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Andrew Mauboussin e Michael J. Mauboussin escrevem sobre a diferença entre palavras e números ao fazer previsões. Deixamos abaixo a tradução integral do artigo publicado na Harvard Bussiness Review
Se dizemos que algo é "provável", quão provável é que as pessoas pensam que é?
As pessoas utilizam palavras imprecisas quando descrevem a probabilidade de eventos futuros - "É provável que chova", ou "Existe uma possibilidade real que eles lancem o produto antes de nós" ou "É duvidoso que os enfermeiros façam greve". Estes termos probabilísticos são, não apenas subjetivos, mas podem também dar azo a interpretações muito diferentes. O "muito provável" de uma pessoa é o "longe de certo" de outra. A nossa pesquisa demonstra o quão largos podem ser os fossos na compreensão e os tipos de problemas que podem surgir destas diferenças de interpretação.
Num exemplo famoso (famoso, pelo menos, para aqueles que se interessam por este tipo de coisas), o Office of National Estimates da CIA publicou, em março de 1951, um documento que sugeria que um ataque soviético à antiga Jugoslávia no prazo de um ano era uma "séria possibilidade". Sherman Kent, professor de história da Universidade de Yale que foi chamado a Washington para codirigir o Office of National Estimates, ficou confuso quanto ao que significaria, exatamente, "séria possibilidade". Kent interpretou-a como significando que a probabilidade de ataque seria de cerca de 65%. No entanto, quando questionou os membros do Office of National Estimates quanto às suas interpretações, ouviu números entre 20 e 80%. Uma banda tão larga de probabilidades é claramente um problema, uma vez que as implicações políticas destes extremos são marcadamente diferentes. Kent reconheceu que a solução passava por utilizar números, declarando pesarosamente, "não utilizámos números... e, aparentemente, utilizámos abusivamente as palavras."
Desde então, pouco mudou. Hoje, no mundo dos negócios, investimentos e política, as pessoas continuam a utilizar palavras vagas para descrever desfechos possíveis. Porquê? Phil Tetlock, professor de psicologia na Universidade da Pensilvânia e que estudou em profundidade as previsões, sugere "a verbosidade vaga oferece segurança política".
Quando utilizamos uma palavra para descrever a probabilidade de um desfecho, temos uma larga margem de manobra para não nos envergonharmos após o facto. Se um evento previsto acontece, podemos declarar: "Eu disse que provavelmente aconteceria." Se não acontecer, a posição de recurso será: "Eu apenas disse que provavelmente aconteceria." Estas palavras ambíguas permitem ao seu autor não apenas evitar ser encurralado, mas também permitem ao ouvinte interpretar a mensagem de uma forma que é consistente com as suas noções pré-concebidas. O resultado, obviamente, é uma comunicação pobre.
Para tentar analisar este tipo de comunicação turva, Kent mapeou a relação entre palavras e probabilidades. Na versão mais conhecida, ele exibiu frases que incluem palavras ou expressões probabilísticas a cerca de duas dúzias de oficiais militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte e solicitou-lhes que traduzissem as palavras em números. Estes indivíduos estavam habituados a ler relatórios de serviços de inteligência militar. Os oficiais chegaram a um consenso para algumas palavras, mas as suas interpretações para outras eram bastante díspares. Desde então, outros investigadores obtiveram resultados similares.
Criámos um novo inquérito com dois objetivos em mente. O primeiro era aumentar o tamanho da amostra, incluindo indivíduos fora das comunidades científica e da inteligência militar. O segundo era tentar detetar eventuais diferenças entre idade ou género ou entre aqueles que aprenderam inglês como primeira língua ou secundária.
Eis as três principais lições da nossa análise.
Lição 1: Utilize probabilidades em vez de palavras para evitar más interpretações
Pedimos a membros do público em geral que ligassem probabilidades a 23 palavras ou expressões comuns que surgiam aleatoriamente. A figura abaixo sumaria os resultados de 1700 respostas.
A enorme variação de probabilidades que as pessoas ligam a certas palavras salta imediatamente à vista. Embora a interpretação de algumas palavras seja muito restrita, outras são interpretadas de forma muito ampla. Por exemplo, a maior parte das pessoas - mas não todas - pensam que "sempre" significa "100% das vezes", mas o intervalo de probabilidades que a maioria atribui a um evento com uma "real possibilidade" de acontecer varia entre 20% e 80%. De uma forma geral, concluímos que a palavra "possível" e as suas variações têm largos intervalos de probabilidade e convidam à confusão.
Concluímos também que homens e mulheres encaram algumas palavras probabilísticas de forma diferente. Como a tabela abaixo mostra, as mulheres tendem a atribuir maior probabilidade a palavras ou expressões ambíguas, tais como "talvez", "possivelmente" e "poderá acontecer". Também aqui, a palavra "possível" e as suas variações atraem más interpretações. Estes resultados são consistentes com a análise da equipa de cientistas de dados na Qora, um site onde os utilizadores colocam e respondem a questões. Esta equipa concluiu que as mulheres utilizam palavras e expressões incertas mais frequentemente que os homens, mesmo quando o nível de confiança é equivalente.
Não encontrámos diferenças significativas na interpretação entre diferentes faixas etárias ou entre faladores de inglês nativos e não nativos, com uma única exceção: a expressão "slam dunk" (afundanço). Em média, os faladores de inglês nativos interpretaram esta expressão como indicando uma probabilidade de 93%, enquanto que os não nativos indicam apenas 81%.
Este resultado é um alerta para evitarmos expressões culturalmente enviesadas em geral e expressões desportivas em particular quando estamos a tentar ser claros.
Em questões importantes onde o entendimento mútuo é vital, evite palavras e expressões não numéricas e utilize probabilidades.
Lição 2: Utilize abordagens estruturadas para atribuir probabilidades
Tal como já discutimos, uma das razões pelas quais as pessoas utilizam palavras ambíguas em vez de probabilidades precisas é para reduzir o risco de estarem erradas. Mas as pessoas também se defendem com as palavras porque não têm familiaridade com formas estruturadas de atribuir probabilidades.
Uma vasta literatura demonstra que todos temos tendência a ser excessivamente confiantes nos nossos julgamentos. Por exemplo, num outro inquérito, solicitamos aos participantes que respondessem a 50 questões com respostas verdadeiro ou falso (por exemplo, "a distância da Terra ao Sol é constante ao longo do ano" e que estimassem a sua confiança. Mais de 11000 pessoas participaram. Os resultados mostram que a confiança que estavam a responder corretamente era de 70%, mas o número de respostas corretas era de apenas 60%. Os participantes tinham um excesso de confiança de 10%, um resultado normal em pesquisas na área da psicologia.
Estudos de previsões probabilísticas na comunidade dos serviços de inteligência são um claro contraste. Os analistas mais experientes são, no geral, mais calibrados, o que significa que, ao longo de um grande número de previsões, as suas estimativas de probabilidades e os desfechos objetivos (o que realmente acontece) estão bem alinhados. Na realidade, quando a calibração não funciona, frequentemente resulta do excesso de confiança.
Como atribuir probabilidades inteligentemente?
Quando as probabilidades são ambíguas, ao contrário do que acontece numa simples situação de jogo (onde existe uma probabilidade de 50% de ser cara ou coroa), estamos a lidar com aquilo a que os teóricos da decisão chamam probabilidades subjetivas. Estas podem não ser as probabilidades corretas, mas refletem a crença pessoal de um indivíduo em determinado desfecho. Devemos atualizar as nossas estimativas de probabilidades subjetivas de cada vez que recebermos informação relevante.
Uma forma de definir a nossa probabilidade subjetiva é comparar a nossa estimativa com uma aposta concreta. Imaginemos que se espera que um concorrente vá lançar um novo produto no trimestre seguinte que ameaça o seu produto mais rentável. Estamos a tentar avaliar a probabilidade de que o lançamento não vai acontecer. A forma de enquadrar a aposta seria: "se o produto não for lançado, recebo um milhão de dólares, mas se for, não recebo nada".
Imaginemos agora um jarro com 25 berlindes verdes e 75 berlindes azuis. Fechemos os olhos e escolhamos um berlinde. Se for verde, ganhamos 1 milhão, se for azul, nada. Sabemos que temos uma chance em 4 (25%) de conseguir um berlinde verde e ganhar o dinheiro.
Agora, onde preferimos apostar? No falhanço do lançamento ou no berlinde que tiramos do jarro?
Se escolhermos o jarro, isso indica que acreditamos que a probabilidade de ganhar essa aposta (25%) é maior do que a probabilidade de ganhar a aposta do falhanço do lançamento. Portanto, temos que acreditar que a probabilidade do lançamento do produto do nosso concorrente falhar é menor de 25%.
Desta forma, usar uma referência objetiva ajuda-nos a definir com mais precisão a nossa probabilidade subjetiva. (Para testar outros níveis de probabilidades, basta ajustar mentalmente o rácio de berlindes verdes e azuis no jarro. Com 10 berlindes verdes e 90 azuis, ainda escolheríamos o jarro e não a aposta do lançamento falhado? Devemos acreditar que a probabilidade do lançamento falhar é inferior a 10%.)
Lição 3: Procure feedback para melhorar as previsões
Quer utilizemos termos vagos ou números precisos para descrever probabilidades, o que na realidade estamos a fazer é prever. Se afirmamos que existe uma "possibilidade real" que o produto do concorrente vais ser lançado, estamos a prever o futuro. Nos negócios e noutras áreas, ser um bom previsor é importante e exige prática. No entanto, fazer muitas previsões não é suficiente: precisamos de feedback. Atribuir probabilidades fornece-nos esse feedback uma vez que nos permite manter um marcador da nossa performance.
Colunistas e intelectuais falam frequentemente do futuro, mas tipicamente não exprimem as suas convicções com a precisão necessária que permita monitorizar a sua performance. Poe exemplo, um analista pode especular, "o Facebook provavelmente continuará a ser a rede social dominante nos anos vindouros". É difícil medir a precisão desta previsão uma vez que ela é subjetiva e a expressão probabilística sugere uma larga gama de probabilidades. Uma declaração como, "Existe uma probabilidade de 95% que o Facebook terá mais de 2,5 biliões de utilizadores mensais dentro de um ano", é precisa e quantificável. E mais, a precisão desta previsão pode ser diretamente medida, fornecendo feedback à performance.
Os melhores previsores fazem muitas previsões precisas e monitorizam a sua performance com métricas como o Brier Score. Este tipo de monitorização de performance requer previsões com um desfecho categórico (Facebook terá mais de 2,5 biliões de utilizadores mensais), um período temporal específico (dentro de um ano) e uma probabilidade específica (95%). É uma disciplina dura, mas essencial para melhores previsões. E quanto melhores forem as previsões, melhores serão as decisões. Existem vários recursos online que poderão facilitar esta tarefa. Good Judgement Open (fundado por Tetlock e outros cientistas) e Metaculus fornecem questões para praticar previsões. Mercados de previsões, PredictIt, por exemplo, permitem apostar em previsões.
Da próxima vez que declarar que um negócio ou outro desfecho é "improvável" ou, em alternativa, está "virtualmente assegurado", questione-se: Que percentagem de probabilidade e que período temporal atribuiria a este desfecho? Enquadre as suas previsões desta forma e elas serão muito mais claras para si e para quem o rodeia.
Morgan Housel escreve para o blog Collaborative Fund. No passado 18 de Agosto, publicou The Laws of Investing.
A Casa de Investimentos traduziu integralmente o artigo, que pode ler abaixo.
As Leis do Investimento
A ciência está repleta de regras, teorias baseadas em evidências e observações probabilísticas. As Leis - verdades imutáveis sem exceções - são raras. A maioria das áreas do conhecimento têm apenas uma mão cheia.
Mas a mão cheia de leis que existe têm uma função especial: são as matriarcas, os sábios, das teorias e regras do dia a dia utilizados para descobrir novas verdades. Existe uma hierarquia na ciência: Leis na base, regras específicas acima, depois teorias, observações, palpites... quando mais se sobe na pirâmide, mais excitantes se tornam as coisas. É aí que as descobertas e as oportunidades se encontram. No entanto, tudo o que está no topo da pirâmide tem que respeitar as Leis que estão na base.
Esta ideia de as regras flexíveis derivarem de Leis inabaláveis aplica-se a todas as áreas do conhecimento. John Reed escreve no seu livro Succeeding:
Quando iniciamos o estudo de uma determinada disciplina, parece que temos que memorizar um zilião de coisas. Não é verdade. O que precisamos é de identificar os princípios centrais que regem a disciplina. O milhão de coisas que julgávamos ter que memorizar são simplesmente várias combinações dos princípios centrais.
No investimento, é exatamente a mesma coisa.
O que é uma Lei do investimento? Não existe uma definição, por isso tomei algumas liberdades. Tento limitá-las a forças que influenciam todo o tipo de investimentos, em todos os setores e países, ao longo de toda a história, com poucas exceções e tento explicar porque motivo continuarão válidas indefinidamente.
O investimento não é apenas o estudo das finanças. É o estudo de como as pessoas se comportam com o dinheiro. Portanto, a maior parte destas Leis descrevem como as pessoas se comportam face ao risco, recompensas e escassez.
Estas Leis são simples. São, no entanto, parte dos alicerces que governam a maior parte do que acontece nos investimentos e continuará a acontecer enquanto existirem investimentos.
Lei 1: O otimismo e o pessimismo atingirão sempre níveis excessivos porque os limites de ambos só são conhecidos em retrospetiva, depois de terem sido ultrapassados.
O preço certo para cada ativo é o que alguém está disposto a pagar por ele, uma vez que os preços dependem de assunções subjetivas acerca do futuro. E tal como um cego que não sabe onde está a parede até que a bengala lhe toca, os mercados não sabem quando o otimismo ou pessimismo foram longe demais até que ultrapassam os limites e os investidores, em número suficiente, protestam na direção oposta.
Os picos e fundos dos ciclos de mercado parecem sempre irracionais em retrospetiva. Mas, em tempo real, os mercados estão simplesmente a tentar encontrar os limites que as pessoas conseguem suportar. E têm que o fazer, uma vez que a diferença entre o potencial de um ativo e o que os investidores estão dispostos a aguentar cria oportunidades que serão exploradas.
Robert Shiller venceu o prémio Nobel com um paper que escreveu em 1981 acerca de uma ideia similar. A conclusão a que podemos chegar é que os mercados não são, na realidade, racionais; são apenas razoáveis.
Lei 2: A acalmia semeia a loucura.
Se os mercados não sofressem crashes, não seriam arriscados.
Se não fossem arriscados, ficariam muito caros.
Quando ficam caros, sofrem crashes.
O mesmo acontece com as recessões. Quando a economia está estabilizada, as pessoas ficam otimistas. Quando ficam otimistas, contraem créditos, quando contraem créditos, a economia fica instável.
O economista Hyman Minsky concluiu, há meio século, que a estabilidade é desestabilizadora e esta é uma das observações mais úteis no investimento uma vez que explica por que razão a volatilidade é, não só inevitável, mas também é causada por pessoas que agem de forma razoável. Se encararmos todas as recessões, crashes de mercado ou bolhas, causadas por dívida em excesso como exemplos de pessoas a agir loucamente, poderemos ficar cínicos, o que torna difícil ser otimistas de longo prazo, mesmo quando o devemos ser. Se as encararmos como inevitáveis, concluímos que são parte normal da viagem e um lembrete ocasional de que o sinal de "apertar o cinto de segurança" nunca deve ser desligado.
Lei 3: Realidades de carreira originam um desfasamento entre fluxos de dinheiro e horizonte temporal, constrangendo o poder do juro composto.
Conselheiros financeiros bem-intencionados, ao dirigirem-se a jovens com 23 anos de idade, declaram: "que afortunado, tem 45 anos antes da reforma. O juro composto pode fazer crescer o seu dinheiro 20 vezes nesse período." O confuso e realista jovem de 23 anos responde: "Isso é muito giro. Ganho 16 dólares por hora e tenho créditos de estudante de 58 mil dólares." Pela altura em que a carreira dos estudantes está encaminhada e têm capital suficiente para investir, já estão nos seus 40 ou 50, quando o poder do juro composto diminuiu cerca de 90%.
Investir é o equivalente de a NFL apenas poder recrutar jogadores com 50 anos - que já passaram o seu apogeu, com performances muito inferiores às que conseguiriam quando eram mais novos. Quando tudo nos é favorável quando somos novos, tipicamente assumimos que os cheques continuarão para sempre e não tiramos partido da vantagem do horizonte temporal mais longo.
O fosso entre o que é possível numa folha de cálculo e praticável no mundo real será sempre vasto.
Lei 4: Pessoas com horizontes temporais diferentes e objetivos diferentes querem coisas diferentes dos mesmos ativos, criando diferenças razoáveis nas suas opiniões, que podem ser mal interpretadas como divergências.
Fundos de pensões têm Google em carteira. Fundos de índices também. E gestores ativos. E traders diários. E traders de alta frequência.
Cada um tem horizontes temporais e objetivos diferentes. Por isso, vão reagir de forma diferente às notícias e vão ter opiniões diferentes quanto à informação que importa e sobre o que vai acontecer de seguida.
Isto pode criar problemas, porque se temos um ativo em carteira, a última coisa que queremos é alguém inteligente dizer-nos, ou sinalizar, que somos loucos por tê-lo. Muita inteligência pode ser afogada por um pouco de persuasão social. Se estamos expostos à opinião de pessoas que têm o mesmo ativo que nós, mas diferentes objetivos ou horizontes temporais, poderemos ser desviados e tentados a tomar más decisões, ainda que o que a outra pessoa está a dizer esteja correto (para ela).
Quando existem objetivos diferentes, pessoas razoáveis podem discordar. Concentrar a nossa atenção na informação que está alinhada com os nossos próprios objetivos é essencial, mas bem mais difícil do que parece.
Lei 5: Sorte e risco são os lados opostos da mesma moeda, mas tratamo-los de forma muito diferente.
Tudo o que é importante nas finanças tem a ver com probabilidades e, uma vez que a maioria das probabilidades é inferior a 100, existe uma hipótese de tomar uma boa (ou má) decisão e, mesmo assim, conseguir um desfecho mau (ou bom).
O primeiro é chamado risco. O segundo é sorte.
Risco e sorte são irmãos de sangue. Mas nós tratamo-los como se fossem espécies diferentes.
O risco é tipicamente visto como algo que nos acontece enquanto que a sorte é tratada como algo que fizemos a nós próprios. Os retornos são ajustados pelo risco, nunca pela sorte.
As pessoas fazem tudo para evitar o risco. Deveremos querer evitar a sorte? Claro que não. Mas se não reconhecermos a sorte quando ela acontece, podemos iludir-nos e concluir que a performance passada é indicativa de capacidade superior. Isto pode levar-nos a decisões lamentáveis.
Experimentar o risco faz-nos concluir que algumas coisas estão fora do nosso controlo. Isto pode dar-nos feedback valioso. A sorte fornece-nos o oposto: uma sensação falsa e perigosa de que estamos no controlo, porque fizemos algo e conseguimos o desfecho desejado. Bill Gates declarou: "O sucesso é um professor terrível. Seduz as pessoas inteligentes e convence-as que não podem perder".
Lei 6: O maior risco é sempre aquele de quem ninguém fala, porque, se ninguém fala dele, ninguém está preparado.
Tudo nas finanças são dados no contexto de expetativas. Um não importa sem o outro. A expetativa de um grande risco pode sanar o quão doloroso esse evento é quando ocorre, porque as pessoas são muito boas a preparar-se. No final de contas, a maior parte dos danos causados por grandes eventos financeiros é a reação exagerada a surpresas e ao desconhecido (ver Lei 1). Consigo colocar e retirar as minhas lentes de contacto sem qualquer dificuldade, mas se me tocam nos olhos de repente, eu retraio-me e grito porque não sei qual foi o dano ou o que ainda está para vir. A diferença entre um tweet louco de Donald Trump ou um de Jerome Powell é abismal.
