Expetativas vs. Previsões
Originalmente publicado a 12 de março de 2018 no blog Collaborative Fund por Morgan Housel
Expetativas vs. Previsões
Espero uma ou duas recessões por década. Não sei quando vão acontecer.
Espero que alguns dos investimentos que faço não corram bem. Não sei quais.
Espero que o mercado de ações caia 30% ou mais uma ou duas vezes por década. Mas não sei quando.
Espero que as taxas de juro vão subir. Talvez este ano, talvez não.
Espero outra crise financeira. Mas quem sabe quando virá.
Isto não são contradições ou desculpas. Existe uma grande diferença entre uma expetativa e uma previsão, mesmo que pareçam semelhantes.
Uma expetativa é o reconhecimento de como as coisas funcionaram no passado e irão, provavelmente, funcionar no futuro. Uma previsão é amarrar essa ideia a um ponto específico no tempo.
Num mundo ideal, seríamos capazes de prever detalhes de investimento com precisão meticulosa. Mas, de uma forma geral, não o conseguimos, porque há demasiadas partes móveis e incógnitas para identificarmos exatamente quando e como biliões de estranhos vão agir.
Isto leva-nos frequentemente a duas respostas:
- Prever na mesma, e termos um falso sentido de precisão e confiança.
- Extrapolar, assumindo zero mudanças em relação ao dia de hoje.
Ambas podem ser perigosas. Pode ser bem mais útil ter expectativas sem previsões específicas.
Quando se tem a expectativa de que algo vai acontecer, ao longo do tempo, não ficamos surpreendidos quando acontece. Isto força-nos a investir com margem de erro e prepara-nos psicologicamente para as inevitáveis desilusões. Isto estende-se para além do investimento: planear negócios, planear carreiras, educar crianças, e relacionamentos caem nessa categoria.
A diferença entre "Espero uma ou duas recessões por década" e "Espero uma recessão na segunda metade de 2018" é da largura de dez quilómetros.
A diferença está na forma como cada uma influencia o nosso comportamento. Se tenho a expectativa de que vão ocorrer recessões, não fico surpreendido quando chegam. Mas como não sei quando virão, não levarei a cabo qualquer medida no meu portfólio que tente evitar a próxima recessão. E essas medidas tendem a ser a origem da maioria das más decisões de investimento tanto para amadores como para profissionais.
Não há qualquer razão para fazer previsões a não ser que vá levar a cabo medidas específicas ligadas a essas previsões. Se quer levar a cabo menos medidas sem ignorar intencionalmente o futuro, tenha apenas expectativas.
Isto é humildade intelectual numa indústria que não tem a suficiente.