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Andrew Mauboussin e Michael J. Mauboussin escrevem sobre a diferença entre palavras e números ao fazer previsões. Deixamos abaixo a tradução integral do artigo publicado na Harvard Bussiness Review
Se dizemos que algo é "provável", quão provável é que as pessoas pensam que é?
As pessoas utilizam palavras imprecisas quando descrevem a probabilidade de eventos futuros - "É provável que chova", ou "Existe uma possibilidade real que eles lancem o produto antes de nós" ou "É duvidoso que os enfermeiros façam greve". Estes termos probabilísticos são, não apenas subjetivos, mas podem também dar azo a interpretações muito diferentes. O "muito provável" de uma pessoa é o "longe de certo" de outra. A nossa pesquisa demonstra o quão largos podem ser os fossos na compreensão e os tipos de problemas que podem surgir destas diferenças de interpretação.
Num exemplo famoso (famoso, pelo menos, para aqueles que se interessam por este tipo de coisas), o Office of National Estimates da CIA publicou, em março de 1951, um documento que sugeria que um ataque soviético à antiga Jugoslávia no prazo de um ano era uma "séria possibilidade". Sherman Kent, professor de história da Universidade de Yale que foi chamado a Washington para codirigir o Office of National Estimates, ficou confuso quanto ao que significaria, exatamente, "séria possibilidade". Kent interpretou-a como significando que a probabilidade de ataque seria de cerca de 65%. No entanto, quando questionou os membros do Office of National Estimates quanto às suas interpretações, ouviu números entre 20 e 80%. Uma banda tão larga de probabilidades é claramente um problema, uma vez que as implicações políticas destes extremos são marcadamente diferentes. Kent reconheceu que a solução passava por utilizar números, declarando pesarosamente, "não utilizámos números... e, aparentemente, utilizámos abusivamente as palavras."
Desde então, pouco mudou. Hoje, no mundo dos negócios, investimentos e política, as pessoas continuam a utilizar palavras vagas para descrever desfechos possíveis. Porquê? Phil Tetlock, professor de psicologia na Universidade da Pensilvânia e que estudou em profundidade as previsões, sugere "a verbosidade vaga oferece segurança política".
Quando utilizamos uma palavra para descrever a probabilidade de um desfecho, temos uma larga margem de manobra para não nos envergonharmos após o facto. Se um evento previsto acontece, podemos declarar: "Eu disse que provavelmente aconteceria." Se não acontecer, a posição de recurso será: "Eu apenas disse que provavelmente aconteceria." Estas palavras ambíguas permitem ao seu autor não apenas evitar ser encurralado, mas também permitem ao ouvinte interpretar a mensagem de uma forma que é consistente com as suas noções pré-concebidas. O resultado, obviamente, é uma comunicação pobre.
Para tentar analisar este tipo de comunicação turva, Kent mapeou a relação entre palavras e probabilidades. Na versão mais conhecida, ele exibiu frases que incluem palavras ou expressões probabilísticas a cerca de duas dúzias de oficiais militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte e solicitou-lhes que traduzissem as palavras em números. Estes indivíduos estavam habituados a ler relatórios de serviços de inteligência militar. Os oficiais chegaram a um consenso para algumas palavras, mas as suas interpretações para outras eram bastante díspares. Desde então, outros investigadores obtiveram resultados similares.
Criámos um novo inquérito com dois objetivos em mente. O primeiro era aumentar o tamanho da amostra, incluindo indivíduos fora das comunidades científica e da inteligência militar. O segundo era tentar detetar eventuais diferenças entre idade ou género ou entre aqueles que aprenderam inglês como primeira língua ou secundária.
Eis as três principais lições da nossa análise.
Lição 1: Utilize probabilidades em vez de palavras para evitar más interpretações
Pedimos a membros do público em geral que ligassem probabilidades a 23 palavras ou expressões comuns que surgiam aleatoriamente. A figura abaixo sumaria os resultados de 1700 respostas.
A enorme variação de probabilidades que as pessoas ligam a certas palavras salta imediatamente à vista. Embora a interpretação de algumas palavras seja muito restrita, outras são interpretadas de forma muito ampla. Por exemplo, a maior parte das pessoas - mas não todas - pensam que "sempre" significa "100% das vezes", mas o intervalo de probabilidades que a maioria atribui a um evento com uma "real possibilidade" de acontecer varia entre 20% e 80%. De uma forma geral, concluímos que a palavra "possível" e as suas variações têm largos intervalos de probabilidade e convidam à confusão.
Concluímos também que homens e mulheres encaram algumas palavras probabilísticas de forma diferente. Como a tabela abaixo mostra, as mulheres tendem a atribuir maior probabilidade a palavras ou expressões ambíguas, tais como "talvez", "possivelmente" e "poderá acontecer". Também aqui, a palavra "possível" e as suas variações atraem más interpretações. Estes resultados são consistentes com a análise da equipa de cientistas de dados na Qora, um site onde os utilizadores colocam e respondem a questões. Esta equipa concluiu que as mulheres utilizam palavras e expressões incertas mais frequentemente que os homens, mesmo quando o nível de confiança é equivalente.
Não encontrámos diferenças significativas na interpretação entre diferentes faixas etárias ou entre faladores de inglês nativos e não nativos, com uma única exceção: a expressão "slam dunk" (afundanço). Em média, os faladores de inglês nativos interpretaram esta expressão como indicando uma probabilidade de 93%, enquanto que os não nativos indicam apenas 81%.
Este resultado é um alerta para evitarmos expressões culturalmente enviesadas em geral e expressões desportivas em particular quando estamos a tentar ser claros.
Em questões importantes onde o entendimento mútuo é vital, evite palavras e expressões não numéricas e utilize probabilidades.
Lição 2: Utilize abordagens estruturadas para atribuir probabilidades
Tal como já discutimos, uma das razões pelas quais as pessoas utilizam palavras ambíguas em vez de probabilidades precisas é para reduzir o risco de estarem erradas. Mas as pessoas também se defendem com as palavras porque não têm familiaridade com formas estruturadas de atribuir probabilidades.
Uma vasta literatura demonstra que todos temos tendência a ser excessivamente confiantes nos nossos julgamentos. Por exemplo, num outro inquérito, solicitamos aos participantes que respondessem a 50 questões com respostas verdadeiro ou falso (por exemplo, "a distância da Terra ao Sol é constante ao longo do ano" e que estimassem a sua confiança. Mais de 11000 pessoas participaram. Os resultados mostram que a confiança que estavam a responder corretamente era de 70%, mas o número de respostas corretas era de apenas 60%. Os participantes tinham um excesso de confiança de 10%, um resultado normal em pesquisas na área da psicologia.
Estudos de previsões probabilísticas na comunidade dos serviços de inteligência são um claro contraste. Os analistas mais experientes são, no geral, mais calibrados, o que significa que, ao longo de um grande número de previsões, as suas estimativas de probabilidades e os desfechos objetivos (o que realmente acontece) estão bem alinhados. Na realidade, quando a calibração não funciona, frequentemente resulta do excesso de confiança.
Como atribuir probabilidades inteligentemente?
Quando as probabilidades são ambíguas, ao contrário do que acontece numa simples situação de jogo (onde existe uma probabilidade de 50% de ser cara ou coroa), estamos a lidar com aquilo a que os teóricos da decisão chamam probabilidades subjetivas. Estas podem não ser as probabilidades corretas, mas refletem a crença pessoal de um indivíduo em determinado desfecho. Devemos atualizar as nossas estimativas de probabilidades subjetivas de cada vez que recebermos informação relevante.
Uma forma de definir a nossa probabilidade subjetiva é comparar a nossa estimativa com uma aposta concreta. Imaginemos que se espera que um concorrente vá lançar um novo produto no trimestre seguinte que ameaça o seu produto mais rentável. Estamos a tentar avaliar a probabilidade de que o lançamento não vai acontecer. A forma de enquadrar a aposta seria: "se o produto não for lançado, recebo um milhão de dólares, mas se for, não recebo nada".
Imaginemos agora um jarro com 25 berlindes verdes e 75 berlindes azuis. Fechemos os olhos e escolhamos um berlinde. Se for verde, ganhamos 1 milhão, se for azul, nada. Sabemos que temos uma chance em 4 (25%) de conseguir um berlinde verde e ganhar o dinheiro.
Agora, onde preferimos apostar? No falhanço do lançamento ou no berlinde que tiramos do jarro?
Se escolhermos o jarro, isso indica que acreditamos que a probabilidade de ganhar essa aposta (25%) é maior do que a probabilidade de ganhar a aposta do falhanço do lançamento. Portanto, temos que acreditar que a probabilidade do lançamento do produto do nosso concorrente falhar é menor de 25%.
Desta forma, usar uma referência objetiva ajuda-nos a definir com mais precisão a nossa probabilidade subjetiva. (Para testar outros níveis de probabilidades, basta ajustar mentalmente o rácio de berlindes verdes e azuis no jarro. Com 10 berlindes verdes e 90 azuis, ainda escolheríamos o jarro e não a aposta do lançamento falhado? Devemos acreditar que a probabilidade do lançamento falhar é inferior a 10%.)
Lição 3: Procure feedback para melhorar as previsões
Quer utilizemos termos vagos ou números precisos para descrever probabilidades, o que na realidade estamos a fazer é prever. Se afirmamos que existe uma "possibilidade real" que o produto do concorrente vais ser lançado, estamos a prever o futuro. Nos negócios e noutras áreas, ser um bom previsor é importante e exige prática. No entanto, fazer muitas previsões não é suficiente: precisamos de feedback. Atribuir probabilidades fornece-nos esse feedback uma vez que nos permite manter um marcador da nossa performance.
Colunistas e intelectuais falam frequentemente do futuro, mas tipicamente não exprimem as suas convicções com a precisão necessária que permita monitorizar a sua performance. Poe exemplo, um analista pode especular, "o Facebook provavelmente continuará a ser a rede social dominante nos anos vindouros". É difícil medir a precisão desta previsão uma vez que ela é subjetiva e a expressão probabilística sugere uma larga gama de probabilidades. Uma declaração como, "Existe uma probabilidade de 95% que o Facebook terá mais de 2,5 biliões de utilizadores mensais dentro de um ano", é precisa e quantificável. E mais, a precisão desta previsão pode ser diretamente medida, fornecendo feedback à performance.
Os melhores previsores fazem muitas previsões precisas e monitorizam a sua performance com métricas como o Brier Score. Este tipo de monitorização de performance requer previsões com um desfecho categórico (Facebook terá mais de 2,5 biliões de utilizadores mensais), um período temporal específico (dentro de um ano) e uma probabilidade específica (95%). É uma disciplina dura, mas essencial para melhores previsões. E quanto melhores forem as previsões, melhores serão as decisões. Existem vários recursos online que poderão facilitar esta tarefa. Good Judgement Open (fundado por Tetlock e outros cientistas) e Metaculus fornecem questões para praticar previsões. Mercados de previsões, PredictIt, por exemplo, permitem apostar em previsões.
Da próxima vez que declarar que um negócio ou outro desfecho é "improvável" ou, em alternativa, está "virtualmente assegurado", questione-se: Que percentagem de probabilidade e que período temporal atribuiria a este desfecho? Enquadre as suas previsões desta forma e elas serão muito mais claras para si e para quem o rodeia.
Morgan Housel escreve para o blog Collaborative Fund. No passado 18 de Agosto, publicou The Laws of Investing.
A Casa de Investimentos traduziu integralmente o artigo, que pode ler abaixo.
As Leis do Investimento
A ciência está repleta de regras, teorias baseadas em evidências e observações probabilísticas. As Leis - verdades imutáveis sem exceções - são raras. A maioria das áreas do conhecimento têm apenas uma mão cheia.
Mas a mão cheia de leis que existe têm uma função especial: são as matriarcas, os sábios, das teorias e regras do dia a dia utilizados para descobrir novas verdades. Existe uma hierarquia na ciência: Leis na base, regras específicas acima, depois teorias, observações, palpites... quando mais se sobe na pirâmide, mais excitantes se tornam as coisas. É aí que as descobertas e as oportunidades se encontram. No entanto, tudo o que está no topo da pirâmide tem que respeitar as Leis que estão na base.
Esta ideia de as regras flexíveis derivarem de Leis inabaláveis aplica-se a todas as áreas do conhecimento. John Reed escreve no seu livro Succeeding:
Quando iniciamos o estudo de uma determinada disciplina, parece que temos que memorizar um zilião de coisas. Não é verdade. O que precisamos é de identificar os princípios centrais que regem a disciplina. O milhão de coisas que julgávamos ter que memorizar são simplesmente várias combinações dos princípios centrais.
No investimento, é exatamente a mesma coisa.
O que é uma Lei do investimento? Não existe uma definição, por isso tomei algumas liberdades. Tento limitá-las a forças que influenciam todo o tipo de investimentos, em todos os setores e países, ao longo de toda a história, com poucas exceções e tento explicar porque motivo continuarão válidas indefinidamente.
O investimento não é apenas o estudo das finanças. É o estudo de como as pessoas se comportam com o dinheiro. Portanto, a maior parte destas Leis descrevem como as pessoas se comportam face ao risco, recompensas e escassez.
Estas Leis são simples. São, no entanto, parte dos alicerces que governam a maior parte do que acontece nos investimentos e continuará a acontecer enquanto existirem investimentos.
Lei 1: O otimismo e o pessimismo atingirão sempre níveis excessivos porque os limites de ambos só são conhecidos em retrospetiva, depois de terem sido ultrapassados.
O preço certo para cada ativo é o que alguém está disposto a pagar por ele, uma vez que os preços dependem de assunções subjetivas acerca do futuro. E tal como um cego que não sabe onde está a parede até que a bengala lhe toca, os mercados não sabem quando o otimismo ou pessimismo foram longe demais até que ultrapassam os limites e os investidores, em número suficiente, protestam na direção oposta.
Os picos e fundos dos ciclos de mercado parecem sempre irracionais em retrospetiva. Mas, em tempo real, os mercados estão simplesmente a tentar encontrar os limites que as pessoas conseguem suportar. E têm que o fazer, uma vez que a diferença entre o potencial de um ativo e o que os investidores estão dispostos a aguentar cria oportunidades que serão exploradas.
Robert Shiller venceu o prémio Nobel com um paper que escreveu em 1981 acerca de uma ideia similar. A conclusão a que podemos chegar é que os mercados não são, na realidade, racionais; são apenas razoáveis.
Lei 2: A acalmia semeia a loucura.
Se os mercados não sofressem crashes, não seriam arriscados.
Se não fossem arriscados, ficariam muito caros.
Quando ficam caros, sofrem crashes.
O mesmo acontece com as recessões. Quando a economia está estabilizada, as pessoas ficam otimistas. Quando ficam otimistas, contraem créditos, quando contraem créditos, a economia fica instável.
O economista Hyman Minsky concluiu, há meio século, que a estabilidade é desestabilizadora e esta é uma das observações mais úteis no investimento uma vez que explica por que razão a volatilidade é, não só inevitável, mas também é causada por pessoas que agem de forma razoável. Se encararmos todas as recessões, crashes de mercado ou bolhas, causadas por dívida em excesso como exemplos de pessoas a agir loucamente, poderemos ficar cínicos, o que torna difícil ser otimistas de longo prazo, mesmo quando o devemos ser. Se as encararmos como inevitáveis, concluímos que são parte normal da viagem e um lembrete ocasional de que o sinal de "apertar o cinto de segurança" nunca deve ser desligado.
Lei 3: Realidades de carreira originam um desfasamento entre fluxos de dinheiro e horizonte temporal, constrangendo o poder do juro composto.
Conselheiros financeiros bem-intencionados, ao dirigirem-se a jovens com 23 anos de idade, declaram: "que afortunado, tem 45 anos antes da reforma. O juro composto pode fazer crescer o seu dinheiro 20 vezes nesse período." O confuso e realista jovem de 23 anos responde: "Isso é muito giro. Ganho 16 dólares por hora e tenho créditos de estudante de 58 mil dólares." Pela altura em que a carreira dos estudantes está encaminhada e têm capital suficiente para investir, já estão nos seus 40 ou 50, quando o poder do juro composto diminuiu cerca de 90%.
Investir é o equivalente de a NFL apenas poder recrutar jogadores com 50 anos - que já passaram o seu apogeu, com performances muito inferiores às que conseguiriam quando eram mais novos. Quando tudo nos é favorável quando somos novos, tipicamente assumimos que os cheques continuarão para sempre e não tiramos partido da vantagem do horizonte temporal mais longo.
O fosso entre o que é possível numa folha de cálculo e praticável no mundo real será sempre vasto.
Lei 4: Pessoas com horizontes temporais diferentes e objetivos diferentes querem coisas diferentes dos mesmos ativos, criando diferenças razoáveis nas suas opiniões, que podem ser mal interpretadas como divergências.
Fundos de pensões têm Google em carteira. Fundos de índices também. E gestores ativos. E traders diários. E traders de alta frequência.
Cada um tem horizontes temporais e objetivos diferentes. Por isso, vão reagir de forma diferente às notícias e vão ter opiniões diferentes quanto à informação que importa e sobre o que vai acontecer de seguida.
Isto pode criar problemas, porque se temos um ativo em carteira, a última coisa que queremos é alguém inteligente dizer-nos, ou sinalizar, que somos loucos por tê-lo. Muita inteligência pode ser afogada por um pouco de persuasão social. Se estamos expostos à opinião de pessoas que têm o mesmo ativo que nós, mas diferentes objetivos ou horizontes temporais, poderemos ser desviados e tentados a tomar más decisões, ainda que o que a outra pessoa está a dizer esteja correto (para ela).
Quando existem objetivos diferentes, pessoas razoáveis podem discordar. Concentrar a nossa atenção na informação que está alinhada com os nossos próprios objetivos é essencial, mas bem mais difícil do que parece.
Lei 5: Sorte e risco são os lados opostos da mesma moeda, mas tratamo-los de forma muito diferente.
Tudo o que é importante nas finanças tem a ver com probabilidades e, uma vez que a maioria das probabilidades é inferior a 100, existe uma hipótese de tomar uma boa (ou má) decisão e, mesmo assim, conseguir um desfecho mau (ou bom).
O primeiro é chamado risco. O segundo é sorte.
Risco e sorte são irmãos de sangue. Mas nós tratamo-los como se fossem espécies diferentes.
O risco é tipicamente visto como algo que nos acontece enquanto que a sorte é tratada como algo que fizemos a nós próprios. Os retornos são ajustados pelo risco, nunca pela sorte.
As pessoas fazem tudo para evitar o risco. Deveremos querer evitar a sorte? Claro que não. Mas se não reconhecermos a sorte quando ela acontece, podemos iludir-nos e concluir que a performance passada é indicativa de capacidade superior. Isto pode levar-nos a decisões lamentáveis.
Experimentar o risco faz-nos concluir que algumas coisas estão fora do nosso controlo. Isto pode dar-nos feedback valioso. A sorte fornece-nos o oposto: uma sensação falsa e perigosa de que estamos no controlo, porque fizemos algo e conseguimos o desfecho desejado. Bill Gates declarou: "O sucesso é um professor terrível. Seduz as pessoas inteligentes e convence-as que não podem perder".
Lei 6: O maior risco é sempre aquele de quem ninguém fala, porque, se ninguém fala dele, ninguém está preparado.
Tudo nas finanças são dados no contexto de expetativas. Um não importa sem o outro. A expetativa de um grande risco pode sanar o quão doloroso esse evento é quando ocorre, porque as pessoas são muito boas a preparar-se. No final de contas, a maior parte dos danos causados por grandes eventos financeiros é a reação exagerada a surpresas e ao desconhecido (ver Lei 1). Consigo colocar e retirar as minhas lentes de contacto sem qualquer dificuldade, mas se me tocam nos olhos de repente, eu retraio-me e grito porque não sei qual foi o dano ou o que ainda está para vir. A diferença entre um tweet louco de Donald Trump ou um de Jerome Powell é abismal.
A ironia universal do risco é que por mais que o tentemos quantificar, vamos sempre deixar de fora tudo aquilo em que não estamos a pensar ou que nem sequer imaginamos. E isso é o que importa mais.
Carl Richards resume: "O risco é o que sobra quando pensamos que pensamos em tudo."
Lei 7: As narrativas tornam-se autorrealizáveis e podem sobrepor-se às capacidades visíveis que são mais facilmente mensuráveis.
A 1 de janeiro de 2009, a economia americana tinha sensivelmente o mesmo número de pessoas, o mesmo número de fábricas, máquinas, edifícios de escritórios, computadores, datacenters, camiões, comboios, patentes, escolas, criatividade e ideias que tinham em janeiro de 2007. No entanto, era 16 triliões de dólares mais pobre e empregava menos 10 milhões de pessoas em 2009 do que em 2007.
O que mudou foi a narrativa. De otimismo a pessimismo - estalar os dedos é o que basta.
Quando a narrativa - de que os preços das casas sobem sempre - quebrou, as hipotecas executadas aumentaram, os bancos perderam dinheiro, reduziram o crédito a outros negócios, o que levou a despedimentos, resultando em menos consumo, que levou a mais despedimentos e por aí em diante. Em 2009, tínhamos a mesma capacidade de crescimento de 2007, a narrativa a que nos agarrámos é que era diferente. E a economia sofreu a maior crise dos últimos 80 anos.
As finanças e a economia dependem de assunções subjetivas voltadas para o futuro e todo o edifício pode ser impulsionado ou ruir quando essas assunções mudam. A capacidade produtiva não precisa de mudar; basta mudar a história em que as pessoas acreditam.
A determinada altura, a narrativa de que os preços das casas podem cair parece ridícula. No entanto, assim que um número suficiente de pessoas acredita que isso pode acontecer, esse evento torna-se autorrealizável. Isto também é verdade na direção oposta e pode explicar o sucesso económico americana face a nações com cidadãos igualmente capazes. Nunca subestimar um grupo de pessoas com convicções fortes, para o bem ou para o mal.
Lei 8: Quanto mais revolucionária for a tecnologia, mais ridicularizada será porque é difícil distinguir a familiaridade da utilidade.
Pense nas tecnologias mais revolucionárias os últimos 100 anos. Agora tente recordar-se do que as pessoas diziam delas no início. Encontrará críticas universais e ceticismo. Quanto mais importante é a tecnologia hoje, mais ceticismo enfrentou quando surgiu. Existem poucas exceções. O ceticismo face a novas tecnologias é frequentemente justificado. Os protótipos iniciais são horríveis ou toda a ideia era ridícula. Mas uma nova tecnologia que acaba por ser fantástica - automóveis, aviões, antibióticos, vacinas, computadores - será criticada por diversas razões: poucos conseguem imaginar como se vai encaixar nas suas vidas e preocupam-se com os efeitos secundários que poderão prejudicar o seu estilo de vida. Três razões para isto acontecer:
- Aceitar que algo substitua a forma como fazemos a s coisas hoje exige o reconhecimento de que a forma como fazemos as coisas hoje não é eficiente e se extinguirá em breve. Isto é difícil de aceitar porque as pessoas desejam ser eficientes e tornam-se sentimentais relativamente à maneira como as coisas foram sempre feitas. Uma das principais críticas aos primeiros automóveis foi a indignidade que causavam aos pobres cavalos.
- As novas tecnologias desencadeiam frequentemente revoluções culturais, o que, para as gerações mais velhas, é difícil de distinguir de declínio moral. O telefone matou a arte de escrever cartas; o email matou as conversas telefónicas; Slack matou as reuniões face a face, e por aí adiante.
- Compreender o valor de uma nova tecnologia requer imaginação, mas, a menos que tenhamos algo em jogo, isto pode parecer não valer a pena o esforço. A tecnologia, no final de contas, deve tornar as coisas mais simples e fáceis e não exigir esforço mental.
