heurísticas: "Os economistas comportamentais notam que os investidores, face à incerteza, adotam atalhos mentais que não têm qualquer fundamento na realidade", explica Damodaran.
- Juntando-se ao rebanho: "quando em dúvida", diz Damodaran, "é mais seguro deixarmo-nos ir com a multidão".
- Outsourcing: "Assumir que existem especialistas e peritos que têm todas as respostas tira-nos o peso dos ombros", explica Damodaram, "mesmo que eles não façam ideia do que estão a falar".
Mas, para os profissionais do investimento que, por definição, estão muito mais "comprometidos" com os números, o dilema da disrupção é mais profundo.
"Acredito que, no fundo, o que nos torna desconfortáveis com a disrupção é a incerteza que traz a cada número que medimos", conclui Damodaran.
Que tipo de incerteza?
Segundo Damodaran, a incerteza pode tomar diversas formas: incerteza nas estimativas versus incerteza económica, incerteza micro versus macro e contínua versus discreta. E, dependendo da forma, a incerteza pode ser mitigada, até certo ponto.
Mas a incerteza também evolui à medida que as empresas amadurecem e atravessam os respetivos ciclos de vida. Assim, por exemplo, na fase start-up, a incerteza pode ser sobre se a ideia tem ou não potencial.
À medida que a empresa avança para a fase de crescimento jovem, a incerteza poderá ser sobre se existe um modelo de negócio com o qual comercializar a ideia.
Para uma empresa na fase de crescimento rápido, poderá ter a ver com se o modelo de negócio será capaz de gerar crescimento. Mais tarde, quando a empresa está em declínio (a fase final), a incerteza terá a ver com se a gestão da empresa terá capacidade de reconhecer a realidade.
O ciclo de vida de uma empresa, segundo Damodaran, é como o de uma pessoa. "Start-ups são como bebés. A diferença é que as start-ups têm uma taxa de mortalidade muito mais elevada. Dois terços de todas as start-ups não resistem".
Depois chegam os desastrosos dois. "se ultrapassar a fase de start-up, a empresa é agora uma criança. O que fazem as crianças? Vão contra as coisas, caem a toda a hora. E as empresas, na fase de criança, terão anos bons, anos maus, vão quase conseguir, quase rebentar, quase ter sucesso.
Ultrapassa os anos de criança e torna-se adolescente. O que fazem os adolescentes? Acordam todos os dias e perguntam, "o que posso fazer hoje para rebentar tudo?"
A Tesla, diz Damodaran, uma empresa de que é acionista, é a sua adolescente empresarial. "Tem enorme potencial, mas todas as manhãs, Elon Musk acorda e questiona-se, o que posso fazer hoje para rebentar tudo?
Obviamente, assim que os anos da adolescência passam, a empresa aproxima-se do seu potencial pleno.
"Estás no pico da vida", diz Damodaran, "pensem no Facebook ou Google de há dois anos. Tudo o que tocas se transforma em ouro. Goza o momento, porque após o pico da tua vida, resta a meia idade.
Na meia idade, a vida não é tão excitante. Mas goza este momento também porque, depois da meia idade, restam os dias negros, quando envelhecemos e morremos".
O que tem isto a ver com a disrupção?
"A incerteza é maior quando nos encontramos na fase jovem", diz Damodaran. "O tipo de incerteza que enfrentamos muda assim como a quantidade de incerteza. É por isso que nos sentimos mais confortáveis a avaliar empresas maduras e passamos tanto tempo no custo de capital".
Mas o valor real está na avaliação de empresas jovens.
Confrontado com a escolha de avaliar a icónica marca de jeans, Levi Strauss, que entrou em bolsa em março de 2019, ou as Uber ou WeWorks do mundo, Damodaran é perentório:
"Conseguimos avaliar a Levi Strauss mais precisamente, mas também qualquer um o pode fazer. Porquê? Porque têm exatamente a mesma vantagem que nós", explica Damodaran.
"enquanto que com a Uber ou WeWork, quando avaliamos a empresa, já somos especiais. Sabem porquê? Porque a maioria das pessoas desiste. A maior parte das pessoas apreçam a companhia. Dizem, "o que estão todos os outros a pagar?" Temos uma vantagem decisiva, porque realmente terminamos a avaliação".
Conclusão de Damodaran: "A recompensa das avaliações é maior quando nos sentimos desconfortáveis, quando sentimos vontade de desistir".
O lado negro da disrupção
Mas, por cada Tesla, existe uma Ford. Por cada Amazon, uma J.C. Penney. Existem vencedores e perdedores na equação da disrupção. Por cada disruptor que desafia o status quo com uma nova forma de fazer as coisas, há uma empresa disrompida.
Damodaran chama a isto a dança da disrupção, e acrescenta a sua versão do modelo de Kubler-Ross das cinco etapas do luto - as cinco etapas da disrupção:
1. Negação e ilusão
2. Falhanço e falsa esperança
3. Imitação e inércia institucional
4. Regulação, dobrar as regras e desafios legais
5. Aceitação e ajustamento
Narrativas e fé
Damodaran gosta de dizer que a disrupção é fácil, fazer dinheiro com ela é que é difícil. "Existe sempre o risco de, embora a disrupção possa ter sucesso, muitos disruptores, especialmente os primeiros, não beneficiam com ela", explica.
As narrativas são uma ferramenta essencial quando avaliamos disruptores, defende Damodaran. Na verdade, segundo ele, é "o maior segredo escondido da avaliação".
"Uma boa avaliação é uma ponte entre histórias e números. A coisa mais perigosa que aconteceu à avaliação nos últimos quatro anos foi o Excel. Na maior parte das aulas de avaliação, tornámo-nos ninjas do Excel. Perdemos a capacidade de contar histórias com os números."
Mas não apenas a capacidade de contar uma história que interessa. Temos que ter fé na nossa história.
"Não avalio empresas para viver. Não faço avaliações porque sou intelectualmente curioso. Não fico acordado à noite a pensar quanto vale o Facebook. Faço avaliações por uma única razão: quero agir com base nessas avaliações. E quero explicar-vos porque a fé as avaliações têm que andar de mão dada. Porque, para agir com base nelas, temos que ter fé, temos que acreditar nas nossas avaliações. Isto não tão fácil quanto parece. Podemos seguir todas as regras, mas, no fim de contas, é apenas um número. E depois precisamos de fé. Que tipo de fé precisamos? Que o preço se ajuste ao valor."
Damodaran esboça os cinco passos envolvidos no desenvolvimento de uma história de avaliação:
1. Desenvolver uma narrativa para o negócio que estamos a avaliar. Nesta narrativa, contamos a história de como vemos o negócio evoluir ao longo do tempo.
2. Testar a narrativa e para ver se é possível, plausível e provável. Existem inúmeras narrativas possíveis; nem todas são plausíveis e apenas algumas são prováveis.
3. Converter a narrativa em catalisadores de valor. Desmontamos a narrativa e tentamos trazê-la para critérios de avaliação desde tamanho do mercado potencial a cash flows e riscos. Quando terminarmos, cada parte da narrativa deve ter um lugar nos nossos números e cada número deverá ser suportado por uma porção da narrativa.
4. Ligar os catalisadores de valor a uma avaliação. Criamos um modelo de avaliação intrínseca que liga os dados introduzidos a um valor final para o negócio.
5. Manter este círculo de feedback aberto. Prestamos atenção às pessoas que conhecem o negócio melhor do que nós e utilizamos as suas sugestões para calibrar a nossa narrativa e até, talvez, alterá-la. Analisamos o efeito no valor de narrativas alternativas para a empresa.
Atenção: as narrativas não são estáticas, por isso, devemos estar preparados para nos adaptarmos.
Damodaran conclui, "As histórias podem quebrar. As histórias podem mudar. Nunca me envergonhei de dizer que mudaria a história. E muitas vezes somos obrigados a fazê-lo. Jovens empresas, se ficarem "encalhados" na vossa história, estão em sarilhos."
Originalmente publicado no blog Collaborative Fund em 15 de junho de 2020
Como sempre foi
As pessoas gastam tempo de mais nas últimas 24 horas e tempo de menos nos últimos 6 000 anos.
"Will Durant"
Eis um punhado de curtas histórias sobre coisas que nunca mudam num mundo que nunca pára de mudar.
As coisas que nunca mudam são as mais importantes a que devemos prestar atenção. A mudança atrai mais atenção, porque é emocionante e surpreendente. Mas as coisas que se mantêm iguais - como se comportam as pessoas, como pensam, como são persuadidas - são o verdadeiro sumo da história.
A citação de Voltaire, "a história nunca se repete, mas o homem sempre", resume tudo. Prever o futuro é difícil. Poucos o conseguem fazer. Compreender o que se está a passar na cabeça das pessoas é mais fácil e quase tão útil. O mundo em 2020 não se parece em nada com o mundo de 1920, que era um universo diferente em comparação a 1920 AC. Mas a forma como a cabeça das pessoas funciona não mudou. A forma como pensamos sobre medo, ganância, oportunidade, escassez e afiliações tribais não mudou. E não mudará no tempo das nossas vidas.
Se, em vez de tentarmos prever o futuro, prestássemos toda a atenção ao punhado de comportamentos que surgem constantemente na história e desempenham um papel fulcral em todos os grandes momentos, chegamos o mais perto possível de ver o futuro. Continuamos a não fazer ideia do que vai acontecer no futuro. Mas ficamos menos surpresos com o que quer que aconteça, menos confusos com o porquê de algo acontecer e mais confiantes quanto à forma como as pessoas reagem ao acontecimento.
Existem dezenas destes comportamentos que merecem atenção. Quero falar sobre quatro.
A primeira é uma história sobre bombas nucleares.
1. Acontecem grandes riscos quando vários riscos pequenos se combinam e reagem entre si. No entanto, os pequenos riscos são fáceis de ignorar e é por isso que as pessoas subestimam sempre as probabilidades dos grandes riscos.
Os soviéticos construíram uma bomba nuclear 1 500 vezes mais potente que a lançada em Hiroshima.
Chamada Tsar Bomba (rei das bombas), era 10 vezes mais poderosa do que todas as bombas convencionais lançadas durante a Segunda Guerra Mundial juntas. Quando foi testada na Rússia, a sua bola de fogo pode ser avistada a 600 milhas de distância. A sua nuvem de cogumelo subiu a 42 milhas altitude.
O historiador John Lewis Gaddis escreveu:
"A ilha onde detonaram a explosão foi literalmente nivelada, não apenas de neve, mas também de rochas. Parecia um imenso ringue de patinagem. Uma estimativa calculava que ... a tempestade de fogo resultante teria engolido uma área do tamanho do estado de Maryland."
A bomba nuclear foi desenvolvida para acabar com a Segunda Guerra Mundial. No espaço de uma década, a América e a União Soviética dispunham de bombas capazes de acabar com o mundo - todo o mundo.
No entanto, o facto de serem tão mortíferas constituía um facto positivo: os países dificilmente as utilizariam em batalha. Dizime a capital de um inimigo e eles farão exatamente o mesmo passados 60 segundos - que sentido faz então preocuparmo-nos? John F. Kennedy afirmou que nenhum dos países desejava "uma guerra que deixasse não uma Roma intacta, mas duas Cartago destruídas".
Em 1960, contornamos esta situação, seguindo o caminho contrário. Construímos bombas nucleares menores e menos mortais. Uma delas, chamada Davy Crocket, era 650 vezes menos poderosa que a bomba lançada em Hiroshima e podia ser disparada por um soldado, como uma bazuca. Construímos minas terrestres nucleares que cabiam numa mochila, com uma ogiva do tamanho de uma caixa de sapatos.
Estas armas nucleares pequenas pareciam ser mais responsáveis, menos arriscadas. Era possível utilizá-las sem acabar com o mundo.
Mas o tiro saiu pela culatra.
As bombas nucleares pequenas corriam o risco de serem realmente utilizadas em combate. Era este o seu verdadeiro propósito. Elas baixaram a fasquia do uso justificado.
Isto mudou as regras do jogo, para pior.
O risco passou a ser que um país utilizasse "responsavelmente" uma pequena arma nuclear em batalha, iniciando uma escalada de retaliação que abriria as portas para a utilização de uma das grandes bombas.
Nenhum país iniciaria uma guerra com uma bomba grande. Mas lançariam uma pequena? Provavelmente. E uma pequena bomba justificaria a retaliação com uma grande? Sim. Pequenos riscos não foram a alternativa a grandes riscos; foram o gatilho. Os mísseis soviéticos em Cuba eram 3 000 vezes menos potentes que a Tsar Bomba. Mas o lançamento de um deles, segundo o secretário de Defesa Robert McNamara, teria levado a uma "probabilidade de 99%" de que a América retaliaria com todo o seu poderio nuclear. Robert Oppenheimer, o físico que ajudou a criar a bomba, deprimido com o poderio destrutivo da bomba, defendeu a criação de armas nucleares menores para reduzir o risco. Admitiu mais tarde que foi um erro, uma vez que a probabilidade de um ataque nuclear aumentou.
Os grandes riscos são fáceis de ignorar, porque não são mais que uma reação em cadeia de pequenos eventos, cada um deles ainda mais fáceis de ignorar. Portanto, as pessoas subestimam sempre as probabilidades dos grandes riscos.
Já assistimos a isto uma e outra vez.
Em 1929, ninguém imaginava que ia haver uma Grande Depressão. Se alertássemos as pessoas em 1929 que o mercado estaria prestes a cair 90% e o desemprego saltaria para os 25%, elas rir-se-iam na nossa cara.
Não havia complacência nas pessoas. No final dos anos 20, o mercado de ações estava sobrevalorizado, a especulação imobiliária dominava e a manutenção dos terrenos agrícolas era muito pobre. Isto era óbvio. Estava bem documentado. E foi debatido até à exaustão. Mas e depois? Isoladamente, nenhuma destas coisas é importante.
Só quando aconteceram simultaneamente e se "alimentaram" mutuamente é que se transformaram na Grande Depressão.
O mercado de ações cai, o patrão perde as poupanças, despede os trabalhadores, os trabalhadores deixam de pagar os seus empréstimos e o banco vai à falência. Quando os bancos vão à falência, as pessoas perdem as suas poupanças. Quando perdem as suas poupanças, as pessoas deixam de consumir. Quando deixam de consumir, as empresas fecham. Quando as empresas fecham, os bancos vão à falência. Quando os bancos vão à falência, as pessoas perdem as suas poupanças - e assim por diante, num ciclo vicioso aparentemente sem fim.
Hoje, assistimos a uma coisa semelhante.
A economia global parou de março a maio. Simplesmente parou. Isto nunca tinha acontecido antes. Parece que fomos atingidos por um risco insondável, com uma probabilidade ínfima de ocorrer, um risco para o qual os manuais de economia nunca nos alertaram.
No entanto, não fomos atingidos por um risco de um num bilião. O que aconteceu - e só conseguimos dizer isto em retrospetiva - foi um conjunto de pequenos riscos que colidiram e se multiplicaram simultaneamente.
Um vírus transmitido dum animal para um humano (aconteceu sempre) e esse humano interagiu com outras pessoas (obviamente). Foi um mistério durante algum tempo (compreensível) e, de seguida, muito provavelmente, más notícias foram suprimidas (mau, mas comum). Os outros países pensaram que a epidemia seria contida (padrão de negação habitual) e não agiram com a rapidez necessária (burocracia, falta de liderança). Não estávamos preparados (excesso de otimismo) e só conseguimos responder com confinamentos obrigatórios (reação desesperada).
Nada disto, por si só, é surpreendente. Mas juntos, transformaram-se provavelmente no maior evento das nossas vidas.
É bom assumirmos que o mundo vai passar por uma crise uma vez por década, uma vez que, historicamente, sempre o fez. Estas crises aparentam ser eventos de baixa probabilidade, por isso é comum pensarmos que elas não vão continuar a acontecer. No entanto, acontecem repetidas vezes, porque, na verdade, são apenas eventos de alta probabilidade que se multiplicam uns aos outros. Isto não é intuitivo e é por este motivo que ignoramos sempre os grandes riscos.
Como sempre foi.
2. O otimismo é o combustível do progresso, e sem ele as pessoas param. Portanto, encontramos frequentemente o otimismo mesmo quando as probabilidades estão contra nós e os factos não estão alinhados.
"O Sonho Americano" foi uma expressão utilizada pela primeira vez pelo autor James Truslow Adams no seu livro de 1931, The Epic of America.
O momento é interessante, não acham? É difícil imaginar um ano em que o sonho parecesse menos vivo do que 1931.
Quando Adams escreveu "se um homem se esforçar, utilizando os talentos que possui, adquirindo as habilitações necessárias, é capaz subir de um status mais baixo para um mais elevado e sua família pode subir com ele", a taxa de desemprego era de quase 25% e a desigualdade na distribuição da riqueza era das mais elevadas na história americana.
Quando escreveu sobre "aquele sonho americano de uma vida melhor, mais rica e mais feliz para todos os cidadãos de todos os níveis", motins em busca de comida eclodiam em todo o país, à medida que a Grande Depressão despedaçava a economia.
Quando Adams escreveu sobre "ser capaz de crescer e atingir o pleno desenvolvimento como homens e mulheres, sem que as barreiras que lentamente foram erguidas nas civilizações mais antigas os impeçam", as escolas eram segregadas e alguns estados exigiam testes de literacia para poder votar.
Em raros momentos da história americana como este, a ideia do Sonho Americano parecia tão falsa, tão desligada da realidade que todos enfrentavam.
No entanto, o livro de Adams tornou-se bastante popular. Uma frase otimista nascida durante o período mais sombrio da história americana tornou-se, do dia para a noite, um lema familiar.
O facto de um quarto dos americanos não terem emprego em 1931 não destruiu a ideia do sonho americano. O mercado de ações cair 89% e existirem filas para o pão em todo o país também não.
Na verdade, até pode ter ganho popularidade porque as coisas estavam mesmo muito mal. Não era preciso ver o sonho americano para acreditar nele - e graças a Deus, porque em 1931 não havia nada para ver. Só era preciso acreditar que era possível e, bum, já nos sentíamos um pouco melhor.
Os psicólogos Lauren Alloy e Lyn Yvonne Abramson avançaram uma teoria, que eu adoro, chamada realismo depressivo. É a ideia de que as pessoas deprimidas têm uma visão mais precisa do mundo, porque são mais realistas sobre o quão arriscada e frágil é a vida.
O oposto do realismo depressivo é "alegremente inconsciente". É disto que a maioria de nós sofre. Na realidade, no entanto, não sofremos, porque nos sentimos bem. E o fato de nos sentirmos bem é o combustível que precisamos para acordar e continuar a trabalhar, mesmo quando o mundo à nossa volta é, objetivamente, horrível.
Tali Sharot, no seu livro The Optimism Bias, escreve (ênfase minha):
"O otimismo protege-nos da perceção "real" das dores e dificuldades que o futuro, sem dúvida, nos reserva e pode impedir-nos de encarar as nossas opções de vida como um tanto limitadas. Como resultado, o stress e a ansiedade são reduzidos, a saúde física e mental é fortalecida e a motivação para agir e ser produtivo é reforçada. Para progredir, precisamos de ser capazes de imaginar realidades alternativas - não quaisquer realidades, mas melhores - e precisamos de acreditar que elas são possíveis."
Essa última frase é crucial. Contamos a nós próprios histórias sobre o nosso potencial de progresso, porque, se formos realistas sobre o quão comum é o fracasso e a dor, nunca sairíamos do sofá.
Poucos iniciariam um negócio se fossem honestos consigo próprios sobre as suas hipóteses de sucesso ou quão difícil será o caminho para o sucesso.
Poucos seriam tão otimistas quanto ao sonho americano se analisassem friamente as estatísticas sobre a mobilidade de rendimentos e a desigualdade económica.
Poucos tentariam bater os índices do mercado de ações.
Ninguém compraria bilhetes de loteria.
Mas as pessoas fazem todas estas coisas. Eu próprio também faço algumas.
A ideia de que a maioria das pessoas é excessivamente otimista relativamente ao seu próprio futuro - mesmo que seja pessimista em relação ao dos outros - surge com frequência ao longo da história.
No seu livro Fantasyland, Kurt Andersen argumenta que a sua disponibilidade, e até desejo, de acreditar em coisas que não são verdadeiras é uma virtude fundamental da América.
Tudo começou com a noção idealizada do Novo Mundo, quando contaram aos europeus do século XVI histórias de uma terra mágica do outro lado do Atlântico cheia de abundância, apenas para quando finalmente lá chegaram, encontrarem um pântano e malária.
Continuou com coisas como P.T. Barnum e Hollywood. Day trading, publicidade e comícios políticos.
