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Publicado originalmente no blog Chinese Characteristics em 15 de julho de 2021.
Deixem as Balas Voar
Esta é uma altura em que dias parecem anos, especialmente nas empresas tecnológicas chinesas. Poucos dias após o IPO de 4,4 biliões de dólares da Didi Global no Nasdaq, as suas aplicações foram removidas das lojas online por ordem da Administração de Cibersegurança da China. A razão invocada: violações na recolha de dados pessoais.
Ao invés do capital, sinto que são os reguladores chineses que nunca dormem. Nos últimos nove meses, o IPO do Ant Group foi cancelado, os participantes do Community Group Buying foram multados por dumping de preços, Alibaba foi multada por violações anti monopólio e a Meituan também foi multada por violações anti monopólio. Tal como a Oprah distribui carros, todos os gigantes tecnológicos chineses parecem estar na mira dos reguladores.
Então, por que motivo estão os reguladores a ser mais rigorosos?
Na minha opinião, há uma necessidade global de reequilibrar o poder entre o estado, os players tecnológicos e os consumidores; isto exige uma maior intervenção regulatória. Para a China especificamente, ser um país em desenvolvimento significa que tem mais necessidades regulatórias do que outros.
As plataformas tecnológicas representam desafios significativos para a legitimidade dos Estados-nação. Elas estão a transformar-se em instituições de facto, não apenas no fornecimento de serviços essenciais que são centrais para a vida dos cidadãos, mas também na definição das regras de jogo em que a sociedade opera. O Facebook define a política de moderação de conteúdo para um terço do mundo. O Twitter e outros retiraram a plataforma do ex-presidente dos Estados Unidos, reduzindo-o a uma persona non grata digital. Estas são entidades privadas poderosas que são em parte monopólio e em parte bens públicos, mas o bem-estar do consumidor não é uma parte central da sua agenda. Há uma consciencialização cada vez maior entre os legisladores, razão pela qual os governos em três continentes estão a reavaliar o impacto e o alcance que os gigantes tecnológicos têm sobre os seus cidadãos. O techlash é global.
Por ser um país em desenvolvimento com estruturas institucionais subdesenvolvidas, a China enfrenta algumas questões adicionais na sua abordagem à regulação das tecnológicas. Se utilizássemos os sistemas de regulação dos EUA e da Europa como benchmarks, a China estaria atrasada na formulação e implementação de leis rudimentares. As leis anti monopólio da China foram aprovadas pela primeira vez em 2007, quase um século após o US Sherman Act de 1890, o Clayton Act de 1914 e o Federal Trade Commission Act de 1914. Também é importante notar que a Alibaba foi fundada em 1999, a Tencent em 1998 e Baidu em 2000 - antes das leis anti monopólio. As próprias leis não são suficientes e a Administração Estatal de Regulamentação do Mercado (SAMR) foi criada em abril de 2018 com a responsabilidade de fazer cumprir a legislação.
Ainda há muito trabalho a fazer até que os reguladores chineses atinjam a paridade com as práticas ocidentais estabelecidas. É por isso que os detalhes de cada incidente regulatório são bastante mundanos - seja o dumping de preços da CGB ou "escolha uma plataforma entre duas" da Meituan e Alibaba ou preocupações de segurança nacional em torno de dados confidenciais; estes seriam, na sua maioria, casos de fácil resolução no Ocidente, mas são notícia na China. Em parte, porque não aconteceram antes, o que se deve à falta de vontade política e inexistência do aparato jurídico necessário. Gostaria de salientar que a regulamentação deve ser considerada normal, e não limitada aos players de tecnologia. Kweichow Moutai (maior fabricante de bebidas alcoólicas da China), SF Logistics (transportadora) e empresas de cimento foram já escrutinadas ou multadas. As plataformas de tecnológicas têm efeitos de rede, o que muitas vezes significa maiores retornos marginais, mas também uma maior tendência para criar monopólios. Elas jogam com um conjunto diferente de regras económicas relativamente às empresas físicas.
Mas, e se a China não estivesse a utilizar os EUA e a Europa como benchmarks para a regulação? Como já escrevi anteriormente no artigo "O que quero dizer quando falo sobre as tecnológicas chinesas":
"Um tema importante que permeia a tecnologia chinesa é que, sendo a China um país em desenvolvimento com instituições subdesenvolvidas, a tecnologia não está a ampliar as instituições existentes, mas sim a criá-las."
Existe uma relação simbiótica entre as antigas instituições públicas e as novas instituições digitais em ascensão na China. Didi "limpou" o mercado dos táxis, Meituan e Ele.ma agem como inspetores de higiene nos restaurantes. Cada uma das plataformas de conteúdo leva a cabo moderação de conteúdo em nome do partido. O governo é pragmático. Na estrutura de governança autoritária fragmentada da China, os agentes que conseguem introduzir e manter a legibilidade permanecem.
Com estas estruturas híbridas de governança a crescer a ritmo aceleradíssimo, não é óbvio o que deve ser regulamentado e como. Apesar da ausência de linhas mestras, existe uma cadência reguladora a que dou o nome: "deixem as balas voar".
Deixem as balas voar
Para compreender totalmente a China, é essencial ver o filme chamado Let the Bullets Fly. Desde o seu lançamento em 2010, a história de um ladrão que se tornou falso governador na cidade feudal de Goosetown tornou-se um meme do ciberespaço chinês. Repleto de coisas ditas e não ditas sobre as regras e os limites de poder, dinheiro e legalidade na China, Let the Bullets Fly é uma pedra de toque cultural.
Em cenas cruciais - batalhas desconcertantes em que nada é claro - os subordinados perguntam ao governador-ladrão o que fazer. Inevitavelmente, ele responde com a famosa frase "Deixem as balas voar". Ou seja, deixem correr o caos; quem sabe que problemas se resolvem sem intervenção ou quando a maré vai virar. A inação é um ativo durante a incerteza. Intervir nas coisas muito cedo restringe as possibilidades.
Deixando de lado a minha paixão amor pelos memes chineses, esta frase tem uma ressonância especial entre reguladores e economistas. É um bordão muito utilizado nas conversas quando lhes pedem para descrever a abordagem regulatória chinesa. Isto também é confirmado pela teoria macroeconómica: quando os mercados experimentam uma incerteza futura elevada (como é o caso em mercados emergentes) e os reguladores dispõem de ferramentas regulatórias inadequadas, o viés para a inação é uma estratégia dominante.
O lema de Deng (Xiaoping) - "cruzar o rio sentindo as pedras" captura o pragmatismo subtil necessário para navegar novos mundos admiráveis. Em parte, devido a informações imperfeitas e em parte devido à ausência de consenso sobre que abordagens regulatórias adotarem, os reguladores chineses têm historicamente adotado uma abordagem de observar e depois agir.
Há um equilíbrio delicado entre permitir que o crescimento e a inovação tomem forma e, simultaneamente, salvaguardar os interesses da sociedade e dos consumidores. Os reguladores nem sempre acertam; durante as guerras de preços das telecomunicações móveis no início dos anos 2000, os reguladores foram muito brandos. Durante os empréstimos P2P em 2015, eles agiram tarde demais. Durante a era da economia partilhada, as pessoas perderam os seus depósitos no Ofo, antes que a regulação fosse implementada. A cada episódio, os reguladores aprendem com a experiência anterior, aumentam as suas capacidades de supervisão e melhoram no próximo evento. O padrão repete-se: uma vaga de inovação precede a regulamentação, sendo o ponto de inflexão o degradar do bem-estar do consumidor. O resultado é que as empresas saem vivas, mas mudadas - a Lufax, um dos mais importantes credores P2P, também cancelou os seus planos para um IPO em 2018 devido a questões regulatórias. Eles adaptaram-se com sucesso como um credor corporativo e cotaram no Nasdaq em novembro de 2020. O Ant Group está a ser reestruturado, mas tem autorização para continuar.
Na minha opinião, a verdadeira questão aqui não é por que razão estão as empresas tecnológicas a enfrentar regulação - a história da tecnologia chinesa mostra que isto aconteceu sempre. A questão deveria ser: porquê agora? Posso apontar algumas razões:
- As plataformas de tecnologia estão a transitar para a extração de valor em vez da inovação para o crescimento. Com o abrandamento no crescimento do número global de utilizadores de internet chineses e com a maioria dos grandes mercados já digitalizados, os gigantes tecnológicos precisam, para crescer, de aumentar os gastos dos utilizadores existentes. O COVID-19 solidificou as posições das plataformas na vida das pessoas, mas os utilizadores estão a sentir a pressã Há cada vez mais descontentamento com as práticas de discriminação de preços (Didi e outras plataformas cobram preços mais elevados pelos mesmos produtos a clientes mais idosos), com as condições rigorosas que os trabalhadores enfrentam e com as comissões que os comerciantes têm de pagar às plataformas para obterem tráfego e atenção para os seus produtos. Quando o tamanho do bolo não cresce mais, cada player muda para o modo de extração e os consumidores sofrem.
- Rebalanceamento para um ecossistema mais inovador - As metas tecnológicas do 14º Plano Quinquenal são ambiciosas. IA, computação quântica, semicondutores e pesquisa genética - os motores do futuro crescimento tecnológico não serão o e-commerce, mas sim a tecnologia profunda. A observação de Dan Wang de que o futuro chinês está focado na manufatura, no crescimento económico e na economia real está Eu não diria que os gigantes tecnológicos existentes sufocam a inovação, mas não tenho certeza se ajudam. Muito ar e capital são absorvidos pelas guerras de sombras entre a Alibaba e a Tencent. Os dados são segregados em "jardins fechados". O número de novas startups chinesas cai ano após ano. Quando a grande tecnologia não inova, mas, em vez disso, copia ou adquire concorrentes, o ecossistema sofre.
- Maior poder político por trás dos reguladores - os reguladores chineses não são um monó As narrativas em torno das tecnológicas chinesas são muitas vezes destiladas em personalidades, ao passo que, dentro da China, são na verdade uma narrativa de sistemas e das fações concorrentes dentro desses sistemas. É óbvio que teve lugar uma mudança de poder e que há determinação por trás das reformas. Foi o discurso de Jack ou os reguladores acharam que os seus links da Douyin e da Taobao, no WeChat, precisavam de likes? De qualquer forma, se os comentários acerca da investigação da Didi servirem de base, os reguladores têm o apoio das massas chinesas.
O que significa isto para o futuro das tecnológicas da China?
Estou otimista no longo prazo, mas cautelosa no curto prazo. A intenção da regulação não é eliminar a inovação, mas redesenhar os limites em que as empresas privadas podem operar para maximizar os seus lucros. Para que serve uma empresa morta? Especialmente quando se está a lidar com algo tão crucial como os serviços públicos modernos. Dito isto, há um longo lista de espera de regulações a serem cumpridas. As empresas tecnológicas chinesas precisam de lidar com as suas dívidas de tecnologia e práticas de cobrança, agora que sabem que o CAC e o SAMR estão, de fato, atentas. As balas deixaram de voar e a ação começou.
Originalmente publicado na revista Barron's em 8 de junho de 2021
Por que Sou um Resmungão das Criptomoedas
Em meados de abril, fui buscar a minha filha e uma amiga à escola e levei-as à Barnes & Noble. A amiga descobriu que eu "trabalho com ações" e imediatamente começou a fazer perguntas sobre criptomoedas. Que criptomoeda devo comprar? Perguntou ela.
Vou partilhar mais abaixo o conselho que lhe dei. Mas, nesse mesmo dia, recebi três chamadas de familiares do lado da minha mulher - a minha cunhada (uma farmacêutica) e de dois primos da minha mulher (ambos são barbeiros). Todos queriam saber mais sobre criptomoedas. Ninguém me pede conselhos quando apostam as fichas na roleta em Las Vegas, disse-lhes. As criptomoedas enquadram-se na mesma categoria.
Qualquer que seja a classe de ativos que estamos a discutir, quando pessoas que trabalham em áreas muito distantes do investimento me começam a pedir conselhos, fico com a impressão que estamos a chegar a um topo de mercado.
A escrever isto, sinto-me como um velho resmungão. Eu sei que não "percebo". Os amantes das criptomoedas olham para mim como se eu estivesse a defender os filmes mudos e a tratar os "sonoros" como se fossem impostores indesejáveis e de curto prazo.
Quando falamos sobre criptomoedas, precisamos de separar a tecnologia blockchain das chamadas moedas. Embora ainda não tenhamos visto aplicações mainstream do blockchain, tenho a sensação que estão para breve. Dito isto, só porque uma tecnologia é útil, tem muitas aplicações e é amplamente aceite, não significa automaticamente que podemos utilizá-la para criar uma verdadeira moeda.
Eis um exemplo. A Venmo, que pertence ao PayPal, é uma tecnologia muito útil que muitos americanos utilizam semanalmente ou até mesmo diariamente. Os benefícios da utilização generalizada da Venmo, no entanto, acumulam para os acionistas do PayPal e não levam à valorização do dólar americano ou de qualquer outra moeda que seja transacionada.
Quando falamos sobre criptomoedas, temos que deixar claro de qual estamos a falar. Muitas pessoas consideram a Bitcoin o seu Deus e Salvador. No entanto, existem milhares dessas "moedas" por aí, e muitas mais vêm a caminho.
Até muito recentemente, a Bitcoin parecia um claro vencedor. Até Elon Musk a promovia e a Tesla comprou 1,5 biliões de dólares. De seguida, Musk também partilhou connosco o seu amor pela Dogecoin - uma moeda que, literalmente, é uma paródia às criptomoedas - e o seu preço disparou. Algumas semanas depois, Musk percebeu que a Bitcoin é um "Beanie Baby que funciona a carvão", como disse Bill Maher. Devido à natureza descentralizada da Bitcoin, resolver problemas matemáticos inúteis para minar mais moedas consome mais eletricidade do que a Argentina. Musk anunciou que, até que a Bitcoin comece a consumir menos energia, a Tesla não a aceitará como pagamento pelos seus automóveis. Gostava de ver os fundos de pensões orientados para o ESG e que não querem ter Exxon ("Grande Petrolífera do Mal"), a justificar o investimento em Bitcoin. Se ajustarmos a produção de CO2 em relação à utilidade social, a Bitcoin é indiscutivelmente pior para o meio ambiente do que os automóveis com motor de combustão interna (pelo menos os automóveis levam-nos a sítios). Com a energia que se gasta para minar uma Bitcoin, a Visa consegue processar 810.000 transações, cerca de 370 vezes mais rapidamente.
Um dos maiores ativos que o governo dos EUA tem no seu arsenal é o dólar como moeda de reserva mundial. O controlo sobre a nossa moeda dá aos políticos a capacidade de fazer promessas e não as cumprir, gerando déficits orçamentários constantes e imprimindo e pedindo dinheiro emprestado para pagar essas promessas. Somos capazes de incorrer em déficits de triliões de dólares porque o governo dos EUA tem uma impressora de dólares. Washington não vai desistir sem dar luta. Já começámos guerras por menos.
As criptomoedas são um perigo claro e presente para o dólar americano. Há uma grande probabilidade de que o governo dos EUA ilegalizará a utilização de criptos como moedas. Parece rebuscado? O governo dos EUA fez isto com o ouro em 1933. A Índia está a ameaçar banir a Bitcoin. A Coreia do Sul está a implementar medidas repressivas.
Tenho simpatia por alguns investidores em criptomoedas, especialmente depois de ver o que estamos a fazer com a nossa moeda fiduciária. Mas, para muitas pessoas, as criptos são apenas veículos especulativos. Os pais da minha mulher prestam pouca atenção aos balanços financeiros do governo dos EUA ou da Reserva Federal. Eles estão interessados na bitcoin por um único motivo: está a subir. As criptos apresentam essas oportunidades "únicas" para as pessoas despejarem as suas poupanças em bits e bytes armazenados em servidores distantes com a esperança de que as suas vidas se transformarão magicamente num paraíso na praia.
Quando vamos ao casino, não estamos a apostar as poupanças de uma vida ou a pedir dinheiro emprestado à sogra, a menos que sejamos jogadores compulsivos. O casino não se tenta mascarar como um lugar onde investimos. Se tivermos um pouco de bom senso, sabemos que estamos num casino, um lugar onde as pessoas jogam. O ar é condicionado, ouvimos o ruído interminável das máquinas caça-moedas e não conseguimos encontrar uma saída rapidamente. Uma pessoa razoável só leva para Las Vegas a quantia que puder perder.
As criptomoedas são um animal diferente. Compramo-las em plataformas semelhantes às nossas corretoras, onde (espero eu) investimos. Não estamos a jogar com fichas de casino, estamos a comprar "moedas". De repente, as criptomoedas estão a competir, não com o dinheiro de Las Vegas, mas com a nossa reforma. Esta confusão é muito perigosa. O meu conselho sobre as criptomoedas tem sido consistente: jogue com o dinheiro que pode perder. Mas lembre-se, mesmo quando está a ganhar - especialmente quando está a ganhar - não está a investir, está a jogar. Encare isso como uma viagem a Las Vegas, não uma visita ao dinheiro da sua reforma.
Agora, o conselho que dei à amiga da minha filha. És muito jovem para jogar, disse eu. Se quiseres investir, tens que aceitar que não é uma atividade para enriquecimento rápido, mas uma atividade para enriquecimento lento. Depois de ouvir "lento", acho que ela perdeu o interesse em qualquer conselho que eu tivesse para oferecer. Felizmente, chegamos à Barnes & Noble, e ela não precisou de continuar a ouvir este resmungão. O leitor também não.
Ensaio publicado originalmente no site Future.a16z.com
A Tecnologia Salva o Mundo
Há apenas 15 meses - 13 de março de 2020 - o COVID-19 tornou-se uma emergência nacional nos Estados Unidos. A minha previsão na altura era que os confinamentos do COVID poderiam estender-se até cinco anos, o recorde anterior para o desenvolvimento de vacinas modernas, com muitos milhões de mortes - um cataclismo geracional.
Embora o COVID tenha sido suficientemente devastador nos EUA e no resto do mundo, com 600.000 americanos mortos, e com a destruição assustadoramente maciça de pequenas empresas americanas, não foi tão destrutivo como poderia ter sido. Saímos do COVID anos antes do esperado, com muitos meios de subsistência e negócios preservados, em comparação com o que tínhamos o direito de esperar. E a esmagadora maior parte do mérito vai para a nossa fantástica indústria de tecnologia.
A história mais incrível da tecnologia na era COVID é, inevitavelmente, a história das vacinas. A Moderna, produto do sistema de capital de risco americano, criou a primeira vacina de mRNA COVID dois dias após ter recebido por e-mail o código genético do COVID. É difícil exagerar o progresso tremendo que esta nova plataforma tecnológica significa em termos de velocidade e eficácia - e agora que sabemos como as vacinas de mRNA funcionam, podemos antecipar décadas de novas vacinas para potenciais variantes de COVID e muitas outras ameaças à nossa saúde. Agora temos as ferramentas tecnológicas para literalmente programar a natureza, e a recompensa para o progresso humano será profunda.
Mas a tecnologia aplicada à saúde durante o COVID não parou por aqui. simultaneamente com a imposição de confinamentos, o governo federal dos EUA autorizou o Medicare a cobrir os custos da telemedicina, para que milhões de americanos, que não podiam ir ao médico em pessoa devido a uma variedade de doenças físicas e mentais, pudessem continuar a receber cuidados. A telemedicina é tecnologicamente viável há duas décadas, mas o COVID deu o impulso final para o reembolso dos seguros e, consequentemente, para a adoção em massa, que espero que continue. Nas próximas décadas, os cuidados de saúde de ponta estarão disponíveis independentemente da localização geográfica, e olharemos para esta crise como o ponto de viragem.
A mais assustadora implicação do COVID não relacionada com a saúde foi a paralisação simultânea de grande parte da oferta (produtores) e da procura (consumidores) na economia no início do confinamento. A perspetiva de uma segunda Grande Depressão era muito real, como o colapso do mercado de ações no início de 2020 demonstrou. Mas, um milagre aconteceu - um milagre tecnológico. Grande parte da economia continuou a operar e, na realidade, muitas partes da economia começaram a funcionar ainda melhor no confinamento do que antes. O mérito principal vai para o trabalhador americano, mas quase o mesmo mérito se deve à tecnologia que tornou esse milagre possível.
