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Artigo originalmente publicado no blog Steady Compounding em 24 de março de 2022
Três Características das Empresas de Alta Qualidade
No que diz respeito aos investimentos, acredito que os conselhos mais simples são habitualmente os melhores. Ninguém o diz melhor que Terry Smith, da Fundsmith: "Compre boas empresas, não pague demais e não faça mais nada".
Hoje vamo-nos concentrar em "comprar boas empresas". Estes negócios têm as seguintes características: elevados retornos sobre o capital investido (ROIC), largas avenidas de crescimento, e um fosso largo.
Elevados retornos sobre o capital investido
Charlie Munger brincou sobre o negócio de equipamento de construção do seu amigo John Anderson na Assembleia Geral da Berkshire. A empresa obtém um retorno anual de 12% sobre o capital, apresenta lucros todos os anos, mas nunca há dinheiro em caixa. Os lucros são os metais que estão no armazém. Para manter a atividade, o dinheiro é constantemente reinvestido no negócio e não há crescimento nem dinheiro para os acionistas.
Queremos encontrar empresas com as características opostas.
Queremos empresas que consigam crescer com o mínimo de capital incremental. Repare no modelo de negócios da Google - vender publicidade. Qual é o custo de exibir mais publicidade no motor de busca da Google?
Absolutamente nada!
Não custa absolutamente à Google ganhar esse dólar adicional de receitas de publicidade. Essa receita adicional corre diretamente para os bolsos dos acionistas como free cash flow.
Comparemos isto a um construtor civil: para obter receita adicional, o construtor tem que pagar uma tonelada de dinheiro adiantado - terreno, equipamentos, cimento, custos laborais e muito mais. Este enorme desembolso de capital é habitualmente financiado pelos bancos e pode demorar anos até à conclusão do projeto antes que haja qualquer entrada de dinheiro.
Depois do dinheiro entrar, o construtor passa para o projeto seguinte e injetar capital mais uma vez.
Tal como Charlie Munger tão eloquentemente diz: não resta muito para o crescimento ou para os acionistas. O dinheiro está todo parado no armazém.
Estas empresas não são capazes de crescer rapidamente porque são limitadas pelo capital. Por outro lado, uma empresa de capital leve, que gera elevados ROIC, é capaz de escalar rapidamente e aumentar a riqueza dos acionistas.
Largas Avenidas de Crescimento
Prefiro que as empresas não paguem dividendos.
Não é que os dividendos sejam maus. Mas devemos ver isto do ponto de vista da alocação de capital por parte da administração.
A administração dispões de três opções para lidar com o excesso de capital:
- Fusões e aquisições (M&A)
- Pagar dividendos ou recomprar ações
- Reinvestir para o crescimento orgânico
Eu não sou um grande adepto de M&A. Tal como Peter Lynch afirma, a maioria das empresas envolve-se em "diworsification" (diversificação para pior) porque sobrestimam as sinergias que podem surgir do M&A. Tendem a pagar um preço demasiado elevado pelos seus alvos e a empresa adquirida raramente se integra perfeitamente.
Os acionistas acabam muitas vezes a pagar por esses erros.
Quando uma administração devolve capital através de dividendos ou recompra de ações, é um sinal de que não conseguem encontrar melhor uso para o dinheiro. Por outras palavras, a empresa não tem mais espaço para crescer!
Notem, por exemplo, a See's Candies, de Buffett, uma empresa que gera ROIC elevados, mas que não consegue expandir-se para além da costa oeste dos Estados Unidos. O excesso de dinheiro é então retirado da See's para Buffett realocar capital noutro investimento.
Comparem isto com uma empresa que é capaz de gerar ROIC de 20% consistentemente e é capaz de investir esses ganhos em crescimento orgânico. Digamos que retêm 1 000 dólares retidos para reinvestimento; no ano seguinte serão 1 200 dólares e 1 440 no seguinte.
Daqui a 30 anos, os 1 000 dólares iniciais tornam-se 237 376 dólares!
E foi exatamente isto que Warren Buffett fez com a Berkshire Hathaway. Se tivéssemos investido 10 mil dólares em ações da Berkshire Hathaway no final de 1964, teríamos, no final de 2019, mais de 274 milhões de dólares no final de 2019, um retorno anual composto de pouco mais de 20%.
Isto é que é uma máquina de capitalização.
Fosso Largo
Um fosso largo - vantagens competitivas - tem a ver com a capacidade de uma empresa de se defender contra a concorrência. Sem o fosso, as margens de lucro de uma empresa são facilmente corroídas.
Buffett sobre a invenção dos carros: "O que nós realmente deveríamos ter feito em 1905 ou por aí, quando vimos o que ia acontecer com o automóvel é que devíamos ter "shortado" (apostado na queda) cavalos. Havia 20 milhões de cavalos em 1900 e há cerca de 4 milhões agora. Foi fácil descobrir os perdedores, o perdedor é o cavalo. Mas o vencedor é o automóvel em geral. 2000 empresas (fabricantes de automóveis) quase faliram."
A invenção dos carros, aviões ou qualquer uma das próximas grandes tecnologias é emocionante e pode ser verdadeiramente revolucionária. Mas o que é bom para a humanidade pode não ser bom para o seu património.
Quando o setor aéreo foi liberalizado, os preços caíram, pois os consumidores simplesmente reservavam o voo mais barato, ceteris paribus. As margens de lucro das companhias aéreas foram rapidamente erodidas e muitas faliram ou foram adquiridas.
Para que uma empresa seja capaz de gerar, de forma sustentável, ROIC acima da média ou aproveitar a sua avenida de crescimento pista, deve ter uma vantagem competitiva sustentável (ou seja, fosso).
Isto pode surgir na forma de efeito de rede (por exemplo, Facebook), valor da marca (por exemplo, Starbucks), regulação (por exemplo, Philip Morris), fornecedor de baixo custo (por exemplo, Costco) ou uma combinação de muitos (por exemplo, Mastercard).
Conclusão
Ter em carteira algumas destas máquinas de capitalização de alta qualidade pode mudar a nossa vida para melhor. O difícil é ter a convicção de as manter para o longo prazo. Gostaria de concluir com uma citação de Charlie Munger:
"Esta é a terceira vez que Warren e eu vimos as nossas participações na Berkshire Hathaway cair 50%. Acho que é da natureza das participações a longo prazo - são vicissitudes normais, nos mercados - que o investidor de longo prazo veja o valor cotado de suas ações a cair, digamos, 50%. Na verdade, podemos argumentar que, se o investidor não estiver disposto a reagir com equanimidade a uma queda de 50% nos preços de mercado duas ou três vezes por século, então ele não está apto para ser um acionista e merece os resultados medíocres que obtiver em comparação com as pessoas que têm o temperamento adequado e que conseguem ser mais filosóficas relativamente a essas flutuações de mercado."
Publicado originalmente no blog TKR by Sam Ro em 15 de maio de 2022
Uma Verdade sobre os Investimentos
As grandes quedas são desagradáveis, mas fazem parte do investimento.
O mercado acionista continua a cair.
Antes de subir na sexta-feira, o S&P 500 registou um mínimo de fecho nos 3.930,08 pontos, na quinta-feira - uma queda de 18,1% face ao máximo histórico de fecho de 4.796,56 pontos em 3 de janeiro.
Se considerarmos o mercado intradiário, o S&P bateu o mínimo de 3.858,87 na quinta-feira, uma queda de 19,9%, face ao máximo intradiário de 4.818,62, em 4 de janeiro.
Tecnicamente falando, as ações não entram num bear market até que os preços caiam pelo menos 20% dos máximos. E para a maioria dos observadores de mercado, esse cálculo é feito com base nos preços de fecho. Na realidade, tudo isto não passa de semântica sobre números redondos e erros de arredondamento.
Não importa como olhamos para isto, o mercado de ações caiu muito.
Aprender com a história
Poderíamos ficar aqui a discutir todos os motivos por que os mercados de hoje são, ou não, como os bull e bear markets históricos, mas é pouco provável que cheguemos a uma conclusão definitiva. Vamos, no entanto, fazer uma rápida análise do desempenho histórico dos mercados.
Tecnicamente, estamos no terceiro ano de um bull market que começou em 23 de março de 2020.
Ryan Detrick, estratega-chefe de mercado da LPL Financial, analisou a História e concluiu que três dos 11 bull markets desde a Segunda Guerra Mundial terminaram no seu terceiro ano. Portanto, do ponto de vista da duração, não seria muito incomum que as ações atravessassem um bear market antes de março de 2023.
Quanto à duração: historicamente, as correções no mercado de ações (isto é, quando o mercado cai mais de 10%, mas menos de 20%) tiveram uma duração média de 133 dias, desde o máximo ao mínimo, de acordo com dados compilados por Detrick.
A correção atual já dura há 131 dias, o que a coloca já muito perto da duração média.
Uma vez que estamos muito próximos daquilo a que tecnicamente chamamos bear market, talvez seja um bom momento para falar sobre os bear markets da história. Ben Carlson, diretor de gestão de ativos institucionais da Ritholtz Wealth Management, revisitou os dados históricos:
Desde 1950, o bear market médio durou 338 dias (com um intervalo de 33 a 929 dias) e o S&P 500 caiu em média 30,2% (com uma queda máxima de 56,8%).
Vale a pena notar que muitos bear markets - mas não todos - vieram acompanhados de recessões económicas. E, como você seria de esperar, os bear markets com recessões tendem a ser piores.
Carlson concluiu que, desde 1929, os bear markets recessivos duraram em média 390 dias, do topo ao fundo, com as ações a cairem em média 39,4% durante esse período. Em contrapartida, os bear markets não recessivos duraram em média 202 dias, com as ações a cair em média 26,1%.
Os investidores devem contar com isto
Grandes quedas no mercado acionista são normais. Historicamente, o S&P tem assistido a recuos intra-anuais (no mesmo ano civil) médios de 14%. Nalguns anos, os recuos são mais brandos. Noutros, são piores.
Tudo isto tem a ver com duas realidades conflituantes com as quais os investidores devem lidar: no longo prazo, as coisas quase sempre funcionam para melhor, mas no curto prazo, tudo pode correr mal. É isto que é investir no mercado de ações.
Uma nota sobre o momento atual...
Os dados económicos continuam muito fortes e continuam a existir fortes ventos favoráveis que sugerem que o crescimento manter-se-á.
Da mesma forma, as expectativas de crescimento dos lucros têm vindo a melhorar. Se a isto juntarmos os preços em queda, significa que as avaliações estão cada vez mais atrativas.
Na sexta-feira, segundo o FactSet, o PER no S&P 500 era de 16,6 - abaixo da média de 10 anos de 16,9.
Esta combinação de crescimento económico resiliente, crescimento dos lucros e avaliações atraentes faz com que, pelo menos alguns profissionais de Wall Street, aconselhassem os clientes a assumir riscos.
E a história diz que quedas como a que estamos a assistir são frequentemente seguidas por fortes recuperações.
De acordo com dados de Benedek Vörös, diretor de estratégia de investimento em índices do S&P Dow Jones Indices, "uma queda de 15% ou mais [num período de cinco meses] no S&P 500 foi seguido por retornos positivos, nos 12 meses seguintes, em todas, exceto duas ocasiões nos últimos 65 anos, com um ganho médio de perto de 20%".
Obviamente que não existem quaisquer garantias de que estas métricas continuem a desenvolver-se favoravelmente. E é certamente possível que as ações continuem a cair, caindo, independentemente dos dados económicos.
Mas, de uma forma geral, as condições continuam a parecer favoráveis para os investidores com um horizonte temporal de longo prazo.
Artigo publicado originalmente no blog Enterprising Investor em 20 de maio de 2022
Lições sobre Vieses Comportamentais: Os Mercados Acionistas e o Covid-19
Ao longo dos últimos dois anos, os mercados acionistas, dependendo de quem questionamos ou quando, têm sido bastante stressantes ou estimulantes.
No entanto, para os aficionados das finanças comportamentais, os mercados de ações da era COVID-19 ofereceram-nos uma rara oportunidade de testemunhar uma sequência quase interminável de vieses comportamentais em ação.
De facto, podemos traçar linhas retas de vários fenómenos de mercado, que observámos desde março de 2020, para vieses, ou conjuntos de vieses, comportamentais.
Ficar de fora
Um erro que os investidores cometeram no início da pandemia foi não comprar nomes de qualidade após a queda inicial. Com certeza, comprar empresas de cruzeiros e outras empresas que estavam no caminho direto das interrupções relacionada com a pandemia dificilmente seria justificável, mas muitas empresas que sofreram acentuadas correções tinham já um longo histórico de atividade altamente lucrativa em vários ciclos de mercado. Eram máquinas geradoras de dinheiro com balanços fortes, marcas poderosas, bases de clientes amplas e leais, poder de preço significativo, fossos amplos etc. A pandemia não conseguiria afundá-los. A procura iria recuperar.
Então, por que motivo tantos de nós - incluindo eu - hesitaram e perderam a oportunidade de uma vida? Devido a uma miscelânea dos seguintes preconceitos:
Os enormes programas de estímulo monetário e fiscal que tiveram início em março de 2020, combinados com o fenómeno do trabalho remoto (WFH) garantiram que muitas ações de "ficar em casa" se tornariam grandes vencedores da pandemia.
Apesar das subidas brutais, no entanto, muitas delas eram empresas deficitárias com preços absurdos, mesmo em abril de 2020. Ficou também claro que a procura estava a ser exacerbada e que o estupendo crescimento de receitas alcançado durante a pandemia era insustentável a médio e longo prazo.
Então, por que razão tantos de nós entraram no carrossel e recusaram sair?
- Aversão Miópica às Perdas: Focamo-nos em demasia nas perdas de curto prazo e subestimamos o potencial de ganhos do longo prazo. Isto leva-nos a evitar ativos que passaram recentemente por períodos de volatilidade extrema.
- Viés da Extrapolação ou Continuação: este viés também teve o seu papel. Como estávamos na montanha-russa da volatilidade, assumimos que a volta ainda não tinha acabado, assumimos que continuaria para sempre.
- Aversão ao Arrependimento: Este foi outro viés importante. Temíamos as consequências dos erros de omissão, de não comprar a ação certa, com a mesma intensidade que temíamos as consequências de comprar a ação errada. Muitos de nós ficamos nas margens.
Perseguir os vencedores da pandemia
- Viés da Auto-Promoção: Quem merece crédito pelo nosso sucesso? Nós. Se compramos a Peloton e a ação quadruplica em seis meses, foi por causa do nosso génio na escolha de ações, e não por pura sorte ou devido a um mercado alimentado com dinheiro barato.
- Comportamento de Rebanho: Tal como um cardume nada na mesma direção, nós, humanos, imitamos o comportamento dos outros. Na dúvida, seguimos a multidão para formar as nossas opiniões ou tomar decisões rápidas. E isto é especialmente verdadeiro numa bolha ou numa crise.
- Viés da Confirmação: Ao tomar decisões, escolhemos a informação que consumimos e gravitamos em torno dos dados que as validam. Rodeamo-nos assim das pessoas e dos media que nos dizem o que queremos ouvir. De abril a outubro de 2020, os media de informação financeira alardearam os vencedores da pandemia, os Pelotons e os Zooms. Uma famosa newsletter sobre investimentos que eu subscrevo escrevia apenas sobre esse tipo de ações, falando sobre os aspetos positivos e ignorando os negativos.
Ignorar os sinais da inflação
Poucos esperavam que a inflação subisse tanto ou permanecesse elevada tanto tempo.
Subestimámos a magnitude do consumo excessivo de bens de consumo durante os confinamentos e sobrestimamos a solidez e a resiliência das cadeias de fornecimento globais. E os choques do lado da procura e da oferta levaram a inflação a máximos de 40 anos.
Por que motivo não detetámos estes sinais? Porque a inflação mal se mexeu nos últimos 10 anos. A flexibilização quantitativa maciça (Quantitative Easing) no rescaldo da crise financeira global e o nível de desemprego em mínimos históricos tiveram pouco efeito inflacionário. Como a inflação não aumentava há tanto tempo, assumimos que nunca mais aumentaria. Se 4,5 triliões de dólares não o conseguiram, que diferença fariam uns triliões mais?
- Viés da disponibilidade: é assim que os economistas comportamentais chamam a isto. Tudo se resume aos três Rs: Recordamos o que é Recente e consideramos isso Relevante. Os dois primeiros Rs são bons, mas o último é um desastre. Muitos de nós não estávamos vivos durante a última estagflação, quando as taxas de juros atingiram 20%, no início dos anos 1980, e conhecemos apenas a inflação bastante benigna que tem sido a história desde que Paul Volcker domou o dragão em 1982. Portanto, estávamos convencidos que o futuro seria semelhante ao passado recente.
O Efeito Robinhood
Lembram-se da mania das meme stocks, no início de 2021? Quando Jim Cramer e companhia não paravam de falar sobre a GameStop, Hertz e AMC? As ações da AMC saltaram 250% em cinco dias e a GameStop disparou de cerca de 17 dólares para 350, em janeiro de 2021.
O subreddit Wall Street Bets foi o grande responsável. O fórum cresceu 400% em menos de uma semana, de dois milhões de utilizadores para mais de oito milhões. Muitos membros do fórum nunca tinham investido em ações.
Os cheques dos estímulos governamentais engordaram as contas bancárias e essas ações foram levadas a níveis ridículos. Vários hedge funds shortaram alguns dessas ações e muitos investidores de retalho viram nisso uma oportunidade de se vingarem dos tubarões. Alguns desses hedge funds foram apagados no short squeeze que se seguiu. Mas, passados alguns meses, as meme stocks colapsaram, deixando muitos investidores com enormes prejuízos.
- Comportamento de Rebanho: Novamente, estávamos a seguir a multidão. Só que desta vez, potenciado por uma onda de contágio social.
- Viés do Enquadramento: As decisões de investimento não eram tomadas com base em factos, mas na forma como as informações eram apresentadas ou "enquadradas". A narrativa populista do David vs. Golias dos pequenos investidores de retalho a enfrentar os tubarões hedge funds era demasiado atrativa para ser ignorada.
Céticos da vacina
O desenvolvimento de uma vacina demora muito tempo. Dez a 15 anos era o tempo habitual pré-pandemia. Poucos esperavam vacinas contra o COVID-19 menos de um ano após os primeiros confinamentos. Prevíamos que a pandemia durasse muito mais tempo.
Não vimos todo o progresso no terreno. Os cientistas já estudavam os coronavírus há mais de meio século. A tecnologia médica tornou-se tão avançada e os computadores tão poderosos que o genoma do SARS-CoV-2 foi sequenciado à velocidade da luz.
Os voluntários fizeram fila e os ensaios clínicos foram concluídos rapidamente. A Food and Drug Administration (FDA) dos EUA simplificou o seu processo de aprovação. Em vez do processo habitual de 10 meses para um novo medicamento, a FDA colocou as vacinas contra o coronavírus na frente da fila. A vacina da Pfizer foi avaliada e autorizada em apenas 21 dias.
- Viés do Conservadorismo: Preferimos informação pré-existente em detrimento de novos dados. Isso pode tornar-nos lentos na reação a informações novas e críticas.
- Viés do Ancoramento: Ao tomar decisões, muitas vezes concentramos nosso foco em um ponto de referência. Confiamos demais na primeira informação que encontramos. Isso pode consolidar uma narrativa em nossas mentes da qual temos dificuldade em romper, mesmo diante de dados mais novos e melhores. Com as vacinas, nos ancoramos nessa janela estendida de desenvolvimento de vacinas.
Vigiar os nossos próprios vieses
O mercado acionista durante a pandemia foi um verdadeiro festival de vieses. Mas foi também foi uma ótima experiência de laboratório. A grande lição a retirar é que quanto mais conseguirmos eliminar os vieses do nosso processo de investimento, melhores serão os nossos retornos.
A pergunta é: vamos aprender com o mercado acionista da pandemia? Esperemos que sim. Mas não apostemos nisso. As nossas memórias são assustadoramente curtas. É por isso que é útil manter um diário dos erros que cometemos para nos ajudar a recordar as motivações e os processos de pensamento por trás das decisões de investimento que não correram bem. O meu diário pessoal cresceu muito desde março de 2020. No entanto, é um recurso valiosíssimo e vou refletir nestes vieses durante muito tempo.
Ou então, provavelmente, isto é apenas outro viés.
Artigo anteriormente publicado no blog Contrarian Edge, em 19 de maio de 2022
6 motivos para a inflação estar tão elevada
A guerra na Ucrânia provavelmente vai atirar mais gasolina no já violento fogo inflacionário, ameaçando levar a economia global à estagflação. A estagflação é a desaceleração da atividade económica causada pela inflação.
Antes de entrarmos nas entranhas confusas da estagflação, vamos recapitular o que está a acontecer nos Estados Unidos e nas economias globais.
Petróleo
Em primeiro lugar, os preços mais elevados nas matérias-primas. Mesmo antes da pandemia, a oferta de petróleo e gás estava a ser constrangida pela queda nos investimentos, causada pelos baixos preços do petróleo e do gás natural e o facto de os petrocarbonos estarem a cair em desuso devido ao culto ESG. A pandemia provocou uma nova queda de investimentos no setor. A invasão da Ucrânia pela Rússia forçou o mundo a "explusar" o terceiro maior produtor mundial de petroquímicos da modernidade.
O mercado do petróleo tem uma dinâmica ligeiramente diferente do mercado de gás natural. O petróleo é uma matéria-prima fungível e é facilmente transportada por petroleiros e, portanto, pode ser (relativamente) facilmente redirecionada de um cliente para outro. Por exemplo, se a China comprava petróleo da Arábia Saudita e agora compra petróleo da Rússia, o petróleo que a China deixou de comprar da Arábia Saudita pode agora ser comprado pela Alemanha. Dito isto, a Rússia produz crude pesado e os sauditas produzem crude leve, o que significa que as refinarias precisam de ser adaptadas e isso leva meses.
