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No seu livro “O Investidor Inteligente”, publicado em 1949, Benjamin Graham, que foi professor de Warren Buffett na Columbia Business School, apresentou-nos um indivíduo chamado Sr. Mercado:
“Imaginem que, numa determinada empresa, o leitor possui uma pequena participação que lhe custou 1000 dólares. Um dos seus sócios, chamado Sr. Mercado, é muito prestável. Todos os dias, ele avalia a sua participação e oferece-se para a comprar ou para lhe vender uma participação adicional. Por vezes, essa avaliação parece plausível e justificada pelos desenvolvimentos no negócio e pelas suas perspetivas futuras. No entanto, frequentemente, o Sr. Mercado deixa-se levar pelo seu entusiasmo ou pelos seus receios e os valores que propõe aparentam ser pouco menos que absurdos.”
Obviamente, o Sr. Mercado é uma metáfora para os mercados financeiros como um todo. Dado o comportamento inconsistente do Sr. Mercado, os preços que ele diariamente atribui às ações podem divergir – por vezes dramaticamente – do seu valor justo. Quando ele está excessivamente entusiasmado, podemos vender-lhe a preços intrinsecamente demasiado elevados. E quando ele está excessivamente receoso, podemos comprar-lhe a preços que fundamentalmente são demasiado baixos. Assim, os erros de cálculo do Sr. Mercado oferecem oportunidades de lucro aos investidores que estão interessados em tirar partido delas.
Há muito para dizer sobre as excentricidades dos investidores e, ao longo dos anos, já disse muito. Mas a súbita queda dos mercados a que assistimos na primeira semana de agosto –e a rápida recuperação – compele-me a compilar o que escrevi anteriormente sobre o assunto, juntamente com alguns cartoons hilariantes, e acrescentar algumas novas observações.
Antes de mais, revisitemos os eventos mais recentes. Como resultado da pandemia Covid-19, do aumento vertiginoso da inflação e das rápidas subidas de taxas de juro por parte da Reserva Federal americana, 2022 foi um dos piores anos de sempre para a combinação de ações e obrigações. O sentimento atingiu o fundo a meio de 2022, com os investidores deprimidos com expectativas universalmente negativas: “Temos inflação e isso é mau. E a subida das taxas de juro para a combater causará, com certeza, uma recessão, e isso é mau.” Os investidores não conseguiam imaginar algo de positivo.
Depois os humores aliviaram-se e, em finais de 2022, os investidores uniram-se à volta de uma narrativa positiva: o crescimento económico lento faria com que a inflação caísse, e isso permitiria que o Fed começasse a baixar taxas em 2023, o que redundaria em vigor económico e ganhos de mercado. Um rally significativo teve início e continuou quase ininterruptamente até este mês. Embora os cortes nas taxas de juro antecipados em 2022 e 2023 ainda não se tenham materializado, o otimismo ganhou ascendência no mercado. O índice S&P500 subiu 54% (excluindo dividendos) nos 21 meses que terminaram em 31 de julho de 2024.Nesse dia, o presidente do Fed, Jerome Powell, confirmou que o Fed estava cada vez mais próximo de um corte de taxas e as coisas pareciam estar bem encaminhadas para crescimento económico mais robusto e mais ganhos no mercado acionista.
No mesmo dia, porém, o Banco do Japão anunciou o maior aumento das taxas de juro de curto prazo em mais de 17 anos (para uns extraordinários 0,25%!). Isto chocou o mercado acionista japonês, ao qual os investidores estavam lentamente a regressar há mais de um ano. Adicionalmente, e mais importante, este anúncio causou o caos nos investidores que estavam envolvidos no “carry trade”. Durante anos, as infinitesimais – e frequentemente negativas – taxas de juros do Japão significavam que as pessoas podiam pedir dinheiro emprestado a custos baixos no Japão e investir esse dinheiro emprestado numa variedade de ativos, lá e noutras localizações, que prometiam maiores retornos. Isto levou a posições extremamente alavancadas. Parece estranho que um aumento de 25 pontos base nas taxas de juro possa obrigar ao fecho destas posições. No entanto, foi o que aconteceu, levando a vendas em cascata numa variedade de classes de ativos por parte dos investidores que queriam diminuir a sua alavancagem.
No dia seguinte, os Estados Unidos publicaram noticias económicas mistas. No dia 1 de agosto, soubemos que o Manufacturing Purchasing Managers Index tinha caído e que os pedidos de subsídio de desemprego tinham subido. Em contrapartida, as margens de lucro das empresas continuam boas e os ganhos de produtividade surpreenderam pela positiva. No dia seguinte, ficamos a saber que as subidas no emprego se tinham moderado com as novas contratações a subirem menos que o esperado. A taxa de desemprego cifrava-se nos 4,3% no final de julho, uma subida face aos3,4% do final de abril de 2023. Isto continua a ser muito baixo em termos históricos, mas, segundo a subitamente popular “Regra de Sahm” (não se queixem a mim, eu também nunca tinha ouvido falar disto), desde 1970, um aumento de0,5% ou mais na média de três meses da taxa de desemprego face aos 12 meses anteriores nunca se verificou sem que a economia se encontrasse já em recessão. À volta da mesma altura, a Berkshire Hathaway de Warren Buffett anunciou que vendeu uma boa parte da sua posição massiva em ações da Apple.