Um tema comum na história é a preocupação de que costumávamos inovar, mas não fizemos nada de significativo há mais de 10 anos. Em retrospetiva, a causa mais comum para esta preocupação é que costumamos demorar mais de 10 anos para reconhecer a importância de novas inovações.
Lei 9: Grandes resultados são guiados por eventos extremos, portanto ganhar enquanto perdemos a maior parte do tempo é normal.
Tudo o que é grande, lucrativo, famoso e influente é resultado de um evento extremo - um evento aberrante, um em milhares ou um em milhões. E a maior parte da nossa atenção concentra-se em coisas grandes, lucrativas, famosas e influentes. Quando a maior parte daquilo a que prestamos atenção é resultado de eventos extremos, torna-se fácil subestimar quão raros e poderosos são os eventos extremos.
Estes eventos extremos, no entanto, impulsionam quase tudo. Uma minoria de participantes capturará retornos generosos porque a oportunidade atrai concorrência e os vencedores dessa "corrida" tendem a "trancar" os lucros porque clientes, empregados e investidores querem associar-se a vencedores.
Um portfólio diversificado deriva a maior parte dos seus retornos de longo prazo de uma minoria de empresas. Estas empresas derivam a maior parte do seu valor de uma minoria de produtos e esses produtos forma criados por uma minoria de empregados, que foram educados numa minoria de escolas, e por aí em diante.
A conclusão a retirar dos eventos extremos é que devemos estar confortáveis mesmo quando a maior parte do que fazemos e vemos não funciona. Se ficarmos paralisados quando algumas coisas não funcionam, não vamos conseguir esperar e desfrutar daquelas poucas que funcionam.
Lei 10: As estratégias eficientes mudam à medida que os mercados mudam as métricas pelas quais se interessam.
As boas estratégias de investimento são como vacinas contra a gripe. Existem vacinas eficientes, mas apenas por um limitado período de tempo. A doença que pretendem combater evolui e torna-se resistente àquilo que costumava funcionar.
A vacina contra a gripe muda todos os anos com base nas estirpes de gripe mais prevalentes. As estratégias de investimento devem fazer o mesmo.
Benjamin Graham publicou diversas edições de "O Investidor Inteligente". Em cada nova edição, Graham substituiu as velhas fórmulas por outras que funcionavam melhor. Isto não foi um erro ou uma tentativa de o disfarçar. Uma boa estratégia atrai atenção e essa atenção pode eliminar oportunidades num instante.
A citação de Jim Grant - "o sucesso no investimento é toda a gente concordar contigo... mais tarde." - tem muita sabedoria. Uma determinada métrica pode influenciar-nos, mas não fará qualquer diferença a menos que muitos outros investidores decidam também ser influenciados por ela. O mais difícil é que as coisas a que os investidores prestam atenção e concordam, mudam ao longo do tempo.
Houve uma altura que o rácio Preço/Valor contabilístico era o que importava mais. Depois os dividendos eram supremos. Depois lucros por ação (PER). Este rácio foi popular durante um largo período de tempo. Ao longo da última década, é a Marca e talvez o crescimento das receitas. Tudo o que acontece para além destas métricas tem pouco significado.
A dificuldade está em encontrar o equilíbrio entre o que é intemporal (e a que devemos dedicar paciência) e o que expirou (e deve ser descartado). Se tivéssemos uma resposta fácil, estaríamos todos na praia.
Lei 11: A evidência mais convincente é aquela que queremos que seja verdade e/ou o que vivenciamos pessoalmente.
Um bom investidor vira muitas pedras até encontrar algo especial. Mas o especial é subjetivo. O que nós achamos espantoso pode ser entediante para outra pessoa. As coisas especiais que descobrimos não são pepitas de ouro, com um valor de mercado facilmente quantificável. O especial está nos olhos de quem observa e, por cauda da Lei 10, o truque está em fazer com que os outros vejam também. Por exemplo, as ações de valor. São amadas por muito e, por definição, detestadas por outros. A nossa história contra a deles.
O "Especial" é definido por uma história e o escritor dentro da nossa cabeça vence todos os prémios Pulitzer. A história que nos soa melhor é tipicamente:
- O que queremos que seja verdade. Os incentivos para estar correto no investimento são tão grandes que é difícil pensar claramente sobre a nossa análise sem nos distrairmos com as recompensas potenciais. Prevendo o tempo, utilizamos as roupas certas. Prevendo os investimentos certos, podemos reformar-nos na praia. Altos ganhos potenciais dão azo a uma lógica nebulosa porque nos incentivam a querer desesperadamente que algo seja verdade mesmo que não o seja.
- O que vivenciamos pessoalmente. Familiaridade é, dentro do nosso cérebro, equivalente a precisão. As duas são muito difíceis de distinguir. Eventos vivenciados pessoalmente são muito mais realistas do que aqueles acerca dos quais lemos. Dois investidores, igualmente inteligentes e com os mesmos dados, podem chegar a duas conclusões opostas guiados apenas pelas diferenças nas suas experiências de vida. Evidências que não queremos que sejam verdadeiras ou que não tenhamos vivenciado podem ser, obviamente, persuasivas. No entanto, a quantidade de reforço que sentimos quando queremos que a história seja verdadeira, ou quando a vivemos em primeira mão, é fácil de subestimar.
Lei 12: O fosso entre o timing das oportunidades de investimento e a fé num gestor de investimentos influenciará as decisões de investimento profissionais.
Um lamento comum a muitos gestores de investimentos é que os investidores se focam em demasia no curto prazo, resgatando os seus fundos após alguns trimestres de má performance e neutralizando o investimento a longo prazo do gestor.
É fácil, numa situação destas, culpar o investidor e acusá-lo de ter vistas curtas e ser emocional. Por vezes, isto é verdade. Frequentemente, no entanto, existe uma boa razão pela qual os investidores não se alinham com o horizonte temporal do gestor.
Os gestores de investimentos tentam encontrar oportunidades para retornos acima da média no longo prazo. Os investidores que colocam dinheiro nesses fundos tentam determinar se o gestor possui a rara habilidade para conseguir esses retornos. Estes objetivos são coisas muito diferentes.
Um gestor encara um período de performance mais fraca como uma pausa inevitável. Mas o investidor pode vê-lo como prova de falta de capacidade. E quem pode culpar o investidor dadas as performances horríveis da maior parte dos fundos? A diferença entre "temporariamente desfavorecido" e "o sucesso passado foi sorte/marketing" muitas vezes só se reconhece passados muitos anos. Os investidores de fundos que se mantêm pacientes durantes anos podem parecer irrazoáveis - até displicentes - quando as probabilidades de a performance passada do gestor não ter sido mais que sorte ou então já não é válida (ver Lei 10). Não creio que se possa culpar o gestor ou o investidor. Na maior parte do tempo, ambos têm boas intenções, mas estão a tentar fazer coisas diferentes com dados limitados. (É por isso que uma comunicação clara é essencial.)
Mas esta realidade pode empurrar os gestores para um horizonte temporal mais curto para poderem manter os investidores felizes e manterem os seus empregos. Há um ditado na gestão de fundos: "Prefiro perder metade dos meus clientes do que metade do dinheiro dos meus clientes". É mais nobre e mais fácil tweetar do que fazer.
Lei 13: Os erros de diagnóstico criam uma tendência para a ação numa área em que a primeira regra do juro composto é nunca o interromper desnecessariamente.
É fácil ver se o nosso carro está avariado. Se dermos à chave e o motor não pega, algo está errado. Talvez não saibamos o que está errado, mas é preciso fazer algo se queremos utilizar o carro. Não há ambiguidade.
Mas como se diagnostica um portólio?
Se não tem uma performance positiva durante um ano, está avariado.
Talvez. Ou então talvez seja uma questão de volatilidade.
Dois anos? Ainda é difícil de dizer. Talvez as ações que o compõem não estejam nas graças do mercado.
Três? Quatro? Cinco? Ainda não se sabe. "Tempestade perfeita" ...
Quando estão garantidos períodos de má performance e de volatilidade, é difícil diagnosticar se a nossa estratégia de investimento está avariada ou se precisa apenas de paciência. A maior parte das coisas na vida não é assim. A maior parte das coisas são como os carros - não existe qualquer ambiguidade.
A dificuldade no diagnóstico de problemas no nosso portfólio cria um incentivo à ação porque não fazer nada quando algo pode estar errado parece irresponsável. E a ação tende a repelir a performance potencial, uma vez que quando mais botões premirmos, mais probabilidades temos de estragar tudo e mais somos obrigados a depender dos movimentos de curto prazo que são mais influenciados por alterações no sentimento dos investidores do que por alterações nos dados fundamentais.
Lei 14: A especulação é racional porque eventos de baixa probabilidade podem ser enormemente compensadores quando se envolvem enormes somas de dinheiro e alavancagem.
Se formos investidores de longo prazo, podemos encarar a cacofonia do trading diário como se fosse um desfile de cowboys inumerados. As nossas opiniões são confirmadas se consultarmos os resultados dos traders.
Por que motivo deveríamos apostar se uma determinada empresa bate os resultados trimestrais?
Ou se os futuros do sumo de laranja cairão na próxima semana?
Ou quando ocorrerá a próxima recessão?
Serão estas pessoas loucas?
Às vezes, sim. No entanto, se for esta a nossa conclusão final, perdemos um ponto importante: A forma correta de olhar para os retornos é via valor expectável - recompensa X probabilidade. E a recompensa por estar correto no investimento pode ser tão grande que faz com que apostar em eventos de baixa probabilidade se torne racional.
Apostar em eventos de baixa probabilidade não é sinal de inumeracia; esperar que todos ignorem um evento com 1% de probabilidade de acontecer, mas que oferece uma recompensa que muda a vida é um sinal de inumeracia.
Quando vastas quantidades de dinheiro e alavancagem estão disponíveis, as barreiras racionais à especulação deixam de ser as probabilidades de sucesso em determinados eventos e passam a ser os custos de transação e a liquidez. Reduzam essas barreiras e fará sempre sentido especular em ideias que parecem loucas e quase impossíveis.
Lei 15: Comportamento > Análise, porque um não pode ser ensinado e o outro sim.
Para a maior parte dos investidores de há apenas uma geração atrás, saber mais sobre novos investimentos significava ir à biblioteca e esperar que existisse algum relatório anual disponível com menos de um ano de idade. A forma como as coisas mudaram e a velocidade com que o fizeram é inacreditável.
A maior parte das pessoas é capaz de conseguir saber mais sobre a saúde da Goldman Sachs do que da sua própria saúde, dada a quantidade disponível de informação gratuita e centralizada. "Todos podem saber tudo" pode ser um exagero, mas é nessa direção que caminhamos.
O lado comportamental do investimento - medo, ganância, impaciência, excesso de confiança - é diferente.
A sua popularidade disparou, mas não é como a informação que pode ser disseminada e aprendida. A informação é influente, mas o cortisol e a dopamina são autoritários. E muito do que impulsiona o comportamento no investimento está profundamente entranhado na personalidade e na experiência pessoal - e isto não é algo que possa ser facilmente ensinado.
O lado comportamental do investimento será sempre muito mais importante do que o lado analítico. Um bom comportamento e má informação pode, ainda assim, funcionar, mas toneladas de informação misturados com mau comportamento é um rastilho aceso.
Estou convicto que 10% da população não necessita de ajuda para investir. Nasceram com um entendimento intuitivo. Outros 10% não podem ser ajudados. São jogadores compulsivos e sempre o serão.
Lei 16: Uma atração pelo investimento/entretenimento porque o dinheiro é um produto universal com histórias de eventos extremos e emoções facilmente manipuláveis.
Um furacão que avança em direção à Florida não coloca em risco direto 92% dos americanos. Mas uma recessão que ameaça a economia pode impactar todas as pessoas, muitas delas profundamente.
Tirando a saúde, o dinheiro é o único tópico que é relevante para todos, quer queiramos ou não. Por isso, muitas pessoas prestam atenção a, e discutem, grandes histórias que, por sua vez se espalham a ainda mais pessoas, à medida que as opiniões são partilhadas e mais histórias são contadas.
De volta à Lei 9, eventos extremos: Existirão sempre histórias de sucessos e falhanços extremos, apresentados de uma forma que nos faz sobrestimar a sua prevalência e subestimar a sua complexidade. Portanto, as histórias são frequentemente extremas, fazendo com que sonhemos com desfechos enormes ou nos preocupemos com desfechos terríveis, mais do que as histórias justificam.
O dinheiro é emocional porque estamos a lidar com a nossa capacidade de nos reformarmos, pagar a educação dos filhos e o nosso bem-estar em geral. Ameaças e oportunidades potenciais são assim exageradas e ampliadas.
Isto tudo resulta no seguinte: o investimento é uma área em que o marketing, entretenimento, luzes que piscam, gráficos bonitos e histórias épicas capturam a nossa atenção de uma forma que, por exemplo, a meteorologia não consegue.
Lei 17: A humilde matemática da poupança, comissões e impostos.
"Poupe um pouco de dinheiro todos os meses e, no fim do ano, ficará surpreendido com o pouco dinheiro que conseguiu juntar." Não me recordo quem disse isto, mas é verdade. É dolorosamente fácil esquecer isto porque poupar é simples e dá trabalho, enquanto que investir é excitante e pode dar a impressão de não exigir qualquer esforço. A poupança pode ser mais valiosa que os retornos dos investimentos porque ela está mais sob o nosso controlo.
Outra verdade intemporal: as comissões e impostos reduzem os retornos em 100% do seu montante. Todos sabem isto, mas se compararmos o esforço que é despendido na procura de ganhos no investimento enquanto que se ignoram comissões e impostos, concluímos que saber algo e fazer alguma coisa sobre isso são coisas bem diferentes.
O escritor russo, Fyodor Dostoyevsky escreveu sobre as leis naturais:
"A natureza não pede a nossa autorização, não quer saber dos nossos desejos e, quer gostemos ou não das suas leis, somos obrigados a aceitá-la tal como é e, consequentemente, todas as suas conclusões".
Assim é com todas as leis em todas as áreas do conhecimento, incluindo o investimento.
É tarde, escuro como breu e um veículo autónomo serpenteia por uma estrada rural sinuosa.
Subitamente, surgem três perigos simultaneamente.
Sem um humano ao volante, o veículo utiliza "smart eyes", sensores que captam estes pormenores numa fração de segundo. Como é isto possível?
Sajan Saini explica como o LIDAR e a tecnologia de Integrated Photonics tornam os veículos autónomos uma realidade.
Buster Benson escreveu, em setembro de 2016, esta "cábula dos vieses cognitivos":
Todos padecemos de vieses cognitivos.
Cada um destes vieses existe por uma razão: poupar tempo e energia aos nossos cérebros (os vieses são atalhos que nos permitem chegar às respostas mais depressa. Por vezes, infelizmente, a resposta a que nos permitem chegar está errada).
Os vieses ajudam-nos a enfrentar quatro tipos de problemas: Excesso de informação, falta de significado, a necessidade de agir depressa e como saber o que é necessário recordar mais tarde.
Problema 1: Demasiada Informação
Há demasiada informação no mundo e não temos outra escolha se não filtrar a maior parte. O nosso cérebro utiliza alguns truques simples para escolher os pedacinhos de informação que, provavelmente, poderão vir a ser úteis no futuro.
- Reparamos em coisas que estão já fixadas na nossa memória ou que são repetidas frequentemente. Esta é uma regra simples: os nossos cérebros reparam mais facilmente em coisas que estão relacionadas com algo que foi recentemente "carregado" na nossa memória (heurística de disponibilidade, viés atencional, efeito de verdade ilusória, efeito de mera-exposição, ilusão de frequência, lacuna de empatia).
- Coisas bizarras/engraçadas/visualmente marcantes/antropomórficas saltam mais à vista do que coisas não bizarras/sem piada. Os nossos cérebros tendem a dar mais importância às coisas que são pouco habituais ou surpreendentes. Em alternativa, tendemos a ignorar informação que achamos ser comum ou esperada (efeito do bizarro, efeito Von Restorff, viés de negatividade, viés de publicação, viés de omissão).
- Reparamos quando algo mudou. E, geralmente, tendemos a avaliar o significado do novo valor pela direção da mudança que teve lugar (positiva ou negativa) e não reavaliando o novo valor como se ele tivesse sido apresentado isoladamente. Isto aplica-se também quando comparamos duas coisas similares (ancoramento, efeito de enquadramento, lei de Weber-Fechner, viés de distinção).
- Somos atraídos para detalhes que confirmam as nossas crenças. Isto é muito importante. Assim como o oposto: tendemos a ignorar detalhes que contradizem aquilo em que acreditamos (viés de confirmação, racionalização pós-compra, perceção seletiva, efeito de expectativa do observador, efeito de avestruz, validação subjetiva, reflexo Semmelweis).
- Notamos com muita maior facilidade falhas nos outros do que em nós próprios. Estes vieses não comprometem apenas a forma como as outras pessoas pensam; também nós estamos sujeitos a estes vieses (viés do ângulo morto, cinismo ingénuo, realismo ingénuo).
Problema 2: Falta de Significado
O mundo é extremamente confuso e acabamos por ver apenas uma pequena fatia, mas temos necessidade que ele faça algum sentido para que possamos sobreviver. Quando o reduzido fluxo de informação (filtrada pelos vieses do ponto anterior) chega a nós, ligamos os pontos, preenchemos as falhas com aquilo que julgamos já saber e atualizamos os nossos modelos mentais do mundo.
- Encontramos histórias e padrões até em dados escassos. Uma vez que recebemos apenas uma pequena fatia da informação do mundo e filtramos quase tudo o resto, nunca temos o luxo de ter a história completa. É assim que o nosso cérebro reconstrói o mundo dentro das nossas mentes (confabulação, ilusão de agrupamento, insensibilidade ao tamanho da amostra, negligência de probabilidade, falácia anedótica, ilusão de validade, ilusão de recência, pareidolia, antropomorfismo).
- Recorremos a características estereotipadas, generalidades e histórias anteriores sempre que surgem novos detalhes específicos ou falhas na informação. Quando temos informação parcial acerca de uma coisa específica que pertence a um grupo de coisas com que estamos familiarizados, o nosso cérebro não hesita em preencher as falhas com palpites ou informação originária de fontes confiáveis. Convenientemente, esquecemos depois que partes eram reais e que partes foram preenchidas pelo nosso cérebro (viés de autoridade, efeito adesão, efeito placebo).
- Imaginamos que coisas ou pessoas com que estamos familiarizados ou de que gostamos são melhores que coisas ou pessoas com que não estamos familiarizados ou não gostamos. Somos influenciados por assunções pré-concebidas acerca da qualidade e valor daquilo que observamos (efeito halo, efeito cheerleader).
- Simplificamos probabilidades e números para que seja mais simples pensar neles. O nosso subconsciente não é bom a matemática e, geralmente, comete muitos erros no cálculo das probabilidades de algo acontecer (contabilidade mental, apelo à probabilidade, ilusão monetária, conservadorismo).
- Julgamos que sabemos o que os outros estão a pensar. Nalguns casos, isto significa que assumimos que eles sabem o que nós sabemos. Noutros casos, assumimos que os outros estão a pensar em nós tanto quanto nós pensamos em nós mesmos. Basicamente, estamos a transferir para os outros a nossa forma de pensar (ilusão de transparência, ilusão de agência externa).
- Projetamos as nossas assunções e estado de espírito atual para o passado e futuro. Isto é ampliado pelo facto de não sermos muito bons a imaginar o quão rapidamente ou lentamente as coisas acontecem ou se alteram ao longo do tempo (viés do retrovisor, viés de desfecho, falácia de planeamento).
Problema 3: A Necessidade de Agir Rapidamente
Somos constrangidos pelo tempo e pela informação, mas não podemos deixar que isto nos paralise. Sem a capacidade de agir depressa face à incerteza, teríamos com certeza perecido como espécie há muito tempo. Com cada pedaço novo de informação, precisamos de fazer o nosso melhor para avaliar a nossa capacidade de afetar a situação, aplica-la às decisões, simular o futuro para prever o que pode acontecer de seguida e, desta forma, agir com base nas nossas conclusões.
- De forma a agir, temos que ter confiança na nossa capacidade de ter impacto e de sentir que o que fazemos é importante. Na realidade, esta confiança pode, quase sempre, ser classificada como excesso de confiança. Sem ela, no entanto, poderíamos nem sequer agir (efeito de excesso de confiança, efeito Dunning-Kruger, viés egocêntrico, viés de otimistmo irrealista).
- De maneira a mantermo-nos focados, favorecemos a coisa imediata e relacionável que está à nossa frente em detrimento da coisa diferida e distante. Valorizamos mais o presente do que o futuro e sentimos mais empatia com histórias de indivíduos específicos do que com indivíduos anónimos ou grupos (apelo à novidade, efeito de vítima identificável).
- Para conseguirmos fazer qualquer coisa, somos motivados a completar coisas nas quais já investimos tempo e energia. Esta é a versão comportamental da primeira lei de Newton: um objeto em movimento mantém-se em movimento. Este viés ajuda-nos a terminar tarefas mesmo que deparemos com motivos fortes para desistir (falácia de custos irrecuperáveis, efeito IKEA, efeito de propriedade).
- Para evitar erros, estamos motivados para preservar a nossa autonomia e status dentro do grupo e tentamos evitar decisões irreversíveis. Se formos forçados a escolher, tendemos a escolher a opção que é percecionada como sendo menos arriscada ou a que preserva o status quo. Antes o diabo que conhecemos... (teoria de sistema de justificação, psicologia reversa, viés de comparação social).
- Favorecemos opções que pareçam ser simples ou que possuam informação completa em detrimento de opções mais complexas ou ambíguas. Preferimos fazer a coisa mais rápida e simples em vez da coisa mais importante e complicada, mesmo que a coisa mais complicada seja, no final de contas, uma melhor utilização do nosso tempo e energia (efeito de ambiguidade, viés de crença, navalha de Occam).
Problema 4: O Que Devemos Recordar?
Existe demasiada informação no Universo. Só nos podemos dar ao luxo de manter por perto os pedaços que, pensamos nós, poderão ser úteis no futuro. Temos que, constantemente, apostar no que devemos recordar ou esquecer. Por exemplo, preferimos generalizações porque ocupam menos espaço. Quando existem demasiados detalhes, escolhemos os que se destacam e esquecemos o resto. Aquilo que poupamos aqui está diretamente relacionado com os filtros que utilizamos no problema 1 (excesso de informação) assim como com os processos que utilizamos ao lidar com informação incompleta no Problema 2. No final de contas, trata-se de um ciclo autoalimentado.
- Editamos e reforçamos algumas memórias após o facto. Durante este processo, algumas memórias ganham força. Alguns detalhes, no entanto, podem ser acidentalmente apagados/trocados. Injetamos, por vezes, acidentalmente, detalhes novos que não aconteceram (atribuição errônea de memória, criptomnésia, efeito de espaçamento).
- Descartamos o específico para formar generalidades. Fazemos isto por necessidade, mas o impacto de associações implícitas, estereótipos e preconceitos pode ter consequências gravíssimas (estereótipos implícitos, preconceito).
- Reduzimos eventos e listas aos seus elementos chave. É difícil reduzir eventos e listas a generalidades, por isso, escolhemos alguns itens para representar a totalidade (efeito de desinformação).
- Armazenamos memórias de forma diferente conforme foram vividas. Os nossos cérebros codificam apenas a informação que consideram importante na altura, mas esta decisão pode ser afetada por outras circunstâncias (o que mais está a acontecer, como é apresentada a informação, se podemos encontrar a informação novamente se dela necessitarmos, etc) que têm pouco a ver com o valor da informação (efeito de superioridade de imagem, efeito Google, fenómeno ponta da língua).
Muito bem, como me vou lembrar disto tudo?
Não é necessário. Mas pode começar por se recordar destes quatro problemas gigantes que os nossos cérebros evoluíram ao longo de milhões de anos para enfrentar:
- O excesso de informação é terrível, por isso filtramos agressivamente. O ruído torna-se sinal.