A ironia universal do risco é que por mais que o tentemos quantificar, vamos sempre deixar de fora tudo aquilo em que não estamos a pensar ou que nem sequer imaginamos. E isso é o que importa mais.
Carl Richards resume: "O risco é o que sobra quando pensamos que pensamos em tudo."
Lei 7: As narrativas tornam-se autorrealizáveis e podem sobrepor-se às capacidades visíveis que são mais facilmente mensuráveis.
A 1 de janeiro de 2009, a economia americana tinha sensivelmente o mesmo número de pessoas, o mesmo número de fábricas, máquinas, edifícios de escritórios, computadores, datacenters, camiões, comboios, patentes, escolas, criatividade e ideias que tinham em janeiro de 2007. No entanto, era 16 triliões de dólares mais pobre e empregava menos 10 milhões de pessoas em 2009 do que em 2007.
O que mudou foi a narrativa. De otimismo a pessimismo - estalar os dedos é o que basta.
Quando a narrativa - de que os preços das casas sobem sempre - quebrou, as hipotecas executadas aumentaram, os bancos perderam dinheiro, reduziram o crédito a outros negócios, o que levou a despedimentos, resultando em menos consumo, que levou a mais despedimentos e por aí em diante. Em 2009, tínhamos a mesma capacidade de crescimento de 2007, a narrativa a que nos agarrámos é que era diferente. E a economia sofreu a maior crise dos últimos 80 anos.
As finanças e a economia dependem de assunções subjetivas voltadas para o futuro e todo o edifício pode ser impulsionado ou ruir quando essas assunções mudam. A capacidade produtiva não precisa de mudar; basta mudar a história em que as pessoas acreditam.
A determinada altura, a narrativa de que os preços das casas podem cair parece ridícula. No entanto, assim que um número suficiente de pessoas acredita que isso pode acontecer, esse evento torna-se autorrealizável. Isto também é verdade na direção oposta e pode explicar o sucesso económico americana face a nações com cidadãos igualmente capazes. Nunca subestimar um grupo de pessoas com convicções fortes, para o bem ou para o mal.
Lei 8: Quanto mais revolucionária for a tecnologia, mais ridicularizada será porque é difícil distinguir a familiaridade da utilidade.
Pense nas tecnologias mais revolucionárias os últimos 100 anos. Agora tente recordar-se do que as pessoas diziam delas no início. Encontrará críticas universais e ceticismo. Quanto mais importante é a tecnologia hoje, mais ceticismo enfrentou quando surgiu. Existem poucas exceções. O ceticismo face a novas tecnologias é frequentemente justificado. Os protótipos iniciais são horríveis ou toda a ideia era ridícula. Mas uma nova tecnologia que acaba por ser fantástica - automóveis, aviões, antibióticos, vacinas, computadores - será criticada por diversas razões: poucos conseguem imaginar como se vai encaixar nas suas vidas e preocupam-se com os efeitos secundários que poderão prejudicar o seu estilo de vida. Três razões para isto acontecer:
- Aceitar que algo substitua a forma como fazemos a s coisas hoje exige o reconhecimento de que a forma como fazemos as coisas hoje não é eficiente e se extinguirá em breve. Isto é difícil de aceitar porque as pessoas desejam ser eficientes e tornam-se sentimentais relativamente à maneira como as coisas foram sempre feitas. Uma das principais críticas aos primeiros automóveis foi a indignidade que causavam aos pobres cavalos.
- As novas tecnologias desencadeiam frequentemente revoluções culturais, o que, para as gerações mais velhas, é difícil de distinguir de declínio moral. O telefone matou a arte de escrever cartas; o email matou as conversas telefónicas; Slack matou as reuniões face a face, e por aí adiante.
- Compreender o valor de uma nova tecnologia requer imaginação, mas, a menos que tenhamos algo em jogo, isto pode parecer não valer a pena o esforço. A tecnologia, no final de contas, deve tornar as coisas mais simples e fáceis e não exigir esforço mental.
Um tema comum na história é a preocupação de que costumávamos inovar, mas não fizemos nada de significativo há mais de 10 anos. Em retrospetiva, a causa mais comum para esta preocupação é que costumamos demorar mais de 10 anos para reconhecer a importância de novas inovações.
Lei 9: Grandes resultados são guiados por eventos extremos, portanto ganhar enquanto perdemos a maior parte do tempo é normal.
Tudo o que é grande, lucrativo, famoso e influente é resultado de um evento extremo - um evento aberrante, um em milhares ou um em milhões. E a maior parte da nossa atenção concentra-se em coisas grandes, lucrativas, famosas e influentes. Quando a maior parte daquilo a que prestamos atenção é resultado de eventos extremos, torna-se fácil subestimar quão raros e poderosos são os eventos extremos.
Estes eventos extremos, no entanto, impulsionam quase tudo. Uma minoria de participantes capturará retornos generosos porque a oportunidade atrai concorrência e os vencedores dessa "corrida" tendem a "trancar" os lucros porque clientes, empregados e investidores querem associar-se a vencedores.
Um portfólio diversificado deriva a maior parte dos seus retornos de longo prazo de uma minoria de empresas. Estas empresas derivam a maior parte do seu valor de uma minoria de produtos e esses produtos forma criados por uma minoria de empregados, que foram educados numa minoria de escolas, e por aí em diante.
A conclusão a retirar dos eventos extremos é que devemos estar confortáveis mesmo quando a maior parte do que fazemos e vemos não funciona. Se ficarmos paralisados quando algumas coisas não funcionam, não vamos conseguir esperar e desfrutar daquelas poucas que funcionam.
Lei 10: As estratégias eficientes mudam à medida que os mercados mudam as métricas pelas quais se interessam.
As boas estratégias de investimento são como vacinas contra a gripe. Existem vacinas eficientes, mas apenas por um limitado período de tempo. A doença que pretendem combater evolui e torna-se resistente àquilo que costumava funcionar.
A vacina contra a gripe muda todos os anos com base nas estirpes de gripe mais prevalentes. As estratégias de investimento devem fazer o mesmo.
Benjamin Graham publicou diversas edições de "O Investidor Inteligente". Em cada nova edição, Graham substituiu as velhas fórmulas por outras que funcionavam melhor. Isto não foi um erro ou uma tentativa de o disfarçar. Uma boa estratégia atrai atenção e essa atenção pode eliminar oportunidades num instante.
A citação de Jim Grant - "o sucesso no investimento é toda a gente concordar contigo... mais tarde." - tem muita sabedoria. Uma determinada métrica pode influenciar-nos, mas não fará qualquer diferença a menos que muitos outros investidores decidam também ser influenciados por ela. O mais difícil é que as coisas a que os investidores prestam atenção e concordam, mudam ao longo do tempo.
Houve uma altura que o rácio Preço/Valor contabilístico era o que importava mais. Depois os dividendos eram supremos. Depois lucros por ação (PER). Este rácio foi popular durante um largo período de tempo. Ao longo da última década, é a Marca e talvez o crescimento das receitas. Tudo o que acontece para além destas métricas tem pouco significado.
A dificuldade está em encontrar o equilíbrio entre o que é intemporal (e a que devemos dedicar paciência) e o que expirou (e deve ser descartado). Se tivéssemos uma resposta fácil, estaríamos todos na praia.
Lei 11: A evidência mais convincente é aquela que queremos que seja verdade e/ou o que vivenciamos pessoalmente.
Um bom investidor vira muitas pedras até encontrar algo especial. Mas o especial é subjetivo. O que nós achamos espantoso pode ser entediante para outra pessoa. As coisas especiais que descobrimos não são pepitas de ouro, com um valor de mercado facilmente quantificável. O especial está nos olhos de quem observa e, por cauda da Lei 10, o truque está em fazer com que os outros vejam também. Por exemplo, as ações de valor. São amadas por muito e, por definição, detestadas por outros. A nossa história contra a deles.
O "Especial" é definido por uma história e o escritor dentro da nossa cabeça vence todos os prémios Pulitzer. A história que nos soa melhor é tipicamente:
- O que queremos que seja verdade. Os incentivos para estar correto no investimento são tão grandes que é difícil pensar claramente sobre a nossa análise sem nos distrairmos com as recompensas potenciais. Prevendo o tempo, utilizamos as roupas certas. Prevendo os investimentos certos, podemos reformar-nos na praia. Altos ganhos potenciais dão azo a uma lógica nebulosa porque nos incentivam a querer desesperadamente que algo seja verdade mesmo que não o seja.
- O que vivenciamos pessoalmente. Familiaridade é, dentro do nosso cérebro, equivalente a precisão. As duas são muito difíceis de distinguir. Eventos vivenciados pessoalmente são muito mais realistas do que aqueles acerca dos quais lemos. Dois investidores, igualmente inteligentes e com os mesmos dados, podem chegar a duas conclusões opostas guiados apenas pelas diferenças nas suas experiências de vida. Evidências que não queremos que sejam verdadeiras ou que não tenhamos vivenciado podem ser, obviamente, persuasivas. No entanto, a quantidade de reforço que sentimos quando queremos que a história seja verdadeira, ou quando a vivemos em primeira mão, é fácil de subestimar.
Lei 12: O fosso entre o timing das oportunidades de investimento e a fé num gestor de investimentos influenciará as decisões de investimento profissionais.
Um lamento comum a muitos gestores de investimentos é que os investidores se focam em demasia no curto prazo, resgatando os seus fundos após alguns trimestres de má performance e neutralizando o investimento a longo prazo do gestor.
É fácil, numa situação destas, culpar o investidor e acusá-lo de ter vistas curtas e ser emocional. Por vezes, isto é verdade. Frequentemente, no entanto, existe uma boa razão pela qual os investidores não se alinham com o horizonte temporal do gestor.
Os gestores de investimentos tentam encontrar oportunidades para retornos acima da média no longo prazo. Os investidores que colocam dinheiro nesses fundos tentam determinar se o gestor possui a rara habilidade para conseguir esses retornos. Estes objetivos são coisas muito diferentes.
Um gestor encara um período de performance mais fraca como uma pausa inevitável. Mas o investidor pode vê-lo como prova de falta de capacidade. E quem pode culpar o investidor dadas as performances horríveis da maior parte dos fundos? A diferença entre "temporariamente desfavorecido" e "o sucesso passado foi sorte/marketing" muitas vezes só se reconhece passados muitos anos. Os investidores de fundos que se mantêm pacientes durantes anos podem parecer irrazoáveis - até displicentes - quando as probabilidades de a performance passada do gestor não ter sido mais que sorte ou então já não é válida (ver Lei 10). Não creio que se possa culpar o gestor ou o investidor. Na maior parte do tempo, ambos têm boas intenções, mas estão a tentar fazer coisas diferentes com dados limitados. (É por isso que uma comunicação clara é essencial.)
Mas esta realidade pode empurrar os gestores para um horizonte temporal mais curto para poderem manter os investidores felizes e manterem os seus empregos. Há um ditado na gestão de fundos: "Prefiro perder metade dos meus clientes do que metade do dinheiro dos meus clientes". É mais nobre e mais fácil tweetar do que fazer.
Lei 13: Os erros de diagnóstico criam uma tendência para a ação numa área em que a primeira regra do juro composto é nunca o interromper desnecessariamente.
É fácil ver se o nosso carro está avariado. Se dermos à chave e o motor não pega, algo está errado. Talvez não saibamos o que está errado, mas é preciso fazer algo se queremos utilizar o carro. Não há ambiguidade.
Mas como se diagnostica um portólio?
Se não tem uma performance positiva durante um ano, está avariado.
Talvez. Ou então talvez seja uma questão de volatilidade.
Dois anos? Ainda é difícil de dizer. Talvez as ações que o compõem não estejam nas graças do mercado.
Três? Quatro? Cinco? Ainda não se sabe. "Tempestade perfeita" ...
Quando estão garantidos períodos de má performance e de volatilidade, é difícil diagnosticar se a nossa estratégia de investimento está avariada ou se precisa apenas de paciência. A maior parte das coisas na vida não é assim. A maior parte das coisas são como os carros - não existe qualquer ambiguidade.
A dificuldade no diagnóstico de problemas no nosso portfólio cria um incentivo à ação porque não fazer nada quando algo pode estar errado parece irresponsável. E a ação tende a repelir a performance potencial, uma vez que quando mais botões premirmos, mais probabilidades temos de estragar tudo e mais somos obrigados a depender dos movimentos de curto prazo que são mais influenciados por alterações no sentimento dos investidores do que por alterações nos dados fundamentais.
Lei 14: A especulação é racional porque eventos de baixa probabilidade podem ser enormemente compensadores quando se envolvem enormes somas de dinheiro e alavancagem.
Se formos investidores de longo prazo, podemos encarar a cacofonia do trading diário como se fosse um desfile de cowboys inumerados. As nossas opiniões são confirmadas se consultarmos os resultados dos traders.
Por que motivo deveríamos apostar se uma determinada empresa bate os resultados trimestrais?
Ou se os futuros do sumo de laranja cairão na próxima semana?
Ou quando ocorrerá a próxima recessão?
Serão estas pessoas loucas?
Às vezes, sim. No entanto, se for esta a nossa conclusão final, perdemos um ponto importante: A forma correta de olhar para os retornos é via valor expectável - recompensa X probabilidade. E a recompensa por estar correto no investimento pode ser tão grande que faz com que apostar em eventos de baixa probabilidade se torne racional.
Apostar em eventos de baixa probabilidade não é sinal de inumeracia; esperar que todos ignorem um evento com 1% de probabilidade de acontecer, mas que oferece uma recompensa que muda a vida é um sinal de inumeracia.
Quando vastas quantidades de dinheiro e alavancagem estão disponíveis, as barreiras racionais à especulação deixam de ser as probabilidades de sucesso em determinados eventos e passam a ser os custos de transação e a liquidez. Reduzam essas barreiras e fará sempre sentido especular em ideias que parecem loucas e quase impossíveis.
Lei 15: Comportamento > Análise, porque um não pode ser ensinado e o outro sim.
Para a maior parte dos investidores de há apenas uma geração atrás, saber mais sobre novos investimentos significava ir à biblioteca e esperar que existisse algum relatório anual disponível com menos de um ano de idade. A forma como as coisas mudaram e a velocidade com que o fizeram é inacreditável.
A maior parte das pessoas é capaz de conseguir saber mais sobre a saúde da Goldman Sachs do que da sua própria saúde, dada a quantidade disponível de informação gratuita e centralizada. "Todos podem saber tudo" pode ser um exagero, mas é nessa direção que caminhamos.
O lado comportamental do investimento - medo, ganância, impaciência, excesso de confiança - é diferente.
A sua popularidade disparou, mas não é como a informação que pode ser disseminada e aprendida. A informação é influente, mas o cortisol e a dopamina são autoritários. E muito do que impulsiona o comportamento no investimento está profundamente entranhado na personalidade e na experiência pessoal - e isto não é algo que possa ser facilmente ensinado.
O lado comportamental do investimento será sempre muito mais importante do que o lado analítico. Um bom comportamento e má informação pode, ainda assim, funcionar, mas toneladas de informação misturados com mau comportamento é um rastilho aceso.
Estou convicto que 10% da população não necessita de ajuda para investir. Nasceram com um entendimento intuitivo. Outros 10% não podem ser ajudados. São jogadores compulsivos e sempre o serão.
Lei 16: Uma atração pelo investimento/entretenimento porque o dinheiro é um produto universal com histórias de eventos extremos e emoções facilmente manipuláveis.
Um furacão que avança em direção à Florida não coloca em risco direto 92% dos americanos. Mas uma recessão que ameaça a economia pode impactar todas as pessoas, muitas delas profundamente.
Tirando a saúde, o dinheiro é o único tópico que é relevante para todos, quer queiramos ou não. Por isso, muitas pessoas prestam atenção a, e discutem, grandes histórias que, por sua vez se espalham a ainda mais pessoas, à medida que as opiniões são partilhadas e mais histórias são contadas.
De volta à Lei 9, eventos extremos: Existirão sempre histórias de sucessos e falhanços extremos, apresentados de uma forma que nos faz sobrestimar a sua prevalência e subestimar a sua complexidade. Portanto, as histórias são frequentemente extremas, fazendo com que sonhemos com desfechos enormes ou nos preocupemos com desfechos terríveis, mais do que as histórias justificam.
O dinheiro é emocional porque estamos a lidar com a nossa capacidade de nos reformarmos, pagar a educação dos filhos e o nosso bem-estar em geral. Ameaças e oportunidades potenciais são assim exageradas e ampliadas.
Isto tudo resulta no seguinte: o investimento é uma área em que o marketing, entretenimento, luzes que piscam, gráficos bonitos e histórias épicas capturam a nossa atenção de uma forma que, por exemplo, a meteorologia não consegue.
Lei 17: A humilde matemática da poupança, comissões e impostos.
"Poupe um pouco de dinheiro todos os meses e, no fim do ano, ficará surpreendido com o pouco dinheiro que conseguiu juntar." Não me recordo quem disse isto, mas é verdade. É dolorosamente fácil esquecer isto porque poupar é simples e dá trabalho, enquanto que investir é excitante e pode dar a impressão de não exigir qualquer esforço. A poupança pode ser mais valiosa que os retornos dos investimentos porque ela está mais sob o nosso controlo.
Outra verdade intemporal: as comissões e impostos reduzem os retornos em 100% do seu montante. Todos sabem isto, mas se compararmos o esforço que é despendido na procura de ganhos no investimento enquanto que se ignoram comissões e impostos, concluímos que saber algo e fazer alguma coisa sobre isso são coisas bem diferentes.
O escritor russo, Fyodor Dostoyevsky escreveu sobre as leis naturais:
"A natureza não pede a nossa autorização, não quer saber dos nossos desejos e, quer gostemos ou não das suas leis, somos obrigados a aceitá-la tal como é e, consequentemente, todas as suas conclusões".
Assim é com todas as leis em todas as áreas do conhecimento, incluindo o investimento.
É tarde, escuro como breu e um veículo autónomo serpenteia por uma estrada rural sinuosa.
Subitamente, surgem três perigos simultaneamente.
Sem um humano ao volante, o veículo utiliza "smart eyes", sensores que captam estes pormenores numa fração de segundo. Como é isto possível?
Sajan Saini explica como o LIDAR e a tecnologia de Integrated Photonics tornam os veículos autónomos uma realidade.
Buster Benson escreveu, em setembro de 2016, esta "cábula dos vieses cognitivos":
Todos padecemos de vieses cognitivos.
Cada um destes vieses existe por uma razão: poupar tempo e energia aos nossos cérebros (os vieses são atalhos que nos permitem chegar às respostas mais depressa. Por vezes, infelizmente, a resposta a que nos permitem chegar está errada).
Os vieses ajudam-nos a enfrentar quatro tipos de problemas: Excesso de informação, falta de significado, a necessidade de agir depressa e como saber o que é necessário recordar mais tarde.
Problema 1: Demasiada Informação
Há demasiada informação no mundo e não temos outra escolha se não filtrar a maior parte. O nosso cérebro utiliza alguns truques simples para escolher os pedacinhos de informação que, provavelmente, poderão vir a ser úteis no futuro.
- Reparamos em coisas que estão já fixadas na nossa memória ou que são repetidas frequentemente. Esta é uma regra simples: os nossos cérebros reparam mais facilmente em coisas que estão relacionadas com algo que foi recentemente "carregado" na nossa memória (heurística de disponibilidade, viés atencional, efeito de verdade ilusória, efeito de mera-exposição, ilusão de frequência, lacuna de empatia).