As sanções ao petróleo só terão impacto na economia russa se todos deixarem de comprar petróleo russo. Se todos os países adotarem as sanções, cerca de 8 milhões de barris por dia serão removidos do mercado. Isto é muito petróleo, se considerarmos que o mundo consome cerca de 88 milhões de barris por dia.
Ainda não é totalmente claro se a China e a Índia, o maior e o terceiro maior importador de petróleo, continuarão a comprar quantidades significativas de petróleo da Rússia, uma vez que isso poderá prejudicar as suas relações com o Ocidente. Nenhum país gosta que lhes digam o que fazer pelo Ocidente. Eles têm os seus próprios interesses económicos a considerar, mas o comércio com os EUA e a Europa é significativamente maior do que com a Rússia.
Aparentemente, os dois países estão a distanciar-se lentamente da Rússia. Por exemplo, a rede chinesa de cartões de crédito UnionPay cortou discretamente o seu relacionamento com a Rússia. Embora a Rússia tenha uma rede interna de cartões de crédito chamada Mir, uma vez que a Rússia foi isolada das redes Visa e Mastercard e agora da UnionPay, os russos não têm agora acesso a uma forma fácil de gastar dinheiro quando viajam para o estrangeiro.
Esta guerra tem sido uma publicidade horrível para as armas russas, e a Índia poderá, muito provavelmente, decidir mudar para armas ocidentais, o que a aproximaria do Ocidente.
No curto prazo, o fornecimento de petróleo da Rússia para o mercado mundial provavelmente diminuirá; é difícil dizer quanto. A procura por petróleo russo caiu claramente, já que o preço (Urais) caiu 30%, enquanto que os preços globais do petróleo estão a atingir novos máximos.
No longo prazo, as perspetivas para o petróleo da Rússia parecem ainda pior. Havia uma boa razão pela qual as empresas ocidentais participavam nos projetos petrolíferos russos. Não era o amor pelo Ocidente que motivava a Rússia a partilhar as receitas do petróleo com a BP e a Exxon. As empresas ocidentais traziam conhecimentos técnicos essenciais às exigentes explorações russas de petróleo e gás natural. Com o Ocidente a abandonar a Rússia, a produção de petróleo e gás a longo prazo provavelmente diminuirá, mesmo que a China e a Índia continuem a comprar petróleo e gás russos.
Gás
Chamem-me Sr. Óbvio, mas vou dizê-lo na mesma: o gás natural é um gás e o petróleo é um líquido. O transporte de gases é muito mais complicado do que o transporte de líquidos. O gás natural pode ser transportado de duas formas: através de gasodutos (a forma mais barata e eficiente, mas que leva anos a construir) e por navios de LNG. LNG significa liquified natural gas (gás natural liquefeito) - o gás é arrefecido até a -160 graus centígrados e transformado em líquido. A Europa Ocidental, especialmente a Alemanha, depende fortemente do gás russo, que hoje é transportado para a Europa através de gasodutos.
Nota de rodapé: No futuro, quando colocarem o vosso sustento nas mãos de políticos bem-intencionados, lembrem-se de que os políticos alemães, no seu fervor de se tornarem verdes, abandonaram a energia nuclear, que produz zero CO2, mudou para energia eólica e solar "verdes" intermitentes (e recorreu ao carvão) e atou o seu futuro a um ditador russo que anda a cavalo de tronco nu.
Alguns países europeus mais pequenos estão já a abandonar o gás russo. A Alemanha e a Itália, os maiores consumidores de gás russo, prometem que conseguem desvincular-se do gás russo em menos de dois anos. Esta tendência vai continuar; simplesmente não vai acontecer do dia para a noite (ou em dois anos). Chamem-me cético, mas acredito que vai levar muito tempo até que a Europa abandone completamente o gás natural russo, uma vez que a construção de terminais de LNG leva anos, assim como aumentar a produção de gás natural.
Os preços do petróleo e gás natural provavelmente manter-se-ão em níveis elevados ou até poderão subir ainda mais nos próximos anos, e a produção de gás natural e petróleo dos EUA provavelmente terá que aumentar substancialmente.
Comida
A segunda nova fonte de inflação são os alimentos. É uma preocupação significativa para nós. A Rússia e a Ucrânia produzem cerca de 15% do trigo mundial. Representam cerca de um terço das exportações globais de trigo (ou cerca de 7% do consumo global de trigo). A Rússia proibiu as exportações de trigo. A temporada de plantio na Ucrânia provavelmente foi perturbada pela guerra. A oferta global de trigo pode diminuir até 7%. Isto parece um número enorme, mas não está fora dos limites da volatilidade histórica causada por secas e outros desastres naturais, que historicamente fizeram subir os preços do trigo em alguns pontos percentuais.
Não é isso que nos preocupa.
O que nos preocupa são é a subida vertiginosa dos preços dos fertilizantes com nitrogénio e potássio desde o início da guerra. A Rússia e a Bielorrússia são o segundo e terceiro maiores exportadores de potássio utilizado para fabricar fertilizantes potássicos (o Canadá é o maior produtor). O fertilizante de nitrogénio é feito a partir do gás natural. Os preços do gás natural subiram muito. Os elevados preços dos fertilizantes levarão a um aumento significativo nos preços de todas as calorias, do milho ao abacate e à carne.
A inflação nos alimentos afeta os países pobres e os pobres nos países ricos de uma forma desproporcional. Os consumidores dos EUA gastam 8,6% do seu rendimento disponível em comida (na década de 1960, gastavam 17%). Nos países pobres, esta percentagem é significativamente maior. Por exemplo, o ucraniano médio gasta 38% do rendimento disponível em comida. Os preços dos alimentos estão a subir, mas receio que ainda estejamos no início.
Taxas de Juro
A terceira nova fonte de inflação são as taxas de juros mais elevadas, que tornam todos os bens comprados com crédito mais caros, desde máquinas de lavar e secar a carros e casas. Na última década, habituámo-nos ao crédito barato e abundante. Se a inflação se mantiver nestes níveis elevados, o crédito barato tornar-se-á uma relíquia do passado. As taxas do crédito à habitação já quase duplicaram relativamente aos mínimos de 2021 - os créditos à habitação a 30 anos estão perto dos 5,1% no momento em que escrevo isto. O preço médio das casas nos Estados Unidos é de 428.000 dólares (antes da pandemia, cifrava-se nos 330.000 dólares). O aumento do juro de 2,7% para 5,1% custará ao consumidor médio 7.000 dólares por ano, ou seja, 12% do rendimento médio total anual de 61.000 dólares. Cerca de um terço do país não possui casa, mas arrenda. As rendas aumentaram 11,3% em 2021 e continuam a aumentar em 2022.
Agora, se somarmos o aumento dos preços da energia (gasolina e aquecimento), a inflação dos alimentos e o custo mais alto de qualquer coisa que precise de ser financiada, vemos como o consumidor está a ser pressionado de todas as direções. Os números de inflação "massajados" pelo governo mostram um aumento de 7 a 9% nos preços. Acredito que estes números são baixos, apesar de se terem batido recordes com várias décadas. Um número mais realista é muito mais elevado, como indicam os números da inflação nas importações e exportações, que não são ajustados pelo governo e se cifram em 12 a 18%.
Problemas nas Cadeias de Fornecimento
Outro responsável pela inflação mais elevada são os problemas nas cadeias de fornecimento. A China está a sofrer uma nova paralisação parcial na sua economia. Putin fez-nos esquecer o coronavírus, mas o coronavírus não nos esqueceu a nós. A China - a fonte original do Covid-19 - sofreu um dos menores números per capita de infeções e mortes por Covid. A desvantagem é que, por causa disso, a China tem uma imunidade de grupo muito reduzida. E embora a China tenha vacinas fabricadas localmente, elas não são muito eficazes e a China recusa-se a importar vacinas ocidentais.
O presidente Xi apostou a sua reputação numa política de "Covid Zero". Esta política está atualmente a ser duramente testada. A China está a confinar cidades do tamanho de grandes países europeus para impedir que o vírus se espalhe. Como a China produz muitas das coisas que consumimos, vão produzir menos. Os problemas de fornecimento "transitórios" da China persistirão e aumentarão a inflação.
Desglobalização
Finalmente, a Guerra na Ucrânia acelerou a desglobalização. A globalização foi um grande tsunami deflacionário. A pandemia expôs a fragilidade do nosso alardeado stock just-in-time e das cadeias de fornecimento global. A guerra na Ucrânia recordou ao Ocidente que o sistema de comércio global é construído com base na premissa de que não entramos em guerra com os nossos parceiros comerciais. A guerra na Ucrânia quebrou essa premissa e acelerou o ritmo da desglobalização seletiva, o que levará, no longo prazo, a preços mais altos em tudo.
Seja dono do seu destino.
Construa connosco um futuro financeiro seguro e tranquilo.
Conquiste a sua independência financeira e alcance os seus objetivos de Vida.
Abdicar de consumir hoje para ter muito mais no futuro e ter liberdade para tomar decisões:
- Comprar a casa com que sempre sonhou;
- Proporcionar uma educação melhor aos filhos;
- Deixar um trabalho de que não gosta ou criar o seu próprio negócio;
- Assegurar uma reforma confortável;
- Deixar um legado à geração seguinte;
- Ou o que quer que lhe dê motivação e o faça feliz.
Ensaio publicado originalmente em 22 de março de 2022 no blog Collaborative Fund
Como pensam as pessoas
Neste planeta, já viveram 100 biliões de pessoas.
Hoje, quase oito biliões dessas pessoas estão vivas.
Cada uma delas tem uma história, mas poucas têm um microfone.
Cada uma dessas pessoas testemunhou algo de diferente e teve pensamentos únicos. A maioria sabe coisas que não conseguimos compreender e nós já passámos por coisas que ninguém acreditaria.
Muitos comportamentos são, porém, universais e abarcam gerações e geografias. As circunstâncias mudam, mas as reações das pessoas não. As tecnologias evoluem, mas as inseguranças, os ângulos mortos e a credulidade raramente o fazem.
Este artigo descreve 17 dos aspetos, na minha opinião, mais comuns e influentes de como as pessoas pensam.
É um artigo longo, mas cada ponto pode ser lido individualmente. Salte aqueles com que não concorda e releia aqueles com que concorda - isto é, em si mesmo, uma forma comum de como as pessoas pensam.
1. Todos pertencem a uma tribo e subestimam o quão influente é a tribo no seu pensamento.
Existem tribos em todo o lado - países, estados, partidos, empresas, indústrias, departamentos, estilos de investimento, filosofias económicas, religiões, famílias, escolas, cursos, credenciais. Todas adoram a sua tribo porque há conforto em saber que outras pessoas compreendem o seu passado e partilham dos seus objetivos.
Mas as tribos têm as suas próprias regras, crenças e ideias. Podemos discordar de algumas; algumas são na realidade abjetas. No entanto, continuam a ter apoio porque ninguém quer correr o risco de ser ostracizado por uma tribo que é parte da sua identidade. Assim, as pessoas concordam voluntariamente com ideias más, ou ficam cegas pela lealdade tribal sobre o quão más são aquelas ideias.
2. O que as pessoas apresentam ao mundo é uma pequena fração do que acontece no interior das suas cabeças.
A Biblioteca do Congresso contém três milhões de livros, ou qualquer coisa como um quarto de trilião de palavras.
Estima-se que toda a informação disponível na internet ultrapassa os 40 triliões de gigabytes, o que é aproximadamente suficiente para gravar um vídeo de alta-definição com duração de 14 biliões de anos desde o Big Bang.
Muito da História foi gravado.
Mas depois recordámo-nos, isto é apenas o que foi partilhado, gravado e publicado. É uma quantidade ínfima do que realmente aconteceu e uma quantidade infinitesimal do que passou pela cabeça das pessoas.
Por mais que saibamos o quão loucas, estranhas, talentosas e perspicazes as pessoas podem ser, estamos cegos para talvez 99,99999999% disso. Os "partilhadores" mais prolíficos revelam talvez um milésimo de um por cento das suas experiências e pensamentos.
Um efeito disto é que temos uma falsa visão do sucesso. A maior parte do que as pessoas partilham é o que elas querem que vejamos. As habilitações são publicitadas, os falhanços escondidos. As vitórias são exageradas, as derrotas são minimizadas. A dúvida e a ansiedade raramente são partilhadas nas redes sociais. Soldados derrotados e CEOs fracassados raramente dão entrevistas.
A maior parte das coisas é mais difícil do que parece e não é tão divertida quanto parece, porque as informações a que estamos expostos tendem a ser uma compilação do que as pessoas querem que nós saibamos sobre elas para aumentar as suas próprias probabilidades de sucesso. É mais fácil convencer as pessoas de que somos especiais se elas não nos conhecerem suficientemente bem para ver todas as formas pelas quais não o somos.
Quando temos plena consciência das nossas próprias dificuldades, mas não vemos as dos outros, é muito fácil concluir que estamos a ignorar alguma capacidade ou segredo que os outros têm. Por vezes, isto é verdade. Na maior parte das vezes, estamos simplesmente cegos para o facto de que toda a gente está a "inventar" à medida que avançam, um desafio de cada vez.
3. As previsões têm tudo a ver com as probabilidades e colocá-las a nosso favor. Mas os observadores julgam-nos sempre em termos binários, certo ou errado.
Há uma cena no filme Zero Dark Thirty onde o diretor da CIA questiona uma equipa de analistas que afirma ter localizado Osama Bin Laden.
"Estou prestes a olhar o presidente nos olhos", diz ele. "E aquilo que eu gostaria de saber, sem tretas, muito simplesmente, ele está lá, ou não?"
O líder da equipa diz que há 60% a 80% de probabilidades de Bin Laden estar no complexo.
"Isso é um sim ou um não?" pergunta o diretor.
Uma jovem analista intervém. "Cem por cento de probabilidades de ele lá estar", diz ela.
Todos ficam perplexos.
"OK, 95%, porque sei que a certeza vos assusta. Mas é 100%".
Isto é um bom exemplo de como as probabilidades podem ser desconfortáveis.
A ideia de que algo pode ser provável e não acontecer, ou improvável e mesmo assim acontecer, é um dos truques mais importantes do mundo.
A maioria das pessoas compreende que a certeza é rara, e o melhor que podemos fazer é tomar decisões quando as probabilidades estão a nosso favor. Elas compreendem que podemos ser inteligentes e estar errados, ou estúpidos e estar certos, porque é assim que a sorte e o risco funcionam.
Mas quase ninguém utiliza as probabilidades no mundo real, especialmente quando julgam o sucesso dos outros.
A maior parte das pessoas preocupa-se principalmente com: "Estavas certo ou errado?"
As probabilidades têm a ver com nuance e gradação. Mas no mundo real as pessoas só prestam atenção ao preto e branco.
Se dissemos que algo vai acontecer e acontece, estávamos certos. Se dissemos que vai acontecer e não acontece, estamos errados. É assim que as pessoas pensam, porque isto exige o mínimo de esforço. É difícil convencer os outros - ou nós mesmos - de que poderia ter acontecido um desfecho alternativo quando todos conseguem ver o resultado no mundo real.
O essencial aqui é que as pessoas pensam que querem uma visão precisa do futuro, mas o que elas realmente desejam é a certeza.
É natural que nos queiramos livrar da dolorosa realidade de não saber o que vai acontecer no futuro. Alguém que nos diz que há 60% de probabilidades de uma recessão acontecer não faz muito para aliviar essa dor. Até a podem estar a piorar. Mas alguém que diz: "Este ano vamos ter uma recessão", dá-nos algo a que nos conseguimos agarrar e, com isto, assumimos, aparentemente, o controle do nosso futuro.
Após o raide a Bin Laden, o presidente Obama declarou que a probabilidade de Bin Laden estar realmente na casa-alvo eram de 50/50. Há alguns anos, ouvi um dos SEALS envolvidos na missão falar numa conferência. Segundo ele, independentemente de Bin Laden estar ou não naquela casa, a equipa sentiu que as probabilidades de morrerem todos na missão também eram de 50/50. Temos assim 75% de probabilidade de que o ataque poderia ter culminado numa catástrofe.
Não foi isso que aconteceu - mas esse desfecho alternativo não é um "mundo" ao qual se preste muita atenção.
4. Somos máquinas extrapoladoras num mundo onde nada muito bom ou muito mau dura para sempre
Quando estamos no meio de uma tendência poderosa, é difícil imaginar uma força suficientemente forte para mudar as coisas.
O que tendemos a ignorar é que o que altera as tendências geralmente não é uma força externa. São os efeitos colaterais subtis dessa tendência que corroem aquilo que em primeiro lugar a tornou poderosa.
Quando não há recessões, as pessoas ficam confiantes. Quando ficam confiantes, correm riscos. Quando assumem riscos, temos recessões.
Quando os mercados nunca caem, as avaliações sobem. Quando as avaliações sobem, os mercados podem cair.
Quando há uma crise, as pessoas ficam motivadas. Quando ficam motivadas, resolvem freneticamente os problemas. Quando resolvem problemas, as crises tendem a acabar.
Os bons tempos plantam as sementes da sua destruição por meio da complacência e da alavancagem, e os maus tempos plantam as sementes da sua recuperação criando oportunidades e dando origem à solução de problemas impulsionada pelo pânico.
Sabemos disto em retrospetiva. É quase sempre verdade, em quase todos os lugares.
Mas tendemos a saber "só" em retrospetiva porque somos máquinas extrapoladoras e desenhar linhas retas num gráfico, quando tentamos prever o futuro, é mais fácil do que imaginar como as pessoas se podem adaptar e mudar os seus comportamentos.
Na fermentação, quando atinge um determinado ponto, o álcool mata a levedura responsável pela sua própria produção. As tendências mais poderosas terminam da mesma forma. E este tipo de forças não é intuitivo; exige que consideremos não apenas como uma tendência afeta as pessoas, mas como esse impacto vai alterar o comportamento das pessoas de tal forma que pode acabar com a tendência.
5. Há limites para a nossa sanidade. O otimismo e o pessimismo vão sempre longe demais, porque a única forma de lhes conhecer os limites é ir um pouco mais além.
Jerry Seinfeld tinha o programa mais popular da televisão. E, precisamente nessa altura, ele acabou com ele.
Mais tarde, Jerry afirmou que "matou" a sua série enquanto estava no topo porque a única forma de identificar o topo é viver a queda, e ele não estava interessado nisso. Talvez a série continuasse a melhorar, talvez não. Jerry conseguia viver sem saber a resposta.
Se queremos saber por que motivo existem inúmeras histórias do mundo a ultrapassar os limites da sanidade, saltando de boom em fracasso, de absurdo em absurdo, é porque muito poucas pessoas têm a mentalidade de Jerry. As oportunidades são escassas e as pessoas não querem deixar nada em cima da mesa. Insistem em saber onde fica o topo.
A maioria das coisas no mundo são uma mistura de factos e emoções. Quanto aço pode uma fábrica produzir (um facto) e quanto estão os investidores dispostos a pagar por essa produção (uma emoção).
O importante é que as emoções não são algo que consigamos prever com uma fórmula.
Quanto vale uma bitcoin? Até onde pode subir a Tesla? Quão louca pode ficar a política até que os eleitores se revoltem? A única forma de responder a estas perguntas é adivinhar os humores das pessoas no futuro - o quão otimistas se vão sentir, no que querem acreditar e quão persuasivos são os contadores de histórias. O que é impossível de saber. Não sei qual vai ser a minha disposição logo à noite, quanto mais como um grupo de estranhos se vai sentir daqui a anos.
A única forma de encontrar os limites dos humores das pessoas - a única forma de encontrar o topo - é continuar a pressionar até termos ido longe demais, quando conseguirmos olhar para trás e dizer: "Ah, acho que aquele foi o limite".
É tentador ver as coisas a ir do boom ao fracasso e pensar: "Por que raio é que as pessoas estão a fazer aquilo? Estarão loucos?"
Provavelmente não. Elas estão apenas a procurar, racionalmente, os limites com que toda a gente consegue lidar.
6. Ignorar que as pessoas que pensam o mundo de forma singular, de que nós gostamos, também pensam o mundo de forma singular, de que não gostamos.
Um perfil recente de Eliud Kipchoge, o melhor maratonista do mundo, descrevia a seguinte cena:
"Apertados numa sala cinzenta com horas para matar, os medalhados olímpicos fizeram o que qualquer um de nós faria: pegaram nos seus telemóveis, ligaram-se ao wifi e começaram a navegar o rio de mensagens congratulatórias.
Todos menos um. Kipchoge colocou o telemóvel à sua frente e não lhe tocou, permanecendo ali sentado - durante horas - num silêncio satisfeito.
Bashir Abdi, o medalha de bronze da Bélgica, relembra a história com gargalhadas de incredulidade, e adicionou uma frase, meio a brincar, que os praticantes do desporto já disseram muitas vezes sobre Kipchoge.
"Ele não é humano."
Ele não é humano.
Podemos utilizar uma variação desta frase relativamente à maioria dos nossos ídolos - pessoas que atingiram o sucesso extremo. Gostamos deles porque eles fazem coisas que outras pessoas nunca considerariam, ou não conseguem sequer compreender.
Algumas destas características são incríveis e devemos admirá-las. Outras não.
Kanye West disse certa vez:
"Se querem ideias loucas e cenas loucas, música louca e essa forma louca de pensar, isso provavelmente virá de uma pessoa louca."
Paul Graham disse-o desta forma: "Metade das qualidades distintivas da pessoa eminente são, na realidade, desvantagens".
Andrew Wilkinson diz: "As pessoas mais bem-sucedidas são apenas um distúrbio de ansiedade ambulante domesticado para a produtividade".