"Desde o início, o nosso ultra-individualismo esteve intimamente ligado a sonhos e fantasias épicos - todos os cidadãos eram livres para acreditar em absolutamente qualquer coisa ou em fingir ser qualquer um", escreveu Andersen.
As pessoas acreditam em coisas que não são verdadeiras, coisas que são apenas vagamente verdadeiras, coisas que são verdadeiras, mas improváveis, ou coisas que são verdadeiras, mas sem contexto. Fazer o contrário é muito doloroso. As pessoas contam histórias, procuram estatísticas e cercam-se de incentivos para que as suas crenças pareçam o mais reais possível.
As pessoas sempre fizeram isto.
Ninguém se deve surpreender quando as pessoas continuam a fazer isto, porque esta é uma parte fundamental do funcionamento dos seres humanos.
Como sempre foi.
3. As pessoas tentam evitar o menor desconforto, mesmo quando a dor é suportável, e tentar evitá-la cria riscos maiores.
Gabby Gingras nasceu incapaz de sentir dor. Ela tem um sentido do tato completo. Mas uma condição genética rara deixou-a completamente incapaz de sentir dor física.
Ela pode cair da bicicleta e levantar-se como se nada tivesse acontecido.
Bater com o dedo do pé e nem perceber.
Poderemos pensar que isto é um superpoder ou uma dádiva inacreditável. Mas a sua vida - sobre a qual várias reportagens foram feitas durante a última década - é terrível.
A incapacidade de sentir dor deixou Gabby impotente para distinguir o certo do errado no mundo físico. É uma daquelas coisas fáceis de ter como garantida, até que desaparece. Uma das reportagens resumiu uma fração da sua vida:
"Quando nasceram os dentes de leite de Gabby, ela mutilou o interior da boca. Gabby não tinha consciência dos danos que causava, porque não sentia a dor que a alertaria para parar. Os seus pais assistiam impotentes.
"Ela mastigava os dedos e a língua como se fosse pastilha elástica", explicou Steve Gingras, pai de Gabby. "Ela esteve internada 10 dias no hospital porque a sua língua estava tão inchada que ela não conseguia beber".
A dor também impede que os bebés coloquem os dedos nos olhos. Sem dor para a parar, Gabby coçou tanto os olhos que os médicos suturaram as pálpebras temporariamente. Hoje ela é legalmente cega devido aos ferimentos autoinfligidos na infância."
A dor é miserável. A vida sem dor é um desastre.
Não sou um estoico que acredita que devemos abraçar a dor e fazer o possível para a experimentar. Gosto de sapatos confortáveis e de uma temperatura confortável, muito obrigado.
No entanto, não podemos negar que a dor é o guia mais útil para o que funciona e o que não funciona. Se removermos a dor, ficaremos a vaguear num espaço entre o inconsciente e o imprudente.
Por isso, é interessante o quão nos esforçamos para evitar a mais pequena dor, mesmo quando o tiro nos pode sair pela culatra.
Existem vários aspetos da vida em que a melhor estratégia é aceitar um pouco de dor como preço de entrada. A nossa reação natural, no entanto, é exclamar: "Não, não, não. Não quero dor, nem um pouco."
A história do mercado de ações é que sobe muito no longo prazo, mas cai frequentemente no curto prazo. As quedas são dolorosas, mas os ganhos são surpreendentes. Tolere um aspeto e ganha o outro.
No entanto, grande parte da indústria de investimentos dedica-se exclusivamente a tentar evitar as quedas. Eles preveem a próxima queda de 10% ou 20% e vendem antecipadamente. Eles erram praticamente sempre. São, no entanto, atraentes para os investidores porque pedir às pessoas que aceitem a dor temporária de perder 10% ou 20% - talvez mais do que uma vez por década - é insuportável. A maioria dos investidores que conheço sabem que conseguiremos um melhor desempenho se simplesmente suportarmos a dor das quedas em vez de tentar evitá-los. Mesmo assim, tentam evitá-las.
O lado positivo de simplesmente aceitar e suportar a dor das quedas temporárias do mercado é que as quedas futuras não doem tanto. Já sabemos que são apenas parte da vida.
As empresas fazem a mesma coisa. Muitas empresas "ajustam" os seus lucros - esta é a forma caridosa de o dizer - para evitar dizer aos seus investidores que os lucros caíram temporariamente durante um trimestre. A General Electric foi o grande mestre desta estratégia. O CEO Jack Welch escreveu nas memórias sobre como a GE lidava com um mau trimestre:
"A resposta dos nossos chefes de departamento às crises era típica da cultura da GE. Embora as contas tivessem sido fechadas no trimestre, muitos se ofereciam imediatamente para colaborar para cobrir a diferença nos lucros. Alguns afirmavam que conseguiram encontrar 10, 20 e até 30 milhões dólares nos seus negócios para compensar a surpresa."
Aparentemente, valia para ajudar os investidores a evitar a mais pequena dor, mesmo que essa dor tivesse raízes na realidade. A ironia é o que veio a acontecer mais tarde: os acionistas da GE sofreram uma década de perdas gigantescas que antes eram encobertas por malabarismos contabilísticos.
A ideia de que as pessoas são hipersensíveis ao desconforto e que moverão montanhas para o evitar, mesmo quando ele é controlável e que o ato de evitar esse desconforto gera riscos maiores, é uma característica estranha. Mas é comum. Eu diria que é mesmo uma característica padrão.
Este é parte do motivo pelo qual as pessoas mentem.
Porque não fazem exercício físico suficiente.
E porque toda a gente quer um truque ou um atalho.
No filme Lawrence da Arábia, há uma cena em que um homem extingue um fósforo com as pontas dos dedos e nem sequer pestaneja. Outro homem, ao vê-lo, tenta fazer o mesmo e grita de dor.
"Isto dói! Qual é o teu truque?" pergunta.
"O truque é não te importares que doa", diz Lawrence.
Aceitar um pouco de dor tem enormes benefícios. Mas sempre será raro, porque dói.
Como sempre foi.
4. O desacordo é constante porque está enraizado nas experiências individuais. Passar por um período de stress pronunciado pode alterar permanentemente determinados comportamentos, e deixar certos países e gerações com sentimentos extremados relativamente a tópicos específicos.
O psicólogo Ivan Pavlov treinou os seus cães a salivar.
Fez isso acionando uma campainha imediatamente antes de alimentar os cães. Os cães aprenderam a associar o som da campainha à iminência de uma refeição, o que desencadeava uma resposta salivar.
Os cães de Pavlov ficaram famosos porque ensinaram aos psicólogos a ciência do comportamento aprendido.
Menos conhecido é o que sucedeu aos pobres cães anos mais tarde.
Em 1924, uma enorme inundação alagou Leningrado, onde Pavlov mantinha o seu laboratório e canil. A água da inundação atingiu as jaulas dos cães. Vários morreram. Os cães sobreviventes foram forçados a nadar 400 metros até um local seguro. Pavlov comentou mais tarde que esta foi a experiência mais traumática, por larga margem, que os cães tinham vivido.
Algo de fascinante aconteceu: os cães aparentemente esqueceram o comportamento aprendido de salivar após o toque da campainha.
Pavlov escreveu acerca de um cão, 11 dias após que as águas terem recuado:
"Após o soar (da campainha), todos os restantes reflexos condicionados desapareceram quase completamente, o animal recusou a comida novamente, mantinha-se extremamente inquieto e olhava continuamente para a porta."
Sempre curioso, Pavlov dedicou meses ao estudo de como a inundação tinha alterado o comportamento dos seus cães. Muitos nunca mais foram os mesmos - adquiriram personalidades completamente diferentes após o dilúvio e o comportamento aprendido que antes estava enraizado, desapareceu. Ele resumiu o que aconteceu e como isso se aplica aos seres humanos:
"Condições diferentes causadoras de excitação extrema levam frequentemente a perdas profundas e prolongadas no equilíbrio da atividade nervosa e psíquica ... poderão desenvolver-se neuroses e psicoses como resultado de extremo perigo para si próprio ou para amigos íntimos, ou até para o testemunho de algum evento assustador que não o afeta diretamente."
As pessoas tendem a ter memória curta. Na maior parte das vezes, esquecem as más experiências e não levam em conta as lições aprendidas anteriormente.
Mas o stress extremo deixa cicatrizes.
Passar por algo que nos faz encarar a ruína de frente ou duvidar da própria sobrevivência pode redefinir permanentemente as nossas expetativas e alterar comportamentos anteriormente arreigados.
É esta a base do PTSD (desordem de stress pós-traumático) e deixa marcas mesmo em casos que nada têm a ver com a guerra.
É por esta razão que a geração que viveu a Grande Depressão nunca mais olhou para o dinheiro da mesma forma. Eles pouparam mais dinheiro, utilizavam menos crédito e eram extremamente avessos ao risco - para o resto das suas vidas. Isto era óbvio ainda antes do fim da Depressão. Em 1936, a revista Fortune escreveu:
"A geração universitária de hoje é fatalista. Não arriscará o pescoço. Mantém as calças apertadas, o queixo erguido e a boca fechada. Se considerarmos a média como a verdade, é uma geração cautelosa, moderada e pouco aventurosa."
É por isto que os países que sofreram guerras devastadoras têm uma maior preferência por sistemas de segurança social. O historiador Tony Judt escreve sobre a Europa do pós-guerra:
"Só o estado é capaz de oferecer esperança ou salvação à massa da população. E no rescaldo de uma depressão, ocupação ou guerra civil, o estado - como agente de bem-estar, segurança e justiça - foi uma fonte vital de coesão social e comunitária. Hoje, muitos comentadores estão dispostos a ver a dependência do estado como o problema europeu e a salvação de cima como a ilusão da época. Mas, para a geração de 1945, o equilíbrio viável entre liberdades políticas e a função distributiva racional e equitativa do estado administrativo parecia ser o único caminho sensato para sair do abismo."
É por este motivo que os baby boomers que viveram as décadas de 70 e 80 pensam na inflação de uma forma que a geração millennial não consegue compreender.
E esta é a razão pela qual podemos separar os empreendedores de tecnologia de hoje em dois conjuntos claramente diferentes - aqueles que sofreram o crash das dot.com e aqueles que não o fizeram porque eram demasiado jovens.
Duas coisas tendem a acontecer depois de sermos atingidos por um evento grande e inesperado:
- Extrapolamos o que acabou de acontecer, mas com uma força e consequências ainda maiores.
- Prevemos com enorme convicção, apesar do evento original ter sido altamente improvável e que poucos, se alguém, previram.
Quanto maior for o impacto da surpresa, mais isto é verdade.
E, mais importante, quanto mais pessoas não viveram esse grande evento, mais dificuldade terão em compreender o nosso ponto de vista.
A estória mais antiga da história é a de dois lados que não concordam entre si. É provavelmente o enredo mais importante, a raiz de quase todos os grandes eventos sociais.
A questão "Por que não concordas comigo?" pode ter infinitas respostas.
Por vezes, um lado é egoísta, estúpido, cego ou desinformado.
Mas, de uma forma geral, uma questão melhor é: "O que viveste, e eu não, que faz com que acredites no que acreditas? Pensaria no mundo como tu, se tivesse vivido o que viveste?"
Esta é a questão que contém mais respostas sobre os motivos pelos quais as pessoas não concordam entre si.
Mas é uma pergunta tão difícil de fazer.
Não é confortável imaginar que o que não vivemos pode mudar as nossas convicções, uma vez que estamos a admitir a nossa própria ignorância. É muito mais fácil assumir que aqueles que discordam de nós não estão a pensar tão bem como nós.
Portanto, as pessoas vão discordar, mesmo quando o acesso à informação é cada vez mais fácil. Elas poderão até discordar mais do que nunca porque, uma vez que, como diz Benedict Evans, "quanto mais a Internet expõe as pessoas a novos pontos de vista, mais irritadas elas ficam porque percebem que existem pontos de vista diferentes".
O desacordo tem menos a ver com o que as pessoas sabem e mais com o que elas viveram pessoalmente.
E como as experiências serão sempre diferentes, o desacordo será constante.
Como sempre foi.
A única palavra que explica por que motivo os professores de economia não são bilionários
Excertos de artigo original publicado no blogue "Rich Culture" em junho 2019
[...]
A economia opera com a premissa de que há escassez e, portanto, os recursos precisam ser racionados. É por isso que os professores de economia procuram gerir o que existe. Eles não conseguem pensar em possibilidades ou abundância. Por isso, eles acham difícil acumular riqueza ou tornarem-se bilionários.
[...]
Um economista bilionário?
Economia é tudo sobre como gerenciar o que existe. Desde a própria definição, o leitor pode ver por que é difícil para um estudante ou mestre em economia acumular grande riqueza. A primeira razão é que eles sempre estarão pensando em gerenciar o que têm. Eles nunca vão pensar em ter mais ou criar mais. A segunda razão é que, mesmo quando eles têm a oportunidade de ter mais, com base na forma como foram ensinados, a sua mentalidade não lhes permite tirar vantagem. Eles acham que o seu ganho é a perda de outra pessoa. Eles acham que precisam de desistir de algo valioso para alcançar algo maior. O conceito é chamado custo de oportunidade.
[...]
Uma economia excelente não é o produto de uma gestão excelente. Uma economia excelente é o produto de invenção, inovação e descobertas.
Os economistas analisam o que existe e pensam em como todos podem gerir isso. Esse tipo de pensamento é o que afoga as pessoas na pobreza.
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Muito dinheiro foge daqueles que tentam mantê-lo e transfere-se para aqueles que ousam sonhar grande.
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Quem dá palestras ao público sobre dinheiro?
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A escola ensina economia e não dinheiro
Há uma diferença entre ensinar economia e dinheiro. Economia é o estudo da escassez. O dinheiro é um estudo de valor e a criação de valor. E o público obtém a sua compreensão do assunto do dinheiro ao aprender economia. A partir do momento em que a mente de uma pessoa fica condicionada pela ideia de escassez, é muito difícil deixar de estar.
A sua vida financeira é como é por causa das pessoas que ouve. Os economistas dão palestras ao público sobre dinheiro e, portanto, mergulham o mundo na mesma mentalidade que possuem. Os media não chamam milionários e bilionários para falar sobre a economia, mas antes para falar sobre si mesmos e as suas opiniões. Os media chamam economistas para falar sobre a economia. E adivinhem?
Se um bilionário discutisse com um economista, o economista venceria. Isto ocorre porque o economista é lógico. No entanto, o economista continuará sendo empregado, enquanto o bilionário continuará a gerar milhares de milhões.
É importante saber quem está a ouvir sobre dinheiro.
{...]
A única palavra que enriquece as pessoas
[...]
Qual é a única palavra que enriquece as pessoas? Abundância: a ideia de que há imensa disponibilidade. A escola criou um complexo nas pessoas relativamente a fazerem quantias insanas de dinheiro. Elas acreditam que estão tirando o que deveria ser de outra pessoa. E isso não é verdade.
Se decidir ganhar muito mais dinheiro hoje, e o dinheiro em circulação não puder acompanhar, o Banco Central imprimirá mais dinheiro para igualar.
[...]
O sistema financeiro está à procura de pessoas que possam resolver problemas (e que provem que podem) para lhes entregar dinheiro. Pense sobre isso. Quando você acordar todas as manhãs, diga isto a si mesmo em voz alta:
"Há muito dinheiro no mundo procurando alguém que tenha uma solução para um problema. Decidi resolver um problema e, portanto, estou qualificado para ter muito dinheiro!"
Pense em abundância.
Conclusão
Por que motivo os professores de economia não são bilionários? É porque eles pensam dentro da caixa dos recursos disponíveis. Eles são financeiramente lógicos. Para ser super rico, precisa ser financeiramente ilógico. Pense ilógico, faça ilógico.
Se nada mais, espero que agora o leitor saiba por que não deve ouvir os professores de economia para tomar decisões financeiras (pessoais).
Felicidades.
Artigo completo na versão original
Créditos da foto: Austin Distel em Unsplash
No recente testemunho perante o Congresso dos EUA, Jeff Bezos conta que a formação do capital inicial da Amazon dependeu do investimento de uma fatia substancial das poupanças dos seus pais.
Abaixo, partilhamos a tradução integral das declarações de Jeff Bezos:
Excelentes Investimentos na Próxima Geração: o caso de Jeff Bezos
Obrigado, Presidente Cicilline, Membro Sensenbrenner e membros do Subcomité. Eu sou Jeff Bezos. Fundei a Amazon há 26 anos com a missão de longo prazo de a tornar a empresa mais centrada no cliente da Terra.
A minha mãe, Jackie, teve-me aos 17 anos, quando era uma estudante do ensino secundário em Albuquerque, Novo México. Em 1964, em Albuquerque, estar grávida na escola não era popular. Foi difícil para ela. Quando tentaram expulsá-la da escola, o meu avô entrou em ação. Após negociações, o diretor disse: "OK, ela pode ficar e terminar o ensino secundário, mas não pode participar em qualquer atividade extracurricular e não pode ter um cacifo." O meu avô aceitou o acordo e minha mãe terminou o ensino secundário, embora ela não pudesse subir ao palco com os colegas e receber o diploma. Determinada a prosseguir com a sua educação, matriculou-se numa escola noturna, selecionando as aulas ministradas por professores que permitiam que ela levasse um bebé para as aulas. Ela levava duas mochilas - uma cheia de livros e a outra cheia de fraldas, biberões e qualquer coisa que me mantivesse entretido e sossegado durante alguns minutos.
O nome do meu pai é Miguel. Ele adotou-me quando eu tinha quatro anos. Ele tinha 16 anos quando veio de Cuba para os Estados Unidos, na Operação Pedro Pan, pouco depois de Castro ascender ao poder. O meu pai chegou à América sozinho. Os seus pais acreditavam que ele estaria mais seguro aqui. A mãe dele imaginou que a América seria fria, por isso fez-lhe um casaco com o tecido de panos de limpeza, o único material que eles tinham à mão. Ainda temos esse casaco; está emoldurado na sala de jantar dos meus pais. O meu pai passou duas semanas no Camp Matecumbe, um centro de refugiados na Flórida, antes de ser transferido para uma missão católica em Wilmington, Delaware. Ele teve a boa sorte de chegar à missão, mas não falava inglês e o seu caminho não foi fácil. O que também teve foi muita garra e determinação. Recebeu uma bolsa de estudos para a universidade em Albuquerque, onde conheceu a minha mãe. Recebemos ofertas diferentes na vida, das minhas maiores ofertas que recebi foi a minha mãe e o meu pai. Eles têm sido modelos incríveis para mim e para os meus irmãos ao longo de toda a nossa vida.
Aprendemos coisas diferentes dos nossos avós, e eu tive a oportunidade de passar as férias de verão dos quatro aos 16 anos no Texas, no rancho dos meus avós. O meu avô era funcionário público e rancheiro - nas décadas de 50 e 60, trabalhou para a Comissão de Energia Atômica, com tecnologia espacial e sistemas de defesa antimísseis - e era autossuficiente e engenhoso. Quando estamos no meio do nada, não pegamos no telefone e ligamos para alguém quando alguma coisa se avaria. Você mesmo conserta. Quando era criança, pude vê-lo a resolver sozinho muitos problemas aparentemente insolúveis, quer fosse reparar uma escavadora Caterpillar avariada ou a fazer o seu próprio trabalho veterinário. O meu avô ensinou-me que temos a capacidade de enfrentar problemas difíceis. Quando encontramos um contratempo, levantamo-nos e tentamos outra vez. Podemos inventar o nosso próprio caminho para um lugar melhor.
Levei essas lições muito a sério e, quando adolescente, tornei-me um inventor de garagem. Inventei um portão automático com pneus cheios de cimento, um fogão solar com um guarda-chuva e papel de alumínio e alarmes feitos com assadeiras para apanhar os meus irmãos.
A ideia original para a Amazon surgiu em 1994. A ideia de construir uma livraria online com milhões de títulos - algo que simplesmente não seria possível no mundo físico - era excitante para mim. Na altura, trabalhava numa empresa de investimentos em Nova York. Quando disse ao meu chefe que me ia despedir, ele levou-me para uma longa caminhada no Central Park. Depois de me ouvir durante horas, ele disse-me: "Sabes, Jeff, acho que é uma boa ideia, mas acho que seria uma ideia melhor para alguém que ainda não tem um bom emprego." Ele convenceu-me a pensar nisto durante dois dias antes de tomar uma decisão final. Foi uma decisão que tomei com o coração e não com a cabeça. Quando tiver 80 anos e olhar para trás, gostaria de ter conseguido minimizar o número de arrependimentos na minha vida. E a maior parte dos nossos arrependimentos são atos de omissão - coisas que não tentamos, caminhos não percorridos. Essas são as coisas que nos perseguem. E decidi que, se pelo menos não desse o meu melhor, iria arrepender-me de não ter tentado participar nesta coisa chamada internet que eu achava que iria ser enorme.