- Coisas bizarras/engraçadas/visualmente marcantes/antropomórficas saltam mais à vista do que coisas não bizarras/sem piada. Os nossos cérebros tendem a dar mais importância às coisas que são pouco habituais ou surpreendentes. Em alternativa, tendemos a ignorar informação que achamos ser comum ou esperada (efeito do bizarro, efeito Von Restorff, viés de negatividade, viés de publicação, viés de omissão).
- Reparamos quando algo mudou. E, geralmente, tendemos a avaliar o significado do novo valor pela direção da mudança que teve lugar (positiva ou negativa) e não reavaliando o novo valor como se ele tivesse sido apresentado isoladamente. Isto aplica-se também quando comparamos duas coisas similares (ancoramento, efeito de enquadramento, lei de Weber-Fechner, viés de distinção).
- Somos atraídos para detalhes que confirmam as nossas crenças. Isto é muito importante. Assim como o oposto: tendemos a ignorar detalhes que contradizem aquilo em que acreditamos (viés de confirmação, racionalização pós-compra, perceção seletiva, efeito de expectativa do observador, efeito de avestruz, validação subjetiva, reflexo Semmelweis).
- Notamos com muita maior facilidade falhas nos outros do que em nós próprios. Estes vieses não comprometem apenas a forma como as outras pessoas pensam; também nós estamos sujeitos a estes vieses (viés do ângulo morto, cinismo ingénuo, realismo ingénuo).
Problema 2: Falta de Significado
O mundo é extremamente confuso e acabamos por ver apenas uma pequena fatia, mas temos necessidade que ele faça algum sentido para que possamos sobreviver. Quando o reduzido fluxo de informação (filtrada pelos vieses do ponto anterior) chega a nós, ligamos os pontos, preenchemos as falhas com aquilo que julgamos já saber e atualizamos os nossos modelos mentais do mundo.
- Encontramos histórias e padrões até em dados escassos. Uma vez que recebemos apenas uma pequena fatia da informação do mundo e filtramos quase tudo o resto, nunca temos o luxo de ter a história completa. É assim que o nosso cérebro reconstrói o mundo dentro das nossas mentes (confabulação, ilusão de agrupamento, insensibilidade ao tamanho da amostra, negligência de probabilidade, falácia anedótica, ilusão de validade, ilusão de recência, pareidolia, antropomorfismo).
- Recorremos a características estereotipadas, generalidades e histórias anteriores sempre que surgem novos detalhes específicos ou falhas na informação. Quando temos informação parcial acerca de uma coisa específica que pertence a um grupo de coisas com que estamos familiarizados, o nosso cérebro não hesita em preencher as falhas com palpites ou informação originária de fontes confiáveis. Convenientemente, esquecemos depois que partes eram reais e que partes foram preenchidas pelo nosso cérebro (viés de autoridade, efeito adesão, efeito placebo).
- Imaginamos que coisas ou pessoas com que estamos familiarizados ou de que gostamos são melhores que coisas ou pessoas com que não estamos familiarizados ou não gostamos. Somos influenciados por assunções pré-concebidas acerca da qualidade e valor daquilo que observamos (efeito halo, efeito cheerleader).
- Simplificamos probabilidades e números para que seja mais simples pensar neles. O nosso subconsciente não é bom a matemática e, geralmente, comete muitos erros no cálculo das probabilidades de algo acontecer (contabilidade mental, apelo à probabilidade, ilusão monetária, conservadorismo).
- Julgamos que sabemos o que os outros estão a pensar. Nalguns casos, isto significa que assumimos que eles sabem o que nós sabemos. Noutros casos, assumimos que os outros estão a pensar em nós tanto quanto nós pensamos em nós mesmos. Basicamente, estamos a transferir para os outros a nossa forma de pensar (ilusão de transparência, ilusão de agência externa).
- Projetamos as nossas assunções e estado de espírito atual para o passado e futuro. Isto é ampliado pelo facto de não sermos muito bons a imaginar o quão rapidamente ou lentamente as coisas acontecem ou se alteram ao longo do tempo (viés do retrovisor, viés de desfecho, falácia de planeamento).
Problema 3: A Necessidade de Agir Rapidamente
Somos constrangidos pelo tempo e pela informação, mas não podemos deixar que isto nos paralise. Sem a capacidade de agir depressa face à incerteza, teríamos com certeza perecido como espécie há muito tempo. Com cada pedaço novo de informação, precisamos de fazer o nosso melhor para avaliar a nossa capacidade de afetar a situação, aplica-la às decisões, simular o futuro para prever o que pode acontecer de seguida e, desta forma, agir com base nas nossas conclusões.
- De forma a agir, temos que ter confiança na nossa capacidade de ter impacto e de sentir que o que fazemos é importante. Na realidade, esta confiança pode, quase sempre, ser classificada como excesso de confiança. Sem ela, no entanto, poderíamos nem sequer agir (efeito de excesso de confiança, efeito Dunning-Kruger, viés egocêntrico, viés de otimistmo irrealista).
- De maneira a mantermo-nos focados, favorecemos a coisa imediata e relacionável que está à nossa frente em detrimento da coisa diferida e distante. Valorizamos mais o presente do que o futuro e sentimos mais empatia com histórias de indivíduos específicos do que com indivíduos anónimos ou grupos (apelo à novidade, efeito de vítima identificável).
- Para conseguirmos fazer qualquer coisa, somos motivados a completar coisas nas quais já investimos tempo e energia. Esta é a versão comportamental da primeira lei de Newton: um objeto em movimento mantém-se em movimento. Este viés ajuda-nos a terminar tarefas mesmo que deparemos com motivos fortes para desistir (falácia de custos irrecuperáveis, efeito IKEA, efeito de propriedade).
- Para evitar erros, estamos motivados para preservar a nossa autonomia e status dentro do grupo e tentamos evitar decisões irreversíveis. Se formos forçados a escolher, tendemos a escolher a opção que é percecionada como sendo menos arriscada ou a que preserva o status quo. Antes o diabo que conhecemos... (teoria de sistema de justificação, psicologia reversa, viés de comparação social).
- Favorecemos opções que pareçam ser simples ou que possuam informação completa em detrimento de opções mais complexas ou ambíguas. Preferimos fazer a coisa mais rápida e simples em vez da coisa mais importante e complicada, mesmo que a coisa mais complicada seja, no final de contas, uma melhor utilização do nosso tempo e energia (efeito de ambiguidade, viés de crença, navalha de Occam).
Problema 4: O Que Devemos Recordar?
Existe demasiada informação no Universo. Só nos podemos dar ao luxo de manter por perto os pedaços que, pensamos nós, poderão ser úteis no futuro. Temos que, constantemente, apostar no que devemos recordar ou esquecer. Por exemplo, preferimos generalizações porque ocupam menos espaço. Quando existem demasiados detalhes, escolhemos os que se destacam e esquecemos o resto. Aquilo que poupamos aqui está diretamente relacionado com os filtros que utilizamos no problema 1 (excesso de informação) assim como com os processos que utilizamos ao lidar com informação incompleta no Problema 2. No final de contas, trata-se de um ciclo autoalimentado.
- Editamos e reforçamos algumas memórias após o facto. Durante este processo, algumas memórias ganham força. Alguns detalhes, no entanto, podem ser acidentalmente apagados/trocados. Injetamos, por vezes, acidentalmente, detalhes novos que não aconteceram (atribuição errônea de memória, criptomnésia, efeito de espaçamento).
- Descartamos o específico para formar generalidades. Fazemos isto por necessidade, mas o impacto de associações implícitas, estereótipos e preconceitos pode ter consequências gravíssimas (estereótipos implícitos, preconceito).
- Reduzimos eventos e listas aos seus elementos chave. É difícil reduzir eventos e listas a generalidades, por isso, escolhemos alguns itens para representar a totalidade (efeito de desinformação).
- Armazenamos memórias de forma diferente conforme foram vividas. Os nossos cérebros codificam apenas a informação que consideram importante na altura, mas esta decisão pode ser afetada por outras circunstâncias (o que mais está a acontecer, como é apresentada a informação, se podemos encontrar a informação novamente se dela necessitarmos, etc) que têm pouco a ver com o valor da informação (efeito de superioridade de imagem, efeito Google, fenómeno ponta da língua).
Muito bem, como me vou lembrar disto tudo?
Não é necessário. Mas pode começar por se recordar destes quatro problemas gigantes que os nossos cérebros evoluíram ao longo de milhões de anos para enfrentar:
- O excesso de informação é terrível, por isso filtramos agressivamente. O ruído torna-se sinal.
- A falta de significado é confusa, por isso preenchemos as falhas. O sinal torna-se uma história.
- Precisamos de agir depressa, por isso preenchemos as falhas. Histórias tornam-se decisões.
- Isto não fica mais fácil, por isso tentamos recordar os pedaços mais importantes. Decisões moldam os nossos modelos mentais do mundo.
Para não nos afogarmos no excesso de informação, os nossos cérebros precisam de filtrar quantidades absurdas de informação e rapidamente, quase sem esforço, decidem o que, daquela torrente, é realmente importante.
De forma a construir significado dos pedaços de informação que atraem a nossa atenção, precisamos de preencher as falhas e encaixá-los nos nossos modelos mentais. Precisamos também de nos assegurarmos que tudo se mantém razoavelmente estável e tão preciso quanto possível.
Para agirmos depressa, os nossos cérebros são obrigados a tomar decisões em frações de segundo que podem impactar as nossas hipóteses de sobrevivência, segurança ou sucesso, e devem fazê-lo com a confiança de que terão sucesso.
E para conseguir fazer isto de forma tão eficiente quanto possível, os nossos cérebros precisam de recordar os pedaços mais importantes e úteis da nova informação e informar os outros sistemas para que se adaptem e melhores, mas não mais que isso.
Será, no entanto, importante recordar que as soluções para estes quatro grandes problemas têm, por seu turno, os seus próprios problemas.
- Não vemos tudo. Alguma da informação que filtramos e descartamos é útil e importante.
- A nossa busca por significado pode conjurar ilusões. Por vezes imaginamos detalhes com base em assunções e construímos histórias e significados que não estão realmente lá.
- Decisões rápidas podem ser deficientes. Algumas das reações rápidas e decisões a que chegamos são injustas e contraproducentes.
- A nossa memória reforça os erros. Algumas das coisas que recordamos reforçam o enviesamento do nosso processo mental e podem ser prejudiciais ao nosso pensamento.
Não há nada que possamos fazer para eliminar definitivamente estes quatro problemas, mas se aceitarmos que somos enviesados, conseguiremos compreender-nos, e aos outros, melhor.
Os vieses cognitivos são apenas ferramentas, úteis em determinados contextos e até desempenham o seu papel de forma bastante eficiente. Mais vale familiarizarmo-nos com eles e, reconhecendo que eles existem, tentar aproveitá-los para processar de forma eficiente o universo que nos rodeia.
Dave Trott é diretor criativo e autor de vários livros. No seu blog, davetrott.co.uk/, Dave partilha histórias que podem ser aplicáveis a todas as áreas do conhecimento. Eis uma delas:
Ouvi esta história num programa de rádio americano.
Um pai ligou e disse que a filha ia levar o carro à revisão.
Disse também que a filha nunca questionava o que o mecânico dizia.
Ela não queria parecer ignorante, por isso, simplesmente concordava com ele.
O pai sugeriu que o programa lhe pregasse uma partida.
Eis o que aconteceu:
O apresentador telefonou-lhe e fingiu que era o mecânico.
Ele: "Olá, já vimos o seu carro e, de uma forma geral, está em boas condições."
Ela: "Isso são boas notícias."
Ele: "Sim, a única coisa é que é preciso mudar a água dos faróis."
Ela: "É preciso mudar a água dos faróis?"
Ele: "Sim, é preciso substituí-la."
Ela: "Ah, está bem, o que sugere?"
Ele: "Bem, podemos usar água da torneira se quiser."
Ela: "E serve?"
Ele: "Aguenta no curto prazo, mas não é o ideal."
Ela: "O que recomenda?"
Ele: "Bem, eu recomendaria água Evian."
Ela: "Evian é melhor para os faróis?"
Ele: "É mais cara no curto prazo, mas, no longo prazo, dura mais."
Ela: "Ok. Qual é a diferença no custo?"
Ele: "Com a água da torneira, é só custo de mão de obra, digamos vinte dólares. Com Evian, temos o custo da mão obra mais a água mineral. Chegará quase aos cinquenta dólares."
Ela: "Isso é muito caro."
Ele: "Bem, Evian é um produto de qualidade."
Ela: "O que faria você?
Ele: "Honestamente, se utilizasse água da torneira, teria que a substituir dentro de alguns meses."
Ela: "Então recomenda a opção Evian?"
Ele: "Essa é a solução que eu escolheria."
Ela: "Bem, o senhor é que é o perito. Acho que é melhor então colocar água Evian nos faróis."
E a chamada termina assim.
O apresentador e o pai da mulher riram-se à gargalhada.
Todos nós nos podemos rir da ignorância da mulher.
Mas a verdade é que ela estava a fazer aquilo que todos nós fazemos.
O que ela estava a tentar fazer era não revelar a sua ignorância.
Ela não queria parecer ignorante.
Por isso, deixou-se levar pelo que o perito lhe disse.
Desde que fosse dito em linguagem convincente.
Parece-lhe familiar?
Alguma vez foi confrontado com uma proposta cuja linguagem não compreende?
Alguma vez teve receio de questionar a proposta e parecer ignorante?
No caso de todos na sala saberem o que significam aquelas longas palavras que estão na moda e você ser o único que não sabe.
Por isso, aceita docilmente a proposta em vez de a questionar.
Pessoalmente, tenho uma regra simples para as propostas.
A qualidade do pensamento é inversamente proporcional à complexidade da linguagem.
Por outras palavras, as pessoas só usam linguagem complicada para disfarçar um mau raciocínio.
As pessoas que pensam bem querem ser entendidas por todos.
Portanto, mantêm as coisas tão simples quanto possível.
Não precisam de as engalanar.
Só as pessoas com vergonha do que estão a dizer precisam de disfarçar.
Utilizando jargão que soa credível, complexo e na moda.
Lembre-se da próxima vez que tiver receio de questionar alguma coisa.
Da próxima vez que tiver medo de parecer ignorante.
Lembre-se do que a mulher pensou.
"Não questione os peritos. Confie neles. Tenha o cuidado de não parecer ignorante."
E acaba com Evian nos faróis.
O que tem esta história a ver com o investimento?
Da próxima vez que um banco lhe apresentar uma proposta de investimento, lembre-se da mulher que não queria parecer ignorante e acatou as instruções do falso mecânico.
Se não compreender o que lhe estão a propor, não invista.
A Fortune Magazine publicou, na sua edição de Agosto, a Fortune's Global 500, a lista das 500 maiores empresas mundiais por receitas. Traduzimos abaixo a introdução a este trabalho.
A China está perto da paridade com os EUA na lista da Fortune's Global 500 - um forte sinal de rivalidade que está a transformar o mundo dos negócios globais.
O Século Chinês está prestes a atingir a terceira década e a Fortune's Global 500 mostra o quão profundamente o equilíbrio de poder mundial está a mudar. As empresas americanas representam 121 das maiores empresas do mundo por receitas. As empresas chinesas representam 119. Sim, a América ainda é o nº 1, por pouco, mas parece inevitável que perderá este título, provavelmente durante o próximo ano. Pela primeira vez desde o surgimento da Fortune's Global 500, em 1990, e pela primeira vez desde o final da Segunda Guerra Mundial, uma nação que não os Estados Unidos dominará o mundo dos negócios.
Esta mudança está a transformar, não só o mundo dos negócios, mas também o próprio mundo. À medida que a China procura suceder aos EUA como a superpotência dominante, os negócios desempenham um papel ainda maior nas relações internacionais do que o habitual. As nações sempre competiram economicamente, mas os EUA e a China estão envolvidos numa batalha direta pela força vital económica global: a tecnologia. Tal como o ex Secretário do Tesouro, Henry Paulson escreveu, "A batalha é sobre qual das economias liderará a tecnologia do futuro e estabelecerá os padrões para ela."
A batalha não é apenas metafórica; envolve aspetos de segurança nacional. Por este motivo, os Estados Unidos baniram parcialmente a compra, por parte de empresas americanas, de produtos construídos pela gigante das telecomunicações Huawei (61 da lista), argumentando que a empresa é gerida pelo estado chinês e que pode sabotar a infraestrutura 5G ou utilizá-la para roubar dados (a Huawei nega que alguma destas alegações seja verdadeira). A China fixou objetivos explícitos: o domínio de áreas como a inteligência artificial, computação quântica, robótica e veículos autónomos. À medida que estas disputas escalam, outras nações podem sentir-se compelidas a escolher uma das tecnologias, chinesa ou americana, aumentando, desta forma, o impacto final do vencedor.
É verdade que as receitas das empresas chinesas representam apenas 24,2% do total da Fortune's Global 500, significativamente atrás dos 28,8% americanos. Mas isto não é inesperado. A China é a potência em ascensão, economicamente mais pequena, mas com um crescimento muito mais rápido. A nacionalidade nº 1 das 50 maiores empresas na Fortune's Global 500 deste ano é americana; nas 50 menores, é chinesa. Essas empresas perto do fundo são as que crescem mais rapidamente e, tal como o seu país, transbordam de ambição.
O Presidente Xi Jinping declarou que, em 2049, o centenário da revolução comunista, a China será "completamente desenvolvida, rica e poderosa," um objetivo que a especialista em assuntos chineses, Graham Allison, da Universidade de Harvard, inclui ser "incontestável nº1" com um poderio militar que "seja capaz de enfrentar e derrotar todos os adversários". Com isto em mente, ver o artigo da Fortune de Agosto de 2019 "Boxed In at the Docks" que retrata a aquisição do maior porto da Grécia pela China e como ela se encaixa na vasta iniciativa estatal chinesa "Belt and Road". O artigo descreve o papel crucial desempenhado pelas empresas detidas pelo estado chinês - 82 das empresas chinesas da Fortune's Global 500 recebem subsídios governamentais, o que lhes confere uma vantagem sobre as empresas ocidentais do sector privado.
O fundador da Fortune, Henry Luce, declarou em 1941 que o Séc. XX seria o Século Americano. A sua previsão foi largamente validada. Se o Séc. XXI será o Século Chinês - com o domínio ao nível da cultura, ideais e conceitos de direitos humanos e natureza humana - é preciso aguardar para ver. Nos negócios, pelo menos, o Século Chinês é cada vez mais rápida e intensamente chinês.
No mundo dos investimentos, o nome Warren Buffett é sinónimo de sucesso e prosperidade com este livro, o leitor pode aprender como Warren Buffett conseguiu isso e como ele também pode conseguir.Construindo do zero, Buffett escolheu as suas ações sabiamente e com cuidado, por sua vez acumulando a enorme fortuna pela qual agora é famoso. Mary Buffett, ex-nora deste lendário génio financeiro e uma empresária de sucesso por seus próprios méritos, juntou-se ao famoso Buffettologist David Clark para criar Buffettology, um guia de investimento único que explica as estratégias vencedoras do mestre.
A tecnologia é o setor mais ativo e lucrativo do mercado de ações, mas pode ser um pesadelo para os investidores. Empresas que hoje dominam poderão ser vendidas a preço de saldo dentro de poucos anos.Mark Mahaney, analista de empresas tecnológicas há mais de 25 anos, partilha connosco as lições que aprendeu com os seus triunfos e, principalmente, com os seus erros. Com Mahaney, revisitamos a história da Internet comercial, incluindo o Dot Com Boom e o Dot Com Bust, as empresas que atingiram um sucesso espetacular e as que falharam miseravelmente e revela dez lições para a construção de um portfólio de ações de tecnologia.Nothing But Net oferece conselhos poderosos para as próximas duas décadas - lições que podemos começar a aplicar hoje e ao longo dos próximos anos.