- A falta de significado é confusa, por isso preenchemos as falhas. O sinal torna-se uma história.
- Precisamos de agir depressa, por isso preenchemos as falhas. Histórias tornam-se decisões.
- Isto não fica mais fácil, por isso tentamos recordar os pedaços mais importantes. Decisões moldam os nossos modelos mentais do mundo.
Para não nos afogarmos no excesso de informação, os nossos cérebros precisam de filtrar quantidades absurdas de informação e rapidamente, quase sem esforço, decidem o que, daquela torrente, é realmente importante.
De forma a construir significado dos pedaços de informação que atraem a nossa atenção, precisamos de preencher as falhas e encaixá-los nos nossos modelos mentais. Precisamos também de nos assegurarmos que tudo se mantém razoavelmente estável e tão preciso quanto possível.
Para agirmos depressa, os nossos cérebros são obrigados a tomar decisões em frações de segundo que podem impactar as nossas hipóteses de sobrevivência, segurança ou sucesso, e devem fazê-lo com a confiança de que terão sucesso.
E para conseguir fazer isto de forma tão eficiente quanto possível, os nossos cérebros precisam de recordar os pedaços mais importantes e úteis da nova informação e informar os outros sistemas para que se adaptem e melhores, mas não mais que isso.
Será, no entanto, importante recordar que as soluções para estes quatro grandes problemas têm, por seu turno, os seus próprios problemas.
- Não vemos tudo. Alguma da informação que filtramos e descartamos é útil e importante.
- A nossa busca por significado pode conjurar ilusões. Por vezes imaginamos detalhes com base em assunções e construímos histórias e significados que não estão realmente lá.
- Decisões rápidas podem ser deficientes. Algumas das reações rápidas e decisões a que chegamos são injustas e contraproducentes.
- A nossa memória reforça os erros. Algumas das coisas que recordamos reforçam o enviesamento do nosso processo mental e podem ser prejudiciais ao nosso pensamento.
Não há nada que possamos fazer para eliminar definitivamente estes quatro problemas, mas se aceitarmos que somos enviesados, conseguiremos compreender-nos, e aos outros, melhor.
Os vieses cognitivos são apenas ferramentas, úteis em determinados contextos e até desempenham o seu papel de forma bastante eficiente. Mais vale familiarizarmo-nos com eles e, reconhecendo que eles existem, tentar aproveitá-los para processar de forma eficiente o universo que nos rodeia.
Dave Trott é diretor criativo e autor de vários livros. No seu blog, davetrott.co.uk/, Dave partilha histórias que podem ser aplicáveis a todas as áreas do conhecimento. Eis uma delas:
Ouvi esta história num programa de rádio americano.
Um pai ligou e disse que a filha ia levar o carro à revisão.
Disse também que a filha nunca questionava o que o mecânico dizia.
Ela não queria parecer ignorante, por isso, simplesmente concordava com ele.
O pai sugeriu que o programa lhe pregasse uma partida.
Eis o que aconteceu:
O apresentador telefonou-lhe e fingiu que era o mecânico.
Ele: "Olá, já vimos o seu carro e, de uma forma geral, está em boas condições."
Ela: "Isso são boas notícias."
Ele: "Sim, a única coisa é que é preciso mudar a água dos faróis."
Ela: "É preciso mudar a água dos faróis?"
Ele: "Sim, é preciso substituí-la."
Ela: "Ah, está bem, o que sugere?"
Ele: "Bem, podemos usar água da torneira se quiser."
Ela: "E serve?"
Ele: "Aguenta no curto prazo, mas não é o ideal."
Ela: "O que recomenda?"
Ele: "Bem, eu recomendaria água Evian."
Ela: "Evian é melhor para os faróis?"
Ele: "É mais cara no curto prazo, mas, no longo prazo, dura mais."
Ela: "Ok. Qual é a diferença no custo?"
Ele: "Com a água da torneira, é só custo de mão de obra, digamos vinte dólares. Com Evian, temos o custo da mão obra mais a água mineral. Chegará quase aos cinquenta dólares."
Ela: "Isso é muito caro."
Ele: "Bem, Evian é um produto de qualidade."
Ela: "O que faria você?
Ele: "Honestamente, se utilizasse água da torneira, teria que a substituir dentro de alguns meses."
Ela: "Então recomenda a opção Evian?"
Ele: "Essa é a solução que eu escolheria."
Ela: "Bem, o senhor é que é o perito. Acho que é melhor então colocar água Evian nos faróis."
E a chamada termina assim.
O apresentador e o pai da mulher riram-se à gargalhada.
Todos nós nos podemos rir da ignorância da mulher.
Mas a verdade é que ela estava a fazer aquilo que todos nós fazemos.
O que ela estava a tentar fazer era não revelar a sua ignorância.
Ela não queria parecer ignorante.
Por isso, deixou-se levar pelo que o perito lhe disse.
Desde que fosse dito em linguagem convincente.
Parece-lhe familiar?
Alguma vez foi confrontado com uma proposta cuja linguagem não compreende?
Alguma vez teve receio de questionar a proposta e parecer ignorante?
No caso de todos na sala saberem o que significam aquelas longas palavras que estão na moda e você ser o único que não sabe.
Por isso, aceita docilmente a proposta em vez de a questionar.
Pessoalmente, tenho uma regra simples para as propostas.
A qualidade do pensamento é inversamente proporcional à complexidade da linguagem.
Por outras palavras, as pessoas só usam linguagem complicada para disfarçar um mau raciocínio.
As pessoas que pensam bem querem ser entendidas por todos.
Portanto, mantêm as coisas tão simples quanto possível.
Não precisam de as engalanar.
Só as pessoas com vergonha do que estão a dizer precisam de disfarçar.
Utilizando jargão que soa credível, complexo e na moda.
Lembre-se da próxima vez que tiver receio de questionar alguma coisa.
Da próxima vez que tiver medo de parecer ignorante.
Lembre-se do que a mulher pensou.
"Não questione os peritos. Confie neles. Tenha o cuidado de não parecer ignorante."
E acaba com Evian nos faróis.
O que tem esta história a ver com o investimento?
Da próxima vez que um banco lhe apresentar uma proposta de investimento, lembre-se da mulher que não queria parecer ignorante e acatou as instruções do falso mecânico.
Se não compreender o que lhe estão a propor, não invista.
A Fortune Magazine publicou, na sua edição de Agosto, a Fortune's Global 500, a lista das 500 maiores empresas mundiais por receitas. Traduzimos abaixo a introdução a este trabalho.
A China está perto da paridade com os EUA na lista da Fortune's Global 500 - um forte sinal de rivalidade que está a transformar o mundo dos negócios globais.
O Século Chinês está prestes a atingir a terceira década e a Fortune's Global 500 mostra o quão profundamente o equilíbrio de poder mundial está a mudar. As empresas americanas representam 121 das maiores empresas do mundo por receitas. As empresas chinesas representam 119. Sim, a América ainda é o nº 1, por pouco, mas parece inevitável que perderá este título, provavelmente durante o próximo ano. Pela primeira vez desde o surgimento da Fortune's Global 500, em 1990, e pela primeira vez desde o final da Segunda Guerra Mundial, uma nação que não os Estados Unidos dominará o mundo dos negócios.
Esta mudança está a transformar, não só o mundo dos negócios, mas também o próprio mundo. À medida que a China procura suceder aos EUA como a superpotência dominante, os negócios desempenham um papel ainda maior nas relações internacionais do que o habitual. As nações sempre competiram economicamente, mas os EUA e a China estão envolvidos numa batalha direta pela força vital económica global: a tecnologia. Tal como o ex Secretário do Tesouro, Henry Paulson escreveu, "A batalha é sobre qual das economias liderará a tecnologia do futuro e estabelecerá os padrões para ela."
A batalha não é apenas metafórica; envolve aspetos de segurança nacional. Por este motivo, os Estados Unidos baniram parcialmente a compra, por parte de empresas americanas, de produtos construídos pela gigante das telecomunicações Huawei (61 da lista), argumentando que a empresa é gerida pelo estado chinês e que pode sabotar a infraestrutura 5G ou utilizá-la para roubar dados (a Huawei nega que alguma destas alegações seja verdadeira). A China fixou objetivos explícitos: o domínio de áreas como a inteligência artificial, computação quântica, robótica e veículos autónomos. À medida que estas disputas escalam, outras nações podem sentir-se compelidas a escolher uma das tecnologias, chinesa ou americana, aumentando, desta forma, o impacto final do vencedor.
É verdade que as receitas das empresas chinesas representam apenas 24,2% do total da Fortune's Global 500, significativamente atrás dos 28,8% americanos. Mas isto não é inesperado. A China é a potência em ascensão, economicamente mais pequena, mas com um crescimento muito mais rápido. A nacionalidade nº 1 das 50 maiores empresas na Fortune's Global 500 deste ano é americana; nas 50 menores, é chinesa. Essas empresas perto do fundo são as que crescem mais rapidamente e, tal como o seu país, transbordam de ambição.
O Presidente Xi Jinping declarou que, em 2049, o centenário da revolução comunista, a China será "completamente desenvolvida, rica e poderosa," um objetivo que a especialista em assuntos chineses, Graham Allison, da Universidade de Harvard, inclui ser "incontestável nº1" com um poderio militar que "seja capaz de enfrentar e derrotar todos os adversários". Com isto em mente, ver o artigo da Fortune de Agosto de 2019 "Boxed In at the Docks" que retrata a aquisição do maior porto da Grécia pela China e como ela se encaixa na vasta iniciativa estatal chinesa "Belt and Road". O artigo descreve o papel crucial desempenhado pelas empresas detidas pelo estado chinês - 82 das empresas chinesas da Fortune's Global 500 recebem subsídios governamentais, o que lhes confere uma vantagem sobre as empresas ocidentais do sector privado.
O fundador da Fortune, Henry Luce, declarou em 1941 que o Séc. XX seria o Século Americano. A sua previsão foi largamente validada. Se o Séc. XXI será o Século Chinês - com o domínio ao nível da cultura, ideais e conceitos de direitos humanos e natureza humana - é preciso aguardar para ver. Nos negócios, pelo menos, o Século Chinês é cada vez mais rápida e intensamente chinês.
Em “The Little Book that Still Beats the Market”, Joel Greenblatt apresenta a sua fórmula magica para ter sucesso no investimento: comprar negócios excecionais quando estão baratos.Esta abordagem requer disciplina e tempo para esperar que o mercado reconheça o seu verdadeiro valor.
“No curto prazo, o Sr. Mercado determina o preço de uma ação baseado nas suas emoções, mas no longo prazo o que realmente importa é o valor intrínseco do negócio”
No livro, “The Little Book That Builds Wealth” (2008), Pat Dorsey explica-nos o que são vantagens competitivas e porque são determinantes para ter retornos no investimento a longo prazo.
“A menos que uma empresa tenha um fosso económico que proteja o seu negócio, a concorrência depressa chegará aos seus portões e corroerá os seus lucros. Wall Street está repleta de carcaças de empresas que foram de bestiais a bestas num piscar de olhos.”
Pensamento predatório significa ser mais esperto que o problema. Quando um pensador predatório encontra um problema que não consegue resolver, ele altera o contexto do problema e transforma-o em algo que consegue resolver. Desmantela o problema num conjunto de problemas mais pequenos. Encontra o elo mais fraco. A parte do problema que consegue mudar. Essa mudança, por sua vez, altera todos os outros problemas.Dave Trott utiliza histórias reais para demonstrar como os pensadores predatórios fizeram exatamente isto. Este não é um livro teórico que destila 10 fórmulas ou receitas milagrosas. Trott conta as suas histórias e cabe ao leitor fazer o resto do trabalho, cabe ao leitor aplicar os princípios aos seus problemas. Predatory Thinking prova que não é difícil pensar ou abordar os problemas de forma diferente. O hábito de o fazer é que é difícil de entranhar.Apesar de a maior parte das histórias terem origem no mundo da publicidade, este livro é dirigido a todos aqueles que querem ou precisam de pensar fora da caixa. Todos nós.
Readers of Warren Buffett?s letters to Berkshire Hathaway shareholders have gained an enormously valuable informal education in the art of investing. Broad in scope and long on wisdom, Buffett?s letters explain his principles on sound investing, selecting managers, valuing businesses, using financial information profitably, and other vital topics for investors.This newly updated Fourth Edition includes Buffett?s latest wisdom on such topics as the financial crisis, the housing bubble, corporate governance, Berkshire Hathaway?s acquisition of Burlington Northern Santa Fe, the role of oversight in heavily regulated industries, today?s best investing opportunities, and the weaknesses of popular option valuation models.Features investing advice in plain English from one of the world?s most legendary investorsIncludes Buffett?s insights on the current financial crisis and recessionOffers new and potent insight on good corporate governance and other issues vital to executives and managersFor investors, corporate executives, managers, and Buffett fans, The Essays of Warren Buffett, Fourth Edition features the kind of wisdom on investing, finance, and leadership that can be found nowhere else.
Daniel Kahneman, psicólogo israelita galardoado com o Nobel da Economia de 2002, condensa o trabalho de toda a sua carreira neste livro.Thinking, Fast and Slow é, acima de tudo, sobre a facilidade com que, sem nos darmos conta disso, tomamos decisões pouco racionais. Ao contrário do que defende a teoria económica tradicional, o ser humano não toma sempre a decisão que melhor serve o seu interesse. Na realidade, as pessoas cometem erros sistemáticos de julgamento.Kahneman explica porquê e lança pistas para tentarmos evitar estas armadilhas mentais ou, pelo menos, conseguirmos identificá-las quando somos nelas apanhados.Em Thinking, Fast and Slow, Kahneman demonstra que não somos os paradigmas da razão que pensávamos ser.
Guy Spier estudou em Oxford e Harvard. Iniciou a sua carreira na banca de investimentos convencido que iria ter sucesso e que iria ser feliz. Desiludido com o ambiente que o rodeava, despediu-se. Vive agora na Suíça, feliz e em paz e gere milhões de dólares segundo os princípios do Investimento em Valor.Este livro conta a história de Guy Spier. Na realidade, este livro não se debruça particularmente sobre as regras do Investimento em Valor mas sim sobre o desenvolvimento do temperamento do investidor.Warren Buffett diz que não é preciso ter um QI de 160 para ter sucesso no investimento. É preciso, isso sim, ter o temperamento adequado. É essa a história de A Educação de um Investidor em Valor.
«As crises, como a da economia portuguesa, que resultam de diminuições da poupança tendem a originar recessões mais graves e recuperações mais lentas do que as crises em que o endividamento resultou de aumentos do investimento.Neste livro, Fernando Alexandre, Luís Aguiar-Conraria, Pedro Bação e Miguel Portela mostram a evolução das grandes tendências da poupança e investimento, desde a evolução dos fluxos globais de poupança até aos dados para a economia portuguesa. A sua publicação constitui um excelente contributo para a sistematização destes temas, fulcrais para a evolução económica.O retrato traçado é de um país com uma baixa taxa de poupança e excesso de endividamento, em particular no Estado e nas Empresas, o que constitui um obstáculo ao crescimento e à estabilidade financeira. Todos os agentes económicos acabaram por ter um papel na acumulação do endividamento externo que provocou a necessidade da entrada da troika e de um plano de intervenção externo. Vários fatores conduziram a esse comportamento, em particular as descidas das taxas de inflação e das taxas de juro em simultâneo a um maior acesso ao crédito.Na análise efetuada da composição do património das famílias, percebe-se uma grande concentração da riqueza na habitação e nos depósitos bancários. Apesar da riqueza financeira estar concentrada nos grupos com mais altos rendimentos, observa-se um grande conservadorismo nessas aplicações (74% dos ativos financeiros estão aplicados em depósitos à ordem e depósitos a prazo).O livro conclui com propostas de promoção da poupança, objetivo fulcral para superar os desafios que a economia nacional vai enfrentar nas próximas décadas, em especial com as alterações demográficas que se perspetivam.
Publicada em 2002, no rescaldo do crash das empresas dotcom, The New Buffettology é um guia para a filosofia de investimento de Warren Buffett, o Investimento em Valor.The New Buffettology ensina os investidores a decifrar e a utilizar a informação financeira disponível publicamente tal como Buffett o faz. Passo a passo, guia os investidores através das equações e fórmulas que Warren Buffett utiliza para determinar em que empresas investir e, mais importante, quando.Os autores Mary Buffett e David Clark exploram detalhadamente alguns dos investimentos de Warren Buffett e provam mais uma vez que o Investimento em Valor funciona: consegue rentabilidades acima da média com risco limitado
Widely respected and admired, Philip Fisher is among the most influential investors of all time. His investment philosophies, introduced almost forty years ago, are not only studied and applied by today?s financiers and investors, but are also regarded by many as gospel. This book is invaluable reading and has been since it was first published in 1958. The updated paperback retains the investment wisdom of the original edition and includes the perspectives of the author?s son Ken Fisher, an investment guru in his own right in an expanded preface and introduction."I sought out Phil Fisher after reading his Common Stocks and Uncommon Profits...A thorough understanding of the business, obtained by using Phil?s techniques...enables one to make intelligent investment commitments."Warren Buffet
A propósito deste livro, John Bogle, fundador da Vanguard, escreveu estas palavras: "Este livro mostra-nos o que correu mal com as nossas instituições financeiras e mercados. Neste apelo à ação - aos investidores que coletivamente são donos das empresas americanas - os autores sugerem passos claros para que possamos construir um mundo empresarial que sirva os nossos interesses e não os de Wall Street." Sem compromissos na crítica, mas otimistas na sua visão, Stephen Davis, Jon Lukomnik e Davis Pitt-Watson oferecem uma análise clara dos problemas do sistema financeiro e adiantam soluções práticas que podem mudar o mundo para melhor.
Qual é a taxa de retorno de longo prazo das acções e obrigações? Antes da publicação de "O Triunfo dos Optimistas", era surpreendentemente difícil responder a esta pergunta. Em pouco mais de 300 páginas, este livro fornece a resposta definitiva.Os investidores dão frequentemente demasiada importância à experiência mais recente. Nos anos 50, quem sonharia, a não ser o maior optimista, que, nos 50 anos seguintes, as acções renderiam cerca de 9% ao ano? No entanto, foi o que aconteceu nos Estados Unidos. Os optimistas triunfaram!Os autores desta obra, Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton, apresentam uma análise rigorosa e consistente dos retornos do investimento em acções, obrigações e notas do Tesouro, assim como câmbios e taxa de inflação, em dezasseis países desde o fim do Séc. XIX até ao início do séc. XXI. Esta informação é apresentada de uma forma clara e simples com mais de 130 diagramas que facilitam a comparação.Não restam quaisquer dúvidas, as acções são a classe de activos que melhor remunera o investidor no longo prazo.
Não existe ninguém mais qualificado que John Bogle, fundador e ex CEO dos fundos Vanguard, para denunciar as falhas do sistema financeiro americano e os abusos que aconteceram nos últimos anos. Zeloso defensor do pequeno investidor há mais de 50 anos, Bogle defende a restauração da integridade nas práticas da indústria financeira.Segundo Bogle, um sistema financeiro transparente e confiável é essencial ao progresso económico e social.Este livro não nos conta apenas a história de como tudo correu mal. Explica também o porquê e o que devemos fazer para corrigir o rumo. Para Bogle, a solução é o regresso a um capitalismo dos donos, isto é, o controlo das empresas deverá ser devolvido aos accionistas e retirado dos gestores com as suas stock options e remunerações obscenas.Este é um livro obrigatório para qualquer investidor, analista, legislador, regulador ou empresário.
Como pode uma empresa que nunca apresentou lucros ter uma avaliação de vários biliões de dólares? Por que razão algumas start-ups atraem investimentos milionários e outras não?Aswath Damodaran, professor de finanças e investidor experimentado, argumenta que o poder da história impulsiona o valor da empresa, acrescentando substância aos números e convencendo até os investidores mais cautelosos a correr riscos. Nos negócios, existem os contadores de histórias, que tecem narrativas irresistíveis, e os mastigadores de números, que constroem modelos e fazem contas. Ambos são essenciais para o sucesso, mas só combinando os dois, defende Damodaran, é que um negócio consegue criar e suster valor.Com o auxílio de um conjunto de casos de estudo, Narrative and Numbers descreve como os contadores de histórias podem incorporar e narrar números e como os mastigadores de números podem calcular modelos mais imaginativos e mais resistentes ao escrutínio. Damodaran analisa a origem da Uber e a forma como a narrativa desempenha um papel chave na compreensão de diferentes avaliações. Ele investiga por que o Twitter e o Facebook eram avaliados em biliões de dólares nas suas OPVs e por que um (Twitter) estagnou enquanto que o outro (Facebook) cresceu. Damodaran analisa também modelos de negócio já estabelecidos, tais como a Apple e a Amazon, para demonstrar como a história de uma empresa pode enriquecer ou constranger a sua narrativa. E, através da Vale, uma empresa mineira global, sediada no Brasil, demonstra a influência da narrativa externa e como um país, uma matéria prima ou uma moeda podem influenciar a história de uma empresa.Narrative and Numbers revela os benefícios, os desafios e as armadilhas de tecer narrativas à volta de números e como podemos melhor testar a plausibilidade de uma história.
Richard Thaler, autor de Misbehaving, foi galardoado pela Academia Real das Ciências da Suécia com o Nobel da Economia de 2017.Thaler, professor de economia na Universidade de Chicago, passou a maior parte dos últimos 40 anos a chamar a atenção para o facto de que as pessoas não se comportam como os economistas dizem que se deveriam comportar. As pessoas, ao contrário do que as teorias económicas defendem, não são racionais, não tomam sempre as melhores decisões financeiras e não agem sempre no seu melhor interesse.Este livro - Misbehaving - abre-nos a porta ao campo da economia comportamental. Robert Schiller, também galardoado com o Nobel da economia, declara, "Thaler está na vanguarda da mais importante revolução na economia dos últimos 30 anos. Neste cativante livro, Thaler apresenta os argumentos a favor da economia comportamental e explica porque ainda existe tanta resistência"Ler os livros de Richard Thaler torna-nos melhores investidores.
Por vezes um problema profundamente complexo tem uma solução enganadoramente simples. Esta é a mensagem de The Checklist Manifesto, de Atul Gawande, que explica como uma simples checklist uma lista de tarefas ou procedimentos pode reduzir dramaticamente as probabilidades de erro em situações de vida ou morte.Gawande, ele próprio um cirurgião, defende que a medicina se tornou demasiadamente sofisticada para o seu próprio bem. O volume e complexidade daquilo que agora sabemos excedeu a nossa capacidade individual de aproveitar os seus benefícios de forma correta, segura e fiável. O conhecimento salva-nos e simultaneamente oprime-nos.Gawande compila vários estudos que demonstram quedas dramáticas nas taxas de infeção morte após determinados procedimentos cirúrgicos. A causa destas quedas dramáticas? A implementação de simples checklists.Este livro pode ser resumido em três frases:As checklists protegem-nos de erros;As checklists estabelecem um padrão superior de performance;No fim de contas, uma checklist não é mais que uma ferramenta. Se não ajudar, algo está errado.As checklists podem ser aplicadas em todas áreas da atividade humana, na aviação, arquitetura e até nos investimentos.Warren Buffett e Charlie Munger utilizam uma checklist muito simples:Compreendo o negócio?É um negócio excelente (tem vantagens competitivas, altos retornos no capital, etc.)?Os gestores são capazes e honestos?O preço é atrativo?Se a alguma das questões acima respondemos não, provavelmente não devemos investir. Revisitando a história recente da bolsa portuguesa, muito valor poderia ter sido salvo se esta checklist tivesse sido aplicada.Atul Gawande foi recentemente nomeado CEO da empresa de cuidados médicos criada por Warren Buffett, Jeff Bezos e Jamie Dimon - três referências mais do que suficientes para prestar atenção ao que Gawande escreve.