O capital inicial da Amazon.com veio principalmente dos meus pais, que investiram uma grande parte das suas poupanças numa coisa que não compreendiam. Eles não estavam a apostar na Amazon ou no conceito de livraria na internet. Eles estavam a apostar no filho. Eu alertei-os que achava que havia 70% de probabilidades de eles perderem o investimento e eles, mesmo assim, investiram. Foram precisas mais de 50 reuniões para conseguir angariar 1 milhão de dólares de investidores e, em todas as reuniões, a pergunta mais comum era: "O que é a Internet?"
Ao contrário de muitos outros países, esta grande nação em que vivemos apoia os empresários e não estigmatiza os riscos que eles correm. Desisti de um emprego estável e mudei-me para uma garagem em Seattle para fundar a minha startup, no perfeito entendimento de que poderia falhar. Ainda me parece que foi ontem que levava as encomendas para o correio e sonhava com o dia em que teríamos dinheiro para comprar uma empilhadora.
O sucesso da Amazon foi tudo menos predeterminado. Investir na Amazon era, nesses tempos iniciais, extremamente arriscado. Desde a nossa fundação até ao final de 2001, o nosso negócio acumulou perdas de quase 3 mil milhões de dólares e não tivemos um trimestre lucrativo até ao quarto trimestre daquele ano. Analistas inteligentes previram que a Barnes & Noble nos destruiria e batizaram-nos "Amazon." Em 1999, já estávamos no mercado há quase cinco anos e a Barron's publicou um artigo sobre a nossa morte iminente intitulado "Amazon.bomb." A minha carta anual aos acionistas de 2000 começou com uma frase que continha apenas uma palavra: "Ouch." No auge da bolha da Internet, o preço das nossas ações atingiu um máximo de 116 dólares e, depois da bolha estourar, caíram para 6 dólares. Analistas e comentadores e especialistas previram a nossa falência. Foram necessárias muitas pessoas inteligentes, com disponibilidade para correr riscos comigo e para manter a força das nossas convicções, para que a Amazon sobrevivesse e, em última análise, tivesse sucesso.
E não foram apenas aqueles primeiros anos. Para além de sorte e ótimas pessoas, só conseguimos ter sucesso como empresa porque continuamos a correr grandes riscos. Para inventar, temos que experimentar e, se sabemos com antecedência que vai funcionar, não é uma experiência. Só se conseguem retornos excecionais se apostarmos contra a sabedoria convencional, mas a sabedoria convencional geralmente está certa. Muitos observadores caracterizaram os Amazon Web Services como uma distração arriscada quando começamos. "O que tem a venda de poder de computação e armazenamento dados a ver com a venda de livros?" questionaram-nos. Ninguém pediu a AWS. Mas, afinal, o mundo estava pronto e ávido por computação em nuvem, mas ainda não o sabia. Estávamos certos sobre a AWS, mas a verdade é que também corremos muitos riscos que falharam. Na realidade, a Amazon já perdeu milhares de milhões de dólares em experiências fracassadas. O fracasso acompanha inevitavelmente a invenção e o correr riscos e é por isso que tentamos fazer da Amazon o melhor lugar do mundo para falhar.
Desde a nossa fundação, temo-nos empenhado em manter uma mentalidade de "primeiro dia" na empresa. Com isto quero dizer que abordamos tudo o que fazemos com a energia e o espírito empreendedor do primeiro dia. Embora a Amazon seja uma grande empresa, sempre acreditei que se nos comprometermos a manter a mentalidade do primeiro dia como uma parte essencial do nosso ADN, seremos capazes ter o alcance e as capacidades de uma grande empresa e o espírito e o coração de uma pequena.
Na minha opinião, o foco obsessivo no cliente é de longe a melhor forma de alcançar e manter a vitalidade do primeiro dia. Porquê? Porque os clientes estão sempre maravilhosamente insatisfeitos, mesmo quando declaram estar felizes e os negócios correm bem. Mesmo quando ainda não o sabem, os clientes querem sempre mais e melhor e o desejo constante de encantar os clientes incentiva-nos a inventar constantemente em seu nome. Como resultado, o foco obsessivo nos clientes, motiva-nos a melhorar os nossos serviços, acrescentar benefícios e recursos, inventar novos produtos, reduzir preços e acelerar os tempos de entrega - antes que sejamos obrigados a fazê-lo. Nenhum cliente pediu à Amazon para criar o programa Prime, mas, no final de contas, eles desejavam-no. E poderia listar aqui muitos mais exemplos. Nem todos os negócios adotam esta abordagem que coloca o cliente em primeiro lugar, mas nós fazemo-lo, e essa é a nossa maior força.
A confiança do cliente é difícil de ganhar e fácil de perder. Quando permitimos que tornem a sua empresa o que ela é, os clientes serão leais - até ao segundo em que outra empresa lhes ofereça um serviço melhor. Sabemos que os clientes são percetivos e inteligentes. Estamos convictos que os clientes notam quando trabalhamos arduamente para fazer a coisa certa e que, ao fazermos isso repetidamente, ganharemos a sua confiança. Ganhamos essa confiança lentamente, ao longo do tempo, fazendo bem as coisas difíceis - entregar dentro do prazo; oferecer preços baixos todos os dias; fazer promessas e cumpri-las; tomar decisões com base em princípios, mesmo quando são impopulares; e oferecendo aos clientes mais tempo para ficar com suas famílias, criando formas mais convenientes de fazer compras, ler e automatizar as suas casas. Como tenho vindo a dizer, desde a minha primeira carta aos acionistas, em 1997, tomamos decisões com base no valor de longo prazo que criamos através do que inventamos para servir as necessidades dos clientes. Quando somos criticados por essas escolhas, ouvimos e olhamo-nos ao espelho. Quando acreditamos que os nossos críticos têm razão, mudamos. Quando cometemos erros, pedimos desculpas. Mas quando nos olhamos ao espelho, avaliamos as críticas e, ainda assim, acreditamos que estamos no caminho certo, nenhuma força no mundo será capaz de nos mover.
Felizmente, a nossa abordagem está a funcionar. Segundo as principais sondagens independentes, oitenta por cento dos americanos têm uma impressão favorável da Amazon em geral. Em quem confiam mais os americanos do que na Amazon "para fazer a coisa certa?" Apenas nos seus médicos de família e nos militares, segundo um inquérito da Morning Consult, de janeiro de 2020. Académicos da Georgetown e New York University concluíram em 2018 que a Amazon só era ultrapassada pelos militares, entre todos os entrevistados, numa sondagem sobre confiança institucional e de marca. Entre os republicanos, ficamos atrás apenas dos militares e da polícia local; entre os democratas, estávamos no topo, em todos os ramos do governo, universidades e imprensa. No ranking de 2020 das Empresas Mais Admiradas do Mundo da Fortune, ficamos em segundo lugar (a Apple ficou em primeiro lugar). Estamos gratos que os clientes reconheçam o trabalho árduo que fazemos em seu nome e nos compensem com sua confiança. Trabalhar para ganhar e manter essa confiança é o maior impulsionador da cultura do Dia Um da Amazon.
A empresa que a maior parte de vocês conhece como Amazon é aquela que envia as suas encomendas online nas caixas castanhas com o sorriso nos lados. Foi aí que começamos, e o retalho continua a ser, por larga margem, o nosso maior negócio, responsável por mais de 80% das nossas receitas totais. A própria natureza deste negócio é entregar produtos aos clientes. Estas operações precisam de estar perto dos clientes, e não podemos terceirizar esse trabalho para a China ou qualquer outro lugar. Se queremos cumprir as nossas promessas aos clientes neste país, precisamos de trabalhadores americanos para entregar produtos aos clientes americanos. Quando os clientes compram na Amazon, eles estão a ajudar a criar empregos nas suas comunidades locais. Como resultado, a Amazon emprega diretamente um milhão de pessoas, muitas delas de nível básico e pagas à hora. Não empregamos apenas engenheiro de computação altamente qualificados ou MBAs em Seattle e em Silicon Valley. Contratamos e treinamos centenas de milhares de pessoas em vários estados do país, como West Virginia, Tennessee, Kansas e Idaho. Esses funcionários são armazenadores de pacotes, mecânicos e gerentes de fábrica. Para muitos, é o primeiro emprego. Para alguns, esses empregos são um ponto de partida para outras carreiras e temos orgulho em ajudá-los. Estamos a gastar mais de 700 milhões de dólares para dar a mais de 100.000 funcionários da Amazon acesso a programas de formação em áreas como saúde, transporte, machine learning e computação na cloud. Este programa chama-se Career Choice e pagamos 95% das propinas e taxas para a obtenção de um certificado ou diploma para áreas de elevada procura e elevada remuneração, independentemente de serem ou não relevantes para uma carreira na Amazon.
Patricia Soto, uma das nossas colaboradoras, é uma história de sucesso da Career Choice. Patricia sempre desejou seguir uma carreira na área médica para ajudar a cuidar dos outros, mas, com tendo apenas o ensino secundário e enfrentando os custos de uma educação universitária, ela não sabia se seria capaz de cumprir esse objetivo. Depois de obter o seu certificado médico por meio da Career Choice, Patricia deixou a Amazon para iniciar sua nova carreira como assistente médica, na Sutter Gould Medical Foundation, apoiando um médico de medicina pulmonar. A Career Choice ofereceu a Patricia e a tantos outros a oportunidade de uma segunda carreira que antes parecia estar fora do seu alcance.
Na última década, a Amazon investiu mais de 270 mil milhões de dólares nos EUA. Além da nossa própria força de trabalho, os investimentos da Amazon criaram quase 700.000 empregos indiretos em áreas como construção e hotelaria. As nossas contratações e investimentos geraram empregos muito necessários e adicionaram centenas de milhões de dólares em atividades económicas a áreas como Fall River, Massachusetts, o Império do interior da Califórnia e estados de Rust Belt, como Ohio. Durante a crise do COVID-19, contratamos 175.000 funcionários adicionais, incluindo muitos despedidos de outros empregos durante a paralisação económica. Só no segundo trimestre de 2020, gastamos mais de 4 mil milhões de dólares para fornecer produtos essenciais aos clientes e manter os nossos funcionários seguros do COVID-19. E uma equipa dedicada de funcionários da Amazon criou um programa para levar a cabo testes regulares para o COVID-19. Estamos ansiosos para partilhar o que aprendemos com outras empresas interessadas e parceiros governamentais.
O mercado de retalho global em que competimos é surpreendentemente grande e extraordinariamente competitivo. A Amazon é responsável por menos de 1% do mercado de retalho global de 25 triliões de dólares e menos de 4% do retalho nos EUA. Ao contrário de outros setores em que o vencedor arrecado todos os despojos, no retalho há espaço para muitos vencedores. Por exemplo, mais de 80 retalhistas, só nos EUA, arrecadam mais de mil milhões de dólares em receitas anuais. Como qualquer retalhista, sabemos que o sucesso da nossa loja depende inteiramente da satisfação dos nossos clientes com a sua experiência na nossa loja. Todos os dias, a Amazon compete com grandes empresas, estabelecidas há muitos anos, como a Target, Costco, Kroger e, é claro, a Walmart - uma empresa com mais do dobro do tamanho da Amazon. E embora nos tenhamos sempre concentrado em oferecer uma ótima experiência do cliente para vendas no retalho feitas principalmente online, as vendas iniciadas online são agora uma área de crescimento ainda maior para outras lojas. As vendas online da Walmart cresceram 74% no primeiro trimestre. E os clientes estão cada vez mais a migrar para serviços criados noutras lojas que a Amazon não consegue ainda igualar - pelo menos, na escala de outras grandes empresas - como "recolha no passeio" e devoluções na loja. A pandemia COVID-19 destacou estas tendências, que têm vindo a crescer há anos. Nos últimos meses, a "recolha no passeio" de encomendas online aumentou mais de 200%, em parte devido a preocupações com o COVID-19. Também enfrentamos nova concorrência de empresas como Shopify e Instacart - empresas que permitem que lojas tradicionalmente físicas abram uma loja online completa quase instantaneamente e entreguem produtos diretamente aos clientes de novas formas inovadoras - e uma lista crescente de modelos de negócio omnicanal. Como quase todos os outros segmentos da nossa economia, a tecnologia é usada em todo o retalho e só tornou o retalho mais competitivo, seja online, em lojas físicas ou nas várias combinações dos dois que compõem a maioria das lojas de hoje. E nós e todas as outras lojas estamos perfeitamente cientes de que, independentemente de como as melhores características das lojas "online" e "físicas" são combinadas, estamos todos a competir e a servir os mesmos clientes. O conjunto de concorrentes de retalho e serviços relacionados está em constante mudança e a única constante real no retalho é o desejo dos clientes por preços mais baixos, maior e melhor seleção e maior conveniência.
É também importante compreender que o sucesso da Amazon depende em grande medida do sucesso de milhares de pequenas e médias empresas que também vendem os seus produtos nas lojas da Amazon. Em 1999, demos, o que na época, foi um passo sem precedentes de receber vendedores terceiros nas nossas lojas e permitir-lhes que oferecessem os seus produtos juntamente com os nossos. Internamente, isto foi extremamente polémico, com muitos em desacordo e alguns previram até que este seria o início de uma longa batalha sem hipótese de vitória. Não precisávamos de ter convidado vendedores terceiros para as nossas lojas. Podíamos ter guardado esta valiosa propriedade para nós mesmos. Mas comprometemo-nos com a ideia de que, no longo prazo, isto aumentaria a seleção de produtos para os clientes e que clientes mais satisfeitos seriam ótimas notícias tanto para os vendedores terceiros como para a Amazon. E foi o que aconteceu. Um ano depois de adicionar estes vendedores, as vendas de terceiros representavam 5% das vendas unitárias e rapidamente se tornou claro que os clientes adoravam a conveniência de poder comprar os melhores produtos e comparar os preços de diferentes vendedores, todos na mesmo loja. Estas pequenas e médias empresas terceiras adicionam atualmente uma significativamente maior seleção de produtos às lojas da Amazon do que a própria operação de retalho da Amazon. As vendas de terceiros são hoje responsáveis por aproximadamente 60% das vendas de produtos físicos na Amazon, e essas vendas estão a crescer mais rapidamente do que as próprias vendas de retalho da Amazon. Apostamos que isto não seria um jogo de soma zero. E estávamos certos - o bolo cresceu, os vendedores terceiros saíram-se muito bem e estão a crescer rapidamente e tudo isto tem sido ótimo para os clientes e para a Amazon.
Existem atualmente 1,7 milhões de pequenas e médias empresas em todo o mundo que vendem os seus produtos nas lojas da Amazon. Em 2019, mais de 200.000 empreendedores em todo o mundo ultrapassaram os 100.000 dólares em vendas nas nossas lojas. A juntar a isto, estimamos que as empresas terceiras que vendem nas lojas da Amazon criaram mais de 2,2 milhões de novos empregos em todo o mundo.
Um destas vendedoras é Sherri Yukel, que queria mudar de carreira para poder estar mais tempo em casa com os filhos. Ela começou, à laia de passatempo, a fazer presentes e materiais para festas para amigos e, finalmente, começou a vender seus produtos na Amazon. Hoje, a empresa de Sherri emprega cerca de 80 pessoas e tem uma base de clientes global. Outra destas vendedoras é Christine Krogue, dona de casa e mãe de cinco filhos em Salt Lake City. Christine começou um negócio de venda de roupas de bebé no seu próprio site antes de se aventurar na Amazon. Desde então, ela viu suas vendas mais do que duplicarem e conseguiu expandir a sua linha de produtos e contratar uma equipe de funcionários em part-time. Vender na Amazon permitiu a Sherri e Christine desenvolverem os seus próprios negócios e satisfazerem os clientes nos seus próprios termos.
E é impressionante recordar o quão recente é tudo isto. Não começamos como o maior mercado - o eBay era muitas vezes maior que nós. Só com um foco intenso no apoio aos vendedores e dando-lhes as melhores ferramentas que poderíamos criar, fomos capazes de ter sucesso e, eventualmente, superar o eBay. Uma dessas ferramentas é o Fulfillment by Amazon, que permite que os nossos vendedores terceiros armazenem o seu stock nos nossos centros de distribuição e a Amazon assume toda a logística, atendimento ao cliente e devoluções de produtos. Ao simplificar drasticamente todos os aspetos da experiência de vendas de uma forma económica, ajudamos muitos milhares de vendedores a expandir os seus negócios na Amazon. O nosso sucesso pode ajudar a explicar a ampla proliferação de mercados de todos os tipos e tamanhos em todo o mundo. Isto inclui empresas americanas como Walmart, eBay, Etsy e Target, bem como retalhistas sediados no exterior, mas que vendem globalmente, como Alibaba e Rakuten. Esses mercados intensificam ainda mais a concorrência no retalho.
A confiança que os clientes todos os dias depositam em nós permitiu que a Amazon criasse mais empregos nos Estados Unidos na última década do que qualquer outra empresa - centenas de milhares de empregos em 42 estados. Os funcionários da Amazon ganham, no mínimo 15 dólares por hora, mais do dobro do salário mínimo federal (que instamos o Congresso a aumentar). Desafiamos outros grandes retalhistas a igualar o nosso salário mínimo de 15 dólares. A Target fez isso recentemente e, na semana passada, a Best Buy também. Damos-lhes as boas-vindas, e eles continuam a ser os únicos que o fizeram. Também não poupamos nos benefícios. Nossos funcionários a tempo integral, que trabalham à hora, recebem os mesmos benefícios que os funcionários assalariados, incluindo seguro de saúde abrangente a partir do primeiro dia de trabalho, plano de reforma 401 (k) e licença de paternidade, incluindo 20 semanas de licença de maternidade remunerada. Eu encorajo-o a comparar os nossos salários e benefícios com qualquer um dos nossos concorrentes de retalho.
Mais de 80% das ações da Amazon pertencem a acionistas exteriores à empresa e, ao longo dos últimos 26 anos - do zero - criamos mais de 1 trilião de dólares em riqueza para esses acionistas. Quem são esses acionistas? Eles são fundos de pensões: de bombeiros, polícia e professores. Outros são 401 (k) s - fundos de reforma que têm ações da Amazon. Endowments de universidades também, e a lista continua. Muitas pessoas irão gozar reformas mais confortáveis devido à riqueza que criamos para tantos, e estamos muito orgulhosos disso.
Na Amazon, a obsessão pelo cliente fez-nos o que somos e permitiu-nos fazer coisas cada vez maiores. Eu sei o que a Amazon podia fazer quando éramos 10 pessoas. Eu sei o que podíamos fazer quando éramos 1.000 pessoas e quando éramos 10.000 pessoas. E sei o que podemos fazer hoje, quando somos quase um milhão. Eu adoro os empreendedores de garagem - eu era um deles. Mas, assim como o mundo precisa das pequenas empresas, também precisa das grandes. Há coisas que as pequenas empresas simplesmente não conseguem fazer. Não importa o quão bom empresário sejamos, não iremos construir um Boeing 787 em fibra de vidro na nossa garagem.
A nossa escala permite-nos causar um impacto significativo em questões sociais importantes. O The Climate Pledge (Compromisso do Clima ) é um compromisso assumido pela Amazon a que outras empresas se uniram para cumprir as metas do Acordo de Paris 10 mais cedo antes e atingir dióxido de carbono zero até 2040. Pretendemos cumprir o compromisso, em parte, adquirindo 100.000 carrinhas de entrega elétricas da Rivian - um construtor de veículos elétricos com sede no Michigan. A Amazon pretende ter 10.000 novas carrinhas elétricas Rivian nas estradas já em 2022 e todos os 100.000 veículos na estrada até 2030. Globalmente, a Amazon opera 91 projetos solares e eólicos que têm a capacidade de gerar mais de 2.900 MW e entregar mais de 7,6 milhões de MWh de energia anualmente - o suficiente para abastecer mais de 680.000 casas nos Estados Unidos. A Amazon está também a investir 100 milhões de dólares em projetos de reflorestação global através do Right Now Climate Fund, incluindo 10 milhões com que a Amazon se comprometeu em abril para conservar, restaurar e apoiar soluções sustentáveis de silvicultura, vida selvagem e natureza nas Montanhas Apalaches - financiando dois projetos inovadores em colaboração com The Nature Conservancy. Quatro empresas globais - Verizon, Reckitt Benckiser, Infosys e Oak View Group - assinaram recentemente o Compromisso do Clima e continuamos a incentivar outras empresas a juntarem-se a nós nesta luta. Juntos, usaremos o nosso tamanho e escala para enfrentar a crise climática imediatamente. E no mês passado, a Amazon lançou o The Climate Pledge Fund, com 2 mil milhões de dólares de financiamento próprio. O Fundo apoiará o desenvolvimento de tecnologias e serviços sustentáveis que, por sua vez, permitirão à Amazon e a outras empresas cumprirem o Compromisso do Clima. O Fundo investirá em empreendedores visionários e inovadores que estão a criar produtos e serviços para ajudar as empresas a reduzir o impacto do carbono e a operar de forma mais sustentável.