Um guia detalhado para superar as armadilhas psicológicas encontradas com mais frequência no investimento. Vieses, emoção e excesso de confiança são apenas três das muitas características comportamentais que podem levar os investidores a perder dinheiro ou obter retornos mais baixos. As finanças comportamentais, que reconhecem que existe um elemento psicológico em todas as tomadas de decisão do investidor, podem ajudá-lo a superar esse obstáculo. Em O Livro do investimento Comportamental, o especialista James Montier apresenta alguns dos desafios comportamentais mais importantes enfrentados pelos investidores. Montier revela as barreiras psicológicas mais comuns, mostrando claramente como a emoção, o excesso de confiança e uma infinidade de outras características comportamentais podem afetar a tomada de decisão de investimento. O livro apresenta maneiras comprovadas de identificar e evitar as armadilhas dos vieses do investidor, indica como aprender com os nossos erros de investimento em vez de repeti-los e explora os princípios comportamentais que permitirão que o leitor tenha sucesso como investidor. Escrito num estilo simples e acessível, O Livro do Investimento Comportamental permite ao leitor identificar e eliminar traços comportamentais que podem minar os seus esforços de investimento e mostra-lhe como conseguir retornos superiores.
Numa mistura inovadora de ciência e imaginação, o ex-líder da Google China e um dos mais importantes escritores de ficção especulativa unem forças para responder a uma pergunta: como vai a inteligência artificial mudar o nosso mundo nos próximos vinte anos?A IA vai definir o século XXI, mas muitas pessoas sabem muito pouco sobre ela, exceto as visões de robots distópicos ou carros voadores. Embora o termo exista há já meio século, é só agora, defende Kai-Fu Lee, que a IA está prestes a revolucionar a nossa sociedade, tal como tecnologias como a eletricidade e smartphones o fizeram antes. Nos últimos cinco anos, a IA mostrou que pode aprender jogos como o xadrez em poucas horas - e vencer sempre os humanos . A IA ultrapassou os humanos no reconhecimento de fala e objetos, superando até mesmo os radiologistas nos diagnósticos do cancro do pulmão. Dentro de duas décadas, teremos dificuldades em reconhecer a vida cotidiana.Neste livro provocador que alia a narrativa especulativa e a ciência, Lee, um dos maiores especialistas em IA do mundo, juntou-se ao célebre escritor Chen Qiufan para revelar como a IA vai invadir todos os aspectos do nosso mundo, em 2041.
Este livro defende que as forças subjacentes da demografia e da globalização farão em breve reverter três tendências globais de várias décadas a inflação e as taxas de juros vão subir, mas levarão a um retrocesso na desigualdade.O que quer que o futuro reserve, argumentam os autores, nada será como o passado.Os ventos deflacionários das últimas três décadas devem-se principalmente a um enorme aumento na oferta de mão de obra disponível no mundo, devido a tendências demográficas muito favoráveis ??e à entrada da China e da Europa Oriental no sistema comercial mundial.Este livro mostra como estas tendências demográficas estão prestes a reverter-se drasticamente, coincidindo com um recuo da globalização.O resultado? Pode-se esperar que o envelhecimento aumente a inflação e as taxas de juros, trazendo uma série de problemas para uma economia mundial superendividada, mas também deverá aumentar a participação do trabalho, de modo que a desigualdade diminua.Abarcando muitos fatores sociais e políticos, bem como aqueles que são mais puramente macroeconômicos, os autores abordam temas como envelhecimento, demência, desigualdade, populismo, aposentadoria e financiamento de dívidas, entre outros. Este livro merece a atenção de qualquer pessoa que esteja interessada em saber para onde vai a economia mundial.
Uma sondagem de 2020 concluiu que 60% das pessoas pensam que o ritmo de mudança nas suas vidas é muito rápido. As gerações anteriores, confrontadas com motores a vapor ou elevadores pela primeira vez, provavelmente também pensavam assim. Mas, segundo Azeem Azhar, analista de tecnologia e empresário, entramos de facto num período de mudança desestabilizadora e sem precedentes: uma era totalmente nova da sociedade humana e da organização económica a Era Exponencial.Azhar identifica a computação e inteligência artificial, eletricidade renovável e armazenamento de energia, biotecnologia e manufatura (por exemplo, a impressão 3D) como as áreas em que as inovações surgem a um ritmo exponencial: inventam-se e escalam-se novas tecnologias a um ritmo cada vez mais rápido, e simultaneamente, diminuem-se rapidamente os preços.O problema é que, embora a mudança tecnológica esteja a acelerar rapidamente, a nossa sociedade evolui a um ritmo mais gradual e incremental. Resultado? Está a abrir-se uma divisão entre a tecnologia e a sociedade, a denominada, segundo Azhar, lacuna exponencial.Temos vindo a inventar novas tecnologias desde os tempos dos machados de pedra e das pás de madeira. De acordo com Azhar, no entanto, temos muita dificuldade como espécie em compreender a mudança exponencial: As nossas mentes evoluiram para um mundo que ainda não tinha descoberto o poder da mudança rápida.No entanto, indivíduos e empresas ignoram esta mudança rápida por sua conta e risco. Em 2007, Steve Ballmer, da Microsoft, descreveu o iPhone, dizendo: Isto não tem a mínima hipótese de ganhar quota de mercado significativa. Como Azhar observa: Ballmer caiu na lacuna exponencial.Segundo Azhar existe agora um abismo de incompreensão mútua entre os tecnólogos e o resto da sociedade. Os políticos mostram muitas vezes uma profunda ignorância até mesmo das tecnologias mais básicas: Eles são como pessoas que tentam abastecer um carro enchendo a bagageira com feno.Azhar é assumidamente otimista quanto ao poder da tecnologia: Estamos a entrar numa era de abundância. O primeiro período da história humana em que a energia, comida, computação e muito mais serão trivialmente baratos de produzir.
O que quer que a liberdade financeira signifique para nós viver a vida que quisermos, não trabalhar de acordo com os horários dos outros, ser dono do nosso destino ou qualquer outro sonho a forma de a atingir é investir.Neste livro conciso e acessível, Ben Carlson e Robin Powell mostram como tomar o caminho da liberdade financeira através da poupança e do investimento.Não se trata de ficar rico de um dia para o outro. Criar riqueza através do investimento com o objetivo de longo prazo da liberdade financeira exige disciplina, sacrifício e tempo.Mas é possível, e quase qualquer um pode fazê-lo, se munido das informações corretas.Invest Your Way to Financial Freedom partilha connosco todas as etapas que precisamos de seguir para alcançar os nossos objetivos e inclui respostas claras e simples para as seguintes perguntas:Porque é que poupar é importante?Porque é que investir é a melhor forma de criar riqueza?O que podem os investidores esperar do mercado de ações?É tarde demais se não começarmos cedo a poupar e a investir?
Os nossos objetivos pessoais precisam de uma estratégia de longo prazo.Assim como alguns CEOs privilegiam os lucros trimestrais em detrimento dos investimentos estratégicos necessários para o crescimento de longo prazo, o mesmo acontece nas nossas vidas pessoais e profissionais.Todos sabemos intelectualmente que o sucesso duradouro exige persistência e esforço. No entanto, a pressão implacável omnipresente no mundo moderno leva-nos a escolher o que parece fácil, garantido ou o que está na moda.Em The Long Game, Dorie Clark defende um caminho diferente. Clark partilha princípios que podemos aplicar à nossa situação específica, bem como histórias da sua própria carreira e experiências de outros profissionais. Todos temos as mesmas vinte e quatro horas, mas com as estratégias certas, podemos aproveita-las de forma mais eficiente.Este não é um processo que dará resultados da noite para o dia, mas a recompensa a longo prazo é imensa.
A sugestão de hoje surge-nos de Hugo Palma, informático de profissão e formação, filósofo e desportista por paixão, inconformado com o desinteresse por natureza. Leitor de menos livros de ficção do que por vezes gosta de admitir, mas os temas não ficcionais ganham quase sempre na constante batalha do próximo livro a atacar."O otimista diz O copo está meio cheio. O pessimista diz O copo está meio vazio. O racionalista diz Este copo é o dobro do tamanho que precisa de ser.Para muitos filosofia é sinónimo de algo desprovido de aplicação prática, uma ciência romântica da qual pouca utilidade poderá ser espremida. Proponho que repensem a filosofia como a base para toda a lógica argumentativa mas sem perder de vista o sentido de humor e a capacidade de rir de nós próprios. Neste livro são abordados conceitos basilares da filosofia antiga através de pequenas histórias e anedotas numa voz livre de preconceitos e classicismos. Se filosofia sempre foi aquele tema que pareceu aborrecido ou se simplesmente quer uma resumida e divertida passagem pelos principais filósofos antigos, este é o livro para si."
Mais uma obra-prima de um dos meus autores favoritos. . . Se procura saber mais sobre muitas das forças fundamentais que moldam a vida humana, este é o livro a ler. É um tour de force Bill Gates Nunca tivemos tanta informação ao nosso alcance e, no entanto, a maioria de nós não sabe como o mundo realmente funciona. Este livro explica sete das realidades mais fundamentais que governam a nossa sobrevivência e prosperidade. Desde a produção de energia e alimentos, passando pelo mundo material e pela globalização, até aos riscos que ameaçam a nossa civilização, o meio ambiente e o seu futuro, How the World Really Works oferece-nos uma verificação de realidade muito necessária no fim de contas, antes de podermos enfrentar os problemas de forma eficaz, temos que compreender os factos.Neste livro ambicioso e provocador, vemos, por exemplo, que a globalização não é inevitável - os perigos de permitir que 70% das luvas de borracha do mundo sejam fabricadas em apenas uma fábrica tornaram-se evidentes em 2020 - e que as nossas sociedades têm vindo a aumentar cada vez mais a sua dependência dos combustíveis fósseis, tornando cada vez mais improvável a sua completa e rápida eliminação. Por exemplo, cada tomate cultivado em estufas exige, para a sua produção, o equivalente a cinco colheres de sopa de gasóleo; e ainda não temos formas comercialmente viáveis ??de fabricar aço, amónia, cimento ou plástico, à escala exigida globalmente, sem combustíveis fósseis.Vaclav Smil não é pessimista nem otimista, é um cientista; ele é o perito líder mundial em energia e um polímata surpreendente. Com base na ciência mais recente, Smil responde à pergunta mais profunda dos nossos tempos: estamos irrevogavelmente condenados ou espera-nos uma utopia mais brilhante? Convincente, rica em dados e revisionista, esta obra-prima interdisciplinar encontra falhas em ambos os extremos. Olhar o mundo através desta lente quantitativa revela verdades ocultas que alteram a forma como encaramos o nosso passado, presente e futuro incerto.
Um guia em forma de manualPara que todos os clientes possam entender melhor a filosofia de investimento e como este processo de seleção é posto em prática, a Casa de Investimentos lançou, este ano, o Manual do Investidor. O livro é um guia e também uma promessa para todos os clientes e quer mostrar que temos uma filosofia de investimento bem estruturada. Só as melhores empresas servem, conforme explicou Emília Vieira, CEO e fundadora da Casa de Investimentos.O manual contém as linhas mestras do investimento, de um processo que passa por analisar profundamente estas empresas e fazer uma análise qualitativa, a história da empresa, os seus processos. Não há caminhos rápidos. E rápidos também não são os ganhos. É por isso que a gestora tem um foco de longo prazo, ignorando o ruído de curto prazo.Investir em ações não é um jogo de sorte e azar, realçou Emília Vieira, notando que todos nós somos vítimas dos nossos vieses comportamentais. Cada um valoriza a experiência que tem. Mas, nos últimos mais de 100 anos, o ativo que melhor rentabilizou o capital foram as ações.
The Perfection Trap, de Thomas Curran, professor da London School of Economics, explora como a busca pela perfeição pode tornar-se uma obsessão perigosa que leva ao esgotamento e à depressão - impedindo-nos de alcançar os nossos objetivos.Hoje, o esgotamento e a depressão estão em níveis recorde, impulsionados por uma combinação de intensa competição no local de trabalho e redes sociais opressivamente omnipresentes.A sociedade publicita continuamente a necessidade de querer mais e de ser perfeito.Nesta obra, Curran sugere introspecção e mudanças sociais mais amplas. Mostra-nos o que podemos fazer como indivíduos para resistir à pressão moderna de sermos perfeitos e, ao fazê-lo, conquistarmos para nós próprios uma vida com mais propósito.The Perfection Trap dirige-se a todos aqueles que já se sentiram oprimidos pela necessidade esmagadora competir para além de qualquer racionalidade.
Um livro profundamente relevante de um dos principais escritores financeiros do mundo, The Price of Time explica a situação financeira global atual e como aqui chegámos.No início era o empréstimo, e o empréstimo tinha juros. Há pelo menos cinco mil anos que as pessoas pedem dinheiro emprestado e emprestam dinheiro com juros. Esta prática nem sempre foi popular no mundo antigo, a usura era geralmente vista como exploradora, um caminho potencial para a servidão e escravidão.No entanto, à medida que o capitalismo se estabeleceu a partir do final da Idade Média, as críticas aos juros foram sendo atenuadas porque os juros eram uma recompensa essencial para que os credores aplicassem o seu capital. E o juro desempenha muitas outras funções vitais: incentiva as pessoas a poupar; permite que valorizem ativos preciosos, tais como casas e todos os tipos de títulos financeiros; e permite-nos pôr um preço no risco.Todas as atividades económicas e financeiras acontecem ao longo do tempo. O juro é frequentemente descrito como o preço do dinheiro, mas na realidade é melhor descrito como o preço do tempo: o tempo é escasso, o tempo tem valor, o juro é o valor do dinheiro no tempo.Nas duas primeiras décadas do século XXI, as taxas de juros caíram mais do que nunca. O dinheiro fácil após a crise financeira global de 2007/2008 causou vários efeitos nefastos, incluindo o aparecimento de várias bolhas de preços de ativos, um abrandamento no crescimento da produtividade, desencorajando a poupança e exacerbando a desigualdade e forçando investidores sedentos por rendimento a assumir riscos excessivos.O mundo financeiro encontra-se agora num lugar difícil e Edward Chancellor está aqui para nos explicar porquê.
Qualidade. Todos nós fazemos diariamente julgamentos sobre a qualidade. No entanto, articular uma definição clara de qualidade no contexto do investimento é um desafio. Este livro aborda esse desafio e destila anos de experiência prática de investimento numa sistematização definitiva desta filosofia de investimento.A teoria financeira afirma que os resultados anormais não perduram, que o desempenho excecional rapidamente se tornará mediano. Investir em qualidade implica procurar empresas com os atributos certos para superar essas forças de reversão à média e, mais importante, investir nessas excelentes empresas para o longo prazo.Este livro aponta e analisa as características que aumentam as probabilidades de uma empresa ter sucesso ao longo do tempo - bem como aquelas características que impedem esse sucesso. Ao longo do livro são abordadas uma série de fascinantes casos de estudo reais que ilustram os traços que significam qualidade.
Antes de 1870, a humanidade vivia em extrema pobreza, com um lento arrastar de inovação que não conseguia acompanhar o crescimento demográfico. Então irrompeu uma grande mudança: a inovação acelerou o passo, duplicando as nossas capacidades tecnológicas a cada geração e transformando completamente a economia, uma e outra vez. Os nossos antepassados assumiriam que teríamos utilizado tais poderes para construir uma utopia global. Mas não foi assim. Quando 1870-2010 terminou, o mundo acordou para o aquecimento global; depressão económica, incerteza e desigualdade; e a ampla rejeição do status quo. Slouching Towards Utopia, do economista Brad DeLong, conta a história de como ocorreu esta explosão de riqueza material sem precedentes, como ela transformou o mundo e por que motivo não nos conseguiu levar à utopia. De notável amplitude e ambição, este livro revela que o século passado não foi tanto uma marcha em direção ao progresso, mas sim um cambalear na direção certa.
Nesta obra, John Kay, escreve: O setor financeiro cresceu em demasia, distanciou-se dos negócios normais e da vida quotidiana e transformou-se numa indústria que, na maior parte das vezes, faz negócios consigo própria, fala sozinha, e julga-se a si mesma com os padrões que ela própria criou. E o mundo cá fora adotou esses padrões, salvando as instituições financeiras que nos falharam com a sua ganância e incompetência.Numa análise crítica ao que se tornou o negócio do setor financeiro, Kay realça que o livro pretende apresentar um plano provisório para as autoridades se prepararem para a próxima crise. É hora de voltar ao trabalho: o negócio sério e responsável de gerir o dinheiro das outras pessoas.
Porque o faz nas ações?
Todos os investidores sabem que comprar barato e vender caro é a fórmula segura para ganhar dinheiro. Então, que sentido faz querer vender quando o mercado cai e querer comprar quando sobe?
Comprar num mercado a cair é muito difícil, não apenas para o comum dos investidores, mas sobretudo para os gestores de dinheiro. Primeiro, obriga a que se faça o contrário da maioria dos investidores, o que exige saber o que se está a fazer, disciplina para executar e firmeza de carácter para aguentar opiniões contrárias. Segundo, é muito provável que não se acerte nos mínimos das ações que queremos comprar e que, durante algum tempo, tenhamos que ver as nossas posições negativas, por vezes de forma substancial. Explicar aos investidores, que não gostam de ver o seu património financeiro desvalorizar, que esta é a melhor altura para adicionar novas posições agora baratas ou reforçar as já existentes, porque estão mais baratas, é ainda mais difícil.
Por isso, a maioria das instituições financeiras não faz o esforço para contrariar as decisões, tomadas por impulso e medo, dos investidores. Estas instituições ganham mais quantas mais transações de compra e venda se fizerem. É fácil concordarem e aconselharem a vender e a regressar ao mercado quando as notícias forem boas e tudo estiver a subir. Nessa altura, os investidores pagarão mais por esse conforto. Esta não é uma estratégia de criação de valor consistente e com boas rentabilidades.
Em 16 de outubro de 2008, Warren Buffett recomendou, num artigo no New York Times, que comprassem ações americanas e que ele próprio estava a comprar. Desde esse dia até aos mínimos de mercado, em 6 de março de 2009, o índice das maiores 500 empresas americanas recuou cerca de 26%. Durante este período, o melhor investidor de todos os tempos foi criticado nos canais de televisão, blogs etc. Na verdade, quem comprou quando Buffett aconselhou, teria ganho cerca de 22% até final do ano seguinte. Os investidores que ficaram de fora do mercado acionista porque investiram nos chamados investimentos "seguros" ou porque ficaram à espera de melhores notícias, estiveram sempre à espera do melhor ponto de entrada. Esses tiveram um custo de oportunidade muito grande porque quando tiveram conforto com as notícias positivas que surgiram, já o mercado tinha recuperado mais de 70% das perdas. Isto não aconteceu apenas aos pequenos investidores. Muitos estudos publicados em 2013 e 2014 demonstraram que muitos investidores institucionais falharam o rally nas ações.
O que sabe o Mercado sobre o Valor dos ativos?
A história repete-se tantas vezes. Os investidores cometem sempre os mesmos erros e não conseguem ignorar o preço a que a toda a hora o mercado cota as suas ações. Quando vêm um imóvel a ser vendido por menos 20 ou 30% compram-no e criam até uma tese, por vezes demasiado otimista, para o possível rendimento futuro. A grande diferença é que o mercado financeiro todos os dias apresenta uma cotação para essas ações. Na realidade, enquanto a sessão está aberta, o mercado apresenta muitos preços. A maioria dos investidores não diferencia o preço do valor. Preço é o que está a cotar em determinado momento. Valor é o que intrinsecamente resulta da capacidade da empresa ganhar lucros para o futuro. Não há dúvida que se o tal imóvel cotasse todos os dias num mercado muito líquido, teria variações muito maiores e veríamos a mesma volatilidade que vemos nas ações.