O desenvolvimento positivamente mais chocante foi que praticamente todo o trabalho de conhecimento na economia simplesmente continuou. Obviamente, as empresas foram forçadas a fechar instalações físicas de produção, por exemplo, fábricas de automóveis, e os trabalhadores da linha da frente sofreram o impacto da exposição pessoal ao COVID durante a pandemia. Mas consideremos o seguinte: nenhuma grande empresa de prestação de serviços - sejam bancos, seguros, comunicações, media, saúde, entre outros - teve qualquer período de inatividade. Todos os trabalhadores de conhecimento foram para casa, ligaram os seus portáteis, entraram no Slack e Zoom, Gmail e Github e seguiram em frente. Devo ter conversado com uma centena de CEOs durante aquele período inicial, e todos eles se mostraram uniformemente chocados com a eficiência do trabalho remoto, desde o início.
E a capacidade de expandir o trabalho para fora do reino físico e para dentro da internet não parou nas grandes empresas. Muitos negócios pequenos foram destruídos pelo COVID, mas muitos outros sobreviveram e até floresceram por causa da internet. A adoção do marketing e pagamentos online explodiu, à medida que muitas pequenas empresas angariaram novos clientes e até expandiram os seus negócios com o COVID. Restaurantes e mercearias passaram imediatamente a fazer entregas e pagamentos sem contacto, tornados possíveis por empresas como Instacart, Doordash e Stripe. E muitas empresas unipessoais, desde terapeutas a instrutores de fitness e tutores, passaram diretamente para a internet, tanto para clientes existentes como para novos.
Entretanto, escolas e faculdades em todo o país passaram para a aprendizagem online, praticamente sem qualquer preparação. Essa transição esteve longe de ser perfeita, mas, mesmo assim, imagine qualquer tentativa deste tipo antes da internet. Apesar do meme viral "Preço de streaming anual: Netflix 108 dólares; Hulu 72 dólares; Disney + 84 dólares; Harvard 50.420 dólares", o ensino e a aprendizagem continuaram. Os sistemas educacionais clássicos, que são conhecidos pela sua inflexibilidade, voltarão sem dúvida ao ensino presencial. Mas ainda assim, fica-se com a sensação de que a caixa de Pandora foi aberta. A educação online agora é uma parte normal do nosso mundo e crescerá nos próximos anos - até porque muitos pais viram com os seus próprios olhos o que seus filhos estão a aprender nas escolas "famosas", não ficaram impressionados e exigirão novas alternativas online.
Por falar em Netflix, Hulu e Disney +, não devemos ignorar o papel que o entretenimento online e o streaming desempenharam. Estar confinado em casa não é agradável para ninguém, mas não há dúvida de que é melhor quando temos à disposição uma gama quase infinita de filmes, programas, músicas e jogos graças à internet. Roblox, por exemplo, ocupou milhões de crianças enquanto os seus pais trabalhavam remotamente, tanto com jogos como com programação. E milhões de adultos utilizaram a internet durante o COVID para aprender xadrez, culinária, jardinagem e milhares de outras coisas. A vida, no confinamento, poderia ter sido uma coisa enfadonha e aborrecida, mas as nossas empresas de media, impulsionadas pela tecnologia, estiveram à altura de um boom sem precedentes na procura online.
A internet ofereceu também ligações humanas. As nossas plataformas de redes sociais funcionaram sob pressão considerável, mantendo as pessoas isoladas ligadas on-line, mesmo quando não podiam estar umas com as outras pessoalmente. Isto foi ainda mais importante para as pessoas que sofriam de COVID ou outros problemas de saúde durante a pandemia. Mais uma vez, temos que imaginar o contrafactual: um mundo com apenas cartas e telefonemas caríssimos, para entender o quanto a nossa tecnologia moderna melhorou a nossa qualidade de vida neste período. Muitas igrejas, sinagogas e mesquitas também ficaram online, assim como casamentos, batizados e funerais, e continuaram a servir as suas comunidades de maneiras que seriam impossíveis até há uma década atrás.
Finalmente, possivelmente a mudança mais profunda impulsionada pela tecnologia - a geografia e a sua influência sobre como vivemos e trabalhamos. Desde há milhares de anos, até ao COVID, a verdade dominante em toda a economia produtiva era que as pessoas precisam de viver onde trabalham. Os melhores empregos estão sempre nas grandes cidades, onde a qualidade de vida é inevitavelmente diminuída pelas restrições práticas da localização e densidade. Isto significava também que o governo das cidades maiores pode ser realmente terrível, já que as pessoas não tinham outra escolha a não ser morar lá se quisessem bons empregos.
O que aprendemos - o que fomos forçados a aprender - durante os confinamentos do COVID destruiu essas conclusões para sempre. Afinal, muitos dos melhores trabalhos podem ser realizados de qualquer lugar, através de écrans e da internet. Afinal, as pessoas podem viver numa cidade menor ou numa vila ou num lugar rural e, mesmo assim, serem tão produtivas como se vivessem num apartamento minúsculo sem elevador numa cidade grande. Afinal, as empresas são realmente capazes de organizar e sustentar o trabalho remoto, mesmo - talvez especialmente - nas áreas mais sofisticadas e complexas.
Esta é, creio eu, uma alteração civilizacional permanente. É talvez a coisa mais importante que aconteceu na minha vida, uma consequência da internet que talvez seja mais importante que a própria internet. Separar permanentemente a localização física das oportunidades económicas permite-nos uma real oportunidade de expandir radicalmente o número de bons empregos no mundo, ao mesmo tempo que melhora drasticamente a qualidade de vida de milhões ou biliões de pessoas. Podemos, finalmente, acabar com a lotaria geográfica, abrindo oportunidades para inúmeras pessoas que não tiveram a sorte de nascer no sítio certo. E as pessoas estão a aproveitar as oportunidades que esta mudança já está a criar, mudando de casa e de emprego a velocidades furiosas. Vamos demorar anos até compreender onde isto nos vai levar, mas estou extremamente otimista.
Em abril passado, fiz um apelo à indústria de tecnologia: está na hora de construir - e estou muito orgulhoso com a resposta dada. Junte-se a mim numa entusiástica - mas virtual! - salva de palmas para todos os incríveis trabalhadores da nossa espetacular indústria de tecnologia que tornaram tudo isto possível. A experiência do COVID tornou cristalino o quão importante é a nossa tecnologia para o florescimento humano. A tecnologia ajudou a salvar o mundo.
Originalmente publicado a 12 de março de 2018 no blog Collaborative Fund por Morgan Housel
Expetativas vs. Previsões
Espero uma ou duas recessões por década. Não sei quando vão acontecer.
Espero que alguns dos investimentos que faço não corram bem. Não sei quais.
Espero que o mercado de ações caia 30% ou mais uma ou duas vezes por década. Mas não sei quando.
Espero que as taxas de juro vão subir. Talvez este ano, talvez não.
Espero outra crise financeira. Mas quem sabe quando virá.
Isto não são contradições ou desculpas. Existe uma grande diferença entre uma expetativa e uma previsão, mesmo que pareçam semelhantes.
Uma expetativa é o reconhecimento de como as coisas funcionaram no passado e irão, provavelmente, funcionar no futuro. Uma previsão é amarrar essa ideia a um ponto específico no tempo.
Num mundo ideal, seríamos capazes de prever detalhes de investimento com precisão meticulosa. Mas, de uma forma geral, não o conseguimos, porque há demasiadas partes móveis e incógnitas para identificarmos exatamente quando e como biliões de estranhos vão agir.
Isto leva-nos frequentemente a duas respostas:
- Prever na mesma, e termos um falso sentido de precisão e confiança.
- Extrapolar, assumindo zero mudanças em relação ao dia de hoje.
Ambas podem ser perigosas. Pode ser bem mais útil ter expectativas sem previsões específicas.
Quando se tem a expectativa de que algo vai acontecer, ao longo do tempo, não ficamos surpreendidos quando acontece. Isto força-nos a investir com margem de erro e prepara-nos psicologicamente para as inevitáveis desilusões. Isto estende-se para além do investimento: planear negócios, planear carreiras, educar crianças, e relacionamentos caem nessa categoria.
A diferença entre "Espero uma ou duas recessões por década" e "Espero uma recessão na segunda metade de 2018" é da largura de dez quilómetros.
A diferença está na forma como cada uma influencia o nosso comportamento. Se tenho a expectativa de que vão ocorrer recessões, não fico surpreendido quando chegam. Mas como não sei quando virão, não levarei a cabo qualquer medida no meu portfólio que tente evitar a próxima recessão. E essas medidas tendem a ser a origem da maioria das más decisões de investimento tanto para amadores como para profissionais.
Não há qualquer razão para fazer previsões a não ser que vá levar a cabo medidas específicas ligadas a essas previsões. Se quer levar a cabo menos medidas sem ignorar intencionalmente o futuro, tenha apenas expectativas.
Isto é humildade intelectual numa indústria que não tem a suficiente.
Ensaio publicado originalmente em paulgraham.com em julho de 2020
Os Quatro Quadrantes do Conformismo
Uma das maneiras mais reveladoras de classificar as pessoas é pelo grau e agressividade do seu conformismo. Imagine um sistema cartesiano de coordenadas cujo eixo horizontal vai de "convencional" à esquerda para "independente" à direita, e cujo eixo vertical vai de "passivo" na parte inferior a "agressivo" na parte superior. Os quatro quadrantes resultantes definem quatro tipos de pessoas. Começando no canto superior esquerdo e no sentido anti-horário: agressivamente convencional, passivamente convencional, passivamente independente e agressivamente independente.
Estou convicto que encontraremos todos estes tipos na maioria das sociedades, e o quadrante em que as pessoas se encaixam depende mais da sua própria personalidade do que das crenças prevalecentes na sua sociedade. [1]
As crianças mais novas fornecem as melhores evidências para ambos os pontos. Qualquer pessoa que tenha frequentado a escola primária encontrou os quatro tipos, e o facto de as regras escolares serem tão arbitrárias é uma prova irrefutável de que o quadrante em que as pessoas se encaixam depende mais delas do que das regras.
As crianças do quadrante superior esquerdo, os agressivamente convencionais, são os queixinhas. Eles não só acreditam que as regras devem ser obedecidas, mas também que aqueles que as desobedecem devem ser punidos.
As crianças no quadrante inferior esquerdo, os passivamente convencionais, são as ovelhas. Eles têm o cuidado de obedecer às regras, mas quando os colegas as violam, o seu impulso é preocuparem-se com a possibilidade de que essas crianças vão ser punidas, não garantir que isso aconteça.
As crianças no quadrante inferior direito, os passivamente independentes, são os sonhadores. Eles não se importam muito com as regras e provavelmente não têm 100% de certeza quais são as regras.
E as crianças no quadrante superior direito, os agressivamente independentes, são os marotos. Quando veem uma regra, o seu primeiro impulso é questioná-la. O simples fato de lhe dizerem o que devem fazer dá-lhes vontade de fazer o oposto.
Quando medimos o conformismo, temos que, obviamente, fazê-lo relativamente a qualquer coisa, e isso muda à medida que as crianças crescem. Para as crianças mais novas, são as regras estabelecidas pelos adultos. Mas, à medida que as crianças ficam mais velhas, os colegas passam a ser a fonte das regras. Portanto, os adolescentes que desrespeitam as regras da escola, exatamente da mesma forma, não têm mentes independentes; antes pelo contrário.
Na idade adulta, podemos reconhecer os quatro tipos pelos seus cantos distintos, da mesma forma que conseguimos reconhecer quatro espécies de pássaros diferentes. O canto dos agressivamente convencionais é "esmagar !" (É bastante alarmante ver um ponto de exclamação após uma variável, mas esse é exatamente o problema de quem tem uma mente convencional agressiva). O canto dos passivamente convencionais é "O que vão dizer os vizinhos?" O canto dos passivamente independentes é "Cada macaco no seu galho." E o canto dos agressivamente independentes é "Eppur si muove". ("No entanto, ela move-se", Diz a lenda que Galileu Galilei, matemático, físico e filósofo italiano, murmurou esta frase depois de ter sido forçado a negar, perante um Tribunal da Inquisição, que a Terra se move à volta do Sol.)
Os quatro tipos não são igualmente comuns. Existem mais pessoas passivas do que agressivas, e muito mais pessoas de mentalidade convencional do que de mentalidade independente. Portanto, os de mentalidade passivamente convencional são o maior grupo, e os de mentalidade agressivamente independente, o menor.
Como o quadrante de uma pessoa depende mais da sua personalidade do que da natureza das regras, a maioria das pessoas ocuparia o mesmo quadrante, mesmo que tivesse crescido numa sociedade bem diferente.
O professor de Princeton, Robert George, escreveu recentemente:
Às vezes pergunto aos meus alunos qual teria sido a sua posição sobre a escravatura, se fossem brancos e vivessem no Sul antes da abolição. Adivinhem? Todos teriam sido abolicionistas! Todos teriam corajosamente levantado a voz contra a escravidão e trabalhado incansavelmente para a combater.
Robert George é demasiadamente bem-educado para o dizer, mas é óbvio que os seus alunos não o fariam. Na realidade, a nossa conclusão por defeito não deveria ser apenas que os seus alunos se teriam, em média, comportado da mesma forma que as pessoas se comportavam na época. Aqueles que hoje têm uma mentalidade agressivamente convencional, teriam, na altura, uma mentalidade agressivamente convencional também. Por outras palavras, os alunos não apenas não teriam lutado contra a escravidão, mas estariam também entre os seus mais fervorosos defensores.
Sou preconceituoso, admito, mas parece-me que as pessoas agressivamente convencionais são responsáveis por uma quantidade desproporcional dos problemas do mundo, e que muitos dos costumes que criámos desde o Iluminismo foram concebidos para proteger o resto de nós deles. Particularmente, o abandono do conceito da heresia e a sua substituição pelo princípio do debate livre de todo o tipo de ideias diferentes, mesmo aquelas que são hoje consideradas inaceitáveis, sem qualquer punição para aqueles que as experimentam para ver se funcionam. [2]
Por que motivo precisamos de proteger aqueles que têm uma mente independente? Porque eles têm as novas ideias todas. Para ser um cientista de sucesso, por exemplo, não basta estar certo. É preciso estar certo quando o resto do mundo está errado. As pessoas de mentalidade convencional não conseguem fazer isto. Por razões semelhantes, todos os CEOs de todas as startups de sucesso não são meramente independentes, são-no agressivamente. Portanto, não é coincidência que as sociedades prosperam apenas na medida em que criaram costumes para "controlar" aqueles que pensam convencionalmente. [3]
Nos últimos anos, muitos de nós têm vindo a notar que os costumes que protegem o pensamento livre foram enfraquecidos. Alguns dizem que estamos a exagerar - que não foram assim tão enfraquecidos ou que o foram ao serviço de um bem maior. Quero esmagar este último argumento imediatamente. Quando os convencionais levam a melhor, dizem sempre que estão ao serviço de um bem maior. No entanto, sempre que isto acontece, é um bem maior diferente e incompatível.
Quanto à primeira preocupação, que os independentes estão a ser demasiado sensíveis e que o pensamento livre não foi muito enfraquecido, não conseguimos julgar isso, a menos que tenhamos uma mente independente. Não conseguimos saber o quão está a ser cerceado o espaço das ideias, a menos que as tenhamos, e só os independentes exploram as ideias que estão nos limites. É precisamente por isto que os independentes tendem a ser muito sensíveis às mudanças na liberdade de explorar novas ideias. Eles são os canários nesta mina de carvão.
Os convencionais juram, como sempre o fazem, que não querem impedir a discussão de todas as ideias, só as más.
Seria de imaginar, só por esta frase, que é óbvio o quão perigoso é o jogo que os convencionais querem jogar. Mas vou explicar tintim por tintim. Há duas razões pelas quais precisamos de ser capazes de discutir até as ideias "más".
A primeira é que qualquer processo para decidir quais as ideias a banir está condenado a cometer muitos erros. Ainda por cima, ninguém inteligente quer fazer este tipo de trabalho, que acaba, portanto, por ser feito por estúpidos. E quando um processo comete muitos erros, temos que deixar uma margem para esses erros. O que, neste caso, significa que precisamos de banir menos ideias do que aquilo que gostaríamos. Mas isso é difícil para as pessoas com uma mentalidade agressivamente convencional, em parte porque gostam de castigar as pessoas, como fazem desde crianças, e em parte porque competem umas com as outras. Os executores da ortodoxia não podem permitir que uma ideia que está nos limites exista, porque isso dá a outros executores a oportunidade de os superar no departamento da pureza moral, e talvez até mesmo de os castigar. Portanto, em vez de obtermos a margem de erro de que precisamos, conseguimos o oposto: uma corrida para o fundo em que qualquer ideia que aparente ser banível acaba mesmo por ser banida. [4]
A segunda razão pela qual é perigoso proibir a discussão de ideias é que elas estão mais intimamente relacionadas do que à partida parecem. O que significa que se restringirmos a discussão de alguns tópicos, isto não afeta apenas esses tópicos. As restrições propagam-se para qualquer tópico que tenha implicações nos tópicos proibidos. E isto não é um caso raro. As melhores ideias fazem exatamente isso: têm consequências em áreas muito distantes das suas origens. Ter ideias num mundo onde algumas ideias são proibidas é como jogar futebol num campo de futebol minado num dos cantos. Não nos limitamos a jogar o mesmo jogo que jogaríamos num campo com um formato diferente. Jogamos de uma forma muito mais cuidadosa e moderada, mesmo na parte do campo que é segura.
Dantes, para se protegerem, os agressivamente independentes reuniam-se em determinados locais - primeiro nas cortes e depois nas universidades - onde podiam, até certo ponto, estabelecer as suas próprias regras. Os locais onde as pessoas trabalham com ideias tendem a ter costumes que protegem a livre investigação, pelo mesmo motivo que as fábricas de chips têm poderosos filtros de ar ou os estúdios de gravação têm um bom isolamento acústico. Nos últimos dois séculos, pelo menos, quando os agressivamente convencionais estavam em frenesim, por qualquer motivo, as universidades eram os locais mais seguros.
Isto pode não funcionar desta vez, devido ao lamentável facto de que a última onda de intolerância teve origem nas universidades. Tudo começou em meados da década de 1980 e, nos anos 2000, parecia ter desvanecido, mas ressurgiu recentemente com o advento das redes sociais. Isso parece, infelizmente, ter sido um autogolo de Silicon Valley. Embora os líderes de Silicon Valley sejam quase todos independentes, acabaram por dar de mão beijada aos agressivamente convencionais uma ferramenta de sonho.
Por outro lado, talvez o declínio do espírito de livre investigação dentro das universidades seja não apenas um sintoma do afastamento dos independentes, mas também uma causa. As pessoas que seriam professores universitários há 50 anos, hoje têm outras opções. Agora podem ser quants ou ter startups. É essencial ter uma mente independente para ter sucesso em qualquer destas áreas. Se essas pessoas fossem professores, teriam resistido vigorosamente em nome da liberdade académica. Portanto, talvez a imagem do êxodo dos independentes das universidades em declínio seja demasiado sombria. Talvez as universidades estejam em declínio porque muitos independentes já as abandonaram. [5]
Embora tenha passado muito tempo a refletir sobre esta situação, não tenho a capacidade para prever como se irá desenrolar. Será possível que algumas universidades sejam capazes de reverter a tendência atual e permanecer como locais onde os independentes desejem reunir-se? Ou os que têm uma mente independente acabarão por gradualmente abandoná-las?
Preocupa-me bastante o que poderíamos perder se isso acontecesse.
Mas tenho esperança no longo prazo. Os independentes são muito bons em proteger-se. Se as instituições existentes estiverem comprometidas, eles criarão novas. Isto pode exigir alguma imaginação. Mas a imaginação é, no final de contas, a sua especialidade.
Notas
[1] É claro que percebo que, se as personalidades das pessoas variam de duas maneiras, podemos pode usá-las como eixos e chamar aos quatro quadrantes resultantes tipos de personalidade. O que estou a afirmar realmente é que os eixos são ortogonais e que há uma variação significativa em ambos.
[2] Os agressivamente convencionais não são responsáveis por todos os problemas do mundo. Outra grande fonte de problemas é o líder carismático que ganha poder ao tornar-se atrativo para eles. Os agressivamente convencionais tornam-se muito mais perigosos quando surgem líderes deste tipo.
[3] Quando geria o Y Combinator, nunca me preocupei se escrevia coisas que ofendiam as pessoas de mente convencional. Se o YC fosse uma fábrica de biscoitos, eu teria enfrentado uma difícil escolha moral. As pessoas de mentalidade convencional também comem biscoitos. No entanto, Elas não fundam startups de sucesso. Portanto, se eu as dissuadi de se candidatarem ao YC, o único efeito foi poupar-nos o trabalho de ler as candidaturas.
[4] Verificaram-se progressos numa área: as punições por falar sobre ideias proibidas são menos severas do que no passado. Não há grande risco de ser morto, pelo menos nos países mais ricos. Os que têm uma mentalidade agressivamente convencional ficam mais satisfeitos em fazer com que as pessoas sejam demitidas.