Recentemente, inauguramos o maior abrigo para pessoas sem abrigo do estado de Washington - está localizado no interior de uma das nossas novas sedes, no centro de Seattle. O abrigo é gerido por Mary's Place, uma incrível organização sem fins lucrativos com sede em Seattle. O abrigo, parte do investimento de 100 milhões de dólares da Amazon na Mary's Place, ocupa oito andares e pode acomodar até 200 familiares por noite. O abrigo tem o seu próprio posto de saúde e fornece ferramentas e serviços essenciais para ajudar as famílias a reerguerem-se. E existe um espaço para a Amazon fornecer consultas jurídicas pro-bono semanais que oferecem aconselhamento sobre questões de crédito e dívida, danos pessoais e direitos do inquilino. Desde 2018, a equipe jurídica da Amazon apoiou centenas de hóspedes do Mary's Place e ofereceu mais de 1.000 horas pro-bono.
O Amazon Future Engineer é um programa global desenvolvido para inspirar, educar e preparar milhares de crianças e jovens de comunidades sub-representadas e carentes para seguir uma carreira em ciências da computação. O programa financia cursos de ciência da computação e desenvolvimento profissional de professores para centenas de escolas do ensino básico, aulas introdutórias e avançadas em Ciência da Computação para mais de 2.000 escolas em comunidades carentes em todo o país e 100 bolsas de estudos de quatro anos e 40.000 dólares para estudantes de ciência da computação carenciados. Os bolsistas recebem também estágios garantidos na Amazon. Existe um problema de diversidade na tecnologia, e isso tem um impacto descomunal na comunidade negra. Queremos investir na construção da próxima geração de talentos técnicos para a indústria e na expansão das oportunidades para minorias sub-representadas. Queremos também acelerar essa mudança agora. Para encontrar os melhores talentos para funções técnicas e não técnicas, fazemos parcerias ativas com faculdades e universidades historicamente negras nas nossas iniciativas de recrutamento, estágio e qualificação.
Permita-me encerrar dizendo que acredito que a Amazon deve ser escrutinizada. Devemos escrutinizar todas as grandes instituições, sejam elas empresas, agências governamentais ou organizações sem fins lucrativos. A nossa responsabilidade é garantir que passamos por esse escrutínio com mérito.
Não é por acaso que a Amazon nasceu neste país. Mais do que em qualquer outro sítio na Terra, novas empresas podem nascer, crescer e prosperar aqui nos EUA. O nosso país recompensa a desenvoltura e a autossuficiência e abraça os construtores que começam do zero. Nutrimos empreendedores e start-ups com um Estado de Direito estável, o melhor sistema universitário do mundo, a liberdade da democracia e uma cultura de correr riscos profundamente aceite. Obviamente, esta nossa grande nação está longe de ser perfeita. Mesmo quando recordamos o congressista John Lewis e honramos o seu legado, estamos no centro de tensões raciais. Enfrentamos também os desafios da mudança climática e da desigualdade de rendimentos e enfrentamos a crise de uma pandemia global. Ainda assim, o resto do mundo adoraria até mesmo o menor gole do elixir que temos aqui nos EUA. Imigrantes, como meu pai, avistam o tesouro que é este país - eles têm uma perspetiva muito diferente e, muitas vezes, vêm isso com ainda mais clareza do que nós que tivemos a sorte de nascer aqui. Ainda é o primeiro dia para este país e, mesmo perante os imponentes desafios de hoje, nunca estive tão otimista relativamente ao nosso futuro.
Agradeço a oportunidade de comparecer perante Vossas Excelências e estou à disposição para responder às Vossas perguntas.
No mundo dos investimentos, o nome Warren Buffett é sinónimo de sucesso e prosperidade com este livro, o leitor pode aprender como Warren Buffett conseguiu isso e como ele também pode conseguir.Construindo do zero, Buffett escolheu as suas ações sabiamente e com cuidado, por sua vez acumulando a enorme fortuna pela qual agora é famoso. Mary Buffett, ex-nora deste lendário génio financeiro e uma empresária de sucesso por seus próprios méritos, juntou-se ao famoso Buffettologist David Clark para criar Buffettology, um guia de investimento único que explica as estratégias vencedoras do mestre.
A tecnologia é o setor mais ativo e lucrativo do mercado de ações, mas pode ser um pesadelo para os investidores. Empresas que hoje dominam poderão ser vendidas a preço de saldo dentro de poucos anos.Mark Mahaney, analista de empresas tecnológicas há mais de 25 anos, partilha connosco as lições que aprendeu com os seus triunfos e, principalmente, com os seus erros. Com Mahaney, revisitamos a história da Internet comercial, incluindo o Dot Com Boom e o Dot Com Bust, as empresas que atingiram um sucesso espetacular e as que falharam miseravelmente e revela dez lições para a construção de um portfólio de ações de tecnologia.Nothing But Net oferece conselhos poderosos para as próximas duas décadas - lições que podemos começar a aplicar hoje e ao longo dos próximos anos.
Um guia detalhado para superar as armadilhas psicológicas encontradas com mais frequência no investimento. Vieses, emoção e excesso de confiança são apenas três das muitas características comportamentais que podem levar os investidores a perder dinheiro ou obter retornos mais baixos. As finanças comportamentais, que reconhecem que existe um elemento psicológico em todas as tomadas de decisão do investidor, podem ajudá-lo a superar esse obstáculo. Em O Livro do investimento Comportamental, o especialista James Montier apresenta alguns dos desafios comportamentais mais importantes enfrentados pelos investidores. Montier revela as barreiras psicológicas mais comuns, mostrando claramente como a emoção, o excesso de confiança e uma infinidade de outras características comportamentais podem afetar a tomada de decisão de investimento. O livro apresenta maneiras comprovadas de identificar e evitar as armadilhas dos vieses do investidor, indica como aprender com os nossos erros de investimento em vez de repeti-los e explora os princípios comportamentais que permitirão que o leitor tenha sucesso como investidor. Escrito num estilo simples e acessível, O Livro do Investimento Comportamental permite ao leitor identificar e eliminar traços comportamentais que podem minar os seus esforços de investimento e mostra-lhe como conseguir retornos superiores.
Numa mistura inovadora de ciência e imaginação, o ex-líder da Google China e um dos mais importantes escritores de ficção especulativa unem forças para responder a uma pergunta: como vai a inteligência artificial mudar o nosso mundo nos próximos vinte anos?A IA vai definir o século XXI, mas muitas pessoas sabem muito pouco sobre ela, exceto as visões de robots distópicos ou carros voadores. Embora o termo exista há já meio século, é só agora, defende Kai-Fu Lee, que a IA está prestes a revolucionar a nossa sociedade, tal como tecnologias como a eletricidade e smartphones o fizeram antes. Nos últimos cinco anos, a IA mostrou que pode aprender jogos como o xadrez em poucas horas - e vencer sempre os humanos . A IA ultrapassou os humanos no reconhecimento de fala e objetos, superando até mesmo os radiologistas nos diagnósticos do cancro do pulmão. Dentro de duas décadas, teremos dificuldades em reconhecer a vida cotidiana.Neste livro provocador que alia a narrativa especulativa e a ciência, Lee, um dos maiores especialistas em IA do mundo, juntou-se ao célebre escritor Chen Qiufan para revelar como a IA vai invadir todos os aspectos do nosso mundo, em 2041.
Este livro defende que as forças subjacentes da demografia e da globalização farão em breve reverter três tendências globais de várias décadas a inflação e as taxas de juros vão subir, mas levarão a um retrocesso na desigualdade.O que quer que o futuro reserve, argumentam os autores, nada será como o passado.Os ventos deflacionários das últimas três décadas devem-se principalmente a um enorme aumento na oferta de mão de obra disponível no mundo, devido a tendências demográficas muito favoráveis ??e à entrada da China e da Europa Oriental no sistema comercial mundial.Este livro mostra como estas tendências demográficas estão prestes a reverter-se drasticamente, coincidindo com um recuo da globalização.O resultado? Pode-se esperar que o envelhecimento aumente a inflação e as taxas de juros, trazendo uma série de problemas para uma economia mundial superendividada, mas também deverá aumentar a participação do trabalho, de modo que a desigualdade diminua.Abarcando muitos fatores sociais e políticos, bem como aqueles que são mais puramente macroeconômicos, os autores abordam temas como envelhecimento, demência, desigualdade, populismo, aposentadoria e financiamento de dívidas, entre outros. Este livro merece a atenção de qualquer pessoa que esteja interessada em saber para onde vai a economia mundial.
Uma sondagem de 2020 concluiu que 60% das pessoas pensam que o ritmo de mudança nas suas vidas é muito rápido. As gerações anteriores, confrontadas com motores a vapor ou elevadores pela primeira vez, provavelmente também pensavam assim. Mas, segundo Azeem Azhar, analista de tecnologia e empresário, entramos de facto num período de mudança desestabilizadora e sem precedentes: uma era totalmente nova da sociedade humana e da organização económica a Era Exponencial.Azhar identifica a computação e inteligência artificial, eletricidade renovável e armazenamento de energia, biotecnologia e manufatura (por exemplo, a impressão 3D) como as áreas em que as inovações surgem a um ritmo exponencial: inventam-se e escalam-se novas tecnologias a um ritmo cada vez mais rápido, e simultaneamente, diminuem-se rapidamente os preços.O problema é que, embora a mudança tecnológica esteja a acelerar rapidamente, a nossa sociedade evolui a um ritmo mais gradual e incremental. Resultado? Está a abrir-se uma divisão entre a tecnologia e a sociedade, a denominada, segundo Azhar, lacuna exponencial.Temos vindo a inventar novas tecnologias desde os tempos dos machados de pedra e das pás de madeira. De acordo com Azhar, no entanto, temos muita dificuldade como espécie em compreender a mudança exponencial: As nossas mentes evoluiram para um mundo que ainda não tinha descoberto o poder da mudança rápida.No entanto, indivíduos e empresas ignoram esta mudança rápida por sua conta e risco. Em 2007, Steve Ballmer, da Microsoft, descreveu o iPhone, dizendo: Isto não tem a mínima hipótese de ganhar quota de mercado significativa. Como Azhar observa: Ballmer caiu na lacuna exponencial.Segundo Azhar existe agora um abismo de incompreensão mútua entre os tecnólogos e o resto da sociedade. Os políticos mostram muitas vezes uma profunda ignorância até mesmo das tecnologias mais básicas: Eles são como pessoas que tentam abastecer um carro enchendo a bagageira com feno.Azhar é assumidamente otimista quanto ao poder da tecnologia: Estamos a entrar numa era de abundância. O primeiro período da história humana em que a energia, comida, computação e muito mais serão trivialmente baratos de produzir.
O que quer que a liberdade financeira signifique para nós viver a vida que quisermos, não trabalhar de acordo com os horários dos outros, ser dono do nosso destino ou qualquer outro sonho a forma de a atingir é investir.Neste livro conciso e acessível, Ben Carlson e Robin Powell mostram como tomar o caminho da liberdade financeira através da poupança e do investimento.Não se trata de ficar rico de um dia para o outro. Criar riqueza através do investimento com o objetivo de longo prazo da liberdade financeira exige disciplina, sacrifício e tempo.Mas é possível, e quase qualquer um pode fazê-lo, se munido das informações corretas.Invest Your Way to Financial Freedom partilha connosco todas as etapas que precisamos de seguir para alcançar os nossos objetivos e inclui respostas claras e simples para as seguintes perguntas:Porque é que poupar é importante?Porque é que investir é a melhor forma de criar riqueza?O que podem os investidores esperar do mercado de ações?É tarde demais se não começarmos cedo a poupar e a investir?
Os nossos objetivos pessoais precisam de uma estratégia de longo prazo.Assim como alguns CEOs privilegiam os lucros trimestrais em detrimento dos investimentos estratégicos necessários para o crescimento de longo prazo, o mesmo acontece nas nossas vidas pessoais e profissionais.Todos sabemos intelectualmente que o sucesso duradouro exige persistência e esforço. No entanto, a pressão implacável omnipresente no mundo moderno leva-nos a escolher o que parece fácil, garantido ou o que está na moda.Em The Long Game, Dorie Clark defende um caminho diferente. Clark partilha princípios que podemos aplicar à nossa situação específica, bem como histórias da sua própria carreira e experiências de outros profissionais. Todos temos as mesmas vinte e quatro horas, mas com as estratégias certas, podemos aproveita-las de forma mais eficiente.Este não é um processo que dará resultados da noite para o dia, mas a recompensa a longo prazo é imensa.
A sugestão de hoje surge-nos de Hugo Palma, informático de profissão e formação, filósofo e desportista por paixão, inconformado com o desinteresse por natureza. Leitor de menos livros de ficção do que por vezes gosta de admitir, mas os temas não ficcionais ganham quase sempre na constante batalha do próximo livro a atacar."O otimista diz O copo está meio cheio. O pessimista diz O copo está meio vazio. O racionalista diz Este copo é o dobro do tamanho que precisa de ser.Para muitos filosofia é sinónimo de algo desprovido de aplicação prática, uma ciência romântica da qual pouca utilidade poderá ser espremida. Proponho que repensem a filosofia como a base para toda a lógica argumentativa mas sem perder de vista o sentido de humor e a capacidade de rir de nós próprios. Neste livro são abordados conceitos basilares da filosofia antiga através de pequenas histórias e anedotas numa voz livre de preconceitos e classicismos. Se filosofia sempre foi aquele tema que pareceu aborrecido ou se simplesmente quer uma resumida e divertida passagem pelos principais filósofos antigos, este é o livro para si."
Mais uma obra-prima de um dos meus autores favoritos. . . Se procura saber mais sobre muitas das forças fundamentais que moldam a vida humana, este é o livro a ler. É um tour de force Bill Gates Nunca tivemos tanta informação ao nosso alcance e, no entanto, a maioria de nós não sabe como o mundo realmente funciona. Este livro explica sete das realidades mais fundamentais que governam a nossa sobrevivência e prosperidade. Desde a produção de energia e alimentos, passando pelo mundo material e pela globalização, até aos riscos que ameaçam a nossa civilização, o meio ambiente e o seu futuro, How the World Really Works oferece-nos uma verificação de realidade muito necessária no fim de contas, antes de podermos enfrentar os problemas de forma eficaz, temos que compreender os factos.Neste livro ambicioso e provocador, vemos, por exemplo, que a globalização não é inevitável - os perigos de permitir que 70% das luvas de borracha do mundo sejam fabricadas em apenas uma fábrica tornaram-se evidentes em 2020 - e que as nossas sociedades têm vindo a aumentar cada vez mais a sua dependência dos combustíveis fósseis, tornando cada vez mais improvável a sua completa e rápida eliminação. Por exemplo, cada tomate cultivado em estufas exige, para a sua produção, o equivalente a cinco colheres de sopa de gasóleo; e ainda não temos formas comercialmente viáveis ??de fabricar aço, amónia, cimento ou plástico, à escala exigida globalmente, sem combustíveis fósseis.Vaclav Smil não é pessimista nem otimista, é um cientista; ele é o perito líder mundial em energia e um polímata surpreendente. Com base na ciência mais recente, Smil responde à pergunta mais profunda dos nossos tempos: estamos irrevogavelmente condenados ou espera-nos uma utopia mais brilhante? Convincente, rica em dados e revisionista, esta obra-prima interdisciplinar encontra falhas em ambos os extremos. Olhar o mundo através desta lente quantitativa revela verdades ocultas que alteram a forma como encaramos o nosso passado, presente e futuro incerto.
Um guia em forma de manualPara que todos os clientes possam entender melhor a filosofia de investimento e como este processo de seleção é posto em prática, a Casa de Investimentos lançou, este ano, o Manual do Investidor. O livro é um guia e também uma promessa para todos os clientes e quer mostrar que temos uma filosofia de investimento bem estruturada. Só as melhores empresas servem, conforme explicou Emília Vieira, CEO e fundadora da Casa de Investimentos.O manual contém as linhas mestras do investimento, de um processo que passa por analisar profundamente estas empresas e fazer uma análise qualitativa, a história da empresa, os seus processos. Não há caminhos rápidos. E rápidos também não são os ganhos. É por isso que a gestora tem um foco de longo prazo, ignorando o ruído de curto prazo.Investir em ações não é um jogo de sorte e azar, realçou Emília Vieira, notando que todos nós somos vítimas dos nossos vieses comportamentais. Cada um valoriza a experiência que tem. Mas, nos últimos mais de 100 anos, o ativo que melhor rentabilizou o capital foram as ações.
The Perfection Trap, de Thomas Curran, professor da London School of Economics, explora como a busca pela perfeição pode tornar-se uma obsessão perigosa que leva ao esgotamento e à depressão - impedindo-nos de alcançar os nossos objetivos.Hoje, o esgotamento e a depressão estão em níveis recorde, impulsionados por uma combinação de intensa competição no local de trabalho e redes sociais opressivamente omnipresentes.A sociedade publicita continuamente a necessidade de querer mais e de ser perfeito.Nesta obra, Curran sugere introspecção e mudanças sociais mais amplas. Mostra-nos o que podemos fazer como indivíduos para resistir à pressão moderna de sermos perfeitos e, ao fazê-lo, conquistarmos para nós próprios uma vida com mais propósito.The Perfection Trap dirige-se a todos aqueles que já se sentiram oprimidos pela necessidade esmagadora competir para além de qualquer racionalidade.
Um livro profundamente relevante de um dos principais escritores financeiros do mundo, The Price of Time explica a situação financeira global atual e como aqui chegámos.No início era o empréstimo, e o empréstimo tinha juros. Há pelo menos cinco mil anos que as pessoas pedem dinheiro emprestado e emprestam dinheiro com juros. Esta prática nem sempre foi popular no mundo antigo, a usura era geralmente vista como exploradora, um caminho potencial para a servidão e escravidão.No entanto, à medida que o capitalismo se estabeleceu a partir do final da Idade Média, as críticas aos juros foram sendo atenuadas porque os juros eram uma recompensa essencial para que os credores aplicassem o seu capital. E o juro desempenha muitas outras funções vitais: incentiva as pessoas a poupar; permite que valorizem ativos preciosos, tais como casas e todos os tipos de títulos financeiros; e permite-nos pôr um preço no risco.Todas as atividades económicas e financeiras acontecem ao longo do tempo. O juro é frequentemente descrito como o preço do dinheiro, mas na realidade é melhor descrito como o preço do tempo: o tempo é escasso, o tempo tem valor, o juro é o valor do dinheiro no tempo.Nas duas primeiras décadas do século XXI, as taxas de juros caíram mais do que nunca. O dinheiro fácil após a crise financeira global de 2007/2008 causou vários efeitos nefastos, incluindo o aparecimento de várias bolhas de preços de ativos, um abrandamento no crescimento da produtividade, desencorajando a poupança e exacerbando a desigualdade e forçando investidores sedentos por rendimento a assumir riscos excessivos.O mundo financeiro encontra-se agora num lugar difícil e Edward Chancellor está aqui para nos explicar porquê.
Qualidade. Todos nós fazemos diariamente julgamentos sobre a qualidade. No entanto, articular uma definição clara de qualidade no contexto do investimento é um desafio. Este livro aborda esse desafio e destila anos de experiência prática de investimento numa sistematização definitiva desta filosofia de investimento.A teoria financeira afirma que os resultados anormais não perduram, que o desempenho excecional rapidamente se tornará mediano. Investir em qualidade implica procurar empresas com os atributos certos para superar essas forças de reversão à média e, mais importante, investir nessas excelentes empresas para o longo prazo.Este livro aponta e analisa as características que aumentam as probabilidades de uma empresa ter sucesso ao longo do tempo - bem como aquelas características que impedem esse sucesso. Ao longo do livro são abordadas uma série de fascinantes casos de estudo reais que ilustram os traços que significam qualidade.
Antes de 1870, a humanidade vivia em extrema pobreza, com um lento arrastar de inovação que não conseguia acompanhar o crescimento demográfico. Então irrompeu uma grande mudança: a inovação acelerou o passo, duplicando as nossas capacidades tecnológicas a cada geração e transformando completamente a economia, uma e outra vez. Os nossos antepassados assumiriam que teríamos utilizado tais poderes para construir uma utopia global. Mas não foi assim. Quando 1870-2010 terminou, o mundo acordou para o aquecimento global; depressão económica, incerteza e desigualdade; e a ampla rejeição do status quo. Slouching Towards Utopia, do economista Brad DeLong, conta a história de como ocorreu esta explosão de riqueza material sem precedentes, como ela transformou o mundo e por que motivo não nos conseguiu levar à utopia. De notável amplitude e ambição, este livro revela que o século passado não foi tanto uma marcha em direção ao progresso, mas sim um cambalear na direção certa.