Ou seja, aquela que é uma enorme vantagem, a capacidade de tornar os ativos caros em dinheiro ou comprar ativos muito baratos que produzam bons rendimentos, torna-se para a maioria dos investidores numa enorme desvantagem, porque psicologicamente não conseguem aguentar o mercado a cair e querem "cortar as perdas": "não vou ficar sentado a ver a carteira cair". Nestas alturas, deviam aproveitar para comprar muito valor por pouco dinheiro. A maioria dos investidores no mercado têm um conhecimento muito limitado do que valem os ativos e, por isso, têm medo e ancoram-se no preço, considerando que o mercado está certo, sabe mais do que eles individualmente e é melhor vender.
Na semana passada, em carta aos clientes, Howard Marks, conceituado investidor em valor, dizia o seguinte: "nestas correções, muito investidores imputam inteligência ao Mercado e esperam que ele lhes diga o que se está a passar e o que devem fazer. Este é um dos maiores erros que podem cometer. Tal como Benjamin Graham diz, o Mercado no dia a dia não é um analista fundamental; é um barómetro do sentimento dos investidores. Não devemos levá-lo muito a sério. Os agentes que participam no Mercado têm uma compreensão limitada daquilo que realmente se está a passar em termos de fundamentos económicos e qualquer inteligência que possa estar por trás das suas compras e vendas é anulada pelas suas variações emocionais. Seria errado interpretar as recentes quedas globais como um sinal de que o Mercado "sabe" que se avizinham tempos difíceis."
O Mercado é o conjunto de pessoas que participam nele e do seu conhecimento coletivo. Todos os que transacionam no mercado votam na formação dos preços, pessoas de todos os níveis de conhecimento e habilitações juntam-se para formar o preço. Estas pessoas variam em termos de conhecimento, experiência e emoções. O Mercado não atribui peso superior a umas pessoas em detrimento doutras, especialmente no curto prazo. Quando milhares de pessoas entram em pânico é muito natural que influenciem muitas mais. Como comprar e vender está ao alcance de um telemóvel ou qualquer computador, é natural que não se reflita nas tomadas de decisão.
Sabemos todos que o Mercado é muito mais emotivo do que racional e que quando as notícias são adversas, o pessimismo é exagerado, os média procuram os profetas da desgraça e potenciam ainda mais as quedas.
Qual é o principal objetivo do investimento?
O principal objetivo do investimento deve ser a segurança do capital e obter um retorno muito satisfatório a prazo. Para isso, é preciso comprar barato, comprar coisas cujo preço subestime o valor dos ativos ou lucros subjacentes. Ou seja, procuramos situações em que o Mercado está errado, não está a cotar o verdadeiro valor dos negócios subjacentes destas empresas. Já escrevemos aqui várias vezes que o investidor contrário deve fazer, em geral, o oposto do Mercado, especialmente nos seus extremos.
Charlie Munger, sócio de Warren Buffett, aconselha: "Procure mais valor, em termos de cash flow futuro, do que o que está a pagar. Aja apenas quando tiver uma vantagem. É muito básico. Tem que compreender as probabilidades e ter a disciplina de só investir quando as probabilidades estão a seu favor". Hoje somos da opinião que as probabilidades estão muito favoráveis para o investidor de longo prazo.
O que nos diz um Mercado em queda acerca do Valor?
As desvalorizações nos mercados financeiros dizem apenas o que aconteceu e como os investidores reagem, não o que vai acontecer. Não nos dizem nada acerca de eventos futuros. Seguir a opinião dos comentadores ou previsores também não ajuda a investir melhor. Muitas vezes o mercado não avalia bem os ativos e o seu preço difere muito do valor. O mercado avalia de forma diferente os setores e há os que estão a desfavor com os investidores. O que realmente nos diz o que valem os ativos é a análise profunda dos fundamentais das empresas, do seu modelo de negócio, das suas margens operacionais, da sua capacidade de fortalecer vantagens competitivas, da solidez dos seus balanços, da capacidade dos seus gestores a alocar capital e, consequentemente, da capacidade de gerar lucros para o futuro.
Os investidores médios não avaliam o valor intrínseco no dia a dia e fazem um trabalho pior em tempos de crise. Assim, os movimentos de curto prazo dos preços não nos dizem nada sobre os fundamentos dos negócios. Não se esqueça: os fundamentos económicos de uma empresa não variam muito de dia para dia. As variações diárias dos preços têm mais a ver com as variações nas emoções dos investidores.
Existe apenas uma forma inteligente de investir: saber o que algo vale e comprar abaixo desse preço. Vender porque está a cair não tem nada a ver com o valor do ativo - vende-se apenas porque se tem medo que o preço vá cair ainda mais. Seguir os conselhos do Mercado, do que a maioria está a fazer, não nos ajuda a conseguir resultados acima da média.
O que fazem os melhores investidores do mundo?
Os melhores investidores sabem que as flutuações de preço de curto prazo não são fundamentalmente significativas e que os melhores resultados serão atingidos se as posições forem mantidas ignorando a volatilidade. Ao contrário, a maioria dos investidores vendem pelas mais variadas razões: porque têm medo, porque estão alavancados, porque alguém os aconselha a isso. Vender nestas circunstâncias pode transformar uma flutuação temporária numa perda de capital permanente impedindo que a recuperação subsequente seja totalmente aproveitada. Este, na nossa opinião, é um grave erro que muitos investidores cometem.
Os movimentos futuros dos preços dos ativos só podem ser previstos com base na relação entre o preço e os fundamentais económicos da empresa - os lucros. Dada a volatilidade e a irracionalidade do Mercado no curto prazo, apenas podemos fazer isso no longo prazo.
O verdadeiro investidor não vende nestas correções. Comporta-se como um dono do negócio e mantém a sua atenção no valor que estas empresas têm quando comparadas com o preço a que transacionam. Aproveitam, quando existe dinheiro disponível, para reforçar as suas posições que desvalorizaram e para adicionar bons títulos que recuaram muito de preço. É isso que também temos feito e continuamos a não ver alternativas de investimento tão seguras e rentáveis a prazo.
Desta vez não é diferente e o que realmente tem valor muito acima do preço, voltará a refleti-lo.
1. Swaps "bola de neve"
Na semana passada, foi julgado em Londres o caso dos swaps que envolvem o Banco Santander Totta e as empresas de transportes públicos portuguesas. Matt Levine, da agência noticiosa Bloomberg, escreve mais uma vez sobre o assunto:
"Um dos principais objectivos de um banco de investimento é tirar o risco financeiro das mãos dos clientes. Um determinado cliente tem um risco que não o deixa dormir, dirige-se a um banco de investimento e o banco vende-lhe um produto que lhe retira o risco em troca de uma comissão choruda.
Mas não é possível fazer desaparecer este risco. Quando o banco se responsabiliza pelo risco, para onde é que ele vai? Para os credores do banco? Para os depositantes ou contribuintes? Isso não seria o ideal. A melhor resposta, do ponto de vista do banco, é encontrar outro cliente a quem possa passar o risco. Frequentemente, isto encaixa na perfeição, uma vez que o risco de um cliente pode ser uma oportunidade para outro e assim o banco pode intermediar a compra e a venda do risco (o exemplo clássico são as companhias aéreas que fixam os preços do combustível com as empresas petrolíferas). Às vezes, conseguem encontrar-se clientes que gostam de risco e querem mais: hedge funds agressivos ou fundos de pensões com horizontes de investimento mais longos poderão querer ser portadores de riscos de vários tipos e se um banco consegue tirar risco a outros clientes e transferi-lo para estes fundos, pode ganhar dinheiro e ao mesmo tempo fazer do mundo um sítio melhor.
Mas o mundo não é um paraíso e outra coisa que os bancos de investimento fazem é procurar clientes que não querem mais risco financeiro mas que podem ser convencidos a aceitá-lo mediante uma comissão. Às vezes, isto funciona muito bem mas quando não funciona - quando o risco se materializa - é sempre um pouco embaraçoso. Porque motivo, poderemos interrogar-nos, anda um sofisticado banco de investimento a vender risco financeiro a uma empresa de, por exemplo, transportes públicos?
Se o banco está a retirar risco dos clientes, eles pagam-lhe. Na realidade, pagam a mais. O banco cobra mais do que o valor justo do risco porque é assim que os bancos ganham dinheiro. Se são os clientes a tirar risco ao banco, o banco paga-lhes mas abaixo do valor justo."
A Metro do Porto e mais três empresas portuguesas de transporte públicos contrataram junto do banco Santander uns swaps "bola de neve", já conhecidos como o pior trade do mundo. As empresas deixaram de pagar em 2013 e devem já ao banco 1,3 mil milhões de euros.
Apesar deste ser um negócio absolutamente ruinoso, o tribunal decidiu a favor do Santander e de que as empresas devem pagar. No acordão, o negócio e a sua motivação são explicados: estas empresas, com um endividamento para além do razoável, tinham encargos com juros muito elevados que pretendiam reduzir. Entre 2005 e 2007, foram ao mercado financeiro à procura de uma solução que lhes permitisse baixar esse custo. Eis o que acordaram com o Santander:
1. o Santander pagaria às empresas uma taxa variável;
2. as empresas pagariam ao Santander uma taxa fixa;
3. as empresas pagariam também um spread extra se a taxa variável estivesse acima de 6% ou abaixo de 2%;
4. o spread de cada trimestre seria somado ao spread do trimestre anterior: se a taxa variável em determinado trimestre fosse 6,25%, o spread para esse trimestre seria de 0,25%; se no trimestre seguinte fosse de 6,50%, o spread seria 0,75% (0,25+0,50) e assim por diante. Esta é a "bola de neve".
O swap "bola de neve", em circunstâncias normais, seria muito mais barato que um swap de taxa fixa normal e só em circunstâncias pouco comuns é que seria desfavorável para as empresas de transportes. O problema é que as circunstâncias menos comuns têm maior probabilidade de acontecer do que a teoria nos ensina e, neste caso, as consequências são terríveis. Com a crise financeira de 2008, as taxas caíram para menos de 2% e estão negativas há vários meses. A taxa que o Metro do Porto teve que pagar pelos swaps ultrapassou os 40% e as outras empresas estão com o mesmo problema.
Há muitas questões que se podem colocar neste negócio, desde logo: Os responsáveis nas empresas públicas foram assim tão incompetentes ou jogadores? O Santander agiu de má fé e enganou todos estes técnicos que trabalhavam ( e às tantas ainda trabalham) nestas empresas? Segundo o juíz do caso, Sir William Blair, existem algumas indicações que o Santander agiu talvez com um pouco de má fé:
"É necessário que se diga desde já que existem documentos que, embora não sejam típicos de toda a documentação, não são nada favoráveis à imagem do banco. Uma apresentação de 2005 da Global Treasury (portanto não tendo origem em Portugal) com o objectivo de aumentar a venda de "produtos exóticos" encoraja os funcionários do banco a "Pensar em grande: não se critiquem. recompensem a agressividade".
Apesar do exposto, o juíz concluiu que o banco não cometeu ilegalidade nenhuma e que as empresas portuguesas tinham obrigação de saber no que se estavam a meter.
2. Produtos Estruturados
Em fevereiro de 2010, um estudo da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) reportado pelo Expresso alertava os investidores para o facto dos produtos estruturados oferecerem menos que os depósitos tradicionais. Estes produtos, com exposição à evolução de sectores no mercado de ações, matérias-primas, taxas de juro e outros ativos subjacentes, criam a ilusão ao investidor de poder beneficiar do potencial de valorização destas ações ou produtos com risco muito baixo. A sua remuneração depende da evolução de cenários futuros, podendo garantir a totalidade do capital aplicado ou não. Estes cenários possíveis são construídos atribuindo uma probabilidade muito baixa a eventos desfavoráveis para os investidores. Nesse estudo, a CMVM diz: "a distribuição de pagamentos entre diferentes estados de natureza (cenários) é difícil de apreender pelos investidores, mesmo os mais sofisticados ou com maiores conhecimentos em matéria de natureza financeira".
Estes produtos são publicitados com rentabilidades potenciais elevadas, embora exista "uma forte probabilidade de ocorrência do cenário de não ser pago qualquer retorno ou apenas o retorno mínimo consagrado na ficha técnica do produto", como referece o estudo da CMVM.
Para a estruturação destes produtos, são utilizados produtos derivados muito complexos, o que torna quase impossível ao investidor saber do que se trata e permite à instituição, que o estrutura e vende, ganhar comissões muito elevadas sobre o dinheiro dos seus clientes.
O que isto realmente demonstra é uma grande capacidade comercial destes bancos para conseguirem não perder clientes ou encontrar sempre outros dispostos a perder dinheiro. Das duas uma, ou estas instituições não estão interessadas em manter clientes para o longo prazo ou então julgam-nos incapazes para avaliar se ganharam ou perderam. Como se faz este trabalho, ano após ano, sem deixar de ter com quem fazer negócio?
Estes são dois casos em que a complexidade e a falta de transparência de quem vende estes produtos, devem servir de aviso aos investidores. As instituições financeiras procurarão sempre maximizar os seus retornos à custa dos seus clientes e, muitas vezes, fazem-no sem escrúpulos.
3. Taxas de juro negativas
Vivemos num momento estranho da história com taxas de juro negativas e ninguém consegue dizer quando tempo se manterão. Ao emprestar dinheiro a um excelente pagador poderá ter que o fazer a taxas negativas, ou seja, pagar para emprestar o seu dinheiro. As obrigações de vários governos europeus estão negativas: no caso suíço até aos 10 anos, no alemão até aos 7, no francês e holandês até 5 anos. Cerca de 7 biliões de dólares (biliões europeus) estão a transaccionar com yields negativas. Do mesmo modo, obrigações das melhores empresas europeias têm yields negativas. Os investidores parecem preferir perder dinheiro a tê-lo parado ou alocá-lo a outras classes de activos.
Quem é que comete esta irracionalidade? Na maioria dos casos são os gestores institucionais, os Fundos de Investimento, os Fundos de Pensões e os Planos de Poupança Reforna, que são obrigados, pela própria concepção legal destes produtos, a ter os valores investidos nos chamados "ativos sem risco". São também os investidores particulares que, ao subscreverem fundos de investimento de obrigações, estão a pagar comissões de gestão elevadas para que lhes façam este "magnífico" trabalho e paguem aos emitentes para serem donos desta dívida. Este é um exemplo de como uma falha institucional dos limites mínimos impostos para estes produtos e investidores institucionais os "obrigam" a manter-se investidos em ativos, que, nesta conjuntura extraordinária, não fazem qualquer sentido.
Estas conjunturas são claramente propícias para que os investidores relaxem os critérios a emprestar o seu dinheiro e que o façam a troco de uma taxa um pouco melhor. Acontece ainda, que, não raras vezes, nestes chamados investimentos de risco baixo, encontram-se obrigações da Argentina, e de outras empresas falidas ou em processo de reestruturação das suas imensas dívidas que obrigarão os investidores a perder parte significativa dos valores investidos. Classificar estas obrigações como ativos com baixo risco é ser incompetente, estar distraído ou actuar com má fé.
Em resumo, o atual ambiente de taxas de juro e política monetária cria as condições para que a indústria financeira crie e proponha produtos que não servem os interesses dos investidores.
Escolha uma filosofia simples de valor e mantenha-se fiel a ela nos bons e nos maus momentos.
Investir numa carteira diversificada de acções de excelentes empresas mundiais compradas a desconto significativo do seu real valor - com margem de segurança - é a melhor forma de proteger e valorizar o património financeiro.
O mundo do investimento está virado do avesso. Hoje, ao emprestar dinheiro a um bom pagador, poderá ter que o fazer a taxas negativas, ou seja, terá que pagar para emprestar o seu dinheiro. As obrigações dos governos suíço, alemão, francês e holandês estão negativas até aos 6 a 8 anos e as obrigações das melhores empresas europeias também têm yields negativos. Os investidores parecem preferir perder dinheiro a tê-lo parado ou alocá-lo a outras classes de activos.
O que fizeram ao valor temporal do dinheiro? Perante esta realidade, quais são as melhores alternativas que garantam segurança do capital e retornos satisfatórios?
O que realmente funciona no investimento e tem produzido retornos consistentes é a filosofia de Investimento em Valor. Nas últimas seis décadas, Warren Buffett e Charlie Munger, entre outros excelentes investidores, são a prova do seu enorme sucesso. O investimento em acções de boas empresas mundiais, com balanços sólidos, rentabilidades acima da média, vantagens competitivas duráveis e geridas por gestores capazes e honestos, compradas a desconto do seu valor justo, continua a ser a preferência destes investidores extraordinários.
Numa altura em que o mundo financeiro parece não fazer sentido é ainda mais importante ter uma filosofia de Valor e mantermo-nos fiéis a ela.
Investir em valor é comprar 1 euro por 50 cêntimos, é comprar muito valor com pouco dinheiro. O segredo do investimento em acções pode ser resumido à avaliação profunda dos activos e da sua capacidade de gerar lucros no futuro e à disciplina e paciência para só comprar quando está barato e vender quando o preço justo é atingido.
A generalidade dos investidores tem muita dificuldade em executar uma receita tão simples: comprar quando a maioria está a vender - porque as notícias são más - e vender quando a maioria está a comprar - porque as notícias são boas. Contudo, quase todos fazem o contrário. As instituições financeiras preferem estratégias com mais transações e que lhes permitem ser, não raras vezes, o maior beneficiário da riqueza dos clientes.
Num mundo em que todos sabem o preço de tudo e poucos sabem o verdadeiro valor dos activos, grande parte dos investidores não tem horizonte de investimento nem o temperamento adequado para aplicar esta receita e beneficiar da capitalização dos retornos ao longo do tempo. O investidor individual, que pode e deve ter um horizonte de investimento de décadas, deve expor uma parte significativa do seu património a acções, a classe de ativos que nos últimos 115 anos, melhor remunerou o capital: 9,5% de média anual, apesar de neste período se terem vivido duas guerras mundiais, várias recessões e a grande depressão e a crise financeira de 2008.
Investir numa carteira diversificada de acções de excelentes empresas mundiais compradas a desconto significativo do seu real valor - com margem de segurança - é a melhor forma de proteger e valorizar o património financeiro. "Coleccionar" estes negócios dá-nos o direito aos dividendos - hoje muito superiores às taxas de juro dos depósitos e das obrigações - e aos ganhos de capital a prazo. Estas empresas são verdadeiras máquinas de fazer dinheiro para os seus acionistas.
O segredo do investimento é que não tem segredos: é investir com margem de segurança, comprando a pessimistas e vendendo a otimistas.
O investimento inteligente não é complexo, o que não significa que seja fácil. O que o investidor precisa é da capacidade de avaliar correctamente investimentos devidamente "selecionados".
As melhores empresas são aquelas que conseguem investir largas quantidades de capital com taxas de retorno elevadas, acima da média do sector e do mercado. São estas que nos interessam.
Warren Buffett explica as vantagens competitivas como o instrumento que permite às empresas manterem os concorrentes à margem. Os concorrentes tentarão sempre obter uma parte desses lucros e, na maior parte das vezes, conseguem-no, reduzindo as rentabilidades do negócio. Há, no entanto, empresas que conseguem manter e aumentar as suas vantagens competitivas durante décadas. São as superestrelas, as que produzem sustentadamente uma remuneração acima do seu custo de capital.
Importa determinar o motivo pelo qual a empresa teve sucesso em manter os seus lucros. É fundamental estar numa indústria atraente e beneficiar de uma estratégia que potencie vantagens competitivas.