[5] Muitos professores são independentes - especialmente na matemática, ciências exatas e engenharia, onde é preciso ser independente para ter sucesso. Mas os alunos são mais representativos da população em geral e, portanto, na sua maioria têm mentalidades convencionais. Assim, quando professores e alunos entram em conflito, não é apenas um conflito entre gerações, mas também entre diferentes tipos de pessoas.
Artigo publicado originalmente no blog Enterprising Investor
Daniel Kahneman: Quatro Chaves para uma Melhor Tomada de Decisões
Daniel Kahneman, galardoado com o prémio Nobel, transformou as áreas da economia e do investimento. Na sua essência mais básica, as suas revelações demonstram que os seres humanos e as decisões que tomam são muito mais complexas - e muito mais fascinantes - do que previamente pensávamos.
Na 71ª Conferência Anual do Instituto CFA, em Hong Kong, Kahneman fez uma apresentação cativante de algumas das ideias chave que orientaram a sua carreira: a intuição, a especialidade, vieses, ruído, como o otimismo e o excesso de confiança influenciam o sistema capitalista e como podemos melhorar a nossa tomada de decisões.
"O otimismo é o motor do capitalismo," diz Kahneman. "O excesso de confiança é a maldição. Uma maldição e uma bênção. As pessoas que conseguem grandes feitos, se olharmos para trás, elas eram excessivamente confiantes e otimistas. Correm enormes riscos porque subestimam o quão enormes são esses riscos."
No entanto, ao analisar apenas as histórias de sucesso, as pessoas estão a aprender as histórias erradas.
"Se olharmos para toda a gente," nota Kahneman, "há muitos falhanços."
Os Perigos da Intuição
A intuição é uma forma daquilo a que Kahneman chama pensamento rápido, ou Sistema 1, e frequentemente baseamos as nossas decisões no que o Sistema 1 nos diz.
"Confiamos na nossa intuição mesmo quando está errada," conclui.
No entanto, nós podemos confiar nas nossas intuições - desde que elas se baseiem no conhecimento real. E embora adquiramos conhecimento pela experiência, esta, isoladamente, não é suficiente.
De facto, estudos demonstram que a experiência aumenta a confiança com que as pessoas se agarram às suas ideias, mas não aumenta necessariamente a precisão dessas ideias. O conhecimento exige um tipo particular de experiência, uma que exista num contexto que ofereça feedback regular, que seja efetivamente testável.
Será o mundo em que a intuição surge suficientemente regular para que tenhamos a oportunidade de aprender as suas regras?" questiona-se Kahneman.
No que diz respeito ao sector financeiro, a resposta é provavelmente não.
"É muito difícil imaginar, da análise psicológica do que é realmente o conhecimento, que se possa desenvolver verdadeiro conhecimento na previsão do comportamento dos mercados acionistas," defende Kahneman. "Não é possível porque o mundo não é suficientemente regular para que as pessoas aprendam as regras."
Isto não impede as pessoas de preverem, com elevado grau de confiança, desfechos financeiros com base na sua experiência.
"Isto é um puzzle psicológico," declara Kahneman. "Como pode alguém aprender quando não existe nada para aprender?"
Este tipo de intuição é na realidade superstição. O que significa que não devemos assumir que temos conhecimento em todos os domínios em que temos intuições. E não devemos assumir que os outros o têm.
"Quando alguém nos diz que tem um forte feeling acerca de um evento financeiro", alerta Kahneman, "o a coisa segura a fazer é não acreditar."
Alerta de Ruído
Mesmo em áreas do conhecimento testáveis, onde as relações causais são facilmente discerníveis, o ruído pode distorcer os resultados.
Kahneman descreve um estudo que analisou avaliadores de risco (underwriting) numa seguradora bem gerida. Embora esta não seja uma ciência exata, a avaliação de risco é uma área com regras que se podem aprender e onde o conhecimento pode ser desenvolvido. Os avaliadores têm acesso ao mesmo ficheiro e determinam um prémio. São esperadas divergências nos prémios que cada avaliador determina. A questão é, quão larga é a divergência.
"Que percentagem esperaria?" questiona Kahneman. "O número que vem à cabeça mais frequentemente é 10%. É relativamente alto e um juízo conservador."
No entanto, quando a média foi calculada, chegou-se a uma divergência de 56%.
"Isto, na realidade, significa que os avaliadores estão a perder tempo," declara Kahneman. "Como é possível que alguém ter tanto ruído no seu julgamento e não estar consciente disso?"
Infelizmente, o problema do ruído não está limitado à avaliação do risco nas seguradoras. E não exige múltiplas pessoas. Muitas vezes, uma é suficiente. Na realidade, mesmo em disciplinas mais binárias, utilizando os mesmos dados e o mesmo analista, os resultados podem divergir.
"Onde houver julgamento, há ruído e provavelmente muito mais do que pensamos", declara Kahneman.
Por exemplo, foram mostradas a radiologistas uma série de radiografias e foi-lhes pedido um diagnóstico. Nalguns casos, a radiografia era a mesma.
"Num chocante número de casos, o diagnóstico foi diferente," conclui Kahneman.
O mesmo aconteceu com analistas de impressões digitais e ADN. Ou seja, mesmo em casos onde deveria existir uma única resposta incontestável, o ruído pode tornar a certeza impossível.
"Utilizamos demasiadas vezes a palavra viés."
Embora tenha dedicado a maior parte da sua carreira a estudar vieses, Kahneman dedica-se agora ao ruído. Os vieses, segundo Kahneman, podem ser diagnosticados em excesso, e recomenda que assumamos que o ruído é o culpado na maioria dos erros na tomada de decisões.
"Devemos pensar no ruído como uma explicação possível, uma vez que o ruído e os vieses levam-nos a remédios diferentes," conclui Kahneman.
Retrospetiva, Otimismo e Aversão à Perda
Obviamente, quando cometemos erros, eles tendem a manifestar-se em duas direções opostas.
"As pessoas são muito avessas a perdas e muito otimistas. Trabalham umas contra as outras. As pessoas, porque são otimistas, não têm consciência de quão reduzidas são as probabilidades."
Tal como a pesquisa de Kahneman demonstrou, sentimos perdas mais agudamente do que ganhos.
"A nossa estimativa em muitas situações é de 2 para 1," conclui Kahneman.
Ainda assim, tendemos a sobrestimar as nossas chances de sucesso, especialmente durante a fase de planeamento. E após o desfecho, a retrospetiva é perfeita: o proquê das coisas terem ou não funcionado é sempre óbvia depois do facto.
"Quando algo acontece, compreendemos imediatamente como acontece. Temos imediatamente uma história e uma explicação", diz Kahneman. "Temos a impressão que aprendemos algo e que não cometeremos o mesmo erro novamente."
Estas conclusões estão, habitualmente, erradas. A conclusão não deveria ser uma relação causal.
"O que deveríamos aprender é que fomos, mais uma vez, surpreendidos," Diz Kahneman. "devemos aprender que o mundo é muito mais incerto do que pensamos."
Portanto, no mundo das finanças e dos investimentos, onde há tanto barulho e preconceito e tão pouca experiência e intuição confiáveis, o que podem os profissionais fazer para melhorar a sua tomada de decisões?
Kahneman propõe quatro estratégias simples para uma melhor tomada de decisões que podem ser aplicadas tanto às finanças como à vida.
1. Não confie nas pessoas, confie em algoritmos
Quer seja na previsão de quem vai violar a liberdade condicional, ou ter sucesso como analista financeiro, os algoritmos tendem a ser preferíveis ao julgamento humano independente.
"Os algoritmos batem os indivíduos em cerca de metade das vezes. E empatam a outra metade," diz Kahneman. "Há muitos poucos exemplos de pessoas com melhor performance do que algoritmos em julgamentos preditivos. Assim, quando tivermos a possibilidade de utilizar um algoritmo, devemos fazê-lo. Temos a ideia de que a construção de um algoritmo é muito complexa. Um algoritmo é uma regra. Podemos simplesmente criar regras."
E quando não conseguirem utilizar um algoritmo, devemos formar as pessoas para o simular.
"Formar pessoas numa forma de pensar e numa forma de abordar problemas que imponha uma uniformidade," conclui Kahneman.
2. Tenha uma visão global
Não veja cada problema isoladamente.
"O melhor conselho que podemos dar sobre o enquadramento é o enquadramento amplo", diz Kahneman. "Encare a decisão como membro de uma classe de decisões que provavelmente terá que tomar."
3. Teste o seu arrependimento
"Nas finanças pessoais, o arrependimento é provavelmente o maior inimigo da boa tomada de decisões," diz Kahneman.
Avalie a sua propensão para o arrependimento. Quanto maior o potencial para o arrependimento, mais provável será a rotação excessiva da carteira, as vendas no momento errado e as compras a preços excessivos.
4. Procure bons conselheiros
Um dos componentes para conseguir uma perspetiva ampla é cultivar a curiosidade e procurar orientação.
Quem é então o conselheiro ideal? "Uma pessoa que gosta de si e que não se importa em ferir os seus sentimentos," declara Kahneman.
Para ele, essa pessoa é Richard H. Thaler, também galardoado com o prémio Nobel.
"Ele gosta de mim," acrescenta Kahneman. "E não se importa nada em ferir os meus sentimentos."
No mundo dos investimentos, o nome Warren Buffett é sinónimo de sucesso e prosperidade com este livro, o leitor pode aprender como Warren Buffett conseguiu isso e como ele também pode conseguir.Construindo do zero, Buffett escolheu as suas ações sabiamente e com cuidado, por sua vez acumulando a enorme fortuna pela qual agora é famoso. Mary Buffett, ex-nora deste lendário génio financeiro e uma empresária de sucesso por seus próprios méritos, juntou-se ao famoso Buffettologist David Clark para criar Buffettology, um guia de investimento único que explica as estratégias vencedoras do mestre.
A tecnologia é o setor mais ativo e lucrativo do mercado de ações, mas pode ser um pesadelo para os investidores. Empresas que hoje dominam poderão ser vendidas a preço de saldo dentro de poucos anos.Mark Mahaney, analista de empresas tecnológicas há mais de 25 anos, partilha connosco as lições que aprendeu com os seus triunfos e, principalmente, com os seus erros. Com Mahaney, revisitamos a história da Internet comercial, incluindo o Dot Com Boom e o Dot Com Bust, as empresas que atingiram um sucesso espetacular e as que falharam miseravelmente e revela dez lições para a construção de um portfólio de ações de tecnologia.Nothing But Net oferece conselhos poderosos para as próximas duas décadas - lições que podemos começar a aplicar hoje e ao longo dos próximos anos.
Um guia detalhado para superar as armadilhas psicológicas encontradas com mais frequência no investimento. Vieses, emoção e excesso de confiança são apenas três das muitas características comportamentais que podem levar os investidores a perder dinheiro ou obter retornos mais baixos. As finanças comportamentais, que reconhecem que existe um elemento psicológico em todas as tomadas de decisão do investidor, podem ajudá-lo a superar esse obstáculo. Em O Livro do investimento Comportamental, o especialista James Montier apresenta alguns dos desafios comportamentais mais importantes enfrentados pelos investidores. Montier revela as barreiras psicológicas mais comuns, mostrando claramente como a emoção, o excesso de confiança e uma infinidade de outras características comportamentais podem afetar a tomada de decisão de investimento. O livro apresenta maneiras comprovadas de identificar e evitar as armadilhas dos vieses do investidor, indica como aprender com os nossos erros de investimento em vez de repeti-los e explora os princípios comportamentais que permitirão que o leitor tenha sucesso como investidor. Escrito num estilo simples e acessível, O Livro do Investimento Comportamental permite ao leitor identificar e eliminar traços comportamentais que podem minar os seus esforços de investimento e mostra-lhe como conseguir retornos superiores.
Numa mistura inovadora de ciência e imaginação, o ex-líder da Google China e um dos mais importantes escritores de ficção especulativa unem forças para responder a uma pergunta: como vai a inteligência artificial mudar o nosso mundo nos próximos vinte anos?A IA vai definir o século XXI, mas muitas pessoas sabem muito pouco sobre ela, exceto as visões de robots distópicos ou carros voadores. Embora o termo exista há já meio século, é só agora, defende Kai-Fu Lee, que a IA está prestes a revolucionar a nossa sociedade, tal como tecnologias como a eletricidade e smartphones o fizeram antes. Nos últimos cinco anos, a IA mostrou que pode aprender jogos como o xadrez em poucas horas - e vencer sempre os humanos . A IA ultrapassou os humanos no reconhecimento de fala e objetos, superando até mesmo os radiologistas nos diagnósticos do cancro do pulmão. Dentro de duas décadas, teremos dificuldades em reconhecer a vida cotidiana.Neste livro provocador que alia a narrativa especulativa e a ciência, Lee, um dos maiores especialistas em IA do mundo, juntou-se ao célebre escritor Chen Qiufan para revelar como a IA vai invadir todos os aspectos do nosso mundo, em 2041.
Este livro defende que as forças subjacentes da demografia e da globalização farão em breve reverter três tendências globais de várias décadas a inflação e as taxas de juros vão subir, mas levarão a um retrocesso na desigualdade.O que quer que o futuro reserve, argumentam os autores, nada será como o passado.Os ventos deflacionários das últimas três décadas devem-se principalmente a um enorme aumento na oferta de mão de obra disponível no mundo, devido a tendências demográficas muito favoráveis ??e à entrada da China e da Europa Oriental no sistema comercial mundial.Este livro mostra como estas tendências demográficas estão prestes a reverter-se drasticamente, coincidindo com um recuo da globalização.O resultado? Pode-se esperar que o envelhecimento aumente a inflação e as taxas de juros, trazendo uma série de problemas para uma economia mundial superendividada, mas também deverá aumentar a participação do trabalho, de modo que a desigualdade diminua.Abarcando muitos fatores sociais e políticos, bem como aqueles que são mais puramente macroeconômicos, os autores abordam temas como envelhecimento, demência, desigualdade, populismo, aposentadoria e financiamento de dívidas, entre outros. Este livro merece a atenção de qualquer pessoa que esteja interessada em saber para onde vai a economia mundial.
Uma sondagem de 2020 concluiu que 60% das pessoas pensam que o ritmo de mudança nas suas vidas é muito rápido. As gerações anteriores, confrontadas com motores a vapor ou elevadores pela primeira vez, provavelmente também pensavam assim. Mas, segundo Azeem Azhar, analista de tecnologia e empresário, entramos de facto num período de mudança desestabilizadora e sem precedentes: uma era totalmente nova da sociedade humana e da organização económica a Era Exponencial.Azhar identifica a computação e inteligência artificial, eletricidade renovável e armazenamento de energia, biotecnologia e manufatura (por exemplo, a impressão 3D) como as áreas em que as inovações surgem a um ritmo exponencial: inventam-se e escalam-se novas tecnologias a um ritmo cada vez mais rápido, e simultaneamente, diminuem-se rapidamente os preços.O problema é que, embora a mudança tecnológica esteja a acelerar rapidamente, a nossa sociedade evolui a um ritmo mais gradual e incremental. Resultado? Está a abrir-se uma divisão entre a tecnologia e a sociedade, a denominada, segundo Azhar, lacuna exponencial.Temos vindo a inventar novas tecnologias desde os tempos dos machados de pedra e das pás de madeira. De acordo com Azhar, no entanto, temos muita dificuldade como espécie em compreender a mudança exponencial: As nossas mentes evoluiram para um mundo que ainda não tinha descoberto o poder da mudança rápida.No entanto, indivíduos e empresas ignoram esta mudança rápida por sua conta e risco. Em 2007, Steve Ballmer, da Microsoft, descreveu o iPhone, dizendo: Isto não tem a mínima hipótese de ganhar quota de mercado significativa. Como Azhar observa: Ballmer caiu na lacuna exponencial.Segundo Azhar existe agora um abismo de incompreensão mútua entre os tecnólogos e o resto da sociedade. Os políticos mostram muitas vezes uma profunda ignorância até mesmo das tecnologias mais básicas: Eles são como pessoas que tentam abastecer um carro enchendo a bagageira com feno.Azhar é assumidamente otimista quanto ao poder da tecnologia: Estamos a entrar numa era de abundância. O primeiro período da história humana em que a energia, comida, computação e muito mais serão trivialmente baratos de produzir.
O que quer que a liberdade financeira signifique para nós viver a vida que quisermos, não trabalhar de acordo com os horários dos outros, ser dono do nosso destino ou qualquer outro sonho a forma de a atingir é investir.Neste livro conciso e acessível, Ben Carlson e Robin Powell mostram como tomar o caminho da liberdade financeira através da poupança e do investimento.Não se trata de ficar rico de um dia para o outro. Criar riqueza através do investimento com o objetivo de longo prazo da liberdade financeira exige disciplina, sacrifício e tempo.Mas é possível, e quase qualquer um pode fazê-lo, se munido das informações corretas.Invest Your Way to Financial Freedom partilha connosco todas as etapas que precisamos de seguir para alcançar os nossos objetivos e inclui respostas claras e simples para as seguintes perguntas:Porque é que poupar é importante?Porque é que investir é a melhor forma de criar riqueza?O que podem os investidores esperar do mercado de ações?É tarde demais se não começarmos cedo a poupar e a investir?
Os nossos objetivos pessoais precisam de uma estratégia de longo prazo.Assim como alguns CEOs privilegiam os lucros trimestrais em detrimento dos investimentos estratégicos necessários para o crescimento de longo prazo, o mesmo acontece nas nossas vidas pessoais e profissionais.Todos sabemos intelectualmente que o sucesso duradouro exige persistência e esforço. No entanto, a pressão implacável omnipresente no mundo moderno leva-nos a escolher o que parece fácil, garantido ou o que está na moda.Em The Long Game, Dorie Clark defende um caminho diferente. Clark partilha princípios que podemos aplicar à nossa situação específica, bem como histórias da sua própria carreira e experiências de outros profissionais. Todos temos as mesmas vinte e quatro horas, mas com as estratégias certas, podemos aproveita-las de forma mais eficiente.Este não é um processo que dará resultados da noite para o dia, mas a recompensa a longo prazo é imensa.
A sugestão de hoje surge-nos de Hugo Palma, informático de profissão e formação, filósofo e desportista por paixão, inconformado com o desinteresse por natureza. Leitor de menos livros de ficção do que por vezes gosta de admitir, mas os temas não ficcionais ganham quase sempre na constante batalha do próximo livro a atacar."O otimista diz O copo está meio cheio. O pessimista diz O copo está meio vazio. O racionalista diz Este copo é o dobro do tamanho que precisa de ser.Para muitos filosofia é sinónimo de algo desprovido de aplicação prática, uma ciência romântica da qual pouca utilidade poderá ser espremida. Proponho que repensem a filosofia como a base para toda a lógica argumentativa mas sem perder de vista o sentido de humor e a capacidade de rir de nós próprios. Neste livro são abordados conceitos basilares da filosofia antiga através de pequenas histórias e anedotas numa voz livre de preconceitos e classicismos. Se filosofia sempre foi aquele tema que pareceu aborrecido ou se simplesmente quer uma resumida e divertida passagem pelos principais filósofos antigos, este é o livro para si."
Mais uma obra-prima de um dos meus autores favoritos. . . Se procura saber mais sobre muitas das forças fundamentais que moldam a vida humana, este é o livro a ler. É um tour de force Bill Gates Nunca tivemos tanta informação ao nosso alcance e, no entanto, a maioria de nós não sabe como o mundo realmente funciona. Este livro explica sete das realidades mais fundamentais que governam a nossa sobrevivência e prosperidade. Desde a produção de energia e alimentos, passando pelo mundo material e pela globalização, até aos riscos que ameaçam a nossa civilização, o meio ambiente e o seu futuro, How the World Really Works oferece-nos uma verificação de realidade muito necessária no fim de contas, antes de podermos enfrentar os problemas de forma eficaz, temos que compreender os factos.Neste livro ambicioso e provocador, vemos, por exemplo, que a globalização não é inevitável - os perigos de permitir que 70% das luvas de borracha do mundo sejam fabricadas em apenas uma fábrica tornaram-se evidentes em 2020 - e que as nossas sociedades têm vindo a aumentar cada vez mais a sua dependência dos combustíveis fósseis, tornando cada vez mais improvável a sua completa e rápida eliminação. Por exemplo, cada tomate cultivado em estufas exige, para a sua produção, o equivalente a cinco colheres de sopa de gasóleo; e ainda não temos formas comercialmente viáveis ??de fabricar aço, amónia, cimento ou plástico, à escala exigida globalmente, sem combustíveis fósseis.Vaclav Smil não é pessimista nem otimista, é um cientista; ele é o perito líder mundial em energia e um polímata surpreendente. Com base na ciência mais recente, Smil responde à pergunta mais profunda dos nossos tempos: estamos irrevogavelmente condenados ou espera-nos uma utopia mais brilhante? Convincente, rica em dados e revisionista, esta obra-prima interdisciplinar encontra falhas em ambos os extremos. Olhar o mundo através desta lente quantitativa revela verdades ocultas que alteram a forma como encaramos o nosso passado, presente e futuro incerto.
