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Autoria
Ben Carlson
Ben Carlson

Post originalmente publicado a 23 de outubro de 2022 por Ben Carlson, no blog A Wealth of Common Sense.

A vida não é vivida no longo prazo

Uma das analogias mais frequentemente utilizados nas finanças pessoais é a semelhança entre manter a forma física e manter a forma financeira.

O sucesso quer nas finanças quer na saúde exige algumas regras bastante simples.

Para nos mantermos saudáveis, temos de ter uma alimentação equilibrada e fazer exercício regularmente.

Para construirmos riqueza, é preciso gastar menos do que ganhamos e investir a diferença.

Isto é simples, mas não é fácil.

O leitor provavelmente já se cruzou com esta analogia antes. Na verdade, eu já a utilizei muitas vezes no passado. É uma boa analogia.

No entanto, quanto mais penso nisto, mais concluo que esta provavelmente não é uma comparação justa.

Com certeza que não é fácil construir riqueza, mas há coisas que podemos fazer para aliviar o fardo. A tecnologia atual permite a automatização de muitas das ações que antes tínhamos de fazer manualmente.

Podemos automatizar os pagamentos de contas, poupança, contribuições para a reforma, alocação de ativos, reequilíbrio de portfólio, reinvestimento de dividendos, etc.

A capacidade de automatizar as boas decisões financeiras foi um enorme progresso para os investidores individuais. Isto não significa que não vamos cometer erros, mas utilizar o piloto automático na grande maioria das nossas decisões financeiras coloca-nos numa posição privilegiada para ter sucesso.

É muito mais difícil automatizar a nossa saúde.

Os estudiosos das dietas estimam que, em média, somos forçados a tomar mais de 200 decisões relacionadas com alimentos diariamente.

Basta pensar como é fácil comer alimentos que são prejudiciais para nós – comida rápida, snacks nos armários, comida de estação de serviço, apps de entrega de comida, restaurantes, etc. A tentação parece não ter fim.

E não podemos exatamente automatizar o exercício. É algo que temos de fazer dia após dia. Não podemos colocar o exercício no piloto automático. Temos de ter motivação para suar alguns dias por semana.

É por tudo isto que cerca de 95% das pessoas acabam por recuperar o peso que perderam na dieta.

É difícil!

Algumas pessoas acham mais fácil manter a forma física, enquanto outras acham muito mais fácil manter as suas finanças sob controlo, mas de uma forma geral, a forma física é muito mais difícil de manter do que a riqueza.

Para ser saudável temos de nos esforçar diariamente. A riqueza acontece porque tomamos algumas boas decisões antecipadamente e deixamos que elas percorram o seu próprio caminho.

É por isto que é tão importante mantermo-nos fiéis a uma mentalidade de longo prazo durante um bear market. Os bear markets tentam-nos fazer crer que os dias são mais importantes do que os anos.

Os bear markets querem que nós nos comportemos como uma dieta da moda e querem levar-nos a cometer erros. Os bear markets querem que prestemos atenção aos movimentos diários do mercado.

Como é que eles fazem isto?

Exibindo mais volatilidade – tanto para cima como para baixo para o negativo – diariamente.

Só neste mês, 60% de todos as sessões do S&P 500 registaram ganhos ou perdas superiores a 1%.

É isto que acontece durante as recessões – aglomerados de volatilidade porque os investidores compram e vendem em pânico quando começam a perder dinheiro.

Analisei os últimos 10 anos de variações diárias no S&P 500 e dividi os ganhos e perdas para mostrar com que frequência se verificaram grandes variações em ambas as direções.

Esta tabela mostra o número de vezes que o S&P 500 subiu ou caiu 1% ou mais, 2% ou mais e 3% ou mais diariamente num determinado ano, juntamente com o maior recuo do ano:

Os anos com maiores recuos – 2015, 2016, 2018, 2020 e 2022 – mostraram variações diárias maiores do que aqueles anos que não tiveram um recuo tão pronunciado.

Quando os mercados estão mais voláteis, os investidores têm mais dificuldade em tomar decisões. Isto normalmente não acontece quando as ações estão a subir.

Quando as ações estão a subir, as pessoas quase que se esquecem do mercado.

Quando as ações estão a cair, todos começam a prestar mais atenção.

Em 2017, por exemplo, não se verificou uma correção significativa e muito poucas variações diárias de monta. O S&P 500 fechou o ano com um ganho de mais de 21%, mas 2017 é pouco memorável no grande esquema das coisas.

No entanto, este ano já testemunhamos enormes oscilações diárias. Já se verificaram mais de 100 ganhos ou perdas diárias de 1% ou mais. E ainda que o mercado esteja a cair significativamente, esses ganhos e perdas são, na verdade, bastante equilibrados em termos do número de vezes que ocorreram.

Até agora, em 2022, o mercado de ações caiu 1% ou mais em 52 ocasiões, e subiu 1% ou mais 49 vezes.

Variações desta magnitude são oportunidades para cometermos erros no nosso plano de investimento de longo prazo.

Eu sou um grande defensor do pensamento de longo prazo. Os alicerces da minha filosofia de investimento têm como base a ideia de que é melhor pensar e agir a longo prazo.

No entanto, temos de sobreviver no curto prazo para chegar ao longo prazo.

No seu discurso, aquando da entrega do Prémio Nobel, o psicólogo comportamental Daniel Kahneman defendeu que o foco exclusivo no longo prazo pode não ajudar, “porque a vida não é vivida no longo prazo”.

Alguns investidores têm a capacidade de ignorar as variações diárias do mercado, mas nem todos nasceram com uma capacidade semelhante à de Spock de manter as suas emoções estáveis, independentemente das circunstâncias.

As pessoas são pessoas e as pessoas têm emoções. É por isso que entramos em pânico.

A maioria dos investidores precisa de algum tipo de válvula de escape emocional.

Para algumas pessoas, isto pode significar manter mais dinheiro à ordem do que o necessário como proteção emocional contra a queda dos preços das ações.

Para outras pessoas, podem ser a implementação de uma estratégia tática ou a alocação de uma pequena percentagem do seu portfólio para especulação ou investir em títulos que não têm liquidez diária ou então, simplesmente não olhar para o valor do portfólio quando as ações estão a cair.

Estas estratégias podem parecer irracionais quando examinadas isoladamente, mas, às vezes, os humanos precisam de ser irracionais para aguentar a pressão.

No final de contas, temos que sobreviver a muitos curtos prazos para chegar ao longo prazo.


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