De uma forma geral, existem cinco formas de uma empresa conseguir uma vantagem competitiva durável:
- Criar uma diferenciação de produto real através de funções, tecnologia ou patentes,
- Criar a percepção de diferenciação do produto através da reputação da marca,
- Cortar custos e oferecer um produto ou serviço similar a um preço mais baixo,
- "Prender" os clientes com custos de mudança elevados e,
- Afastar concorrentes através da criação de barreiras à entrada.
Como podemos avaliar as vantagens competitivas e a sua durabilidade?
- Analisar os lucros históricos e verificar se a empresa tem sido capaz de gerar retornos sólidos nos seus ativos e capitais próprios.
- Se a empresa consegue retornos sólidos e lucros consistentes, o que impede os concorrentes de lhe "roubar" os lucros?
- Quanto tempo durarão estas vantagens competitivas?
- Como competem entre si as empresas desta indústria? Há muitas firmas lucrativas ou apenas se sobrevive?
O investidor deve procurar um conjunto de boas empresas cujos negócios subjacentes tenham fundamentos económicos soberbos, que sejam geridas por gestores capazes e honestos e comprá-las a preços sensatos. Ocasionalmente, estes negócios cotam preços que nos dão margem de segurança para investir. É aí que compramos.
Desta forma, estamos a maximizar algo que conseguimos prever - a performance financeira da empresa - e a minimizar aquilo que não conseguimos adivinhar - o entusiasmo ou pessimismo do mercado.
Lembre-se, uma empresa vale o valor presente de todo o dinheiro que vai ganhar no futuro.
O PIB português é de 179 mil milhões de euros e o espanhol é de 1077 mil milhões, seis vezes maior que o nosso. A Bolsa portuguesa tem uma capitalização de 53 mil milhões e a espanhola de 898 mil milhões, dezassete vezes maior. A diferença poderia ser uma questão de valorização, as acções portuguesas poderiam estar muito mais baratas que as espanholas, mas não é o caso. Quando se comparam métricas como receitas e lucros, percebe-se que a Bolsa portuguesa representa uma fatia muito menor da economia do que nos mercados desenvolvidos, em particular na Europa e nos EUA.
Na última década, a Bolsa portuguesa foi um fracasso. Os accionistas, os verdadeiros donos das empresas, assistiram a uma destruição de valor enorme e a experiência foi terrível: 100 mil euros aplicados no PSI-20 transformaram-se em 74 mil. O mesmo montante aplicado num índice de ações europeias como o MSCI Pan Europe valeria hoje 136 mil; e aplicados em ações dos EUA (no S&P500) seriam 210 mil. De quem foi a culpa? Na verdade, de quase todos: da economia, do sector financeiro, das empresas, dos reguladores, do Estado e, em parte, dos investidores que procuram sempre o lucro fácil.
Na última década, por várias razões, a economia portuguesa deixou de crescer e, pior, entrou numa recessão que pôs tudo em risco. Uma Bolsa é o espelho que reflecte o sector empresarial de uma economia e a sua eficiência. E, nos últimos anos, não reflecte nada de bom. O Estado e as empresas, inebriados pelo dinheiro fácil, a juros baixíssimos, endividaram-se demais. Muitos gestores não tomaram as melhores decisões de alocação de capital e não agiram no melhor interesse dos verdadeiros donos do capital, os accionistas. A PT e o BES, duas das maiores capitalizações, evaporaram-se entre erros de gestão e fraudes contabilísticas. Nestes casos, tudo falhou: corporate governance, os gestores, os reguladores e os accionistas de referência. Sendo estes os casos mais graves, os exemplos de destruição de valor para os accionistas aconteceram em muitas outras empresas.
Por outro lado, tivemos imensas situações em que os minoritários foram o parceiro pobre dos negócios, ficando à mercê dos gestores e dos interesses dos "parceiros maioritários". A Cimpor é um exemplo em que uma pequena fatia de minoritários ficou pendurada numa empresa quase sem float. O resultado é a destruição da cultura de investimento em acções, com investidores desalentados com o massacre a que foram sujeitas as suas poupanças. Não admira que muitos nem queiram ouvir falar em investir em acções. Apesar de a realidade lá fora ser bem diferente, a sua experiência pessoal - as perdas que sentiram e a forma como foram separados do seu dinheiro - não lhes permite beneficiar do investimento naquela que é a classe de activos que, historicamente, melhor remunera o capital.
Nos EUA, desde 2006, aconteceu uma série de desastres: AIG, Lehman, Fannie Mae, Madoff. No entanto, quem investisse 100 mil euros no S&P500 teria agora 210 mil euros. Porquê? Porque, por cada falência, centenas de empresas criaram riqueza e multiplicaram o valor dos accionistas, grandes e pequenos.
A verdadeira função de uma Bolsa de Valores é permitir aos empreendedores o acesso a uma fonte de financiamento e aos investidores, como donos de parte do negócio, participarem no seu sucesso e nos seus lucros. Ou seja, permitir à poupança partilhar das maravilhas do capitalismo.
Segundo o dicionário Webster, "o capitalismo é um sistema económico baseado na propriedade do capital com o investimento a ser determinado por decisão privada e com os preços, a produção e a distribuição de bens e serviços determinados num mercado livre". A isto acrescentaria que o capitalismo deve ser alicerçado na honestidade, decência e confiança. O desafio da Bolsa Portuguesa é recuperar estes valores.
Jason Zweig colaborou com a revista Money, a Time e a CNN. É colunista do Wall Street Journal desde 2008, autor de vários livros, e um acérrimo crítico da "indústria financeira". O seu mais recente livro foi publicado no passado mês com o título "The Devil´s Financial Dictionary".
Zweig, neste livro satírico, avisa que se os investidores querem ser parceiros em vez de alvos, terão que dominar a linguagem que a indústria financeira utiliza para esconder e não revelar informação. Virar as palavras ao contrário e fazê-las significar o oposto não é exclusivo da indústria financeira; esta é a imagem de marca de muitas atividades humanas, personificada pelo Ministério da Verdade no Livro de George Orwell, "1984".
Mas, raramente está tanto em jogo no claro entendimento da linguagem: se formos enganados pela algaraviada da indústria financeira e investirmos no produto errado, o nosso sonho de uma reforma próspera pode ser reduzido a cinzas.
Este livro procura destilar as complexidades, obscuridades e as pomposidades da indústria financeira em "definições" que todos podem compreender. Deixo aqui uma pequena seleção de palavras e expressões a que a indústria financeira atribuiu significados muito peculiares:
Ação, o direito de propriedade de uma fração de um negócio; para muitos "investidores", o direito de jogar um jogo de vídeo. A palavra stock (ação em inglês) tem origem no teutónico stukko que significa tronco - esta antiga metáfora perdeu-se nesta era em que a TV e a internet reduziram a ideia de ação a um símbolo e a uma torrente de cotações num ecrã. O tronco de uma árvore é uma sólida fundação para inúmeros ramos que crescem cada vez mais alto a menos que sejam podados e, nesse caso, têm um novo impulso de crescimento.
Analista, um suposto especialista que, em teoria, estima o valor de uma empresa através da avaliação das suas partes constituintes mas que, na prática, funciona como um vendedor ou membro de uma claque.
Avesso ao Risco, indisponível para correr riscos - para já. Quando o preço dos ativos dobra ou triplica, até o investidor mais avesso ao risco quererá tê-los em carteira. Tal como o historiador económico Charles P. Kindleberger escreveu no seu livro Manias, Panics and Crashes, "Não há nada mais perturbador para o bem estar e bom julgamento de alguém do que ver um vizinho enriquecer".
Comportamento de Rebanho, a tendência dos investidores para ignorar o que está barato e agir como ovelhas, movendo-se em rebanho em vez de pensarem por si próprios. A multidão transmite segurança, por isso os investidores compram ativos, não porque estão subvalorizados mas porque toda a gente os está a comprar; e vendem-nos, não porque se verificou uma alteração nos fundamentos económicos da empresa mas porque todos estão a vender. O comportamento de rebanho é comum nos investidores individuais, nos analistas, nos traders de obrigações soberanas, nos traders de futuros, nos gestores de fundos de ações, nos gestores de hedge funds e nos grandes compradores de ETF's; é comum em todos os setores do mercado de capitais; e em todos os mercados de ações pelo mundo fora.
Compliance, o conjunto de procedimentos através dos quais as instituições financeiras obrigam os seus colaboradores a respeitar a letra da lei e, simultaneamente, os libertam para violar o seu espírito. Os departamentos de compliance das instituições financeiras estão a abarrotar de pessoal. Pelo contrário, os departamentos de consciência, que fazem respeitar o espírito da lei, sofrem de uma perene falta de recursos humanos. Tal como Warren Buffett notou: "Aqueles que seguem a estrada moral, na indústria financeira, encontram muito pouco trânsito".
Confiança, uma qualidade, semelhante à crença religiosa mas baseada em evidências menos fiáveis, que tende a ser elevada quando devia ser baixa e baixa quando devia ser elevada. Períodos de confiança elevada tendem a ser perniciosos; quanto melhor se sentem os investidores hoje, mais se vão lamentar mais tarde. Nessas alturas, poucos conseguem, no entanto, tomar consciência desse facto.
Consultor, na indústria financeira, um especialista que cobra comissões elevadas para aconselhar os clientes a investir em estratégias de investimento que estão na moda e que em breve ficam "ultrapassadas". De forma a gerar mais comissões, o consultor aconselha também os clientes a abandonarem estratégias ultrapassadas que estão prestes a ficar na moda. Os clientes, ano após ano, aceitam de boa vontade estes conselhos uma vez que, desta forma, têm sempre alguém a quem culpar pelos resultados abismais.
Fundo de Investimento, fundo em que os investidores partilham os riscos equitativamente e os gestores partilham as comissões.
Frugalidade, a prática, hoje obsoleta, de gastar menos do aquilo que se ganha; outrora considerada uma virtude, agora é encarada como um perturbador desvio comportamental.
Longo Prazo, na indústria financeira, uma expressão utilizada para descrever um período de tempo que terá início daqui a trinta segundos e terminará, no máximo, dentro de algumas semanas.
Maturidade, aquilo que todas as obrigações têm e que à esmagadora maioria dos traders em obrigações faz falta.
Obrigação, um compromisso contratual em que o devedor se obriga a pagar uma dívida com juros. Os credores que não prestam atenção ao seu investimento arriscam-se, no entanto, a não reaver o seu dinheiro. Bond (obrigação em inglês), um termo de provável origem teutónica, veio a simbolizar um compromisso. Shylock, da peça "O Mercador de Veneza" de Shakespeare, concordou em emprestar a António 3000 ducados por três meses se, nas palavras de Shylock, António fosse ao notário e selasse a sua obrigação. António declarou: "Em dois meses, um mês antes de este empréstimo ser devido - espero ganhar mais de três vezes o valor desta obrigação". Embora António não estivesse a pensar apenas nas recompensas financeiras, a sua declaração torna claro que as obrigações estão, desde há muito, associadas a expectativas pouco realistas.
Paciência, qualidade aparente em formas de vida inferiores como tartarugas e caracóis mas rara entre humanos que investem em ativos financeiros. Cada compra ou venda de um ativo financeiro acarreta custos de transação e, a maioria, impostos. Numerosos estudos comprovam que, quanto mais transações os investidores fazem, menor é o seu retorno. Mas a vontade de enriquecer depressa é tão visceral que apenas os investidores mais disciplinados conseguem cultivar suficiente paciência para atingir os seus objetivos. Os outros conseguirão apenas empobrecer mais depressa. Tal como Ralph Waldo Emerson escreveu no seu ensaio. "Prudência": "Se a colmeia é perturbada por mãos estúpidas e apressadas, em vez de mel, oferece abelhas."
Performance, um espetáculo montado para entreter a audiência e satisfazer os egos dos "artistas". Há muito tempo e, por certo, não por coincidência, a indústria financeira escolheu esta palavra para descrever aquilo que procura para os seus clientes. Infelizmente, os membros da audiência sentir-se-ão entretidos enquanto que os seus portfólios perderão dinheiro. Os egos dos gestores, pelo contrário, não sofrerão qualquer dano.
Preço, um número que frequentemente é uma ilusão e, quase sempre, uma distração. O preço dado a uma ação ou outro ativo financeiro muda com uma velocidade frenética - milhares de vezes ao dia - causando danos intelectuais corrosivos. Frequentemente tem pouco a ver com o valor embora seja mais interessante e mantenha os media financeiros bastante ocupados. O fluxo contínuo e a precisão espúria do preço provoca uma ilusão de certeza.
Produto Estruturado, produtos de investimento especialmente estruturados para serem lucrativos para os emitentes e incompreensíveis para os clientes.
Risco, a probabilidade de um investidor não saber o que está a fazer mesmo que pense que sabe; pré-requisito para perder mais dinheiro num período de tempo mais curto do que alguma vez imaginaria possível. Elroy Dimson, professor de finanças da London Business School, definiu filosoficamente o risco desta forma: "Risco significa que mais coisas podem acontecer do que aquelas que realmente acontecem." No fim de contas, o risco é a diferença entre o que os investidores pensam que sabem e o que acabam por aprender - sobre os seus investimentos, sobre os mercados financeiros e sobre si próprios.
Rumor, na indústria financeira, o equivalente a um facto.
Seguro, um termo utilizado para promover um investimento que está prestes a explodir.
Valor, uma fonte de enorme confusão, tal como quando os jornalistas escrevem: "A ação perdeu 20% do seu valor na sessão de hoje...". Na realidade, não perdeu 20% do seu valor; perdeu sim 20% do seu PREÇO. O valor do negócio subjacente variou, com certeza, muito menos - se é que variou. O preço é medido momento a momento; o valor desenvolve-se ao longo de meses e anos. Tal como Benjamin Graham ensinou Warren Buffett: "Preço é o que paga, valor é o que recebe".
O valor é o que um ativo vale para um comprador sensato com acesso a toda a informação necessária para a avaliação, com base no dinheiro que o ativo gerará ao longo de toda a sua vida. O valor de uma ação depende do potencial de criação de dinheiro do negócio subjacente, que pouco varia de trimestre para trimestre e muito menos de dia para dia.
Valor Intrínseco, o que uma ação vale com base no valor presente de todo o dinheiro que se espera que o negócio subjacente irá gerar no futuro, levando em conta quanto o seu dinheiro renderia nesse período de tempo e o facto incontornável que esses cash flows futuros estão envoltos em incerteza. Uma vez que o valor intrínseco é apenas uma aproximação e deverá ser visto como um intervalo de estimativas, a maioria dos investidores prefere focar-se no preço que, minuto a minuto, é absolutamente preciso - e muitas vezes errado.
Desejo um Próspero Ano Novo e mais Investidores em Valor.
"Os investidores perdem muito mais dinheiro a prepararem-se para correções ou a tentar antecipar correções do que nas correções propriamente ditas."
-- Peter Lynch
Apesar da valorização de alguns dos principais índices, os últimos tempos não têm sido fáceis para os investidores e parece que tudo conspira para que tomem as piores decisões possíveis:
1 - taxas de juro a zero e quase ausência de retorno em investimentos de taxa fixa;
2 - excesso de oferta de produtos financeiros e conselheiros/consultores financeiros - os chamados "ajudantes" - dispostos a abraçar qualquer estratégia "fácil" e com resultados rápidos;
3 - a falta de paciência para aguardar que os investimentos deem frutos;
4 - incertezas, que existem sempre, que por vezes não são ignoradas.
Nos primeiros dias de janeiro, alguns profetas da desgraça previram quedas de mais de 50% nos mercados acionistas. Apesar da maioria das pessoas não saberem quem são, o que fazem ou o que ganham com tais opiniões e sobretudo, se alguma vez estiveram certos ou se ganharam dinheiro para os seus clientes, tomaram decisões de investimento e de vendas de ativos, motivados por estas opiniões.
Para tornar tudo mais difícil, o ano de 2016 está marcado por dois eventos relevantes: em junho, a consulta popular no Reino Unido sobre a permanência ou saída da União Europeia - que resultou no Brexit - e pelas eleições americanas, a realizar já no dia 8 de novembro.
O ser humano está geneticamente programado para prestar mais atenção às más notícias. Os nossos antepassados nas savanas, quando ouviam um restolhar na erva, imaginavam sempre que era um predador e não apenas o vento. Esta era uma arma de sobrevivência: se se assustassem e fosse apenas o vento, não havia problema nenhum. Pelo contrário, se não prestassem a devida atenção e fosse um leão, perderiam a vida. Por isso, são impelidos para a ação, mesmo que posteriormente se verifique que esta era desnecessária.
Este comportamento verifica-se diariamente nos mercados: muitas vezes sem qualquer justificação os investidores entram em pânico e vendem as suas posições. Esta é uma forma de estancar as perdas potenciais dos seus investimentos. Outra abordagem muito comum é a tentativa de adivinhar a melhor altura para sair ou entrar, com base na probabilidade de determinados acontecimentos se verificarem. Preferem tomar decisões sobre acontecimentos que não conseguem controlar do que agir sobre aquilo que conseguem avaliar - a qualidade dos ativos.
Um jogo de soma negativa
Foi o que fizeram no dia em que se conheceram os resultados que confirmaram a saída do Reino Unido da União Europeia. Os mercados abriram com quedas muito elevadas porque os investidores foram surpreendidos pelos resultados. No entanto, a pressão vendedora demorou apenas dois ou três dias e passadas duas semanas os mercados haviam recuperado e alguns ultrapassado os máximos anteriores. Muitos investidores perderam nas comissões de transação e regressaram ao mercado para comprar a preços mais altos.
A história tem mostrado que as eleições não têm um impacto duradouro na performance global dos mercados. A eleição poderá causar alguma volatilidade de curto prazo. No entanto, está comprovado que manter a disciplina é a estratégia de longo prazo mais acertada. Uma análise de como o mercado se comportou durante diferentes governos - democratas e republicanos - desde 1960 revela que, no longo prazo, não existem diferenças significativas.
Que impacto terão as eleições nos seus investimentos?
Nas últimas semanas a preocupação dos investidores tem estado centrada nos resultados das eleições americanas. Motivados pelo efeito de surpresa do referendo no Reino Unido, muitos reduziram a exposição a ações para a eventualidade do mercado cair caso o candidato republicano ganhe as eleições.
E se não ganhar? E se os mercados não caírem? Voltam a entrar a que preços?
A história tem mostrado que as eleições não têm um impacto duradouro na performance global dos mercados. A eleição poderá causar alguma volatilidade de curto prazo. No entanto, está comprovado que manter a disciplina é a estratégia de longo prazo mais acertada.
Uma análise de como o mercado se comportou durante diferentes governos - democratas e republicanos - desde 1960 revela que, no longo prazo, não existem diferenças significativas. Ambos os partidos conseguiram retornos anuais na ordem dos 12%.
Um bom conselho raramente muda
De uma forma geral, os investidores não conseguem seguir uma estratégia de investimento sensata e de longo prazo. São seduzidos pela atração do trading constante, caro e pouco produtivo. A consequência quase inevitável são resultados desapontantes.
Os bons conselhos raramente mudam enquanto que os mercados mudam constantemente. A tentação de agradar é quase irresistível. E embora as pessoas precisem de bons conselhos, o que querem ouvir são conselhos que soem bem, os que confirmam a sua crença ou opinião.
O conselho que soa melhor no curto prazo é sempre o mais perigoso no longo prazo. Todos querem o segredo, a chave, o mapa para o caminho rosado que leva ao El Dorado: o investimento mágico de alto retorno e baixo risco que dobra o dinheiro em muito pouco tempo. Todos querem apanhar os retornos dos produtos da moda e evitam aquilo que caiu em desgraça. O jornalismo financeiro, assim como as instituições financeiras, seguem um princípio básico do marketing: quando os patos grasnam, dêem-lhes de comer.