Um guia em forma de manualPara que todos os clientes possam entender melhor a filosofia de investimento e como este processo de seleção é posto em prática, a Casa de Investimentos lançou, este ano, o Manual do Investidor. O livro é um guia e também uma promessa para todos os clientes e quer mostrar que temos uma filosofia de investimento bem estruturada. Só as melhores empresas servem, conforme explicou Emília Vieira, CEO e fundadora da Casa de Investimentos.O manual contém as linhas mestras do investimento, de um processo que passa por analisar profundamente estas empresas e fazer uma análise qualitativa, a história da empresa, os seus processos. Não há caminhos rápidos. E rápidos também não são os ganhos. É por isso que a gestora tem um foco de longo prazo, ignorando o ruído de curto prazo.Investir em ações não é um jogo de sorte e azar, realçou Emília Vieira, notando que todos nós somos vítimas dos nossos vieses comportamentais. Cada um valoriza a experiência que tem. Mas, nos últimos mais de 100 anos, o ativo que melhor rentabilizou o capital foram as ações.
The Perfection Trap, de Thomas Curran, professor da London School of Economics, explora como a busca pela perfeição pode tornar-se uma obsessão perigosa que leva ao esgotamento e à depressão - impedindo-nos de alcançar os nossos objetivos.Hoje, o esgotamento e a depressão estão em níveis recorde, impulsionados por uma combinação de intensa competição no local de trabalho e redes sociais opressivamente omnipresentes.A sociedade publicita continuamente a necessidade de querer mais e de ser perfeito.Nesta obra, Curran sugere introspecção e mudanças sociais mais amplas. Mostra-nos o que podemos fazer como indivíduos para resistir à pressão moderna de sermos perfeitos e, ao fazê-lo, conquistarmos para nós próprios uma vida com mais propósito.The Perfection Trap dirige-se a todos aqueles que já se sentiram oprimidos pela necessidade esmagadora competir para além de qualquer racionalidade.
Um livro profundamente relevante de um dos principais escritores financeiros do mundo, The Price of Time explica a situação financeira global atual e como aqui chegámos.No início era o empréstimo, e o empréstimo tinha juros. Há pelo menos cinco mil anos que as pessoas pedem dinheiro emprestado e emprestam dinheiro com juros. Esta prática nem sempre foi popular no mundo antigo, a usura era geralmente vista como exploradora, um caminho potencial para a servidão e escravidão.No entanto, à medida que o capitalismo se estabeleceu a partir do final da Idade Média, as críticas aos juros foram sendo atenuadas porque os juros eram uma recompensa essencial para que os credores aplicassem o seu capital. E o juro desempenha muitas outras funções vitais: incentiva as pessoas a poupar; permite que valorizem ativos preciosos, tais como casas e todos os tipos de títulos financeiros; e permite-nos pôr um preço no risco.Todas as atividades económicas e financeiras acontecem ao longo do tempo. O juro é frequentemente descrito como o preço do dinheiro, mas na realidade é melhor descrito como o preço do tempo: o tempo é escasso, o tempo tem valor, o juro é o valor do dinheiro no tempo.Nas duas primeiras décadas do século XXI, as taxas de juros caíram mais do que nunca. O dinheiro fácil após a crise financeira global de 2007/2008 causou vários efeitos nefastos, incluindo o aparecimento de várias bolhas de preços de ativos, um abrandamento no crescimento da produtividade, desencorajando a poupança e exacerbando a desigualdade e forçando investidores sedentos por rendimento a assumir riscos excessivos.O mundo financeiro encontra-se agora num lugar difícil e Edward Chancellor está aqui para nos explicar porquê.
Qualidade. Todos nós fazemos diariamente julgamentos sobre a qualidade. No entanto, articular uma definição clara de qualidade no contexto do investimento é um desafio. Este livro aborda esse desafio e destila anos de experiência prática de investimento numa sistematização definitiva desta filosofia de investimento.A teoria financeira afirma que os resultados anormais não perduram, que o desempenho excecional rapidamente se tornará mediano. Investir em qualidade implica procurar empresas com os atributos certos para superar essas forças de reversão à média e, mais importante, investir nessas excelentes empresas para o longo prazo.Este livro aponta e analisa as características que aumentam as probabilidades de uma empresa ter sucesso ao longo do tempo - bem como aquelas características que impedem esse sucesso. Ao longo do livro são abordadas uma série de fascinantes casos de estudo reais que ilustram os traços que significam qualidade.
Antes de 1870, a humanidade vivia em extrema pobreza, com um lento arrastar de inovação que não conseguia acompanhar o crescimento demográfico. Então irrompeu uma grande mudança: a inovação acelerou o passo, duplicando as nossas capacidades tecnológicas a cada geração e transformando completamente a economia, uma e outra vez. Os nossos antepassados assumiriam que teríamos utilizado tais poderes para construir uma utopia global. Mas não foi assim. Quando 1870-2010 terminou, o mundo acordou para o aquecimento global; depressão económica, incerteza e desigualdade; e a ampla rejeição do status quo. Slouching Towards Utopia, do economista Brad DeLong, conta a história de como ocorreu esta explosão de riqueza material sem precedentes, como ela transformou o mundo e por que motivo não nos conseguiu levar à utopia. De notável amplitude e ambição, este livro revela que o século passado não foi tanto uma marcha em direção ao progresso, mas sim um cambalear na direção certa.
Nesta obra, John Kay, escreve: O setor financeiro cresceu em demasia, distanciou-se dos negócios normais e da vida quotidiana e transformou-se numa indústria que, na maior parte das vezes, faz negócios consigo própria, fala sozinha, e julga-se a si mesma com os padrões que ela própria criou. E o mundo cá fora adotou esses padrões, salvando as instituições financeiras que nos falharam com a sua ganância e incompetência.Numa análise crítica ao que se tornou o negócio do setor financeiro, Kay realça que o livro pretende apresentar um plano provisório para as autoridades se prepararem para a próxima crise. É hora de voltar ao trabalho: o negócio sério e responsável de gerir o dinheiro das outras pessoas.
O Investimento em Valor consiste em comprar bons activos a preços substancialmente abaixo do seu valor justo. Preço é o que se paga, valor é o que se recebe, e da diferença entre preço e valor o investidor obtém a Margem de Segurança, a "almofada" necessária para proteger os valores investidos.
Quando é que o investidor consegue comprar activos muito abaixo do seu valor, com Margem de Segurança?
A Margem de Segurança é conseguida graças a factores de vária ordem: resultados trimestrais abaixo das expectativas; um problema do sector - como o aumento dos custos de matérias-primas; um produto defeituoso que obriga à retirada do mercado; uma alteração legislativa que afecta o negócio; ou uma recessão que afecta o mercado em geral. Existirá sempre algo que faz com que uma acção, um sector ou o mercado no seu todo, se deprimam. Cabe ao Investidor em Valor detectar essas oportunidades, analisá-las e determinar, baseado nos dados fundamentais da empresa, o impacto que tais eventos possam ter nos seus resultados e na sua capacidade de criar riqueza para os seus accionistas, no futuro.
É importante que o investidor em acções e obrigações esteja preparado, psicológica e financeiramente, para as flutuações dos preços destes activos no mercado. O facto de terem grande liquidez e de serem facilmente comprados ou vendidos no mercado onde milhões de vendedores e compradores se encontram diariamente, torna estes activos susceptíveis a variações, por vezes muito significativas. O preço da acção pode estar muito desfasado do valor da empresa subjacente, do seu negócio e da sua capacidade de produzir bons retornos a médio e longo prazo.
Na bolsa, o "Sr. Mercado" está sempre disposto a comprar e a vender; às vezes eufórico, oferece um preço muito acima do valor do negócio e outras vezes, deprimido, oferece um preço muito abaixo do valor. Quanto mais deprimido estiver o "Sr. Mercado" (analogia criada por Benjamin Graham para explicar os movimentos dos mercados), maior é a diferença entre preço e valor e, por isso, melhores serão as oportunidades de investimento e maior a Margem de Segurança conseguida para o capital investido. Não somos, no entanto, obrigados a transaccionar diariamente com o "Sr. Mercado". O investidor não é obrigado a comprar ou a vender. Deve fazê-lo apenas quando o preço lhe for conveniente.
Quando o investidor vê títulos que tem em carteira a transaccionar a preços muito abaixo do seu valor não deve , apenas porque existem opiniões contrárias à sua ou porque alguém lhe diz que o preço hoje é mais baixo, vendê-los. Da mesma forma que o proprietário de um imóvel, quando abordado por um potencial comprador que lhe oferece um preço 20 ou 30% abaixo do real valor, recusa essa oferta, também o investidor em acções deve aguardar que alguém esteja disposto a pagar o preço que reflicta o valor justo do activo .
O Investimento em Valor pressupõe que o investidor se mantenha focado no valor dos negócios das empresas que tem em carteira e nas oportunidades de investimento a prazo, consciente e fiel aos seus princípios de investimento.
Actualmente, o investidor que possui uma carteira diversificada e o horizonte de investimento adequado, deve, caso tenha dinheiro disponível, aproveitar as quedas do mercado para reforçar algumas posições que possam ter ainda ficado mais baratas. Só há uma altura em que devemos investir em acções e essa altura é quando estão baratas.
As variações de curto prazo devem ser aproveitadas para a realização de bons negócios, tendo sempre presente o sentido oportunista da regra : comprar barato e vender caro.
"Encare as flutuações de mercado como amigas e não como inimigas; lucre com a loucura em vez de participar nela"
-- Warren Buffett
Defende o multimilionário Warren Buffett que "o futuro nunca é claro e paga-se um preço muito elevado por um consenso alargado. Aliás, a incerteza é amiga do investidor.
O Investimento em Valor é uma filosofia de investimento intuitiva e com grande racional económico que enfatiza a necessidade de levar a cabo uma análise muito detalhada dos fundamentos das empresas, a busca de resultados a médio e longo prazo, com risco limitado e capacidade para resistir à psicologia da multidão.
No último ano e meio os mercados mundiais têm sido muito influenciados pela resolução da crise de dívida na Grécia e o seu contágio a outros países. Depois do acordo conseguido na semana passada em que a banca foi forçada a assumir uma perda de 50% dos valores que detinham em obrigações da Grécia, ninguém previu que o primeiro Ministro grego viesse agora, passado 18 meses do início da crise e depois de assinar o acordo com a união Europeia e FMI, referendar o acordo.
Temos portanto condições para que os analistas, comentadores e jornalistas se entusiasmem a analisar, a escrever e a prever o que possa ser o futuro próximo, sobredimensionando aquele que pode ser o verdadeiro impacto que este importante evento possa ter na vida das pessoas e das empresas. A verdade é que condicionam a tomada de decisões de consumo, de investimento e de poupança dos agentes económicos.
No final dos anos 90 as previsões dos analistas e especialistas em estratégia tornaram-se mais importantes do que nunca nos mercados financeiros. Infelizmente não se tornaram mais precisas e os exemplos são imensos. Hoje há previsões sobre a variação futura de todo o tipo de indicadores, desde inflação, taxas de juro, desemprego, resultados trimestrais das empresas, passando pelos preços dos mercados de acções e de obrigações, matérias-primas etc. Quando os números reais observados são divulgados, e raramente coincidem com as previsões, estão automaticamente justificadas as condições para que se comportem com grande volatilidade. Ora, isto não faz sentido algum. A origem das previsões, ou necessidade de conforto de algum conhecimento sobre o que possa ser o futuro, vêm limitar a capacidade de tomar decisões assentes num racional económico.
"O futuro nunca é claro e paga-se um preço muito elevado por um consenso alargado. Aliás, a Incerteza é amiga do investidor de longo prazo"
-- Warren Buffett
O investidor em valor aproveita as alturas de grande incerteza, em que o medo leva a uma desvalorização generalizada dos activos, que apesar de baratos ficam ainda mais baratos, e, consciente do valor das empresas, dos seus negócios, da sua capacidade de produzir lucros e os aumentar ao longo do tempo, tem o conhecimento, coragem e a experiência para comprar acções cujo preço hoje no mercado é muito inferior ao seu valor. A incerteza é pois uma das razões pelas quais conseguimos uma margem de segurança maior e uma taxa de retorno superior quando procedermos à venda do activo.
A propósito da incerteza e sobre o melhor investimento a prazo, o Sr. Warren Buffett numa entrevista num canal de televisão americano dizia: "Eu não sei onde o mercado vai estar amanhã ou dentro de uma semana, um mês ou um ano. Sei, no entanto, que se tivesse à escolha manter dinheiro em caixa ou em obrigações a 30 anos ou em acções, não hesitaria um segundo em escolher acções. O mercado já subiu um bom bocado desde Março, mas ainda está muito abaixo de onde estava há três ou quatro anos. Se eu fosse comprar uma quinta da qual serei o dono durante os próximos 50 anos e alguém me dissesse, com grande grau de certeza, que este vai ser um ano terrível em termos meteorológicos, eu não diria "então só vou pagar $1.100 por acre, mas, se me fizer uma previsão favorável, pagarei $1.500!". Tenho de aceitar que terei alguns anos horríveis em termos de tempo. Mas também terei muitos anos bons e alguns anos excelentes. Penso que a ideia de que podemos temporizar os investimentos com base no que achamos que o negócio vai fazer no próximo ano ou dois, é o pior erro que os investidores podem cometer porque a incerteza existe sempre. As pessoas dizem que esta é uma altura de incertezas. Também era uma altura de incerteza em 10 de Setembro de 2001, as pessoas é que não o sabiam. Todos os dias são incertos. Portanto temos que tomar a incerteza com uma parte integrante do investimento. Mas a incerteza pode ser nossa amiga. Quero dizer, quando as pessoas estão assustadas, pagam menos pelas coisas. Devemos tentar encontrar o melhor preço e não tentar adivinhar a direcção do mercado. E, em termos de preço, hoje prefiro investir em acções."
A poupança deve ser vista como uma indispensável forma de bem-estar, como reserva de valor ou como garantia de um consumo futuro.
Ter o dinheiro seguro deixou de ser um luxo para passar a ser uma necessidade absoluta. Investidores e aforradores não podem agora contar com "relações de confiança", com os mercados a subir ou os estados para os proteger no futuro.
Nunca se ouviu falar tanto da necessidade de estados, empresas e famílias pouparem, equilibrarem os seus "balanços" e criarem uma "almofada" para a reforma, para um imprevisto ou para a educação dos filhos. No passado recente, fomos todos incentivados a consumir, a pedir ao futuro o mais possível para usufruir no presente. Com muita frequência, um particular com alguma poupança que entrasse num banco para pedir um crédito à habitação, era aconselhado a recorrer a financiamento para o valor total da casa. Muitas vezes era aconselhado a aplicar a poupança que tinha acumulado em produtos estruturados, cuja matriz de rentabilidade está enviesada para o lado do emitente, em obrigações de estados e empresas, em acções a qualquer preço. Frequentemente, endividava-se para comprar ainda mais acções. O resultado? Carteiras de investimento extremamente desvalorizadas e um endividamento excessivo em relação ao rendimento disponível, que entretanto, se reduziu devido ao aumento da carga fiscal, à redução de salários e até à perda de emprego. Apesar disto, há muitos que dizem que na Ásia se poupa muito mais com muito menos.
A importância da Poupança é reforçada pela cada vez mais certa decadência do sistema de segurança social em virtude da alteração da estrutura da pirâmide etária (aumento da idade média de vida, diminuição da natalidade e menor número de pessoas em idade activa), dos elevados défices incorridos por sucessivos governos, pela grave crise financeira na Europa e pela fraca competitividade da economia nacional face aos principais parceiros europeus. Estes factores obrigam-nos a pensar em programas de poupança individual que compensem a redução violenta das prestações de reforma.
A Poupança deve ser vista como uma indispensável forma de bem-estar, como reserva de valor ou como garantia de um consumo futuro, permitindo maior controlo sobre o nosso destino.
Contudo, tão importante como poupar é rentabilizar a poupança. O maior risco que enfrentamos quanto à manutenção do estilo de vida no futuro, é a possibilidade das nossas poupanças não acompanharem a subida do nível de preços durante os anos ou décadas que faltam para a reforma. Por isso, a poupança implica um plano de longo prazo para ser bem sucedida.
O investidor inteligente, ao investir em acções, assegura-se que está a investir em activos que produzem rendimentos ao longo do tempo, tendo sempre presente o princípio da margem de segurança, isto é, garantindo que está a comprar muito valor por um preço baixo. Há inúmeros estudos que comparam o investimento em diversas classes de activos ao longo de várias décadas e as acções surgem consistentemente como o activo com melhores rentabilidades.
Alguns pontos percentuais de retornos superiores podem ter um impacto enorme na riqueza que vai acumular ao longo do tempo. Suponha que investe 10.000 Euros na sua conta de reforma e que esse valor rende 3% (a taxa de inflação média das últimas 8 décadas) anualmente durante 30 anos, o tempo médio que se poupa para a reforma. Quando chegar a altura de se reformar, terá no seu pé-de-meia cerca de 24.273 Euros. Uma soma simpática! Contudo, se os seus 10.000 Euros renderem, no mesmo período de 30 anos, 10% anuais (a taxas de retorno anual do mercado de acções norte-americano no mesmo período), o seu pé-de-meia atingiria os 174.494 Euros. Isto faria uma diferença enorme na forma como viveria os seus anos de reforma. Tal como faz sentido comprar roupas ou electrodomésticos em saldo, também faz sentido comprar acções em saldo. As acções em saldo dar-lhe-ão mais valor por menos euros.
Tão importante como poupar é "dar vida" à poupança.
A chave para investir com sucesso é a compra de acções de empresas com negócios fabulosos, geridos por gente capaz e honesta, quando os preços estão a desconto.
Todos os dias, os investidores podem comprar e vender milhares de empresas cotadas nas bolsas mundiais, obrigações de governos e empresas no mercado secundário; inúmeros produtos derivados e estruturados, fundos de investimento, hedge funds Warrants, ETF´s etc. Estes activos são "criados" por instituições financeiras mundiais com dois objectivos: criar a ilusão aos investidores de que podem enriquecer da noite para o dia e gerar comissões. Os investidores são "incentivados" a ter uma carteira muito diversificada de produtos financeiros, para reduzir os riscos. O pretexto é "não ponha os ovos todos no mesmo cesto".
Aprendemos com Benjamin Graham e Warren Buffet que a chave para investir com sucesso é a compra de acções de empresas com negócios fabulosos, geridos por gente capaz e honesta, quando os seus preços estão a desconto substancial do seu valor justo.
Seguindo este critério, o investidor inteligente vê o universo de empresas e activos em que deve investir o seu dinheiro muito reduzido. Atendendo que os seus recursos, quer de tempo, para levar a cabo uma análise profunda e posteriormente acompanhar estes negócios, quer de capital para investir, são escassos; o investidor deve concentrar os valores a investir em 10 ou 12 boas empresas que conhece muito bem, que se encontram dentro do seu círculo de competências e possuem as características apresentadas acima.
Se considerarmos, primeiro, avaliar as perspectivas económicas de longo prazo das empresas e as suas vantagens competitivas; segundo, avaliar a qualidade das pessoas encarregues de as gerirem; e terceiro, tentar comprar algumas destas empresas a preços sensatos, acreditamos que a politica de concentração do património financeiro num conjunto limitado de boas empresas, reduz muito o risco do investimento. O investidor sabe muito mais acerca de cada um dos negócios e tem muito maior conforto com as suas perspectivas económicas para o futuro. Isto permite-lhe adoptar uma política de comprar e manter, em vez de estar sempre a comprar e a vender, incorrendo em comissões exageradas e perdas de capital.
Quando o investidor sabe a qualidade dos activos que tem em carteira, mais facilmente resiste a opiniões contrárias à sua, ignora a "multidão" e todo o comportamento emocional que o "Sr. Mercado" vai apresentando diariamente.