Desde a primeira edição da nossa newsletter O Investidor Inteligente, temos vindo a recomendar um livro a todos os nossos leitores. Porque entendemos que a leitura deve ser vasta e abrangente, decidimos convidar personalidades de relevo nas mais variadas áreas de atuação para cumprir com este desígnio e proporcionar, assim, um roteiro e arquivo mais vastos para a Biblioteca da Casa de Investimentos e para todos aqueles que a acompanham.Na sua edição de outubro, partilhamos a sugestão de António Murta, CEO da Pathena e Administrador Não-Executivo da Casa de Investimentos (Ver Nota Biográfica António Murta).Memórias de Adriano"Porquê recomendar um livro de literatura a investidores / gestores profissionais? Porque é o melhor livro que eu conheço sobre liderança. É uma quase-biografia de um homem extraordinário (o Imperador Adriano), que geriu um Império (Romano).Marguerite Yourcenar retrata, de um modo romanceado é certo, mas extraordinariamente vívido a vida de um homem, as suas escolhas e as escolhas dos homens de confiança que o haviam de rodear. É para mim o melhor livro de Marguerite Yourcenar e isso já é dizer muito quando se escreveu também A Obra ao Negro, O Tempo esse grande Escultor entre outros.Recomendação de leitura por António Murta, Managing Partner, Co-Fundador e CEO da Pathena e Administrador Não-Executivo da Casa de Investimentos.
Quando questionados acerca das tendências globais: - que percentagem da população mundial vive em pobreza extrema?- por que motivo aumenta a população mundial?- quantas meninas completam o ensino básico? - erramos sistematicamente as respostas.Erramos de uma forma tão enfática que um chimpanzé, escolhendo as respostas aleatoriamente, consegue, de forma consistente, melhores resultados que jornalistas, prémios Nobel e banqueiros.Afinal, o mundo está em muito melhor estado do que julgamos. Quando nos preocupamos com tudo a toda a hora e não adotamos uma perspetiva global baseada nos factos, perdemos a capacidade de nos concentrarmos naquilo que realmente nos ameaça.Em Factfulness, Hans Rosling, o Professor de Saúde Internacional famoso pelas suas TED Talks, oferece-nos uma explicação radical para este fenómeno e revela os dez instintos que distorcem a nossa perspetiva.
Desde a primeira edição da nossa newsletter O Investidor Inteligente, temos vindo a recomendar um livro a todos os nossos leitores. Porque entendemos que a leitura deve ser vasta e abrangente, decidimos convidar personalidades de relevo nas mais variadas áreas de atuação para cumprir com este desígnio e proporcionar, assim, um roteiro e arquivo mais vastos para a Biblioteca da Casa de Investimentos e para todos aqueles que a acompanham.Na sua edição de novembro, partilhamos a sugestão de Fernando Alexandre, Professor Universitário na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho.Enlightenment NowA percepção da maioria da população, em muitos países desenvolvidos, é que o mundo está cada vez pior e que não está no bom caminho. Não podemos ignorar as guerras que persistem, a pobreza que convive ao lado da mais absoluta riqueza ou as doenças que continuam a tornar tão difícil a vida de tantas pessoas. No entanto, contra a percepção da maioria, os factos mostram que o mundo registou um extraordinário progresso nos últimos três séculos, proporcionando mais rendimento e mais qualidade de vida a cada vez mais pessoas e reduzindo o número das que vivem em situação de pobreza, situação de guerra, expostas ao crime e insegurança ou que morrem prematuramente, para valores que, apenas há algumas décadas, eram impensáveis.Steven Pinker, professor na Universidade de Harvard, escreveu o livro Enlighenment Now como um manifesto em defesa das instituições do Iluminismo, que estiveram na origem daquele extraordinário progresso da humanidade e que estão hoje sob ataque de movimentos populistas. Estes movimentos preferem o nacionalismo ao cosmopolitismo, o autoritarismo à democracia, desvalorizam o conhecimento científico e, mais do que um futuro melhor, procuram um passado idílico, que nunca existiu.Pinker lembra que as instituições refletem formas de cooperação que as sociedades foram aperfeiçoando ao longo do tempo e que permitem que o bem universal se sobreponha aos egoísmos individuais e de grupos de interesse. Entre as regras que favorecem o progresso estão a abertura à crítica, a liberdade de expressão, a cooperação, o cosmopolitismo, os direitos humanos, o reconhecimento da falibilidade do ser humano. Entre as instituições que promovem o progresso estão a ciência, a educação, os media, os governos democráticos, as organizações internacionais e os mercados. Apresentando um manancial de dados sobre o progresso e os seus benefícios para o bem-estar da humanidade, Pinker mostra por que é que hoje, mais do que nunca, é essencial preservar as instituições que herdámos do Iluminismo. Utilizando a razão, a ciência e os princípios do humanismo será mais fácil ultrapassar os problemas que se colocam à sociedade, evitando retrocessos civilizacionais e o regresso da barbárie, que, como sabemos, está sempre à porta.Recomendação de leitura por Fernando Alexandre, Doutorado em Economia pela Universidade de Londres - Birkbeck College. Professor Associado da UMinho, consultor da área de estudos económicos da Fundação Francisco Manuel dos Santos e Presidente do Conselho de Administração da SBS Startup Braga Investimentos em Startups, SA. Foi Pró-Reitor da UMinho para a Valorização do Conhecimento e Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Administração Interna no XIX Governo Constitucional. É autor e coordenador de quatro livros sobre a economia portuguesa. Prestou serviços de consultoria para entidades como a Fundação Calouste Gulbenkian, o Tribunal de Contas, o Governo português, a Associação Portuguesa de Seguradores ou a Associação Comercial do Porto.
Desde a primeira edição da nossa newsletter O Investidor Inteligente, temos vindo a recomendar um livro a todos os nossos leitores. Porque entendemos que a leitura deve ser vasta e abrangente, decidimos convidar personalidades de relevo nas mais variadas áreas de atuação para cumprir com este desígnio e proporcionar, assim, um roteiro e arquivo mais vastos para a Biblioteca da Casa de Investimentos e para todos aqueles que a acompanham.Na sua edição de dezembro, partilhamos a sugestão de Luísa Anacoreta, Professora Auxiliar da Universidade Católica Portuguesa, Administradora não executiva dos CTT, Impresa e Sonaegest.Elogio da SombraO Japão é um país fascinante. Reconhecido pela sua capacidade de desenvolvimento e afirmação tecnológica, económica e, receio, também social, é para alguns difícil concebê-lo abstratamente nos conceitos tradicionais de leveza, suavidade, paz, calma e beleza. Ler o Elogio da Sombra permite deliciarmo-nos com as raízes de um país riquíssimo em história, cultura e primor estético. É um livro obrigatório para quem quer visitar o Japão, porque toda a sua visita fará muito mais sentido. Mas também essencial para quem apenas tem curiosidade sobre o país e sobre aquela cultura oriental.Mas, o Elogio da Sombra é lido com muito prazer também por aqueles que apenas querem ler quem escreve bem, e refletir sobre o que a todos um pouco interessa. Tanizaki faz-nos pensar sobre arquitetura, cosméticos, mobiliário, comida, sobre o que carateriza a evolução dos tempos, sobre contrastes entre hoje e ontem, ou amanhã e antes de ontem, sobre feio e bonito, ou atraente e repelente ou ainda sobre Ocidente e Oriente.Junichiró Tanizaki nasceu no centro de Tóquio em 1886 e fez-se o mais célebre contador de histórias do seu país. Da leitura das suas páginas vamos sentindo uma escrita suave, reveladora de uma grande sensibilidade. O tema é a estética, e portanto a beleza, mas o que se sente é uma forte nostalgia. Como se Tanizaki nos quisesse avisar que na sombra do que é belo há de estar sempre uma recordação.Confesso que procuro evitar nostalgias. Gosto do futuro e de o desenhar. Olhar para trás é perda de tempo. Mas ler Tanizaki a descrever as casas japonesas, a luz quente filtrada pelos shoji, o jogo de luz e sombra das toko no ma, e a irradiação misteriosa do papel dourado não é olhar para atrás. É ler a beleza, ler a paz, e transportarmo-nos para um espaço singular, sem dúvida penetrante e atraente.O Elogio da Sombra, sendo um ensaio sobre estética e não um romance, é um livro atípico de um dos maiores escritores japoneses. Foi escrito em 1933 mas para mim é intemporal. Deliciei-me a lê-lo. Recomendo-o a muitos e esses também se deliciam.Recomendação de leitura por Luísa Anacoreta, Doutorada em Gestão, com especialização em Contabilidade, pelo ISCTE. Professora Auxiliar da Universidade Católica Portuguesa. Administradora não executiva dos CTT, Impresa e Sonaegest. Presidente da Comissão de Auditoria dos CTT e vogal da Comissão de Auditoria da Impresa. Presidente do Conselho Fiscal do Centro Hospitalar de São João e da Sogrape. Vogal do Conselho Diretivo da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas. Membro da Comissão Executiva da Comissão de Normalização Contabilística. Árbitro fiscal no CAAD. Autora de livros e outras publicações na área contabilístico-fiscal.
Desde a primeira edição da nossa newsletter O Investidor Inteligente, temos vindo a recomendar um livro a todos os nossos leitores. Porque entendemos que a leitura deve ser vasta e abrangente, decidimos convidar personalidades de relevo nas mais variadas áreas de atuação para cumprir com este desígnio e proporcionar, assim, um roteiro e arquivo mais vastos para a Biblioteca da Casa de Investimentos e para todos aqueles que a acompanham.Na sua edição de setembro, em que damos um novo cunho a esta rubrica, temos o privilégio de partilhar a sugestão do Professor António Cunha, ex-Reitor da Universidade do Minho e Presidente da Mesa da Assembleia-Geral da Casa de Investimentos (Ver Nota Biográfica António Cunha).Tecnologia versus Humanidade"Vivemos tempos muito particulares, marcados por uma revolução digital que está a introduzir transformações profundas nos nossos modos de vida, de trabalho e de organização das nossas sociedades. Assistimos igualmente a uma revolução biológica, em grande parte induzida por desenvolvimentos ao nível computacional, e ao limiar de uma era que será marcada por uma interação sem precedentes entre o tecnológico e o humano.Este tempo novo é descrito e analisado por Gerd Leonhard no livro Tecnologia vs. Humanidade, editado em Portugal pela Gradiva em 2017.Assumindo e consubstanciando a ideia de que estamos a protagonizar uma revolução sem precedentes e com impactos muito maiores do que os que resultaram da invenção da máquina a vapor ou da introdução dos computadores, Leonhard descreve a natureza exponencial, combinatória e recursiva das transformações em curso, que irão alterar radicalmente as interações entre humanos e máquinas. Para alem da partilha com robôs de operações e tarefas que sempre associamos a pessoas, partilharemos conhecimento e inteligência com máquinas que, cada vez mais, tomarão decisões.Leonhard analisa igualmente, de modo muito lúcido e de fácil leitura, as implicações destes desenvolvimentos e nossos atuais conceitos civilizacionais e levanta pertinentes interrogações sobre os seus limites. De facto, a humanidade, confronta-se com a necessidade imperiosa de refletir e fazer balanços sobre o seu futuro, decidir como avançar na procura de caminhos seguros no sentido de um aparentemente irrecusável mundo novo, marcado pelo aumento da longevidade humana e pela tendencial eliminação de trabalho físico, repetitivo ou perigoso.É para este debate que o capítulo final deste livro A hora de decidir introduz sugestões importantes para uma reflexão estruturada."Recomendação de leitura por António Cunha, Professor Catedrático, ex-Reitor da Universidade do Minho e Presidente da Mesa da Assembleia-Geral da Casa de Investimentos.
Até 1999, os Estados Unidos não incluíam o software nos cálculos do PIB. Em 2006, a Microsoft era a empresa mais valiosa do mundo, com uma capitalização bolsista de 250 biliões de dólares. No seu balanço, constavam 3 biliões de dólares de ativos tradicionais, pouco mais de 1% do seu valor de mercado. O valor restante era justificado pelo design de produtos, ideias geradas pelo seu programa de Investigação & Desenvolvimento (I&D), a sua marca, a cadeia de fornecimento global, estruturas internas e o capital humano criado com a formação interna.Atualmente, o PIB americano ainda não inclui investimentos em pesquisas de mercado, branding e formação - ativos intangíveis em que as empresas investem biliões todos os anos. Esta é a nova economia e a percentagem destes investimentos na economia mundial não para de crescer.O livro Capitalism without Capital: The Rise of the Intangible Economy, de Jonathan Haskel e Stian Westlake, explica as diferenças fundamentais do investimento intangível e a sua importância. Os autores começam por definir ativos intangíveis como qualquer coisa em que não podemos tocar. A grande diferença, quando comparadas com a velha economia, é que as indústrias intangíveis têm dinâmicas muito diferentes em termos de velocidade de mudança, risco e competição e estes fatores são determinantes na forma como se avaliam estes negócios.O núcleo do livro é uma explicação dos Quatro S que diferenciam os investimentos intangíveis: scalability (capacidade de escalar o negócio), sunkenness (incapacidade de recuperar os custos), spillovers (efeitos de repercussão) e sinergias.Estas quatro propriedades aliam-se para criar duas características gerais adicionais. Em primeiro lugar, há uma maior incerteza quanto ao valor do investimento intangível relativamente ao investimento tangível. A combinação de sunkenness e spillovers pode significar que o investimento não terá retorno. Em alternativa, a combinação de sinergias e escala pode levar a sucessos inesperados que criam valor para os donos dos ativos intangíveis.Em segundo lugar, os intangíveis tendem a ser contestados. Tal como os autores explicam, as pessoas e negócios frequentemente disputam quem os controla, os possui ou beneficia com eles.Capitalism without Capital descreve também a ligação entre o aumento dos intangíveis e outros desafios estagnação, desigualdades crescentes e o impacto da alteração dos padrões de investimento nas políticas públicas. O livro reforça a necessidade de atuação dos legisladores para que se ajustem as políticas económicas de forma a refletir estas novas realidades, políticas de concorrência e questões fiscais.Os autores apresentam três cenários possíveis para o que poderá ser o mundo intangível do futuro e sugerem de que forma os gestores, investidores e políticos podem explorar as características de uma era intangível para potenciar os seus negócios, portefólios e economias.Este livro não é de leitura difícil, mas interpretar as suas muitas lições pode ser um desafio um desafio altamente recomendável para quem é investidor ou se interessa por o que pode ser o futuro.
Gestão descontraída, mas Profissional é o meu primeiro livro. Não é mais um livro sobre gestão, é uma obra a pensar nas PME portuguesas. Nele, revelo muitas das práticas que estão na base do sucesso da PHC Software.Ao longo da obra, explico tudo o que gostava de ter aprendido na faculdade, mas que fui aprendendo com a experiência na prática.Este é um livro a pensar nos gestores portugueses, com exemplos práticos, baseados em conhecimento de gestão comprovado e que podem ser facilmente aplicados no tecido empresarial português.Na introdução da obra afirmo que A gestão é acima de tudo uma ciência prática que pode ser aprendida através do erro ou pela partilha de conhecimento da experiência e completo afirmando que Este é o livro que gostava de ter lido quando comecei a empresa e que evitava muitos erros que fui cometendo.Ao longo de nove capítulos, este meu livro é uma viagem de gestão para os gestores que procuram exemplos para melhorar as suas empresas e divide-se em três partes: a gestão do próprio indivíduo, a gestão da equipa e a gestão da empresa. Lembre-se que as práticas internas da gestão da empresa, agora tornadas públicas, estão na base do sucesso da PHC Software, que nasceu há trinta anos por dois amigos de faculdade e que é hoje uma multinacional que bate recordes de venda há vários anos consecutivos e que tem sido distinguida e ganho prémios pelas suas boas práticas.____Ricardo Parreira é CEO da PHC Software. Licenciado em gestão e com MBA em marketing, ambos pela Universidade Católica. Destaca-se por ser um líder que inspira boas práticas de gestão e a atitude para a felicidade no local de trabalho, características que têm permitido à PHC crescer de forma sustentável. Tem criado na PHC um ecossistema focado na best experience at work. Um conceito que procura construir empresas com pessoas mais felizes, motivadas e consequentemente mais produtivas.
No livro Only the Best Will Do, o investidor Peter Seilern revela o que é necessário para investir em empresas de qualidade incontestável (Quality Growth): empresas que retornam aos seus acionistas, de forma confiável, um crescimento sólido e estável no longo prazo.Os negócios de Quality Growth são os ativos preferenciais para os investidores que desejam investir para o longo prazo, minimizando o risco de perda permanente de capital. Segundo Seilern, tudo o que o investimento em Quality Growth exige é paciência, pensamento independente e as 10 regras de ouro - reveladas em detalhe no livro - para encontrar as melhores empresas do mundo.Tal como Warren Buffett declarou: É melhor comprar empresas excelentes a preços razoáveis do que empresas razoáveis a preços excelentes
Novas Lições de Liderança de CEO Portuguesas, de que eu e Maria Serina somos autoras, é a destilação de dez extensas e aprofundadas entrevistas com Carla Rebelo, diretora geral do Adecco Group, Carmo Sousa Machado, chairman da Abreu Advogados, Clara Raposo, presidente do ISEG, Cristina Campos, presidente do Grupo Novartis, Cristina Rodrigues, administradora delegada da Capgemini, Dulce Mota, CEO do Montepio, Marta Carvalho Araújo, CEO da Castelbel, Paula Panarra, country manager da Microsoft, Ruth Breitenfeld, vice-presidente da Cepsa, e Vera Pinto Pereira, administradora executiva do Grupo EDP. Estas 10 executivas lideram em diferentes setores de atividade (banca, tecnologia, consultoria, energia, academia, indústria, recursos humanos, advocacia e consumo) e têm percursos muito diversificados. Em entrevistas francas, partilham como chegaram aos lugares que hoje ocupam, os principais desafios que enfrentaram, as conquistas que alcançaram, os receios que sentiram, os erros que cometeram e as principais aprendizagens que fizeram. Este livro surge na senda de Lições de Liderança de CEO Portuguesas, publicado em 2016,com edição esgotada, para dar palco a outras dez mulheres que lideram importantes empresas em Portugal, com o objetivo de inspirar as novas gerações de líderes. São testemunhos muito valiosos para todas as mulheres que ambicionam construir uma carreira de sucesso. Mais do que isso, são lições de liderança úteis a homens e mulheres, porque a boa liderança não tem género. Isabel Canha, jornalista, é co-fundadora e directora da Executiva.pt, depois de perto 30 anos de jornalismo na área dos negócios, em que se inclui a direcção da revista Exame (de Setembro de 2003 a Dezembro de 2012). É autora dos livros As Mulheres Normais têm Qualquer Coisa de Excepcional; António Champalimaud Construtor de Impérios (com Filipe S. Fernandes); e Memórias de Executivas, Lições de Liderança de CEO Portuguesas, Como Chegar a Líder (coordenação), O Sucesso Não Cai do Céu e Novas Lições de Liderança de CEO Portuguesas (todos com Maria Serina). Foi organizadora licenciada da TEDxBelémWomen (em 2013) e oradora na TEDxFCT-UNL 2013 com o tema Telhado de Vidro. Será oradora na TEDxPorto, em Março de 2020. Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, tem extensa formação complementar em Gestão, Finanças, Marketing, Liderança e Jornalismo. Nos tempos livres, dança tango.
Desde a primeira edição da nossa newsletter O Investidor Inteligente, temos vindo a recomendar um livro a todos os nossos leitores. Porque entendemos que a leitura deve ser vasta e abrangente, decidimos convidar personalidades de relevo nas mais variadas áreas de atuação para cumprir com este desígnio e proporcionar, assim, um roteiro e arquivo mais vastos para a Biblioteca da Casa de Investimentos e para todos aqueles que a acompanham.Na sua edição de janeiro, interrompemos excecionalmente este "roteiro" para recuperar "The Battle For The Soul Of Capitalism", assinalando desta forma a vida do extraordinário Investidor, Fundador e ex-CEO dos Fundos Vanguard, John Bogle, que faleceu no passado dia 16.A Batalha pela Alma do CapitalismoNeste livro, publicado em 2005, ainda antes da grande crise financeira de 2008, Bogle é extremamente crítico dos gestores de grandes empresas e aponta o dedo ao sistema financeiro. Para si, a grande dispersão do capital das grandes multinacionais em bolsa faz com que não haja um dono responsável. Os investidores grandes institucionais ou particulares não assacam responsabilidades aos gestores. Os grandes institucionais que detêm grande parte das ações e na maioria dos casos são detidos por grandes bancos gerem os fundos de pensões destas grandes multinacionais e são contratados para as operações de banca de investimento, que proporcionam comissões extraordinárias. Ora, não têm liberdade para questionar as remunerações de gestores, as políticas de aquisições ou a falta de estratégia de criação de riqueza para os acionistas a longo prazo. Os pequenos investidores são estimulados a olhar para o curto prazo e as ações são papel para trocar de mãos todos os dias, permitindo elevadas comissões de transação. Os auditores, que deveriam vigiar a atividade dos gestores para minorar conflitos de interesses, são, eles próprios, contratados por aqueles que terão que avaliar.Através de inúmeros exemplos com factos concretos e nomes, Bogle escreve que assistimos a uma enorme transferência de riqueza dos acionistas para os gestores de grandes multinacionais, financeiras ou não, que pagam a si próprios compensações extravagantes. Nas instituições financeiras, esta transferência acontece, não só de acionistas, mas também de clientes para administrações e gestores. Entre 1997 e 2002, o total de comissões pagas pelos investidores norte americanos aos bancos, corretoras e fundos de investimentos excedeu os 1,275 triliões de dólares.Segundo Bogle, um sistema financeiro transparente e confiável é essencial ao progresso económico e social. Este livro não nos conta apenas a história de como tudo correu mal. Explica também o porquê e o que devemos fazer para corrigir o rumo. Aponta uma variedade de causas para se ter chegado aqui, cada uma interagindo com e reforçando as outras: a ascensão do CEO imperial; os truques da engenharia financeira no reporte de resultados; o falhanço dos nossos guardiões auditores, reguladores, gestores de investimentos e conselhos de administração que se esqueceram a quem deviam lealdade; as instituições financeiras que passaram a ser traders de ações ao invés de se comportarem como donos de ações; a hipérbole promocional de Wall Street; a vontade dos analistas em pôr de lado o seu cepticismo; a excitação frenética dos media; e, obviamente, os membros do público investidor que festejam sempre o lucro fácil. Foi esta conspiração entre todas as partes interessadas, que baixou os padrões do negócio. Conclui, que este é o capitalismo dos gestores e não o dos donos, como deveria ser.
O Investimento em Valor consiste em comprar bons activos a preços substancialmente abaixo do seu valor justo. Preço é o que se paga, valor é o que se recebe, e da diferença entre preço e valor o investidor obtém a Margem de Segurança, a "almofada" necessária para proteger os valores investidos.
Quando é que o investidor consegue comprar activos muito abaixo do seu valor, com Margem de Segurança?
A Margem de Segurança é conseguida graças a factores de vária ordem: resultados trimestrais abaixo das expectativas; um problema do sector - como o aumento dos custos de matérias-primas; um produto defeituoso que obriga à retirada do mercado; uma alteração legislativa que afecta o negócio; ou uma recessão que afecta o mercado em geral. Existirá sempre algo que faz com que uma acção, um sector ou o mercado no seu todo, se deprimam. Cabe ao Investidor em Valor detectar essas oportunidades, analisá-las e determinar, baseado nos dados fundamentais da empresa, o impacto que tais eventos possam ter nos seus resultados e na sua capacidade de criar riqueza para os seus accionistas, no futuro.