As emoções que nos condicionam
"Espíritos animais" é a expressão que John Maynard Keynes utilizou no seu livro de 1936, "A Teoria Geral do Emprego, Juro e Dinheiro", para explicar as emoções que influenciam e condicionam os nossos comportamentos e decisões: "A juntar à instabilidade devida à especulação, existe a instabilidade devida à característica da natureza humana que dita que uma grande proporção das nossas atividades depende de impulsos espontâneos e não de expectativas matemáticas ou económicas. Provavelmente, a maioria das nossas decisões apenas pode ser encarada como resultado de espíritos animais, isto é, uma tendência espontânea para a ação ao invés da inação e não como o resultado de uma média ponderada de benefícios quantitativos multiplicada pelas probabilidades quantitativas".
Segundo os neurocientistas, há um conjunto de situações em que somos mais suscetíveis de tomar decisões irracionais e que automaticamente nos conduzem a decisões emotivas: quando o problema é complexo, quando a informação está em permanente mudança e aparece de forma incompleta e confusa, quando os objetivos estão mal definidos, quando o stress é elevado, quando as decisões dependem da interação com terceiros e quando muito está em jogo. As decisões de investimento com que aforradores se deparam encaixam bem nas circunstâncias descritas.
Haverá sempre incertezas políticas, económicas e outras. E depois? A incerteza pode-nos ser favorável.
Haverá sempre opiniões contrárias, por isso é que há milhões de vendedores e compradores a fazer negócio. No entanto, nós sabemos que ter uma mente independente, por vezes contrária, é fundamental. Não nos tornamos investidores em valor para sentir a validação dos outros. Tornamo-nos investidores em valor porque esta é a melhor e talvez a única estrela polar para todos aqueles capazes de se manterem pacientes, orientados para o longo prazo e avessos a riscos desnecessários.
O verdadeiro investidor em valor tem cadeira permanente no mercado financeiro.
Ao longo dos últimos 6 anos o que fizemos foi manter firme a nossa estratégia de criação de valor. Porque razão haveríamos de vender ações em 2011 quando a agência de rating S&P baixou o rating da dívida americana? Os mercados recuaram temporariamente 18 a 20%. Nós aproveitámos para comprar ações americanas que estavam baratas: Walmart, Wells Fargo, Pfizer, General Electric, Microsoft, entre outras.
Porque razão haveríamos de vender no passado dia 24 de agosto de 2015 quando ações como a Johnson & Johnson caíram 20% sem qualquer notícia que tivesse a ver com a empresa? Nós aproveitamos para comprar esta e outras empresas que, passadas algumas horas, tinham recuperado grande parte das perdas.
Porque razão haveríamos de vender ações no dia seguinte ao referendo no Reino Unido que deu a vitória ao Brexit? Nós estivemos a comprar. Alguns dias depois, os mercados estavam acima dos níveis anteriores ao referendo.
Peter Lynch, que geriu o fundo Magellan entre 1977 e 1990, ganhou em média 29,2% ao ano. Numa das suas célebres citações disse:
"Não me recordo de alguma vez ter visto o nome de alguém que prevê o mercado na lista anual das pessoas mais ricas do mundo da Forbes. Se fosse realmente possível prever correções do mercado, acho que alguém já teria feitos milhões com isso".
A reação dos mercados financeiros ao voto britânico foi muito forte. Durante a sessão asiática, a libra caiu mais de 10% face ao dólar cotando mínimos dos últimos 30 anos e a queda face ao yen foi ainda mais acentuada. Os investidores reagem muito mal a surpresas e odeiam a incerteza que o resultado do referendo origina.
Os jornalistas e comentadores de televisão falam como se tivessem a roupa interior a arder e conseguem incutir ainda mais ansiedade e vontade de agir nos investidores, profissionais ou não. A surpresa faz com que sintamos mais urgência em agir do que o habitual mas isso é uma ilusão.
As questões e opiniões sobre que impacto económico o Brexit terá para os investidores e para o crescimento económico, que consequências políticas emergirão e como afetará a circulação de pessoas e bens são escalpelizadas com todo o tipo de cenários. É muito provável que o que na realidade vai acontecer seja significativamente diferente. Contudo, a especulação tomou conta do discurso e da ação nos mercados financeiros.
Na sexta-feira, dia 24, a revista inglesa The Economist escrevia o seguinte: "Os investidores iniciaram a fuga para a segurança das obrigações do tesouro americano. Com a abertura dos mercados na Europa, os principais índices seguiram a tendência asiática e caíram cerca de 10%. Mas as quedas nos mercados asiáticos são também, em larga parte, um julgamento preliminar do impacto do referendo na economia mundial. Claro que, muitas vezes, os mercados reagem excessivamente. A Grã-Bretanha representa apenas 3,9% da economia mundial; não é suficientemente poderosa para influenciar o clima económico mundial da mesma forma que os Estados Unidos ou a China. No entanto, a economia americana tem estado letárgica e a capacidade da China de escapar da sombra da sua gigantesca dívida tem causado grandes preocupações. A economia britânica tem grande influência na Europa, onde é uma consumidora fiável num continente que privilegia mais a poupança. Qualquer disrupção ao crescimento europeu, nesta altura, não é particularmente bem vinda. O Banco de Inglaterra declarou hoje que, "Estamos bem preparados para isto". Poderá cortar as taxas para 0,5%. Poderá até reativar o programa de recompra de ativos, comprando obrigações com dinheiro acabado de imprimir. No entanto, uma recessão em Inglaterra é altamente provável. O investimento das empresas será atingido pela incerteza quanto ao acesso tanto ao mercado único como a outros locais onde a Grã-Bretanha aproveitou a boleia dos acordos comerciais negociados pela União Europeia. Em tempos de agitação, as empresas adiam todas as despesas. O mesmo é verdade para os consumidores."
De tantas opiniões ouvidas nos últimos dias, o que seguramente se pode concluir é que ninguém sabe exatamente o que se vai passar. Sabe-se contudo, que as diversas autoridades monetárias estão preparadas para agir, mantendo o dinheiro muito barato e dando liquidez ao sistema financeiro para que as grandes variações cambiais e nos preços de matérias primas e ativos financeiros, possam acontecer sem que os choques causem maiores danos ou pânico. Nas grandes crises, o maior problema é a falta de liquidez, as "portas" estreitas por onde o rebanho quer sair ou entrar ao mesmo tempo.
O preço a que se faz negócio nessas situações é sempre muito desfavorável: os investidores pagam caro o otimismo e pagam barato o valor que o pessimismo gera.
Jason Zweig, colunista do Wall Street Journal e defensor do Investimento em Valor, escreve "Quanto mais doi, mais pode ganhar: Investir depois do Brexit". Realça a queda tão abrupta do ETF Vanguard FTSE Europe, que num só dia caiu 11,3%, a maior variação desde a sua criação em junho de 1990 e ultrapassando a queda de outubro de 2008 em plena crise financeira.
Zweig, admirador do trabalho do Professor de Cambridge Elroy Dimson, cita-o no artigo: "a surpreendente volatilidade que todos sentimos na sextafeira passada seria quase impercetível se se tivesse manifestado num horizonte temporal mais alargado". O Professor Dimson é uma autoridade mundial no estudo dos retornos de investimento de longo prazo nas principais classes de ativos e um dos autores do livro "O Triunfo dos Otimistas - 101 anos de Retornos de Investimentos Globais". Neste livro, concluem que os otimistas triunfaram e os otimistas foram aqueles que investiram em ações, a classe que nesse período melhores retornos proporcionou a nível mundial.
O Professor Dimson diz ainda, "para os que estão dispostos a ser investidores ativos e têm o horizonte de tempo para uma abordagem de longo prazo, tempos como este apresentam uma oportunidade"
Certamente que os investidores têm muitas questões que gostariam de ver respondidas: quando é que vamos ter o retorno? Onde investir? O que devo verdadeiramente recear nos investimentos que tenho em carteira? Quem devo ouvir?
1. Continua o assalto à poupança.
Com as taxas perto de zero ou negativas em muitas economias desenvolvidas, com a dívida pública alemã a cotar um rendimento negativo (yield) mesmo para maturidade a 10 anos, os investidores e aforradores que foram disciplinados e que pouparam, veem agora ser "transferida" parte da sua riqueza (o rendimento justo pelas suas poupanças) para quem se endividou demais, gastou o seu e o que lhe foi emprestado.
Quem investiu em em dívida alemã no início dos anos 80, teve rendimentos perto de 10% ao ano. Este foi o cenário um pouco por todo o mundo porque as taxas caíram de 15 ou 16% para quase zero. Ao longo destes 35 anos, os rendimentos foram caindo para mínimos de -0,122% às 16h10 de dia 29 de junho. Ou seja, segundo a opinião de Henrik Bohme, jornalista da Deutsche Walle (agência noticiosa que faz parte de um canal estatal) que escreve "Opinião: A maior bolha de todos os tempos", a propósito do investimento em obrigações. O jornalista diz mesmo "a Alemanha entra para o clube dos países em que se recompensa quem contrai dívidas. A partir do momento em que o BCE disse que "fará o que for necessário" para salvar o euro, iniciou-se a maior desapropriação dos aforradores em tempos recentes. Ou seja, quem investe neste e noutros títulos de dívida, com yields negativos, está no momento zero a entrar num investimento que dá prejuízo. Também já ouvimos recentemente que, para conservar dinheiro, os investidores terão que aceitar yields negativas. Mas o que é isto? A yield negativa não significa que se vai perder dinheiro nesse investimento? Então o que leva o investidor a fazer tal disparate? Porque não sabe o que está a fazer? Porque confiou a um consultor ou gestor de dinheiro o seu património? Porque tem medo e estes são os únicos investimentos que julga seguros? Porque tem medo de ter dinheiro parado (depósitos à ordem ou a prazo) exposto ao balanço dos bancos e ser chamado mais tarde a assumir perdas da instituição financeira?
2. A grande oportunidade.
Hoje os investidores têm neste contexto tão difícil uma grande oportunidade para traçar uma estratégia a prazo que preserve o capital e permita um retorno satisfatório, alocando gradualmente mais capital a ações de empresas sólidas que continuarão a criar riqueza e a produzir lucros.
Princípios fundamentais do investimento:
1. Não precisamos de ser especialistas para conseguir retornos satisfatórios no investimento. Devemos reconhecer as nossas limitações e seguir um caminho que garanta que as coisas corram razoavelmente bem.
2. Concentre-se na produtividade futura do ativo em consideração. Se não sentir conforto ao fazer uma estimativa "por alto" dos rendimentos futuros do ativo, esqueça-o. É fundamental compreendermos as ações que levamos a cabo.
3. Se, pelo contrário, nos concentrarmos num possível futuro aumento de preço do ativo que estamos a pensar adquirir, estamos a especular. Não conhecemos especuladores bem sucedidos. O facto de um ativo ter aumentado de preço no passado recente nunca é motivo para o comprar.
4. Pense apenas no que os investimentos que faz vão produzir, na sua qualidade e rendimento associado. Não se preocupe com as variações diárias. Mantenha-se firme na estratégia de valor. 5. Formar opiniões macroeconómicas ou prestar atenção às opiniões e previsões macroeconómicas de outros é uma perda de tempo. Na realidade, é perigoso porque pode baralhar a nossa perceção dos factos que são realmente importantes.
Procure prestar atenção aos melhores investidores do mundo, os que ganharam ao longo de décadas excelentes retornos para os acionistas e para os Clientes.
3. Se tivéssemos um canal de televisão, na sexta-feira passada poderíamos abrir desta forma o serviço de notícias:
Bom dia Sr. Telespectador, temos excelentes notícias para si. Se tem um horizonte de investimento de 4, 5 ou mais anos, disponibilidade para investir e quer garantir o seu poder de compra no futuro, aproveite este desconto: os mercados financeiros estão a cair e algumas das ações que já estavam baratas, estão ainda mais baratas. Desta vez não é o downgrade da dívida americana, a crise de dívida grega, os possíveis conflitos entre a Rússia e a Ucrânia, ou a queda dos índices de ações da china. Desta vez, para surpresa geral, o Reino Unido votou pela saída da União Europeia.
Mantenha-se sintonizado connosco, procuraremos ao longo do dia apresentar-lhe os saldos nos vários mercados, de onde teremos notícias dos nossos enviados especiais (investidores com histórias de décadas a criar valor).
Não sabemos o que mercado fará amanhã, daqui a um mês ou daqui a um ano. Por isso prevenimo-nos, avaliamos ativos de grande qualidade e temos sempre a nossa watch list recheada de ativos de grande qualidade para que, nestas situações, possamos transmitir-lhes a informação que precisa para tomar decisões reflectidas, com segurança e consistentes com uma estratégia de valor.
Note bem que não estamos a dizer-lhe que já caiu tudo e que a partir daqui subirá. E agora, já de seguida, a previsão metereológica, essa sim com previsões muito mais certeiras do que as dos analistas dos mercados financeiros e de grande parte dos comentadores dos principais canais de notícias financeiras. A capacidade para aguentar o choque da surpresa é o que separa os grandes investidores de todos os outros.
Todos sabemos que os políticos, gestores de dinheiro, empresários e gestores de curto prazo procuram vida fácil, e nos últimos dias temos visto que o "Brexit" vai ter as costas largas e servir de desculpa para tudo.
O Reino Unido representa 3,9% da economia mundial, é a quinta maior potência. A sua moeda, a libra, tem nesta altura um peso de 4,9% nas reservas mundiais de moeda. Apesar de não ter o mesmo impacto na economia mundial que têm os EUA ou a China, a saída da União Europeia terá certamente impacto na economia mundial. O verdadeiro impacto económico, político e social irá saber-se a prazo. Para já, a especulação assumiu o comando nos mercados financeiros e na retórica dos políticos.
Hoje, 30 de junho, os mercados já recuperaram grande parte das quedas verificadas nos dias 24 e 27. No entanto, os mercados cambiais continuam muito perturbados com grandes quedas da libra face ao dólar, ao iene e ao euro. A organização mundial de comércio (WTO) veio alertar para o aumento do protecionismo no G20 e para os desafios que coloca ao investimento global. A livre circulação de pessoas e bens será afetada e terá custos para os negócios. Muitas decisões de alocação de capital nas empresas serão adiadas.
Os mercados odeiam a incerteza. Os bancos centrais estão em alerta para "assistir" os mercados e assegurar a liquidez do sistema bancário. O Banco de Inglaterra está disposto a imprimir dinheiro e a baixar as taxas de juro. A Reserva Federal dos EUA adiará a subida de taxas de juro e o BCE está disponível para aumentar o programa de recompra de dívida e injetar mais liquidez nos mercados financeiros.
Este é um dos primeiros efeitos do 'Brexit': vamos continuar a seguir políticas que não põem um custo no valor do dinheiro e que só vêm agravar a irracionalidade nos mercados obrigacionistas. Esta bolha também rebentará um dia. Além das obrigações de vários governos europeus, onde se destaca a Alemanha com juros negativos até aos 10 anos, as obrigações das empresas europeias com melhores níveis de 'rating' cotam com taxas de rendimento negativas até 3, 4 e 5 anos. Quando não se recebe juros por um investimento a 10 anos, não é fácil de perceber que algo está tremendamente errado nesta classe de ativos? Continuamos a assistir ao maior "assalto" à poupança de que há memória e à recompensa de quem contrai dívidas e é indisciplinado.
Ou seja, com esta incerteza quanto ao futuro, a fuga dos investidores para as obrigações e a disposição dos bancos centrais em acomodar os mercados, acentuou-se ainda mais a discrepância que se tem vindo a observar na última década: o dividend yield do MSCI Pan Europe ronda os 4% enquanto os títulos a 10 anos do governo alemão conferem uma ligeira perda aos seus detentores até à maturidade. O diferencial entre os dois é o maior do histórico do índice e ultrapassou agora o valor registado durante a crise financeira de 2008, em que se verificou o "cruzamento de 'yields'" (o rendimento dos dividendos das ações passou a ser superior ao dos governos de longo prazo). Mas os valores atuais são de tal forma extremos que muito dificilmente as ações não baterão as obrigações na próxima década.
Nos próximos tempos é de esperar uma quantidade anormal de ruído. Vai-se ouvir de tudo um pouco: negociações de saída, cenários de recessão, empresas a sair do Reino Unido, segundo referendo, países que querem seguir o Reino Unido. Os analistas vão continuar a falhar nas suas previsões. Para enfrentar esta incerteza vai ser fundamental manter um passo firme e uma estratégia consistente de valor nas decisões de investimento. Estamos convictos que estas perturbações vão continuar a gerar oportunidades para comprar boas empresas a grandes descontos do seu valor intrínseco. Para nós, isto não muda nada. É preciso manter o rigor na avaliação, a disciplina no desconto a que queremos comprar face ao valor e a paciência para que o investimento mostre todo o seu potencial de criar riqueza.
Entretanto, todos sabemos que os políticos, os gestores de dinheiro e os empresários e gestores de curto prazo procuram vida fácil, e nos últimos dias temos visto que o 'Brexit' vai ter as costas largas e servir de desculpa para tudo: para que políticos populistas e sem escrúpulos se demitam de governar com rigor, para que gestores de dinheiro sem dever de fidúcia e horizonte de investimento não assumam as suas responsabilidades e façam o seu trabalho no melhor interesse de todas as partes. Ao invés de alicerçarem as relações com aqueles que representam em honestidade e confiança, transformam-se em ilusionistas e vendilhões.
A mediocridade será assegurada. A culpa vai ser do "Brexit".
Há uns anos, John Kay, reputado economista escocês e colunista do Financial Times, relatava num artigo de opinião a parábola do Touro, que transcrevo abaixo:
"Em 1906, o grande estatístico Francis Galton assistiu, numa feira rural, a um concurso onde se tentava adivinhar o peso de um touro. Participaram oito centenas de pessoas. Galton, como estatístico que era, fez testes estatísticos sobre os números. Descobriu que a estimativa média era extremamente próxima do peso real do touro. Esta história foi contada por James Surowiecki, no livro "The Wisdom of Crowds".
Poucas pessoas sabem o que se passou de seguida. Alguns anos mais tarde, a balança do concurso parecia estar a ficar cada vez menos fiável. A reparação seria muito dispendiosa; no entanto, o organizador da feira teve uma idéia brilhante. Uma vez que os concorrentes eram tão bons na estimativa do peso do touro, era desnecessário reparar a balança. O organizador simplesmente recolheria as estimativas de todos os concorrentes e calcularia a média.
Da mesma forma, a psicologia do investimento em rebanho movimenta-se num padrão regular, tal como um pêndulo. Do optimismo ao pessimismo; da credulidade para o cepticismo; do medo de perder oportunidades ao medo de perder dinheiro; da vontade de comprar à urgência em vender.
Surgiu, no entanto, um novo problema. Uma vez que estes concursos eram cada vez mais populares, alguns participantes tentavam fazer batota, ao ponto de procurarem conseguir informações privilegiadas do agricultor que tinha criado o touro. Temia-se que, se algumas pessoas tivessem essa vantagem, as outras se recusariam a participar nos concurso de adivinhação do peso. Com apenas alguns participantes, não se poderia confiar na sabedoria da multidão. O processo de descoberta do peso poderia ficar comprometido.
Decidiu-se então introduzir regras rigorosas. O agricultor foi convidado a preparar boletins trimestrais sobre o desenvolvimento do seu touro. Estes boletins eram publicados nos portões do mercado para que todos pudessem ler. Se o agricultor partilhasse com amigos qualquer outra informação relevante sobre o animal, esta deveria ser também publicada nos portões do mercado.
Qualquer pessoa que participasse no concurso com conhecimento, sobre o touro, que não estava disponível para todos, seria expulso do mercado. Desta forma, seria mantida a integridade do processo de adivinhação do peso.