Nesta obra, John Kay, escreve: O setor financeiro cresceu em demasia, distanciou-se dos negócios normais e da vida quotidiana e transformou-se numa indústria que, na maior parte das vezes, faz negócios consigo própria, fala sozinha, e julga-se a si mesma com os padrões que ela própria criou. E o mundo cá fora adotou esses padrões, salvando as instituições financeiras que nos falharam com a sua ganância e incompetência.Numa análise crítica ao que se tornou o negócio do setor financeiro, Kay realça que o livro pretende apresentar um plano provisório para as autoridades se prepararem para a próxima crise. É hora de voltar ao trabalho: o negócio sério e responsável de gerir o dinheiro das outras pessoas.
Porque o faz nas ações?
Todos os investidores sabem que comprar barato e vender caro é a fórmula segura para ganhar dinheiro. Então, que sentido faz querer vender quando o mercado cai e querer comprar quando sobe?
Comprar num mercado a cair é muito difícil, não apenas para o comum dos investidores, mas sobretudo para os gestores de dinheiro. Primeiro, obriga a que se faça o contrário da maioria dos investidores, o que exige saber o que se está a fazer, disciplina para executar e firmeza de carácter para aguentar opiniões contrárias. Segundo, é muito provável que não se acerte nos mínimos das ações que queremos comprar e que, durante algum tempo, tenhamos que ver as nossas posições negativas, por vezes de forma substancial. Explicar aos investidores, que não gostam de ver o seu património financeiro desvalorizar, que esta é a melhor altura para adicionar novas posições agora baratas ou reforçar as já existentes, porque estão mais baratas, é ainda mais difícil.
Por isso, a maioria das instituições financeiras não faz o esforço para contrariar as decisões, tomadas por impulso e medo, dos investidores. Estas instituições ganham mais quantas mais transações de compra e venda se fizerem. É fácil concordarem e aconselharem a vender e a regressar ao mercado quando as notícias forem boas e tudo estiver a subir. Nessa altura, os investidores pagarão mais por esse conforto. Esta não é uma estratégia de criação de valor consistente e com boas rentabilidades.
Em 16 de outubro de 2008, Warren Buffett recomendou, num artigo no New York Times, que comprassem ações americanas e que ele próprio estava a comprar. Desde esse dia até aos mínimos de mercado, em 6 de março de 2009, o índice das maiores 500 empresas americanas recuou cerca de 26%. Durante este período, o melhor investidor de todos os tempos foi criticado nos canais de televisão, blogs etc. Na verdade, quem comprou quando Buffett aconselhou, teria ganho cerca de 22% até final do ano seguinte. Os investidores que ficaram de fora do mercado acionista porque investiram nos chamados investimentos "seguros" ou porque ficaram à espera de melhores notícias, estiveram sempre à espera do melhor ponto de entrada. Esses tiveram um custo de oportunidade muito grande porque quando tiveram conforto com as notícias positivas que surgiram, já o mercado tinha recuperado mais de 70% das perdas. Isto não aconteceu apenas aos pequenos investidores. Muitos estudos publicados em 2013 e 2014 demonstraram que muitos investidores institucionais falharam o rally nas ações.
O que sabe o Mercado sobre o Valor dos ativos?
A história repete-se tantas vezes. Os investidores cometem sempre os mesmos erros e não conseguem ignorar o preço a que a toda a hora o mercado cota as suas ações. Quando vêm um imóvel a ser vendido por menos 20 ou 30% compram-no e criam até uma tese, por vezes demasiado otimista, para o possível rendimento futuro. A grande diferença é que o mercado financeiro todos os dias apresenta uma cotação para essas ações. Na realidade, enquanto a sessão está aberta, o mercado apresenta muitos preços. A maioria dos investidores não diferencia o preço do valor. Preço é o que está a cotar em determinado momento. Valor é o que intrinsecamente resulta da capacidade da empresa ganhar lucros para o futuro. Não há dúvida que se o tal imóvel cotasse todos os dias num mercado muito líquido, teria variações muito maiores e veríamos a mesma volatilidade que vemos nas ações.
Ou seja, aquela que é uma enorme vantagem, a capacidade de tornar os ativos caros em dinheiro ou comprar ativos muito baratos que produzam bons rendimentos, torna-se para a maioria dos investidores numa enorme desvantagem, porque psicologicamente não conseguem aguentar o mercado a cair e querem "cortar as perdas": "não vou ficar sentado a ver a carteira cair". Nestas alturas, deviam aproveitar para comprar muito valor por pouco dinheiro. A maioria dos investidores no mercado têm um conhecimento muito limitado do que valem os ativos e, por isso, têm medo e ancoram-se no preço, considerando que o mercado está certo, sabe mais do que eles individualmente e é melhor vender.
Na semana passada, em carta aos clientes, Howard Marks, conceituado investidor em valor, dizia o seguinte: "nestas correções, muito investidores imputam inteligência ao Mercado e esperam que ele lhes diga o que se está a passar e o que devem fazer. Este é um dos maiores erros que podem cometer. Tal como Benjamin Graham diz, o Mercado no dia a dia não é um analista fundamental; é um barómetro do sentimento dos investidores. Não devemos levá-lo muito a sério. Os agentes que participam no Mercado têm uma compreensão limitada daquilo que realmente se está a passar em termos de fundamentos económicos e qualquer inteligência que possa estar por trás das suas compras e vendas é anulada pelas suas variações emocionais. Seria errado interpretar as recentes quedas globais como um sinal de que o Mercado "sabe" que se avizinham tempos difíceis."
O Mercado é o conjunto de pessoas que participam nele e do seu conhecimento coletivo. Todos os que transacionam no mercado votam na formação dos preços, pessoas de todos os níveis de conhecimento e habilitações juntam-se para formar o preço. Estas pessoas variam em termos de conhecimento, experiência e emoções. O Mercado não atribui peso superior a umas pessoas em detrimento doutras, especialmente no curto prazo. Quando milhares de pessoas entram em pânico é muito natural que influenciem muitas mais. Como comprar e vender está ao alcance de um telemóvel ou qualquer computador, é natural que não se reflita nas tomadas de decisão.
Sabemos todos que o Mercado é muito mais emotivo do que racional e que quando as notícias são adversas, o pessimismo é exagerado, os média procuram os profetas da desgraça e potenciam ainda mais as quedas.
Qual é o principal objetivo do investimento?
O principal objetivo do investimento deve ser a segurança do capital e obter um retorno muito satisfatório a prazo. Para isso, é preciso comprar barato, comprar coisas cujo preço subestime o valor dos ativos ou lucros subjacentes. Ou seja, procuramos situações em que o Mercado está errado, não está a cotar o verdadeiro valor dos negócios subjacentes destas empresas. Já escrevemos aqui várias vezes que o investidor contrário deve fazer, em geral, o oposto do Mercado, especialmente nos seus extremos.
Charlie Munger, sócio de Warren Buffett, aconselha: "Procure mais valor, em termos de cash flow futuro, do que o que está a pagar. Aja apenas quando tiver uma vantagem. É muito básico. Tem que compreender as probabilidades e ter a disciplina de só investir quando as probabilidades estão a seu favor". Hoje somos da opinião que as probabilidades estão muito favoráveis para o investidor de longo prazo.
O que nos diz um Mercado em queda acerca do Valor?
As desvalorizações nos mercados financeiros dizem apenas o que aconteceu e como os investidores reagem, não o que vai acontecer. Não nos dizem nada acerca de eventos futuros. Seguir a opinião dos comentadores ou previsores também não ajuda a investir melhor. Muitas vezes o mercado não avalia bem os ativos e o seu preço difere muito do valor. O mercado avalia de forma diferente os setores e há os que estão a desfavor com os investidores. O que realmente nos diz o que valem os ativos é a análise profunda dos fundamentais das empresas, do seu modelo de negócio, das suas margens operacionais, da sua capacidade de fortalecer vantagens competitivas, da solidez dos seus balanços, da capacidade dos seus gestores a alocar capital e, consequentemente, da capacidade de gerar lucros para o futuro.
Os investidores médios não avaliam o valor intrínseco no dia a dia e fazem um trabalho pior em tempos de crise. Assim, os movimentos de curto prazo dos preços não nos dizem nada sobre os fundamentos dos negócios. Não se esqueça: os fundamentos económicos de uma empresa não variam muito de dia para dia. As variações diárias dos preços têm mais a ver com as variações nas emoções dos investidores.
Existe apenas uma forma inteligente de investir: saber o que algo vale e comprar abaixo desse preço. Vender porque está a cair não tem nada a ver com o valor do ativo - vende-se apenas porque se tem medo que o preço vá cair ainda mais. Seguir os conselhos do Mercado, do que a maioria está a fazer, não nos ajuda a conseguir resultados acima da média.
O que fazem os melhores investidores do mundo?
Os melhores investidores sabem que as flutuações de preço de curto prazo não são fundamentalmente significativas e que os melhores resultados serão atingidos se as posições forem mantidas ignorando a volatilidade. Ao contrário, a maioria dos investidores vendem pelas mais variadas razões: porque têm medo, porque estão alavancados, porque alguém os aconselha a isso. Vender nestas circunstâncias pode transformar uma flutuação temporária numa perda de capital permanente impedindo que a recuperação subsequente seja totalmente aproveitada. Este, na nossa opinião, é um grave erro que muitos investidores cometem.
Os movimentos futuros dos preços dos ativos só podem ser previstos com base na relação entre o preço e os fundamentais económicos da empresa - os lucros. Dada a volatilidade e a irracionalidade do Mercado no curto prazo, apenas podemos fazer isso no longo prazo.
O verdadeiro investidor não vende nestas correções. Comporta-se como um dono do negócio e mantém a sua atenção no valor que estas empresas têm quando comparadas com o preço a que transacionam. Aproveitam, quando existe dinheiro disponível, para reforçar as suas posições que desvalorizaram e para adicionar bons títulos que recuaram muito de preço. É isso que também temos feito e continuamos a não ver alternativas de investimento tão seguras e rentáveis a prazo.
Desta vez não é diferente e o que realmente tem valor muito acima do preço, voltará a refleti-lo.
1. Swaps "bola de neve"
Na semana passada, foi julgado em Londres o caso dos swaps que envolvem o Banco Santander Totta e as empresas de transportes públicos portuguesas. Matt Levine, da agência noticiosa Bloomberg, escreve mais uma vez sobre o assunto:
"Um dos principais objectivos de um banco de investimento é tirar o risco financeiro das mãos dos clientes. Um determinado cliente tem um risco que não o deixa dormir, dirige-se a um banco de investimento e o banco vende-lhe um produto que lhe retira o risco em troca de uma comissão choruda.
Mas não é possível fazer desaparecer este risco. Quando o banco se responsabiliza pelo risco, para onde é que ele vai? Para os credores do banco? Para os depositantes ou contribuintes? Isso não seria o ideal. A melhor resposta, do ponto de vista do banco, é encontrar outro cliente a quem possa passar o risco. Frequentemente, isto encaixa na perfeição, uma vez que o risco de um cliente pode ser uma oportunidade para outro e assim o banco pode intermediar a compra e a venda do risco (o exemplo clássico são as companhias aéreas que fixam os preços do combustível com as empresas petrolíferas). Às vezes, conseguem encontrar-se clientes que gostam de risco e querem mais: hedge funds agressivos ou fundos de pensões com horizontes de investimento mais longos poderão querer ser portadores de riscos de vários tipos e se um banco consegue tirar risco a outros clientes e transferi-lo para estes fundos, pode ganhar dinheiro e ao mesmo tempo fazer do mundo um sítio melhor.
Mas o mundo não é um paraíso e outra coisa que os bancos de investimento fazem é procurar clientes que não querem mais risco financeiro mas que podem ser convencidos a aceitá-lo mediante uma comissão. Às vezes, isto funciona muito bem mas quando não funciona - quando o risco se materializa - é sempre um pouco embaraçoso. Porque motivo, poderemos interrogar-nos, anda um sofisticado banco de investimento a vender risco financeiro a uma empresa de, por exemplo, transportes públicos?
Se o banco está a retirar risco dos clientes, eles pagam-lhe. Na realidade, pagam a mais. O banco cobra mais do que o valor justo do risco porque é assim que os bancos ganham dinheiro. Se são os clientes a tirar risco ao banco, o banco paga-lhes mas abaixo do valor justo."
A Metro do Porto e mais três empresas portuguesas de transporte públicos contrataram junto do banco Santander uns swaps "bola de neve", já conhecidos como o pior trade do mundo. As empresas deixaram de pagar em 2013 e devem já ao banco 1,3 mil milhões de euros.
Apesar deste ser um negócio absolutamente ruinoso, o tribunal decidiu a favor do Santander e de que as empresas devem pagar. No acordão, o negócio e a sua motivação são explicados: estas empresas, com um endividamento para além do razoável, tinham encargos com juros muito elevados que pretendiam reduzir. Entre 2005 e 2007, foram ao mercado financeiro à procura de uma solução que lhes permitisse baixar esse custo. Eis o que acordaram com o Santander:
1. o Santander pagaria às empresas uma taxa variável;
2. as empresas pagariam ao Santander uma taxa fixa;
3. as empresas pagariam também um spread extra se a taxa variável estivesse acima de 6% ou abaixo de 2%;
4. o spread de cada trimestre seria somado ao spread do trimestre anterior: se a taxa variável em determinado trimestre fosse 6,25%, o spread para esse trimestre seria de 0,25%; se no trimestre seguinte fosse de 6,50%, o spread seria 0,75% (0,25+0,50) e assim por diante. Esta é a "bola de neve".
O swap "bola de neve", em circunstâncias normais, seria muito mais barato que um swap de taxa fixa normal e só em circunstâncias pouco comuns é que seria desfavorável para as empresas de transportes. O problema é que as circunstâncias menos comuns têm maior probabilidade de acontecer do que a teoria nos ensina e, neste caso, as consequências são terríveis. Com a crise financeira de 2008, as taxas caíram para menos de 2% e estão negativas há vários meses. A taxa que o Metro do Porto teve que pagar pelos swaps ultrapassou os 40% e as outras empresas estão com o mesmo problema.
Há muitas questões que se podem colocar neste negócio, desde logo: Os responsáveis nas empresas públicas foram assim tão incompetentes ou jogadores? O Santander agiu de má fé e enganou todos estes técnicos que trabalhavam ( e às tantas ainda trabalham) nestas empresas? Segundo o juíz do caso, Sir William Blair, existem algumas indicações que o Santander agiu talvez com um pouco de má fé:
"É necessário que se diga desde já que existem documentos que, embora não sejam típicos de toda a documentação, não são nada favoráveis à imagem do banco. Uma apresentação de 2005 da Global Treasury (portanto não tendo origem em Portugal) com o objectivo de aumentar a venda de "produtos exóticos" encoraja os funcionários do banco a "Pensar em grande: não se critiquem. recompensem a agressividade".
Apesar do exposto, o juíz concluiu que o banco não cometeu ilegalidade nenhuma e que as empresas portuguesas tinham obrigação de saber no que se estavam a meter.
2. Produtos Estruturados
Em fevereiro de 2010, um estudo da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) reportado pelo Expresso alertava os investidores para o facto dos produtos estruturados oferecerem menos que os depósitos tradicionais. Estes produtos, com exposição à evolução de sectores no mercado de ações, matérias-primas, taxas de juro e outros ativos subjacentes, criam a ilusão ao investidor de poder beneficiar do potencial de valorização destas ações ou produtos com risco muito baixo. A sua remuneração depende da evolução de cenários futuros, podendo garantir a totalidade do capital aplicado ou não. Estes cenários possíveis são construídos atribuindo uma probabilidade muito baixa a eventos desfavoráveis para os investidores. Nesse estudo, a CMVM diz: "a distribuição de pagamentos entre diferentes estados de natureza (cenários) é difícil de apreender pelos investidores, mesmo os mais sofisticados ou com maiores conhecimentos em matéria de natureza financeira".
Estes produtos são publicitados com rentabilidades potenciais elevadas, embora exista "uma forte probabilidade de ocorrência do cenário de não ser pago qualquer retorno ou apenas o retorno mínimo consagrado na ficha técnica do produto", como referece o estudo da CMVM.
Para a estruturação destes produtos, são utilizados produtos derivados muito complexos, o que torna quase impossível ao investidor saber do que se trata e permite à instituição, que o estrutura e vende, ganhar comissões muito elevadas sobre o dinheiro dos seus clientes.
O que isto realmente demonstra é uma grande capacidade comercial destes bancos para conseguirem não perder clientes ou encontrar sempre outros dispostos a perder dinheiro. Das duas uma, ou estas instituições não estão interessadas em manter clientes para o longo prazo ou então julgam-nos incapazes para avaliar se ganharam ou perderam. Como se faz este trabalho, ano após ano, sem deixar de ter com quem fazer negócio?
Estes são dois casos em que a complexidade e a falta de transparência de quem vende estes produtos, devem servir de aviso aos investidores. As instituições financeiras procurarão sempre maximizar os seus retornos à custa dos seus clientes e, muitas vezes, fazem-no sem escrúpulos.
3. Taxas de juro negativas
Vivemos num momento estranho da história com taxas de juro negativas e ninguém consegue dizer quando tempo se manterão. Ao emprestar dinheiro a um excelente pagador poderá ter que o fazer a taxas negativas, ou seja, pagar para emprestar o seu dinheiro. As obrigações de vários governos europeus estão negativas: no caso suíço até aos 10 anos, no alemão até aos 7, no francês e holandês até 5 anos. Cerca de 7 biliões de dólares (biliões europeus) estão a transaccionar com yields negativas. Do mesmo modo, obrigações das melhores empresas europeias têm yields negativas. Os investidores parecem preferir perder dinheiro a tê-lo parado ou alocá-lo a outras classes de activos.
Quem é que comete esta irracionalidade? Na maioria dos casos são os gestores institucionais, os Fundos de Investimento, os Fundos de Pensões e os Planos de Poupança Reforna, que são obrigados, pela própria concepção legal destes produtos, a ter os valores investidos nos chamados "ativos sem risco". São também os investidores particulares que, ao subscreverem fundos de investimento de obrigações, estão a pagar comissões de gestão elevadas para que lhes façam este "magnífico" trabalho e paguem aos emitentes para serem donos desta dívida. Este é um exemplo de como uma falha institucional dos limites mínimos impostos para estes produtos e investidores institucionais os "obrigam" a manter-se investidos em ativos, que, nesta conjuntura extraordinária, não fazem qualquer sentido.
Estas conjunturas são claramente propícias para que os investidores relaxem os critérios a emprestar o seu dinheiro e que o façam a troco de uma taxa um pouco melhor. Acontece ainda, que, não raras vezes, nestes chamados investimentos de risco baixo, encontram-se obrigações da Argentina, e de outras empresas falidas ou em processo de reestruturação das suas imensas dívidas que obrigarão os investidores a perder parte significativa dos valores investidos. Classificar estas obrigações como ativos com baixo risco é ser incompetente, estar distraído ou actuar com má fé.
Em resumo, o atual ambiente de taxas de juro e política monetária cria as condições para que a indústria financeira crie e proponha produtos que não servem os interesses dos investidores.
Escolha uma filosofia simples de valor e mantenha-se fiel a ela nos bons e nos maus momentos.
Investir numa carteira diversificada de acções de excelentes empresas mundiais compradas a desconto significativo do seu real valor - com margem de segurança - é a melhor forma de proteger e valorizar o património financeiro.
O mundo do investimento está virado do avesso. Hoje, ao emprestar dinheiro a um bom pagador, poderá ter que o fazer a taxas negativas, ou seja, terá que pagar para emprestar o seu dinheiro. As obrigações dos governos suíço, alemão, francês e holandês estão negativas até aos 6 a 8 anos e as obrigações das melhores empresas europeias também têm yields negativos. Os investidores parecem preferir perder dinheiro a tê-lo parado ou alocá-lo a outras classes de activos.
O que fizeram ao valor temporal do dinheiro? Perante esta realidade, quais são as melhores alternativas que garantam segurança do capital e retornos satisfatórios?
O que realmente funciona no investimento e tem produzido retornos consistentes é a filosofia de Investimento em Valor. Nas últimas seis décadas, Warren Buffett e Charlie Munger, entre outros excelentes investidores, são a prova do seu enorme sucesso. O investimento em acções de boas empresas mundiais, com balanços sólidos, rentabilidades acima da média, vantagens competitivas duráveis e geridas por gestores capazes e honestos, compradas a desconto do seu valor justo, continua a ser a preferência destes investidores extraordinários.