Em conclusão, estas notícias representaram um golpe triplo no mercado. O flip flop resultante de otimismo para pessimismo causou uma queda significativa no mercado. OS&P500 caiu em três dias consecutivos – 1, 2 e 5 de agosto – um total de 6,1%. A repetição de erros a que já assisti durante décadas foi tão óbvia que não resisto a catalogá-los abaixo.
O que está por trás da volatilidade do mercado?
Nos primeiros dois dias de agosto, estava no Brasil, onde me pediram frequentemente para explicar este súbito colapso. Eu aconselhei a leitura do meu memo de 2016, “On the Couch”. A principal conclusão desse memo era que, no mundo real, as coisas variam entre “bem bom” e “não tão bom”, mas no investimento, a perceção flutua entre “impecável” e “desesperado”. Isto diz-nos 80% daquilo que precisamos de saber sobre este assunto.
Se a realidade muda assim tão pouco, porque é que as estimativas de valor (é o que os preços de mercado são suposto ser) variam tanto? A resposta tem a ver com alterações no humor. Tal como escrevi há 33 anos, no meu segundo memo:
As variações de humor dos mercados acionistas assemelham-se ao movimento de um pêndulo… entre a euforia e a depressão, entre celebrar desenvolvimentos positivos e ficar obcecado com os negativos e, assim, entre demasiado caro ou demasiado barato. Esta oscilação é uma das características mais fiáveis do mundo do investimento e a psicologia do investidor aparenta passar muito tempo nos extremos do que numa “média feliz”. (First Quarter Performance, abril 1991)
As oscilações de humor contribuem muito para alterar a perceção dos eventos pelos investidores, fazendo com que os preços variem drasticamente. Quando os preços colapsam, como aconteceu no início de agosto, não é porque as condições, subitamente, pioraram. É porque elas são percecionadas como más. Alguns fatores contribuem para este processo:
· Uma consciência reforçada das coisas num lado do espectro emocional,
· Uma tendência para ignorar as coisas no outro lado, e
· Similarmente, uma tendência para interpretar as coisas de uma forma que encaixa na narrativa prevalente.
O que isto significa é que, nos tempos bons, os investidores estão obcecados pelos pontos positivos, ignoram os negativos e interpretam as coisas favoravelmente. Depois, quando o pêndulo oscila, os investidores fazem o oposto, com efeitos dramáticos.
Uma ideia importante na economia é a teoria das expetativas racionais, descrita pela Investopedia da seguinte maneira:
A teoria das expetativas racionais… postula que os indivíduos baseiam as suas decisões em três fatores primários: a sua racionalidade humana, a informação disponível e a sua experiência passada.
Se os preços das ações fossem realmente o resultado da avaliação desapaixonada e racional dos dados, uma notícia negativa faria o mercado cair um pouco, a seguinte má notícia faria cair um pouco mais e assim por diante. No entanto, nós vemos que um mercado otimista é capaz de ignorar notícias negativas individuais até que uma massa crítica de más notícias se acumula e um ponto de viragem é atingido, os otimistas rendem-se e o colapso tem início. A grande citação de Rudiger Dornbush sobre a economia aplica-se muito bem aqui: “… as coisas demoram mais tempo a acontecer do que julgamos e depois acontecem mais depressa do que imaginamos.” Ou como o meu sócio, Sheldon Stone, costuma dizer: “O ar sai muito mais depressa do balão do que entrou.”
A natureza não linear deste processo sugere que algo muito diferente da racionalidade está a agir. Mais especificamente, tal como em muitos outros aspetos da vida, a dissonância cognitiva desempenha um papel significativo na psicologia dos investidores. O cérebro humano está programado para ignorar ou rejeitar dados que vão contra crenças anteriores, e os investidores são particularmente bons nisto.
Enquanto estamos no assunto da racionalidade, estava à espera de uma oportunidade para partilhar o seguinte screenshot de 13 de junho de 2022:
Este foi um dia duro para os mercados: as taxas de juro estavam a subir graças à atuação do Fed e outros bancos centrais e, em resultado, os preços dos ativos estavam sob intensa pressão. Mas vejam a tabela. Todos os índices de ações de todos os países caíam significativamente. Todas as moedas caíam face ao dólar. Todas as matérias-primas também estavam a cair. Apenas uma coisa subia: o yield das obrigações… o que significava que os preços das obrigações estavam também a cair. Não havia uma classe de ativos ou um país que não caísse nesse dia? Que tal o ouro, que supostamente se comporta melhor em tempos difíceis? O meu argumento é que, nos grandes movimentos de mercado, ninguém faz análises racionais ou faz distinções objetivas. Simplesmente “deitam o bebé fora com a água do banho”, fruto das oscilações psicológicas. Tal como se costuma dizer, “em tempos de crise, todas as correlações vão para 1.”