É importante que o investidor em acções e obrigações esteja preparado, psicológica e financeiramente, para as flutuações dos preços destes activos no mercado. O facto de terem grande liquidez e de serem facilmente comprados ou vendidos no mercado onde milhões de vendedores e compradores se encontram diariamente, torna estes activos susceptíveis a variações, por vezes muito significativas. O preço da acção pode estar muito desfasado do valor da empresa subjacente, do seu negócio e da sua capacidade de produzir bons retornos a médio e longo prazo.
Na bolsa, o "Sr. Mercado" está sempre disposto a comprar e a vender; às vezes eufórico, oferece um preço muito acima do valor do negócio e outras vezes, deprimido, oferece um preço muito abaixo do valor. Quanto mais deprimido estiver o "Sr. Mercado" (analogia criada por Benjamin Graham para explicar os movimentos dos mercados), maior é a diferença entre preço e valor e, por isso, melhores serão as oportunidades de investimento e maior a Margem de Segurança conseguida para o capital investido. Não somos, no entanto, obrigados a transaccionar diariamente com o "Sr. Mercado". O investidor não é obrigado a comprar ou a vender. Deve fazê-lo apenas quando o preço lhe for conveniente.
Quando o investidor vê títulos que tem em carteira a transaccionar a preços muito abaixo do seu valor não deve , apenas porque existem opiniões contrárias à sua ou porque alguém lhe diz que o preço hoje é mais baixo, vendê-los. Da mesma forma que o proprietário de um imóvel, quando abordado por um potencial comprador que lhe oferece um preço 20 ou 30% abaixo do real valor, recusa essa oferta, também o investidor em acções deve aguardar que alguém esteja disposto a pagar o preço que reflicta o valor justo do activo .
O Investimento em Valor pressupõe que o investidor se mantenha focado no valor dos negócios das empresas que tem em carteira e nas oportunidades de investimento a prazo, consciente e fiel aos seus princípios de investimento.
Actualmente, o investidor que possui uma carteira diversificada e o horizonte de investimento adequado, deve, caso tenha dinheiro disponível, aproveitar as quedas do mercado para reforçar algumas posições que possam ter ainda ficado mais baratas. Só há uma altura em que devemos investir em acções e essa altura é quando estão baratas.
As variações de curto prazo devem ser aproveitadas para a realização de bons negócios, tendo sempre presente o sentido oportunista da regra : comprar barato e vender caro.
"Encare as flutuações de mercado como amigas e não como inimigas; lucre com a loucura em vez de participar nela"
-- Warren Buffett
Defende o multimilionário Warren Buffett que "o futuro nunca é claro e paga-se um preço muito elevado por um consenso alargado. Aliás, a incerteza é amiga do investidor.
O Investimento em Valor é uma filosofia de investimento intuitiva e com grande racional económico que enfatiza a necessidade de levar a cabo uma análise muito detalhada dos fundamentos das empresas, a busca de resultados a médio e longo prazo, com risco limitado e capacidade para resistir à psicologia da multidão.
No último ano e meio os mercados mundiais têm sido muito influenciados pela resolução da crise de dívida na Grécia e o seu contágio a outros países. Depois do acordo conseguido na semana passada em que a banca foi forçada a assumir uma perda de 50% dos valores que detinham em obrigações da Grécia, ninguém previu que o primeiro Ministro grego viesse agora, passado 18 meses do início da crise e depois de assinar o acordo com a união Europeia e FMI, referendar o acordo.
Temos portanto condições para que os analistas, comentadores e jornalistas se entusiasmem a analisar, a escrever e a prever o que possa ser o futuro próximo, sobredimensionando aquele que pode ser o verdadeiro impacto que este importante evento possa ter na vida das pessoas e das empresas. A verdade é que condicionam a tomada de decisões de consumo, de investimento e de poupança dos agentes económicos.
No final dos anos 90 as previsões dos analistas e especialistas em estratégia tornaram-se mais importantes do que nunca nos mercados financeiros. Infelizmente não se tornaram mais precisas e os exemplos são imensos. Hoje há previsões sobre a variação futura de todo o tipo de indicadores, desde inflação, taxas de juro, desemprego, resultados trimestrais das empresas, passando pelos preços dos mercados de acções e de obrigações, matérias-primas etc. Quando os números reais observados são divulgados, e raramente coincidem com as previsões, estão automaticamente justificadas as condições para que se comportem com grande volatilidade. Ora, isto não faz sentido algum. A origem das previsões, ou necessidade de conforto de algum conhecimento sobre o que possa ser o futuro, vêm limitar a capacidade de tomar decisões assentes num racional económico.
"O futuro nunca é claro e paga-se um preço muito elevado por um consenso alargado. Aliás, a Incerteza é amiga do investidor de longo prazo"
-- Warren Buffett
O investidor em valor aproveita as alturas de grande incerteza, em que o medo leva a uma desvalorização generalizada dos activos, que apesar de baratos ficam ainda mais baratos, e, consciente do valor das empresas, dos seus negócios, da sua capacidade de produzir lucros e os aumentar ao longo do tempo, tem o conhecimento, coragem e a experiência para comprar acções cujo preço hoje no mercado é muito inferior ao seu valor. A incerteza é pois uma das razões pelas quais conseguimos uma margem de segurança maior e uma taxa de retorno superior quando procedermos à venda do activo.
A propósito da incerteza e sobre o melhor investimento a prazo, o Sr. Warren Buffett numa entrevista num canal de televisão americano dizia: "Eu não sei onde o mercado vai estar amanhã ou dentro de uma semana, um mês ou um ano. Sei, no entanto, que se tivesse à escolha manter dinheiro em caixa ou em obrigações a 30 anos ou em acções, não hesitaria um segundo em escolher acções. O mercado já subiu um bom bocado desde Março, mas ainda está muito abaixo de onde estava há três ou quatro anos. Se eu fosse comprar uma quinta da qual serei o dono durante os próximos 50 anos e alguém me dissesse, com grande grau de certeza, que este vai ser um ano terrível em termos meteorológicos, eu não diria "então só vou pagar $1.100 por acre, mas, se me fizer uma previsão favorável, pagarei $1.500!". Tenho de aceitar que terei alguns anos horríveis em termos de tempo. Mas também terei muitos anos bons e alguns anos excelentes. Penso que a ideia de que podemos temporizar os investimentos com base no que achamos que o negócio vai fazer no próximo ano ou dois, é o pior erro que os investidores podem cometer porque a incerteza existe sempre. As pessoas dizem que esta é uma altura de incertezas. Também era uma altura de incerteza em 10 de Setembro de 2001, as pessoas é que não o sabiam. Todos os dias são incertos. Portanto temos que tomar a incerteza com uma parte integrante do investimento. Mas a incerteza pode ser nossa amiga. Quero dizer, quando as pessoas estão assustadas, pagam menos pelas coisas. Devemos tentar encontrar o melhor preço e não tentar adivinhar a direcção do mercado. E, em termos de preço, hoje prefiro investir em acções."
A poupança deve ser vista como uma indispensável forma de bem-estar, como reserva de valor ou como garantia de um consumo futuro.
Ter o dinheiro seguro deixou de ser um luxo para passar a ser uma necessidade absoluta. Investidores e aforradores não podem agora contar com "relações de confiança", com os mercados a subir ou os estados para os proteger no futuro.
Nunca se ouviu falar tanto da necessidade de estados, empresas e famílias pouparem, equilibrarem os seus "balanços" e criarem uma "almofada" para a reforma, para um imprevisto ou para a educação dos filhos. No passado recente, fomos todos incentivados a consumir, a pedir ao futuro o mais possível para usufruir no presente. Com muita frequência, um particular com alguma poupança que entrasse num banco para pedir um crédito à habitação, era aconselhado a recorrer a financiamento para o valor total da casa. Muitas vezes era aconselhado a aplicar a poupança que tinha acumulado em produtos estruturados, cuja matriz de rentabilidade está enviesada para o lado do emitente, em obrigações de estados e empresas, em acções a qualquer preço. Frequentemente, endividava-se para comprar ainda mais acções. O resultado? Carteiras de investimento extremamente desvalorizadas e um endividamento excessivo em relação ao rendimento disponível, que entretanto, se reduziu devido ao aumento da carga fiscal, à redução de salários e até à perda de emprego. Apesar disto, há muitos que dizem que na Ásia se poupa muito mais com muito menos.
A importância da Poupança é reforçada pela cada vez mais certa decadência do sistema de segurança social em virtude da alteração da estrutura da pirâmide etária (aumento da idade média de vida, diminuição da natalidade e menor número de pessoas em idade activa), dos elevados défices incorridos por sucessivos governos, pela grave crise financeira na Europa e pela fraca competitividade da economia nacional face aos principais parceiros europeus. Estes factores obrigam-nos a pensar em programas de poupança individual que compensem a redução violenta das prestações de reforma.
A Poupança deve ser vista como uma indispensável forma de bem-estar, como reserva de valor ou como garantia de um consumo futuro, permitindo maior controlo sobre o nosso destino.
Contudo, tão importante como poupar é rentabilizar a poupança. O maior risco que enfrentamos quanto à manutenção do estilo de vida no futuro, é a possibilidade das nossas poupanças não acompanharem a subida do nível de preços durante os anos ou décadas que faltam para a reforma. Por isso, a poupança implica um plano de longo prazo para ser bem sucedida.
O investidor inteligente, ao investir em acções, assegura-se que está a investir em activos que produzem rendimentos ao longo do tempo, tendo sempre presente o princípio da margem de segurança, isto é, garantindo que está a comprar muito valor por um preço baixo. Há inúmeros estudos que comparam o investimento em diversas classes de activos ao longo de várias décadas e as acções surgem consistentemente como o activo com melhores rentabilidades.
Alguns pontos percentuais de retornos superiores podem ter um impacto enorme na riqueza que vai acumular ao longo do tempo. Suponha que investe 10.000 Euros na sua conta de reforma e que esse valor rende 3% (a taxa de inflação média das últimas 8 décadas) anualmente durante 30 anos, o tempo médio que se poupa para a reforma. Quando chegar a altura de se reformar, terá no seu pé-de-meia cerca de 24.273 Euros. Uma soma simpática! Contudo, se os seus 10.000 Euros renderem, no mesmo período de 30 anos, 10% anuais (a taxas de retorno anual do mercado de acções norte-americano no mesmo período), o seu pé-de-meia atingiria os 174.494 Euros. Isto faria uma diferença enorme na forma como viveria os seus anos de reforma. Tal como faz sentido comprar roupas ou electrodomésticos em saldo, também faz sentido comprar acções em saldo. As acções em saldo dar-lhe-ão mais valor por menos euros.
Tão importante como poupar é "dar vida" à poupança.
A chave para investir com sucesso é a compra de acções de empresas com negócios fabulosos, geridos por gente capaz e honesta, quando os preços estão a desconto.
Todos os dias, os investidores podem comprar e vender milhares de empresas cotadas nas bolsas mundiais, obrigações de governos e empresas no mercado secundário; inúmeros produtos derivados e estruturados, fundos de investimento, hedge funds Warrants, ETF´s etc. Estes activos são "criados" por instituições financeiras mundiais com dois objectivos: criar a ilusão aos investidores de que podem enriquecer da noite para o dia e gerar comissões. Os investidores são "incentivados" a ter uma carteira muito diversificada de produtos financeiros, para reduzir os riscos. O pretexto é "não ponha os ovos todos no mesmo cesto".
Aprendemos com Benjamin Graham e Warren Buffet que a chave para investir com sucesso é a compra de acções de empresas com negócios fabulosos, geridos por gente capaz e honesta, quando os seus preços estão a desconto substancial do seu valor justo.
Seguindo este critério, o investidor inteligente vê o universo de empresas e activos em que deve investir o seu dinheiro muito reduzido. Atendendo que os seus recursos, quer de tempo, para levar a cabo uma análise profunda e posteriormente acompanhar estes negócios, quer de capital para investir, são escassos; o investidor deve concentrar os valores a investir em 10 ou 12 boas empresas que conhece muito bem, que se encontram dentro do seu círculo de competências e possuem as características apresentadas acima.
Se considerarmos, primeiro, avaliar as perspectivas económicas de longo prazo das empresas e as suas vantagens competitivas; segundo, avaliar a qualidade das pessoas encarregues de as gerirem; e terceiro, tentar comprar algumas destas empresas a preços sensatos, acreditamos que a politica de concentração do património financeiro num conjunto limitado de boas empresas, reduz muito o risco do investimento. O investidor sabe muito mais acerca de cada um dos negócios e tem muito maior conforto com as suas perspectivas económicas para o futuro. Isto permite-lhe adoptar uma política de comprar e manter, em vez de estar sempre a comprar e a vender, incorrendo em comissões exageradas e perdas de capital.
Quando o investidor sabe a qualidade dos activos que tem em carteira, mais facilmente resiste a opiniões contrárias à sua, ignora a "multidão" e todo o comportamento emocional que o "Sr. Mercado" vai apresentando diariamente.
Este método de investimento, quando comparado com um fundo "diversificado de acções", produz retornos superiores ao longo do tempo. Os gestores de fundos de investimentos acreditam que se alocarem os capitais dos investidores por um grande número de acções de empresas, muitas vezes 300 ou 400 títulos diferentes, incorrem num risco menor. Contudo, ao mesmo tempo que têm algumas boas empresas no portfólio, também têm um conjunto significativo de acções cujos negócios subjacentes são medíocres e não têm capacidade de gerar retornos excepcionais a médio e longo prazo. Há também a necessidade, por parte destes gestores de se compararem com o mercado e, assim, incorrem nos mesmos erros: tentam adivinhar os movimentos diários do mercado e compram e vendem com muita frequência.
John Maynard Keynes que, além de um economista brilhante, foi também um investidor astuto, escreveu: " estou cada vez mais convencido que o melhor método de investimento é colocar uma percentagem muito considerável de capital em empresas que acreditamos conhecer muito bem e em cujos gestores confiamos. É um erro considerar que o investidor reduz o risco espalhando o seu dinheiro por muitas acções acerca das quais sabe pouco e não tem motivos para confiar. O conhecimento e a experiência de cada um são limitados e raramente existem mais do que duas ou três empresas, em determinado momento, em que eu me sinta inteiramente confiante."
"Preço é o que paga, Valor é o que recebe"
-- Warren Buffett
O Investimento em Valor é um método de investimento completo, intuitivo e com um racional económico forte, cujo princípio central é a compra de bons activos a preços substancialmente abaixo do seu valor. A ênfase é colocada na necessidade de levar a cabo uma análise profunda do activo para determinar o seu valor, limitar os riscos e resistir à "psicologia da multidão" na procura de resultados do investimento a médio e longo prazo. O preço é a cotação do mercado a dado momento.
Grande parte das pessoas toma decisões de poupança e investimento sem o conhecimento claro do valor que estão a comprar. Grande parte destas decisões são influenciadas pelo amigo, um primo do cunhado que percebe "umas coisas" ou pelo Senhor do banco, que em princípio, sabe mais que os clientes. Às vezes porque "tive um palpite" e...
Quando temos um problema sério de saúde, procuramos um bom médico da especialidade, alguém recomendado e com provas dadas. Quando queremos fazer uma casa, procuramos a arquitecta cuja obra feita nos dá algumas garantias de vir a construir a casa que pretendemos. Do mesmo modo, quando investimos o nosso dinheiro devemos ter a certeza que o fazemos com especialistas. O investimento bem sucedido deve assentar em quatro pilares: 1. o domínio da teoria financeira, 2. o conhecimento obtido pela experiência, 3. ter consciência da psicologia financeira e 4. um sólido entendimento de como a industria financeira opera e se comporta nos momentos bons e maus da economia. Não é necessário um QI excepcional. É preciso bom senso.
O investidor, deve certificar-se da qualidade de quem o aconselha, da sua honestidade e capacidade para levar a cabo uma análise profunda do valor dos activos (sejam acções, um terreno, ou uma casa) e da sua capacidade para produzir valor ao longo do tempo e criar riqueza para quem investe.
Como um médico lê os exames de um paciente para chegar a um diagnóstico, o gestor de patrimónios deve analisar o balanço e demonstração de resultados da empresa para descobrir a sua saúde económica. O balanço é efectivamente um gráfico médico, uma fotografia da condição financeira da empresa num determinado momento. Mostra o quão solvente é uma empresa e a situação exacta - boa ou má - em que se encontra. Aqui é onde começamos a formar uma ideia concreta do que realmente vale uma empresa, quanto deve e que recursos tem à sua disposição para sobreviver no futuro. É basicamente o mesmo impresso que se preenche quando nos estamos a candidatar a um empréstimo bancário.
A verdade é que, na maioria dos casos, o investidor não resiste a especular, a tentar adivinhar o que o mercado vai fazer amanhã, a investir na "última moda" de que toda a gente fala e que lhe permitirá ficar rico depressa. Ao mínimo contratempo, assume-se como um azarado e desfaz-se do activo a qualquer preço. Em alturas de grande incerteza, como a que vivemos, vende e diz-se avesso ao risco.
Há dias encontrei um amigo que trabalha no sector financeiro. Disse-me que agora os clientes só querem investir em Bunds (Obrigações do Tesouro Alemão) que estão a render 2,34% (abaixo da inflação). Perguntei-lhe quem é afinal o "médico especialista", é o cliente ou somos nós? Nós que todos os dias avaliamos activos e sabemos que há várias décadas que não se conseguiam tão bons negócios a transaccionar tão a desconto do seu valor. Grandes empresas mundiais que continuam a aumentar os seus resultados e a reinvestir os lucros, estão a pagar dividendos, em muitos casos superiores às taxas dos depósitos a prazo.
Quem tem a experiência de estar no mercado há 20 anos, sabe avaliar os negócios e produtos financeiros e consegue ignorar o comportamento da "multidão", deve aconselhar o cliente no seu melhor interesse. Deve acrescentar valor.
"Quem pensa em si, planta um eucalipto; quem se preocupa com os filhos, planta um pinheiro; quem se preocupa com os netos, planta um sobreiro"
-- ditado português
O gráfico no pdf em anexo apresenta as rentabilidades de várias classes de activos desde 1926 até 2010. Ao longo destes 84 anos, a taxa média de inflação foi de 3%, ou seja, 1 dólar em 1926 actualizado para 2010 daria 12 dólares. Se em 1926 um investidor tivesse investido 1 dólar em Obrigações do Tesouro americano de curto prazo teria obtido um rendimento médio anual de 3,6%, o que até 2010 resultaria em 21 dólares. Se o investidor tivesse optado por investir em Obrigações do Tesouro Americano de Longo Prazo, teria uma rentabilidade média anual no mesmo período de 5,5%, ou seja, 93 dólares. Finalmente, se tivesse investido em acções de grande capitalização teria uma rentabilidade anual de 9,9%, o que, em valores absolutos resultaria em 2.982 dólares, 32 vezes mais que o investimento em Obrigações do Tesouro americano de longo prazo.
Durante este período viveram-se tempos de grande incerteza: a Grande Depressão, a Segunda Guerra Mundial, várias recessões, os choques petrolíferos de 1973 e 1979, a bolha tecnológica e a crise financeira do subprime da qual ainda estamos a recuperar. No entanto, as acções foram a classe de activos que melhores retornos proporcionaram aos investidores.
Se o investidor tiver o cuidado de comprar grandes marcas mundiais com fundamentos económicos soberbos, quando estão baratas; e tiver paciência para as manter na carteira até que se materialize todo o seu potencial de criação de riqueza, esta é a melhor forma de rentabilizar as suas poupanças. Alguns exemplos de grandes máquinas de criação de riqueza para os seus accionistas passaram por todas estas crises : a Johnson-Johnson foi criada em 1887; a General Electric em 1878, a Nestlé em 1866, o Wells Fargo em 1852, a American Express em 1850 a Procter & Gamble em 1837; a Coca-Cola em 1886; a Total em 1924, entre outras.
Comparo o investimento em acções a plantar árvores. É necessário escolher boas árvores, preparar a terra e plantar. Depois devemos acompanhar o seu crescimento ao longo do tempo. Haverá anos com meteorologia muito favorável, haverá anos maus e outros razoáveis. É natural. Mas só plantando é que crescem. Devemos assegurar-nos que temos "boas árvores na nossa floresta", que todos os anos dão frutos ou aumentam a tonelagem. Da mesma forma, as boas empresas vendem produtos ou prestam serviços todos os dias e, por isso, colhem os seus lucros.
Tentar prever a direcção de curto prazo do mercado é um jogo de tolos e um mau serviço ao público investidor. No longo prazo, os mercados sobem. Sempre o fizeram e, muito provavelmente, sempre o farão. Os adivinhos do mercado gostam de pensar que conseguem obter grandes retornos entrando no mercado quando as acções sobem e saindo quando elas caem. Há centenas de estudos que comprovam que isso não é possível.
Na Casa de Investimentos, preferimos confiar na capacidade de avaliação e garantir que compramos bons activos quando estão baratos. Depois, com disciplina e paciência, colhemos os frutos ano após ano, até que o "mercado" os avalie ao seu valor justo.
Como investidor de longo prazo, o perigo real para o seu pé-de-meia é estar fora do mercado quando os grandes movimentos ocorrem. Temos simplesmente que aceitar e suportar alguns, temporários, recuos no mercado. Se o nosso portfólio tiver sido bem construído, um pouco de turbulência no mercado não é motivo para fugir.
Daqui a alguns anos quando olharmos para a continuação deste gráfico, veremos que este foi apenas mais um recuo na Longa Curva da Prosperidade.
Post Scriptum: Se tiver terra plante árvores. 30 anos passam depressa.
Não temos de fazer o que toda a gente está a fazer. Devemos investir com inteligência. Comprar boas empresas abaixo do seu valor produz excelentes retornos.
Durante 1987, o mercado de capitais foi um local com muita excitação mas pouca variação líquida: o Dow subiu 2,3 % no ano. O "Sr. Mercado" esteve numa agitação frenética de compras até Outubro, altura em que sofreu um súbito colapso, no dia 19 caiu 22,7%.
Os gestores profissionais de dinheiro, aqueles que gerem biliões, mereceram, quase na sua totalidade, a nossa gratidão, por este turbilhão. Ao invés de prestarem atenção ao que os negócios farão nos anos vindouros, concentraram-se naquilo que esperam que os outros gestores de dinheiro farão nos próximos dias. Venderam mais quando as acções caíram mais. Para eles, as acções são meramente peças num jogo, como o dedal ou a bota no Monopólio.
Após comprar uma quinta, um proprietário racional ordenaria ao seu agente imobiliário que vendesse pequenas parcelas de terra sempre que uma quinta vizinha fosse vendida a um preço mais baixo? Ou o leitor, venderia a sua casa a qualquer comprador que estivesse disponível às 8h01, porque às 8h00 uma casa semelhante à sua foi vendida por menos do que valia no dia anterior?
Contudo, é esta a atitude que grandes gestores têm relativamente às suas acções. Quanto mais baixo for o valor que o mercado dá a estas empresas, com mais vigor são vendidas. O corolário "lógico" deste comportamento ordena que se recomprem estas mesmas empresas - e eu não estou a inventar isto - assim que os seus preços tenham recuperado significativamente dos mínimos anteriores. Considerando as somas gigantescas de dinheiro que são controladas por gestores que seguem estas práticas dignas da Alice no País das Maravilhas, será surpresa que o mercado se comporte, por vezes, irracionalmente?
Muitos comentadores concluíram que o pequeno investidor não tem hipóteses de sucesso num mercado dominado pelo comportamento errático dos tubarões. Pelo contrário, estes mercados são ideais para qualquer tipo de investidor - pequeno ou grande - desde que ele se mantenha fiel aos seus princípios de investimento. A volatilidade, causada pelos gestores que especulam irracionalmente com largas somas, oferece ao verdadeiro investidor mais oportunidades para fazer investimentos inteligentes. O verdadeiro investidor só será prejudicado por esta volatilidade se se vir forçado, por pressões financeiras ou psicológicas, a vender em alturas desfavoráveis.