Sempre acreditei que as pessoas que são anormalmente boas numa coisa tendem a ser anormalmente más noutra. Ou talvez não sejam más, mas tenham algo que não necessariamente desejaríamos na nossa própria vida. Eles são "maníacos" naturais, extremos em todos os sentidos, bons e maus.
No entanto, é muito fácil ignorar este facto quando admiramos alguém. Torna-se perigoso quando admiramos uma pessoa pelas suas boas características, mas começamos a imitar as más porque acreditamos erradamente que foi isso que as tornou bem-sucedidas. Isto faz parte do ditado: "Nunca conheças os teus heróis".
Para além das características pessoais, o ciúme é muitas vezes enganador porque não somos capazes de escolher as partes da vida de alguém para imitar. Naval escreveu:
"Certo dia, compreendi que, com todas as pessoas de quem eu tinha inveja, eu não podia simplesmente escolher pequenos aspetos da vida delas. Eu não podia dizer que quero o corpo dele, quero o dinheiro dela, quero a personalidade dele. Eu teria que ser aquela pessoa. Será que queremos mesmo ser aquela pessoa com todas as suas reações, os seus desejos, a sua família, o seu nível de felicidade, a sua visão da vida, a sua autoimagem? Se não estamos dispostos a fazer uma troca completa, 24 horas por dia, 7 dias por semana, 100% de troca com quem essa pessoa é, então não faz sentido ter ciúmes.
Há alguns anos, David Brooks deu um exemplo do mundo real:
"Este mês, aconteceram duas coisas a Sandra Bullock. Primeiro, ganhou um Oscar de melhor atriz. Depois surgiram notícias de que o marido dela é um idiota adúltero. Portanto, a pergunta filosófica do dia é: Aceitaríamos este acordo? Trocaríamos um triunfo profissional tremendo por um golpe pessoal duríssimo?
Se demorou mais de três segundos para pensar nisto, o leitor está absolutamente louco."
A admiração pode ser muito crédula.
7. Somos incentivados a maximizar a eficiência a tal ponto que não deixamos qualquer margem para erros, apesar da margem para erros ser o fator mais importante do sucesso a longo prazo.
O mundo é competitivo. Se não explorarmos uma oportunidade, a nossa concorrência fá-lo-á. Assim, a oportunidade é explorada até à exaustão o mais rapidamente possível.
Isto é ótimo - isto faz com que o mundo avance. Mas também tem um efeito colateral desagradável: quando todas as oportunidades são exploradas, não há espaço para erros e, quando não há espaço para erros, qualquer sistema exposto à volatilidade e ao acidente acabará por falhar.
Ao descrever o fiasco das cadeias de fornecimentos do ano passado, o CEO da Flexport, Ryan Petersen, explica:
"O que causou os engarrafamentos nas cadeias de fornecimentos? As finanças modernas com a sua obsessão pelos "retornos nos capitais próprios" (ROE).
De forma a conseguirem ROE elevados, quase todos os CEOs despojaram as suas empresas do máximo de ativos possível. Sem excesso de capacidade. Sem reservas estratégicas. Sem dinheiro no balanço. P&D mínimos.
Retiramos os amortecedores da economia na busca das melhores métricas de curto prazo. Agora, como estamos a enfrentar uma "tempestade de cem anos" de procura, as nossas infraestruturas simplesmente não conseguem acompanhar o ritmo.
As empresas globais de logística têm excesso de capacidade, não há reservas de chassis (reboques para transporte de contentores), não há contentores extras, não há capacidade extra de armazém. As marcas não têm inventário extra. Os fabricantes não têm componentes extra ou matérias-primas disponíveis."
Petersen tem razão, mas parte de mim também tenta compreender os CEOs que maximizaram a eficiência porque, se não o tivessem feito, teriam sido eliminados pela concorrência. Esta é uma peculiaridade estranha do comportamento humano que incentiva as pessoas a maximizar o seu potencial até à destruição final.
Tantas pessoas esforçam-se por levar vidas eficientes, onde não se desperdiça nem uma hora. Mas quando não se desperdiça uma hora, não temos tempo para passear, explorar ou deixar que o pensamento vagueie - o que pode ser uma das formas mais produtivas de pensamento. O psicólogo Amos Tversky disse certa vez que "o segredo para uma boa pesquisa académica é estar sempre um pouco "subempregado". Perdemos anos por não ser capazes de perder horas." Uma pessoa bem-sucedida que deixa propositadamente intervalos de tempo livre na sua agenda acaba por se sentir ineficiente. E é, por isso poucas pessoas o fazem.
O paradoxo de que a margem para erros é essencial para a sobrevivência a longo prazo, mas maximizar a eficiência de uma forma que elimina a margem para erros, pode ser essencial para sobreviver a curto prazo, é estranho.
Aqueles que lutam contra isto - a rara empresa, funcionário ou economia disposta a sacrificar ganhos de curto prazo para a sobrevivência de longo prazo - são os excêntricos, raramente compreendidos, facilmente menosprezados, que têm um desempenho inferior na maior parte das vezes, mas sobrevivem o tempo suficiente para rir por último e conseguem os maiores retornos.
8. A melhor história vence.
Não é a melhor ideia. Não é a resposta certa. É quem conta a história que atrai a atenção das pessoas e as faz acenar afirmativamente a cabeça.
Sherlock Holmes disse: "O que fazemos neste mundo é uma questão de somenos importância. A questão é o que conseguimos fazer as pessoas acreditar que fizemos."
Onde quer que exista uma troca de informação - onde quer que existam produtos, empresas, carreiras, política, conhecimento, educação e cultura - descobriremos que a melhor história vence. Grandes ideias mal explicadas podem não ir a lugar nenhum enquanto que ideias velhas ou erradas contadas de forma convincente podem desencadear uma revolução. Morgan Freeman pode narrar uma lista de compras e levar as pessoas às lágrimas, enquanto que um cientista sem o dom da palavra pode curar doenças e passar despercebido.
Mesmo quando a ideia certa ou um talento superior está a trabalhar, quase sempre há uma história poderosa em ação.
Charles Darwin não descobriu a evolução, ele simplesmente escreveu o primeiro e mais convincente livro sobre a evolução. Andrew Carnegie dizia que tinha tanto orgulho no seu charme e capacidade de travar amizade com as pessoas como na sua perspicácia nos negócios. Elon Musk é tão hábil em fazer com que os investidores acreditem numa visão como em engenharia. Rory Sutherland disse recentemente: "Ninguém teria ouvido falar de Jesus se não fosse São Paulo".
O autor Elias Canette escreveu:
"As maiores multidões são atraídas pelos contadores de histórias. É ao seu redor que as pessoas se aglomeram mais densamente e ficam mais tempo... as suas palavras vão mais longe e permanecem mais tempo no ar do que aquelas das pessoas comuns."
George Packer ecoa o mesmo:
"As narrativas mais duráveis não são as que resistem melhor à verificação dos factos. São as que respondem às nossas necessidades e desejos mais profundos.
Se assumirmos que o mundo é governado pelos factos e pela objetividade - se assumimos que a melhor ideia vence, isto deixa-nos loucos. Mas é assim que as pessoas pensam. E isto, na realidade, é otimista, porque quando percebemos que podemos mudar o mundo explicando uma coisa antiga de uma forma nova ao invés de termos que criar algo realmente novo, começamos a ver muito potencial.
9. Somos atraídos pela complexidade quando a simplicidade é a verdadeira marca da inteligência e do conhecimento.
Às vezes, a extensão é necessária. Quando os Aliados se reuniram após a Segunda Guerra Mundial para discutir o destino da Alemanha, Winston Churchill observou: "Estamos a falar do destino de oitenta milhões de pessoas e isso exige mais do que oitenta minutos de discussão".
Mas Edsger Dijkstra, cientista da computação, escreveu:
"A simplicidade é a marca da verdade -- já devíamos saber isto, mas a complexidade continua a exercer uma atração mórbida. Quando damos uma palestra a um público académico que é cristalina do alfa ao ómega, o público sente-se enganado e sai da sala de aula a comentar entre si: "Isto foi bastante trivial, não foi? A dolorosa verdade é que a complexidade vende melhor."
A dolorosa verdade é que a complexidade vende melhor.
É óbvio que isto é verdade.
Um tweet pode ser mais perspicaz que um livro, mas as pessoas pagam 20 dólares por livros e nunca pagariam um cêntimo por milhares de tweets. Cobramos a um cliente por dez frases de conselhos e eles saem enojados. Entregamos um relatório do tamanho da lista telefónica e eles pagam uma fortuna e recomendar-nos-ão aos seus amigos.
Porquê?
Por que motivo a complexidade e a extensão vendem quando a simplicidade e a brevidade bastam?
Algumas razões.
Uma é que a extensão é muitas vezes a única coisa que sinaliza esforço e ponderação. Os consumidores de informação raramente tentam dissecar um argumento de forma objetiva; isso é muito difícil. Ao ler, tentam apenas concluir se o autor é credível ou não. Isto soa bem? Passa no teste do algodão? O autor dedicou mais do que alguns segundos de pensamento neste argumento? A extensão e a complexidade são muitas vezes a única indicação de que um argumento foi ponderado ao invés de não ser mais que um palpite aleatório.
A segunda é que as coisas que nós não compreendemos criam uma mística em redor das pessoas que realmente as compreendem. Quando alguém compreende coisas que nós não compreendemos, temos dificuldade em julgar os limites do seu conhecimento nesse campo, o que nos torna mais propenso a aceitar os seus pontos de vista.
A terceira razão é que a complexidade transmite uma impressão reconfortante de controlo, enquanto que é difícil distinguir a simplicidade da falta de noção. Quanto mais botões tivermos para mexer, mais controlo sentimos que temos sobre a situação, porque a impressão de conhecimento aumenta. Prestar atenção a apenas algumas variáveis enquanto ignoramos tudo o resto pode fazer-nos parecer ignorantes, mesmo que isto seja a coisa certa a fazer. Se um cliente pergunta: "E aqui, o que é que está a acontecer aqui?" e nós respondemos: "Ah, não faço ideia, não acompanhamos isso", as probabilidades de parecermos desinformados podem superar as probabilidades de o cliente concluir que dominamos a simplicidade.
10. A disponibilidade para acreditarmos numa previsão é influenciada pelo quanto desejamos ou precisamos que essa previsão seja verdadeira.
Qual foi o dia mais feliz da sua vida?
O documentário How to Live Forever coloca esta pergunta inocente a uma centenária que respondeu de uma forma surpreendente.
"O Dia do Armistício", respondeu ela, referindo-se ao final da Primeira Guerra Mundial, em 1918.
"Porquê?" pergunta o produtor.
"Porque sabíamos que nunca mais iríamos ter guerras", declarou ela.
A Segunda Guerra Mundial começou 21 anos depois, e morreram 75 milhões de pessoas.
Há tantas coisas na vida que acreditamos que são verdadeiras apenas porque queremos desesperadamente que sejam verdadeiras. As pessoas fazem isto com os seus relacionamentos, carreiras, investimentos, pontos de vista políticos - qualquer coisa voltada para o futuro está sujeita a ser influenciada pelo nosso desejo de ter uma vida agradável.
Todos somos sonhadores porque é difícil viver o nosso quotidiano quando acreditamos genuinamente que o futuro será difícil. Uma ficção apelativa - acreditar no desfecho que desejamos, mesmo que seja improvável que se torne realidade - é muitas vezes o único conforto num mundo incerto.
Quanto mais temos a perder, mais verdadeiro isto se torna. Antes da medicina moderna, tivemos séculos de sangrias, terapia da fome, abertura de orifícios no corpo para libertar os maus espíritos e outros tratamentos que pioravam a situação, mas que davam às pessoas um pouco de esperança. Se precisamos desesperadamente de uma solução e nenhuma boa está prontamente disponível, o caminho de menor resistência é a disponibilidade para acreditar em qualquer coisa. Não é apenas uma questão de tentar qualquer coisa, mas também de acreditar.
A mesma coisa acontece nos investimentos, quando as pessoas ouvem avidamente as previsões de analistas cujo histórico é indistinguível da adivinhação. O mesmo na política. Quanto mais incerta empreitada, e quanto maiores os riscos do desfecho, mais somos atraídos pela resposta mais agradável. E se dissermos às pessoas o que elas querem ouvir, podemos estar errados indefinidamente sem qualquer penalização.
11. É difícil ter empatia pelas crenças de outras pessoas se elas experimentaram partes do mundo que nós não experimentamos.
Jason Zweig, do Wall Street Journal, escreveu na semana passada:
"Se lhe perguntar num questionário se tem medo de cobras, o leitor poderá dizer que não. Se lhe atirar uma cobra viva ao colo e depois perguntar se tem medo de cobras, provavelmente vai dizer que sim - se voltar a falar comigo."
A diferença entre como nos sentimos do lado de fora e como nos sentimos quando experimentamos algo em primeira mão pode ter um quilómetro de largura.
Existem teorias de que as grandes guerras tendem a acontecer com 20 a 40 anos de intervalo, porque esse é o espaço de tempo necessário para que surja uma nova geração de eleitores, políticos e generais que não estão traumatizados pela última guerra. Outras tendências políticas - direitos sociais, teorias económicas, prioridades orçamentais - seguem um caminho semelhante.
Não é uma questão de que as pessoas se esqueceram. É que a empatia e a mente aberta não podem conseguem recriar o medo e a incerteza genuínos.
A minha teoria é que mais de metade de todos os desentendimentos - pessoais, domésticos, internacionais, financeiros - desapareceriam se conseguíssemos ver o mundo através dos olhos do nosso oponente e tivéssemos passado pelo o que eles passaram.
Nassim Taleb resume bem isto quando diz: "Se algo nos parece irracional - e tem sido assim há muito tempo - é provável que tenhamos uma definição errada da racionalidade".
Algumas perguntas que todos nos devemos colocar a nós próprios:
De quais das minhas opiniões atuais eu discordaria se tivesse nascido num país ou geração diferentes?
O que é que eu não experimentei em primeira mão que me deixa ingénuo relativamente ao seu funcionamento?
Qual é o problema que eu acredito que se aplica apenas a outros países/indústrias/carreiras e que, eventualmente, poderá ter impacto sobre mim?
Estas questões, no entanto, são impossíveis de responder completamente. No fundo, estamos todos um pouco cegos para a forma como o mundo funciona, e quando pensamos que estamos a discordar de outra pessoa, estamos, na verdade, apenas a descobrir uma experiência que nunca tivemos.
12. Uma inocente negação das nossas próprias falhas, causada pela nossa capacidade de justificar os nossos erros na nossa própria cabeça de uma forma que não conseguimos fazer pelos outros.
George Carlin costumava dizer que é muito fácil identificar pessoas estúpidas. "Se levares um bloco de notas e lápis contigo, vais acabar o dia com 30 ou 40 nomes. Não leva muito tempo a encontrar um, pois não? São à volta de oito segundos."
Como muita coisa na comédia, é engraçado porque é verdade.
Daniel Kahneman, no entanto, menciona uma verdade mais importante no seu livro, Thinking, Fast and Slow: "É mais fácil reconhecer os erros das outras pessoas do que os nossos".
Eu acrescentaria a minha própria teoria: é mais fácil culpar a estupidez e a ganância pelos erros dos outros do que pelos nossos.
Isto porque quando alguém comete um erro, nós julgamo-lo apenas com base no que vemos. É rápido e fácil.
Mas quando cometemos um erro, há um monólogo longo e persuasivo na nossa cabeça que justifica más decisões e acrescenta um contexto importante que as outras pessoas não veem.
Todo nós somos assim. É normal.
Eis a razão pela qual isto acontece: o meu cunhado, um assistente social, disse-me recentemente: "Qualquer comportamento faz sentido com informação suficiente".
É um argumento tão bom.
Vemos alguém a fazer uma loucura e pensamos: "Por que raio faria isto?" Depois, sentamo-nos com eles, ouvimo-los a falar da sua vida e, passado algum tempo, compreendemos: "Pois, até faz algum sentido".
Todos somos um produto das nossas próprias experiências de vida, poucas das quais são visíveis ou conhecidas por outras pessoas.
O que faz sentido para mim pode não fazer sentido para si porque não sabe que tipo de experiências me moldaram e vice-versa.
A pergunta: "Por que motivo não concorda comigo?" pode ter infinitas respostas.
Às vezes, um lado é egoísta, estúpido, cego ou desinformado.
Mas geralmente uma pergunta melhor é: "Por que é que tu passaste que eu não passei que te faz acreditar no que acreditas? E eu pensaria no mundo como tu pensas se eu passasse pelo mesmo?"
Esta é a questão que contém mais respostas que justificam a razão pela qual as pessoas não concordam umas com as outras.
Mas é uma pergunta tão difícil de fazer. É muito pouco confortável pensar que aquilo pelo qual ainda não passamos pode mudar as nossas crenças. Isto é admitir a nossa própria ignorância. É muito mais fácil e comum assumir que aqueles que não concordam connosco não refletiram o suficiente- especialmente ao julgar os erros dos outros.
13. Subestimamos a capacidade de pequenas coisas se transformarem em coisas extraordinárias.
A força mais surpreendente do universo é óbvia. É a evolução. O processo que guiou organismos unicelulares até um ser humano que consegue ler este artigo um iPhone com 500 GB de armazenamento. A coisa que é responsável pela visão 20/20 e pássaros voadores e sistemas imunitários. Nada na ciência nos consegue impressionar tanto como aquilo que a evolução conseguiu realizar.
A bióloga Leslie Orgel costumava dizer que "a evolução é mais esperta do que nós" porque sempre que um crítico diz "a evolução nunca poderia fazer isto", geralmente falta-lhe imaginação.
A evolução também é facilmente subestimada devido à matemática básica.
O superpoder da evolução não é apenas selecionar características favoráveis. Esta parte é tão entediante que, se só nos concentramos nisso, ficamos céticos e confusos. Um milénio de mudanças na maioria das espécies é tão trivial que é quase impercetível.
A verdadeira magia da evolução é que ela seleciona características há 3,8 mil milhões de anos.
É o tempo, não são as pequenas mudanças, que move a agulha. Se pegarmos em mudanças minúsculas e as capitalizarmos durante 3,8 mil milhões de anos, conseguiremos resultados que são indistinguíveis da magia.
Esta é a verdadeira lição da evolução: se temos um número grande no espaço do expoente, não precisamos de mudanças extraordinárias para obter resultados extraordinários. Não é intuitivo, mas é muito poderoso. "A maior falha da raça humana é a nossa incapacidade de compreender a função exponencial", costumava dizer o físico Albert Bartlett.
Muitas coisas funcionam assim.
Já ouvi muitas pessoas dizer que quando viram pela primeira vez uma tabela de juros compostos - ou ouviram uma daquelas histórias sobre o que teriam a mais na reforma se começassem a poupar aos 20 anos em vez de aos 30 anos - a vida delas mudou. Mas provavelmente não. Provavelmente ficaram estupefactos, porque os resultados não parecem intuitivamente corretos. O pensamento linear é muito mais intuitivo do que o pensamento exponencial. Michael Batnick já explicou isto. Se nos pedirem para calcular 8+8+8+8+8+8+8+8+8 mentalmente, conseguimos fazer isto nalguns segundos (é 72). Se nos pedirem para calcular 8x8x8x8x8x8x8x8x8, a nossa cabeça explode (é 134.217.728).
Uma área comum onde vemos esta deficiência em ação é no investimento.
Howard Marks falou certa vez sobre um investidor cujos resultados anuais nunca atingiram o quartil superior, mas, ao longo de um período de 14 anos, ele ficou entre os 4% melhores de todos os investidores. Se ele mantiver esses retornos medíocres durante mais 10 anos, ele poderá atingir o top 1% dos seus pares - um dos maiores da sua geração, apesar de não se destacar em qualquer ano.
No investimento, a maior parte das pessoas concentra-se no que é possível fazer agora, este ano, ou talvez no próximo ano. "Quais são os melhores retornos que consigo ganhar?" parece uma pergunta tão intuitiva de se fazer.
Mas, tal como na evolução, não é aí que a magia acontece.
Se compreendermos a matemática por trás dos juros compostos, concluimos que a pergunta mais importante não é "Como posso obter os maiores retornos?" É: "Quais são os melhores retornos que consigo sustentar pelo maior período de tempo?"
Essa é a grande lição do juro composto: menos foco na mudança, mais foco no expoente.
14. A diferença entre saber o que fazer e realmente conseguir que as pessoas o façam pode ser enorme.
Certa vez perguntei a uma médica: Qual é a parte mais difícil do seu trabalho?
Não era o stress ou a responsabilidade. Era muito básico. "Fazer com que os meus doentes façam o que eu peço", disse ela.
A princípio não compreendi, mas quando ela me explicou, fez sentido.
"Tens uma consulta com um doente e dizes: 'Preciso que faça estas análises, marque uma consulta com este especialista, tome este medicamento'. E os doentes voltam passado um mês e não fizeram nada." Ou não podiam pagar, ou era demasiado intimidador, ou não tiveram tempo.
Ela explicou-me que tornar-se uma médica melhor significava passar mais tempo a gerir os seus doentes em vez de cuidar das suas doenças. Há uma enorme diferença, disse ela, entre um especialista em medicina e um especialista em saúde.
Um especialista em medicina sabe todas as respostas certas do livro. Conseguem diagnosticar com precisão e estão ao corrente de todos os tratamentos mais modernos.
Um especialista em saúde sabe que a medicina, do ponto de vista do doente, é assustadora, confusa, cara e demorada. Nada do que o médico diagnostica ou prescreve importa até que essa realidade seja abordada com os doentes, porque, mesmo uma solução perfeita não faz qualquer efeito no doente que não a segue.
Tantas coisas na vida funcionam assim. Investimentos, relacionamentos, saúde, carreiras. Em cada uma delas, saber o que devemos fazer não é assim tão difícil - fazê-lo é que exige mover montanhas.