Numa altura em que o mundo financeiro parece não fazer sentido é ainda mais importante ter uma filosofia de Valor e mantermo-nos fiéis a ela.
Investir em valor é comprar 1 euro por 50 cêntimos, é comprar muito valor com pouco dinheiro. O segredo do investimento em acções pode ser resumido à avaliação profunda dos activos e da sua capacidade de gerar lucros no futuro e à disciplina e paciência para só comprar quando está barato e vender quando o preço justo é atingido.
A generalidade dos investidores tem muita dificuldade em executar uma receita tão simples: comprar quando a maioria está a vender - porque as notícias são más - e vender quando a maioria está a comprar - porque as notícias são boas. Contudo, quase todos fazem o contrário. As instituições financeiras preferem estratégias com mais transações e que lhes permitem ser, não raras vezes, o maior beneficiário da riqueza dos clientes.
Num mundo em que todos sabem o preço de tudo e poucos sabem o verdadeiro valor dos activos, grande parte dos investidores não tem horizonte de investimento nem o temperamento adequado para aplicar esta receita e beneficiar da capitalização dos retornos ao longo do tempo. O investidor individual, que pode e deve ter um horizonte de investimento de décadas, deve expor uma parte significativa do seu património a acções, a classe de ativos que nos últimos 115 anos, melhor remunerou o capital: 9,5% de média anual, apesar de neste período se terem vivido duas guerras mundiais, várias recessões e a grande depressão e a crise financeira de 2008.
Investir numa carteira diversificada de acções de excelentes empresas mundiais compradas a desconto significativo do seu real valor - com margem de segurança - é a melhor forma de proteger e valorizar o património financeiro. "Coleccionar" estes negócios dá-nos o direito aos dividendos - hoje muito superiores às taxas de juro dos depósitos e das obrigações - e aos ganhos de capital a prazo. Estas empresas são verdadeiras máquinas de fazer dinheiro para os seus acionistas.
O segredo do investimento é que não tem segredos: é investir com margem de segurança, comprando a pessimistas e vendendo a otimistas.
O investimento inteligente não é complexo, o que não significa que seja fácil. O que o investidor precisa é da capacidade de avaliar correctamente investimentos devidamente "selecionados".
As melhores empresas são aquelas que conseguem investir largas quantidades de capital com taxas de retorno elevadas, acima da média do sector e do mercado. São estas que nos interessam.
Warren Buffett explica as vantagens competitivas como o instrumento que permite às empresas manterem os concorrentes à margem. Os concorrentes tentarão sempre obter uma parte desses lucros e, na maior parte das vezes, conseguem-no, reduzindo as rentabilidades do negócio. Há, no entanto, empresas que conseguem manter e aumentar as suas vantagens competitivas durante décadas. São as superestrelas, as que produzem sustentadamente uma remuneração acima do seu custo de capital.
Importa determinar o motivo pelo qual a empresa teve sucesso em manter os seus lucros. É fundamental estar numa indústria atraente e beneficiar de uma estratégia que potencie vantagens competitivas.
De uma forma geral, existem cinco formas de uma empresa conseguir uma vantagem competitiva durável:
- Criar uma diferenciação de produto real através de funções, tecnologia ou patentes,
- Criar a percepção de diferenciação do produto através da reputação da marca,
- Cortar custos e oferecer um produto ou serviço similar a um preço mais baixo,
- "Prender" os clientes com custos de mudança elevados e,
- Afastar concorrentes através da criação de barreiras à entrada.
Como podemos avaliar as vantagens competitivas e a sua durabilidade?
- Analisar os lucros históricos e verificar se a empresa tem sido capaz de gerar retornos sólidos nos seus ativos e capitais próprios.
- Se a empresa consegue retornos sólidos e lucros consistentes, o que impede os concorrentes de lhe "roubar" os lucros?
- Quanto tempo durarão estas vantagens competitivas?
- Como competem entre si as empresas desta indústria? Há muitas firmas lucrativas ou apenas se sobrevive?
O investidor deve procurar um conjunto de boas empresas cujos negócios subjacentes tenham fundamentos económicos soberbos, que sejam geridas por gestores capazes e honestos e comprá-las a preços sensatos. Ocasionalmente, estes negócios cotam preços que nos dão margem de segurança para investir. É aí que compramos.
Desta forma, estamos a maximizar algo que conseguimos prever - a performance financeira da empresa - e a minimizar aquilo que não conseguimos adivinhar - o entusiasmo ou pessimismo do mercado.
Lembre-se, uma empresa vale o valor presente de todo o dinheiro que vai ganhar no futuro.
O PIB português é de 179 mil milhões de euros e o espanhol é de 1077 mil milhões, seis vezes maior que o nosso. A Bolsa portuguesa tem uma capitalização de 53 mil milhões e a espanhola de 898 mil milhões, dezassete vezes maior. A diferença poderia ser uma questão de valorização, as acções portuguesas poderiam estar muito mais baratas que as espanholas, mas não é o caso. Quando se comparam métricas como receitas e lucros, percebe-se que a Bolsa portuguesa representa uma fatia muito menor da economia do que nos mercados desenvolvidos, em particular na Europa e nos EUA.
Na última década, a Bolsa portuguesa foi um fracasso. Os accionistas, os verdadeiros donos das empresas, assistiram a uma destruição de valor enorme e a experiência foi terrível: 100 mil euros aplicados no PSI-20 transformaram-se em 74 mil. O mesmo montante aplicado num índice de ações europeias como o MSCI Pan Europe valeria hoje 136 mil; e aplicados em ações dos EUA (no S&P500) seriam 210 mil. De quem foi a culpa? Na verdade, de quase todos: da economia, do sector financeiro, das empresas, dos reguladores, do Estado e, em parte, dos investidores que procuram sempre o lucro fácil.
Na última década, por várias razões, a economia portuguesa deixou de crescer e, pior, entrou numa recessão que pôs tudo em risco. Uma Bolsa é o espelho que reflecte o sector empresarial de uma economia e a sua eficiência. E, nos últimos anos, não reflecte nada de bom. O Estado e as empresas, inebriados pelo dinheiro fácil, a juros baixíssimos, endividaram-se demais. Muitos gestores não tomaram as melhores decisões de alocação de capital e não agiram no melhor interesse dos verdadeiros donos do capital, os accionistas. A PT e o BES, duas das maiores capitalizações, evaporaram-se entre erros de gestão e fraudes contabilísticas. Nestes casos, tudo falhou: corporate governance, os gestores, os reguladores e os accionistas de referência. Sendo estes os casos mais graves, os exemplos de destruição de valor para os accionistas aconteceram em muitas outras empresas.
Por outro lado, tivemos imensas situações em que os minoritários foram o parceiro pobre dos negócios, ficando à mercê dos gestores e dos interesses dos "parceiros maioritários". A Cimpor é um exemplo em que uma pequena fatia de minoritários ficou pendurada numa empresa quase sem float. O resultado é a destruição da cultura de investimento em acções, com investidores desalentados com o massacre a que foram sujeitas as suas poupanças. Não admira que muitos nem queiram ouvir falar em investir em acções. Apesar de a realidade lá fora ser bem diferente, a sua experiência pessoal - as perdas que sentiram e a forma como foram separados do seu dinheiro - não lhes permite beneficiar do investimento naquela que é a classe de activos que, historicamente, melhor remunera o capital.
Nos EUA, desde 2006, aconteceu uma série de desastres: AIG, Lehman, Fannie Mae, Madoff. No entanto, quem investisse 100 mil euros no S&P500 teria agora 210 mil euros. Porquê? Porque, por cada falência, centenas de empresas criaram riqueza e multiplicaram o valor dos accionistas, grandes e pequenos.
A verdadeira função de uma Bolsa de Valores é permitir aos empreendedores o acesso a uma fonte de financiamento e aos investidores, como donos de parte do negócio, participarem no seu sucesso e nos seus lucros. Ou seja, permitir à poupança partilhar das maravilhas do capitalismo.
Segundo o dicionário Webster, "o capitalismo é um sistema económico baseado na propriedade do capital com o investimento a ser determinado por decisão privada e com os preços, a produção e a distribuição de bens e serviços determinados num mercado livre". A isto acrescentaria que o capitalismo deve ser alicerçado na honestidade, decência e confiança. O desafio da Bolsa Portuguesa é recuperar estes valores.
Jason Zweig colaborou com a revista Money, a Time e a CNN. É colunista do Wall Street Journal desde 2008, autor de vários livros, e um acérrimo crítico da "indústria financeira". O seu mais recente livro foi publicado no passado mês com o título "The Devil´s Financial Dictionary".
Zweig, neste livro satírico, avisa que se os investidores querem ser parceiros em vez de alvos, terão que dominar a linguagem que a indústria financeira utiliza para esconder e não revelar informação. Virar as palavras ao contrário e fazê-las significar o oposto não é exclusivo da indústria financeira; esta é a imagem de marca de muitas atividades humanas, personificada pelo Ministério da Verdade no Livro de George Orwell, "1984".
Mas, raramente está tanto em jogo no claro entendimento da linguagem: se formos enganados pela algaraviada da indústria financeira e investirmos no produto errado, o nosso sonho de uma reforma próspera pode ser reduzido a cinzas.
Este livro procura destilar as complexidades, obscuridades e as pomposidades da indústria financeira em "definições" que todos podem compreender. Deixo aqui uma pequena seleção de palavras e expressões a que a indústria financeira atribuiu significados muito peculiares:
Ação, o direito de propriedade de uma fração de um negócio; para muitos "investidores", o direito de jogar um jogo de vídeo. A palavra stock (ação em inglês) tem origem no teutónico stukko que significa tronco - esta antiga metáfora perdeu-se nesta era em que a TV e a internet reduziram a ideia de ação a um símbolo e a uma torrente de cotações num ecrã. O tronco de uma árvore é uma sólida fundação para inúmeros ramos que crescem cada vez mais alto a menos que sejam podados e, nesse caso, têm um novo impulso de crescimento.
Analista, um suposto especialista que, em teoria, estima o valor de uma empresa através da avaliação das suas partes constituintes mas que, na prática, funciona como um vendedor ou membro de uma claque.
Avesso ao Risco, indisponível para correr riscos - para já. Quando o preço dos ativos dobra ou triplica, até o investidor mais avesso ao risco quererá tê-los em carteira. Tal como o historiador económico Charles P. Kindleberger escreveu no seu livro Manias, Panics and Crashes, "Não há nada mais perturbador para o bem estar e bom julgamento de alguém do que ver um vizinho enriquecer".
Comportamento de Rebanho, a tendência dos investidores para ignorar o que está barato e agir como ovelhas, movendo-se em rebanho em vez de pensarem por si próprios. A multidão transmite segurança, por isso os investidores compram ativos, não porque estão subvalorizados mas porque toda a gente os está a comprar; e vendem-nos, não porque se verificou uma alteração nos fundamentos económicos da empresa mas porque todos estão a vender. O comportamento de rebanho é comum nos investidores individuais, nos analistas, nos traders de obrigações soberanas, nos traders de futuros, nos gestores de fundos de ações, nos gestores de hedge funds e nos grandes compradores de ETF's; é comum em todos os setores do mercado de capitais; e em todos os mercados de ações pelo mundo fora.
Compliance, o conjunto de procedimentos através dos quais as instituições financeiras obrigam os seus colaboradores a respeitar a letra da lei e, simultaneamente, os libertam para violar o seu espírito. Os departamentos de compliance das instituições financeiras estão a abarrotar de pessoal. Pelo contrário, os departamentos de consciência, que fazem respeitar o espírito da lei, sofrem de uma perene falta de recursos humanos. Tal como Warren Buffett notou: "Aqueles que seguem a estrada moral, na indústria financeira, encontram muito pouco trânsito".
Confiança, uma qualidade, semelhante à crença religiosa mas baseada em evidências menos fiáveis, que tende a ser elevada quando devia ser baixa e baixa quando devia ser elevada. Períodos de confiança elevada tendem a ser perniciosos; quanto melhor se sentem os investidores hoje, mais se vão lamentar mais tarde. Nessas alturas, poucos conseguem, no entanto, tomar consciência desse facto.
Consultor, na indústria financeira, um especialista que cobra comissões elevadas para aconselhar os clientes a investir em estratégias de investimento que estão na moda e que em breve ficam "ultrapassadas". De forma a gerar mais comissões, o consultor aconselha também os clientes a abandonarem estratégias ultrapassadas que estão prestes a ficar na moda. Os clientes, ano após ano, aceitam de boa vontade estes conselhos uma vez que, desta forma, têm sempre alguém a quem culpar pelos resultados abismais.
Fundo de Investimento, fundo em que os investidores partilham os riscos equitativamente e os gestores partilham as comissões.
Frugalidade, a prática, hoje obsoleta, de gastar menos do aquilo que se ganha; outrora considerada uma virtude, agora é encarada como um perturbador desvio comportamental.
Longo Prazo, na indústria financeira, uma expressão utilizada para descrever um período de tempo que terá início daqui a trinta segundos e terminará, no máximo, dentro de algumas semanas.
Maturidade, aquilo que todas as obrigações têm e que à esmagadora maioria dos traders em obrigações faz falta.
Obrigação, um compromisso contratual em que o devedor se obriga a pagar uma dívida com juros. Os credores que não prestam atenção ao seu investimento arriscam-se, no entanto, a não reaver o seu dinheiro. Bond (obrigação em inglês), um termo de provável origem teutónica, veio a simbolizar um compromisso. Shylock, da peça "O Mercador de Veneza" de Shakespeare, concordou em emprestar a António 3000 ducados por três meses se, nas palavras de Shylock, António fosse ao notário e selasse a sua obrigação. António declarou: "Em dois meses, um mês antes de este empréstimo ser devido - espero ganhar mais de três vezes o valor desta obrigação". Embora António não estivesse a pensar apenas nas recompensas financeiras, a sua declaração torna claro que as obrigações estão, desde há muito, associadas a expectativas pouco realistas.
Paciência, qualidade aparente em formas de vida inferiores como tartarugas e caracóis mas rara entre humanos que investem em ativos financeiros. Cada compra ou venda de um ativo financeiro acarreta custos de transação e, a maioria, impostos. Numerosos estudos comprovam que, quanto mais transações os investidores fazem, menor é o seu retorno. Mas a vontade de enriquecer depressa é tão visceral que apenas os investidores mais disciplinados conseguem cultivar suficiente paciência para atingir os seus objetivos. Os outros conseguirão apenas empobrecer mais depressa. Tal como Ralph Waldo Emerson escreveu no seu ensaio. "Prudência": "Se a colmeia é perturbada por mãos estúpidas e apressadas, em vez de mel, oferece abelhas."
Performance, um espetáculo montado para entreter a audiência e satisfazer os egos dos "artistas". Há muito tempo e, por certo, não por coincidência, a indústria financeira escolheu esta palavra para descrever aquilo que procura para os seus clientes. Infelizmente, os membros da audiência sentir-se-ão entretidos enquanto que os seus portfólios perderão dinheiro. Os egos dos gestores, pelo contrário, não sofrerão qualquer dano.
Preço, um número que frequentemente é uma ilusão e, quase sempre, uma distração. O preço dado a uma ação ou outro ativo financeiro muda com uma velocidade frenética - milhares de vezes ao dia - causando danos intelectuais corrosivos. Frequentemente tem pouco a ver com o valor embora seja mais interessante e mantenha os media financeiros bastante ocupados. O fluxo contínuo e a precisão espúria do preço provoca uma ilusão de certeza.
Produto Estruturado, produtos de investimento especialmente estruturados para serem lucrativos para os emitentes e incompreensíveis para os clientes.
Risco, a probabilidade de um investidor não saber o que está a fazer mesmo que pense que sabe; pré-requisito para perder mais dinheiro num período de tempo mais curto do que alguma vez imaginaria possível. Elroy Dimson, professor de finanças da London Business School, definiu filosoficamente o risco desta forma: "Risco significa que mais coisas podem acontecer do que aquelas que realmente acontecem." No fim de contas, o risco é a diferença entre o que os investidores pensam que sabem e o que acabam por aprender - sobre os seus investimentos, sobre os mercados financeiros e sobre si próprios.
Rumor, na indústria financeira, o equivalente a um facto.
Seguro, um termo utilizado para promover um investimento que está prestes a explodir.
Valor, uma fonte de enorme confusão, tal como quando os jornalistas escrevem: "A ação perdeu 20% do seu valor na sessão de hoje...". Na realidade, não perdeu 20% do seu valor; perdeu sim 20% do seu PREÇO. O valor do negócio subjacente variou, com certeza, muito menos - se é que variou. O preço é medido momento a momento; o valor desenvolve-se ao longo de meses e anos. Tal como Benjamin Graham ensinou Warren Buffett: "Preço é o que paga, valor é o que recebe".
O valor é o que um ativo vale para um comprador sensato com acesso a toda a informação necessária para a avaliação, com base no dinheiro que o ativo gerará ao longo de toda a sua vida. O valor de uma ação depende do potencial de criação de dinheiro do negócio subjacente, que pouco varia de trimestre para trimestre e muito menos de dia para dia.
Valor Intrínseco, o que uma ação vale com base no valor presente de todo o dinheiro que se espera que o negócio subjacente irá gerar no futuro, levando em conta quanto o seu dinheiro renderia nesse período de tempo e o facto incontornável que esses cash flows futuros estão envoltos em incerteza. Uma vez que o valor intrínseco é apenas uma aproximação e deverá ser visto como um intervalo de estimativas, a maioria dos investidores prefere focar-se no preço que, minuto a minuto, é absolutamente preciso - e muitas vezes errado.
Desejo um Próspero Ano Novo e mais Investidores em Valor.
"Os investidores perdem muito mais dinheiro a prepararem-se para correções ou a tentar antecipar correções do que nas correções propriamente ditas."
-- Peter Lynch
Apesar da valorização de alguns dos principais índices, os últimos tempos não têm sido fáceis para os investidores e parece que tudo conspira para que tomem as piores decisões possíveis:
1 - taxas de juro a zero e quase ausência de retorno em investimentos de taxa fixa;
2 - excesso de oferta de produtos financeiros e conselheiros/consultores financeiros - os chamados "ajudantes" - dispostos a abraçar qualquer estratégia "fácil" e com resultados rápidos;
3 - a falta de paciência para aguardar que os investimentos deem frutos;
4 - incertezas, que existem sempre, que por vezes não são ignoradas.
Nos primeiros dias de janeiro, alguns profetas da desgraça previram quedas de mais de 50% nos mercados acionistas. Apesar da maioria das pessoas não saberem quem são, o que fazem ou o que ganham com tais opiniões e sobretudo, se alguma vez estiveram certos ou se ganharam dinheiro para os seus clientes, tomaram decisões de investimento e de vendas de ativos, motivados por estas opiniões.
Para tornar tudo mais difícil, o ano de 2016 está marcado por dois eventos relevantes: em junho, a consulta popular no Reino Unido sobre a permanência ou saída da União Europeia - que resultou no Brexit - e pelas eleições americanas, a realizar já no dia 8 de novembro.
O ser humano está geneticamente programado para prestar mais atenção às más notícias. Os nossos antepassados nas savanas, quando ouviam um restolhar na erva, imaginavam sempre que era um predador e não apenas o vento. Esta era uma arma de sobrevivência: se se assustassem e fosse apenas o vento, não havia problema nenhum. Pelo contrário, se não prestassem a devida atenção e fosse um leão, perderiam a vida. Por isso, são impelidos para a ação, mesmo que posteriormente se verifique que esta era desnecessária.
Este comportamento verifica-se diariamente nos mercados: muitas vezes sem qualquer justificação os investidores entram em pânico e vendem as suas posições. Esta é uma forma de estancar as perdas potenciais dos seus investimentos. Outra abordagem muito comum é a tentativa de adivinhar a melhor altura para sair ou entrar, com base na probabilidade de determinados acontecimentos se verificarem. Preferem tomar decisões sobre acontecimentos que não conseguem controlar do que agir sobre aquilo que conseguem avaliar - a qualidade dos ativos.
Um jogo de soma negativa
Foi o que fizeram no dia em que se conheceram os resultados que confirmaram a saída do Reino Unido da União Europeia. Os mercados abriram com quedas muito elevadas porque os investidores foram surpreendidos pelos resultados. No entanto, a pressão vendedora demorou apenas dois ou três dias e passadas duas semanas os mercados haviam recuperado e alguns ultrapassado os máximos anteriores. Muitos investidores perderam nas comissões de transação e regressaram ao mercado para comprar a preços mais altos.