Este método de investimento, quando comparado com um fundo "diversificado de acções", produz retornos superiores ao longo do tempo. Os gestores de fundos de investimentos acreditam que se alocarem os capitais dos investidores por um grande número de acções de empresas, muitas vezes 300 ou 400 títulos diferentes, incorrem num risco menor. Contudo, ao mesmo tempo que têm algumas boas empresas no portfólio, também têm um conjunto significativo de acções cujos negócios subjacentes são medíocres e não têm capacidade de gerar retornos excepcionais a médio e longo prazo. Há também a necessidade, por parte destes gestores de se compararem com o mercado e, assim, incorrem nos mesmos erros: tentam adivinhar os movimentos diários do mercado e compram e vendem com muita frequência.
John Maynard Keynes que, além de um economista brilhante, foi também um investidor astuto, escreveu: " estou cada vez mais convencido que o melhor método de investimento é colocar uma percentagem muito considerável de capital em empresas que acreditamos conhecer muito bem e em cujos gestores confiamos. É um erro considerar que o investidor reduz o risco espalhando o seu dinheiro por muitas acções acerca das quais sabe pouco e não tem motivos para confiar. O conhecimento e a experiência de cada um são limitados e raramente existem mais do que duas ou três empresas, em determinado momento, em que eu me sinta inteiramente confiante."
"Preço é o que paga, Valor é o que recebe"
-- Warren Buffett
O Investimento em Valor é um método de investimento completo, intuitivo e com um racional económico forte, cujo princípio central é a compra de bons activos a preços substancialmente abaixo do seu valor. A ênfase é colocada na necessidade de levar a cabo uma análise profunda do activo para determinar o seu valor, limitar os riscos e resistir à "psicologia da multidão" na procura de resultados do investimento a médio e longo prazo. O preço é a cotação do mercado a dado momento.
Grande parte das pessoas toma decisões de poupança e investimento sem o conhecimento claro do valor que estão a comprar. Grande parte destas decisões são influenciadas pelo amigo, um primo do cunhado que percebe "umas coisas" ou pelo Senhor do banco, que em princípio, sabe mais que os clientes. Às vezes porque "tive um palpite" e...
Quando temos um problema sério de saúde, procuramos um bom médico da especialidade, alguém recomendado e com provas dadas. Quando queremos fazer uma casa, procuramos a arquitecta cuja obra feita nos dá algumas garantias de vir a construir a casa que pretendemos. Do mesmo modo, quando investimos o nosso dinheiro devemos ter a certeza que o fazemos com especialistas. O investimento bem sucedido deve assentar em quatro pilares: 1. o domínio da teoria financeira, 2. o conhecimento obtido pela experiência, 3. ter consciência da psicologia financeira e 4. um sólido entendimento de como a industria financeira opera e se comporta nos momentos bons e maus da economia. Não é necessário um QI excepcional. É preciso bom senso.
O investidor, deve certificar-se da qualidade de quem o aconselha, da sua honestidade e capacidade para levar a cabo uma análise profunda do valor dos activos (sejam acções, um terreno, ou uma casa) e da sua capacidade para produzir valor ao longo do tempo e criar riqueza para quem investe.
Como um médico lê os exames de um paciente para chegar a um diagnóstico, o gestor de patrimónios deve analisar o balanço e demonstração de resultados da empresa para descobrir a sua saúde económica. O balanço é efectivamente um gráfico médico, uma fotografia da condição financeira da empresa num determinado momento. Mostra o quão solvente é uma empresa e a situação exacta - boa ou má - em que se encontra. Aqui é onde começamos a formar uma ideia concreta do que realmente vale uma empresa, quanto deve e que recursos tem à sua disposição para sobreviver no futuro. É basicamente o mesmo impresso que se preenche quando nos estamos a candidatar a um empréstimo bancário.
A verdade é que, na maioria dos casos, o investidor não resiste a especular, a tentar adivinhar o que o mercado vai fazer amanhã, a investir na "última moda" de que toda a gente fala e que lhe permitirá ficar rico depressa. Ao mínimo contratempo, assume-se como um azarado e desfaz-se do activo a qualquer preço. Em alturas de grande incerteza, como a que vivemos, vende e diz-se avesso ao risco.
Há dias encontrei um amigo que trabalha no sector financeiro. Disse-me que agora os clientes só querem investir em Bunds (Obrigações do Tesouro Alemão) que estão a render 2,34% (abaixo da inflação). Perguntei-lhe quem é afinal o "médico especialista", é o cliente ou somos nós? Nós que todos os dias avaliamos activos e sabemos que há várias décadas que não se conseguiam tão bons negócios a transaccionar tão a desconto do seu valor. Grandes empresas mundiais que continuam a aumentar os seus resultados e a reinvestir os lucros, estão a pagar dividendos, em muitos casos superiores às taxas dos depósitos a prazo.
Quem tem a experiência de estar no mercado há 20 anos, sabe avaliar os negócios e produtos financeiros e consegue ignorar o comportamento da "multidão", deve aconselhar o cliente no seu melhor interesse. Deve acrescentar valor.
"Quem pensa em si, planta um eucalipto; quem se preocupa com os filhos, planta um pinheiro; quem se preocupa com os netos, planta um sobreiro"
-- ditado português
O gráfico no pdf em anexo apresenta as rentabilidades de várias classes de activos desde 1926 até 2010. Ao longo destes 84 anos, a taxa média de inflação foi de 3%, ou seja, 1 dólar em 1926 actualizado para 2010 daria 12 dólares. Se em 1926 um investidor tivesse investido 1 dólar em Obrigações do Tesouro americano de curto prazo teria obtido um rendimento médio anual de 3,6%, o que até 2010 resultaria em 21 dólares. Se o investidor tivesse optado por investir em Obrigações do Tesouro Americano de Longo Prazo, teria uma rentabilidade média anual no mesmo período de 5,5%, ou seja, 93 dólares. Finalmente, se tivesse investido em acções de grande capitalização teria uma rentabilidade anual de 9,9%, o que, em valores absolutos resultaria em 2.982 dólares, 32 vezes mais que o investimento em Obrigações do Tesouro americano de longo prazo.
Durante este período viveram-se tempos de grande incerteza: a Grande Depressão, a Segunda Guerra Mundial, várias recessões, os choques petrolíferos de 1973 e 1979, a bolha tecnológica e a crise financeira do subprime da qual ainda estamos a recuperar. No entanto, as acções foram a classe de activos que melhores retornos proporcionaram aos investidores.
Se o investidor tiver o cuidado de comprar grandes marcas mundiais com fundamentos económicos soberbos, quando estão baratas; e tiver paciência para as manter na carteira até que se materialize todo o seu potencial de criação de riqueza, esta é a melhor forma de rentabilizar as suas poupanças. Alguns exemplos de grandes máquinas de criação de riqueza para os seus accionistas passaram por todas estas crises : a Johnson-Johnson foi criada em 1887; a General Electric em 1878, a Nestlé em 1866, o Wells Fargo em 1852, a American Express em 1850 a Procter & Gamble em 1837; a Coca-Cola em 1886; a Total em 1924, entre outras.
Comparo o investimento em acções a plantar árvores. É necessário escolher boas árvores, preparar a terra e plantar. Depois devemos acompanhar o seu crescimento ao longo do tempo. Haverá anos com meteorologia muito favorável, haverá anos maus e outros razoáveis. É natural. Mas só plantando é que crescem. Devemos assegurar-nos que temos "boas árvores na nossa floresta", que todos os anos dão frutos ou aumentam a tonelagem. Da mesma forma, as boas empresas vendem produtos ou prestam serviços todos os dias e, por isso, colhem os seus lucros.
Tentar prever a direcção de curto prazo do mercado é um jogo de tolos e um mau serviço ao público investidor. No longo prazo, os mercados sobem. Sempre o fizeram e, muito provavelmente, sempre o farão. Os adivinhos do mercado gostam de pensar que conseguem obter grandes retornos entrando no mercado quando as acções sobem e saindo quando elas caem. Há centenas de estudos que comprovam que isso não é possível.
Na Casa de Investimentos, preferimos confiar na capacidade de avaliação e garantir que compramos bons activos quando estão baratos. Depois, com disciplina e paciência, colhemos os frutos ano após ano, até que o "mercado" os avalie ao seu valor justo.
Como investidor de longo prazo, o perigo real para o seu pé-de-meia é estar fora do mercado quando os grandes movimentos ocorrem. Temos simplesmente que aceitar e suportar alguns, temporários, recuos no mercado. Se o nosso portfólio tiver sido bem construído, um pouco de turbulência no mercado não é motivo para fugir.
Daqui a alguns anos quando olharmos para a continuação deste gráfico, veremos que este foi apenas mais um recuo na Longa Curva da Prosperidade.
Post Scriptum: Se tiver terra plante árvores. 30 anos passam depressa.
Não temos de fazer o que toda a gente está a fazer. Devemos investir com inteligência. Comprar boas empresas abaixo do seu valor produz excelentes retornos.
Durante 1987, o mercado de capitais foi um local com muita excitação mas pouca variação líquida: o Dow subiu 2,3 % no ano. O "Sr. Mercado" esteve numa agitação frenética de compras até Outubro, altura em que sofreu um súbito colapso, no dia 19 caiu 22,7%.
Os gestores profissionais de dinheiro, aqueles que gerem biliões, mereceram, quase na sua totalidade, a nossa gratidão, por este turbilhão. Ao invés de prestarem atenção ao que os negócios farão nos anos vindouros, concentraram-se naquilo que esperam que os outros gestores de dinheiro farão nos próximos dias. Venderam mais quando as acções caíram mais. Para eles, as acções são meramente peças num jogo, como o dedal ou a bota no Monopólio.
Após comprar uma quinta, um proprietário racional ordenaria ao seu agente imobiliário que vendesse pequenas parcelas de terra sempre que uma quinta vizinha fosse vendida a um preço mais baixo? Ou o leitor, venderia a sua casa a qualquer comprador que estivesse disponível às 8h01, porque às 8h00 uma casa semelhante à sua foi vendida por menos do que valia no dia anterior?
Contudo, é esta a atitude que grandes gestores têm relativamente às suas acções. Quanto mais baixo for o valor que o mercado dá a estas empresas, com mais vigor são vendidas. O corolário "lógico" deste comportamento ordena que se recomprem estas mesmas empresas - e eu não estou a inventar isto - assim que os seus preços tenham recuperado significativamente dos mínimos anteriores. Considerando as somas gigantescas de dinheiro que são controladas por gestores que seguem estas práticas dignas da Alice no País das Maravilhas, será surpresa que o mercado se comporte, por vezes, irracionalmente?
Muitos comentadores concluíram que o pequeno investidor não tem hipóteses de sucesso num mercado dominado pelo comportamento errático dos tubarões. Pelo contrário, estes mercados são ideais para qualquer tipo de investidor - pequeno ou grande - desde que ele se mantenha fiel aos seus princípios de investimento. A volatilidade, causada pelos gestores que especulam irracionalmente com largas somas, oferece ao verdadeiro investidor mais oportunidades para fazer investimentos inteligentes. O verdadeiro investidor só será prejudicado por esta volatilidade se se vir forçado, por pressões financeiras ou psicológicas, a vender em alturas desfavoráveis.
2011 foi, de certa forma, semelhante a 1987. Até à 3ª semana de Julho, o DOW - índice que agrega as 30 maiores empresas americanas - subiu cerca de 10%. Nas duas semanas seguintes caiu 17%. O S&P 500 - índice que agrega as 500 empresas de maior capitalização bolsista - subiu no mesmo período cerca de 7% e nas duas semanas seguintes caiu 18,22%. No ano, o Dow subiu 5,5% e o S&P500 ficou a zero.
Conclusões:
1. Comprar boas empresas, as máquinas de fazer dinheiro de que falei aqui a semana passada, e mantê-las dá seguramente bons resultados: a Pfizer subiu, em 2011, 23,59% mais um dividendo de 4,68%; a Johnson & Johnson subiu 6,03% mais 3,69% de dividendo; General Electric, que caiu 2,08%, pagou um dividendo de 3,34%; Wal-Mart subiu 10,81% e pagou um dividendo de 2,7%; a Exxon Mobil, que em 2011 subiu 15,95%, pagou um dividendo de 2,54% e a McDonald's subiu 30,71% e pagou um dividendo de 3,3%. Estes são apenas alguns exemplos.
2. Se aproveitarmos a volatilidade para investir quando estas empresas estão muito baratas, como aconteceu na primeira semana de Agosto do ano que acabou, os resultados serão excelentes. Quando todos tinham medo e os grandes gestores profissionais venderam, muitas destas grandes empresas fizeram mínimos de vários pontos percentuais face ao início do ano.
Na altura escrevi aqui o primeiro artigo com o título "Ignore a Multidão". Não temos que fazer o que toda a gente está a fazer. Devemos fazer o que está certo, investir com inteligência. Comprar boas empresas muito abaixo do seu valor produz excelentes retornos a médio e longo prazo.
Quando se constata que alguma coisa que depende da acção humana não interessa a ninguém, como o fim do euro, o mais provável é que não aconteça.
As últimas semanas de negociações na Europa têm permitido todo o tipo de especulação acerca do futuro do Euro. Os jornais, as televisões, comentadores e políticos têm contribuído para alarmar as pessoas, para as manter em suspense e inseguras. Muito provavelmente, ajudaram-nas a tomar más decisões financeiras.
O Euro aparece em 1999 como uma moeda que se quer forte. A partir de 2004, começa a emergir como uma moeda mais estável e segura, entre outros motivos, pelo facto da administração Bush ter contribuído para a deterioração das contas públicas americanas e o agravamento do seu endividamento exterior.
Em 17 de Setembro de 2007, Alan Greenspan, presidente da Reserva Federal americana de 1987 a 2006, afirmou à conceituada revista alemã Stern, que é "possível" que o Euro substitua ou fique a par do dólar como moeda de reserva mais usada no mundo. Vários países, entre os quais a China, anunciaram o aumento da alocação das suas reservas de moeda em Euros. Até alguns países exportadores de petróleo vieram defender que esta matéria-prima passasse a cotar em Euros. O dólar não era seguro.
Em 8 de Abril de 2008, um artigo da Bloomberg declarava que o dólar seria ultrapassado pelo Euro, como a moeda líder mundial em reservas, em 2015, segundo previsões de diversos economistas, incluindo um estudo do National Bureau of Economic Research.
Muitos analistas técnicos previam a manutenção da tendência de valorização do euro, numa altura em que o câmbio em relação ao dólar cotava a cerca de 1,60. Seis meses depois, o euro tinha desvalorizado cerca de 22% face ao dólar.
Servem estes exemplos, de entre muitos disponíveis, para demonstrar a volatilidade e volubilidade dos "consensos generalizados" e os custos financeiros, em termos de investimento, que tomar decisões com base nessas opiniões, podem ter.
Hoje as opiniões são completamente opostas. "O Euro não vai sobreviver como moeda, e as pessoas devem-se proteger perante este cenário". Assim, são sugeridas opções de investimento que vão desde "ponha tudo em Francos Suíços", "compre Bunds Alemãs", "compre umas barras de ouro" e até, espante-se, "invista em obrigações do Tesouro americano".
O fim do Euro não é do interesse de ninguém. Não é do interesse dos países que investiram parte das suas reservas de moeda em Euros. O Euro representa 26,7% das reservas mundiais, ultrapassado apenas pelo dólar americano, que representa 60,2%. A terceira maior moeda, a libra esterlina, representa apenas 4,2%. Não é do interesse dos credores de mais de 14 Triliões de Euros de dívida emitida nos países da Zona Euro, sendo os maiores detentores os países mais fortes da própria Zona Euro, a Alemanha e a França, e as suas instituições financeiras. Não é do interesse dos Estados Unidos e das economias emergentes, não só por terem também reservas investidas em Euros, mas porque colocaria em causa a recuperação económica mundial. Não é seguramente do interesse dos países da periferia da Zona Euro, Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha, Itália; pois tal significaria uma destruição enorme de riqueza. Os custos seriam incalculáveis. O Euro já é grande demais para cair.
Ora, quando se constata que algo, que depende da acção humana, não é do interesse de ninguém, o mais provável é que não aconteça. Isto significará maior integração europeia, nomeadamente fiscal e alguma perda de soberania dos países membros mais débeis e incumpridores.
Posto isto, devo acrescentar que, nos últimos 3 anos, temos aconselhado os nossos clientes a diversificar os seus investimentos comprando acções de grandes empresas mundiais americanas quando estão baratas. Vendem em muitas moedas pelo mundo, estão expostas a muitas economias que estão a crescer e são "governadas" por gente honesta e capaz. Para nós estes são investimentos seguros, não são especulação.
O medo não é bom conselheiro.
O capitalismo requer uma estrutura e um sistema de valores em que as pessoas acreditem e dependam.
Capitalismo, segundo o Dicionário Webster, é "um sistema económico baseado na propriedade de bens de capital, com o investimento determinado por decisão privada e com preços, produção e a distribuição de bens e serviços determinados principalmente num mercado livre". John Bogle, fundador da Vanguard, acrescentaria, "é um sistema fundado na honestidade, decência e confiança".
Durante os séc. XVIII e XIX, à medida que o mundo se afastava das suas raízes agrárias em direcção a uma sociedade industrial, o capitalismo começou a florescer. Tornaram-se indispensáveis grandes acumulações de capital para a construção de fábricas, para o desenvolvimento de sistemas de transporte e para o financiamento dos bancos, de quem a nova economia iria depender.
Segundo um artigo de James Surowiecki na Revista Forbes, os Quakers estiveram na origem deste desenvolvimento. No séc. XVIII e início do séc. XIX, os Quakers dominavam a economia britânica, provavelmente porque a sua simplicidade e frugalidade lendárias lhes permitiram arrecadar o capital para investir. Eram proprietários de mais de metade das empresas metalúrgicas do país e desempenhavam papéis chave na banca, bens de consumo e no comércio transatlântico. A sua ênfase na fiabilidade, honestidade absoluta e registos rigorosos criavam confiança nos negócios entre si e os restantes mercadores observavam que a confiança caminhava de mãos dadas com o sucesso nos negócios. O interesse próprio exigia a virtude.
Esta coincidência de virtude e valor é exactamente aquilo que o grande economista e filósofo escocês, Adam Smith, esperava. Em A Riqueza das Nações, de 1776, escreveu, "o esforço ininterrupto e uniforme para melhorar a sua condição, o princípio do qual derivam a opulência pública e privada é suficientemente poderoso para manter o progresso natural das coisas para a sua melhoria...Cada indivíduo não pretende promover o interesse público nem sabe o quão o está a promover... (mas) ao orientar a sua indústria de forma a que o seu produto seja o mais valioso possível, ele é guiado por uma mão invisível que promove um objectivo que não faz parte das suas intenções".
Assim, continua o artigo da Forbes, a evolução do capitalismo foi na direcção de uma maior confiança e transparência e um comportamento menos egoísta; não é coincidência que esta evolução trouxe consigo uma maior produtividade e crescimento económico...Não porque os capitalistas são boas pessoas por natureza, mas porque os benefícios da confiança são potencialmente imensos e porque um sistema de mercado de sucesso ensina as pessoas a reconhecer esses benefícios...um ciclo virtuoso em que cada nível de confiança gera um novo nível de confiança".
Este era o capitalismo dos proprietários, cujo objectivo era servir os interesses dos donos e accionistas das empresas maximizando os retornos dos capitais investidos.
Infelizmente, nos últimos anos, desenvolveu-se um novo sistema: o capitalismo dos gestores. As grandes empresas são geridas para beneficiar os seus gestores, em cumplicidade com contabilistas, auditores e gestores de outras empresas. Como é que isto aconteceu? Os mercados diluíram de tal maneira a propriedade das empresas que deixou de existir um dono responsável. A partir de 1950, sobretudo nos Estados Unidos, estes milhões de investidores deram lugar a investidores institucionais criados e controlados pelas grandes instituições financeiras. Estes investidores "profissionais" alteraram o seu foco de investimento de longo prazo para a especulação de curto prazo e comissionamento. Ao mesmo tempo criou-se um sério conflito de interesses: as empresas que gerem os fundos de biliões são as mesmas que prestam os serviços de banca de investimento a estas grandes multinacionais. Um insanável conflito de interesses.
O capitalismo requer uma estrutura e um sistema de valores em que as pessoas acreditem e dependam. Não precisamos de ter fé na boa vontade humana, mas precisamos de ter confiança que as promessas e compromissos, uma vez assumidos, serão cumpridos. Também necessitamos de garantias que o sistema, no seu todo, não beneficia indevidamente alguns à custa de outros.
É importante o regresso do capitalismo dos donos. É fundamental confiar e ser de confiança.
Há apenas duas formas de perder peso: comer menos e fazer mais exercício. Não podia ser mais fácil. Mas é muito difícil num mundo cheio de bolos de chocolate.