Em muitos casos, isto é causado pelo apelo dos hacks - atalhos e truques para conseguir o que queremos sem pagar o preço. O doente não quer comer melhor e fazer exercício; querem um comprimido que resolva tudo. O investidor não quer esperar uma década para que o seu dinheiro capitalize; querem uma ação que duplique na semana seguinte.
Mas o mundo real abomina hacks e, em vez de uma vitória fácil, aqueles que os perseguem geralmente acabam com prejuízos. Vivemos assim num mundo onde as soluções para os problemas podem ser surpreendentemente simples, mas fazer com que as pessoas sigam conselhos simples pode ser incrivelmente difícil.
Isaac Asimov disse: "A ciência acumula conhecimento mais rapidamente do que a sociedade acumula sabedoria", o que resume muitas coisas muito bem.
15. Somos maus a imaginar como será a mudança porque, nos sonhos, não há contexto.
Quando as coisas estão a correr bem, todos acreditam ter uma alta tolerância ao risco. Depois as coisas pioram e dizemos: "Ah, sabes, isto, na verdade, dói mais do que eu pensava".
Quando pensamos nos riscos futuros, tendemos a pensar isoladamente. Se imaginarmos uma queda de 40% no mercado, imaginamos que tudo no mundo está igual, exceto que as ações estão 40% mais baratas. Isso não parece assim tão mau. Mas a razão pela qual as ações caem 40% é provavelmente porque as pessoas pensam que o mundo está a desmoronar-se - uma recessão brutal, uma pandemia, um colapso político, seja o que for. O stress que isto provoca é muito mais difícil de imaginar até que acontece.
A mesma coisa acontece quando imaginamos um ganho.
Acho que ainda não conheci ninguém que atingiu um sucesso desmedido que seja tão feliz como alguém que não o conhece poderia imaginar. Isto não significa que o sucesso não proporcione orgulho, contentamento ou independência. Mas raramente é aquilo que imaginávamos antes de o conquistar.
Jim Carrey declarou certa vez: "Acho que todos deveriam ficar ricos e famosos e fazerem tudo aquilo com que sempre sonhou para poderem ver que isto não é a resposta".
Acho que isto é parcialmente a mesma razão pela qual prever as perdas é difícil: imaginar o contexto completo é duro.
Se imaginar o seu "eu" futuro a viver numa mansão, imagina-se a deliciar-se no esplendor e tudo a corre bem. O que é fácil de esquecer é que as pessoas em mansões também apanham gripes, têm psoríase, envolvem-se em ações judiciais, discutem com os cônjuges, são assoladas por inseguranças e irritam-se com os políticos - e isto pode, a qualquer momento, substituir qualquer alegria que vem do sucesso material. As fortunas futuras são imaginadas num vácuo, mas a realidade é sempre vivida com o bem e o mal juntos, a competir por atenção.
16. Estamos cegos para o quão frágil é o mundo devido à nossa incompreensão dos eventos raros.
John Littlewood foi um matemático que procurou desmascarar a ideia de que os milagres eram algo mais do que simples estatísticas.
O físico Freeman Dyson explica:
"A lei dos milagres de Littlewood afirma que, no decurso da vida de qualquer pessoa normal, acontecem milagres a uma taxa de aproximadamente um por mês.
A prova da lei é simples. Durante o tempo em que estamos acordados e ativamente ocupados a viver as nossas vidas, cerca de oito horas por dia, vemos e ouvimos coisas a acontecer a uma taxa de uma por segundo. Portanto, o número total de eventos que nos acontecem é de cerca de 30.000 por dia, ou cerca de um milhão por mês.
Estes eventos, com poucas exceções, não são milagres porque são insignificantes. A probabilidade de um milagre é de cerca de um por milhão de eventos. Portanto, devemos esperar que um milagre aconteça, em média, a cada mês."
A ideia de que acontecem coisas incríveis por causa de estatísticas aborrecidas é importante, porque também é verdade para coisas terríveis.
Pense em eventos que, teoricamente, acontecem uma vez a cada 100 anos. Inundações, furacões, terramotos, crises financeiras, fraudes, pandemias, colapsos políticos, recessões económicas e assim por diante sem parar. Muitas coisas terríveis podem ser chamadas de "eventos de 100 anos".
Um evento de 100 anos não significa que acontece apenas uma vez em cada 100 anos. Significa que há cerca de 1% de probabilidade de ocorrer em determinado ano. Isto parece uma probabilidade baixa. Mas quando existem centenas de diferentes eventos independentes de 100 anos, quais são as probabilidades de que qualquer um deles ocorra num determinado ano?
Bastante elevadas, na verdade.
Se no próximo ano houver 1% de probabilidade de uma nova pandemia desastrosa, 1% de probabilidade de uma depressão incapacitante, 1% de probabilidade de uma inundação catastrófica, 1% de probabilidade de colapso político e assim por diante, então as probabilidades de que algo mau irá acontecer no próximo ano - ou em qualquer ano - são... desconfortavelmente elevadas.
A Lei de Littlewood diz-nos para esperar um milagre a cada mês. O reverso da medalha é esperar um desastre com a mesma frequência.
Que é o que a história nos diz, não é?
A história é "apenas uma maldita coisa atrás da outra", disse Arnold Toynbee. O livro de Dan Carlin, The End is Always Near, destaca períodos - de pandemias a guerras nucleares - em que parece que o mundo está a acabar. As crises existem em todas as épocas, todos os continentes, todas as culturas. As más notícias são a norma.
Mesmo durante aqueles que recordamos como períodos prósperos, como as décadas de 1950 e 1990, havia uma cadeia contínua de luto. Ajustado para o crescimento populacional, mais americanos perderam os seus empregos durante a recessão de 1958 do que em qualquer mês da Grande Recessão de 2008. O sistema financeiro global quase desmoronou em 1998, durante o maior boom de prosperidade que já vimos.
O mundo sofre uma crise brutal, em média, uma vez a cada dez anos. Para o seu país, estado, cidade ou empresa, uma vez a cada um ou três anos é provavelmente mais comum.
Às vezes parece um azar terrível, ou que as más notícias ganham um novo impulso. Mais frequentemente, é apenas a Lei de Littlewood em ação. Inúmeras coisas diferentes podem correr mal, assim pelo menos uma delas está a causar estragos quase permanentemente.
17. A incapacidade de aceitar problemas, coisas sem sentido e ineficiência frustra as pessoas que não conseguem aceitar como o mundo funciona.
Antes de publicar The Legend of Bagger Vance, Steven Pressfield já escrevia há 30 anos. Até essa altura, a sua carreira literária era obscura e Pressfield chegou até a viver numa "casa de passagem" para poupar na renda.
Certa vez, Pressfield falou sobre as pessoas que conheceu enquanto lá vivia:
"As pessoas daquela "casa de passagem", costumávamos ficar na cozinha a conversar a noite toda, eram das pessoas mais inteligentes que eu alguma vez conheci e as mais engraçadas e interessantes.
E o que eu concluí ao conviver com elas e com outras em situação semelhante foi que elas não eram loucas. Eles eram, na verdade, pessoas inteligentes que viam para além da "treta" da sociedade. E por causa disso, não conseguiam "funcionar" no mundo.
Não conseguiam manter um emprego porque simplesmente não aguentavam a "treta" e foi assim que acabaram em instituições. A sociedade concluiu: "Bem, estas pessoas são refugo absolutas. Eles não conseguem encaixar-se." Mas, na realidade, elas eram as pessoas que viam tudo."
Este pode não ter sido o ponto de vista de Pressfield, mas isto recorda-me de algo em que acredito há muito tempo e é uma perceção de como tantas pessoas pensam.
Se reconhecemos que a "treta" é omnipresente, então a questão não é "Como consigo evita-la?" mas, "Qual é a quantidade que eu consigo aguentar e ainda assim, funcionar num mundo confuso e imperfeito?"
Se a tolerância é zero - se é alérgico a diferenças de opinião, incentivos pessoais, emoções, ineficiências, falta de comunicação e por aí adiante - as suas hipóteses de ter sucesso em qualquer coisa que exija outras pessoas são zero. Não consegue funcionar no mundo, como diz Pressfield.
Na minha opinião, muitas pessoas não têm tolerância suficiente para "treta". Não estão no nível que Pressfield descreve. Mas há uma lacuna entre as suas expectativas e a realidade de como o mundo funciona.
O que as pessoas ignoram é que existem coisas más que se tornam problemas ainda maiores quando tentamos eliminá-las. Acho que as pessoas mais bem-sucedidas sabem reconhecer quando uma determinada aceitação supera a pureza.
O roubo é um bom exemplo. Uma mercearia poderia eliminar totalmente o roubo se revistasse todos os clientes que saíam da loja. Mas depois ninguém compraria lá. Portanto, o nível ideal de roubo nunca é zero. Aceitamos um determinado nível como um custo inevitável do progresso.
Uma capacidade única, e subestimada, é identificar a quantidade ideal de problemas e palermices que toleramos para progredir.
Franklin Roosevelt - o homem mais poderoso do mundo cuja paralisia fazia com que frequentemente os seus assistentes tivessem que o ajudar no quarto de banho - disse certa vez: "Se não consegues usar as pernas e te trazem leite quando querias sumo de laranja, aprendes a dizer "muito obrigado" e bebes."
Cada setor e carreira é diferente, mas há um valor universal nesta mentalidade, aceitar os problemas quando a realidade o exige.
No mundo dos investimentos, o nome Warren Buffett é sinónimo de sucesso e prosperidade com este livro, o leitor pode aprender como Warren Buffett conseguiu isso e como ele também pode conseguir.Construindo do zero, Buffett escolheu as suas ações sabiamente e com cuidado, por sua vez acumulando a enorme fortuna pela qual agora é famoso. Mary Buffett, ex-nora deste lendário génio financeiro e uma empresária de sucesso por seus próprios méritos, juntou-se ao famoso Buffettologist David Clark para criar Buffettology, um guia de investimento único que explica as estratégias vencedoras do mestre.
A tecnologia é o setor mais ativo e lucrativo do mercado de ações, mas pode ser um pesadelo para os investidores. Empresas que hoje dominam poderão ser vendidas a preço de saldo dentro de poucos anos.Mark Mahaney, analista de empresas tecnológicas há mais de 25 anos, partilha connosco as lições que aprendeu com os seus triunfos e, principalmente, com os seus erros. Com Mahaney, revisitamos a história da Internet comercial, incluindo o Dot Com Boom e o Dot Com Bust, as empresas que atingiram um sucesso espetacular e as que falharam miseravelmente e revela dez lições para a construção de um portfólio de ações de tecnologia.Nothing But Net oferece conselhos poderosos para as próximas duas décadas - lições que podemos começar a aplicar hoje e ao longo dos próximos anos.
Um guia detalhado para superar as armadilhas psicológicas encontradas com mais frequência no investimento. Vieses, emoção e excesso de confiança são apenas três das muitas características comportamentais que podem levar os investidores a perder dinheiro ou obter retornos mais baixos. As finanças comportamentais, que reconhecem que existe um elemento psicológico em todas as tomadas de decisão do investidor, podem ajudá-lo a superar esse obstáculo. Em O Livro do investimento Comportamental, o especialista James Montier apresenta alguns dos desafios comportamentais mais importantes enfrentados pelos investidores. Montier revela as barreiras psicológicas mais comuns, mostrando claramente como a emoção, o excesso de confiança e uma infinidade de outras características comportamentais podem afetar a tomada de decisão de investimento. O livro apresenta maneiras comprovadas de identificar e evitar as armadilhas dos vieses do investidor, indica como aprender com os nossos erros de investimento em vez de repeti-los e explora os princípios comportamentais que permitirão que o leitor tenha sucesso como investidor. Escrito num estilo simples e acessível, O Livro do Investimento Comportamental permite ao leitor identificar e eliminar traços comportamentais que podem minar os seus esforços de investimento e mostra-lhe como conseguir retornos superiores.
Numa mistura inovadora de ciência e imaginação, o ex-líder da Google China e um dos mais importantes escritores de ficção especulativa unem forças para responder a uma pergunta: como vai a inteligência artificial mudar o nosso mundo nos próximos vinte anos?A IA vai definir o século XXI, mas muitas pessoas sabem muito pouco sobre ela, exceto as visões de robots distópicos ou carros voadores. Embora o termo exista há já meio século, é só agora, defende Kai-Fu Lee, que a IA está prestes a revolucionar a nossa sociedade, tal como tecnologias como a eletricidade e smartphones o fizeram antes. Nos últimos cinco anos, a IA mostrou que pode aprender jogos como o xadrez em poucas horas - e vencer sempre os humanos . A IA ultrapassou os humanos no reconhecimento de fala e objetos, superando até mesmo os radiologistas nos diagnósticos do cancro do pulmão. Dentro de duas décadas, teremos dificuldades em reconhecer a vida cotidiana.Neste livro provocador que alia a narrativa especulativa e a ciência, Lee, um dos maiores especialistas em IA do mundo, juntou-se ao célebre escritor Chen Qiufan para revelar como a IA vai invadir todos os aspectos do nosso mundo, em 2041.
Este livro defende que as forças subjacentes da demografia e da globalização farão em breve reverter três tendências globais de várias décadas a inflação e as taxas de juros vão subir, mas levarão a um retrocesso na desigualdade.O que quer que o futuro reserve, argumentam os autores, nada será como o passado.Os ventos deflacionários das últimas três décadas devem-se principalmente a um enorme aumento na oferta de mão de obra disponível no mundo, devido a tendências demográficas muito favoráveis ??e à entrada da China e da Europa Oriental no sistema comercial mundial.Este livro mostra como estas tendências demográficas estão prestes a reverter-se drasticamente, coincidindo com um recuo da globalização.O resultado? Pode-se esperar que o envelhecimento aumente a inflação e as taxas de juros, trazendo uma série de problemas para uma economia mundial superendividada, mas também deverá aumentar a participação do trabalho, de modo que a desigualdade diminua.Abarcando muitos fatores sociais e políticos, bem como aqueles que são mais puramente macroeconômicos, os autores abordam temas como envelhecimento, demência, desigualdade, populismo, aposentadoria e financiamento de dívidas, entre outros. Este livro merece a atenção de qualquer pessoa que esteja interessada em saber para onde vai a economia mundial.
Uma sondagem de 2020 concluiu que 60% das pessoas pensam que o ritmo de mudança nas suas vidas é muito rápido. As gerações anteriores, confrontadas com motores a vapor ou elevadores pela primeira vez, provavelmente também pensavam assim. Mas, segundo Azeem Azhar, analista de tecnologia e empresário, entramos de facto num período de mudança desestabilizadora e sem precedentes: uma era totalmente nova da sociedade humana e da organização económica a Era Exponencial.Azhar identifica a computação e inteligência artificial, eletricidade renovável e armazenamento de energia, biotecnologia e manufatura (por exemplo, a impressão 3D) como as áreas em que as inovações surgem a um ritmo exponencial: inventam-se e escalam-se novas tecnologias a um ritmo cada vez mais rápido, e simultaneamente, diminuem-se rapidamente os preços.O problema é que, embora a mudança tecnológica esteja a acelerar rapidamente, a nossa sociedade evolui a um ritmo mais gradual e incremental. Resultado? Está a abrir-se uma divisão entre a tecnologia e a sociedade, a denominada, segundo Azhar, lacuna exponencial.Temos vindo a inventar novas tecnologias desde os tempos dos machados de pedra e das pás de madeira. De acordo com Azhar, no entanto, temos muita dificuldade como espécie em compreender a mudança exponencial: As nossas mentes evoluiram para um mundo que ainda não tinha descoberto o poder da mudança rápida.No entanto, indivíduos e empresas ignoram esta mudança rápida por sua conta e risco. Em 2007, Steve Ballmer, da Microsoft, descreveu o iPhone, dizendo: Isto não tem a mínima hipótese de ganhar quota de mercado significativa. Como Azhar observa: Ballmer caiu na lacuna exponencial.Segundo Azhar existe agora um abismo de incompreensão mútua entre os tecnólogos e o resto da sociedade. Os políticos mostram muitas vezes uma profunda ignorância até mesmo das tecnologias mais básicas: Eles são como pessoas que tentam abastecer um carro enchendo a bagageira com feno.Azhar é assumidamente otimista quanto ao poder da tecnologia: Estamos a entrar numa era de abundância. O primeiro período da história humana em que a energia, comida, computação e muito mais serão trivialmente baratos de produzir.
O que quer que a liberdade financeira signifique para nós viver a vida que quisermos, não trabalhar de acordo com os horários dos outros, ser dono do nosso destino ou qualquer outro sonho a forma de a atingir é investir.Neste livro conciso e acessível, Ben Carlson e Robin Powell mostram como tomar o caminho da liberdade financeira através da poupança e do investimento.Não se trata de ficar rico de um dia para o outro. Criar riqueza através do investimento com o objetivo de longo prazo da liberdade financeira exige disciplina, sacrifício e tempo.Mas é possível, e quase qualquer um pode fazê-lo, se munido das informações corretas.Invest Your Way to Financial Freedom partilha connosco todas as etapas que precisamos de seguir para alcançar os nossos objetivos e inclui respostas claras e simples para as seguintes perguntas:Porque é que poupar é importante?Porque é que investir é a melhor forma de criar riqueza?O que podem os investidores esperar do mercado de ações?É tarde demais se não começarmos cedo a poupar e a investir?
Os nossos objetivos pessoais precisam de uma estratégia de longo prazo.Assim como alguns CEOs privilegiam os lucros trimestrais em detrimento dos investimentos estratégicos necessários para o crescimento de longo prazo, o mesmo acontece nas nossas vidas pessoais e profissionais.Todos sabemos intelectualmente que o sucesso duradouro exige persistência e esforço. No entanto, a pressão implacável omnipresente no mundo moderno leva-nos a escolher o que parece fácil, garantido ou o que está na moda.Em The Long Game, Dorie Clark defende um caminho diferente. Clark partilha princípios que podemos aplicar à nossa situação específica, bem como histórias da sua própria carreira e experiências de outros profissionais. Todos temos as mesmas vinte e quatro horas, mas com as estratégias certas, podemos aproveita-las de forma mais eficiente.Este não é um processo que dará resultados da noite para o dia, mas a recompensa a longo prazo é imensa.
A sugestão de hoje surge-nos de Hugo Palma, informático de profissão e formação, filósofo e desportista por paixão, inconformado com o desinteresse por natureza. Leitor de menos livros de ficção do que por vezes gosta de admitir, mas os temas não ficcionais ganham quase sempre na constante batalha do próximo livro a atacar."O otimista diz O copo está meio cheio. O pessimista diz O copo está meio vazio. O racionalista diz Este copo é o dobro do tamanho que precisa de ser.Para muitos filosofia é sinónimo de algo desprovido de aplicação prática, uma ciência romântica da qual pouca utilidade poderá ser espremida. Proponho que repensem a filosofia como a base para toda a lógica argumentativa mas sem perder de vista o sentido de humor e a capacidade de rir de nós próprios. Neste livro são abordados conceitos basilares da filosofia antiga através de pequenas histórias e anedotas numa voz livre de preconceitos e classicismos. Se filosofia sempre foi aquele tema que pareceu aborrecido ou se simplesmente quer uma resumida e divertida passagem pelos principais filósofos antigos, este é o livro para si."
Mais uma obra-prima de um dos meus autores favoritos. . . Se procura saber mais sobre muitas das forças fundamentais que moldam a vida humana, este é o livro a ler. É um tour de force Bill Gates Nunca tivemos tanta informação ao nosso alcance e, no entanto, a maioria de nós não sabe como o mundo realmente funciona. Este livro explica sete das realidades mais fundamentais que governam a nossa sobrevivência e prosperidade. Desde a produção de energia e alimentos, passando pelo mundo material e pela globalização, até aos riscos que ameaçam a nossa civilização, o meio ambiente e o seu futuro, How the World Really Works oferece-nos uma verificação de realidade muito necessária no fim de contas, antes de podermos enfrentar os problemas de forma eficaz, temos que compreender os factos.Neste livro ambicioso e provocador, vemos, por exemplo, que a globalização não é inevitável - os perigos de permitir que 70% das luvas de borracha do mundo sejam fabricadas em apenas uma fábrica tornaram-se evidentes em 2020 - e que as nossas sociedades têm vindo a aumentar cada vez mais a sua dependência dos combustíveis fósseis, tornando cada vez mais improvável a sua completa e rápida eliminação. Por exemplo, cada tomate cultivado em estufas exige, para a sua produção, o equivalente a cinco colheres de sopa de gasóleo; e ainda não temos formas comercialmente viáveis ??de fabricar aço, amónia, cimento ou plástico, à escala exigida globalmente, sem combustíveis fósseis.Vaclav Smil não é pessimista nem otimista, é um cientista; ele é o perito líder mundial em energia e um polímata surpreendente. Com base na ciência mais recente, Smil responde à pergunta mais profunda dos nossos tempos: estamos irrevogavelmente condenados ou espera-nos uma utopia mais brilhante? Convincente, rica em dados e revisionista, esta obra-prima interdisciplinar encontra falhas em ambos os extremos. Olhar o mundo através desta lente quantitativa revela verdades ocultas que alteram a forma como encaramos o nosso passado, presente e futuro incerto.
Um guia em forma de manualPara que todos os clientes possam entender melhor a filosofia de investimento e como este processo de seleção é posto em prática, a Casa de Investimentos lançou, este ano, o Manual do Investidor. O livro é um guia e também uma promessa para todos os clientes e quer mostrar que temos uma filosofia de investimento bem estruturada. Só as melhores empresas servem, conforme explicou Emília Vieira, CEO e fundadora da Casa de Investimentos.O manual contém as linhas mestras do investimento, de um processo que passa por analisar profundamente estas empresas e fazer uma análise qualitativa, a história da empresa, os seus processos. Não há caminhos rápidos. E rápidos também não são os ganhos. É por isso que a gestora tem um foco de longo prazo, ignorando o ruído de curto prazo.Investir em ações não é um jogo de sorte e azar, realçou Emília Vieira, notando que todos nós somos vítimas dos nossos vieses comportamentais. Cada um valoriza a experiência que tem. Mas, nos últimos mais de 100 anos, o ativo que melhor rentabilizou o capital foram as ações.