A história tem mostrado que as eleições não têm um impacto duradouro na performance global dos mercados. A eleição poderá causar alguma volatilidade de curto prazo. No entanto, está comprovado que manter a disciplina é a estratégia de longo prazo mais acertada. Uma análise de como o mercado se comportou durante diferentes governos - democratas e republicanos - desde 1960 revela que, no longo prazo, não existem diferenças significativas.
Que impacto terão as eleições nos seus investimentos?
Nas últimas semanas a preocupação dos investidores tem estado centrada nos resultados das eleições americanas. Motivados pelo efeito de surpresa do referendo no Reino Unido, muitos reduziram a exposição a ações para a eventualidade do mercado cair caso o candidato republicano ganhe as eleições.
E se não ganhar? E se os mercados não caírem? Voltam a entrar a que preços?
A história tem mostrado que as eleições não têm um impacto duradouro na performance global dos mercados. A eleição poderá causar alguma volatilidade de curto prazo. No entanto, está comprovado que manter a disciplina é a estratégia de longo prazo mais acertada.
Uma análise de como o mercado se comportou durante diferentes governos - democratas e republicanos - desde 1960 revela que, no longo prazo, não existem diferenças significativas. Ambos os partidos conseguiram retornos anuais na ordem dos 12%.
Um bom conselho raramente muda
De uma forma geral, os investidores não conseguem seguir uma estratégia de investimento sensata e de longo prazo. São seduzidos pela atração do trading constante, caro e pouco produtivo. A consequência quase inevitável são resultados desapontantes.
Os bons conselhos raramente mudam enquanto que os mercados mudam constantemente. A tentação de agradar é quase irresistível. E embora as pessoas precisem de bons conselhos, o que querem ouvir são conselhos que soem bem, os que confirmam a sua crença ou opinião.
O conselho que soa melhor no curto prazo é sempre o mais perigoso no longo prazo. Todos querem o segredo, a chave, o mapa para o caminho rosado que leva ao El Dorado: o investimento mágico de alto retorno e baixo risco que dobra o dinheiro em muito pouco tempo. Todos querem apanhar os retornos dos produtos da moda e evitam aquilo que caiu em desgraça. O jornalismo financeiro, assim como as instituições financeiras, seguem um princípio básico do marketing: quando os patos grasnam, dêem-lhes de comer.
As emoções que nos condicionam
"Espíritos animais" é a expressão que John Maynard Keynes utilizou no seu livro de 1936, "A Teoria Geral do Emprego, Juro e Dinheiro", para explicar as emoções que influenciam e condicionam os nossos comportamentos e decisões: "A juntar à instabilidade devida à especulação, existe a instabilidade devida à característica da natureza humana que dita que uma grande proporção das nossas atividades depende de impulsos espontâneos e não de expectativas matemáticas ou económicas. Provavelmente, a maioria das nossas decisões apenas pode ser encarada como resultado de espíritos animais, isto é, uma tendência espontânea para a ação ao invés da inação e não como o resultado de uma média ponderada de benefícios quantitativos multiplicada pelas probabilidades quantitativas".
Segundo os neurocientistas, há um conjunto de situações em que somos mais suscetíveis de tomar decisões irracionais e que automaticamente nos conduzem a decisões emotivas: quando o problema é complexo, quando a informação está em permanente mudança e aparece de forma incompleta e confusa, quando os objetivos estão mal definidos, quando o stress é elevado, quando as decisões dependem da interação com terceiros e quando muito está em jogo. As decisões de investimento com que aforradores se deparam encaixam bem nas circunstâncias descritas.
Haverá sempre incertezas políticas, económicas e outras. E depois? A incerteza pode-nos ser favorável.
Haverá sempre opiniões contrárias, por isso é que há milhões de vendedores e compradores a fazer negócio. No entanto, nós sabemos que ter uma mente independente, por vezes contrária, é fundamental. Não nos tornamos investidores em valor para sentir a validação dos outros. Tornamo-nos investidores em valor porque esta é a melhor e talvez a única estrela polar para todos aqueles capazes de se manterem pacientes, orientados para o longo prazo e avessos a riscos desnecessários.
O verdadeiro investidor em valor tem cadeira permanente no mercado financeiro.
Ao longo dos últimos 6 anos o que fizemos foi manter firme a nossa estratégia de criação de valor. Porque razão haveríamos de vender ações em 2011 quando a agência de rating S&P baixou o rating da dívida americana? Os mercados recuaram temporariamente 18 a 20%. Nós aproveitámos para comprar ações americanas que estavam baratas: Walmart, Wells Fargo, Pfizer, General Electric, Microsoft, entre outras.
Porque razão haveríamos de vender no passado dia 24 de agosto de 2015 quando ações como a Johnson & Johnson caíram 20% sem qualquer notícia que tivesse a ver com a empresa? Nós aproveitamos para comprar esta e outras empresas que, passadas algumas horas, tinham recuperado grande parte das perdas.
Porque razão haveríamos de vender ações no dia seguinte ao referendo no Reino Unido que deu a vitória ao Brexit? Nós estivemos a comprar. Alguns dias depois, os mercados estavam acima dos níveis anteriores ao referendo.
Peter Lynch, que geriu o fundo Magellan entre 1977 e 1990, ganhou em média 29,2% ao ano. Numa das suas célebres citações disse:
"Não me recordo de alguma vez ter visto o nome de alguém que prevê o mercado na lista anual das pessoas mais ricas do mundo da Forbes. Se fosse realmente possível prever correções do mercado, acho que alguém já teria feitos milhões com isso".
A reação dos mercados financeiros ao voto britânico foi muito forte. Durante a sessão asiática, a libra caiu mais de 10% face ao dólar cotando mínimos dos últimos 30 anos e a queda face ao yen foi ainda mais acentuada. Os investidores reagem muito mal a surpresas e odeiam a incerteza que o resultado do referendo origina.
Os jornalistas e comentadores de televisão falam como se tivessem a roupa interior a arder e conseguem incutir ainda mais ansiedade e vontade de agir nos investidores, profissionais ou não. A surpresa faz com que sintamos mais urgência em agir do que o habitual mas isso é uma ilusão.
As questões e opiniões sobre que impacto económico o Brexit terá para os investidores e para o crescimento económico, que consequências políticas emergirão e como afetará a circulação de pessoas e bens são escalpelizadas com todo o tipo de cenários. É muito provável que o que na realidade vai acontecer seja significativamente diferente. Contudo, a especulação tomou conta do discurso e da ação nos mercados financeiros.
Na sexta-feira, dia 24, a revista inglesa The Economist escrevia o seguinte: "Os investidores iniciaram a fuga para a segurança das obrigações do tesouro americano. Com a abertura dos mercados na Europa, os principais índices seguiram a tendência asiática e caíram cerca de 10%. Mas as quedas nos mercados asiáticos são também, em larga parte, um julgamento preliminar do impacto do referendo na economia mundial. Claro que, muitas vezes, os mercados reagem excessivamente. A Grã-Bretanha representa apenas 3,9% da economia mundial; não é suficientemente poderosa para influenciar o clima económico mundial da mesma forma que os Estados Unidos ou a China. No entanto, a economia americana tem estado letárgica e a capacidade da China de escapar da sombra da sua gigantesca dívida tem causado grandes preocupações. A economia britânica tem grande influência na Europa, onde é uma consumidora fiável num continente que privilegia mais a poupança. Qualquer disrupção ao crescimento europeu, nesta altura, não é particularmente bem vinda. O Banco de Inglaterra declarou hoje que, "Estamos bem preparados para isto". Poderá cortar as taxas para 0,5%. Poderá até reativar o programa de recompra de ativos, comprando obrigações com dinheiro acabado de imprimir. No entanto, uma recessão em Inglaterra é altamente provável. O investimento das empresas será atingido pela incerteza quanto ao acesso tanto ao mercado único como a outros locais onde a Grã-Bretanha aproveitou a boleia dos acordos comerciais negociados pela União Europeia. Em tempos de agitação, as empresas adiam todas as despesas. O mesmo é verdade para os consumidores."
De tantas opiniões ouvidas nos últimos dias, o que seguramente se pode concluir é que ninguém sabe exatamente o que se vai passar. Sabe-se contudo, que as diversas autoridades monetárias estão preparadas para agir, mantendo o dinheiro muito barato e dando liquidez ao sistema financeiro para que as grandes variações cambiais e nos preços de matérias primas e ativos financeiros, possam acontecer sem que os choques causem maiores danos ou pânico. Nas grandes crises, o maior problema é a falta de liquidez, as "portas" estreitas por onde o rebanho quer sair ou entrar ao mesmo tempo.
O preço a que se faz negócio nessas situações é sempre muito desfavorável: os investidores pagam caro o otimismo e pagam barato o valor que o pessimismo gera.
Jason Zweig, colunista do Wall Street Journal e defensor do Investimento em Valor, escreve "Quanto mais doi, mais pode ganhar: Investir depois do Brexit". Realça a queda tão abrupta do ETF Vanguard FTSE Europe, que num só dia caiu 11,3%, a maior variação desde a sua criação em junho de 1990 e ultrapassando a queda de outubro de 2008 em plena crise financeira.
Zweig, admirador do trabalho do Professor de Cambridge Elroy Dimson, cita-o no artigo: "a surpreendente volatilidade que todos sentimos na sextafeira passada seria quase impercetível se se tivesse manifestado num horizonte temporal mais alargado". O Professor Dimson é uma autoridade mundial no estudo dos retornos de investimento de longo prazo nas principais classes de ativos e um dos autores do livro "O Triunfo dos Otimistas - 101 anos de Retornos de Investimentos Globais". Neste livro, concluem que os otimistas triunfaram e os otimistas foram aqueles que investiram em ações, a classe que nesse período melhores retornos proporcionou a nível mundial.
O Professor Dimson diz ainda, "para os que estão dispostos a ser investidores ativos e têm o horizonte de tempo para uma abordagem de longo prazo, tempos como este apresentam uma oportunidade"
Certamente que os investidores têm muitas questões que gostariam de ver respondidas: quando é que vamos ter o retorno? Onde investir? O que devo verdadeiramente recear nos investimentos que tenho em carteira? Quem devo ouvir?
1. Continua o assalto à poupança.
Com as taxas perto de zero ou negativas em muitas economias desenvolvidas, com a dívida pública alemã a cotar um rendimento negativo (yield) mesmo para maturidade a 10 anos, os investidores e aforradores que foram disciplinados e que pouparam, veem agora ser "transferida" parte da sua riqueza (o rendimento justo pelas suas poupanças) para quem se endividou demais, gastou o seu e o que lhe foi emprestado.
Quem investiu em em dívida alemã no início dos anos 80, teve rendimentos perto de 10% ao ano. Este foi o cenário um pouco por todo o mundo porque as taxas caíram de 15 ou 16% para quase zero. Ao longo destes 35 anos, os rendimentos foram caindo para mínimos de -0,122% às 16h10 de dia 29 de junho. Ou seja, segundo a opinião de Henrik Bohme, jornalista da Deutsche Walle (agência noticiosa que faz parte de um canal estatal) que escreve "Opinião: A maior bolha de todos os tempos", a propósito do investimento em obrigações. O jornalista diz mesmo "a Alemanha entra para o clube dos países em que se recompensa quem contrai dívidas. A partir do momento em que o BCE disse que "fará o que for necessário" para salvar o euro, iniciou-se a maior desapropriação dos aforradores em tempos recentes. Ou seja, quem investe neste e noutros títulos de dívida, com yields negativos, está no momento zero a entrar num investimento que dá prejuízo. Também já ouvimos recentemente que, para conservar dinheiro, os investidores terão que aceitar yields negativas. Mas o que é isto? A yield negativa não significa que se vai perder dinheiro nesse investimento? Então o que leva o investidor a fazer tal disparate? Porque não sabe o que está a fazer? Porque confiou a um consultor ou gestor de dinheiro o seu património? Porque tem medo e estes são os únicos investimentos que julga seguros? Porque tem medo de ter dinheiro parado (depósitos à ordem ou a prazo) exposto ao balanço dos bancos e ser chamado mais tarde a assumir perdas da instituição financeira?
2. A grande oportunidade.
Hoje os investidores têm neste contexto tão difícil uma grande oportunidade para traçar uma estratégia a prazo que preserve o capital e permita um retorno satisfatório, alocando gradualmente mais capital a ações de empresas sólidas que continuarão a criar riqueza e a produzir lucros.
Princípios fundamentais do investimento:
1. Não precisamos de ser especialistas para conseguir retornos satisfatórios no investimento. Devemos reconhecer as nossas limitações e seguir um caminho que garanta que as coisas corram razoavelmente bem.
2. Concentre-se na produtividade futura do ativo em consideração. Se não sentir conforto ao fazer uma estimativa "por alto" dos rendimentos futuros do ativo, esqueça-o. É fundamental compreendermos as ações que levamos a cabo.
3. Se, pelo contrário, nos concentrarmos num possível futuro aumento de preço do ativo que estamos a pensar adquirir, estamos a especular. Não conhecemos especuladores bem sucedidos. O facto de um ativo ter aumentado de preço no passado recente nunca é motivo para o comprar.
4. Pense apenas no que os investimentos que faz vão produzir, na sua qualidade e rendimento associado. Não se preocupe com as variações diárias. Mantenha-se firme na estratégia de valor. 5. Formar opiniões macroeconómicas ou prestar atenção às opiniões e previsões macroeconómicas de outros é uma perda de tempo. Na realidade, é perigoso porque pode baralhar a nossa perceção dos factos que são realmente importantes.
Procure prestar atenção aos melhores investidores do mundo, os que ganharam ao longo de décadas excelentes retornos para os acionistas e para os Clientes.
3. Se tivéssemos um canal de televisão, na sexta-feira passada poderíamos abrir desta forma o serviço de notícias:
Bom dia Sr. Telespectador, temos excelentes notícias para si. Se tem um horizonte de investimento de 4, 5 ou mais anos, disponibilidade para investir e quer garantir o seu poder de compra no futuro, aproveite este desconto: os mercados financeiros estão a cair e algumas das ações que já estavam baratas, estão ainda mais baratas. Desta vez não é o downgrade da dívida americana, a crise de dívida grega, os possíveis conflitos entre a Rússia e a Ucrânia, ou a queda dos índices de ações da china. Desta vez, para surpresa geral, o Reino Unido votou pela saída da União Europeia.
Mantenha-se sintonizado connosco, procuraremos ao longo do dia apresentar-lhe os saldos nos vários mercados, de onde teremos notícias dos nossos enviados especiais (investidores com histórias de décadas a criar valor).
Não sabemos o que mercado fará amanhã, daqui a um mês ou daqui a um ano. Por isso prevenimo-nos, avaliamos ativos de grande qualidade e temos sempre a nossa watch list recheada de ativos de grande qualidade para que, nestas situações, possamos transmitir-lhes a informação que precisa para tomar decisões reflectidas, com segurança e consistentes com uma estratégia de valor.
Note bem que não estamos a dizer-lhe que já caiu tudo e que a partir daqui subirá. E agora, já de seguida, a previsão metereológica, essa sim com previsões muito mais certeiras do que as dos analistas dos mercados financeiros e de grande parte dos comentadores dos principais canais de notícias financeiras. A capacidade para aguentar o choque da surpresa é o que separa os grandes investidores de todos os outros.
Todos sabemos que os políticos, gestores de dinheiro, empresários e gestores de curto prazo procuram vida fácil, e nos últimos dias temos visto que o "Brexit" vai ter as costas largas e servir de desculpa para tudo.
O Reino Unido representa 3,9% da economia mundial, é a quinta maior potência. A sua moeda, a libra, tem nesta altura um peso de 4,9% nas reservas mundiais de moeda. Apesar de não ter o mesmo impacto na economia mundial que têm os EUA ou a China, a saída da União Europeia terá certamente impacto na economia mundial. O verdadeiro impacto económico, político e social irá saber-se a prazo. Para já, a especulação assumiu o comando nos mercados financeiros e na retórica dos políticos.
Hoje, 30 de junho, os mercados já recuperaram grande parte das quedas verificadas nos dias 24 e 27. No entanto, os mercados cambiais continuam muito perturbados com grandes quedas da libra face ao dólar, ao iene e ao euro. A organização mundial de comércio (WTO) veio alertar para o aumento do protecionismo no G20 e para os desafios que coloca ao investimento global. A livre circulação de pessoas e bens será afetada e terá custos para os negócios. Muitas decisões de alocação de capital nas empresas serão adiadas.
Os mercados odeiam a incerteza. Os bancos centrais estão em alerta para "assistir" os mercados e assegurar a liquidez do sistema bancário. O Banco de Inglaterra está disposto a imprimir dinheiro e a baixar as taxas de juro. A Reserva Federal dos EUA adiará a subida de taxas de juro e o BCE está disponível para aumentar o programa de recompra de dívida e injetar mais liquidez nos mercados financeiros.
Este é um dos primeiros efeitos do 'Brexit': vamos continuar a seguir políticas que não põem um custo no valor do dinheiro e que só vêm agravar a irracionalidade nos mercados obrigacionistas. Esta bolha também rebentará um dia. Além das obrigações de vários governos europeus, onde se destaca a Alemanha com juros negativos até aos 10 anos, as obrigações das empresas europeias com melhores níveis de 'rating' cotam com taxas de rendimento negativas até 3, 4 e 5 anos. Quando não se recebe juros por um investimento a 10 anos, não é fácil de perceber que algo está tremendamente errado nesta classe de ativos? Continuamos a assistir ao maior "assalto" à poupança de que há memória e à recompensa de quem contrai dívidas e é indisciplinado.
Ou seja, com esta incerteza quanto ao futuro, a fuga dos investidores para as obrigações e a disposição dos bancos centrais em acomodar os mercados, acentuou-se ainda mais a discrepância que se tem vindo a observar na última década: o dividend yield do MSCI Pan Europe ronda os 4% enquanto os títulos a 10 anos do governo alemão conferem uma ligeira perda aos seus detentores até à maturidade. O diferencial entre os dois é o maior do histórico do índice e ultrapassou agora o valor registado durante a crise financeira de 2008, em que se verificou o "cruzamento de 'yields'" (o rendimento dos dividendos das ações passou a ser superior ao dos governos de longo prazo). Mas os valores atuais são de tal forma extremos que muito dificilmente as ações não baterão as obrigações na próxima década.
Nos próximos tempos é de esperar uma quantidade anormal de ruído. Vai-se ouvir de tudo um pouco: negociações de saída, cenários de recessão, empresas a sair do Reino Unido, segundo referendo, países que querem seguir o Reino Unido. Os analistas vão continuar a falhar nas suas previsões. Para enfrentar esta incerteza vai ser fundamental manter um passo firme e uma estratégia consistente de valor nas decisões de investimento. Estamos convictos que estas perturbações vão continuar a gerar oportunidades para comprar boas empresas a grandes descontos do seu valor intrínseco. Para nós, isto não muda nada. É preciso manter o rigor na avaliação, a disciplina no desconto a que queremos comprar face ao valor e a paciência para que o investimento mostre todo o seu potencial de criar riqueza.
Entretanto, todos sabemos que os políticos, os gestores de dinheiro e os empresários e gestores de curto prazo procuram vida fácil, e nos últimos dias temos visto que o 'Brexit' vai ter as costas largas e servir de desculpa para tudo: para que políticos populistas e sem escrúpulos se demitam de governar com rigor, para que gestores de dinheiro sem dever de fidúcia e horizonte de investimento não assumam as suas responsabilidades e façam o seu trabalho no melhor interesse de todas as partes. Ao invés de alicerçarem as relações com aqueles que representam em honestidade e confiança, transformam-se em ilusionistas e vendilhões.
A mediocridade será assegurada. A culpa vai ser do "Brexit".
Há uns anos, John Kay, reputado economista escocês e colunista do Financial Times, relatava num artigo de opinião a parábola do Touro, que transcrevo abaixo:
"Em 1906, o grande estatístico Francis Galton assistiu, numa feira rural, a um concurso onde se tentava adivinhar o peso de um touro. Participaram oito centenas de pessoas. Galton, como estatístico que era, fez testes estatísticos sobre os números. Descobriu que a estimativa média era extremamente próxima do peso real do touro. Esta história foi contada por James Surowiecki, no livro "The Wisdom of Crowds".
Poucas pessoas sabem o que se passou de seguida. Alguns anos mais tarde, a balança do concurso parecia estar a ficar cada vez menos fiável. A reparação seria muito dispendiosa; no entanto, o organizador da feira teve uma idéia brilhante. Uma vez que os concorrentes eram tão bons na estimativa do peso do touro, era desnecessário reparar a balança. O organizador simplesmente recolheria as estimativas de todos os concorrentes e calcularia a média.
Da mesma forma, a psicologia do investimento em rebanho movimenta-se num padrão regular, tal como um pêndulo. Do optimismo ao pessimismo; da credulidade para o cepticismo; do medo de perder oportunidades ao medo de perder dinheiro; da vontade de comprar à urgência em vender.