2011 foi, de certa forma, semelhante a 1987. Até à 3ª semana de Julho, o DOW - índice que agrega as 30 maiores empresas americanas - subiu cerca de 10%. Nas duas semanas seguintes caiu 17%. O S&P 500 - índice que agrega as 500 empresas de maior capitalização bolsista - subiu no mesmo período cerca de 7% e nas duas semanas seguintes caiu 18,22%. No ano, o Dow subiu 5,5% e o S&P500 ficou a zero.
Conclusões:
1. Comprar boas empresas, as máquinas de fazer dinheiro de que falei aqui a semana passada, e mantê-las dá seguramente bons resultados: a Pfizer subiu, em 2011, 23,59% mais um dividendo de 4,68%; a Johnson & Johnson subiu 6,03% mais 3,69% de dividendo; General Electric, que caiu 2,08%, pagou um dividendo de 3,34%; Wal-Mart subiu 10,81% e pagou um dividendo de 2,7%; a Exxon Mobil, que em 2011 subiu 15,95%, pagou um dividendo de 2,54% e a McDonald's subiu 30,71% e pagou um dividendo de 3,3%. Estes são apenas alguns exemplos.
2. Se aproveitarmos a volatilidade para investir quando estas empresas estão muito baratas, como aconteceu na primeira semana de Agosto do ano que acabou, os resultados serão excelentes. Quando todos tinham medo e os grandes gestores profissionais venderam, muitas destas grandes empresas fizeram mínimos de vários pontos percentuais face ao início do ano.
Na altura escrevi aqui o primeiro artigo com o título "Ignore a Multidão". Não temos que fazer o que toda a gente está a fazer. Devemos fazer o que está certo, investir com inteligência. Comprar boas empresas muito abaixo do seu valor produz excelentes retornos a médio e longo prazo.
Quando se constata que alguma coisa que depende da acção humana não interessa a ninguém, como o fim do euro, o mais provável é que não aconteça.
As últimas semanas de negociações na Europa têm permitido todo o tipo de especulação acerca do futuro do Euro. Os jornais, as televisões, comentadores e políticos têm contribuído para alarmar as pessoas, para as manter em suspense e inseguras. Muito provavelmente, ajudaram-nas a tomar más decisões financeiras.
O Euro aparece em 1999 como uma moeda que se quer forte. A partir de 2004, começa a emergir como uma moeda mais estável e segura, entre outros motivos, pelo facto da administração Bush ter contribuído para a deterioração das contas públicas americanas e o agravamento do seu endividamento exterior.
Em 17 de Setembro de 2007, Alan Greenspan, presidente da Reserva Federal americana de 1987 a 2006, afirmou à conceituada revista alemã Stern, que é "possível" que o Euro substitua ou fique a par do dólar como moeda de reserva mais usada no mundo. Vários países, entre os quais a China, anunciaram o aumento da alocação das suas reservas de moeda em Euros. Até alguns países exportadores de petróleo vieram defender que esta matéria-prima passasse a cotar em Euros. O dólar não era seguro.
Em 8 de Abril de 2008, um artigo da Bloomberg declarava que o dólar seria ultrapassado pelo Euro, como a moeda líder mundial em reservas, em 2015, segundo previsões de diversos economistas, incluindo um estudo do National Bureau of Economic Research.
Muitos analistas técnicos previam a manutenção da tendência de valorização do euro, numa altura em que o câmbio em relação ao dólar cotava a cerca de 1,60. Seis meses depois, o euro tinha desvalorizado cerca de 22% face ao dólar.
Servem estes exemplos, de entre muitos disponíveis, para demonstrar a volatilidade e volubilidade dos "consensos generalizados" e os custos financeiros, em termos de investimento, que tomar decisões com base nessas opiniões, podem ter.
Hoje as opiniões são completamente opostas. "O Euro não vai sobreviver como moeda, e as pessoas devem-se proteger perante este cenário". Assim, são sugeridas opções de investimento que vão desde "ponha tudo em Francos Suíços", "compre Bunds Alemãs", "compre umas barras de ouro" e até, espante-se, "invista em obrigações do Tesouro americano".
O fim do Euro não é do interesse de ninguém. Não é do interesse dos países que investiram parte das suas reservas de moeda em Euros. O Euro representa 26,7% das reservas mundiais, ultrapassado apenas pelo dólar americano, que representa 60,2%. A terceira maior moeda, a libra esterlina, representa apenas 4,2%. Não é do interesse dos credores de mais de 14 Triliões de Euros de dívida emitida nos países da Zona Euro, sendo os maiores detentores os países mais fortes da própria Zona Euro, a Alemanha e a França, e as suas instituições financeiras. Não é do interesse dos Estados Unidos e das economias emergentes, não só por terem também reservas investidas em Euros, mas porque colocaria em causa a recuperação económica mundial. Não é seguramente do interesse dos países da periferia da Zona Euro, Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha, Itália; pois tal significaria uma destruição enorme de riqueza. Os custos seriam incalculáveis. O Euro já é grande demais para cair.
Ora, quando se constata que algo, que depende da acção humana, não é do interesse de ninguém, o mais provável é que não aconteça. Isto significará maior integração europeia, nomeadamente fiscal e alguma perda de soberania dos países membros mais débeis e incumpridores.
Posto isto, devo acrescentar que, nos últimos 3 anos, temos aconselhado os nossos clientes a diversificar os seus investimentos comprando acções de grandes empresas mundiais americanas quando estão baratas. Vendem em muitas moedas pelo mundo, estão expostas a muitas economias que estão a crescer e são "governadas" por gente honesta e capaz. Para nós estes são investimentos seguros, não são especulação.
O medo não é bom conselheiro.
O capitalismo requer uma estrutura e um sistema de valores em que as pessoas acreditem e dependam.
Capitalismo, segundo o Dicionário Webster, é "um sistema económico baseado na propriedade de bens de capital, com o investimento determinado por decisão privada e com preços, produção e a distribuição de bens e serviços determinados principalmente num mercado livre". John Bogle, fundador da Vanguard, acrescentaria, "é um sistema fundado na honestidade, decência e confiança".
Durante os séc. XVIII e XIX, à medida que o mundo se afastava das suas raízes agrárias em direcção a uma sociedade industrial, o capitalismo começou a florescer. Tornaram-se indispensáveis grandes acumulações de capital para a construção de fábricas, para o desenvolvimento de sistemas de transporte e para o financiamento dos bancos, de quem a nova economia iria depender.
Segundo um artigo de James Surowiecki na Revista Forbes, os Quakers estiveram na origem deste desenvolvimento. No séc. XVIII e início do séc. XIX, os Quakers dominavam a economia britânica, provavelmente porque a sua simplicidade e frugalidade lendárias lhes permitiram arrecadar o capital para investir. Eram proprietários de mais de metade das empresas metalúrgicas do país e desempenhavam papéis chave na banca, bens de consumo e no comércio transatlântico. A sua ênfase na fiabilidade, honestidade absoluta e registos rigorosos criavam confiança nos negócios entre si e os restantes mercadores observavam que a confiança caminhava de mãos dadas com o sucesso nos negócios. O interesse próprio exigia a virtude.
Esta coincidência de virtude e valor é exactamente aquilo que o grande economista e filósofo escocês, Adam Smith, esperava. Em A Riqueza das Nações, de 1776, escreveu, "o esforço ininterrupto e uniforme para melhorar a sua condição, o princípio do qual derivam a opulência pública e privada é suficientemente poderoso para manter o progresso natural das coisas para a sua melhoria...Cada indivíduo não pretende promover o interesse público nem sabe o quão o está a promover... (mas) ao orientar a sua indústria de forma a que o seu produto seja o mais valioso possível, ele é guiado por uma mão invisível que promove um objectivo que não faz parte das suas intenções".
Assim, continua o artigo da Forbes, a evolução do capitalismo foi na direcção de uma maior confiança e transparência e um comportamento menos egoísta; não é coincidência que esta evolução trouxe consigo uma maior produtividade e crescimento económico...Não porque os capitalistas são boas pessoas por natureza, mas porque os benefícios da confiança são potencialmente imensos e porque um sistema de mercado de sucesso ensina as pessoas a reconhecer esses benefícios...um ciclo virtuoso em que cada nível de confiança gera um novo nível de confiança".
Este era o capitalismo dos proprietários, cujo objectivo era servir os interesses dos donos e accionistas das empresas maximizando os retornos dos capitais investidos.
Infelizmente, nos últimos anos, desenvolveu-se um novo sistema: o capitalismo dos gestores. As grandes empresas são geridas para beneficiar os seus gestores, em cumplicidade com contabilistas, auditores e gestores de outras empresas. Como é que isto aconteceu? Os mercados diluíram de tal maneira a propriedade das empresas que deixou de existir um dono responsável. A partir de 1950, sobretudo nos Estados Unidos, estes milhões de investidores deram lugar a investidores institucionais criados e controlados pelas grandes instituições financeiras. Estes investidores "profissionais" alteraram o seu foco de investimento de longo prazo para a especulação de curto prazo e comissionamento. Ao mesmo tempo criou-se um sério conflito de interesses: as empresas que gerem os fundos de biliões são as mesmas que prestam os serviços de banca de investimento a estas grandes multinacionais. Um insanável conflito de interesses.
O capitalismo requer uma estrutura e um sistema de valores em que as pessoas acreditem e dependam. Não precisamos de ter fé na boa vontade humana, mas precisamos de ter confiança que as promessas e compromissos, uma vez assumidos, serão cumpridos. Também necessitamos de garantias que o sistema, no seu todo, não beneficia indevidamente alguns à custa de outros.
É importante o regresso do capitalismo dos donos. É fundamental confiar e ser de confiança.
Há apenas duas formas de perder peso: comer menos e fazer mais exercício. Não podia ser mais fácil. Mas é muito difícil num mundo cheio de bolos de chocolate.
Tal como fazer dieta, investir é simples, mas não é fácil. Há apenas duas formas de perder peso: comer menos e fazer mais exercício. Não podia ser mais fácil. No entanto, tal revela-se muito difícil num mundo cheio de bolos de chocolate, de batatas fritas, de bons assados ou bons vinhos. A tentação está em todo o lado.
A chave para investir com sucesso também é simples: comprar bons activos, que produzam rendimentos, quando estão baratos e mantê-los; diversificar apenas o essencial e manter os custos de transacção baixos. Infelizmente este conceito tão simples não é facilmente aplicável para os investidores que todos os dias são bombardeados com a ideia "fique rico depressa", avisos para saírem do mercado (ou entrarem) antes que seja demasiado tarde e comentadores de televisão que gritam "dicas" de investimento como se tivessem a roupa interior a arder. Os investidores são muitas vezes "forçados" a tomar decisões motivados pelo medo ou pela ganância.
O objectivo do meu artigo semanal é explicar os princípios do Investimento em Valor para que o leitor possa beneficiar da estratégia de investimento que, consistentemente, proporciona melhores rentabilidades a médio a longo prazo. É importante que compreenda os princípios de investimento e, sobretudo, é fundamental a escolha do seu gestor ou conselheiro financeiro, que deve ser pessoa capaz, honesta e independente.
Chris Browne, conceituado investidor em valor, conta um caso que se passou consigo que realça bem essa importância. No início dos anos 80, uma cliente de há muitos anos procurou-o para se aconselhar na reestruturação dos seus activos. O marido tinha falecido e deixou-lhe uma conta na gestora de patrimónios que Browne dirigia, com cerca de 4 milhões de dólares. A cliente tinha ainda acções da Berkshire Hathaway no valor de 30 milhões de dólares. O seu marido tinha sido um dos primeiros investidores na empresa de Warren Buffett e manteve sempre todas as acções da Berkshire. A viúva planeava agora reformar-se e pretendia programar rendimentos futuros. Para manter o seu estilo de vida, confortável mas relativamente modesto dada a sua fortuna, precisava de cerca de 200.000,00 USD por ano.
O seu contabilista tinha-lhe proposto um plano que ia de encontro aos seus desejos de rendimento; uma vez que as suas acções da Berkshire tinham um preço médio de compra de cerca de 20 USD, sugeriu o estabelecimento de uma fundação para fins de beneficência, transferir para lá a posição da Berkshire e vendê-la sem pagar impostos de mais valias. Este valor seria reinvestido em obrigações, que garantiriam um rendimento regular.
Browne disse-lhe que a razão pela qual ela era rica era porque estava muito bem investida em acções e questionou-a porque motivo desejaria desistir de apreciações futuras. Com base na longa vida da sua mãe, a cliente, argumentou Browne, podia esperar viver mais 35 anos de vida. O seu contabilista respondeu que ela tinha todos os seus activos no mercado accionista que era, por definição, arriscado.
Browne argumentou que, mesmo que o mercado caísse 50%, ela ficaria ainda com dinheiro suficiente para viver até à idade de Matusalém. A cliente decidiu confiar em Browne mantendo tudo investido em acções e este garantiria qualquer necessidade financeira com o dinheiro que estava investido na sua Gestora de Patrimónios. Anos mais tarde, quando reuniram para rever o plano, os seus investimentos em acções valiam 180 milhões de dólares. Browne voltou a sugerir que o mantivesse investido em acções. Em 2007 Browne calculava que a posição em acções valesse cerca de 300 milhões.
Os investidores em Valor são como agricultores. Semeiam boas sementes em terra fértil e esperam que as colheitas cresçam. Se o milho demora um pouco mais devido ao frio, não arrancam a sementeira para fazer uma nova. Esperam pacientemente pela colheita.
Votos de um Feliz Natal.
O professor Jeremy Siegel demonstrou que as cem empresas do S&P500 que pagam mais dividendos têm uma performance superior à do índice em cerca de 3% ao ano.
Imagine que há trinta anos investiu 1.000 dólares em Altria (antiga Philip Morris, fabricante dos cigarros Marlboro) e as manteve em carteira até hoje. Na altura, teria comprado 29 acções ao preço de 34,50 dólares. Hoje, depois de vários stock splits (divisões das acções em mais unidades) e spinoffs (a distribuição de novas acções de empresas independentes formadas apartir de negócios ou divisões da empresa mãe), teria em carteira:
- 700 acções da Altria - Tabaqueira americana com interesses na área dos vinhos e serviços financeiros,
- Quase 500 acções da Kraft Foods - Empresa de produtos de consumo alimentar e bebidas,
- 700 acções da Philip Morris International - Tabaqueira americana com negócio fora dos Estados Unidos.
Estas posições valeriam cerca de 65.900 dólares. Melhor ainda, teria recebido 32.600 dólares em dividendos. Se tivesse reinvestido esses dividendos, em vez de quase 1.900 acções das três empresas (Altria, Kraft e Philip Morris International), teria mais de 7.400 acções com um valor de 260.000 dólares. Este valor inclui dividendos de 91.500 dólares - quase o triplo do rendimento recebido por quem escolheu não reinvestir os dividendos. E a cereja no topo do bolo é que hoje, sem vender qualquer acção, estaria a receber anualmente 13.000 dólares em dividendos.
Pensará o leitor que este exemplo da Altria é meramente teórico. Na verdade a avó de Jim Mueller, analista do site Motley Fool, fez algo semelhante. No início da década de 60, comprou acções da Exxon e reinvestiu todos os dividendos. Quando se reformou, 30 anos depois, com os lucros deste investimento, comprou dois lotes de terra e construiu a casa onde goza agora a sua reforma. Por outras palavras, a Altria não é o único exemplo de como investir em boas empresas e reinvestir os seus dividendos pode torná-lo mais rico ao longo dos anos.
O Professor Jeremy Siegel, da Wharton School of Business, demonstrou que as cem empresas do S&P500 que pagam mais dividendos têm uma performance superior à do índice em cerca de 3% ao ano. Uma vantagem de 3% ao ano pode não parecer muito mas, em dez anos, significa mais 900 euros extra por cada 1.000 euros investidos.
Como podemos encontrar agora empresas que possam replicar esta performance? Altria e Exxon são "máquinas de dinheiro" não porque eram grandes empresas (apesar de o serem) ou porque pagavam um dividendo - nem todas as empresas que pagam dividendos podem ser consideradas máquinas de dinheiro - mas porque aumentam consistentemente os seus dividendos. E tinham a capacidade de o fazer porque tinham lucros consistentes. E sabemos bem o impacto que o crescimento de lucros tem no preço das acções.
Contrariamente ao que se possa pensar, estas empresas não são raridades; quase 20% das empresas do S&P500 aumentaram em mais de 10% os seus dividendos nos últimos 10 anos. Esta lista inclui nomes tão familiares como a McDonald's (com um aumento de dividendos de 46,5% ao ano), TJX Cos. (com 21,8% anuais), Newmont Mining (12,8%) ou EOG Resources (25,9%).
Estes retornos médios rivalizam com a performance histórica de Warren Buffett. Bastando, para tal, investir em empresas bem geridas com uma história consistente de rentabilidades e crescimento de resultados, com marcas fortes e negócios sustentáveis que lhes permitem suportar aumentos regulares dos dividendos. Definidos os negócios com as qualidades apontadas, resta-nos aguardar pelo preço de entrada que garanta uma margem de segurança, isto é, que proteja o capital investido de evoluções desfavoráveis no negócio. Tal permitir-nos-á salvaguardar o investimento e potenciar a sua rentabilidade futura.
Para os investidores é importante saber se as suas carteiras de investimento possuem acções que possam ser máquinas de fazer dinheiro para o futuro. É fundamental comprá-las quando estão baratas.
Votos de um próspero ano novo.
Quando a conjuntura é favorável ou as notícias para determinada empresa são muito positivas, é fácil o investidor comum perder o bom senso e seguir a multidão.
O medo e a ganância têm separado muitos investidores do seu dinheiro. Quando o mercado de acções cai porque as notícias são más e a conjuntura macroeconómica difícil, os investidores vendem a qualquer preço activos de grande valor. Do mesmo modo, quando a conjuntura é favorável ou as notícias para determinada empresa são muito positivas é fácil ao investidor comum perder o bom senso e seguir a multidão.
Como devemos, então, investir em acções?
1. Não nos devemos focar no preço da acção mas sim no valor do negócio subjacente:
Os preços das acções mudam de segundo em segundo ao longo da sessão de bolsa. Mas o valor do negócio muda, quanto muito, algumas vezes por ano. No curto prazo, o preço da acção é afectado por quase tudo desde se o sol brilha hoje até ao que diz um blogger, algures, sobre a acção. No longo prazo, o preço de uma acção é determinado pelo dinheiro que é gerado pelo negócio subjacente. Se a empresa gera cada vez mais dinheiro, torna-se mais valiosa e o preço da acção acompanhará essa subida. Se, pelo contrário, o negócio não se torna mais valioso, nada poderá manter, no longo prazo, o preço da acção em níveis elevados.
Paremos, então, de olhar para o que o preço da acção está a fazer. Em vez disso, aprendamos o mais possível sobre o negócio. Os seus clientes manter-se-ão fiéis se a empresa aumentar preços? Gera mais dinheiro do que consome? Consegue financiar a sua expansão sem crédito? Os seus gestores são remunerados justamente, sem exageros?
Se compramos um determinado activo somente porque o seu preço tem estado a subir ou o vendemos meramente porque o seu preço está a cair, não somos investidores. Somos especuladores e os nossos ganhos futuros serão reféns das manias da multidão.
2. Devemos compreender o "Sr. Mercado" e os seus comportamentos:
Compreendamos o "Sr. Mercado". Este é o nome que Benjamin Graham deu às variações de sentimento dos investidores. Graham pede-nos para imaginarmos que somos o principal accionista de uma empresa privada. Diariamente, um dos sócios nesse negócio, o "Sr. Mercado", vem bater-nos à porta. Umas vezes, oferece-se para nos vender a parte dele no negócio por um preço ridiculamente alto. Outras vezes, oferece um preço irrisório para comprar a nossa parte no negócio. Faria negócio com o "Sr. Mercado" apenas porque ele o pediu? Ou dir-lhe-ia que não está interessado em transaccionar a parte do seu negócio a um preço que é demasiado alto ou demasiado baixo?
O "Sr. Mercado" é mais que uma imagem ou uma metáfora. Ele é a encarnação de centenas de milhões de investidores e especuladores cujos caprichos fazem com que os preços diários de uma acção pareçam o electrocardiograma de alguém que está a ter um ataque cardíaco. Não somos obrigados a negociar com estas pessoas apenas porque elas querem que nós o façamos. Não podemos permitir que a nossa visão sobre uma certa acção, ou sobre o mercado em geral, seja determinada pelo pessimismo ou optimismo de milhões de estranhos. De facto, a ânsia do "Sr. Mercado" em transaccionar connosco é o sinal de que só devemos agir após determinarmos de forma independente, usando o nosso próprio julgamento, se o preço está certo.
3. Devemos manter sempre uma margem de segurança:
Finalmente, preservar uma margem de segurança. Demasiados investidores devotam toda a sua atenção à probabilidade de estarem certos. Os investidores precisam também de pensar acerca da possibilidade de estarem errados - e como minimizar as consequências daí resultantes. Devemos questionar-nos constantemente quanto podemos perder se, no fim de contas, estivermos errados e devemos investir apenas naquelas oportunidades que, no longo prazo, nos dão maiores probabilidades de lucros do que de perdas.
Devemos também diversificar. Nunca concentrar demasiado do nosso capital apenas num investimento, não importa quão seguros estejamos da segurança desse investimento.
Como diria Warren Buffett, "seja ganancioso quando os outros têm medo e tenha medo quando os outros são gananciosos".
Como consegue o investidor identificar, entre milhares de empresas cotadas em bolsa, quais delas são realmente empresas com excelentes negócios?
O investidor inteligente procura o melhor rendimento em segurança: comprar acções de grandes empresas mundiais a um preço substancialmente inferior ao valor real do negócio subjacente. Mas como consegue o investidor identificar, de entre as milhares de empresas cotadas em bolsa, quais delas são realmente empresas com excelentes negócios? De forma simples, elenco 10 questões cujas respostas ajudarão os investidores a separar o trigo do joio:
1. A empresa investe bem os capitais próprios?
As melhores empresas são aquelas que geram os lucros mais elevados com o mínimo de capitais investidos. A consistência das rentabilidades permitirá o crescimento da empresa para o futuro.
2. Investe de forma consistente os capitais totais?
As empresas têm duas fontes de financiamento, os capitais próprios e a dívida. Aquelas que têm rentabilidade acima do custo do seu financiamento criam valor para os accionistas.
3. Os resultados estão a crescer consistentemente?
Os resultados consistentes ao longo de vários anos (pelo menos 10) permitem, ao potencial investidor, prever mais facilmente a sua evolução futura, ao contrário de empresas com grande volatilidade nos resultados.
4. A empresa é financeiramente saudável?
Empresas com índices de endividamento baixo têm maior margem de manobra em tempos de crise, como podemos facilmente verificar nos dias que correm. Por outro lado possuem a solidez necessária para investir, aumentar os seus negócios e aumentar as suas vantagens competitivas.
5. A empresa tem vantagens competitivas?
A empresa beneficia de marcas fortes (Coca-Cola), redes de utilizadores fiéis (Microsoft) ou patentes (Pfizer)? As vantagens competitivas defendem a empresa dos concorrentes e permitem a obtenção de margens mais elevadas na venda de produtos ou serviços.
6. A empresa está inserida num sector demasiado dependente das suas organizações laborais?
Empresas com estruturas rígidas e custos salariais elevados face aos resultados raramente têm vantagens competitivas.
7. A empresa pode aumentar os preços de acordo com a inflação?
A empresa tem liberdade para ajustar o preço dos seus produtos para compensar os aumentos dos custos de produção. A inflação é um imposto escondido que com o tempo pode diluir de forma significativa os retornos de uma empresa.
8. Como reinveste os lucros?
Investir os lucros na expansão da empresa criará maiores lucros para os accionistas no futuro. No entanto, se essa expansão significa menor rentabilidade, é preferível que a empresa distribua esses lucros pelos accionistas.