The Perfection Trap, de Thomas Curran, professor da London School of Economics, explora como a busca pela perfeição pode tornar-se uma obsessão perigosa que leva ao esgotamento e à depressão - impedindo-nos de alcançar os nossos objetivos.Hoje, o esgotamento e a depressão estão em níveis recorde, impulsionados por uma combinação de intensa competição no local de trabalho e redes sociais opressivamente omnipresentes.A sociedade publicita continuamente a necessidade de querer mais e de ser perfeito.Nesta obra, Curran sugere introspecção e mudanças sociais mais amplas. Mostra-nos o que podemos fazer como indivíduos para resistir à pressão moderna de sermos perfeitos e, ao fazê-lo, conquistarmos para nós próprios uma vida com mais propósito.The Perfection Trap dirige-se a todos aqueles que já se sentiram oprimidos pela necessidade esmagadora competir para além de qualquer racionalidade.
Um livro profundamente relevante de um dos principais escritores financeiros do mundo, The Price of Time explica a situação financeira global atual e como aqui chegámos.No início era o empréstimo, e o empréstimo tinha juros. Há pelo menos cinco mil anos que as pessoas pedem dinheiro emprestado e emprestam dinheiro com juros. Esta prática nem sempre foi popular no mundo antigo, a usura era geralmente vista como exploradora, um caminho potencial para a servidão e escravidão.No entanto, à medida que o capitalismo se estabeleceu a partir do final da Idade Média, as críticas aos juros foram sendo atenuadas porque os juros eram uma recompensa essencial para que os credores aplicassem o seu capital. E o juro desempenha muitas outras funções vitais: incentiva as pessoas a poupar; permite que valorizem ativos preciosos, tais como casas e todos os tipos de títulos financeiros; e permite-nos pôr um preço no risco.Todas as atividades económicas e financeiras acontecem ao longo do tempo. O juro é frequentemente descrito como o preço do dinheiro, mas na realidade é melhor descrito como o preço do tempo: o tempo é escasso, o tempo tem valor, o juro é o valor do dinheiro no tempo.Nas duas primeiras décadas do século XXI, as taxas de juros caíram mais do que nunca. O dinheiro fácil após a crise financeira global de 2007/2008 causou vários efeitos nefastos, incluindo o aparecimento de várias bolhas de preços de ativos, um abrandamento no crescimento da produtividade, desencorajando a poupança e exacerbando a desigualdade e forçando investidores sedentos por rendimento a assumir riscos excessivos.O mundo financeiro encontra-se agora num lugar difícil e Edward Chancellor está aqui para nos explicar porquê.
Qualidade. Todos nós fazemos diariamente julgamentos sobre a qualidade. No entanto, articular uma definição clara de qualidade no contexto do investimento é um desafio. Este livro aborda esse desafio e destila anos de experiência prática de investimento numa sistematização definitiva desta filosofia de investimento.A teoria financeira afirma que os resultados anormais não perduram, que o desempenho excecional rapidamente se tornará mediano. Investir em qualidade implica procurar empresas com os atributos certos para superar essas forças de reversão à média e, mais importante, investir nessas excelentes empresas para o longo prazo.Este livro aponta e analisa as características que aumentam as probabilidades de uma empresa ter sucesso ao longo do tempo - bem como aquelas características que impedem esse sucesso. Ao longo do livro são abordadas uma série de fascinantes casos de estudo reais que ilustram os traços que significam qualidade.
Antes de 1870, a humanidade vivia em extrema pobreza, com um lento arrastar de inovação que não conseguia acompanhar o crescimento demográfico. Então irrompeu uma grande mudança: a inovação acelerou o passo, duplicando as nossas capacidades tecnológicas a cada geração e transformando completamente a economia, uma e outra vez. Os nossos antepassados assumiriam que teríamos utilizado tais poderes para construir uma utopia global. Mas não foi assim. Quando 1870-2010 terminou, o mundo acordou para o aquecimento global; depressão económica, incerteza e desigualdade; e a ampla rejeição do status quo. Slouching Towards Utopia, do economista Brad DeLong, conta a história de como ocorreu esta explosão de riqueza material sem precedentes, como ela transformou o mundo e por que motivo não nos conseguiu levar à utopia. De notável amplitude e ambição, este livro revela que o século passado não foi tanto uma marcha em direção ao progresso, mas sim um cambalear na direção certa.
Nesta obra, John Kay, escreve: O setor financeiro cresceu em demasia, distanciou-se dos negócios normais e da vida quotidiana e transformou-se numa indústria que, na maior parte das vezes, faz negócios consigo própria, fala sozinha, e julga-se a si mesma com os padrões que ela própria criou. E o mundo cá fora adotou esses padrões, salvando as instituições financeiras que nos falharam com a sua ganância e incompetência.Numa análise crítica ao que se tornou o negócio do setor financeiro, Kay realça que o livro pretende apresentar um plano provisório para as autoridades se prepararem para a próxima crise. É hora de voltar ao trabalho: o negócio sério e responsável de gerir o dinheiro das outras pessoas.
Porque o faz nas ações?
Todos os investidores sabem que comprar barato e vender caro é a fórmula segura para ganhar dinheiro. Então, que sentido faz querer vender quando o mercado cai e querer comprar quando sobe?
Comprar num mercado a cair é muito difícil, não apenas para o comum dos investidores, mas sobretudo para os gestores de dinheiro. Primeiro, obriga a que se faça o contrário da maioria dos investidores, o que exige saber o que se está a fazer, disciplina para executar e firmeza de carácter para aguentar opiniões contrárias. Segundo, é muito provável que não se acerte nos mínimos das ações que queremos comprar e que, durante algum tempo, tenhamos que ver as nossas posições negativas, por vezes de forma substancial. Explicar aos investidores, que não gostam de ver o seu património financeiro desvalorizar, que esta é a melhor altura para adicionar novas posições agora baratas ou reforçar as já existentes, porque estão mais baratas, é ainda mais difícil.
Por isso, a maioria das instituições financeiras não faz o esforço para contrariar as decisões, tomadas por impulso e medo, dos investidores. Estas instituições ganham mais quantas mais transações de compra e venda se fizerem. É fácil concordarem e aconselharem a vender e a regressar ao mercado quando as notícias forem boas e tudo estiver a subir. Nessa altura, os investidores pagarão mais por esse conforto. Esta não é uma estratégia de criação de valor consistente e com boas rentabilidades.
Em 16 de outubro de 2008, Warren Buffett recomendou, num artigo no New York Times, que comprassem ações americanas e que ele próprio estava a comprar. Desde esse dia até aos mínimos de mercado, em 6 de março de 2009, o índice das maiores 500 empresas americanas recuou cerca de 26%. Durante este período, o melhor investidor de todos os tempos foi criticado nos canais de televisão, blogs etc. Na verdade, quem comprou quando Buffett aconselhou, teria ganho cerca de 22% até final do ano seguinte. Os investidores que ficaram de fora do mercado acionista porque investiram nos chamados investimentos "seguros" ou porque ficaram à espera de melhores notícias, estiveram sempre à espera do melhor ponto de entrada. Esses tiveram um custo de oportunidade muito grande porque quando tiveram conforto com as notícias positivas que surgiram, já o mercado tinha recuperado mais de 70% das perdas. Isto não aconteceu apenas aos pequenos investidores. Muitos estudos publicados em 2013 e 2014 demonstraram que muitos investidores institucionais falharam o rally nas ações.
O que sabe o Mercado sobre o Valor dos ativos?
A história repete-se tantas vezes. Os investidores cometem sempre os mesmos erros e não conseguem ignorar o preço a que a toda a hora o mercado cota as suas ações. Quando vêm um imóvel a ser vendido por menos 20 ou 30% compram-no e criam até uma tese, por vezes demasiado otimista, para o possível rendimento futuro. A grande diferença é que o mercado financeiro todos os dias apresenta uma cotação para essas ações. Na realidade, enquanto a sessão está aberta, o mercado apresenta muitos preços. A maioria dos investidores não diferencia o preço do valor. Preço é o que está a cotar em determinado momento. Valor é o que intrinsecamente resulta da capacidade da empresa ganhar lucros para o futuro. Não há dúvida que se o tal imóvel cotasse todos os dias num mercado muito líquido, teria variações muito maiores e veríamos a mesma volatilidade que vemos nas ações.
Ou seja, aquela que é uma enorme vantagem, a capacidade de tornar os ativos caros em dinheiro ou comprar ativos muito baratos que produzam bons rendimentos, torna-se para a maioria dos investidores numa enorme desvantagem, porque psicologicamente não conseguem aguentar o mercado a cair e querem "cortar as perdas": "não vou ficar sentado a ver a carteira cair". Nestas alturas, deviam aproveitar para comprar muito valor por pouco dinheiro. A maioria dos investidores no mercado têm um conhecimento muito limitado do que valem os ativos e, por isso, têm medo e ancoram-se no preço, considerando que o mercado está certo, sabe mais do que eles individualmente e é melhor vender.
Na semana passada, em carta aos clientes, Howard Marks, conceituado investidor em valor, dizia o seguinte: "nestas correções, muito investidores imputam inteligência ao Mercado e esperam que ele lhes diga o que se está a passar e o que devem fazer. Este é um dos maiores erros que podem cometer. Tal como Benjamin Graham diz, o Mercado no dia a dia não é um analista fundamental; é um barómetro do sentimento dos investidores. Não devemos levá-lo muito a sério. Os agentes que participam no Mercado têm uma compreensão limitada daquilo que realmente se está a passar em termos de fundamentos económicos e qualquer inteligência que possa estar por trás das suas compras e vendas é anulada pelas suas variações emocionais. Seria errado interpretar as recentes quedas globais como um sinal de que o Mercado "sabe" que se avizinham tempos difíceis."
O Mercado é o conjunto de pessoas que participam nele e do seu conhecimento coletivo. Todos os que transacionam no mercado votam na formação dos preços, pessoas de todos os níveis de conhecimento e habilitações juntam-se para formar o preço. Estas pessoas variam em termos de conhecimento, experiência e emoções. O Mercado não atribui peso superior a umas pessoas em detrimento doutras, especialmente no curto prazo. Quando milhares de pessoas entram em pânico é muito natural que influenciem muitas mais. Como comprar e vender está ao alcance de um telemóvel ou qualquer computador, é natural que não se reflita nas tomadas de decisão.
Sabemos todos que o Mercado é muito mais emotivo do que racional e que quando as notícias são adversas, o pessimismo é exagerado, os média procuram os profetas da desgraça e potenciam ainda mais as quedas.
Qual é o principal objetivo do investimento?
O principal objetivo do investimento deve ser a segurança do capital e obter um retorno muito satisfatório a prazo. Para isso, é preciso comprar barato, comprar coisas cujo preço subestime o valor dos ativos ou lucros subjacentes. Ou seja, procuramos situações em que o Mercado está errado, não está a cotar o verdadeiro valor dos negócios subjacentes destas empresas. Já escrevemos aqui várias vezes que o investidor contrário deve fazer, em geral, o oposto do Mercado, especialmente nos seus extremos.
Charlie Munger, sócio de Warren Buffett, aconselha: "Procure mais valor, em termos de cash flow futuro, do que o que está a pagar. Aja apenas quando tiver uma vantagem. É muito básico. Tem que compreender as probabilidades e ter a disciplina de só investir quando as probabilidades estão a seu favor". Hoje somos da opinião que as probabilidades estão muito favoráveis para o investidor de longo prazo.
O que nos diz um Mercado em queda acerca do Valor?
As desvalorizações nos mercados financeiros dizem apenas o que aconteceu e como os investidores reagem, não o que vai acontecer. Não nos dizem nada acerca de eventos futuros. Seguir a opinião dos comentadores ou previsores também não ajuda a investir melhor. Muitas vezes o mercado não avalia bem os ativos e o seu preço difere muito do valor. O mercado avalia de forma diferente os setores e há os que estão a desfavor com os investidores. O que realmente nos diz o que valem os ativos é a análise profunda dos fundamentais das empresas, do seu modelo de negócio, das suas margens operacionais, da sua capacidade de fortalecer vantagens competitivas, da solidez dos seus balanços, da capacidade dos seus gestores a alocar capital e, consequentemente, da capacidade de gerar lucros para o futuro.
Os investidores médios não avaliam o valor intrínseco no dia a dia e fazem um trabalho pior em tempos de crise. Assim, os movimentos de curto prazo dos preços não nos dizem nada sobre os fundamentos dos negócios. Não se esqueça: os fundamentos económicos de uma empresa não variam muito de dia para dia. As variações diárias dos preços têm mais a ver com as variações nas emoções dos investidores.
Existe apenas uma forma inteligente de investir: saber o que algo vale e comprar abaixo desse preço. Vender porque está a cair não tem nada a ver com o valor do ativo - vende-se apenas porque se tem medo que o preço vá cair ainda mais. Seguir os conselhos do Mercado, do que a maioria está a fazer, não nos ajuda a conseguir resultados acima da média.
O que fazem os melhores investidores do mundo?
Os melhores investidores sabem que as flutuações de preço de curto prazo não são fundamentalmente significativas e que os melhores resultados serão atingidos se as posições forem mantidas ignorando a volatilidade. Ao contrário, a maioria dos investidores vendem pelas mais variadas razões: porque têm medo, porque estão alavancados, porque alguém os aconselha a isso. Vender nestas circunstâncias pode transformar uma flutuação temporária numa perda de capital permanente impedindo que a recuperação subsequente seja totalmente aproveitada. Este, na nossa opinião, é um grave erro que muitos investidores cometem.
Os movimentos futuros dos preços dos ativos só podem ser previstos com base na relação entre o preço e os fundamentais económicos da empresa - os lucros. Dada a volatilidade e a irracionalidade do Mercado no curto prazo, apenas podemos fazer isso no longo prazo.
O verdadeiro investidor não vende nestas correções. Comporta-se como um dono do negócio e mantém a sua atenção no valor que estas empresas têm quando comparadas com o preço a que transacionam. Aproveitam, quando existe dinheiro disponível, para reforçar as suas posições que desvalorizaram e para adicionar bons títulos que recuaram muito de preço. É isso que também temos feito e continuamos a não ver alternativas de investimento tão seguras e rentáveis a prazo.
Desta vez não é diferente e o que realmente tem valor muito acima do preço, voltará a refleti-lo.
1. Swaps "bola de neve"
Na semana passada, foi julgado em Londres o caso dos swaps que envolvem o Banco Santander Totta e as empresas de transportes públicos portuguesas. Matt Levine, da agência noticiosa Bloomberg, escreve mais uma vez sobre o assunto:
"Um dos principais objectivos de um banco de investimento é tirar o risco financeiro das mãos dos clientes. Um determinado cliente tem um risco que não o deixa dormir, dirige-se a um banco de investimento e o banco vende-lhe um produto que lhe retira o risco em troca de uma comissão choruda.
Mas não é possível fazer desaparecer este risco. Quando o banco se responsabiliza pelo risco, para onde é que ele vai? Para os credores do banco? Para os depositantes ou contribuintes? Isso não seria o ideal. A melhor resposta, do ponto de vista do banco, é encontrar outro cliente a quem possa passar o risco. Frequentemente, isto encaixa na perfeição, uma vez que o risco de um cliente pode ser uma oportunidade para outro e assim o banco pode intermediar a compra e a venda do risco (o exemplo clássico são as companhias aéreas que fixam os preços do combustível com as empresas petrolíferas). Às vezes, conseguem encontrar-se clientes que gostam de risco e querem mais: hedge funds agressivos ou fundos de pensões com horizontes de investimento mais longos poderão querer ser portadores de riscos de vários tipos e se um banco consegue tirar risco a outros clientes e transferi-lo para estes fundos, pode ganhar dinheiro e ao mesmo tempo fazer do mundo um sítio melhor.
Mas o mundo não é um paraíso e outra coisa que os bancos de investimento fazem é procurar clientes que não querem mais risco financeiro mas que podem ser convencidos a aceitá-lo mediante uma comissão. Às vezes, isto funciona muito bem mas quando não funciona - quando o risco se materializa - é sempre um pouco embaraçoso. Porque motivo, poderemos interrogar-nos, anda um sofisticado banco de investimento a vender risco financeiro a uma empresa de, por exemplo, transportes públicos?
Se o banco está a retirar risco dos clientes, eles pagam-lhe. Na realidade, pagam a mais. O banco cobra mais do que o valor justo do risco porque é assim que os bancos ganham dinheiro. Se são os clientes a tirar risco ao banco, o banco paga-lhes mas abaixo do valor justo."
A Metro do Porto e mais três empresas portuguesas de transporte públicos contrataram junto do banco Santander uns swaps "bola de neve", já conhecidos como o pior trade do mundo. As empresas deixaram de pagar em 2013 e devem já ao banco 1,3 mil milhões de euros.
Apesar deste ser um negócio absolutamente ruinoso, o tribunal decidiu a favor do Santander e de que as empresas devem pagar. No acordão, o negócio e a sua motivação são explicados: estas empresas, com um endividamento para além do razoável, tinham encargos com juros muito elevados que pretendiam reduzir. Entre 2005 e 2007, foram ao mercado financeiro à procura de uma solução que lhes permitisse baixar esse custo. Eis o que acordaram com o Santander:
1. o Santander pagaria às empresas uma taxa variável;
2. as empresas pagariam ao Santander uma taxa fixa;
3. as empresas pagariam também um spread extra se a taxa variável estivesse acima de 6% ou abaixo de 2%;
4. o spread de cada trimestre seria somado ao spread do trimestre anterior: se a taxa variável em determinado trimestre fosse 6,25%, o spread para esse trimestre seria de 0,25%; se no trimestre seguinte fosse de 6,50%, o spread seria 0,75% (0,25+0,50) e assim por diante. Esta é a "bola de neve".
O swap "bola de neve", em circunstâncias normais, seria muito mais barato que um swap de taxa fixa normal e só em circunstâncias pouco comuns é que seria desfavorável para as empresas de transportes. O problema é que as circunstâncias menos comuns têm maior probabilidade de acontecer do que a teoria nos ensina e, neste caso, as consequências são terríveis. Com a crise financeira de 2008, as taxas caíram para menos de 2% e estão negativas há vários meses. A taxa que o Metro do Porto teve que pagar pelos swaps ultrapassou os 40% e as outras empresas estão com o mesmo problema.
Há muitas questões que se podem colocar neste negócio, desde logo: Os responsáveis nas empresas públicas foram assim tão incompetentes ou jogadores? O Santander agiu de má fé e enganou todos estes técnicos que trabalhavam ( e às tantas ainda trabalham) nestas empresas? Segundo o juíz do caso, Sir William Blair, existem algumas indicações que o Santander agiu talvez com um pouco de má fé:
"É necessário que se diga desde já que existem documentos que, embora não sejam típicos de toda a documentação, não são nada favoráveis à imagem do banco. Uma apresentação de 2005 da Global Treasury (portanto não tendo origem em Portugal) com o objectivo de aumentar a venda de "produtos exóticos" encoraja os funcionários do banco a "Pensar em grande: não se critiquem. recompensem a agressividade".
Apesar do exposto, o juíz concluiu que o banco não cometeu ilegalidade nenhuma e que as empresas portuguesas tinham obrigação de saber no que se estavam a meter.
2. Produtos Estruturados
Em fevereiro de 2010, um estudo da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) reportado pelo Expresso alertava os investidores para o facto dos produtos estruturados oferecerem menos que os depósitos tradicionais. Estes produtos, com exposição à evolução de sectores no mercado de ações, matérias-primas, taxas de juro e outros ativos subjacentes, criam a ilusão ao investidor de poder beneficiar do potencial de valorização destas ações ou produtos com risco muito baixo. A sua remuneração depende da evolução de cenários futuros, podendo garantir a totalidade do capital aplicado ou não. Estes cenários possíveis são construídos atribuindo uma probabilidade muito baixa a eventos desfavoráveis para os investidores. Nesse estudo, a CMVM diz: "a distribuição de pagamentos entre diferentes estados de natureza (cenários) é difícil de apreender pelos investidores, mesmo os mais sofisticados ou com maiores conhecimentos em matéria de natureza financeira".
Estes produtos são publicitados com rentabilidades potenciais elevadas, embora exista "uma forte probabilidade de ocorrência do cenário de não ser pago qualquer retorno ou apenas o retorno mínimo consagrado na ficha técnica do produto", como referece o estudo da CMVM.
Para a estruturação destes produtos, são utilizados produtos derivados muito complexos, o que torna quase impossível ao investidor saber do que se trata e permite à instituição, que o estrutura e vende, ganhar comissões muito elevadas sobre o dinheiro dos seus clientes.
O que isto realmente demonstra é uma grande capacidade comercial destes bancos para conseguirem não perder clientes ou encontrar sempre outros dispostos a perder dinheiro. Das duas uma, ou estas instituições não estão interessadas em manter clientes para o longo prazo ou então julgam-nos incapazes para avaliar se ganharam ou perderam. Como se faz este trabalho, ano após ano, sem deixar de ter com quem fazer negócio?
Estes são dois casos em que a complexidade e a falta de transparência de quem vende estes produtos, devem servir de aviso aos investidores. As instituições financeiras procurarão sempre maximizar os seus retornos à custa dos seus clientes e, muitas vezes, fazem-no sem escrúpulos.
