Desta vez não é diferente
Publicada há quase 14 anos, relembramos a carta de Warren Buffett no contexto da maior crise financeira dos últimos 90 anos: "Compre americano. Eu estou a fazê-lo"
Compre americano. Eu estou a fazê-lo
Porquê?
As minhas compras são ditadas por uma simples regra: tenha medo quando os outros forem gananciosos e seja ganancioso quando os outros tiverem medo. E, com certeza, hoje o medo está generalizado, atingindo até os investidores mais experientes.
Na verdade, os investidores têm razões para desconfiar de entidades ou negócios altamente alavancados e que se encontram em posições competitivas fracas. Mas os receios em relação à prosperidade a longo prazo das muitas empresas sólidas do país não fazem sentido. Esses negócios vão, sem dúvida, enfrentar solavancos nos lucros, tal como já aconteceu no passado. Mas a maioria destas grandes empresas vai bater novos recordes de lucros daqui a 5, 10 e 20 anos.
Permitam-me ser absolutamente claro num aspeto: eu não consigo prever os movimentos de curto prazo do mercado de ações. Não faço a mais pequena ideia se as ações vão estar mais altas ou mais baixas daqui a um mês ou um ano. O que é provável, no entanto, é que o mercado suba, talvez substancialmente, muito antes que o sentimento ou a economia melhorem. Portanto, se esperarmos pelas andorinhas, a primavera já acabou.
Agora, um bocadinho de história aqui: durante a Depressão, o Dow atingiu o mínimo de 41, em 8 de julho de 1932. No entanto, o ambiente económico continuou a deteriorar-se até que Franklin D. Roosevelt assumiu a presidência, em março de 1933. Nessa altura, o mercado já tinha recuperado 30 por cento. Regressemos aos primeiros dias da Segunda Guerra Mundial, quando as coisas estavam a correr mal para os Estados Unidos na Europa e no Pacífico. O mercado bateu no fundo do poço em abril de 1942, muito antes da sorte dos aliados mudar. Novamente, no início da década de 1980, a altura de comprar ações era quando a inflação disparava e a economia estava no charco. Resumindo, as más notícias são as melhores amigas do investidor. As más notícias permitem que compremos uma fatia do futuro da América a preços de saldo.
No longo prazo, as notícias do mercado de ações serão boas. No Séc. XX, os Estados Unidos enfrentaram duas guerras mundiais e outros conflitos militares traumáticos e dispendiosos; a Grande Depressão; uma dúzia ou mais de recessões e pânicos financeiros; choques petrolíferos; uma epidemia de gripe; e a demissão de um presidente desonrado. No entanto, o Dow subiu de 66 para 11.497.
Podemos pensar que, durante um século marcado por ganhos tão extraordinários, seria impossível para um investidor perder dinheiro. Mas alguns investidores conseguiram-no. Os desafortunados que só compravam ações quando se sentiam confortáveis para o fazer e depois vendiam quando os títulos dos jornais os deixavam enjoados.
Hoje, as pessoas que apenas estão investidos em dinheiro, ou produtos equivalentes, sentem-se confortáveis. Não deviam. Optaram por um ativo de longo prazo horrível, que não rende praticamente nada e com certeza se desvalorizará. De facto, as políticas que o governo irá implementar nos seus esforços para aliviar a crise atual provavelmente serão inflacionárias e, portanto, acelerarão a queda do valor real das contas à ordem.
Na próxima década, as ações quase certamente superarão o dinheiro, provavelmente por uma margem substancial. Os investidores que agora se agarram ao dinheiro estão a apostar que conseguem planear a reentrada no mercado com eficácia. Ao esperar pelo conforto das boas notícias, estes investidores ignoram o conselho de Wayne Gretzky, famoso jogador de hóquei no gelo: "Eu patino para onde o disco vai estar, não para onde esteve".
Não gosto de dar a minha opinião sobre o mercado de ações, e volto a enfatizar que não faço a mais pequena ideia do que o mercado vai fazer no curto prazo. No entanto, vou seguir o exemplo de um restaurante que abriu num prédio onde existia um banco e que publicitou: "Coloque a sua boca onde estava o seu dinheiro". Hoje, o meu dinheiro e a minha boca dizem ações.