Tal como fazer dieta, investir é simples, mas não é fácil. Há apenas duas formas de perder peso: comer menos e fazer mais exercício. Não podia ser mais fácil. No entanto, tal revela-se muito difícil num mundo cheio de bolos de chocolate, de batatas fritas, de bons assados ou bons vinhos. A tentação está em todo o lado.
A chave para investir com sucesso também é simples: comprar bons activos, que produzam rendimentos, quando estão baratos e mantê-los; diversificar apenas o essencial e manter os custos de transacção baixos. Infelizmente este conceito tão simples não é facilmente aplicável para os investidores que todos os dias são bombardeados com a ideia "fique rico depressa", avisos para saírem do mercado (ou entrarem) antes que seja demasiado tarde e comentadores de televisão que gritam "dicas" de investimento como se tivessem a roupa interior a arder. Os investidores são muitas vezes "forçados" a tomar decisões motivados pelo medo ou pela ganância.
O objectivo do meu artigo semanal é explicar os princípios do Investimento em Valor para que o leitor possa beneficiar da estratégia de investimento que, consistentemente, proporciona melhores rentabilidades a médio a longo prazo. É importante que compreenda os princípios de investimento e, sobretudo, é fundamental a escolha do seu gestor ou conselheiro financeiro, que deve ser pessoa capaz, honesta e independente.
Chris Browne, conceituado investidor em valor, conta um caso que se passou consigo que realça bem essa importância. No início dos anos 80, uma cliente de há muitos anos procurou-o para se aconselhar na reestruturação dos seus activos. O marido tinha falecido e deixou-lhe uma conta na gestora de patrimónios que Browne dirigia, com cerca de 4 milhões de dólares. A cliente tinha ainda acções da Berkshire Hathaway no valor de 30 milhões de dólares. O seu marido tinha sido um dos primeiros investidores na empresa de Warren Buffett e manteve sempre todas as acções da Berkshire. A viúva planeava agora reformar-se e pretendia programar rendimentos futuros. Para manter o seu estilo de vida, confortável mas relativamente modesto dada a sua fortuna, precisava de cerca de 200.000,00 USD por ano.
O seu contabilista tinha-lhe proposto um plano que ia de encontro aos seus desejos de rendimento; uma vez que as suas acções da Berkshire tinham um preço médio de compra de cerca de 20 USD, sugeriu o estabelecimento de uma fundação para fins de beneficência, transferir para lá a posição da Berkshire e vendê-la sem pagar impostos de mais valias. Este valor seria reinvestido em obrigações, que garantiriam um rendimento regular.
Browne disse-lhe que a razão pela qual ela era rica era porque estava muito bem investida em acções e questionou-a porque motivo desejaria desistir de apreciações futuras. Com base na longa vida da sua mãe, a cliente, argumentou Browne, podia esperar viver mais 35 anos de vida. O seu contabilista respondeu que ela tinha todos os seus activos no mercado accionista que era, por definição, arriscado.
Browne argumentou que, mesmo que o mercado caísse 50%, ela ficaria ainda com dinheiro suficiente para viver até à idade de Matusalém. A cliente decidiu confiar em Browne mantendo tudo investido em acções e este garantiria qualquer necessidade financeira com o dinheiro que estava investido na sua Gestora de Patrimónios. Anos mais tarde, quando reuniram para rever o plano, os seus investimentos em acções valiam 180 milhões de dólares. Browne voltou a sugerir que o mantivesse investido em acções. Em 2007 Browne calculava que a posição em acções valesse cerca de 300 milhões.
Os investidores em Valor são como agricultores. Semeiam boas sementes em terra fértil e esperam que as colheitas cresçam. Se o milho demora um pouco mais devido ao frio, não arrancam a sementeira para fazer uma nova. Esperam pacientemente pela colheita.
Votos de um Feliz Natal.
O professor Jeremy Siegel demonstrou que as cem empresas do S&P500 que pagam mais dividendos têm uma performance superior à do índice em cerca de 3% ao ano.
Imagine que há trinta anos investiu 1.000 dólares em Altria (antiga Philip Morris, fabricante dos cigarros Marlboro) e as manteve em carteira até hoje. Na altura, teria comprado 29 acções ao preço de 34,50 dólares. Hoje, depois de vários stock splits (divisões das acções em mais unidades) e spinoffs (a distribuição de novas acções de empresas independentes formadas apartir de negócios ou divisões da empresa mãe), teria em carteira:
- 700 acções da Altria - Tabaqueira americana com interesses na área dos vinhos e serviços financeiros,
- Quase 500 acções da Kraft Foods - Empresa de produtos de consumo alimentar e bebidas,
- 700 acções da Philip Morris International - Tabaqueira americana com negócio fora dos Estados Unidos.
Estas posições valeriam cerca de 65.900 dólares. Melhor ainda, teria recebido 32.600 dólares em dividendos. Se tivesse reinvestido esses dividendos, em vez de quase 1.900 acções das três empresas (Altria, Kraft e Philip Morris International), teria mais de 7.400 acções com um valor de 260.000 dólares. Este valor inclui dividendos de 91.500 dólares - quase o triplo do rendimento recebido por quem escolheu não reinvestir os dividendos. E a cereja no topo do bolo é que hoje, sem vender qualquer acção, estaria a receber anualmente 13.000 dólares em dividendos.
Pensará o leitor que este exemplo da Altria é meramente teórico. Na verdade a avó de Jim Mueller, analista do site Motley Fool, fez algo semelhante. No início da década de 60, comprou acções da Exxon e reinvestiu todos os dividendos. Quando se reformou, 30 anos depois, com os lucros deste investimento, comprou dois lotes de terra e construiu a casa onde goza agora a sua reforma. Por outras palavras, a Altria não é o único exemplo de como investir em boas empresas e reinvestir os seus dividendos pode torná-lo mais rico ao longo dos anos.
O Professor Jeremy Siegel, da Wharton School of Business, demonstrou que as cem empresas do S&P500 que pagam mais dividendos têm uma performance superior à do índice em cerca de 3% ao ano. Uma vantagem de 3% ao ano pode não parecer muito mas, em dez anos, significa mais 900 euros extra por cada 1.000 euros investidos.
Como podemos encontrar agora empresas que possam replicar esta performance? Altria e Exxon são "máquinas de dinheiro" não porque eram grandes empresas (apesar de o serem) ou porque pagavam um dividendo - nem todas as empresas que pagam dividendos podem ser consideradas máquinas de dinheiro - mas porque aumentam consistentemente os seus dividendos. E tinham a capacidade de o fazer porque tinham lucros consistentes. E sabemos bem o impacto que o crescimento de lucros tem no preço das acções.
Contrariamente ao que se possa pensar, estas empresas não são raridades; quase 20% das empresas do S&P500 aumentaram em mais de 10% os seus dividendos nos últimos 10 anos. Esta lista inclui nomes tão familiares como a McDonald's (com um aumento de dividendos de 46,5% ao ano), TJX Cos. (com 21,8% anuais), Newmont Mining (12,8%) ou EOG Resources (25,9%).
Estes retornos médios rivalizam com a performance histórica de Warren Buffett. Bastando, para tal, investir em empresas bem geridas com uma história consistente de rentabilidades e crescimento de resultados, com marcas fortes e negócios sustentáveis que lhes permitem suportar aumentos regulares dos dividendos. Definidos os negócios com as qualidades apontadas, resta-nos aguardar pelo preço de entrada que garanta uma margem de segurança, isto é, que proteja o capital investido de evoluções desfavoráveis no negócio. Tal permitir-nos-á salvaguardar o investimento e potenciar a sua rentabilidade futura.
Para os investidores é importante saber se as suas carteiras de investimento possuem acções que possam ser máquinas de fazer dinheiro para o futuro. É fundamental comprá-las quando estão baratas.
Votos de um próspero ano novo.
Quando a conjuntura é favorável ou as notícias para determinada empresa são muito positivas, é fácil o investidor comum perder o bom senso e seguir a multidão.
O medo e a ganância têm separado muitos investidores do seu dinheiro. Quando o mercado de acções cai porque as notícias são más e a conjuntura macroeconómica difícil, os investidores vendem a qualquer preço activos de grande valor. Do mesmo modo, quando a conjuntura é favorável ou as notícias para determinada empresa são muito positivas é fácil ao investidor comum perder o bom senso e seguir a multidão.
Como devemos, então, investir em acções?
1. Não nos devemos focar no preço da acção mas sim no valor do negócio subjacente:
Os preços das acções mudam de segundo em segundo ao longo da sessão de bolsa. Mas o valor do negócio muda, quanto muito, algumas vezes por ano. No curto prazo, o preço da acção é afectado por quase tudo desde se o sol brilha hoje até ao que diz um blogger, algures, sobre a acção. No longo prazo, o preço de uma acção é determinado pelo dinheiro que é gerado pelo negócio subjacente. Se a empresa gera cada vez mais dinheiro, torna-se mais valiosa e o preço da acção acompanhará essa subida. Se, pelo contrário, o negócio não se torna mais valioso, nada poderá manter, no longo prazo, o preço da acção em níveis elevados.
Paremos, então, de olhar para o que o preço da acção está a fazer. Em vez disso, aprendamos o mais possível sobre o negócio. Os seus clientes manter-se-ão fiéis se a empresa aumentar preços? Gera mais dinheiro do que consome? Consegue financiar a sua expansão sem crédito? Os seus gestores são remunerados justamente, sem exageros?
Se compramos um determinado activo somente porque o seu preço tem estado a subir ou o vendemos meramente porque o seu preço está a cair, não somos investidores. Somos especuladores e os nossos ganhos futuros serão reféns das manias da multidão.
2. Devemos compreender o "Sr. Mercado" e os seus comportamentos:
Compreendamos o "Sr. Mercado". Este é o nome que Benjamin Graham deu às variações de sentimento dos investidores. Graham pede-nos para imaginarmos que somos o principal accionista de uma empresa privada. Diariamente, um dos sócios nesse negócio, o "Sr. Mercado", vem bater-nos à porta. Umas vezes, oferece-se para nos vender a parte dele no negócio por um preço ridiculamente alto. Outras vezes, oferece um preço irrisório para comprar a nossa parte no negócio. Faria negócio com o "Sr. Mercado" apenas porque ele o pediu? Ou dir-lhe-ia que não está interessado em transaccionar a parte do seu negócio a um preço que é demasiado alto ou demasiado baixo?
O "Sr. Mercado" é mais que uma imagem ou uma metáfora. Ele é a encarnação de centenas de milhões de investidores e especuladores cujos caprichos fazem com que os preços diários de uma acção pareçam o electrocardiograma de alguém que está a ter um ataque cardíaco. Não somos obrigados a negociar com estas pessoas apenas porque elas querem que nós o façamos. Não podemos permitir que a nossa visão sobre uma certa acção, ou sobre o mercado em geral, seja determinada pelo pessimismo ou optimismo de milhões de estranhos. De facto, a ânsia do "Sr. Mercado" em transaccionar connosco é o sinal de que só devemos agir após determinarmos de forma independente, usando o nosso próprio julgamento, se o preço está certo.
3. Devemos manter sempre uma margem de segurança:
Finalmente, preservar uma margem de segurança. Demasiados investidores devotam toda a sua atenção à probabilidade de estarem certos. Os investidores precisam também de pensar acerca da possibilidade de estarem errados - e como minimizar as consequências daí resultantes. Devemos questionar-nos constantemente quanto podemos perder se, no fim de contas, estivermos errados e devemos investir apenas naquelas oportunidades que, no longo prazo, nos dão maiores probabilidades de lucros do que de perdas.
Devemos também diversificar. Nunca concentrar demasiado do nosso capital apenas num investimento, não importa quão seguros estejamos da segurança desse investimento.
Como diria Warren Buffett, "seja ganancioso quando os outros têm medo e tenha medo quando os outros são gananciosos".
Como consegue o investidor identificar, entre milhares de empresas cotadas em bolsa, quais delas são realmente empresas com excelentes negócios?
O investidor inteligente procura o melhor rendimento em segurança: comprar acções de grandes empresas mundiais a um preço substancialmente inferior ao valor real do negócio subjacente. Mas como consegue o investidor identificar, de entre as milhares de empresas cotadas em bolsa, quais delas são realmente empresas com excelentes negócios? De forma simples, elenco 10 questões cujas respostas ajudarão os investidores a separar o trigo do joio:
1. A empresa investe bem os capitais próprios?
As melhores empresas são aquelas que geram os lucros mais elevados com o mínimo de capitais investidos. A consistência das rentabilidades permitirá o crescimento da empresa para o futuro.
2. Investe de forma consistente os capitais totais?
As empresas têm duas fontes de financiamento, os capitais próprios e a dívida. Aquelas que têm rentabilidade acima do custo do seu financiamento criam valor para os accionistas.
3. Os resultados estão a crescer consistentemente?
Os resultados consistentes ao longo de vários anos (pelo menos 10) permitem, ao potencial investidor, prever mais facilmente a sua evolução futura, ao contrário de empresas com grande volatilidade nos resultados.
4. A empresa é financeiramente saudável?
Empresas com índices de endividamento baixo têm maior margem de manobra em tempos de crise, como podemos facilmente verificar nos dias que correm. Por outro lado possuem a solidez necessária para investir, aumentar os seus negócios e aumentar as suas vantagens competitivas.
5. A empresa tem vantagens competitivas?
A empresa beneficia de marcas fortes (Coca-Cola), redes de utilizadores fiéis (Microsoft) ou patentes (Pfizer)? As vantagens competitivas defendem a empresa dos concorrentes e permitem a obtenção de margens mais elevadas na venda de produtos ou serviços.
6. A empresa está inserida num sector demasiado dependente das suas organizações laborais?
Empresas com estruturas rígidas e custos salariais elevados face aos resultados raramente têm vantagens competitivas.
7. A empresa pode aumentar os preços de acordo com a inflação?
A empresa tem liberdade para ajustar o preço dos seus produtos para compensar os aumentos dos custos de produção. A inflação é um imposto escondido que com o tempo pode diluir de forma significativa os retornos de uma empresa.
8. Como reinveste os lucros?
Investir os lucros na expansão da empresa criará maiores lucros para os accionistas no futuro. No entanto, se essa expansão significa menor rentabilidade, é preferível que a empresa distribua esses lucros pelos accionistas.
9. Recompra acções próprias?
A empresa distribui os lucros pelos accionistas de duas formas, paga dividendos ou compra acções próprias. A recompra de acções próprias é fiscalmente preferível pois, ao contrário dos dividendos, não é tributada. É boa política comprar acções próprias sempre que a acção esteja a transaccionar abaixo do seu real valor. Assim, a participação de cada accionista no capital da empresa aumenta o que significa maiores retornos no futuro sem qualquer custo fiscal.
10. O valor contabilístico cresce?
Empresas com resultados consistentes e boas rentabilidades nos capitais investidos conseguem fazer crescer o seu valor contabilístico. O mercado de capitais, mais cedo ou mais tarde, reflectirá, no preço da acção, este crescimento. Devemos verificar que, ano após ano, o valor intrínseco da empresa aumenta a uma taxa satisfatória.
Quando compramos acções, devemos assegurar-nos que compramos negócios com fundamentos económicos soberbos, geridos por gente capaz e honesta que proteja os interesses dos accionistas, e garantir que o preço que estamos a pagar é substancialmente inferior ao valor intrínseco do negócio.
Ao seleccionar, desta forma, oportunidades de investimento, a compra de acções não é mais do que a compra de uma pequena parte de um excelente negócio.
Warren Buffett investe em acções, por vezes comprando toda a empresa, muitas vezes comprando, em bolsa, "fatias" de bons negócios.
Einstein terá dito um dia que o juro composto é a mais poderosa força do Universo. De Warren Buffett, ouvimos falar do efeito bola de neve, de como uma pequena bola vai aumentando de tamanho à medida que vai rolando, resultando na segunda maior fortuna do mundo. Desde 1965, com a Berkshire Hathaway, Warren Buffet investe em acções, por vezes comprando toda a empresa, muitas vezes comprando, em bolsa, "fatias" de bons negócios. Buffett, nestes 46 anos, ganhou para os seus accionistas 20,2% ao ano.
Vejamos então o efeito bola de neve. Quem tivesse em 1965 aplicado 10.000 dólares em produtos de muito curto prazo, teria ganho aproximadamente a taxa média de inflação no período, ou seja, 3% ao ano. O resultado desta aplicação seria hoje de 38.950 dólares. Quem tivesse investido em Obrigações de Tesouro Americano de longo prazo, que no período renderam cerca de 5,5%, obteria, 117.385 dólares, ou seja conseguiria cerca de 3 vezes mais. Warren Buffett, investindo em acções, conseguiu compor estes retornos a uma média de 20,2% ao ano. Os mesmos 10.000 dólares resultariam em 49.228.755 dólares. Exactamente. Leu bem. Quarenta e nove milhões duzentos e vinte e oito mil setecentos e cinquenta e cinco dólares. É uma rentabilidade excepcional e Warren Buffet é um investidor excepcional. Este é o efeito bola de neve. A taxa à qual conseguimos compor os retornos do nosso património financeiro. A força mais poderosa do universo.
46 anos é muito tempo, sem dúvida, e 20,2% é uma taxa excepcional. Contudo, alguém que entra no mercado de trabalho com 25 anos e se reforma aos 65, descontou para a sua reforma cerca de 40 anos. Se, durante este período, para além dos descontos que faz para a segurança social, fizer individualmente o seu plano para a reforma, poderá, passados 30 ou 40 anos, acumular uma soma muito satisfatória para acomodar a subida do custo de vida e permitir maior tranquilidade.
No início da década de 90, muitos aforradores portugueses, motivados por benefícios fiscais, constituíram PPRs - Planos de Poupança Reforma. Nos últimos 20 anos, estes PPRs ganharam em média 3,8% ao ano, o que, num investimento inicial de 100.000 euros, sem qualquer reforço adicional, teria resultado em 210.837 euros. Sensivelmente no mesmo período, o Fundo de Pensões da Holanda ganhou 7,1% ao ano, ou seja, o mesmo investimento teria resultado em 394.266 euros, quase o dobro do caso português.
Este exemplo pretende tornar claro ao leitor, que tão importante como poupar é dar vida à poupança. É essencial assegurarmo-nos que ela é bem gerida, que é aplicada e capitalizada a taxas satisfatórias que incentivem os investimentos a longo prazo, mas com rentabilidades muito superiores àquilo que tem sido oferecido pelas instituições financeiras através de produtos estruturados complexos, seguros de capitalização e mesmo depósitos a prazo puros.
Um investidor com 60 anos tem uma esperança de vida de mais 25 ou 30 anos. Se, durante este período de tempo, investir todo o seu património financeiro em depósitos a prazo ou produtos de seguros de capitalização obtém rentabilidades brutas de cerca de 3,5 a 5% ao ano.
No passado dia 16 de Dezembro, escrevi nesta página " A longa curva da prosperidade". Apresento aí as várias alternativas de investimento em diferentes classes de activos e concluí que investir em empresas com negócios excepcionais ,geridos por gente honesta e capaz, compradas a preços sensatos, permitir-nos-á, compor o retorno dos capitais investidos a taxas de rentabilidade excelentes.
Quando deveríamos estar a ensinar os nossos jovens universitários sobre o investimento a longo prazo e a magia do juro composto, os jogos da bolsa que são organizados pelas universidades e corretoras estão, na realidade, a ensiná-los a especular e a reforçar uma mentalidade de curto prazo.
Um horizonte de investimento de 3 a 5 anos é essencial para conseguir retornos satisfatórios.
Na passada segunda-feira, chegou às livrarias "O Livro do Investimento em Valor", da autoria de Christopher Browne, traduzido e promovido pela Casa de Investimentos e pela Editora Caleidoscópio.
O livro explica numa linguagem simples e intuitiva o que é o Investimento em Valor, o método de investimento popularizado por Warren Buffett e que, ao longo dos últimos 80 anos, produziu retornos superiores a qualquer outra estratégia de investimento. Oferece um conjunto de princípios que apelam fortemente ao bom senso e permitem aos investidores e aforradores tomarem decisões mais conscientes de poupança, investimento e até de consumo.
A tomada de decisões de investimento ponderadas pode ter um impacto significativo na vida das pessoas: pagar a educação dos filhos, preparar uma reforma confortável, proporcionar liberdade financeira para construir um futuro melhor.
Da mesma forma que seleccionamos, das prateleiras dos supermercados, os produtos que precisamos tendo por base uma relação preço/qualidade, devemos estar preparados para rejeitar muitos produtos oferecidos pelas instituições financeiras e subscrever apenas o que entendemos e melhor serve os nossos interesses no futuro.