O conteúdo destes anúncios regulatórios era escrutinado por analistas profissionais que aconselhavam os seus clientes sobre as suas implicações.
Pagavam almoços e jantares aos agricultores; mas, a partir do momento em que os agricultores foram obrigados a ter cuidado com as informações que divulgavam, essas refeições tornaram-se menos frutíferas.
Alguns analistas mais inteligentes perceberam que a informação sobre a nutrição e a saúde do touro não era assim tão útil. Uma vez que já não se pesava o touro, a chave para o sucesso não era adivinhar corretamente o seu peso, mas sim adivinhar corretamente o que as outras pessoas iriam adivinhar. Ou o que os outros imaginariam que os outros iriam adivinhar. E assim por diante.
Algumas pessoas, como o velho agricultor Buffett, tentaram chamar a atenção para o fato de que os resultados deste processo estarem cada vez mais divorciados da realidade da criação de touros. Foi completamente ignorado. A verdade é que os animais do agricultor Buffett pareciam saudáveis e bem alimentados e a sua situação financeira era cada vez mais próspera; mas Buffett era um simples camponês que não compreendia como os mercados funcionavam.
Foram criados organismos internacionais para definir as regras de avaliação do peso do touro. Havia dois padrões concorrentes - Os Princípios de Pesagem do Touro Geralmente Aceites e os Padrões Internacionais de Pesagem do Touro. Ambos concordam, no entanto, com um princípio fundamental, consequência da necessidade de eliminar o papel da subjetividade individual. O peso do touro foi definido oficialmente como a média de todas as estimativas.
Por vezes, havia poucas ou mesmo nenhumas estimativas do peso do touro. Mas rapidamente se resolveu esse problema. Matemáticos da Universidade de Chicago desenvolveram modelos a partir dos quais era possível calcular a média das estimativas, se essas estimativas tivessem sido levadas a cabo. Deixou de ser necessário qualquer conhecimento de pecuária, apenas era preciso um computador potente.
Por esta altura, havia já uma enorme indústria de adivinhadores de peso profissionais, organizadores de concursos de adivinhação de peso e consultores que ajudavam, a troco de uma comissão, as pessoas a refinar as suas estimativas. Algumas pessoas sugeriram que seria mais barato reparar a balança. Foram, no entanto, ridicularizadas. Porque motivo se regressaria a um tempo em que se dependia apenas de uma pessoa quando podemos beneficiar da sabedoria agregada de tantas pessoas inteligentes? Entretanto, o touro morreu. No meio de toda esta atividade, ninguém se lembrou de o alimentar".
A importância da balança
John Kay ilustra, com a parábola do touro, que há uma complexidade totalmente desnecessária nos mercados financeiros e cujo resultado final para o investidor é praticamente zero ou negativo. Tanta atividade, tanta sofisticação, tantos recursos dispendidos e no final o touro morre?
A melhor fundação para um investimento de sucesso é o valor. A balança permite saber o peso, o que vale e o que se poderá extrair do bem. Temos que ter uma ideia sólida do que vale aquilo que estamos a pensar comprar.
A nossa perspetiva de valor tem que ter base em alicerces fatuais e analíticos sólidos. Só assim, saberemos quando comprar ou vender. Apenas uma forte ideia do valor pode dar-nos a disciplina necessária para realizar lucros num ativo altamente valorizado que todos acham que vai continuar a subir ou para manter em carteira e comprar mais durante uma crise mesmo que os preços caiam todos os dias. Obviamente, para que estes esforços dêem fruto, a nossa estimativa de valor não precisa de ser exata. Deve, no entanto, ser aproximada.
A relação entre preço e valor guarda a chave para o sucesso no investimento. Comprar abaixo do valor é o caminho mais fiável para o lucro. Pagar acima do valor raramente funciona.
No curto prazo, o mercado é uma máquina de votar - reflectindo um 'recenseamento' que requer apenas dinheiro e não inteligência ou estabilidade emocional mas no longo prazo, o mercado é uma máquina de pesar - uma balança.
Para além da Balança
A relação entre preço e valor é influenciada pela psicologia e fatores técnicos, forças que podem dominar os fundamentais no curto prazo. As variações extremas nos preços devidas a estes fatores fornecem oportunidades para grandes lucros ou grandes erros. Para conseguir os primeiros e evitar os últimos, devemos manter-nos fiéis ao conceito de valor e lidar com a psicologia e os fatores técnicos.
As economias e os mercados têm ciclos positivos e negativos. Qualquer que seja a direção que tomam em determinado momento, as pessoas acreditam que essa direção será eterna. Esta forma de pensar é muito perigosa uma vez que envenena os mercados, causa avaliações extremadas e inflaciona bolhas e pânicos aos quais muitos investidores não resistem.
Da mesma forma, a psicologia do investimento em rebanho movimentase num padrão regular, tal como um pêndulo. Do otimismo ao pessimismo; da credulidade para o ceticismo; do medo de perder oportunidades ao medo de perder dinheiro; da vontade de comprar à urgência em vender. O balançar do pêndulo faz com que grande parte das pessoas compre a preços altos e venda a preços baixos. Assim, fazer parte do rebanho é uma receita para o desastre enquanto que remar contra a maré nos extremos do mercado ajuda a evitar perdas e leva eventualmente ao sucesso.
O conforto de ser investidor em valor
Para a maioria dos gestores profissionais de fundos, prisioneiros da medição trimestral da performance - e de todo o sistema evidenciado na parábola do touro - o valor de um ativo é aquilo que alguém está disposto a pagar por ele.
Em contraste, para um investidor em valor e, portanto paciente, um ativo vale o mais alto do seu valor fundamental e do seu valor de mercado: se o preço de mercado é superior ao valor fundamental, o investidor em valor pode vender ao preço de mercado e procurar alternativas. Se o preço de mercado é inferior ao valor fundamental, o investidor em valor pode continuar a manter o ativo em carteira e beneficiar dos retornos dos cash flows estimados.
Como Ben Graham e Warren Buffett dizem há décadas, o volátil Sr. Mercado (que, por vezes, está disposto a comprar coisas por mais do que elas valem ou vendê-las por menos do seu valor) é nosso amigo, não inimigo. O investidor em valor tem uma vantagem no que diz respeito ao valor fundamental porque faz uso da "balança", dispensa as opiniões da maioria, os consultores desnecessários, os analistas adivinhos e atua baseado no valor do bem.
Os preços de mercado representam um concurso de popularidade (por vezes irracional) de curto prazo, semelhante a uma eleição mas, no longo prazo, tendem a ganhar em valor devido aos retornos no capital, crescimento económico e inflação (e para os investidores particulares, nos dividendos recebidos) - semelhante a uma balança. Este ano que agora termina foi um bom exemplo do que aqui escrevo. Faremos o seu balanço no próximo artigo.
Desejo um Bom Ano a todos.
Theresa May, recém-empossada primeira-ministra, declarou esta semana que o 'Brexit' vai ser um êxito. David Cameron, na saída, disse: "Eu fui o futuro outrora".
Passadas algumas semanas sobre o resultado do referendo no Reino Unido, os mercados acionistas recuperaram mas o futuro continua incerto. É natural que a volatilidade dos preços dos ativos se mantenha e que se continue a especular sobre os possíveis acordos que venham a ser negociados e o impacto económico desta separação.
Mesmo sem especular sobre o processo de separação, há uma série de efeitos que já são percetíveis e vão marcar os próximos tempos. Em primeiro lugar, este parece ser mais um capítulo nas guerras cambiais a nível global. Os bancos centrais já competiam para ver quem injetava mais liquidez na economia, levando as taxas de juro para níveis negativos num dos maiores confiscos da poupança da história. Para prevenir um pânico generalizado pós-'Brexit' e com a violenta desvalorização da libra, todos se disponibilizaram para continuar a conduzir políticas monetárias fortemente expansionistas e os EUA adiaram subidas de taxas de juro. Na prática, ninguém quer ver a sua moeda valorizar demasiado e perder competitividade para o vizinho.
Este é um efeito tremendo: os bancos centrais têm carta branca para continuar com políticas que não põem um custo no valor do dinheiro, aumentando a bolha nos ativos de taxa fixa. A emissão de dívida a 30 anos do Governo americano foi feita esta quarta-feira à taxa de 2,17%, o mínimo histórico. Já se paga para emprestar dinheiro ao Governo alemão a 10 anos, ao Governo japonês a 20 anos e ao Governo suíço a 50 anos. Esta distorção tremenda patrocinada pelos bancos centrais está a colocar os investidores numa busca desesperada por rendimento, que muitas vezes ignora os riscos subjacentes. Tendo em conta que as ações europeias estão a pagar um dividendo de cerca de 4%, a diferença entre o rendimento pago pelas ações face às obrigações de dívida pública é a maior desde os anos 50. Na próxima década, muito dificilmente as ações não serão um melhor investimento do que as obrigações de governos.
Poderemos assistir ao ressurgir de um neomercantilismo (bem presente no populismo de Donald Trump), que além das guerras cambiais faça regressar o espectro de tarifas e barreiras ao comércio. A WTO (Organização Mundial do Comércio) tem vindo a alertar para o reaparecimento de medidas protecionistas que prejudicam o crescimento mundial. O efeito de uma nova onda de políticas beggar thy neighbour (empobrecer o vizinho) pode constituir um retrocesso à globalização das últimas décadas e afetar negativamente o crescimento económico mundial.
Os bancos centrais têm carta branca para políticas que não põem um custo no valor do dinheiro, aumentando a bolha nos ativos de taxa fixa.
Por outro lado, a saída britânica vem colocar na ordem do dia duas reformas: a das instituições europeias e a do sistema bancário. Se a reforma da eurocracia de Bruxelas vai depender da vontade política e é necessária para solidificar o projeto europeu, a reforma do sistema bancário é muito mais premente e inevitável. Ao contrário dos EUA, que intervieram decisivamente no pico da crise para estabilizar o sistema financeiro, a resposta europeia foi fragmentada, país a país, e deixou uma série de bancos em situações complicadas. As notícias dos últimos dias, com a suspensão de resgates em fundos imobiliários ingleses e o arrastar de uma solução para a banca italiana, começa a lembrar o início da crise financeira em 2007. E grande parte da banca europeia negoceia em níveis que indicam a necessidade de fortes aumentos de capital, seja em Itália, Alemanha ou Portugal.
Acima de tudo, o 'Brexit' vai ser uma excelente desculpa para gestores e políticos. Já tivemos alguns exemplos nas últimas semanas, mas nos próximos meses (porventura anos) vamos ver uma série de grandes empresas e governos a culpar o processo de secessão britânica pelos resultados falhados. Mas tirando alguns sectores que estão diretamente expostos e são afetados por ele (veja-se o caso do sector imobiliário de Londres), o 'Brexit' não deveria afetar quem tem boas políticas de gestão ou de investimento.
Na conferência de acionistas da Berkshire Hathway, em abril passado, quando questionado sobre a possível saída do Reino Unido, Warren Buffett frisou que achava melhor o Reino Unido manter-se na União Europeia. No entanto, mesmo que soubesse antecipadamente o resultado do referendo, não mudaria absolutamente nada nas suas decisões de investimento.
Um bom investimento não deve depender de cenários macroeconómicos. Deve ser feito pela qualidade do ativo e o desconto a que se consegue comprar face ao seu valor intrínseco. A incerteza pode ser amiga do investidor de longo prazo.
"Sendo os administradores de tais empresas os gestores de dinheiro alheio, mais do que do próprio, não se pode esperar que o vigiem tão ansiosamente como os sócios particulares fazem com o seu. [...] A negligência e profusão, portanto, prevalecem sempre."
-- Adam Smith, A Riqueza das Nações
Nos últimos oito anos, os vinte maiores bancos do mundo pagaram mais de 235 mil milhões de dólares em multas pela violação de regulamentos financeiros. Estas multas afetaram os esforços dos bancos em reforçar os seus capitais, reduziram dividendos e levaram a enormes perdas de riqueza para os seus acionistas e reduziram os montantes disponíveis para emprestar à economia. Quando parece que todos perderam, a questão que se coloca é como foi possível e em benefício de quem?
1 . Wells Fargo - uma entrevista há cerca de um ano o CEO do Wells Fargo, John Stumpf, declarou: "Não quero que ofereçam um produto a alguém que não sabe qual é o seu benefício ou que o cliente não o compreenda, não o queira ou não precise dele".
Nas últimas semanas ficamos a saber que pelo menos 5300 colaboradores do Wells Fargo, o banco mais valioso do mundo em capitalização bolsista, abriram, ao longo de cinco anos, dois milhões de contas falsas em nome de milhares de clientes sem o seu conhecimento e autorização. O Wells Fargo cobrou então pelo menos 1,5 milhões de dólares em comissões nessas contas que foram criadas simplesmente para aumentar a remuneração dos colaboradores cujos programas de incentivo os recompensavam pela abertura do maior número de contas possível. Algumas das contas foram encerradas imediatamente após o colaborador receber a comissão. O objetivo deste esquema era cumprir objetivos de aberturas de contas e não roubar vastas somas de clientes desprevenidos. Entretanto, ao longo de vários anos, o banco foi despedindo estes colaboradores.
O Wells Fargo, que se estima vir a ganhar este ano 20,6 mil milhões de dólares, foi condenado a pagar apenas 185 milhões de dólares de multa uma vez que os benefícios financeiros colhidos pelo banco nestas operações fraudulentas são relativamente pequenos.
O banco, que historicamente manteve sempre uma boa reputação não apenas na capacidade de gerir o risco das suas atividades, mas também na sua atividade de cross-selling, tem como maior acionista a Berkshire Hathaway, empresa de Warren Buffett, que detém cerca de 10% do banco. O Sr. Buffett até ao momento não fez qualquer comentário sobre este assunto. No entanto, a sua exigência no comportamento ético dos gestores é bem conhecida e discutida nas suas cartas anuais e Assembleias acionistas ao longo de décadas. É dele a famosa citação "Perca dinheiro para a empresa e eu serei compreensivo. Perca um pedacinho de reputação e eu serei implacável".
Passados oito anos sobre o início da grande crise financeira de 2008, a legislação que, entretanto, entrou em vigor não conseguiu reduzir os incentivos perversos que encorajam a indústria financeira a arriscar em demasia à custa dos clientes, dos acionistas e dos contribuintes.
Apesar de toda a regulação e de milhares de milhões de dólares gastos em compliance, como foi possível que tantos colaboradores estivessem envolvidos nesta atividade tão flagrantemente corrupta? Pressionados pela gestão para cumprir objetivos muito difíceis de alcançar, estes colaboradores optaram pela via mais fácil e não lucrativa para o banco. No final de contas, os clientes foram prejudicados e o banco nem sequer ganhou dinheiro com isto. O banco é o grande perdedor, com danos reputacionais enormes e a perda de confiança dos reguladores, acionistas e clientes.
2. Deutsche Bank - num artigo da revista The Economist, do passado dia 24 de setembro, "Não vai pagar! Não pode pagar?", revela-se que o Departamento de Justiça (DoJ) americano multou o Deutsche Bank em 14 mil milhões de dólares pela emissão e venda de títulos hipotecários entre 2005 e 2007. O Banco alemão já anunciou que vai recorrer e acredita que poderá negociar um acordo por valores menores. O DoJ já tinha multado a Morgan Stanley em 3,2 mil milhões, o Bank of America em 16,7 e o Citigroup em 7.
Segundo a The Economist, o Deutsche Bank terá muitas dificuldades em pagar esta multa sem recorrer a um enorme aumento de capital. Em 2015 teve prejuízos de 6,8 mil milhões de euros, eliminou o dividendo e avisou os acionistas que não iria ter lucros em 2016. Em 27 de setembro a cotação do DB estava em mínimos de 30 anos e a capitalização bolsista em cerca de 14,5 mil milhões.
A pergunta que se coloca é simples: o que levou os gestores da banca a enveredarem por uma estratégia de venda de produtos estruturados complexos, que a esmagadora maioria dos clientes não entende, que têm um comissionamento tão elevado que, na maior parte das vezes, resultam em perdas para os clientes e, como se pode ver pelos seus resultados, levam a uma perda de valor imensa para os seus acionistas, os verdadeiros donos do capital destes bancos?
3. Na semana passada, num artigo do Financial Times, é apresentado um estudo de Thomas Philippon Professor de Finanças na Universidade de Nova York. Este concluiu, analisando informação desde finais do séc. XIX, que o setor financeiro americano não teve absolutamente nenhuns ganhos de produtividade nos últimos 130 anos. Estas conclusões poderão ser extrapoladas para a maior parte dos países. Todos os outros setores da economia reduziram custos e aproveitaram a revolução informática para aumentar os seus ganhos.
Por que motivo foi o setor financeiro incapaz de oferecer um serviço melhor e mais barato? Porque é que as forças de mercado não conseguiram promover maior eficiência?
As respostas a estas perguntas podem ser encontradas no livro "What they do with your money" ("o que fazem com o seu dinheiro) de Stephen Davis, Jon Lukomnik e David Pitt-Watson. Segundo os autores, a cadeia de intermediários financeiros cresceu de tal forma que os donos do capital perderam de vista as várias camadas de intervenientes no mercado. A opacidade permite que aqueles que têm conhecimentos nesta área utilizem a sua capacidade para se servirem a eles próprios sem passar os benefícios aos clientes finais. Os ganhos de produtividade são distribuídos dentro da indústria sob a forma de comissões e retrocessões. O sistema é institucionalmente corrupto no sentido em que incentivos tóxicos encorajam os agentes financeiros a ignorar as suas obrigações fiduciárias e a servir-se, em benefício próprio, do dinheiro alheio.
Os autores do livro realçam o facto de que as comissões, escondidas e explícitas, cobradas pelas instituições financeiras, reduzirem significativamente os retornos para os fundos de pensões e os investidores ao longo do tempo. Salientam também que muita da actividade financeira se resume ao trading entre instituições financeiras.
4. Passados oito anos sobre o início da grande crise financeira de 2008, a legislação que, entretanto, entrou em vigor não conseguiu reduzir os incentivos perversos que encorajam a indústria financeira a arriscar em demasia à custa dos clientes, dos acionistas e dos contribuintes.
Os incentivos para enganar os mercados são enormes: os bónus são demasiado altos, a ameaça de cadeia para os prevaricadores é mínima e os chefes não são responsabilizados.
Segundo Sheila Bair, ex-presidente da FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation), "se os incentivos estiverem alinhados com os interesses dos clientes e acionistas, o capitalismo será visto como um instrumento de comportamento moral e não uma obstrução. A complexidade da legislação regulatória beneficia as grandes instituições que dispõem de enormes equipas jurídicas que encontram buracos na lei e conseguem acordos com os reguladores que impedem os processos criminais sobre os responsáveis dos bancos".
Sheila Bair conclui: "nestes acordos judiciais em que os bancos pagam multas de milhares de milhões de dólares, o dinheiro sai praticamente todo dos bolsos dos acionistas. O setor financeiro, traders e gestores que assumem grandes riscos na tentativa de conseguir lucros e bónus enormes só compreendem duas coisas: a pobreza ou a cadeia. Um novo código de ética não resolve problema algum".
Apesar da abundância de regulação produzida desde a crise de 2008, continuamos a assistir a uma enorme destruição de riqueza e confiança por parte do sistema financeiro. É, por isso, fundamental fazer um reboot do capitalismo no setor, simplificando a oferta de produtos, aumentando a transparência de custos e comissões, reestruturando a cadeia de incentivos, responsabilizando os gestores e implementando muitos dos princípios perdidos do governo das empresas. Só assim será possível restabelecer o laço fiduciário que deve constituir a essência do serviço prestado por uma instituição financeira.