O que é a literacia financeira e porque nos devemos importar?
Qual é a definição de literacia financeira? Significa compreender como ganhar, gastar, poupar, gerir e investir dinheiro. Significa também compreender como a economia funciona.
Se o leitor ou leitora for como eu, a literacia financeira e as possibilidades que pode criar para nós são entusiasmantes. Dito isto, reconheço que muita gente não partilha deste entusiasmo. A maioria dos artigos sobre finanças pessoais ou literacia financeira avançam diretamente para criar um orçamento, os benefícios da poupança e o impacto das taxas de juro. Neste ponto, a maioria das pessoas perde interesse no assunto e passa para outro.
Numa tentativa de manter a vossa atenção, vamos passar algum tempo no “porquê” da literacia financeira e não apenas no “como”.
A literacia financeira tem a ver com melhorar a nossa vida
Embora este assunto possa não ser tão interessante para si como o é para mim, espero que possamos, pelo menos, concordar com o facto de que o dinheiro tem um enorme impacto nas nossas vidas cotidianas. A minha convicção pessoal é que o dinheiro não compra a felicidade; isto não tem a ver com comprar um carro novo em folha ou o último gadget. O dinheiro, no entanto, pode permitir a uma pessoa ter mais flexibilidade, reduz o stress e melhora relações.
Viver acima das nossas possibilidades pode contribuir para a bancarrota, divórcio ou stress intenso.
Pelo contrário, viver com o mínimo de dívida e uma almofada de poupanças permite-nos gozar de paz de espírito e da segurança de ser financeiramente livre. A literacia financeira, portanto, não tem apenas a ver com ganhar mais dinheiro para comprar mais coisas – tem a ver com sabermos gerir melhor o dinheiro para melhorar diferentes aspetos da nossa vida.
- A literacia financeira para uma criança pode significar ensinar o básico no que diz respeito a gastar, poupar e dar.
- Para alguns adultos, a literacia financeira pode significar ajudar alguém a abrir uma conta bancária ou impedir que alguém se envolva com predadores económicos.
- Para outros, a literacia financeira pode ser aprender a orçamentar ou a monitorizar despesas – o que permite a criação de uma almofada de poupanças, investir numa conta de poupança para a reforma, ou poupar para um carro novo.
Como pode constatar, a literacia financeira é importante para todas as idades. E começar a ensinar estes conceitos às crianças pode inspirar hábitos duradouros: um estudo da Cambridge University demonstra que comportamentos face ao dinheiro se formam em crianças com cerca de 7 anos. Se por acaso tiver mais que sete anos, nunca é tarde demais para aprender.
Três princípios essenciais para as suas finanças pessoais
Sejamos francos, há por aí muito informação contraditória sobre literacia financeira. Mas quanto mais educados formos sobre finanças, melhores decisões tomamos. A essência da literacia financeira é simples: gastar menos do que se ganha e investir a diferença.
Fazer isto é mais difícil.
Pode ser duro tentar ganhar mais quando mal se consegue viver com o salário atual. Mesmo com rendimentos mais elevados, pagar os créditos exige muita disciplina e as tentações para viver acima dos nossos meios abundam. Por fim, investir pode ser confuso com tantas opções à disposição. Isto pode ser muito desafiador dependendo do nível de rendimento, montantes em dívida ou outras situações de vida que possam surgir. Cada um de nós embarcou numa jornada financeira diferente – por isso se chamam finanças pessoais.
Não tem a certeza por onde começar? Eis três princípios financeiros essenciais que podem ajudar a melhorar a situação financeira de todos.
Três princípios fundamentais das finanças pessoais
1. Orçamento ou monitorização das despesas
Já sei o que estão a pensar: “Vês, eu sabia que iam falar de orçamentos!” Sim, há uma razão pela qual quase todas as discussões sobre literacia financeira se focam na necessidade de um orçamento ou de monitorizar as despesas. Se não sabemos para onde vai o dinheiro, como podemos melhorar a nossa situação financeira? Um orçamento é simplesmente planear as despesas antes de elas ocorrerem.
Para quem não quer fazer um orçamento, simplesmente monitorizar as despesas após as fazer ajuda a saber para onde está a ir o seu dinheiro. É espantoso como aquelas despesas de 10 e 20 euros se acumulam se as deixarmos descontroladas.
Alguns podem já ter um orçamento apertado; outros poderão cortar despesas desnecessárias e utilizar esse dinheiro para pagar créditos, poupar ou investir.
2. Criar um fundo de emergência
Agora que já tem um orçamento ou, pelo menos, monitoriza as suas despesas, pode, espero eu, poupar um pouco para um fundo de emergência de 1000 a 2000 euros. A Reserva Federal publicou um relatório sobre o bem-estar económico das famílias americanas que concluía que 40% dos americanos não conseguia fazer face a uma emergência de 400 dólares sem vender alguma coisa ou pedir um empréstimo.
Criar um fundo de emergência é um passo fundamental para ajudar a lidar com despesas inesperadas. Um pneu furado, um lavatório que pinga, uma despesa médica inesperada espreitam ao virar da esquina. Um fundo de emergência pode reduzir significativamente o stress destas situações inesperadas. O ideal é conseguir atingir três a seis meses de poupanças de emergência para se proteger a si e à sua família no caso de perda de emprego, um evento médico significativo ou qualquer outra despesa inesperada.
3. Compreender o funcionamento das taxas de juro
O juro composto é conhecido como a “oitava maravilha do mundo” porque investir apenas umas centenas de euros por mês quando temos 20 anos pode tornar-nos milionários pela altura em que nos reformamos. Pelo contrário, empréstimos com juros elevados podem estropiar financeiramente uma pessoa durante anos e anos. Embora haja um lugar e um tempo para os créditos, não ter um plano para escapar aos créditos com juros demasiado elevados pode levar à ruína financeira.
Recordo uma altura da minha vida em que os conhecimento básicos sobre as taxas de juro eram muito confusos. A diferença entre uma taxa de juro de 3% numa conta a prazo versus uma taxa de 3% num empréstimo para comprar carro não era muito clara. As percentagens eram utilizadas de uma forma que não era óbvio, pelo menos para mim, o efeito positivo ou negativo que as taxas de juro tinham num investimento ou num empréstimo.
Segundo um paper do National Bureau of Economic Research, menos de um terço de jovens adultos possuem o conhecimento básico sobre taxas de juro, inflação e diversificação de risco. A literacia financeira pode ajudar-nos a compreender estes tópicos e permite-nos tomar melhores decisões financeiras.
Primeiro indivíduos, depois famílias, depois a economia
As finanças pessoais têm tanto a ver com comportamentos como com os números. Ter um sólido entendimento da literacia financeira permite-nos tomar melhores decisões financeiras que, esperamos, melhorem o seu dia-a-dia. Num nível macroeconómico, as literacia financeira pode resultar em “folhas de balanço” familiares mais sólidas, o que leva a uma economia mais forte.
Embora os conceitos de finanças pessoais sejam simples, estudos académicos demonstram que ainda há um longo caminho pela frente na divulgação da literacia financeira.