3. Taxas de juro negativas
Vivemos num momento estranho da história com taxas de juro negativas e ninguém consegue dizer quando tempo se manterão. Ao emprestar dinheiro a um excelente pagador poderá ter que o fazer a taxas negativas, ou seja, pagar para emprestar o seu dinheiro. As obrigações de vários governos europeus estão negativas: no caso suíço até aos 10 anos, no alemão até aos 7, no francês e holandês até 5 anos. Cerca de 7 biliões de dólares (biliões europeus) estão a transaccionar com yields negativas. Do mesmo modo, obrigações das melhores empresas europeias têm yields negativas. Os investidores parecem preferir perder dinheiro a tê-lo parado ou alocá-lo a outras classes de activos.
Quem é que comete esta irracionalidade? Na maioria dos casos são os gestores institucionais, os Fundos de Investimento, os Fundos de Pensões e os Planos de Poupança Reforna, que são obrigados, pela própria concepção legal destes produtos, a ter os valores investidos nos chamados "ativos sem risco". São também os investidores particulares que, ao subscreverem fundos de investimento de obrigações, estão a pagar comissões de gestão elevadas para que lhes façam este "magnífico" trabalho e paguem aos emitentes para serem donos desta dívida. Este é um exemplo de como uma falha institucional dos limites mínimos impostos para estes produtos e investidores institucionais os "obrigam" a manter-se investidos em ativos, que, nesta conjuntura extraordinária, não fazem qualquer sentido.
Estas conjunturas são claramente propícias para que os investidores relaxem os critérios a emprestar o seu dinheiro e que o façam a troco de uma taxa um pouco melhor. Acontece ainda, que, não raras vezes, nestes chamados investimentos de risco baixo, encontram-se obrigações da Argentina, e de outras empresas falidas ou em processo de reestruturação das suas imensas dívidas que obrigarão os investidores a perder parte significativa dos valores investidos. Classificar estas obrigações como ativos com baixo risco é ser incompetente, estar distraído ou actuar com má fé.
Em resumo, o atual ambiente de taxas de juro e política monetária cria as condições para que a indústria financeira crie e proponha produtos que não servem os interesses dos investidores.
Escolha uma filosofia simples de valor e mantenha-se fiel a ela nos bons e nos maus momentos.
Investir numa carteira diversificada de acções de excelentes empresas mundiais compradas a desconto significativo do seu real valor - com margem de segurança - é a melhor forma de proteger e valorizar o património financeiro.
O mundo do investimento está virado do avesso. Hoje, ao emprestar dinheiro a um bom pagador, poderá ter que o fazer a taxas negativas, ou seja, terá que pagar para emprestar o seu dinheiro. As obrigações dos governos suíço, alemão, francês e holandês estão negativas até aos 6 a 8 anos e as obrigações das melhores empresas europeias também têm yields negativos. Os investidores parecem preferir perder dinheiro a tê-lo parado ou alocá-lo a outras classes de activos.
O que fizeram ao valor temporal do dinheiro? Perante esta realidade, quais são as melhores alternativas que garantam segurança do capital e retornos satisfatórios?
O que realmente funciona no investimento e tem produzido retornos consistentes é a filosofia de Investimento em Valor. Nas últimas seis décadas, Warren Buffett e Charlie Munger, entre outros excelentes investidores, são a prova do seu enorme sucesso. O investimento em acções de boas empresas mundiais, com balanços sólidos, rentabilidades acima da média, vantagens competitivas duráveis e geridas por gestores capazes e honestos, compradas a desconto do seu valor justo, continua a ser a preferência destes investidores extraordinários.
Numa altura em que o mundo financeiro parece não fazer sentido é ainda mais importante ter uma filosofia de Valor e mantermo-nos fiéis a ela.
Investir em valor é comprar 1 euro por 50 cêntimos, é comprar muito valor com pouco dinheiro. O segredo do investimento em acções pode ser resumido à avaliação profunda dos activos e da sua capacidade de gerar lucros no futuro e à disciplina e paciência para só comprar quando está barato e vender quando o preço justo é atingido.
A generalidade dos investidores tem muita dificuldade em executar uma receita tão simples: comprar quando a maioria está a vender - porque as notícias são más - e vender quando a maioria está a comprar - porque as notícias são boas. Contudo, quase todos fazem o contrário. As instituições financeiras preferem estratégias com mais transações e que lhes permitem ser, não raras vezes, o maior beneficiário da riqueza dos clientes.
Num mundo em que todos sabem o preço de tudo e poucos sabem o verdadeiro valor dos activos, grande parte dos investidores não tem horizonte de investimento nem o temperamento adequado para aplicar esta receita e beneficiar da capitalização dos retornos ao longo do tempo. O investidor individual, que pode e deve ter um horizonte de investimento de décadas, deve expor uma parte significativa do seu património a acções, a classe de ativos que nos últimos 115 anos, melhor remunerou o capital: 9,5% de média anual, apesar de neste período se terem vivido duas guerras mundiais, várias recessões e a grande depressão e a crise financeira de 2008.
Investir numa carteira diversificada de acções de excelentes empresas mundiais compradas a desconto significativo do seu real valor - com margem de segurança - é a melhor forma de proteger e valorizar o património financeiro. "Coleccionar" estes negócios dá-nos o direito aos dividendos - hoje muito superiores às taxas de juro dos depósitos e das obrigações - e aos ganhos de capital a prazo. Estas empresas são verdadeiras máquinas de fazer dinheiro para os seus acionistas.
O segredo do investimento é que não tem segredos: é investir com margem de segurança, comprando a pessimistas e vendendo a otimistas.
O investimento inteligente não é complexo, o que não significa que seja fácil. O que o investidor precisa é da capacidade de avaliar correctamente investimentos devidamente "selecionados".
As melhores empresas são aquelas que conseguem investir largas quantidades de capital com taxas de retorno elevadas, acima da média do sector e do mercado. São estas que nos interessam.
Warren Buffett explica as vantagens competitivas como o instrumento que permite às empresas manterem os concorrentes à margem. Os concorrentes tentarão sempre obter uma parte desses lucros e, na maior parte das vezes, conseguem-no, reduzindo as rentabilidades do negócio. Há, no entanto, empresas que conseguem manter e aumentar as suas vantagens competitivas durante décadas. São as superestrelas, as que produzem sustentadamente uma remuneração acima do seu custo de capital.
Importa determinar o motivo pelo qual a empresa teve sucesso em manter os seus lucros. É fundamental estar numa indústria atraente e beneficiar de uma estratégia que potencie vantagens competitivas.
De uma forma geral, existem cinco formas de uma empresa conseguir uma vantagem competitiva durável:
- Criar uma diferenciação de produto real através de funções, tecnologia ou patentes,
- Criar a percepção de diferenciação do produto através da reputação da marca,
- Cortar custos e oferecer um produto ou serviço similar a um preço mais baixo,
- "Prender" os clientes com custos de mudança elevados e,
- Afastar concorrentes através da criação de barreiras à entrada.
Como podemos avaliar as vantagens competitivas e a sua durabilidade?
- Analisar os lucros históricos e verificar se a empresa tem sido capaz de gerar retornos sólidos nos seus ativos e capitais próprios.
- Se a empresa consegue retornos sólidos e lucros consistentes, o que impede os concorrentes de lhe "roubar" os lucros?
- Quanto tempo durarão estas vantagens competitivas?
- Como competem entre si as empresas desta indústria? Há muitas firmas lucrativas ou apenas se sobrevive?
O investidor deve procurar um conjunto de boas empresas cujos negócios subjacentes tenham fundamentos económicos soberbos, que sejam geridas por gestores capazes e honestos e comprá-las a preços sensatos. Ocasionalmente, estes negócios cotam preços que nos dão margem de segurança para investir. É aí que compramos.
Desta forma, estamos a maximizar algo que conseguimos prever - a performance financeira da empresa - e a minimizar aquilo que não conseguimos adivinhar - o entusiasmo ou pessimismo do mercado.
Lembre-se, uma empresa vale o valor presente de todo o dinheiro que vai ganhar no futuro.
O PIB português é de 179 mil milhões de euros e o espanhol é de 1077 mil milhões, seis vezes maior que o nosso. A Bolsa portuguesa tem uma capitalização de 53 mil milhões e a espanhola de 898 mil milhões, dezassete vezes maior. A diferença poderia ser uma questão de valorização, as acções portuguesas poderiam estar muito mais baratas que as espanholas, mas não é o caso. Quando se comparam métricas como receitas e lucros, percebe-se que a Bolsa portuguesa representa uma fatia muito menor da economia do que nos mercados desenvolvidos, em particular na Europa e nos EUA.
Na última década, a Bolsa portuguesa foi um fracasso. Os accionistas, os verdadeiros donos das empresas, assistiram a uma destruição de valor enorme e a experiência foi terrível: 100 mil euros aplicados no PSI-20 transformaram-se em 74 mil. O mesmo montante aplicado num índice de ações europeias como o MSCI Pan Europe valeria hoje 136 mil; e aplicados em ações dos EUA (no S&P500) seriam 210 mil. De quem foi a culpa? Na verdade, de quase todos: da economia, do sector financeiro, das empresas, dos reguladores, do Estado e, em parte, dos investidores que procuram sempre o lucro fácil.
Na última década, por várias razões, a economia portuguesa deixou de crescer e, pior, entrou numa recessão que pôs tudo em risco. Uma Bolsa é o espelho que reflecte o sector empresarial de uma economia e a sua eficiência. E, nos últimos anos, não reflecte nada de bom. O Estado e as empresas, inebriados pelo dinheiro fácil, a juros baixíssimos, endividaram-se demais. Muitos gestores não tomaram as melhores decisões de alocação de capital e não agiram no melhor interesse dos verdadeiros donos do capital, os accionistas. A PT e o BES, duas das maiores capitalizações, evaporaram-se entre erros de gestão e fraudes contabilísticas. Nestes casos, tudo falhou: corporate governance, os gestores, os reguladores e os accionistas de referência. Sendo estes os casos mais graves, os exemplos de destruição de valor para os accionistas aconteceram em muitas outras empresas.
Por outro lado, tivemos imensas situações em que os minoritários foram o parceiro pobre dos negócios, ficando à mercê dos gestores e dos interesses dos "parceiros maioritários". A Cimpor é um exemplo em que uma pequena fatia de minoritários ficou pendurada numa empresa quase sem float. O resultado é a destruição da cultura de investimento em acções, com investidores desalentados com o massacre a que foram sujeitas as suas poupanças. Não admira que muitos nem queiram ouvir falar em investir em acções. Apesar de a realidade lá fora ser bem diferente, a sua experiência pessoal - as perdas que sentiram e a forma como foram separados do seu dinheiro - não lhes permite beneficiar do investimento naquela que é a classe de activos que, historicamente, melhor remunera o capital.
Nos EUA, desde 2006, aconteceu uma série de desastres: AIG, Lehman, Fannie Mae, Madoff. No entanto, quem investisse 100 mil euros no S&P500 teria agora 210 mil euros. Porquê? Porque, por cada falência, centenas de empresas criaram riqueza e multiplicaram o valor dos accionistas, grandes e pequenos.
A verdadeira função de uma Bolsa de Valores é permitir aos empreendedores o acesso a uma fonte de financiamento e aos investidores, como donos de parte do negócio, participarem no seu sucesso e nos seus lucros. Ou seja, permitir à poupança partilhar das maravilhas do capitalismo.
Segundo o dicionário Webster, "o capitalismo é um sistema económico baseado na propriedade do capital com o investimento a ser determinado por decisão privada e com os preços, a produção e a distribuição de bens e serviços determinados num mercado livre". A isto acrescentaria que o capitalismo deve ser alicerçado na honestidade, decência e confiança. O desafio da Bolsa Portuguesa é recuperar estes valores.
Jason Zweig colaborou com a revista Money, a Time e a CNN. É colunista do Wall Street Journal desde 2008, autor de vários livros, e um acérrimo crítico da "indústria financeira". O seu mais recente livro foi publicado no passado mês com o título "The Devil´s Financial Dictionary".
Zweig, neste livro satírico, avisa que se os investidores querem ser parceiros em vez de alvos, terão que dominar a linguagem que a indústria financeira utiliza para esconder e não revelar informação. Virar as palavras ao contrário e fazê-las significar o oposto não é exclusivo da indústria financeira; esta é a imagem de marca de muitas atividades humanas, personificada pelo Ministério da Verdade no Livro de George Orwell, "1984".
Mas, raramente está tanto em jogo no claro entendimento da linguagem: se formos enganados pela algaraviada da indústria financeira e investirmos no produto errado, o nosso sonho de uma reforma próspera pode ser reduzido a cinzas.
Este livro procura destilar as complexidades, obscuridades e as pomposidades da indústria financeira em "definições" que todos podem compreender. Deixo aqui uma pequena seleção de palavras e expressões a que a indústria financeira atribuiu significados muito peculiares:
Ação, o direito de propriedade de uma fração de um negócio; para muitos "investidores", o direito de jogar um jogo de vídeo. A palavra stock (ação em inglês) tem origem no teutónico stukko que significa tronco - esta antiga metáfora perdeu-se nesta era em que a TV e a internet reduziram a ideia de ação a um símbolo e a uma torrente de cotações num ecrã. O tronco de uma árvore é uma sólida fundação para inúmeros ramos que crescem cada vez mais alto a menos que sejam podados e, nesse caso, têm um novo impulso de crescimento.
Analista, um suposto especialista que, em teoria, estima o valor de uma empresa através da avaliação das suas partes constituintes mas que, na prática, funciona como um vendedor ou membro de uma claque.
Avesso ao Risco, indisponível para correr riscos - para já. Quando o preço dos ativos dobra ou triplica, até o investidor mais avesso ao risco quererá tê-los em carteira. Tal como o historiador económico Charles P. Kindleberger escreveu no seu livro Manias, Panics and Crashes, "Não há nada mais perturbador para o bem estar e bom julgamento de alguém do que ver um vizinho enriquecer".
Comportamento de Rebanho, a tendência dos investidores para ignorar o que está barato e agir como ovelhas, movendo-se em rebanho em vez de pensarem por si próprios. A multidão transmite segurança, por isso os investidores compram ativos, não porque estão subvalorizados mas porque toda a gente os está a comprar; e vendem-nos, não porque se verificou uma alteração nos fundamentos económicos da empresa mas porque todos estão a vender. O comportamento de rebanho é comum nos investidores individuais, nos analistas, nos traders de obrigações soberanas, nos traders de futuros, nos gestores de fundos de ações, nos gestores de hedge funds e nos grandes compradores de ETF's; é comum em todos os setores do mercado de capitais; e em todos os mercados de ações pelo mundo fora.
Compliance, o conjunto de procedimentos através dos quais as instituições financeiras obrigam os seus colaboradores a respeitar a letra da lei e, simultaneamente, os libertam para violar o seu espírito. Os departamentos de compliance das instituições financeiras estão a abarrotar de pessoal. Pelo contrário, os departamentos de consciência, que fazem respeitar o espírito da lei, sofrem de uma perene falta de recursos humanos. Tal como Warren Buffett notou: "Aqueles que seguem a estrada moral, na indústria financeira, encontram muito pouco trânsito".
Confiança, uma qualidade, semelhante à crença religiosa mas baseada em evidências menos fiáveis, que tende a ser elevada quando devia ser baixa e baixa quando devia ser elevada. Períodos de confiança elevada tendem a ser perniciosos; quanto melhor se sentem os investidores hoje, mais se vão lamentar mais tarde. Nessas alturas, poucos conseguem, no entanto, tomar consciência desse facto.
Consultor, na indústria financeira, um especialista que cobra comissões elevadas para aconselhar os clientes a investir em estratégias de investimento que estão na moda e que em breve ficam "ultrapassadas". De forma a gerar mais comissões, o consultor aconselha também os clientes a abandonarem estratégias ultrapassadas que estão prestes a ficar na moda. Os clientes, ano após ano, aceitam de boa vontade estes conselhos uma vez que, desta forma, têm sempre alguém a quem culpar pelos resultados abismais.
Fundo de Investimento, fundo em que os investidores partilham os riscos equitativamente e os gestores partilham as comissões.
Frugalidade, a prática, hoje obsoleta, de gastar menos do aquilo que se ganha; outrora considerada uma virtude, agora é encarada como um perturbador desvio comportamental.
Longo Prazo, na indústria financeira, uma expressão utilizada para descrever um período de tempo que terá início daqui a trinta segundos e terminará, no máximo, dentro de algumas semanas.
Maturidade, aquilo que todas as obrigações têm e que à esmagadora maioria dos traders em obrigações faz falta.
Obrigação, um compromisso contratual em que o devedor se obriga a pagar uma dívida com juros. Os credores que não prestam atenção ao seu investimento arriscam-se, no entanto, a não reaver o seu dinheiro. Bond (obrigação em inglês), um termo de provável origem teutónica, veio a simbolizar um compromisso. Shylock, da peça "O Mercador de Veneza" de Shakespeare, concordou em emprestar a António 3000 ducados por três meses se, nas palavras de Shylock, António fosse ao notário e selasse a sua obrigação. António declarou: "Em dois meses, um mês antes de este empréstimo ser devido - espero ganhar mais de três vezes o valor desta obrigação". Embora António não estivesse a pensar apenas nas recompensas financeiras, a sua declaração torna claro que as obrigações estão, desde há muito, associadas a expectativas pouco realistas.
Paciência, qualidade aparente em formas de vida inferiores como tartarugas e caracóis mas rara entre humanos que investem em ativos financeiros. Cada compra ou venda de um ativo financeiro acarreta custos de transação e, a maioria, impostos. Numerosos estudos comprovam que, quanto mais transações os investidores fazem, menor é o seu retorno. Mas a vontade de enriquecer depressa é tão visceral que apenas os investidores mais disciplinados conseguem cultivar suficiente paciência para atingir os seus objetivos. Os outros conseguirão apenas empobrecer mais depressa. Tal como Ralph Waldo Emerson escreveu no seu ensaio. "Prudência": "Se a colmeia é perturbada por mãos estúpidas e apressadas, em vez de mel, oferece abelhas."
Performance, um espetáculo montado para entreter a audiência e satisfazer os egos dos "artistas". Há muito tempo e, por certo, não por coincidência, a indústria financeira escolheu esta palavra para descrever aquilo que procura para os seus clientes. Infelizmente, os membros da audiência sentir-se-ão entretidos enquanto que os seus portfólios perderão dinheiro. Os egos dos gestores, pelo contrário, não sofrerão qualquer dano.
Preço, um número que frequentemente é uma ilusão e, quase sempre, uma distração. O preço dado a uma ação ou outro ativo financeiro muda com uma velocidade frenética - milhares de vezes ao dia - causando danos intelectuais corrosivos. Frequentemente tem pouco a ver com o valor embora seja mais interessante e mantenha os media financeiros bastante ocupados. O fluxo contínuo e a precisão espúria do preço provoca uma ilusão de certeza.
Produto Estruturado, produtos de investimento especialmente estruturados para serem lucrativos para os emitentes e incompreensíveis para os clientes.
Risco, a probabilidade de um investidor não saber o que está a fazer mesmo que pense que sabe; pré-requisito para perder mais dinheiro num período de tempo mais curto do que alguma vez imaginaria possível. Elroy Dimson, professor de finanças da London Business School, definiu filosoficamente o risco desta forma: "Risco significa que mais coisas podem acontecer do que aquelas que realmente acontecem." No fim de contas, o risco é a diferença entre o que os investidores pensam que sabem e o que acabam por aprender - sobre os seus investimentos, sobre os mercados financeiros e sobre si próprios.
Rumor, na indústria financeira, o equivalente a um facto.
Seguro, um termo utilizado para promover um investimento que está prestes a explodir.
Valor, uma fonte de enorme confusão, tal como quando os jornalistas escrevem: "A ação perdeu 20% do seu valor na sessão de hoje...". Na realidade, não perdeu 20% do seu valor; perdeu sim 20% do seu PREÇO. O valor do negócio subjacente variou, com certeza, muito menos - se é que variou. O preço é medido momento a momento; o valor desenvolve-se ao longo de meses e anos. Tal como Benjamin Graham ensinou Warren Buffett: "Preço é o que paga, valor é o que recebe".
O valor é o que um ativo vale para um comprador sensato com acesso a toda a informação necessária para a avaliação, com base no dinheiro que o ativo gerará ao longo de toda a sua vida. O valor de uma ação depende do potencial de criação de dinheiro do negócio subjacente, que pouco varia de trimestre para trimestre e muito menos de dia para dia.
Valor Intrínseco, o que uma ação vale com base no valor presente de todo o dinheiro que se espera que o negócio subjacente irá gerar no futuro, levando em conta quanto o seu dinheiro renderia nesse período de tempo e o facto incontornável que esses cash flows futuros estão envoltos em incerteza. Uma vez que o valor intrínseco é apenas uma aproximação e deverá ser visto como um intervalo de estimativas, a maioria dos investidores prefere focar-se no preço que, minuto a minuto, é absolutamente preciso - e muitas vezes errado.
Desejo um Próspero Ano Novo e mais Investidores em Valor.
"Os investidores perdem muito mais dinheiro a prepararem-se para correções ou a tentar antecipar correções do que nas correções propriamente ditas."
-- Peter Lynch
Apesar da valorização de alguns dos principais índices, os últimos tempos não têm sido fáceis para os investidores e parece que tudo conspira para que tomem as piores decisões possíveis:
1 - taxas de juro a zero e quase ausência de retorno em investimentos de taxa fixa;
2 - excesso de oferta de produtos financeiros e conselheiros/consultores financeiros - os chamados "ajudantes" - dispostos a abraçar qualquer estratégia "fácil" e com resultados rápidos;
3 - a falta de paciência para aguardar que os investimentos deem frutos;
4 - incertezas, que existem sempre, que por vezes não são ignoradas.