Neste livro, tão importante como expor o método de investimento e o bom senso que lhe está subjacente sobre o que devemos fazer para rentabilizar a poupança, é o que não se deve fazer para a pôr em risco e o impacto que a passagem do tempo tem sobre o património financeiro que não é criteriosamente gerido. O autor apresenta inúmeros exemplos vividos ao longo da sua carreira de 40 anos como gestor da mais antiga gestora de patrimónios de Wall Street. Avisa os leitores para o facto de grande parte das instituições financeiras no mundo estarem cada vez mais vocacionadas para gerir no curto prazo, para o comissionamento e a venda, criando ilusões e falsa segurança aos investidores.
Acreditamos que a melhor forma de preparar as pessoas para os desafios da vida é através da divulgação do conhecimento. O documentário, que no passado dia 28 de Fevereiro foi transmitido na SIC Notícias, "Nascido para Viver", sobre a extraordinária queda da taxa de mortalidade infantil nos últimos 40 anos em Portugal, realça isso mesmo. Aproveito aqui para endereçar os parabéns a todos os que contribuíram para nos colocar entre os melhores do mundo. Parabéns também à Fundação Francisco Manuel dos Santos por mostrar que é possível trabalhar por um bem comum e que devemos traçar objectivos de médio e longo prazo.
É fundamental educar as pessoas. É importante tornar o conhecimento acessível e combater preconceitos. O saber não ocupa lugar, a falta de conhecimento limita as pessoas, submete-as.
Diz-se que é preciso muito tempo para que os resultados comecem a aparecer. Sou bastante mais optimista. A informação, cada vez mais acessível a um maior número de pessoas, circula cada vez mais depressa. É importante começar.
Deixo aqui três citações do livro:
"A maior parte das pessoas tendem a olhar para tudo o que compram relacionando o valor que recebem com o preço que pagam. Quando os preços baixam, compram mais daquilo que querem ou precisam. Excepto no mercado de acções."
"A maioria das pessoas procura a gratificação imediata em quase tudo o que fazem, incluindo o investimento. Quando compram uma ação, estes investidores estão à espera que ela suba imediatamente. Se isso não acontece, vendem-na e vão procurar outra.
"Os investidores em valor são como agricultores. Semeiam e esperam que as colheitas cresçam. Se o milho demora um pouco mais devido ao frio, eles não arrancam a sementeira para fazer uma nova. Eles esperam pacientemente que o milho brote do chão, confiantes que, eventualmente, isso acontecerá."
Warren Buffett diz que "Preço é o que paga, Valor é o que recebe". Este livro tem o preço de 14,84 Euros. É muito valor por pouco dinheiro. É um Investimento em Valor.
Se compramos bons activos a um preço barato, garantimos certamente que vamos obter uma valorização desses activos e um bom retorno do nosso investimento.
"Os portugueses são muito conservadores". "Os investidores não gostam de risco". "Acções eu? Não. Só depósitos a prazo, produtos garantidos ou fundos".
Grande parte dos investidores, quando aplicam o seu dinheiro, procuram depósitos a prazo ou produtos de capital garantido. Infelizmente, os resultados dos investimentos feitos nesta última dúzia de anos vieram mostrar que:
1. Os depósitos a prazo são garantidos parcialmente porque houve um movimento mundial ao nível dos governos em Outubro de 2008 para que acabasse a corrida generalizada aos levantamentos da banca. Quanto à conservação do capital investido, o cliente de depósitos a prazo corre o risco real dos seus rendimentos não acompanharem a inflação e perder assim poder de compra. Este é o imposto escondido que vai erodindo o património financeiro.
2. Os produtos de capital garantido são criados e vendidos por grandes instituições financeiras para atrair os investidores que gostam de garantias. Primeiro, têm maturidades longas e os valores são garantidos apenas no seu vencimento. Qualquer vicissitude de curto prazo que obrigue o investidor a vender, implica assumir perdas de capital, por vezes elevadas, dependendo do momento de mercado. Estes valores estão também investidos nos mercados financeiros. Segundo, são produtos opacos, difíceis de entender e com tantos "ses" que aliciam o investidor para um rendimento potencial condicionado por tantas variáveis que dificilmente se conjugam em simultâneo. Têm resultado em rentabilidades próximas de zero. Os bancos que os vende aos seus clientes, são meros comissionistas da banca mundial de investimento.
3. As obrigações de dívida soberana, de empresas públicas, de instituições financeiras e grandes empresas foram outro investimento onde muitas poupanças foram colocadas. Era garantido e todos os 6 meses pagava um valor certo. Ora, uma obrigação é uma promessa que o emitente está a fazer a quem a subscreve, dando o direito a receber juros nas datas acordadas e a devolução do capital no vencimento.
As promessas valem o que vale quem as faz e muitas não foram cumpridas. O que mais chocou o investidor comum nos últimos 2 anos foi verificar que as obrigações valem hoje muito menos do que o valor investido. Cotam diariamente no Mercado Secundário, com mais ou menos liquidez e, se o investidor precisar do seu dinheiro rapidamente, terá que vender com perdas, em muitos casos, substanciais.
Na semana passada, num leilão de dívida alemã, os investidores aplicaram o seu dinheiro motivados pelo medo. Por cada 100 euros emprestados à Alemanha irão receber no vencimento, daqui a 6 meses, 99,99 Euros. Os investidores estão realmente a pagar à Alemanha para lhes "guardar" o dinheiro. Considero que as garantias, independentemente da qualidade que possam ter, estão muito sobrevalorizadas.
4. Os fundos de investimento apresentam custos excessivos que vão desde comissões de subscrição, resgate, gestão e performance. Na maioria dos casos, os clientes não fazem a menor ideia onde estes fundos investem, das percentagens que investem em cada activo e dos custos associados. Por vezes têm investimentos fora da caracterização que apresentam. As rentabilidades são na maioria dos casos negativas ou próximas de zero.
5. Investimentos em acções que, em muitos casos, apresentam perdas de 60 a 70% dos valores investidos. Talvez o título com maior disseminação pelos investidores, o BCP, perdeu nos últimos 5 anos cerca de 94%. Muitas acções foram vendidas com crédito e em carteiras monotítulo. Esta foi sem dúvida uma máquina de destruição de dinheiro e sobretudo uma máquina de destruição de confiança. Hoje, muitos destes investidores não querem ouvir falar em investimentos em acções. Resta dizer que esta actuação nada teve de investimento, foi especulação e jogo.
Se garantirmos que compramos bons activos, que geram bons rendimentos e estão baratos, com tempo, teremos garantido um bom retorno.
Warren Buffett, num artigo que será publicado a 27 de Fevereiro na "Fortune", explica de forma clara porque não devemos investir em ouro.
A definição de investimento expandiu-se muito nos últimos 20 anos: desde selos, arte, vinhos, ouro, petróleo, todo o tipo de produtos financeiros exóticos, até apostas desportivas. Muitos destes activos não são produtivos e quem os compra tem a esperança que no futuro alguém venha a pagar mais por eles. Quem investe assim, não é inspirado por aquilo que o activo produz, mas sim porque acredita que outros o desejarão ainda mais no futuro. Esta é, na sua essência, a definição de especulação. É desta forma que surgem as bolhas especulativas.
Warren Buffett, num artigo que será publicado no próximo dia 27 de Fevereiro na revista Fortune, explica porque prefere o investimento em activos produtivos. Explica, de forma clara, porque não devemos investir em ouro. Passo a citar:
"O ouro é, hoje, um dos activos favoritos dos investidores que temem quase todos os outros, especialmente dinheiro. O ouro, contudo, tem dois defeitos: não tem grande utilidade nem produz rendimentos. É verdade que o ouro tem alguma aplicação industrial e decorativa mas a procura para estes propósitos é limitada e incapaz de absorver toda a nova produção. Entretanto, se mantivermos em carteira uma grama de ouro por uma eternidade, continuaremos a possuir uma grama de ouro no fim da eternidade.
O que motiva a maior parte dos compradores de ouro é a crença que as legiões de medrosos continuarão a crescer. Ao longo desta última década, essa crença esteve correcta. O aumento do preço gerou, por si só, um entusiasmo comprador adicional atraindo compradores que encaram o aumento do preço como a validação da sua tese de investimento. À medida que mais investidores se juntam à festa, eles criam a sua própria verdade - durante algum tempo.
Ao longos dos últimos 15 anos, tanto as acções tecnológicas como o mercado imobiliário demonstraram os excessos extraordinários que podem ser criados pela combinação de uma tese de investimento sensata, na sua génese, e bem publicitados preços crescentes. Nestas bolhas, um exército de investidores, a princípio cépticos, sucumbem à prova entregue pelo mercado e o grupo de compradores expande-se - durante algum tempo - o suficiente para manter a roda a girar. Mas as bolhas inevitavelmente estouram. E o velho provérbio é mais uma vez confirmado: "aquilo que o sábio faz no princípio, o tolo faz no fim".
Actualmente, o stock global de ouro é de cerca de 170.000 toneladas métricas. A 1.750,00 dólares por onça - o preço actual do ouro - o seu valor global atinge os 9,6 triliões de dólares. Chamemos a este stock, Conjunto A.
Criemos agora um Conjunto B com um valor igual. Podemos comprar toda a terra agrícola dos Estados Unidos (162 milhões de hectares, com uma produção anual de 200 biliões de dólares) e 16 Exxon Mobil's (a mais lucrativa empresa do mundo, com lucros anuais superiores a 40 biliões de dólares). Após estas compras, ficaríamos com uns trocos no bolso, cerca de 1 trilião de dólares. Consegue imaginar algum investidor, com 9,6 triliões de dólares disponíveis, que escolhesse o Conjunto A?
Para além da avaliação estarrecedora que é dada ao stock de ouro existente, os preços actuais do ouro avaliam a sua produção anual em cerca de 160 biliões de dólares. Os compradores - quer sejam joalheiros, utilizadores industriais, indivíduos assustados ou especuladores - têm que absorver continuamente toda esta produção apenas para manter o equilíbrio nos preços actuais.
Dentro de um século, os 162 milhões de hectares de terra agrícola terão produzido quantidades enormes de milho, trigo, algodão e outras colheitas - e continuarão a produzir qualquer que seja a moeda em utilização. As 16 Exxon Mobil´s terão pago triliões de dólares em dividendos aos seus accionistas e terão nos seus balanços activos avaliados em muitos mais triliões. As 170.000 toneladas de ouro não terão variado no peso e continuarão a ser incapazes de produzir qualquer rendimento.
Admito que, daqui a cem anos, quando as pessoas se assustarem, muitas corram a comprar ouro. Estou confiante, contudo, que o Conjunto A terá conseguido uma taxa de retorno muito inferior à do Conjunto B."
Assistimos a uma enorme transferência de riqueza dos accionistas para os gestores de grandes multinacionais, que pagam a si próprios compensações extravagantes.
O anúncio feito pela DECO na passada quarta-feira e a carta de Greg Smith, ex-responsável pela área de derivados na Europa, Médio Oriente e África da Goldman Sachs, noticiada pela imprensa no mesmo dia, motivam este artigo. A Deco afirma que maus depósitos custaram 1,5 mil milhões aos portugueses em 2011. Greg Smith afirma, entre outras declarações fortes, que "os interesses dos clientes continuam a ser marginalizados".
Há meses, um artigo da Bloomberg noticiava que por todo o mundo Familly Offices retiravam o dinheiro dos bancos para criarem as suas estruturas de gestão. Nesse artigo, gestores de várias famílias nos quatro cantos do mundo manifestavam a sua insatisfação com os grandes bancos e gestores de dinheiro, alegando que deixaram de actuar como guardiões de capital, para passarem a meros vendedores e comissionistas.
Adam Smith não ficaria muito surpreendido com este resultado. Há mais de 2 séculos escreveu: "Sendo os administradores de tais empresas, os gestores de dinheiro alheio, mais do que do próprio, não se pode esperar que o vigiem tão ansiosamente como os sócios particulares fazem com o seu. Como os guardiões de um homem rico, muito facilmente concedem a si mesmo uma recompensa. A negligência e profusão, portanto, prevalecem sempre".
A grande dispersão do capital das grandes multinacionais em bolsa, financeiras ou não, faz com que não haja "um dono" responsável. Os investidores - grandes institucionais ou particulares - não assacam responsabilidades aos gestores. Os grandes institucionais, que detêm grande parte das acções - e na maioria dos casos são detidos por grandes bancos - gerem os fundos de pensões destas grandes multinacionais e são contratados para as operações de banca de investimento, que proporcionam comissões extraordinárias. Ora, não têm "liberdade" para questionar as remunerações de gestores, as políticas de aquisições ou a falta estratégia de criação de riqueza para os accionistas a longo prazo. Os pequenos investidores são estimulados a olhar para o curto prazo e as acções são papel para trocar de mãos todos os dias, permitindo elevadas comissões de transacção. Os auditores, que deveriam vigiar a actividade dos gestores para minorar conflitos de interesses, são, eles próprios, contratados por aqueles que terão que avaliar.
Assistimos, por isso, a uma enorme transferência de riqueza dos accionistas para os gestores de grandes multinacionais que pagam a si próprios compensações extravagantes. Nas instituições financeiras, esta transferência acontece, não só de accionistas, mas também de clientes para administrações e gestores. Entre 1997 e 2002, o total de comissões pago pelos investidores norte americanos aos bancos, corretoras e fundos de investimentos excedeu os 1,275 triliões de dólares. Parafraseando Churchil, nunca tanto foi pago por tantos a tão poucos por tão pouco.
O nosso sistema de capitalismo de mercado sofreu um falhanço profundo - como a todos os sistemas, às vezes, acontece - com uma variedade de causas, cada uma interagindo com e reforçando as outras: a ascensão do CEO imperial; os truques da engenharia financeira no reporte de resultados; o falhanço dos nossos guardiões - auditores, reguladores, gestores de investimentos e conselhos de administração - que se esqueceram a quem deviam lealdade; as instituições financeiras que passaram a ser traders de acções ao invés de se comportarem como donos de acções; a hipérbole promocional de Wall Street; a vontade dos analistas em pôr de lado o seu cepticismo; a excitação frenética dos media; e, obviamente, os membros do público investidor que festejam sempre o lucro fácil. Foi esta conspiração entre todas as partes interessadas, que baixou os padrões do negócio.
Este é o capitalismo dos gestores e não o dos donos, como deveria ser.
No mundo do investimento tudo o que é óbvio é questionável e nada do que é importante é intuitivo.
Incluo, com frequência, nos meus artigos, citações famosas que resistem à passagem do tempo exactamente porque são relevantes, eloquentes e cheias de sabedoria.
De Santayana, "a história repete-se e esquecer o passado é estar condenado a repeti-lo" . De Winston Churchil, "quanto mais longe no passado olhares, mais longe no futuro conseguirás ver". De Mark Twain, "a história não se repete, rima". De que serve a história? No fim de contas, a história é passado.
Li, por estes dias, mais uma carta a investidores digna de nota, desta vez, de Howard Marks, com referências que também já aqui escrevi: "A verdade é que a história pode ser uma grande ajuda... no investimento e na vida. Na quinta década da minha carreira como investidor, sinto que muita da minha capacidade de adicionar valor tem origem na história que testemunhei e no significado que dela consegui extrair".
Como Twain disse, os eventos da história não se repetem exactamente. Raramente se passa a mesma coisa uma e outra vez. No mundo dos investimentos, por exemplo, a duração e amplitude das flutuações raramente são as mesmas de ciclo para ciclo. Mas também, como Twain disse, a história rima. São aquilo a que eu chamo tendências ou padrões comportamentais que apresentam as lições importantes.
A tendência dos investidores em ignorar ou esquecer o passado é notável. Assim como o hábito de sucumbir à emoção. As pessoas esquecem-se, particularmente, da natureza cíclica das coisas, extrapolam até ao excesso as tendências passadas e ignoram a probabilidade da reversão para a média.
"A Morte das Acções", um artigo publicado na BusinessWeek em Agosto de 1979 sinalizando uma mudança tectónica no investimento, é um bom exemplo. A base era a seguinte:
1. Sete milhões de accionistas tinham abandonado o mercado de acções desde 1970,
2. As instituições que geriam fundos de pensões foram autorizadas a investir noutros activos que não acções,
3. Os fundos de investimento, até então com cerca de 80% investido em acções, estavam abaixo de 50%,
4. Poucas empresas encontravam comprador para as suas acções.
O artigo era tão negativo que, quem pensasse só por si, diria: isto já não pode piorar mais. A verdade é que marcou a mudança: o início do maior bull market da história.
"Yogi" Berra, famoso jogador de basebol dos New Youk Yankees, ficou também na história por proferir frases sem lógica: "não chega ao fim enquanto não acaba", "quando chegares a uma bifurcação, segue-a", "deja vu outra vez" ou "na verdade, eu não disse tudo aquilo que disse"
O autor deste artigo "A morte das Acções" não lhe ficava atrás. No artigo justificava o título dizendo: "...com o preço do imobiliário sempre a subir... a terra é uma garantia contra perdas" ou "para os investidores... os preços baixos das acções continuam a ser um desincentivo ao investimento" e "seria necessário um bull market sustentado durante um par de anos para atrair uma base alargada de investidores e restaurar a confiança".
Ora, quando os preços estão tão baixos, as acções podem começar a subir sem a ajuda de um bull market. Da mesma forma, quando as acções estão caras, os preços podem ruir sob o seu próprio peso.
A conclusão é simples: o bom senso não é comum. A multidão está invariavelmente errada nos extremos do mercado. No mundo do investimento, tudo o que é óbvio é questionável e tudo o que é importante é contra-intuitivo. Os investidores provam repetidamente que conseguem ser menos lógicos que Yogi.
Quando os preços sobem para níveis além do céu, quer no mercado de acções ou imobiliário ou outro, reina o optimismo... Do mesmo modo, quando os preços caem para níveis tão baixos que as empresas transaccionam a 60% do valor de substituição dos activos subjacentes e o pessimismo está em máximos, é comum aparecer um novo paradigma: as velhas regras já não se aplicam.
O que, consistentemente, fornece as fundações para esta insistência de que o "jogo" mudou para sempre? As quatro palavras mais perigosas do mundo do investimento: DESTA VEZ É DIFERENTE.
Buffett apelidou este conjunto de vantagens competitivas Moat, ou seja, o fosso, como os que existiam à volta dos castelos medievais para os proteger dos inimigos.
O Investimento em Valor pressupõe a selecção de um conjunto limitado de boas empresas cujos negócios subjacentes tenham fundamentos económicos soberbos, que sejam geridas por gestores capazes e honestos e que estejam a transaccionar a preços sensatos. A ênfase deve ser colocada primeiro, na procura de bons negócios, os que têm grandes vantagens competitivas e capacidade para as manter por muitos e bons anos; segundo, no desconto a que a acção transacciona no mercado em relação ao valor justo determinado para a empresa.
É claro que uma excelente empresa pode não ser um bom investimento se comprarmos as suas acções sem margem de segurança. A Microsoft, em 2000, já era uma empresa excepcional. Contudo não era um bom negócio e quem a comprou ainda está a perder dinheiro.
O nosso objectivo na gestão de patrimónios financeiros é encontrar negócios com características excepcionais a preços sensatos. Os negócios medíocres, mesmo em saldo, não interessam ao investidor em Valor. Uma empresa que consiga gerar retornos elevados no capital investido durante muitos anos, irá capitalizar a riqueza dos seus accionistas a taxas de rentabilidade mais elevadas.
Para se encontrar boas empresas com grande potencial a prazo, é necessário concentrar os esforços na análise dos negócios que lhes estão subjacentes e determinar se essas empresas têm o seu futuro protegido por atributos que lhes conferem vantagens competitivas duráveis.
Empresas que conseguem fazer isto não são comuns, uma vez que a obtenção de retornos elevados atrai concorrentes para o sector o que reduz as rentabilidades do negócio. No entanto, algumas empresas resistem aos ataques da concorrência promovendo o seu crescimento por períodos bastante alargados de tempo. Empresas deste género podem preencher qualquer carteira de investimento em acções que tenha como objectivo obter um bom retorno com risco muito reduzido.
Alguns exemplos de empresas com grandes vantagens competitivas e que ao longo dos últimos 30 anos conseguiram rentabilidades excepcionais: Johnson & Johnson (retorno total: 5233% i.e, 14,16% anuais), Exxon Mobil (retorno total: 7144% i.e, 15,33% anuais), Procter & Gamble (retorno total: 5088% i.e, 14,06% anuais), Wells Fargo (retorno total: 8408% i.e, 15,95% anuais) ou Coca Cola (retorno total: 10202% i.e, 16,69% anuais) têm sofrido competição intensa ao longo destes anos. No entanto, continuam a gerar excelentes retornos do capital.