Surgiu, no entanto, um novo problema. Uma vez que estes concursos eram cada vez mais populares, alguns participantes tentavam fazer batota, ao ponto de procurarem conseguir informações privilegiadas do agricultor que tinha criado o touro. Temia-se que, se algumas pessoas tivessem essa vantagem, as outras se recusariam a participar nos concurso de adivinhação do peso. Com apenas alguns participantes, não se poderia confiar na sabedoria da multidão. O processo de descoberta do peso poderia ficar comprometido.
Decidiu-se então introduzir regras rigorosas. O agricultor foi convidado a preparar boletins trimestrais sobre o desenvolvimento do seu touro. Estes boletins eram publicados nos portões do mercado para que todos pudessem ler. Se o agricultor partilhasse com amigos qualquer outra informação relevante sobre o animal, esta deveria ser também publicada nos portões do mercado.
Qualquer pessoa que participasse no concurso com conhecimento, sobre o touro, que não estava disponível para todos, seria expulso do mercado. Desta forma, seria mantida a integridade do processo de adivinhação do peso.
O conteúdo destes anúncios regulatórios era escrutinado por analistas profissionais que aconselhavam os seus clientes sobre as suas implicações.
Pagavam almoços e jantares aos agricultores; mas, a partir do momento em que os agricultores foram obrigados a ter cuidado com as informações que divulgavam, essas refeições tornaram-se menos frutíferas.
Alguns analistas mais inteligentes perceberam que a informação sobre a nutrição e a saúde do touro não era assim tão útil. Uma vez que já não se pesava o touro, a chave para o sucesso não era adivinhar corretamente o seu peso, mas sim adivinhar corretamente o que as outras pessoas iriam adivinhar. Ou o que os outros imaginariam que os outros iriam adivinhar. E assim por diante.
Algumas pessoas, como o velho agricultor Buffett, tentaram chamar a atenção para o fato de que os resultados deste processo estarem cada vez mais divorciados da realidade da criação de touros. Foi completamente ignorado. A verdade é que os animais do agricultor Buffett pareciam saudáveis e bem alimentados e a sua situação financeira era cada vez mais próspera; mas Buffett era um simples camponês que não compreendia como os mercados funcionavam.
Foram criados organismos internacionais para definir as regras de avaliação do peso do touro. Havia dois padrões concorrentes - Os Princípios de Pesagem do Touro Geralmente Aceites e os Padrões Internacionais de Pesagem do Touro. Ambos concordam, no entanto, com um princípio fundamental, consequência da necessidade de eliminar o papel da subjetividade individual. O peso do touro foi definido oficialmente como a média de todas as estimativas.
Por vezes, havia poucas ou mesmo nenhumas estimativas do peso do touro. Mas rapidamente se resolveu esse problema. Matemáticos da Universidade de Chicago desenvolveram modelos a partir dos quais era possível calcular a média das estimativas, se essas estimativas tivessem sido levadas a cabo. Deixou de ser necessário qualquer conhecimento de pecuária, apenas era preciso um computador potente.
Por esta altura, havia já uma enorme indústria de adivinhadores de peso profissionais, organizadores de concursos de adivinhação de peso e consultores que ajudavam, a troco de uma comissão, as pessoas a refinar as suas estimativas. Algumas pessoas sugeriram que seria mais barato reparar a balança. Foram, no entanto, ridicularizadas. Porque motivo se regressaria a um tempo em que se dependia apenas de uma pessoa quando podemos beneficiar da sabedoria agregada de tantas pessoas inteligentes? Entretanto, o touro morreu. No meio de toda esta atividade, ninguém se lembrou de o alimentar".
A importância da balança
John Kay ilustra, com a parábola do touro, que há uma complexidade totalmente desnecessária nos mercados financeiros e cujo resultado final para o investidor é praticamente zero ou negativo. Tanta atividade, tanta sofisticação, tantos recursos dispendidos e no final o touro morre?
A melhor fundação para um investimento de sucesso é o valor. A balança permite saber o peso, o que vale e o que se poderá extrair do bem. Temos que ter uma ideia sólida do que vale aquilo que estamos a pensar comprar.
A nossa perspetiva de valor tem que ter base em alicerces fatuais e analíticos sólidos. Só assim, saberemos quando comprar ou vender. Apenas uma forte ideia do valor pode dar-nos a disciplina necessária para realizar lucros num ativo altamente valorizado que todos acham que vai continuar a subir ou para manter em carteira e comprar mais durante uma crise mesmo que os preços caiam todos os dias. Obviamente, para que estes esforços dêem fruto, a nossa estimativa de valor não precisa de ser exata. Deve, no entanto, ser aproximada.
A relação entre preço e valor guarda a chave para o sucesso no investimento. Comprar abaixo do valor é o caminho mais fiável para o lucro. Pagar acima do valor raramente funciona.
No curto prazo, o mercado é uma máquina de votar - reflectindo um 'recenseamento' que requer apenas dinheiro e não inteligência ou estabilidade emocional mas no longo prazo, o mercado é uma máquina de pesar - uma balança.
Para além da Balança
A relação entre preço e valor é influenciada pela psicologia e fatores técnicos, forças que podem dominar os fundamentais no curto prazo. As variações extremas nos preços devidas a estes fatores fornecem oportunidades para grandes lucros ou grandes erros. Para conseguir os primeiros e evitar os últimos, devemos manter-nos fiéis ao conceito de valor e lidar com a psicologia e os fatores técnicos.
As economias e os mercados têm ciclos positivos e negativos. Qualquer que seja a direção que tomam em determinado momento, as pessoas acreditam que essa direção será eterna. Esta forma de pensar é muito perigosa uma vez que envenena os mercados, causa avaliações extremadas e inflaciona bolhas e pânicos aos quais muitos investidores não resistem.
Da mesma forma, a psicologia do investimento em rebanho movimentase num padrão regular, tal como um pêndulo. Do otimismo ao pessimismo; da credulidade para o ceticismo; do medo de perder oportunidades ao medo de perder dinheiro; da vontade de comprar à urgência em vender. O balançar do pêndulo faz com que grande parte das pessoas compre a preços altos e venda a preços baixos. Assim, fazer parte do rebanho é uma receita para o desastre enquanto que remar contra a maré nos extremos do mercado ajuda a evitar perdas e leva eventualmente ao sucesso.
O conforto de ser investidor em valor
Para a maioria dos gestores profissionais de fundos, prisioneiros da medição trimestral da performance - e de todo o sistema evidenciado na parábola do touro - o valor de um ativo é aquilo que alguém está disposto a pagar por ele.
Em contraste, para um investidor em valor e, portanto paciente, um ativo vale o mais alto do seu valor fundamental e do seu valor de mercado: se o preço de mercado é superior ao valor fundamental, o investidor em valor pode vender ao preço de mercado e procurar alternativas. Se o preço de mercado é inferior ao valor fundamental, o investidor em valor pode continuar a manter o ativo em carteira e beneficiar dos retornos dos cash flows estimados.
Como Ben Graham e Warren Buffett dizem há décadas, o volátil Sr. Mercado (que, por vezes, está disposto a comprar coisas por mais do que elas valem ou vendê-las por menos do seu valor) é nosso amigo, não inimigo. O investidor em valor tem uma vantagem no que diz respeito ao valor fundamental porque faz uso da "balança", dispensa as opiniões da maioria, os consultores desnecessários, os analistas adivinhos e atua baseado no valor do bem.
Os preços de mercado representam um concurso de popularidade (por vezes irracional) de curto prazo, semelhante a uma eleição mas, no longo prazo, tendem a ganhar em valor devido aos retornos no capital, crescimento económico e inflação (e para os investidores particulares, nos dividendos recebidos) - semelhante a uma balança. Este ano que agora termina foi um bom exemplo do que aqui escrevo. Faremos o seu balanço no próximo artigo.
Desejo um Bom Ano a todos.
Theresa May, recém-empossada primeira-ministra, declarou esta semana que o 'Brexit' vai ser um êxito. David Cameron, na saída, disse: "Eu fui o futuro outrora".
Passadas algumas semanas sobre o resultado do referendo no Reino Unido, os mercados acionistas recuperaram mas o futuro continua incerto. É natural que a volatilidade dos preços dos ativos se mantenha e que se continue a especular sobre os possíveis acordos que venham a ser negociados e o impacto económico desta separação.
Mesmo sem especular sobre o processo de separação, há uma série de efeitos que já são percetíveis e vão marcar os próximos tempos. Em primeiro lugar, este parece ser mais um capítulo nas guerras cambiais a nível global. Os bancos centrais já competiam para ver quem injetava mais liquidez na economia, levando as taxas de juro para níveis negativos num dos maiores confiscos da poupança da história. Para prevenir um pânico generalizado pós-'Brexit' e com a violenta desvalorização da libra, todos se disponibilizaram para continuar a conduzir políticas monetárias fortemente expansionistas e os EUA adiaram subidas de taxas de juro. Na prática, ninguém quer ver a sua moeda valorizar demasiado e perder competitividade para o vizinho.
Este é um efeito tremendo: os bancos centrais têm carta branca para continuar com políticas que não põem um custo no valor do dinheiro, aumentando a bolha nos ativos de taxa fixa. A emissão de dívida a 30 anos do Governo americano foi feita esta quarta-feira à taxa de 2,17%, o mínimo histórico. Já se paga para emprestar dinheiro ao Governo alemão a 10 anos, ao Governo japonês a 20 anos e ao Governo suíço a 50 anos. Esta distorção tremenda patrocinada pelos bancos centrais está a colocar os investidores numa busca desesperada por rendimento, que muitas vezes ignora os riscos subjacentes. Tendo em conta que as ações europeias estão a pagar um dividendo de cerca de 4%, a diferença entre o rendimento pago pelas ações face às obrigações de dívida pública é a maior desde os anos 50. Na próxima década, muito dificilmente as ações não serão um melhor investimento do que as obrigações de governos.
Poderemos assistir ao ressurgir de um neomercantilismo (bem presente no populismo de Donald Trump), que além das guerras cambiais faça regressar o espectro de tarifas e barreiras ao comércio. A WTO (Organização Mundial do Comércio) tem vindo a alertar para o reaparecimento de medidas protecionistas que prejudicam o crescimento mundial. O efeito de uma nova onda de políticas beggar thy neighbour (empobrecer o vizinho) pode constituir um retrocesso à globalização das últimas décadas e afetar negativamente o crescimento económico mundial.
Os bancos centrais têm carta branca para políticas que não põem um custo no valor do dinheiro, aumentando a bolha nos ativos de taxa fixa.
Por outro lado, a saída britânica vem colocar na ordem do dia duas reformas: a das instituições europeias e a do sistema bancário. Se a reforma da eurocracia de Bruxelas vai depender da vontade política e é necessária para solidificar o projeto europeu, a reforma do sistema bancário é muito mais premente e inevitável. Ao contrário dos EUA, que intervieram decisivamente no pico da crise para estabilizar o sistema financeiro, a resposta europeia foi fragmentada, país a país, e deixou uma série de bancos em situações complicadas. As notícias dos últimos dias, com a suspensão de resgates em fundos imobiliários ingleses e o arrastar de uma solução para a banca italiana, começa a lembrar o início da crise financeira em 2007. E grande parte da banca europeia negoceia em níveis que indicam a necessidade de fortes aumentos de capital, seja em Itália, Alemanha ou Portugal.
Acima de tudo, o 'Brexit' vai ser uma excelente desculpa para gestores e políticos. Já tivemos alguns exemplos nas últimas semanas, mas nos próximos meses (porventura anos) vamos ver uma série de grandes empresas e governos a culpar o processo de secessão britânica pelos resultados falhados. Mas tirando alguns sectores que estão diretamente expostos e são afetados por ele (veja-se o caso do sector imobiliário de Londres), o 'Brexit' não deveria afetar quem tem boas políticas de gestão ou de investimento.
Na conferência de acionistas da Berkshire Hathway, em abril passado, quando questionado sobre a possível saída do Reino Unido, Warren Buffett frisou que achava melhor o Reino Unido manter-se na União Europeia. No entanto, mesmo que soubesse antecipadamente o resultado do referendo, não mudaria absolutamente nada nas suas decisões de investimento.
Um bom investimento não deve depender de cenários macroeconómicos. Deve ser feito pela qualidade do ativo e o desconto a que se consegue comprar face ao seu valor intrínseco. A incerteza pode ser amiga do investidor de longo prazo.
"Sendo os administradores de tais empresas os gestores de dinheiro alheio, mais do que do próprio, não se pode esperar que o vigiem tão ansiosamente como os sócios particulares fazem com o seu. [...] A negligência e profusão, portanto, prevalecem sempre."
-- Adam Smith, A Riqueza das Nações
Nos últimos oito anos, os vinte maiores bancos do mundo pagaram mais de 235 mil milhões de dólares em multas pela violação de regulamentos financeiros. Estas multas afetaram os esforços dos bancos em reforçar os seus capitais, reduziram dividendos e levaram a enormes perdas de riqueza para os seus acionistas e reduziram os montantes disponíveis para emprestar à economia. Quando parece que todos perderam, a questão que se coloca é como foi possível e em benefício de quem?
1 . Wells Fargo - uma entrevista há cerca de um ano o CEO do Wells Fargo, John Stumpf, declarou: "Não quero que ofereçam um produto a alguém que não sabe qual é o seu benefício ou que o cliente não o compreenda, não o queira ou não precise dele".
Nas últimas semanas ficamos a saber que pelo menos 5300 colaboradores do Wells Fargo, o banco mais valioso do mundo em capitalização bolsista, abriram, ao longo de cinco anos, dois milhões de contas falsas em nome de milhares de clientes sem o seu conhecimento e autorização. O Wells Fargo cobrou então pelo menos 1,5 milhões de dólares em comissões nessas contas que foram criadas simplesmente para aumentar a remuneração dos colaboradores cujos programas de incentivo os recompensavam pela abertura do maior número de contas possível. Algumas das contas foram encerradas imediatamente após o colaborador receber a comissão. O objetivo deste esquema era cumprir objetivos de aberturas de contas e não roubar vastas somas de clientes desprevenidos. Entretanto, ao longo de vários anos, o banco foi despedindo estes colaboradores.
O Wells Fargo, que se estima vir a ganhar este ano 20,6 mil milhões de dólares, foi condenado a pagar apenas 185 milhões de dólares de multa uma vez que os benefícios financeiros colhidos pelo banco nestas operações fraudulentas são relativamente pequenos.
O banco, que historicamente manteve sempre uma boa reputação não apenas na capacidade de gerir o risco das suas atividades, mas também na sua atividade de cross-selling, tem como maior acionista a Berkshire Hathaway, empresa de Warren Buffett, que detém cerca de 10% do banco. O Sr. Buffett até ao momento não fez qualquer comentário sobre este assunto. No entanto, a sua exigência no comportamento ético dos gestores é bem conhecida e discutida nas suas cartas anuais e Assembleias acionistas ao longo de décadas. É dele a famosa citação "Perca dinheiro para a empresa e eu serei compreensivo. Perca um pedacinho de reputação e eu serei implacável".
Passados oito anos sobre o início da grande crise financeira de 2008, a legislação que, entretanto, entrou em vigor não conseguiu reduzir os incentivos perversos que encorajam a indústria financeira a arriscar em demasia à custa dos clientes, dos acionistas e dos contribuintes.
Apesar de toda a regulação e de milhares de milhões de dólares gastos em compliance, como foi possível que tantos colaboradores estivessem envolvidos nesta atividade tão flagrantemente corrupta? Pressionados pela gestão para cumprir objetivos muito difíceis de alcançar, estes colaboradores optaram pela via mais fácil e não lucrativa para o banco. No final de contas, os clientes foram prejudicados e o banco nem sequer ganhou dinheiro com isto. O banco é o grande perdedor, com danos reputacionais enormes e a perda de confiança dos reguladores, acionistas e clientes.
2. Deutsche Bank - num artigo da revista The Economist, do passado dia 24 de setembro, "Não vai pagar! Não pode pagar?", revela-se que o Departamento de Justiça (DoJ) americano multou o Deutsche Bank em 14 mil milhões de dólares pela emissão e venda de títulos hipotecários entre 2005 e 2007. O Banco alemão já anunciou que vai recorrer e acredita que poderá negociar um acordo por valores menores. O DoJ já tinha multado a Morgan Stanley em 3,2 mil milhões, o Bank of America em 16,7 e o Citigroup em 7.
Segundo a The Economist, o Deutsche Bank terá muitas dificuldades em pagar esta multa sem recorrer a um enorme aumento de capital. Em 2015 teve prejuízos de 6,8 mil milhões de euros, eliminou o dividendo e avisou os acionistas que não iria ter lucros em 2016. Em 27 de setembro a cotação do DB estava em mínimos de 30 anos e a capitalização bolsista em cerca de 14,5 mil milhões.
A pergunta que se coloca é simples: o que levou os gestores da banca a enveredarem por uma estratégia de venda de produtos estruturados complexos, que a esmagadora maioria dos clientes não entende, que têm um comissionamento tão elevado que, na maior parte das vezes, resultam em perdas para os clientes e, como se pode ver pelos seus resultados, levam a uma perda de valor imensa para os seus acionistas, os verdadeiros donos do capital destes bancos?
3. Na semana passada, num artigo do Financial Times, é apresentado um estudo de Thomas Philippon Professor de Finanças na Universidade de Nova York. Este concluiu, analisando informação desde finais do séc. XIX, que o setor financeiro americano não teve absolutamente nenhuns ganhos de produtividade nos últimos 130 anos. Estas conclusões poderão ser extrapoladas para a maior parte dos países. Todos os outros setores da economia reduziram custos e aproveitaram a revolução informática para aumentar os seus ganhos.
Por que motivo foi o setor financeiro incapaz de oferecer um serviço melhor e mais barato? Porque é que as forças de mercado não conseguiram promover maior eficiência?
As respostas a estas perguntas podem ser encontradas no livro "What they do with your money" ("o que fazem com o seu dinheiro) de Stephen Davis, Jon Lukomnik e David Pitt-Watson. Segundo os autores, a cadeia de intermediários financeiros cresceu de tal forma que os donos do capital perderam de vista as várias camadas de intervenientes no mercado. A opacidade permite que aqueles que têm conhecimentos nesta área utilizem a sua capacidade para se servirem a eles próprios sem passar os benefícios aos clientes finais. Os ganhos de produtividade são distribuídos dentro da indústria sob a forma de comissões e retrocessões. O sistema é institucionalmente corrupto no sentido em que incentivos tóxicos encorajam os agentes financeiros a ignorar as suas obrigações fiduciárias e a servir-se, em benefício próprio, do dinheiro alheio.
Os autores do livro realçam o facto de que as comissões, escondidas e explícitas, cobradas pelas instituições financeiras, reduzirem significativamente os retornos para os fundos de pensões e os investidores ao longo do tempo. Salientam também que muita da actividade financeira se resume ao trading entre instituições financeiras.
4. Passados oito anos sobre o início da grande crise financeira de 2008, a legislação que, entretanto, entrou em vigor não conseguiu reduzir os incentivos perversos que encorajam a indústria financeira a arriscar em demasia à custa dos clientes, dos acionistas e dos contribuintes.
Os incentivos para enganar os mercados são enormes: os bónus são demasiado altos, a ameaça de cadeia para os prevaricadores é mínima e os chefes não são responsabilizados.
Segundo Sheila Bair, ex-presidente da FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation), "se os incentivos estiverem alinhados com os interesses dos clientes e acionistas, o capitalismo será visto como um instrumento de comportamento moral e não uma obstrução. A complexidade da legislação regulatória beneficia as grandes instituições que dispõem de enormes equipas jurídicas que encontram buracos na lei e conseguem acordos com os reguladores que impedem os processos criminais sobre os responsáveis dos bancos".
Sheila Bair conclui: "nestes acordos judiciais em que os bancos pagam multas de milhares de milhões de dólares, o dinheiro sai praticamente todo dos bolsos dos acionistas. O setor financeiro, traders e gestores que assumem grandes riscos na tentativa de conseguir lucros e bónus enormes só compreendem duas coisas: a pobreza ou a cadeia. Um novo código de ética não resolve problema algum".
Apesar da abundância de regulação produzida desde a crise de 2008, continuamos a assistir a uma enorme destruição de riqueza e confiança por parte do sistema financeiro. É, por isso, fundamental fazer um reboot do capitalismo no setor, simplificando a oferta de produtos, aumentando a transparência de custos e comissões, reestruturando a cadeia de incentivos, responsabilizando os gestores e implementando muitos dos princípios perdidos do governo das empresas. Só assim será possível restabelecer o laço fiduciário que deve constituir a essência do serviço prestado por uma instituição financeira.