Nos primeiros dias de janeiro, alguns profetas da desgraça previram quedas de mais de 50% nos mercados acionistas. Apesar da maioria das pessoas não saberem quem são, o que fazem ou o que ganham com tais opiniões e sobretudo, se alguma vez estiveram certos ou se ganharam dinheiro para os seus clientes, tomaram decisões de investimento e de vendas de ativos, motivados por estas opiniões.
Para tornar tudo mais difícil, o ano de 2016 está marcado por dois eventos relevantes: em junho, a consulta popular no Reino Unido sobre a permanência ou saída da União Europeia - que resultou no Brexit - e pelas eleições americanas, a realizar já no dia 8 de novembro.
O ser humano está geneticamente programado para prestar mais atenção às más notícias. Os nossos antepassados nas savanas, quando ouviam um restolhar na erva, imaginavam sempre que era um predador e não apenas o vento. Esta era uma arma de sobrevivência: se se assustassem e fosse apenas o vento, não havia problema nenhum. Pelo contrário, se não prestassem a devida atenção e fosse um leão, perderiam a vida. Por isso, são impelidos para a ação, mesmo que posteriormente se verifique que esta era desnecessária.
Este comportamento verifica-se diariamente nos mercados: muitas vezes sem qualquer justificação os investidores entram em pânico e vendem as suas posições. Esta é uma forma de estancar as perdas potenciais dos seus investimentos. Outra abordagem muito comum é a tentativa de adivinhar a melhor altura para sair ou entrar, com base na probabilidade de determinados acontecimentos se verificarem. Preferem tomar decisões sobre acontecimentos que não conseguem controlar do que agir sobre aquilo que conseguem avaliar - a qualidade dos ativos.
Um jogo de soma negativa
Foi o que fizeram no dia em que se conheceram os resultados que confirmaram a saída do Reino Unido da União Europeia. Os mercados abriram com quedas muito elevadas porque os investidores foram surpreendidos pelos resultados. No entanto, a pressão vendedora demorou apenas dois ou três dias e passadas duas semanas os mercados haviam recuperado e alguns ultrapassado os máximos anteriores. Muitos investidores perderam nas comissões de transação e regressaram ao mercado para comprar a preços mais altos.
A história tem mostrado que as eleições não têm um impacto duradouro na performance global dos mercados. A eleição poderá causar alguma volatilidade de curto prazo. No entanto, está comprovado que manter a disciplina é a estratégia de longo prazo mais acertada. Uma análise de como o mercado se comportou durante diferentes governos - democratas e republicanos - desde 1960 revela que, no longo prazo, não existem diferenças significativas.
Que impacto terão as eleições nos seus investimentos?
Nas últimas semanas a preocupação dos investidores tem estado centrada nos resultados das eleições americanas. Motivados pelo efeito de surpresa do referendo no Reino Unido, muitos reduziram a exposição a ações para a eventualidade do mercado cair caso o candidato republicano ganhe as eleições.
E se não ganhar? E se os mercados não caírem? Voltam a entrar a que preços?
A história tem mostrado que as eleições não têm um impacto duradouro na performance global dos mercados. A eleição poderá causar alguma volatilidade de curto prazo. No entanto, está comprovado que manter a disciplina é a estratégia de longo prazo mais acertada.
Uma análise de como o mercado se comportou durante diferentes governos - democratas e republicanos - desde 1960 revela que, no longo prazo, não existem diferenças significativas. Ambos os partidos conseguiram retornos anuais na ordem dos 12%.
Um bom conselho raramente muda
De uma forma geral, os investidores não conseguem seguir uma estratégia de investimento sensata e de longo prazo. São seduzidos pela atração do trading constante, caro e pouco produtivo. A consequência quase inevitável são resultados desapontantes.
Os bons conselhos raramente mudam enquanto que os mercados mudam constantemente. A tentação de agradar é quase irresistível. E embora as pessoas precisem de bons conselhos, o que querem ouvir são conselhos que soem bem, os que confirmam a sua crença ou opinião.
O conselho que soa melhor no curto prazo é sempre o mais perigoso no longo prazo. Todos querem o segredo, a chave, o mapa para o caminho rosado que leva ao El Dorado: o investimento mágico de alto retorno e baixo risco que dobra o dinheiro em muito pouco tempo. Todos querem apanhar os retornos dos produtos da moda e evitam aquilo que caiu em desgraça. O jornalismo financeiro, assim como as instituições financeiras, seguem um princípio básico do marketing: quando os patos grasnam, dêem-lhes de comer.
As emoções que nos condicionam
"Espíritos animais" é a expressão que John Maynard Keynes utilizou no seu livro de 1936, "A Teoria Geral do Emprego, Juro e Dinheiro", para explicar as emoções que influenciam e condicionam os nossos comportamentos e decisões: "A juntar à instabilidade devida à especulação, existe a instabilidade devida à característica da natureza humana que dita que uma grande proporção das nossas atividades depende de impulsos espontâneos e não de expectativas matemáticas ou económicas. Provavelmente, a maioria das nossas decisões apenas pode ser encarada como resultado de espíritos animais, isto é, uma tendência espontânea para a ação ao invés da inação e não como o resultado de uma média ponderada de benefícios quantitativos multiplicada pelas probabilidades quantitativas".
Segundo os neurocientistas, há um conjunto de situações em que somos mais suscetíveis de tomar decisões irracionais e que automaticamente nos conduzem a decisões emotivas: quando o problema é complexo, quando a informação está em permanente mudança e aparece de forma incompleta e confusa, quando os objetivos estão mal definidos, quando o stress é elevado, quando as decisões dependem da interação com terceiros e quando muito está em jogo. As decisões de investimento com que aforradores se deparam encaixam bem nas circunstâncias descritas.
Haverá sempre incertezas políticas, económicas e outras. E depois? A incerteza pode-nos ser favorável.
Haverá sempre opiniões contrárias, por isso é que há milhões de vendedores e compradores a fazer negócio. No entanto, nós sabemos que ter uma mente independente, por vezes contrária, é fundamental. Não nos tornamos investidores em valor para sentir a validação dos outros. Tornamo-nos investidores em valor porque esta é a melhor e talvez a única estrela polar para todos aqueles capazes de se manterem pacientes, orientados para o longo prazo e avessos a riscos desnecessários.
O verdadeiro investidor em valor tem cadeira permanente no mercado financeiro.
Ao longo dos últimos 6 anos o que fizemos foi manter firme a nossa estratégia de criação de valor. Porque razão haveríamos de vender ações em 2011 quando a agência de rating S&P baixou o rating da dívida americana? Os mercados recuaram temporariamente 18 a 20%. Nós aproveitámos para comprar ações americanas que estavam baratas: Walmart, Wells Fargo, Pfizer, General Electric, Microsoft, entre outras.
Porque razão haveríamos de vender no passado dia 24 de agosto de 2015 quando ações como a Johnson & Johnson caíram 20% sem qualquer notícia que tivesse a ver com a empresa? Nós aproveitamos para comprar esta e outras empresas que, passadas algumas horas, tinham recuperado grande parte das perdas.
Porque razão haveríamos de vender ações no dia seguinte ao referendo no Reino Unido que deu a vitória ao Brexit? Nós estivemos a comprar. Alguns dias depois, os mercados estavam acima dos níveis anteriores ao referendo.
Peter Lynch, que geriu o fundo Magellan entre 1977 e 1990, ganhou em média 29,2% ao ano. Numa das suas célebres citações disse:
"Não me recordo de alguma vez ter visto o nome de alguém que prevê o mercado na lista anual das pessoas mais ricas do mundo da Forbes. Se fosse realmente possível prever correções do mercado, acho que alguém já teria feitos milhões com isso".
A reação dos mercados financeiros ao voto britânico foi muito forte. Durante a sessão asiática, a libra caiu mais de 10% face ao dólar cotando mínimos dos últimos 30 anos e a queda face ao yen foi ainda mais acentuada. Os investidores reagem muito mal a surpresas e odeiam a incerteza que o resultado do referendo origina.
Os jornalistas e comentadores de televisão falam como se tivessem a roupa interior a arder e conseguem incutir ainda mais ansiedade e vontade de agir nos investidores, profissionais ou não. A surpresa faz com que sintamos mais urgência em agir do que o habitual mas isso é uma ilusão.
As questões e opiniões sobre que impacto económico o Brexit terá para os investidores e para o crescimento económico, que consequências políticas emergirão e como afetará a circulação de pessoas e bens são escalpelizadas com todo o tipo de cenários. É muito provável que o que na realidade vai acontecer seja significativamente diferente. Contudo, a especulação tomou conta do discurso e da ação nos mercados financeiros.
Na sexta-feira, dia 24, a revista inglesa The Economist escrevia o seguinte: "Os investidores iniciaram a fuga para a segurança das obrigações do tesouro americano. Com a abertura dos mercados na Europa, os principais índices seguiram a tendência asiática e caíram cerca de 10%. Mas as quedas nos mercados asiáticos são também, em larga parte, um julgamento preliminar do impacto do referendo na economia mundial. Claro que, muitas vezes, os mercados reagem excessivamente. A Grã-Bretanha representa apenas 3,9% da economia mundial; não é suficientemente poderosa para influenciar o clima económico mundial da mesma forma que os Estados Unidos ou a China. No entanto, a economia americana tem estado letárgica e a capacidade da China de escapar da sombra da sua gigantesca dívida tem causado grandes preocupações. A economia britânica tem grande influência na Europa, onde é uma consumidora fiável num continente que privilegia mais a poupança. Qualquer disrupção ao crescimento europeu, nesta altura, não é particularmente bem vinda. O Banco de Inglaterra declarou hoje que, "Estamos bem preparados para isto". Poderá cortar as taxas para 0,5%. Poderá até reativar o programa de recompra de ativos, comprando obrigações com dinheiro acabado de imprimir. No entanto, uma recessão em Inglaterra é altamente provável. O investimento das empresas será atingido pela incerteza quanto ao acesso tanto ao mercado único como a outros locais onde a Grã-Bretanha aproveitou a boleia dos acordos comerciais negociados pela União Europeia. Em tempos de agitação, as empresas adiam todas as despesas. O mesmo é verdade para os consumidores."
De tantas opiniões ouvidas nos últimos dias, o que seguramente se pode concluir é que ninguém sabe exatamente o que se vai passar. Sabe-se contudo, que as diversas autoridades monetárias estão preparadas para agir, mantendo o dinheiro muito barato e dando liquidez ao sistema financeiro para que as grandes variações cambiais e nos preços de matérias primas e ativos financeiros, possam acontecer sem que os choques causem maiores danos ou pânico. Nas grandes crises, o maior problema é a falta de liquidez, as "portas" estreitas por onde o rebanho quer sair ou entrar ao mesmo tempo.
O preço a que se faz negócio nessas situações é sempre muito desfavorável: os investidores pagam caro o otimismo e pagam barato o valor que o pessimismo gera.
Jason Zweig, colunista do Wall Street Journal e defensor do Investimento em Valor, escreve "Quanto mais doi, mais pode ganhar: Investir depois do Brexit". Realça a queda tão abrupta do ETF Vanguard FTSE Europe, que num só dia caiu 11,3%, a maior variação desde a sua criação em junho de 1990 e ultrapassando a queda de outubro de 2008 em plena crise financeira.
Zweig, admirador do trabalho do Professor de Cambridge Elroy Dimson, cita-o no artigo: "a surpreendente volatilidade que todos sentimos na sextafeira passada seria quase impercetível se se tivesse manifestado num horizonte temporal mais alargado". O Professor Dimson é uma autoridade mundial no estudo dos retornos de investimento de longo prazo nas principais classes de ativos e um dos autores do livro "O Triunfo dos Otimistas - 101 anos de Retornos de Investimentos Globais". Neste livro, concluem que os otimistas triunfaram e os otimistas foram aqueles que investiram em ações, a classe que nesse período melhores retornos proporcionou a nível mundial.
O Professor Dimson diz ainda, "para os que estão dispostos a ser investidores ativos e têm o horizonte de tempo para uma abordagem de longo prazo, tempos como este apresentam uma oportunidade"
Certamente que os investidores têm muitas questões que gostariam de ver respondidas: quando é que vamos ter o retorno? Onde investir? O que devo verdadeiramente recear nos investimentos que tenho em carteira? Quem devo ouvir?
1. Continua o assalto à poupança.
Com as taxas perto de zero ou negativas em muitas economias desenvolvidas, com a dívida pública alemã a cotar um rendimento negativo (yield) mesmo para maturidade a 10 anos, os investidores e aforradores que foram disciplinados e que pouparam, veem agora ser "transferida" parte da sua riqueza (o rendimento justo pelas suas poupanças) para quem se endividou demais, gastou o seu e o que lhe foi emprestado.
Quem investiu em em dívida alemã no início dos anos 80, teve rendimentos perto de 10% ao ano. Este foi o cenário um pouco por todo o mundo porque as taxas caíram de 15 ou 16% para quase zero. Ao longo destes 35 anos, os rendimentos foram caindo para mínimos de -0,122% às 16h10 de dia 29 de junho. Ou seja, segundo a opinião de Henrik Bohme, jornalista da Deutsche Walle (agência noticiosa que faz parte de um canal estatal) que escreve "Opinião: A maior bolha de todos os tempos", a propósito do investimento em obrigações. O jornalista diz mesmo "a Alemanha entra para o clube dos países em que se recompensa quem contrai dívidas. A partir do momento em que o BCE disse que "fará o que for necessário" para salvar o euro, iniciou-se a maior desapropriação dos aforradores em tempos recentes. Ou seja, quem investe neste e noutros títulos de dívida, com yields negativos, está no momento zero a entrar num investimento que dá prejuízo. Também já ouvimos recentemente que, para conservar dinheiro, os investidores terão que aceitar yields negativas. Mas o que é isto? A yield negativa não significa que se vai perder dinheiro nesse investimento? Então o que leva o investidor a fazer tal disparate? Porque não sabe o que está a fazer? Porque confiou a um consultor ou gestor de dinheiro o seu património? Porque tem medo e estes são os únicos investimentos que julga seguros? Porque tem medo de ter dinheiro parado (depósitos à ordem ou a prazo) exposto ao balanço dos bancos e ser chamado mais tarde a assumir perdas da instituição financeira?
2. A grande oportunidade.
Hoje os investidores têm neste contexto tão difícil uma grande oportunidade para traçar uma estratégia a prazo que preserve o capital e permita um retorno satisfatório, alocando gradualmente mais capital a ações de empresas sólidas que continuarão a criar riqueza e a produzir lucros.
Princípios fundamentais do investimento:
1. Não precisamos de ser especialistas para conseguir retornos satisfatórios no investimento. Devemos reconhecer as nossas limitações e seguir um caminho que garanta que as coisas corram razoavelmente bem.
2. Concentre-se na produtividade futura do ativo em consideração. Se não sentir conforto ao fazer uma estimativa "por alto" dos rendimentos futuros do ativo, esqueça-o. É fundamental compreendermos as ações que levamos a cabo.
3. Se, pelo contrário, nos concentrarmos num possível futuro aumento de preço do ativo que estamos a pensar adquirir, estamos a especular. Não conhecemos especuladores bem sucedidos. O facto de um ativo ter aumentado de preço no passado recente nunca é motivo para o comprar.
4. Pense apenas no que os investimentos que faz vão produzir, na sua qualidade e rendimento associado. Não se preocupe com as variações diárias. Mantenha-se firme na estratégia de valor. 5. Formar opiniões macroeconómicas ou prestar atenção às opiniões e previsões macroeconómicas de outros é uma perda de tempo. Na realidade, é perigoso porque pode baralhar a nossa perceção dos factos que são realmente importantes.
Procure prestar atenção aos melhores investidores do mundo, os que ganharam ao longo de décadas excelentes retornos para os acionistas e para os Clientes.
3. Se tivéssemos um canal de televisão, na sexta-feira passada poderíamos abrir desta forma o serviço de notícias:
Bom dia Sr. Telespectador, temos excelentes notícias para si. Se tem um horizonte de investimento de 4, 5 ou mais anos, disponibilidade para investir e quer garantir o seu poder de compra no futuro, aproveite este desconto: os mercados financeiros estão a cair e algumas das ações que já estavam baratas, estão ainda mais baratas. Desta vez não é o downgrade da dívida americana, a crise de dívida grega, os possíveis conflitos entre a Rússia e a Ucrânia, ou a queda dos índices de ações da china. Desta vez, para surpresa geral, o Reino Unido votou pela saída da União Europeia.
Mantenha-se sintonizado connosco, procuraremos ao longo do dia apresentar-lhe os saldos nos vários mercados, de onde teremos notícias dos nossos enviados especiais (investidores com histórias de décadas a criar valor).
Não sabemos o que mercado fará amanhã, daqui a um mês ou daqui a um ano. Por isso prevenimo-nos, avaliamos ativos de grande qualidade e temos sempre a nossa watch list recheada de ativos de grande qualidade para que, nestas situações, possamos transmitir-lhes a informação que precisa para tomar decisões reflectidas, com segurança e consistentes com uma estratégia de valor.
Note bem que não estamos a dizer-lhe que já caiu tudo e que a partir daqui subirá. E agora, já de seguida, a previsão metereológica, essa sim com previsões muito mais certeiras do que as dos analistas dos mercados financeiros e de grande parte dos comentadores dos principais canais de notícias financeiras. A capacidade para aguentar o choque da surpresa é o que separa os grandes investidores de todos os outros.
Todos sabemos que os políticos, gestores de dinheiro, empresários e gestores de curto prazo procuram vida fácil, e nos últimos dias temos visto que o "Brexit" vai ter as costas largas e servir de desculpa para tudo.
O Reino Unido representa 3,9% da economia mundial, é a quinta maior potência. A sua moeda, a libra, tem nesta altura um peso de 4,9% nas reservas mundiais de moeda. Apesar de não ter o mesmo impacto na economia mundial que têm os EUA ou a China, a saída da União Europeia terá certamente impacto na economia mundial. O verdadeiro impacto económico, político e social irá saber-se a prazo. Para já, a especulação assumiu o comando nos mercados financeiros e na retórica dos políticos.
Hoje, 30 de junho, os mercados já recuperaram grande parte das quedas verificadas nos dias 24 e 27. No entanto, os mercados cambiais continuam muito perturbados com grandes quedas da libra face ao dólar, ao iene e ao euro. A organização mundial de comércio (WTO) veio alertar para o aumento do protecionismo no G20 e para os desafios que coloca ao investimento global. A livre circulação de pessoas e bens será afetada e terá custos para os negócios. Muitas decisões de alocação de capital nas empresas serão adiadas.
Os mercados odeiam a incerteza. Os bancos centrais estão em alerta para "assistir" os mercados e assegurar a liquidez do sistema bancário. O Banco de Inglaterra está disposto a imprimir dinheiro e a baixar as taxas de juro. A Reserva Federal dos EUA adiará a subida de taxas de juro e o BCE está disponível para aumentar o programa de recompra de dívida e injetar mais liquidez nos mercados financeiros.
Este é um dos primeiros efeitos do 'Brexit': vamos continuar a seguir políticas que não põem um custo no valor do dinheiro e que só vêm agravar a irracionalidade nos mercados obrigacionistas. Esta bolha também rebentará um dia. Além das obrigações de vários governos europeus, onde se destaca a Alemanha com juros negativos até aos 10 anos, as obrigações das empresas europeias com melhores níveis de 'rating' cotam com taxas de rendimento negativas até 3, 4 e 5 anos. Quando não se recebe juros por um investimento a 10 anos, não é fácil de perceber que algo está tremendamente errado nesta classe de ativos? Continuamos a assistir ao maior "assalto" à poupança de que há memória e à recompensa de quem contrai dívidas e é indisciplinado.
Ou seja, com esta incerteza quanto ao futuro, a fuga dos investidores para as obrigações e a disposição dos bancos centrais em acomodar os mercados, acentuou-se ainda mais a discrepância que se tem vindo a observar na última década: o dividend yield do MSCI Pan Europe ronda os 4% enquanto os títulos a 10 anos do governo alemão conferem uma ligeira perda aos seus detentores até à maturidade. O diferencial entre os dois é o maior do histórico do índice e ultrapassou agora o valor registado durante a crise financeira de 2008, em que se verificou o "cruzamento de 'yields'" (o rendimento dos dividendos das ações passou a ser superior ao dos governos de longo prazo). Mas os valores atuais são de tal forma extremos que muito dificilmente as ações não baterão as obrigações na próxima década.
Nos próximos tempos é de esperar uma quantidade anormal de ruído. Vai-se ouvir de tudo um pouco: negociações de saída, cenários de recessão, empresas a sair do Reino Unido, segundo referendo, países que querem seguir o Reino Unido. Os analistas vão continuar a falhar nas suas previsões. Para enfrentar esta incerteza vai ser fundamental manter um passo firme e uma estratégia consistente de valor nas decisões de investimento. Estamos convictos que estas perturbações vão continuar a gerar oportunidades para comprar boas empresas a grandes descontos do seu valor intrínseco. Para nós, isto não muda nada. É preciso manter o rigor na avaliação, a disciplina no desconto a que queremos comprar face ao valor e a paciência para que o investimento mostre todo o seu potencial de criar riqueza.
Entretanto, todos sabemos que os políticos, os gestores de dinheiro e os empresários e gestores de curto prazo procuram vida fácil, e nos últimos dias temos visto que o 'Brexit' vai ter as costas largas e servir de desculpa para tudo: para que políticos populistas e sem escrúpulos se demitam de governar com rigor, para que gestores de dinheiro sem dever de fidúcia e horizonte de investimento não assumam as suas responsabilidades e façam o seu trabalho no melhor interesse de todas as partes. Ao invés de alicerçarem as relações com aqueles que representam em honestidade e confiança, transformam-se em ilusionistas e vendilhões.
A mediocridade será assegurada. A culpa vai ser do "Brexit".