Existem características estruturais específicas que permitem detectar este tipo de empresas. Os atributos mais comuns que conferem vantagens a um negócio são:
1. activos intangíveis, como marcas fortes, patentes ou licenças regulatórias, que lhe permitem vender produtos e serviços que os seus concorrentes não conseguem replicar,
2. produtos e serviços muito difíceis de abdicar pelos clientes, criando custos de mudança que conferem à empresa poder de fixação de preços,
3. efeitos de rede - uma força poderosa de vantagem competitiva que pode permitir manter os concorrentes à margem por longos períodos de tempo,
4. vantagens na estrutura de custos, que podem ter origem nos processos operacionais, na localização, escala ou no acesso privilegiado a determinado activo (uma matéria-prima, por exemplo), que permite à empresa disponibilizar bens e serviços a preços mais baixos que os concorrentes.
Warren Bufett apelidou este conjunto de vantagens competitivas de Moat, ou seja, o fosso, como os que existiam à volta dos castelos medievais para os proteger dos inimigos e que, no caso das empresas com fundamentos económicos excelentes, contribuem para manter a concorrência afastada do seu negócio e rentabilidades excepcionais.
O objectivo do investidor em Valor é ter em carteira negócios de primeira classe. Ao longo de qualquer período de tempo alargado, estes investimentos provarão ser os vencedores destacados face a outras categorias de activos. Melhor ainda, serão os mais seguros.
Katsenelson não investe num índice, investe num conjunto limitado de excelentes empresas com vantagens competitivas, quando estão baratas.
Na conferência organizada pelo Jornal de Negócios dia 19 deste mês, John Authers, principal conferencista e colunista do Financial Times, fez a sua apresentação defendendo que estamos num mercado "caranguejo", ou seja um mercado que anda de lado.
Embora nunca tenha feito referência a Vitaliy Katsenelson ou ao livro de sua autoria "Sideways Markets" (2011), quem leu o livro percebeu que Authers apresentou os argumentos do autor para dizer que não estamos num bull market, estamos, segundo ele, num mercado "caranguejo", que anda de lado há vários anos e tudo leva a crer que continuará a andar mais alguns.
Na sua apresentação, justifica este possível comportamento para os próximos anos por duas razões: primeiro, pelo facto de estarmos num processo de desalavancagem a nível mundial em que Estados, empresas e consumidores têm que reduzir o seu endividamento. Segundo, porque o mercado se encontra ao valor justo, ou seja, os PER´s - Price Earnings Ratio - avaliados com base na média dos resultados das empresas nos últimos 10 anos, estão a níveis que correspondem ao justo valor que produzem. Apesar das grandes variações observadas nos mercados nos últimos 10 anos, se os investidores tivessem investido no índice, desde 2000, estavam a zero. De acordo com esta teoria, até 2020 os mercados continuarão a andar de lado.
Depois, veio o tempo das perguntas: o que devem então fazer os investidores? Nestas situações as respostas raramente são muito concretas, por limitações impostas pelas instituições que cada um representa, ou outras.
O facto dos índices não "irem a lado nenhum", como referiu Authers, não quer dizer que os investidores não devam investir em acções. Katsenelson defende aliás que há excelentes condições para ganhar dinheiro nestes mercados. É importante saber avaliar as empresas, procurar e encontrar as que têm excelentes posições competitivas e que por isso terão bons resultados, verificar que têm pouca dívida e que são geridas por gestores capazes. Depois, comprar apenas quando estão baratas.
Katsenelson, que regularmente expressa as suas opiniões no Financial Times, Barron´s, Institutional Investor, Bloomberg, New York Post, entre outros, é um investidor em valor conhecido pelo seu bom senso. Katsenelson não investe num índice, investe num conjunto limitado de excelentes empresas com vantagens competitivas, quando estão baratas. Portanto, mesmo quando o mercado "transacciona numa banda", é possível obter boas rentabilidades.
Questionados onde investir, os conferencistas sugeriram o mercado americano, com o argumento que é o mercado que tem recuperado melhor.
No site da Casa de Investimentos, pode encontrar um conjunto de artigos escritos desde Novembro de 2008, no Correio do Minho. Ao longo destes últimos três anos, aconselhamos os investidores a investir em acções americanas. A propósito da descida no rating dos Estados Unidos, e com os mercados a cair cerca de 20% dos máximos do ano, escrevi aqui o primeiro artigo: "Ignore a Multidão". Explicámos porque era aquela altura excelente para comprar acções de boas empresas, grandes máquinas de fazer dinheiro para os seus accionistas e que estavam baratas. Desde então, o mercado subiu cerca de 25%.
Como diz Warren Buffett, "O futuro nunca é claro e paga-se um preço muito elevado por um consenso alargado. Aliás, a Incerteza é amiga do investidor de longo prazo"
Continuamos a encontrar excelentes empresas a transaccionar a desconto significativo do seu valor. Contudo, são hoje muitas menos. É, na minha opinião, muito importante dizer aos investidores que é fundamental avaliar os negócios por trás dessas acções e certificar-se que estão baratas. Só assim protegem e rentabilizam o seu dinheiro, quer o mercado se comporte em "sideways" ou não.
Só com más notícias é que conseguimos comprar boas empresas baratas. Como disse um dia Keynes, quando todos concordam com os méritos do investimento já ele estará caro.
Caro leitor ,
Venho trazer ao seu conhecimento o resumo de uma carta que o conceituado gestor de fundos americano, Jeremy Grantham, dirigiu recentemente ao seus clientes. Tenho a certeza, porque os sigo, que estes princípios lhe serão muito úteis. Recomendo que a guarde e, de tempos a tempos, a releia.
(...)"Acredite na História. No mundo dos investimentos, Santayana está certo: "a história repete-se e esquecer o passado é estar condenado a repeti-lo". Todas as bolhas rebentam e todas as manias passam. Devemos, em absoluto, ignorar os interesses escondidos da indústria financeira e as claques inevitáveis que asseguram, de tempos a tempos, que desta vez é diferente e que vivemos um novo paradigma. O mercado é gloriosamente ineficiente e afasta-se, por vezes muito, do seu preço justo mas, eventualmente, após partir o seu coração e esgotar a sua paciência (...), regressará ao valor justo. Eis como deve actuar.
Não empreste, nem peça emprestado. Se pedir emprestado para investir, está a interferir com a sua sobrevivência. Os portefólios alavancados podem ser destruídos por ordens stop. O endividamento reduz o activo crítico de qualquer investidor: a paciência.
Não ponha todos os seus tesouros num único barco. Este é o mais óbvio de todos os conselhos sobre investimento. Foi uma lição que os antigos mercadores aprenderam literalmente há milhares de anos. Vários investimentos diferentes darão resistência ao seu portfólio e a capacidade de resistir a choques inesperados.
Seja paciente e esteja focado no longo prazo. Espere por um bom jogo de cartas. Se esperou e esperou mais um pouco até que o mercado esteja muito barato, essa será a sua margem de segurança. Só tem que ter coragem de comprar. As acções habitualmente recuperam, os mercados recuperam sempre. Se seguiu as regras anteriores, conseguirá aguentar as más notícias.
Reconheça as suas vantagens face aos profissionais. O maior problema para os investidores profissionais é lidar com o risco de carreira, isto é, proteger o próprio posto de trabalho. O segundo maior problema é o excesso de transacções causado pela necessidade de aparentar estar ocupado para merecer o salário. O investidor individual está muito melhor posicionado para esperar pacientemente pela altura certa enquanto ignora o que os outros estão fazer. Isto é quase impossível para os profissionais.
Tente conter o optimismo. O optimismo é provavelmente uma característica positiva de sobrevivência. A nossa espécie é optimista e, de uma forma geral, as pessoas de sucesso são mais optimistas que a média. Mas o optimismo tem uma desvantagem, principalmente para os investidores: não gosta de ouvir más notícias.
Em raras ocasiões, tente ser corajoso. O investidor individual pode investir uma maior parte do seu portfolio quando surge uma oportunidade única. O maior risco para o investidor profissional - perda de comissões e de clientes - não existe para o investidor individual.
Resista à multidão: os números são mais importantes. Este é o conselho mais difícil de seguir: é difícil resistir ao entusiasmo de uma multidão. Ver os vizinhos a enriquecer no fim de uma bolha enquanto estamos fora do mercado é pura tortura. A melhor maneira de resistir é calcular o valor do mercado, focar-se nestes números e ignorar tudo o resto. Ignore especialmente as notícias de curto prazo: o vaivém das notícias económicas e políticas é irrelevante. O valor das acções está baseado no valor futuro total dos lucros e dividendos que a empresa vai gerar nas próximas décadas.
Seja verdadeiro consigo próprio. É imperativo, para ter algum sucesso nos investimentos, que conheça as suas próprias limitações. Se consegue ser paciente e ignorar a multidão, provavelmente terá sucesso. Mas pensar que o consegue e depois adoptar uma estratégia que lhe permite ser seduzido ou intimidado pela multidão é uma garantia de desastre. Se não consegue resistir à tentação, simplesmente não deve investir na bolsa. (...)"
Com consideração,
Emília O. Vieira
Presidente do Conselho de Administração
Casa de Investimentos - Gestão de Patrimónios, S.A.
As alterações sociais que conduziram a uma "sociedade do lucro", em que o dinheiro se sobrepõe à realização pessoal, mede a nossa valia pelo que ganhamos e gastamos.
O primeiro fundo de investimento, Massachusetts Investors Trust (MIT), foi criado em 1924, nos Estados Unidos e era gerido pelos seus próprios depositários. Apesar desta indústria, na sua génese, ter objectivos e princípios sãos - a proteção dos valores investidos e a recompensa dos donos do dinheiro - estes foram rapidamente adulterados em benefício dos seus gestores e dos conglomerados financeiros.
Várias são as razões que contribuíram para essa transformação:
1. As alterações sociais que conduziram a uma "sociedade do lucro", em que o dinheiro se sobrepõe à realização pessoal, mede a nossa valia pelo que ganhamos e gastamos e corrói o círculo virtuoso de confiança em que a nossa sociedade tão profundamente depende.
2. O crescimento dos Fundos de Investimento e a sua transformação num "grande negócio". A SEC - Securities and Exchange Comission, entendia que a venda de uma empresa gestora de fundos era a venda de um dever fiduciário e os lucros excessivos dos gestores constituíam uma apropriação ilegal dos activos dos fundos. Em 1958, uma decisão judicial veio permitir que estas empresas fossem cotadas em bolsa e detidas por indivíduos que não os gestores dos fundos. O grande objetivo dos fundos passou a centrar-se no lucro e no crescimento do negócio.
Só nos Estados Unidos, passou-se de um volume de 2 biliões em 1950, para 8 triliões em 2005. A guarda dos valores confiados passou para segundo plano. A venda e o comissionamento passaram a ditar a estratégia a seguir. Os fundos passaram a ser um dos negócios mais lucrativos para os gestores, em detrimentos dos investidores. Muitos empreendedores foram atraídos para esta actividade, não com o propósito do dever fiduciário, mas antes com o fim claro de criação das suas fortunas individuais.
O prémio Nobel Paul Samuelson declarou, em 1967, de forma pungente: "Só existe um sítio para fazer dinheiro no negócio dos fundos de investimento - da mesma forma como só existe um sítio para um homem moderado num bar - atrás do bar e não à frente... por isso investi numa empresa gestora de fundos". Olhando para a situação actual, Samuelson estava muito mais certo do que alguma vez poderia imaginar.
John Boogle, fundador da Vanguard, uma das poucas gestoras independentes que restam, conclui: "a indústria dos fundos de investimento desenvolveu uma estrutura que favorece os interesses dos gestores em detrimento dos interesses dos clientes".
3. As gestoras tornam-se subsidiárias dos grandes conglomerados financeiros, os grandes Bancos mundiais: a extraordinária acumulação de activos sob gestão que resultou destas compras - muitas vezes centenas de biliões de dólares - servem somente o interesses dos gestores dos fundos e dos bancos que detêm estas empresas. A consequência deste aumento de dimensão foi a escalada das comissões, muitas vezes escondidas no preço das unidades de participação.
Por outro lado, esta concentração dificilmente serviria os interesses dos clientes. É muito pouco provável que dimensões gigantes e a procura de lucros crescentes tornem a gestão do dinheiro mais eficiente ou baixem os custos para os clientes ou façam a indústria regressar à sua missão original de guarda e valorização dos patrimónios.
Os retornos para os investidores não foram beneficiados com estas alterações. De facto, o inverso é verdadeiro. Os fundos geridos sob a égide de grandes instituições financeiras conseguiram retornos distintamente inferiores aos conseguidos por fundos geridos por empresas não cotadas em bolsa. Um estudo levado a cabo pela Fidelity Investments analisou as performances de 54 gestoras ao longo da década terminada em 2003. As conclusões são espantosas. As oito melhores gestoras não estavam cotadas em bolsa, eram detidas pelos gestores dos fundos.
A independência e o alinhamento com os interesses dos clientes são fundamentais para a protecção e valorização dos patrimónios financeiros.
Os investidores são incentivados a não meter todos os ovos no mesmo cesto e os fundos de investimento proporcionam uma enorme variedade de investimentos.
Na semana passada, fiz aqui um sumário sobre o aparecimento, crescimento e transformação da "indústria dos fundos de investimento". A perspetiva apresentada nesse artigo é apenas do lado da oferta: os volumes extraordinários em gestão e a procura de lucros crescentes passaram a ser os objetivos das instituições financeiros.
Na venda dos fundos de investimento, a banca recorre sempre a argumentos a que os investidores são sensíveis:
1. Vantagens na diversificação de investimentos - os investidores são incentivados a não colocar "todos os ovos no mesmo cesto" e os fundos de investimento proporcionam uma enorme variedade de investimentos em diversas classes de ativos. Desde fundos mobiliários compostos por ações, obrigações, contratos de futuros; fundos sectoriais, de matérias-primas, de índices, fundos imobiliários, e até fundos de fundos, existe uma imensidão de variantes para todos os gostos e perfis inventados pela indústria financeira. Infelizmente aquilo que é vendido como uma vantagem torna-se na sua maior desvantagem: excesso de diversificação e falta de transparência. O fundo de ações com 300 ou 400 empresas terá certamente retornos semelhantes ou piores aos dos índices. Os retornos das boas empresas são diluídos pelas empresas medíocres e menos boas.
Porquê este excesso de diversificação? Os gestores dos fundos, por restrições legais, internas à própria instituição financeira e até para protegerem o seu emprego, enveredam por uma diversificação que tende a refletir as variações dos índices de mercado. Se tiverem performances (ainda que más) que reflitam o mercado, o seu lugar está a salvo. Por outro lado, os gestores e os seus fundos são constantemente avaliados pela performance do último trimestre e, portanto, vendem quando todos vendem e compram quando todos compram, focados apenas no curto prazo.
2. Possibilidade de investir montantes reduzidos - este é um bom princípio para quem tem valores mais reduzidos. No entanto, verificamos que a banca gere patrimónios financeiros relevantes, com uma grande dispersão por muitos fundos de investimento. Uma diversificação sem sentido e propósito, que têm apenas subjacente o comissionamento na venda.
3. Acesso a uma gestão "profissional" - até Junho de 2009, o bancos aconselhavam os investidores a aplicarem o seu dinheiro em depósitos a prazo: "fique conservador e lá para Junho fique mais agressivo". Em Junho, os jornais noticiavam que os gestores de fundos estavam naquela data, mais recetivos à compra de ações. O mercado já tinha subido 40%. Em Agosto de 2011, em duas semanas, o mercado americano recuou 20%. Nos mínimos desta correção, as grandes gestoras mundiais anunciavam nos canais de televisão, CNBC e Bloomberg, que estavam em dinheiro porque o futuro era incerto. Desde essa altura, o mercado americano subiu 24%.
4. Custos de transação baixos. Este argumento é falso na esmagadora maioria dos casos. Os fundos de investimento têm comissões de subscrição, de resgate, de gestão, de performance e custos de transação. O comissionamento é tão elevado que os retornos só podem ser medíocres. Estas comissões não são comunicadas com transparência, são escondidas aos clientes nas cotações das Unidades de Participação.
John Bogle, fundador da gestora de fundos Vanguard, sumariza muito bem o melhor caminho a seguir: "é fundamental que as gestoras sejam detidas pelos gestores e que sejam independentes dos grandes grupos financeiros. Só assim atuam como guardiões dos donos do dinheiro".
Warren Buffett diz-nos como investir com sucesso: devemos comprar ações de empresas com negócios excecionais, geridos por gente capaz e honesta, quando os seus preços estão a desconto substancial do seu valor justo. Assim, o investidor diversifica apenas o essencial e concentra os seus investimentos em 10 ou 12 boas empresas que conhece muito bem e nas quais se sente inteiramente confiante. Este investimento é completamente transparente. Só devemos investir naquilo que entendemos.
A frase que dá título a esta crónica é de Christopher H. Browne e foi extraída de "O Livro do Investimento em Valor".
O princípio central do investimento em valor é a salvaguarda da margem de segurança. Quanto mais baixo for o preço de compra do ativo em que investimos, maior é a margem de segurança que se consegue e consequentemente, maior será o retorno para o investidor.
Nada,, no investimento, surge de forma fácil - e quando parece devemos usar de grande ceticismo na sua análise - e portanto, a margem de segurança é conseguida devido a diversos fatores de natureza negativa: a crise financeira em que vivemos, abrandamento do crescimento económico, problemas com determinado sector, legislação desfavorável, aumento dos custos de matérias primas em determinado sector, problemas que a empresa tem com determinado produto ou mesmo alterações na gestão. Todos estes fatores geram notícias negativas que, independentemente de serem comunicadas de forma esclarecedora ou não, geram um sentimento de pessimismo, por vezes, extremo, que depreciam os preços dos ativos ainda mais.
Todos somos influenciados por notícias que lemos nos jornais e vemos nas televisões, ou pelo que ouvimos a amigos e pessoas que julgamos especialistas. No entanto, todos sabemos também que a melhor altura para comprar ações, uma quinta ou qualquer outro ativo, é quando estão baratos. Contudo, quando as ações estão baratas é muito fácil encontrar motivos para não as comprar. É nestas alturas que é muito difícil ser contrário e ignorar o que a multidão está a fazer. É nestas alturas que toda a gente vende e, em qualquer conversa de circunstância em que o assunto possa surgir, anuncia que já vendeu.
A experiência do passado recente da maior parte dos investidores em Portugal é de perdas muito significativas. Os títulos mais disseminados na bolsa portuguesa são dos que maiores perdas acumulam. É compreensível que os investidores estejam tão céticos e julguem que o futuro seja sempre este. Esta atitude amplia ainda mais a queda das cotações.
O investidor comum não está sozinho. Este foi também o comportamento dos grandes gestores de dinheiro a nível mundial. Entre Outubro de 2008 e Junho de 2009 muitos, nos principais canais de negócios e nas revista e jornais da especialidade, com grande orgulho apregoavam Cash is King, ou seja, dinheiro é rei. Muitos deles mantiveram esta postura e previram a desgraça por muito tempo. Não queriam desistir da sua genialidade de um dia para o outro. Dos mínimos de Março de 2009 até fim de Junho, o principal índice americano S&P500, subiu cerca de 44%. Dinheiro, afinal, não era rei.
É claro que não sabemos quando o mercado começa a subir e portanto, não tentamos adivinhar o dia em que deveremos comprar. Estou aliás convencida que ninguém sabe. Sabemos, no entanto, o preço a que devemos comprar para garantir uma margem de segurança confortável: é quando nos vendem o valor de 1 euro por 60 cêntimos (nalguns casos os "saldos" na bolsa são ainda maiores).
O futuro próximo não é claro para nós. As recuperações económicas não se fazem de um dia para o outro e a estrada apresentará sempre solavancos. No entanto, sabemos que, a prazo, os mercados acabarão por refletir o verdadeiro valor das empresas. Sempre o fizeram no passado. Sabemos também que quando as notícias sobre a economia e as empresas forem favoráveis o mercado já terá subido substancialmente.
O verdadeiro investidor deve estar preparado psicológica e financeiramente para, no curto prazo, ver grandes desvios entre valor intrínseco das ações e preço a que estão a cotar no mercado e aproveitar para fazer bons investimentos.
Uma carteira diversificada em ações de boas empresas nacionais e estrangeiras que geram bons rendimentos (nalguns casos com dividendos superiores aos depósitos a prazo), compradas tão baratas, mantidas por um horizonte de investimento adequado; proporcionarão excelentes rentabilidades.