9. Recompra acções próprias?
A empresa distribui os lucros pelos accionistas de duas formas, paga dividendos ou compra acções próprias. A recompra de acções próprias é fiscalmente preferível pois, ao contrário dos dividendos, não é tributada. É boa política comprar acções próprias sempre que a acção esteja a transaccionar abaixo do seu real valor. Assim, a participação de cada accionista no capital da empresa aumenta o que significa maiores retornos no futuro sem qualquer custo fiscal.
10. O valor contabilístico cresce?
Empresas com resultados consistentes e boas rentabilidades nos capitais investidos conseguem fazer crescer o seu valor contabilístico. O mercado de capitais, mais cedo ou mais tarde, reflectirá, no preço da acção, este crescimento. Devemos verificar que, ano após ano, o valor intrínseco da empresa aumenta a uma taxa satisfatória.
Quando compramos acções, devemos assegurar-nos que compramos negócios com fundamentos económicos soberbos, geridos por gente capaz e honesta que proteja os interesses dos accionistas, e garantir que o preço que estamos a pagar é substancialmente inferior ao valor intrínseco do negócio.
Ao seleccionar, desta forma, oportunidades de investimento, a compra de acções não é mais do que a compra de uma pequena parte de um excelente negócio.
Warren Buffett investe em acções, por vezes comprando toda a empresa, muitas vezes comprando, em bolsa, "fatias" de bons negócios.
Einstein terá dito um dia que o juro composto é a mais poderosa força do Universo. De Warren Buffett, ouvimos falar do efeito bola de neve, de como uma pequena bola vai aumentando de tamanho à medida que vai rolando, resultando na segunda maior fortuna do mundo. Desde 1965, com a Berkshire Hathaway, Warren Buffet investe em acções, por vezes comprando toda a empresa, muitas vezes comprando, em bolsa, "fatias" de bons negócios. Buffett, nestes 46 anos, ganhou para os seus accionistas 20,2% ao ano.
Vejamos então o efeito bola de neve. Quem tivesse em 1965 aplicado 10.000 dólares em produtos de muito curto prazo, teria ganho aproximadamente a taxa média de inflação no período, ou seja, 3% ao ano. O resultado desta aplicação seria hoje de 38.950 dólares. Quem tivesse investido em Obrigações de Tesouro Americano de longo prazo, que no período renderam cerca de 5,5%, obteria, 117.385 dólares, ou seja conseguiria cerca de 3 vezes mais. Warren Buffett, investindo em acções, conseguiu compor estes retornos a uma média de 20,2% ao ano. Os mesmos 10.000 dólares resultariam em 49.228.755 dólares. Exactamente. Leu bem. Quarenta e nove milhões duzentos e vinte e oito mil setecentos e cinquenta e cinco dólares. É uma rentabilidade excepcional e Warren Buffet é um investidor excepcional. Este é o efeito bola de neve. A taxa à qual conseguimos compor os retornos do nosso património financeiro. A força mais poderosa do universo.
46 anos é muito tempo, sem dúvida, e 20,2% é uma taxa excepcional. Contudo, alguém que entra no mercado de trabalho com 25 anos e se reforma aos 65, descontou para a sua reforma cerca de 40 anos. Se, durante este período, para além dos descontos que faz para a segurança social, fizer individualmente o seu plano para a reforma, poderá, passados 30 ou 40 anos, acumular uma soma muito satisfatória para acomodar a subida do custo de vida e permitir maior tranquilidade.
No início da década de 90, muitos aforradores portugueses, motivados por benefícios fiscais, constituíram PPRs - Planos de Poupança Reforma. Nos últimos 20 anos, estes PPRs ganharam em média 3,8% ao ano, o que, num investimento inicial de 100.000 euros, sem qualquer reforço adicional, teria resultado em 210.837 euros. Sensivelmente no mesmo período, o Fundo de Pensões da Holanda ganhou 7,1% ao ano, ou seja, o mesmo investimento teria resultado em 394.266 euros, quase o dobro do caso português.
Este exemplo pretende tornar claro ao leitor, que tão importante como poupar é dar vida à poupança. É essencial assegurarmo-nos que ela é bem gerida, que é aplicada e capitalizada a taxas satisfatórias que incentivem os investimentos a longo prazo, mas com rentabilidades muito superiores àquilo que tem sido oferecido pelas instituições financeiras através de produtos estruturados complexos, seguros de capitalização e mesmo depósitos a prazo puros.
Um investidor com 60 anos tem uma esperança de vida de mais 25 ou 30 anos. Se, durante este período de tempo, investir todo o seu património financeiro em depósitos a prazo ou produtos de seguros de capitalização obtém rentabilidades brutas de cerca de 3,5 a 5% ao ano.
No passado dia 16 de Dezembro, escrevi nesta página " A longa curva da prosperidade". Apresento aí as várias alternativas de investimento em diferentes classes de activos e concluí que investir em empresas com negócios excepcionais ,geridos por gente honesta e capaz, compradas a preços sensatos, permitir-nos-á, compor o retorno dos capitais investidos a taxas de rentabilidade excelentes.
Quando deveríamos estar a ensinar os nossos jovens universitários sobre o investimento a longo prazo e a magia do juro composto, os jogos da bolsa que são organizados pelas universidades e corretoras estão, na realidade, a ensiná-los a especular e a reforçar uma mentalidade de curto prazo.
Um horizonte de investimento de 3 a 5 anos é essencial para conseguir retornos satisfatórios.
Na passada segunda-feira, chegou às livrarias "O Livro do Investimento em Valor", da autoria de Christopher Browne, traduzido e promovido pela Casa de Investimentos e pela Editora Caleidoscópio.
O livro explica numa linguagem simples e intuitiva o que é o Investimento em Valor, o método de investimento popularizado por Warren Buffett e que, ao longo dos últimos 80 anos, produziu retornos superiores a qualquer outra estratégia de investimento. Oferece um conjunto de princípios que apelam fortemente ao bom senso e permitem aos investidores e aforradores tomarem decisões mais conscientes de poupança, investimento e até de consumo.
A tomada de decisões de investimento ponderadas pode ter um impacto significativo na vida das pessoas: pagar a educação dos filhos, preparar uma reforma confortável, proporcionar liberdade financeira para construir um futuro melhor.
Da mesma forma que seleccionamos, das prateleiras dos supermercados, os produtos que precisamos tendo por base uma relação preço/qualidade, devemos estar preparados para rejeitar muitos produtos oferecidos pelas instituições financeiras e subscrever apenas o que entendemos e melhor serve os nossos interesses no futuro.
Neste livro, tão importante como expor o método de investimento e o bom senso que lhe está subjacente sobre o que devemos fazer para rentabilizar a poupança, é o que não se deve fazer para a pôr em risco e o impacto que a passagem do tempo tem sobre o património financeiro que não é criteriosamente gerido. O autor apresenta inúmeros exemplos vividos ao longo da sua carreira de 40 anos como gestor da mais antiga gestora de patrimónios de Wall Street. Avisa os leitores para o facto de grande parte das instituições financeiras no mundo estarem cada vez mais vocacionadas para gerir no curto prazo, para o comissionamento e a venda, criando ilusões e falsa segurança aos investidores.
Acreditamos que a melhor forma de preparar as pessoas para os desafios da vida é através da divulgação do conhecimento. O documentário, que no passado dia 28 de Fevereiro foi transmitido na SIC Notícias, "Nascido para Viver", sobre a extraordinária queda da taxa de mortalidade infantil nos últimos 40 anos em Portugal, realça isso mesmo. Aproveito aqui para endereçar os parabéns a todos os que contribuíram para nos colocar entre os melhores do mundo. Parabéns também à Fundação Francisco Manuel dos Santos por mostrar que é possível trabalhar por um bem comum e que devemos traçar objectivos de médio e longo prazo.
É fundamental educar as pessoas. É importante tornar o conhecimento acessível e combater preconceitos. O saber não ocupa lugar, a falta de conhecimento limita as pessoas, submete-as.
Diz-se que é preciso muito tempo para que os resultados comecem a aparecer. Sou bastante mais optimista. A informação, cada vez mais acessível a um maior número de pessoas, circula cada vez mais depressa. É importante começar.
Deixo aqui três citações do livro:
"A maior parte das pessoas tendem a olhar para tudo o que compram relacionando o valor que recebem com o preço que pagam. Quando os preços baixam, compram mais daquilo que querem ou precisam. Excepto no mercado de acções."
"A maioria das pessoas procura a gratificação imediata em quase tudo o que fazem, incluindo o investimento. Quando compram uma ação, estes investidores estão à espera que ela suba imediatamente. Se isso não acontece, vendem-na e vão procurar outra.
"Os investidores em valor são como agricultores. Semeiam e esperam que as colheitas cresçam. Se o milho demora um pouco mais devido ao frio, eles não arrancam a sementeira para fazer uma nova. Eles esperam pacientemente que o milho brote do chão, confiantes que, eventualmente, isso acontecerá."
Warren Buffett diz que "Preço é o que paga, Valor é o que recebe". Este livro tem o preço de 14,84 Euros. É muito valor por pouco dinheiro. É um Investimento em Valor.
Se compramos bons activos a um preço barato, garantimos certamente que vamos obter uma valorização desses activos e um bom retorno do nosso investimento.
"Os portugueses são muito conservadores". "Os investidores não gostam de risco". "Acções eu? Não. Só depósitos a prazo, produtos garantidos ou fundos".
Grande parte dos investidores, quando aplicam o seu dinheiro, procuram depósitos a prazo ou produtos de capital garantido. Infelizmente, os resultados dos investimentos feitos nesta última dúzia de anos vieram mostrar que:
1. Os depósitos a prazo são garantidos parcialmente porque houve um movimento mundial ao nível dos governos em Outubro de 2008 para que acabasse a corrida generalizada aos levantamentos da banca. Quanto à conservação do capital investido, o cliente de depósitos a prazo corre o risco real dos seus rendimentos não acompanharem a inflação e perder assim poder de compra. Este é o imposto escondido que vai erodindo o património financeiro.
2. Os produtos de capital garantido são criados e vendidos por grandes instituições financeiras para atrair os investidores que gostam de garantias. Primeiro, têm maturidades longas e os valores são garantidos apenas no seu vencimento. Qualquer vicissitude de curto prazo que obrigue o investidor a vender, implica assumir perdas de capital, por vezes elevadas, dependendo do momento de mercado. Estes valores estão também investidos nos mercados financeiros. Segundo, são produtos opacos, difíceis de entender e com tantos "ses" que aliciam o investidor para um rendimento potencial condicionado por tantas variáveis que dificilmente se conjugam em simultâneo. Têm resultado em rentabilidades próximas de zero. Os bancos que os vende aos seus clientes, são meros comissionistas da banca mundial de investimento.
3. As obrigações de dívida soberana, de empresas públicas, de instituições financeiras e grandes empresas foram outro investimento onde muitas poupanças foram colocadas. Era garantido e todos os 6 meses pagava um valor certo. Ora, uma obrigação é uma promessa que o emitente está a fazer a quem a subscreve, dando o direito a receber juros nas datas acordadas e a devolução do capital no vencimento.
As promessas valem o que vale quem as faz e muitas não foram cumpridas. O que mais chocou o investidor comum nos últimos 2 anos foi verificar que as obrigações valem hoje muito menos do que o valor investido. Cotam diariamente no Mercado Secundário, com mais ou menos liquidez e, se o investidor precisar do seu dinheiro rapidamente, terá que vender com perdas, em muitos casos, substanciais.
Na semana passada, num leilão de dívida alemã, os investidores aplicaram o seu dinheiro motivados pelo medo. Por cada 100 euros emprestados à Alemanha irão receber no vencimento, daqui a 6 meses, 99,99 Euros. Os investidores estão realmente a pagar à Alemanha para lhes "guardar" o dinheiro. Considero que as garantias, independentemente da qualidade que possam ter, estão muito sobrevalorizadas.
4. Os fundos de investimento apresentam custos excessivos que vão desde comissões de subscrição, resgate, gestão e performance. Na maioria dos casos, os clientes não fazem a menor ideia onde estes fundos investem, das percentagens que investem em cada activo e dos custos associados. Por vezes têm investimentos fora da caracterização que apresentam. As rentabilidades são na maioria dos casos negativas ou próximas de zero.
5. Investimentos em acções que, em muitos casos, apresentam perdas de 60 a 70% dos valores investidos. Talvez o título com maior disseminação pelos investidores, o BCP, perdeu nos últimos 5 anos cerca de 94%. Muitas acções foram vendidas com crédito e em carteiras monotítulo. Esta foi sem dúvida uma máquina de destruição de dinheiro e sobretudo uma máquina de destruição de confiança. Hoje, muitos destes investidores não querem ouvir falar em investimentos em acções. Resta dizer que esta actuação nada teve de investimento, foi especulação e jogo.
Se garantirmos que compramos bons activos, que geram bons rendimentos e estão baratos, com tempo, teremos garantido um bom retorno.
Warren Buffett, num artigo que será publicado a 27 de Fevereiro na "Fortune", explica de forma clara porque não devemos investir em ouro.
A definição de investimento expandiu-se muito nos últimos 20 anos: desde selos, arte, vinhos, ouro, petróleo, todo o tipo de produtos financeiros exóticos, até apostas desportivas. Muitos destes activos não são produtivos e quem os compra tem a esperança que no futuro alguém venha a pagar mais por eles. Quem investe assim, não é inspirado por aquilo que o activo produz, mas sim porque acredita que outros o desejarão ainda mais no futuro. Esta é, na sua essência, a definição de especulação. É desta forma que surgem as bolhas especulativas.
Warren Buffett, num artigo que será publicado no próximo dia 27 de Fevereiro na revista Fortune, explica porque prefere o investimento em activos produtivos. Explica, de forma clara, porque não devemos investir em ouro. Passo a citar:
"O ouro é, hoje, um dos activos favoritos dos investidores que temem quase todos os outros, especialmente dinheiro. O ouro, contudo, tem dois defeitos: não tem grande utilidade nem produz rendimentos. É verdade que o ouro tem alguma aplicação industrial e decorativa mas a procura para estes propósitos é limitada e incapaz de absorver toda a nova produção. Entretanto, se mantivermos em carteira uma grama de ouro por uma eternidade, continuaremos a possuir uma grama de ouro no fim da eternidade.
O que motiva a maior parte dos compradores de ouro é a crença que as legiões de medrosos continuarão a crescer. Ao longo desta última década, essa crença esteve correcta. O aumento do preço gerou, por si só, um entusiasmo comprador adicional atraindo compradores que encaram o aumento do preço como a validação da sua tese de investimento. À medida que mais investidores se juntam à festa, eles criam a sua própria verdade - durante algum tempo.
Ao longos dos últimos 15 anos, tanto as acções tecnológicas como o mercado imobiliário demonstraram os excessos extraordinários que podem ser criados pela combinação de uma tese de investimento sensata, na sua génese, e bem publicitados preços crescentes. Nestas bolhas, um exército de investidores, a princípio cépticos, sucumbem à prova entregue pelo mercado e o grupo de compradores expande-se - durante algum tempo - o suficiente para manter a roda a girar. Mas as bolhas inevitavelmente estouram. E o velho provérbio é mais uma vez confirmado: "aquilo que o sábio faz no princípio, o tolo faz no fim".
Actualmente, o stock global de ouro é de cerca de 170.000 toneladas métricas. A 1.750,00 dólares por onça - o preço actual do ouro - o seu valor global atinge os 9,6 triliões de dólares. Chamemos a este stock, Conjunto A.
Criemos agora um Conjunto B com um valor igual. Podemos comprar toda a terra agrícola dos Estados Unidos (162 milhões de hectares, com uma produção anual de 200 biliões de dólares) e 16 Exxon Mobil's (a mais lucrativa empresa do mundo, com lucros anuais superiores a 40 biliões de dólares). Após estas compras, ficaríamos com uns trocos no bolso, cerca de 1 trilião de dólares. Consegue imaginar algum investidor, com 9,6 triliões de dólares disponíveis, que escolhesse o Conjunto A?
Para além da avaliação estarrecedora que é dada ao stock de ouro existente, os preços actuais do ouro avaliam a sua produção anual em cerca de 160 biliões de dólares. Os compradores - quer sejam joalheiros, utilizadores industriais, indivíduos assustados ou especuladores - têm que absorver continuamente toda esta produção apenas para manter o equilíbrio nos preços actuais.
Dentro de um século, os 162 milhões de hectares de terra agrícola terão produzido quantidades enormes de milho, trigo, algodão e outras colheitas - e continuarão a produzir qualquer que seja a moeda em utilização. As 16 Exxon Mobil´s terão pago triliões de dólares em dividendos aos seus accionistas e terão nos seus balanços activos avaliados em muitos mais triliões. As 170.000 toneladas de ouro não terão variado no peso e continuarão a ser incapazes de produzir qualquer rendimento.
Admito que, daqui a cem anos, quando as pessoas se assustarem, muitas corram a comprar ouro. Estou confiante, contudo, que o Conjunto A terá conseguido uma taxa de retorno muito inferior à do Conjunto B."
Assistimos a uma enorme transferência de riqueza dos accionistas para os gestores de grandes multinacionais, que pagam a si próprios compensações extravagantes.
O anúncio feito pela DECO na passada quarta-feira e a carta de Greg Smith, ex-responsável pela área de derivados na Europa, Médio Oriente e África da Goldman Sachs, noticiada pela imprensa no mesmo dia, motivam este artigo. A Deco afirma que maus depósitos custaram 1,5 mil milhões aos portugueses em 2011. Greg Smith afirma, entre outras declarações fortes, que "os interesses dos clientes continuam a ser marginalizados".
Há meses, um artigo da Bloomberg noticiava que por todo o mundo Familly Offices retiravam o dinheiro dos bancos para criarem as suas estruturas de gestão. Nesse artigo, gestores de várias famílias nos quatro cantos do mundo manifestavam a sua insatisfação com os grandes bancos e gestores de dinheiro, alegando que deixaram de actuar como guardiões de capital, para passarem a meros vendedores e comissionistas.
Adam Smith não ficaria muito surpreendido com este resultado. Há mais de 2 séculos escreveu: "Sendo os administradores de tais empresas, os gestores de dinheiro alheio, mais do que do próprio, não se pode esperar que o vigiem tão ansiosamente como os sócios particulares fazem com o seu. Como os guardiões de um homem rico, muito facilmente concedem a si mesmo uma recompensa. A negligência e profusão, portanto, prevalecem sempre".
A grande dispersão do capital das grandes multinacionais em bolsa, financeiras ou não, faz com que não haja "um dono" responsável. Os investidores - grandes institucionais ou particulares - não assacam responsabilidades aos gestores. Os grandes institucionais, que detêm grande parte das acções - e na maioria dos casos são detidos por grandes bancos - gerem os fundos de pensões destas grandes multinacionais e são contratados para as operações de banca de investimento, que proporcionam comissões extraordinárias. Ora, não têm "liberdade" para questionar as remunerações de gestores, as políticas de aquisições ou a falta estratégia de criação de riqueza para os accionistas a longo prazo. Os pequenos investidores são estimulados a olhar para o curto prazo e as acções são papel para trocar de mãos todos os dias, permitindo elevadas comissões de transacção. Os auditores, que deveriam vigiar a actividade dos gestores para minorar conflitos de interesses, são, eles próprios, contratados por aqueles que terão que avaliar.
Assistimos, por isso, a uma enorme transferência de riqueza dos accionistas para os gestores de grandes multinacionais que pagam a si próprios compensações extravagantes. Nas instituições financeiras, esta transferência acontece, não só de accionistas, mas também de clientes para administrações e gestores. Entre 1997 e 2002, o total de comissões pago pelos investidores norte americanos aos bancos, corretoras e fundos de investimentos excedeu os 1,275 triliões de dólares. Parafraseando Churchil, nunca tanto foi pago por tantos a tão poucos por tão pouco.
O nosso sistema de capitalismo de mercado sofreu um falhanço profundo - como a todos os sistemas, às vezes, acontece - com uma variedade de causas, cada uma interagindo com e reforçando as outras: a ascensão do CEO imperial; os truques da engenharia financeira no reporte de resultados; o falhanço dos nossos guardiões - auditores, reguladores, gestores de investimentos e conselhos de administração - que se esqueceram a quem deviam lealdade; as instituições financeiras que passaram a ser traders de acções ao invés de se comportarem como donos de acções; a hipérbole promocional de Wall Street; a vontade dos analistas em pôr de lado o seu cepticismo; a excitação frenética dos media; e, obviamente, os membros do público investidor que festejam sempre o lucro fácil. Foi esta conspiração entre todas as partes interessadas, que baixou os padrões do negócio.
Este é o capitalismo dos gestores e não o dos donos, como deveria ser.
No mundo do investimento tudo o que é óbvio é questionável e nada do que é importante é intuitivo.
Incluo, com frequência, nos meus artigos, citações famosas que resistem à passagem do tempo exactamente porque são relevantes, eloquentes e cheias de sabedoria.
De Santayana, "a história repete-se e esquecer o passado é estar condenado a repeti-lo" . De Winston Churchil, "quanto mais longe no passado olhares, mais longe no futuro conseguirás ver". De Mark Twain, "a história não se repete, rima". De que serve a história? No fim de contas, a história é passado.
Li, por estes dias, mais uma carta a investidores digna de nota, desta vez, de Howard Marks, com referências que também já aqui escrevi: "A verdade é que a história pode ser uma grande ajuda... no investimento e na vida. Na quinta década da minha carreira como investidor, sinto que muita da minha capacidade de adicionar valor tem origem na história que testemunhei e no significado que dela consegui extrair".
Como Twain disse, os eventos da história não se repetem exactamente. Raramente se passa a mesma coisa uma e outra vez. No mundo dos investimentos, por exemplo, a duração e amplitude das flutuações raramente são as mesmas de ciclo para ciclo. Mas também, como Twain disse, a história rima. São aquilo a que eu chamo tendências ou padrões comportamentais que apresentam as lições importantes.
A tendência dos investidores em ignorar ou esquecer o passado é notável. Assim como o hábito de sucumbir à emoção. As pessoas esquecem-se, particularmente, da natureza cíclica das coisas, extrapolam até ao excesso as tendências passadas e ignoram a probabilidade da reversão para a média.
"A Morte das Acções", um artigo publicado na BusinessWeek em Agosto de 1979 sinalizando uma mudança tectónica no investimento, é um bom exemplo. A base era a seguinte:
1. Sete milhões de accionistas tinham abandonado o mercado de acções desde 1970,
2. As instituições que geriam fundos de pensões foram autorizadas a investir noutros activos que não acções,
3. Os fundos de investimento, até então com cerca de 80% investido em acções, estavam abaixo de 50%,
4. Poucas empresas encontravam comprador para as suas acções.
O artigo era tão negativo que, quem pensasse só por si, diria: isto já não pode piorar mais. A verdade é que marcou a mudança: o início do maior bull market da história.
"Yogi" Berra, famoso jogador de basebol dos New Youk Yankees, ficou também na história por proferir frases sem lógica: "não chega ao fim enquanto não acaba", "quando chegares a uma bifurcação, segue-a", "deja vu outra vez" ou "na verdade, eu não disse tudo aquilo que disse"
O autor deste artigo "A morte das Acções" não lhe ficava atrás. No artigo justificava o título dizendo: "...com o preço do imobiliário sempre a subir... a terra é uma garantia contra perdas" ou "para os investidores... os preços baixos das acções continuam a ser um desincentivo ao investimento" e "seria necessário um bull market sustentado durante um par de anos para atrair uma base alargada de investidores e restaurar a confiança".
Ora, quando os preços estão tão baixos, as acções podem começar a subir sem a ajuda de um bull market. Da mesma forma, quando as acções estão caras, os preços podem ruir sob o seu próprio peso.