Há uns anos, John Kay, reputado economista escocês e colunista do Financial Times, relatava num artigo de opinião a parábola do Touro, que transcrevo abaixo:
"Em 1906, o grande estatístico Francis Galton assistiu, numa feira rural, a um concurso onde se tentava adivinhar o peso de um touro. Participaram oito centenas de pessoas. Galton, como estatístico que era, fez testes estatísticos sobre os números. Descobriu que a estimativa média era extremamente próxima do peso real do touro. Esta história foi contada por James Surowiecki, no livro "The Wisdom of Crowds".
Poucas pessoas sabem o que se passou de seguida. Alguns anos mais tarde, a balança do concurso parecia estar a ficar cada vez menos fiável. A reparação seria muito dispendiosa; no entanto, o organizador da feira teve uma idéia brilhante. Uma vez que os concorrentes eram tão bons na estimativa do peso do touro, era desnecessário reparar a balança. O organizador simplesmente recolheria as estimativas de todos os concorrentes e calcularia a média.
Da mesma forma, a psicologia do investimento em rebanho movimenta-se num padrão regular, tal como um pêndulo. Do optimismo ao pessimismo; da credulidade para o cepticismo; do medo de perder oportunidades ao medo de perder dinheiro; da vontade de comprar à urgência em vender.
Surgiu, no entanto, um novo problema. Uma vez que estes concursos eram cada vez mais populares, alguns participantes tentavam fazer batota, ao ponto de procurarem conseguir informações privilegiadas do agricultor que tinha criado o touro. Temia-se que, se algumas pessoas tivessem essa vantagem, as outras se recusariam a participar nos concurso de adivinhação do peso. Com apenas alguns participantes, não se poderia confiar na sabedoria da multidão. O processo de descoberta do peso poderia ficar comprometido.
Decidiu-se então introduzir regras rigorosas. O agricultor foi convidado a preparar boletins trimestrais sobre o desenvolvimento do seu touro. Estes boletins eram publicados nos portões do mercado para que todos pudessem ler. Se o agricultor partilhasse com amigos qualquer outra informação relevante sobre o animal, esta deveria ser também publicada nos portões do mercado.
Qualquer pessoa que participasse no concurso com conhecimento, sobre o touro, que não estava disponível para todos, seria expulso do mercado. Desta forma, seria mantida a integridade do processo de adivinhação do peso.
O conteúdo destes anúncios regulatórios era escrutinado por analistas profissionais que aconselhavam os seus clientes sobre as suas implicações.
Pagavam almoços e jantares aos agricultores; mas, a partir do momento em que os agricultores foram obrigados a ter cuidado com as informações que divulgavam, essas refeições tornaram-se menos frutíferas.
Alguns analistas mais inteligentes perceberam que a informação sobre a nutrição e a saúde do touro não era assim tão útil. Uma vez que já não se pesava o touro, a chave para o sucesso não era adivinhar corretamente o seu peso, mas sim adivinhar corretamente o que as outras pessoas iriam adivinhar. Ou o que os outros imaginariam que os outros iriam adivinhar. E assim por diante.
Algumas pessoas, como o velho agricultor Buffett, tentaram chamar a atenção para o fato de que os resultados deste processo estarem cada vez mais divorciados da realidade da criação de touros. Foi completamente ignorado. A verdade é que os animais do agricultor Buffett pareciam saudáveis e bem alimentados e a sua situação financeira era cada vez mais próspera; mas Buffett era um simples camponês que não compreendia como os mercados funcionavam.
Foram criados organismos internacionais para definir as regras de avaliação do peso do touro. Havia dois padrões concorrentes - Os Princípios de Pesagem do Touro Geralmente Aceites e os Padrões Internacionais de Pesagem do Touro. Ambos concordam, no entanto, com um princípio fundamental, consequência da necessidade de eliminar o papel da subjetividade individual. O peso do touro foi definido oficialmente como a média de todas as estimativas.
Por vezes, havia poucas ou mesmo nenhumas estimativas do peso do touro. Mas rapidamente se resolveu esse problema. Matemáticos da Universidade de Chicago desenvolveram modelos a partir dos quais era possível calcular a média das estimativas, se essas estimativas tivessem sido levadas a cabo. Deixou de ser necessário qualquer conhecimento de pecuária, apenas era preciso um computador potente.
Por esta altura, havia já uma enorme indústria de adivinhadores de peso profissionais, organizadores de concursos de adivinhação de peso e consultores que ajudavam, a troco de uma comissão, as pessoas a refinar as suas estimativas. Algumas pessoas sugeriram que seria mais barato reparar a balança. Foram, no entanto, ridicularizadas. Porque motivo se regressaria a um tempo em que se dependia apenas de uma pessoa quando podemos beneficiar da sabedoria agregada de tantas pessoas inteligentes? Entretanto, o touro morreu. No meio de toda esta atividade, ninguém se lembrou de o alimentar".
A importância da balança
John Kay ilustra, com a parábola do touro, que há uma complexidade totalmente desnecessária nos mercados financeiros e cujo resultado final para o investidor é praticamente zero ou negativo. Tanta atividade, tanta sofisticação, tantos recursos dispendidos e no final o touro morre?
A melhor fundação para um investimento de sucesso é o valor. A balança permite saber o peso, o que vale e o que se poderá extrair do bem. Temos que ter uma ideia sólida do que vale aquilo que estamos a pensar comprar.
A nossa perspetiva de valor tem que ter base em alicerces fatuais e analíticos sólidos. Só assim, saberemos quando comprar ou vender. Apenas uma forte ideia do valor pode dar-nos a disciplina necessária para realizar lucros num ativo altamente valorizado que todos acham que vai continuar a subir ou para manter em carteira e comprar mais durante uma crise mesmo que os preços caiam todos os dias. Obviamente, para que estes esforços dêem fruto, a nossa estimativa de valor não precisa de ser exata. Deve, no entanto, ser aproximada.
A relação entre preço e valor guarda a chave para o sucesso no investimento. Comprar abaixo do valor é o caminho mais fiável para o lucro. Pagar acima do valor raramente funciona.
No curto prazo, o mercado é uma máquina de votar - reflectindo um 'recenseamento' que requer apenas dinheiro e não inteligência ou estabilidade emocional mas no longo prazo, o mercado é uma máquina de pesar - uma balança.
Para além da Balança
A relação entre preço e valor é influenciada pela psicologia e fatores técnicos, forças que podem dominar os fundamentais no curto prazo. As variações extremas nos preços devidas a estes fatores fornecem oportunidades para grandes lucros ou grandes erros. Para conseguir os primeiros e evitar os últimos, devemos manter-nos fiéis ao conceito de valor e lidar com a psicologia e os fatores técnicos.
As economias e os mercados têm ciclos positivos e negativos. Qualquer que seja a direção que tomam em determinado momento, as pessoas acreditam que essa direção será eterna. Esta forma de pensar é muito perigosa uma vez que envenena os mercados, causa avaliações extremadas e inflaciona bolhas e pânicos aos quais muitos investidores não resistem.
Da mesma forma, a psicologia do investimento em rebanho movimentase num padrão regular, tal como um pêndulo. Do otimismo ao pessimismo; da credulidade para o ceticismo; do medo de perder oportunidades ao medo de perder dinheiro; da vontade de comprar à urgência em vender. O balançar do pêndulo faz com que grande parte das pessoas compre a preços altos e venda a preços baixos. Assim, fazer parte do rebanho é uma receita para o desastre enquanto que remar contra a maré nos extremos do mercado ajuda a evitar perdas e leva eventualmente ao sucesso.
O conforto de ser investidor em valor
Para a maioria dos gestores profissionais de fundos, prisioneiros da medição trimestral da performance - e de todo o sistema evidenciado na parábola do touro - o valor de um ativo é aquilo que alguém está disposto a pagar por ele.
Em contraste, para um investidor em valor e, portanto paciente, um ativo vale o mais alto do seu valor fundamental e do seu valor de mercado: se o preço de mercado é superior ao valor fundamental, o investidor em valor pode vender ao preço de mercado e procurar alternativas. Se o preço de mercado é inferior ao valor fundamental, o investidor em valor pode continuar a manter o ativo em carteira e beneficiar dos retornos dos cash flows estimados.
Como Ben Graham e Warren Buffett dizem há décadas, o volátil Sr. Mercado (que, por vezes, está disposto a comprar coisas por mais do que elas valem ou vendê-las por menos do seu valor) é nosso amigo, não inimigo. O investidor em valor tem uma vantagem no que diz respeito ao valor fundamental porque faz uso da "balança", dispensa as opiniões da maioria, os consultores desnecessários, os analistas adivinhos e atua baseado no valor do bem.
Os preços de mercado representam um concurso de popularidade (por vezes irracional) de curto prazo, semelhante a uma eleição mas, no longo prazo, tendem a ganhar em valor devido aos retornos no capital, crescimento económico e inflação (e para os investidores particulares, nos dividendos recebidos) - semelhante a uma balança. Este ano que agora termina foi um bom exemplo do que aqui escrevo. Faremos o seu balanço no próximo artigo.
Desejo um Bom Ano a todos.
Theresa May, recém-empossada primeira-ministra, declarou esta semana que o 'Brexit' vai ser um êxito. David Cameron, na saída, disse: "Eu fui o futuro outrora".
Passadas algumas semanas sobre o resultado do referendo no Reino Unido, os mercados acionistas recuperaram mas o futuro continua incerto. É natural que a volatilidade dos preços dos ativos se mantenha e que se continue a especular sobre os possíveis acordos que venham a ser negociados e o impacto económico desta separação.
Mesmo sem especular sobre o processo de separação, há uma série de efeitos que já são percetíveis e vão marcar os próximos tempos. Em primeiro lugar, este parece ser mais um capítulo nas guerras cambiais a nível global. Os bancos centrais já competiam para ver quem injetava mais liquidez na economia, levando as taxas de juro para níveis negativos num dos maiores confiscos da poupança da história. Para prevenir um pânico generalizado pós-'Brexit' e com a violenta desvalorização da libra, todos se disponibilizaram para continuar a conduzir políticas monetárias fortemente expansionistas e os EUA adiaram subidas de taxas de juro. Na prática, ninguém quer ver a sua moeda valorizar demasiado e perder competitividade para o vizinho.
Este é um efeito tremendo: os bancos centrais têm carta branca para continuar com políticas que não põem um custo no valor do dinheiro, aumentando a bolha nos ativos de taxa fixa. A emissão de dívida a 30 anos do Governo americano foi feita esta quarta-feira à taxa de 2,17%, o mínimo histórico. Já se paga para emprestar dinheiro ao Governo alemão a 10 anos, ao Governo japonês a 20 anos e ao Governo suíço a 50 anos. Esta distorção tremenda patrocinada pelos bancos centrais está a colocar os investidores numa busca desesperada por rendimento, que muitas vezes ignora os riscos subjacentes. Tendo em conta que as ações europeias estão a pagar um dividendo de cerca de 4%, a diferença entre o rendimento pago pelas ações face às obrigações de dívida pública é a maior desde os anos 50. Na próxima década, muito dificilmente as ações não serão um melhor investimento do que as obrigações de governos.
Poderemos assistir ao ressurgir de um neomercantilismo (bem presente no populismo de Donald Trump), que além das guerras cambiais faça regressar o espectro de tarifas e barreiras ao comércio. A WTO (Organização Mundial do Comércio) tem vindo a alertar para o reaparecimento de medidas protecionistas que prejudicam o crescimento mundial. O efeito de uma nova onda de políticas beggar thy neighbour (empobrecer o vizinho) pode constituir um retrocesso à globalização das últimas décadas e afetar negativamente o crescimento económico mundial.
Os bancos centrais têm carta branca para políticas que não põem um custo no valor do dinheiro, aumentando a bolha nos ativos de taxa fixa.
Por outro lado, a saída britânica vem colocar na ordem do dia duas reformas: a das instituições europeias e a do sistema bancário. Se a reforma da eurocracia de Bruxelas vai depender da vontade política e é necessária para solidificar o projeto europeu, a reforma do sistema bancário é muito mais premente e inevitável. Ao contrário dos EUA, que intervieram decisivamente no pico da crise para estabilizar o sistema financeiro, a resposta europeia foi fragmentada, país a país, e deixou uma série de bancos em situações complicadas. As notícias dos últimos dias, com a suspensão de resgates em fundos imobiliários ingleses e o arrastar de uma solução para a banca italiana, começa a lembrar o início da crise financeira em 2007. E grande parte da banca europeia negoceia em níveis que indicam a necessidade de fortes aumentos de capital, seja em Itália, Alemanha ou Portugal.
Acima de tudo, o 'Brexit' vai ser uma excelente desculpa para gestores e políticos. Já tivemos alguns exemplos nas últimas semanas, mas nos próximos meses (porventura anos) vamos ver uma série de grandes empresas e governos a culpar o processo de secessão britânica pelos resultados falhados. Mas tirando alguns sectores que estão diretamente expostos e são afetados por ele (veja-se o caso do sector imobiliário de Londres), o 'Brexit' não deveria afetar quem tem boas políticas de gestão ou de investimento.
Na conferência de acionistas da Berkshire Hathway, em abril passado, quando questionado sobre a possível saída do Reino Unido, Warren Buffett frisou que achava melhor o Reino Unido manter-se na União Europeia. No entanto, mesmo que soubesse antecipadamente o resultado do referendo, não mudaria absolutamente nada nas suas decisões de investimento.
Um bom investimento não deve depender de cenários macroeconómicos. Deve ser feito pela qualidade do ativo e o desconto a que se consegue comprar face ao seu valor intrínseco. A incerteza pode ser amiga do investidor de longo prazo.
"Sendo os administradores de tais empresas os gestores de dinheiro alheio, mais do que do próprio, não se pode esperar que o vigiem tão ansiosamente como os sócios particulares fazem com o seu. [...] A negligência e profusão, portanto, prevalecem sempre."
-- Adam Smith, A Riqueza das Nações
Nos últimos oito anos, os vinte maiores bancos do mundo pagaram mais de 235 mil milhões de dólares em multas pela violação de regulamentos financeiros. Estas multas afetaram os esforços dos bancos em reforçar os seus capitais, reduziram dividendos e levaram a enormes perdas de riqueza para os seus acionistas e reduziram os montantes disponíveis para emprestar à economia. Quando parece que todos perderam, a questão que se coloca é como foi possível e em benefício de quem?
1 . Wells Fargo - uma entrevista há cerca de um ano o CEO do Wells Fargo, John Stumpf, declarou: "Não quero que ofereçam um produto a alguém que não sabe qual é o seu benefício ou que o cliente não o compreenda, não o queira ou não precise dele".
Nas últimas semanas ficamos a saber que pelo menos 5300 colaboradores do Wells Fargo, o banco mais valioso do mundo em capitalização bolsista, abriram, ao longo de cinco anos, dois milhões de contas falsas em nome de milhares de clientes sem o seu conhecimento e autorização. O Wells Fargo cobrou então pelo menos 1,5 milhões de dólares em comissões nessas contas que foram criadas simplesmente para aumentar a remuneração dos colaboradores cujos programas de incentivo os recompensavam pela abertura do maior número de contas possível. Algumas das contas foram encerradas imediatamente após o colaborador receber a comissão. O objetivo deste esquema era cumprir objetivos de aberturas de contas e não roubar vastas somas de clientes desprevenidos. Entretanto, ao longo de vários anos, o banco foi despedindo estes colaboradores.
O Wells Fargo, que se estima vir a ganhar este ano 20,6 mil milhões de dólares, foi condenado a pagar apenas 185 milhões de dólares de multa uma vez que os benefícios financeiros colhidos pelo banco nestas operações fraudulentas são relativamente pequenos.
O banco, que historicamente manteve sempre uma boa reputação não apenas na capacidade de gerir o risco das suas atividades, mas também na sua atividade de cross-selling, tem como maior acionista a Berkshire Hathaway, empresa de Warren Buffett, que detém cerca de 10% do banco. O Sr. Buffett até ao momento não fez qualquer comentário sobre este assunto. No entanto, a sua exigência no comportamento ético dos gestores é bem conhecida e discutida nas suas cartas anuais e Assembleias acionistas ao longo de décadas. É dele a famosa citação "Perca dinheiro para a empresa e eu serei compreensivo. Perca um pedacinho de reputação e eu serei implacável".
Passados oito anos sobre o início da grande crise financeira de 2008, a legislação que, entretanto, entrou em vigor não conseguiu reduzir os incentivos perversos que encorajam a indústria financeira a arriscar em demasia à custa dos clientes, dos acionistas e dos contribuintes.
Apesar de toda a regulação e de milhares de milhões de dólares gastos em compliance, como foi possível que tantos colaboradores estivessem envolvidos nesta atividade tão flagrantemente corrupta? Pressionados pela gestão para cumprir objetivos muito difíceis de alcançar, estes colaboradores optaram pela via mais fácil e não lucrativa para o banco. No final de contas, os clientes foram prejudicados e o banco nem sequer ganhou dinheiro com isto. O banco é o grande perdedor, com danos reputacionais enormes e a perda de confiança dos reguladores, acionistas e clientes.
2. Deutsche Bank - num artigo da revista The Economist, do passado dia 24 de setembro, "Não vai pagar! Não pode pagar?", revela-se que o Departamento de Justiça (DoJ) americano multou o Deutsche Bank em 14 mil milhões de dólares pela emissão e venda de títulos hipotecários entre 2005 e 2007. O Banco alemão já anunciou que vai recorrer e acredita que poderá negociar um acordo por valores menores. O DoJ já tinha multado a Morgan Stanley em 3,2 mil milhões, o Bank of America em 16,7 e o Citigroup em 7.
Segundo a The Economist, o Deutsche Bank terá muitas dificuldades em pagar esta multa sem recorrer a um enorme aumento de capital. Em 2015 teve prejuízos de 6,8 mil milhões de euros, eliminou o dividendo e avisou os acionistas que não iria ter lucros em 2016. Em 27 de setembro a cotação do DB estava em mínimos de 30 anos e a capitalização bolsista em cerca de 14,5 mil milhões.
A pergunta que se coloca é simples: o que levou os gestores da banca a enveredarem por uma estratégia de venda de produtos estruturados complexos, que a esmagadora maioria dos clientes não entende, que têm um comissionamento tão elevado que, na maior parte das vezes, resultam em perdas para os clientes e, como se pode ver pelos seus resultados, levam a uma perda de valor imensa para os seus acionistas, os verdadeiros donos do capital destes bancos?
3. Na semana passada, num artigo do Financial Times, é apresentado um estudo de Thomas Philippon Professor de Finanças na Universidade de Nova York. Este concluiu, analisando informação desde finais do séc. XIX, que o setor financeiro americano não teve absolutamente nenhuns ganhos de produtividade nos últimos 130 anos. Estas conclusões poderão ser extrapoladas para a maior parte dos países. Todos os outros setores da economia reduziram custos e aproveitaram a revolução informática para aumentar os seus ganhos.
Por que motivo foi o setor financeiro incapaz de oferecer um serviço melhor e mais barato? Porque é que as forças de mercado não conseguiram promover maior eficiência?
As respostas a estas perguntas podem ser encontradas no livro "What they do with your money" ("o que fazem com o seu dinheiro) de Stephen Davis, Jon Lukomnik e David Pitt-Watson. Segundo os autores, a cadeia de intermediários financeiros cresceu de tal forma que os donos do capital perderam de vista as várias camadas de intervenientes no mercado. A opacidade permite que aqueles que têm conhecimentos nesta área utilizem a sua capacidade para se servirem a eles próprios sem passar os benefícios aos clientes finais. Os ganhos de produtividade são distribuídos dentro da indústria sob a forma de comissões e retrocessões. O sistema é institucionalmente corrupto no sentido em que incentivos tóxicos encorajam os agentes financeiros a ignorar as suas obrigações fiduciárias e a servir-se, em benefício próprio, do dinheiro alheio.
Os autores do livro realçam o facto de que as comissões, escondidas e explícitas, cobradas pelas instituições financeiras, reduzirem significativamente os retornos para os fundos de pensões e os investidores ao longo do tempo. Salientam também que muita da actividade financeira se resume ao trading entre instituições financeiras.
4. Passados oito anos sobre o início da grande crise financeira de 2008, a legislação que, entretanto, entrou em vigor não conseguiu reduzir os incentivos perversos que encorajam a indústria financeira a arriscar em demasia à custa dos clientes, dos acionistas e dos contribuintes.
Os incentivos para enganar os mercados são enormes: os bónus são demasiado altos, a ameaça de cadeia para os prevaricadores é mínima e os chefes não são responsabilizados.
Segundo Sheila Bair, ex-presidente da FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation), "se os incentivos estiverem alinhados com os interesses dos clientes e acionistas, o capitalismo será visto como um instrumento de comportamento moral e não uma obstrução. A complexidade da legislação regulatória beneficia as grandes instituições que dispõem de enormes equipas jurídicas que encontram buracos na lei e conseguem acordos com os reguladores que impedem os processos criminais sobre os responsáveis dos bancos".
Sheila Bair conclui: "nestes acordos judiciais em que os bancos pagam multas de milhares de milhões de dólares, o dinheiro sai praticamente todo dos bolsos dos acionistas. O setor financeiro, traders e gestores que assumem grandes riscos na tentativa de conseguir lucros e bónus enormes só compreendem duas coisas: a pobreza ou a cadeia. Um novo código de ética não resolve problema algum".
Apesar da abundância de regulação produzida desde a crise de 2008, continuamos a assistir a uma enorme destruição de riqueza e confiança por parte do sistema financeiro. É, por isso, fundamental fazer um reboot do capitalismo no setor, simplificando a oferta de produtos, aumentando a transparência de custos e comissões, reestruturando a cadeia de incentivos, responsabilizando os gestores e implementando muitos dos princípios perdidos do governo das empresas. Só assim será possível restabelecer o laço fiduciário que deve constituir a essência do serviço prestado por uma instituição financeira.