A conclusão é simples: o bom senso não é comum. A multidão está invariavelmente errada nos extremos do mercado. No mundo do investimento, tudo o que é óbvio é questionável e tudo o que é importante é contra-intuitivo. Os investidores provam repetidamente que conseguem ser menos lógicos que Yogi.
Quando os preços sobem para níveis além do céu, quer no mercado de acções ou imobiliário ou outro, reina o optimismo... Do mesmo modo, quando os preços caem para níveis tão baixos que as empresas transaccionam a 60% do valor de substituição dos activos subjacentes e o pessimismo está em máximos, é comum aparecer um novo paradigma: as velhas regras já não se aplicam.
O que, consistentemente, fornece as fundações para esta insistência de que o "jogo" mudou para sempre? As quatro palavras mais perigosas do mundo do investimento: DESTA VEZ É DIFERENTE.
Buffett apelidou este conjunto de vantagens competitivas Moat, ou seja, o fosso, como os que existiam à volta dos castelos medievais para os proteger dos inimigos.
O Investimento em Valor pressupõe a selecção de um conjunto limitado de boas empresas cujos negócios subjacentes tenham fundamentos económicos soberbos, que sejam geridas por gestores capazes e honestos e que estejam a transaccionar a preços sensatos. A ênfase deve ser colocada primeiro, na procura de bons negócios, os que têm grandes vantagens competitivas e capacidade para as manter por muitos e bons anos; segundo, no desconto a que a acção transacciona no mercado em relação ao valor justo determinado para a empresa.
É claro que uma excelente empresa pode não ser um bom investimento se comprarmos as suas acções sem margem de segurança. A Microsoft, em 2000, já era uma empresa excepcional. Contudo não era um bom negócio e quem a comprou ainda está a perder dinheiro.
O nosso objectivo na gestão de patrimónios financeiros é encontrar negócios com características excepcionais a preços sensatos. Os negócios medíocres, mesmo em saldo, não interessam ao investidor em Valor. Uma empresa que consiga gerar retornos elevados no capital investido durante muitos anos, irá capitalizar a riqueza dos seus accionistas a taxas de rentabilidade mais elevadas.
Para se encontrar boas empresas com grande potencial a prazo, é necessário concentrar os esforços na análise dos negócios que lhes estão subjacentes e determinar se essas empresas têm o seu futuro protegido por atributos que lhes conferem vantagens competitivas duráveis.
Empresas que conseguem fazer isto não são comuns, uma vez que a obtenção de retornos elevados atrai concorrentes para o sector o que reduz as rentabilidades do negócio. No entanto, algumas empresas resistem aos ataques da concorrência promovendo o seu crescimento por períodos bastante alargados de tempo. Empresas deste género podem preencher qualquer carteira de investimento em acções que tenha como objectivo obter um bom retorno com risco muito reduzido.
Alguns exemplos de empresas com grandes vantagens competitivas e que ao longo dos últimos 30 anos conseguiram rentabilidades excepcionais: Johnson & Johnson (retorno total: 5233% i.e, 14,16% anuais), Exxon Mobil (retorno total: 7144% i.e, 15,33% anuais), Procter & Gamble (retorno total: 5088% i.e, 14,06% anuais), Wells Fargo (retorno total: 8408% i.e, 15,95% anuais) ou Coca Cola (retorno total: 10202% i.e, 16,69% anuais) têm sofrido competição intensa ao longo destes anos. No entanto, continuam a gerar excelentes retornos do capital.
Existem características estruturais específicas que permitem detectar este tipo de empresas. Os atributos mais comuns que conferem vantagens a um negócio são:
1. activos intangíveis, como marcas fortes, patentes ou licenças regulatórias, que lhe permitem vender produtos e serviços que os seus concorrentes não conseguem replicar,
2. produtos e serviços muito difíceis de abdicar pelos clientes, criando custos de mudança que conferem à empresa poder de fixação de preços,
3. efeitos de rede - uma força poderosa de vantagem competitiva que pode permitir manter os concorrentes à margem por longos períodos de tempo,
4. vantagens na estrutura de custos, que podem ter origem nos processos operacionais, na localização, escala ou no acesso privilegiado a determinado activo (uma matéria-prima, por exemplo), que permite à empresa disponibilizar bens e serviços a preços mais baixos que os concorrentes.
Warren Bufett apelidou este conjunto de vantagens competitivas de Moat, ou seja, o fosso, como os que existiam à volta dos castelos medievais para os proteger dos inimigos e que, no caso das empresas com fundamentos económicos excelentes, contribuem para manter a concorrência afastada do seu negócio e rentabilidades excepcionais.
O objectivo do investidor em Valor é ter em carteira negócios de primeira classe. Ao longo de qualquer período de tempo alargado, estes investimentos provarão ser os vencedores destacados face a outras categorias de activos. Melhor ainda, serão os mais seguros.
Katsenelson não investe num índice, investe num conjunto limitado de excelentes empresas com vantagens competitivas, quando estão baratas.
Na conferência organizada pelo Jornal de Negócios dia 19 deste mês, John Authers, principal conferencista e colunista do Financial Times, fez a sua apresentação defendendo que estamos num mercado "caranguejo", ou seja um mercado que anda de lado.
Embora nunca tenha feito referência a Vitaliy Katsenelson ou ao livro de sua autoria "Sideways Markets" (2011), quem leu o livro percebeu que Authers apresentou os argumentos do autor para dizer que não estamos num bull market, estamos, segundo ele, num mercado "caranguejo", que anda de lado há vários anos e tudo leva a crer que continuará a andar mais alguns.
Na sua apresentação, justifica este possível comportamento para os próximos anos por duas razões: primeiro, pelo facto de estarmos num processo de desalavancagem a nível mundial em que Estados, empresas e consumidores têm que reduzir o seu endividamento. Segundo, porque o mercado se encontra ao valor justo, ou seja, os PER´s - Price Earnings Ratio - avaliados com base na média dos resultados das empresas nos últimos 10 anos, estão a níveis que correspondem ao justo valor que produzem. Apesar das grandes variações observadas nos mercados nos últimos 10 anos, se os investidores tivessem investido no índice, desde 2000, estavam a zero. De acordo com esta teoria, até 2020 os mercados continuarão a andar de lado.
Depois, veio o tempo das perguntas: o que devem então fazer os investidores? Nestas situações as respostas raramente são muito concretas, por limitações impostas pelas instituições que cada um representa, ou outras.
O facto dos índices não "irem a lado nenhum", como referiu Authers, não quer dizer que os investidores não devam investir em acções. Katsenelson defende aliás que há excelentes condições para ganhar dinheiro nestes mercados. É importante saber avaliar as empresas, procurar e encontrar as que têm excelentes posições competitivas e que por isso terão bons resultados, verificar que têm pouca dívida e que são geridas por gestores capazes. Depois, comprar apenas quando estão baratas.
Katsenelson, que regularmente expressa as suas opiniões no Financial Times, Barron´s, Institutional Investor, Bloomberg, New York Post, entre outros, é um investidor em valor conhecido pelo seu bom senso. Katsenelson não investe num índice, investe num conjunto limitado de excelentes empresas com vantagens competitivas, quando estão baratas. Portanto, mesmo quando o mercado "transacciona numa banda", é possível obter boas rentabilidades.
Questionados onde investir, os conferencistas sugeriram o mercado americano, com o argumento que é o mercado que tem recuperado melhor.
No site da Casa de Investimentos, pode encontrar um conjunto de artigos escritos desde Novembro de 2008, no Correio do Minho. Ao longo destes últimos três anos, aconselhamos os investidores a investir em acções americanas. A propósito da descida no rating dos Estados Unidos, e com os mercados a cair cerca de 20% dos máximos do ano, escrevi aqui o primeiro artigo: "Ignore a Multidão". Explicámos porque era aquela altura excelente para comprar acções de boas empresas, grandes máquinas de fazer dinheiro para os seus accionistas e que estavam baratas. Desde então, o mercado subiu cerca de 25%.
Como diz Warren Buffett, "O futuro nunca é claro e paga-se um preço muito elevado por um consenso alargado. Aliás, a Incerteza é amiga do investidor de longo prazo"
Continuamos a encontrar excelentes empresas a transaccionar a desconto significativo do seu valor. Contudo, são hoje muitas menos. É, na minha opinião, muito importante dizer aos investidores que é fundamental avaliar os negócios por trás dessas acções e certificar-se que estão baratas. Só assim protegem e rentabilizam o seu dinheiro, quer o mercado se comporte em "sideways" ou não.
Só com más notícias é que conseguimos comprar boas empresas baratas. Como disse um dia Keynes, quando todos concordam com os méritos do investimento já ele estará caro.
Caro leitor ,
Venho trazer ao seu conhecimento o resumo de uma carta que o conceituado gestor de fundos americano, Jeremy Grantham, dirigiu recentemente ao seus clientes. Tenho a certeza, porque os sigo, que estes princípios lhe serão muito úteis. Recomendo que a guarde e, de tempos a tempos, a releia.
(...)"Acredite na História. No mundo dos investimentos, Santayana está certo: "a história repete-se e esquecer o passado é estar condenado a repeti-lo". Todas as bolhas rebentam e todas as manias passam. Devemos, em absoluto, ignorar os interesses escondidos da indústria financeira e as claques inevitáveis que asseguram, de tempos a tempos, que desta vez é diferente e que vivemos um novo paradigma. O mercado é gloriosamente ineficiente e afasta-se, por vezes muito, do seu preço justo mas, eventualmente, após partir o seu coração e esgotar a sua paciência (...), regressará ao valor justo. Eis como deve actuar.
Não empreste, nem peça emprestado. Se pedir emprestado para investir, está a interferir com a sua sobrevivência. Os portefólios alavancados podem ser destruídos por ordens stop. O endividamento reduz o activo crítico de qualquer investidor: a paciência.
Não ponha todos os seus tesouros num único barco. Este é o mais óbvio de todos os conselhos sobre investimento. Foi uma lição que os antigos mercadores aprenderam literalmente há milhares de anos. Vários investimentos diferentes darão resistência ao seu portfólio e a capacidade de resistir a choques inesperados.
Seja paciente e esteja focado no longo prazo. Espere por um bom jogo de cartas. Se esperou e esperou mais um pouco até que o mercado esteja muito barato, essa será a sua margem de segurança. Só tem que ter coragem de comprar. As acções habitualmente recuperam, os mercados recuperam sempre. Se seguiu as regras anteriores, conseguirá aguentar as más notícias.
Reconheça as suas vantagens face aos profissionais. O maior problema para os investidores profissionais é lidar com o risco de carreira, isto é, proteger o próprio posto de trabalho. O segundo maior problema é o excesso de transacções causado pela necessidade de aparentar estar ocupado para merecer o salário. O investidor individual está muito melhor posicionado para esperar pacientemente pela altura certa enquanto ignora o que os outros estão fazer. Isto é quase impossível para os profissionais.
Tente conter o optimismo. O optimismo é provavelmente uma característica positiva de sobrevivência. A nossa espécie é optimista e, de uma forma geral, as pessoas de sucesso são mais optimistas que a média. Mas o optimismo tem uma desvantagem, principalmente para os investidores: não gosta de ouvir más notícias.
Em raras ocasiões, tente ser corajoso. O investidor individual pode investir uma maior parte do seu portfolio quando surge uma oportunidade única. O maior risco para o investidor profissional - perda de comissões e de clientes - não existe para o investidor individual.
Resista à multidão: os números são mais importantes. Este é o conselho mais difícil de seguir: é difícil resistir ao entusiasmo de uma multidão. Ver os vizinhos a enriquecer no fim de uma bolha enquanto estamos fora do mercado é pura tortura. A melhor maneira de resistir é calcular o valor do mercado, focar-se nestes números e ignorar tudo o resto. Ignore especialmente as notícias de curto prazo: o vaivém das notícias económicas e políticas é irrelevante. O valor das acções está baseado no valor futuro total dos lucros e dividendos que a empresa vai gerar nas próximas décadas.
Seja verdadeiro consigo próprio. É imperativo, para ter algum sucesso nos investimentos, que conheça as suas próprias limitações. Se consegue ser paciente e ignorar a multidão, provavelmente terá sucesso. Mas pensar que o consegue e depois adoptar uma estratégia que lhe permite ser seduzido ou intimidado pela multidão é uma garantia de desastre. Se não consegue resistir à tentação, simplesmente não deve investir na bolsa. (...)"
Com consideração,
Emília O. Vieira
Presidente do Conselho de Administração
Casa de Investimentos - Gestão de Patrimónios, S.A.
As alterações sociais que conduziram a uma "sociedade do lucro", em que o dinheiro se sobrepõe à realização pessoal, mede a nossa valia pelo que ganhamos e gastamos.
O primeiro fundo de investimento, Massachusetts Investors Trust (MIT), foi criado em 1924, nos Estados Unidos e era gerido pelos seus próprios depositários. Apesar desta indústria, na sua génese, ter objectivos e princípios sãos - a proteção dos valores investidos e a recompensa dos donos do dinheiro - estes foram rapidamente adulterados em benefício dos seus gestores e dos conglomerados financeiros.
Várias são as razões que contribuíram para essa transformação:
1. As alterações sociais que conduziram a uma "sociedade do lucro", em que o dinheiro se sobrepõe à realização pessoal, mede a nossa valia pelo que ganhamos e gastamos e corrói o círculo virtuoso de confiança em que a nossa sociedade tão profundamente depende.
2. O crescimento dos Fundos de Investimento e a sua transformação num "grande negócio". A SEC - Securities and Exchange Comission, entendia que a venda de uma empresa gestora de fundos era a venda de um dever fiduciário e os lucros excessivos dos gestores constituíam uma apropriação ilegal dos activos dos fundos. Em 1958, uma decisão judicial veio permitir que estas empresas fossem cotadas em bolsa e detidas por indivíduos que não os gestores dos fundos. O grande objetivo dos fundos passou a centrar-se no lucro e no crescimento do negócio.
Só nos Estados Unidos, passou-se de um volume de 2 biliões em 1950, para 8 triliões em 2005. A guarda dos valores confiados passou para segundo plano. A venda e o comissionamento passaram a ditar a estratégia a seguir. Os fundos passaram a ser um dos negócios mais lucrativos para os gestores, em detrimentos dos investidores. Muitos empreendedores foram atraídos para esta actividade, não com o propósito do dever fiduciário, mas antes com o fim claro de criação das suas fortunas individuais.
O prémio Nobel Paul Samuelson declarou, em 1967, de forma pungente: "Só existe um sítio para fazer dinheiro no negócio dos fundos de investimento - da mesma forma como só existe um sítio para um homem moderado num bar - atrás do bar e não à frente... por isso investi numa empresa gestora de fundos". Olhando para a situação actual, Samuelson estava muito mais certo do que alguma vez poderia imaginar.
John Boogle, fundador da Vanguard, uma das poucas gestoras independentes que restam, conclui: "a indústria dos fundos de investimento desenvolveu uma estrutura que favorece os interesses dos gestores em detrimento dos interesses dos clientes".
3. As gestoras tornam-se subsidiárias dos grandes conglomerados financeiros, os grandes Bancos mundiais: a extraordinária acumulação de activos sob gestão que resultou destas compras - muitas vezes centenas de biliões de dólares - servem somente o interesses dos gestores dos fundos e dos bancos que detêm estas empresas. A consequência deste aumento de dimensão foi a escalada das comissões, muitas vezes escondidas no preço das unidades de participação.
Por outro lado, esta concentração dificilmente serviria os interesses dos clientes. É muito pouco provável que dimensões gigantes e a procura de lucros crescentes tornem a gestão do dinheiro mais eficiente ou baixem os custos para os clientes ou façam a indústria regressar à sua missão original de guarda e valorização dos patrimónios.
Os retornos para os investidores não foram beneficiados com estas alterações. De facto, o inverso é verdadeiro. Os fundos geridos sob a égide de grandes instituições financeiras conseguiram retornos distintamente inferiores aos conseguidos por fundos geridos por empresas não cotadas em bolsa. Um estudo levado a cabo pela Fidelity Investments analisou as performances de 54 gestoras ao longo da década terminada em 2003. As conclusões são espantosas. As oito melhores gestoras não estavam cotadas em bolsa, eram detidas pelos gestores dos fundos.
A independência e o alinhamento com os interesses dos clientes são fundamentais para a protecção e valorização dos patrimónios financeiros.
Os investidores são incentivados a não meter todos os ovos no mesmo cesto e os fundos de investimento proporcionam uma enorme variedade de investimentos.
Na semana passada, fiz aqui um sumário sobre o aparecimento, crescimento e transformação da "indústria dos fundos de investimento". A perspetiva apresentada nesse artigo é apenas do lado da oferta: os volumes extraordinários em gestão e a procura de lucros crescentes passaram a ser os objetivos das instituições financeiros.
Na venda dos fundos de investimento, a banca recorre sempre a argumentos a que os investidores são sensíveis:
1. Vantagens na diversificação de investimentos - os investidores são incentivados a não colocar "todos os ovos no mesmo cesto" e os fundos de investimento proporcionam uma enorme variedade de investimentos em diversas classes de ativos. Desde fundos mobiliários compostos por ações, obrigações, contratos de futuros; fundos sectoriais, de matérias-primas, de índices, fundos imobiliários, e até fundos de fundos, existe uma imensidão de variantes para todos os gostos e perfis inventados pela indústria financeira. Infelizmente aquilo que é vendido como uma vantagem torna-se na sua maior desvantagem: excesso de diversificação e falta de transparência. O fundo de ações com 300 ou 400 empresas terá certamente retornos semelhantes ou piores aos dos índices. Os retornos das boas empresas são diluídos pelas empresas medíocres e menos boas.
Porquê este excesso de diversificação? Os gestores dos fundos, por restrições legais, internas à própria instituição financeira e até para protegerem o seu emprego, enveredam por uma diversificação que tende a refletir as variações dos índices de mercado. Se tiverem performances (ainda que más) que reflitam o mercado, o seu lugar está a salvo. Por outro lado, os gestores e os seus fundos são constantemente avaliados pela performance do último trimestre e, portanto, vendem quando todos vendem e compram quando todos compram, focados apenas no curto prazo.
2. Possibilidade de investir montantes reduzidos - este é um bom princípio para quem tem valores mais reduzidos. No entanto, verificamos que a banca gere patrimónios financeiros relevantes, com uma grande dispersão por muitos fundos de investimento. Uma diversificação sem sentido e propósito, que têm apenas subjacente o comissionamento na venda.
3. Acesso a uma gestão "profissional" - até Junho de 2009, o bancos aconselhavam os investidores a aplicarem o seu dinheiro em depósitos a prazo: "fique conservador e lá para Junho fique mais agressivo". Em Junho, os jornais noticiavam que os gestores de fundos estavam naquela data, mais recetivos à compra de ações. O mercado já tinha subido 40%. Em Agosto de 2011, em duas semanas, o mercado americano recuou 20%. Nos mínimos desta correção, as grandes gestoras mundiais anunciavam nos canais de televisão, CNBC e Bloomberg, que estavam em dinheiro porque o futuro era incerto. Desde essa altura, o mercado americano subiu 24%.
4. Custos de transação baixos. Este argumento é falso na esmagadora maioria dos casos. Os fundos de investimento têm comissões de subscrição, de resgate, de gestão, de performance e custos de transação. O comissionamento é tão elevado que os retornos só podem ser medíocres. Estas comissões não são comunicadas com transparência, são escondidas aos clientes nas cotações das Unidades de Participação.
John Bogle, fundador da gestora de fundos Vanguard, sumariza muito bem o melhor caminho a seguir: "é fundamental que as gestoras sejam detidas pelos gestores e que sejam independentes dos grandes grupos financeiros. Só assim atuam como guardiões dos donos do dinheiro".
Warren Buffett diz-nos como investir com sucesso: devemos comprar ações de empresas com negócios excecionais, geridos por gente capaz e honesta, quando os seus preços estão a desconto substancial do seu valor justo. Assim, o investidor diversifica apenas o essencial e concentra os seus investimentos em 10 ou 12 boas empresas que conhece muito bem e nas quais se sente inteiramente confiante. Este investimento é completamente transparente. Só devemos investir naquilo que entendemos.
A frase que dá título a esta crónica é de Christopher H. Browne e foi extraída de "O Livro do Investimento em Valor".
O princípio central do investimento em valor é a salvaguarda da margem de segurança. Quanto mais baixo for o preço de compra do ativo em que investimos, maior é a margem de segurança que se consegue e consequentemente, maior será o retorno para o investidor.
Nada,, no investimento, surge de forma fácil - e quando parece devemos usar de grande ceticismo na sua análise - e portanto, a margem de segurança é conseguida devido a diversos fatores de natureza negativa: a crise financeira em que vivemos, abrandamento do crescimento económico, problemas com determinado sector, legislação desfavorável, aumento dos custos de matérias primas em determinado sector, problemas que a empresa tem com determinado produto ou mesmo alterações na gestão. Todos estes fatores geram notícias negativas que, independentemente de serem comunicadas de forma esclarecedora ou não, geram um sentimento de pessimismo, por vezes, extremo, que depreciam os preços dos ativos ainda mais.
Todos somos influenciados por notícias que lemos nos jornais e vemos nas televisões, ou pelo que ouvimos a amigos e pessoas que julgamos especialistas. No entanto, todos sabemos também que a melhor altura para comprar ações, uma quinta ou qualquer outro ativo, é quando estão baratos. Contudo, quando as ações estão baratas é muito fácil encontrar motivos para não as comprar. É nestas alturas que é muito difícil ser contrário e ignorar o que a multidão está a fazer. É nestas alturas que toda a gente vende e, em qualquer conversa de circunstância em que o assunto possa surgir, anuncia que já vendeu.
A experiência do passado recente da maior parte dos investidores em Portugal é de perdas muito significativas. Os títulos mais disseminados na bolsa portuguesa são dos que maiores perdas acumulam. É compreensível que os investidores estejam tão céticos e julguem que o futuro seja sempre este. Esta atitude amplia ainda mais a queda das cotações.
O investidor comum não está sozinho. Este foi também o comportamento dos grandes gestores de dinheiro a nível mundial. Entre Outubro de 2008 e Junho de 2009 muitos, nos principais canais de negócios e nas revista e jornais da especialidade, com grande orgulho apregoavam Cash is King, ou seja, dinheiro é rei. Muitos deles mantiveram esta postura e previram a desgraça por muito tempo. Não queriam desistir da sua genialidade de um dia para o outro. Dos mínimos de Março de 2009 até fim de Junho, o principal índice americano S&P500, subiu cerca de 44%. Dinheiro, afinal, não era rei.
É claro que não sabemos quando o mercado começa a subir e portanto, não tentamos adivinhar o dia em que deveremos comprar. Estou aliás convencida que ninguém sabe. Sabemos, no entanto, o preço a que devemos comprar para garantir uma margem de segurança confortável: é quando nos vendem o valor de 1 euro por 60 cêntimos (nalguns casos os "saldos" na bolsa são ainda maiores).
O futuro próximo não é claro para nós. As recuperações económicas não se fazem de um dia para o outro e a estrada apresentará sempre solavancos. No entanto, sabemos que, a prazo, os mercados acabarão por refletir o verdadeiro valor das empresas. Sempre o fizeram no passado. Sabemos também que quando as notícias sobre a economia e as empresas forem favoráveis o mercado já terá subido substancialmente.
O verdadeiro investidor deve estar preparado psicológica e financeiramente para, no curto prazo, ver grandes desvios entre valor intrínseco das ações e preço a que estão a cotar no mercado e aproveitar para fazer bons investimentos.
Uma carteira diversificada em ações de boas empresas nacionais e estrangeiras que geram bons rendimentos (nalguns casos com dividendos superiores aos depósitos a prazo), compradas tão baratas, mantidas por um horizonte de investimento adequado; proporcionarão excelentes rentabilidades.