Adicionalmente, os dados da tabela exibem um fenómeno extra que está frequentemente presente durante movimentos extremos: o contágio. Algo de mau acontece nos mercados americanos. Os investidores europeus vêm isto como um sinal de sarilhos e vendem. Os investidores asiáticos detetam que algo negativo está iminente e vendem durante a noite. E quando os investidores americanos chegam na manhã seguinte, assustam-se com os desenvolvimentos negativos na Ásia, que confirmam as suas inclinações pessimistas e vendem. Isto é muito parecido com o jogo do telefone que eu jogava quando era pequeno: a mensagem pode ser mal comunicada à medida que é passada entre jogadores, mas incentiva ainda assim ações infundadas.
Quando a psicologia oscila dramaticamente, pode-se dar importância a afirmações sem sentido. Assim, durante o declínio de três dias no início de agosto, verificou-se que os investidores estrangeiros venderam, mais do que compraram, ações japonesas e os investidores reagiram a essa notícia. Mas se os estrangeiros venderam mais, isso significa que os japoneses compraram mais. Por que motivo se dá mais importância a um fenómeno do que a outro?
Para complicar ainda mais as coisas, em termos de análise racional, temos o facto de que a maior parte das notícias no mundo do investimentos podem ser interpretados positiva ou negativamente.
O cartoon seguinte resume esta ambiguidade com menos palavras. É altamente aplicável ao tremor de mercado que inspirou este memo:
Outra fonte de erros de cálculo é a tendência dos investidores para o otimismo e o pensamento positivo. Os investidores em geral – e os investidores em ações, em particular – devem, por definição, ser otimistas. Quem senão pessoas com expetativas positivas (e/ou um forte desejo por mais riqueza) estariam disponíveis para se separarem de dinheiro hoje na esperança de terem mais no futuro?
Charlie Munger, o já falecido sócio de Warren Buffett, citava o antigo estadista grego, Demóstenes, que afirmava, “Nada é mais fácil que a autoilusão. Porque aquilo que um homem deseja, ele acredita que é real.” Um excelente exemplo é o “Pensamento Goldilocks”: a crença que a economia nunca será suficientemente forte para causar inflação nem suficientemente fraca para cair numa recessão. As coisas às vezes funcionam assim – é o caso, atualmente – mas não tão frequentemente como os investidores querem crer. As expetativas que se inclinam para o lado positivo encorajam comportamento agressivos por parte dos investidores. E se estes comportamentos são recompensados em tempos bons, habitualmente mais agressividade é o resultado. Raramente os investidores se dão conta que (a) pode haver um limite para boas notícias consecutivas ou (b) uma subida pode ser tão excessivamente forte que uma queda se torna inevitável.
Durante anos, citei Buffett que alertava os investidores para temperarem o seu entusiasmo: “Quando os investidores perdem a noção de que os lucros das empresas crescem, em média, 7% ao ano, eles tendem a meter-se em sarilhos.” Por outras palavras, se o crescimento dos lucros das empresas é, em média, 7% ao ano, não deveriam os investidores ficar preocupados se as ações apreciam 20% ao ano durantes vários anos (tal como aconteceu nos anos 90)? Sempre pensei que era uma excelente citação, mas quando perguntei a Buffet quando a tinha dito, ele disse-me que infelizmente nunca tinha dito aquela frase. Continuo, no entanto, a achar que é um aviso importante.
Esta recordação imprecisa faz-me lembrar John Kenneth Galbraith e a sua referência a uma das mais importantes causas de euforia financeira: “a extrema brevidade da memória financeira”. É esta característica que permite aos investidores excessivamente otimistas encetar comportamentos agressivos, despreocupados pelo conhecimento do que esse comportamento anterior causou no passado. A juntar a isto, esta falta de memória facilita o esquecimento de erros passados e o investimento na última moda milagrosa.
ANTES
Biff: E agora, a nossa correspondente financeira, Janet McFreely, junta-se a nós para nos explicar porque é que o mercado simplesmente nunca vai cair.
Janet: Obrigado, Biff! O espantoso crescimento do setor tecnológico impulsionou-nos para além do antiquado ciclo do Boom e Bust para uma nova economia de prosperidade perpétua! Se o Dow não atingir os 36 mil pontos numa década, comerei a minha Palm Pilot!
Biff: Bem, então – parece que tenho de ligar ao meu corretor!
Janet: Só se quiseres comprar! Ah, ah!
Biff: Ah, ah! Já de seguida – um típico milionário dot-com mostra-nos a sua mesa de matraquilhos de ouro maciço! Mas antes, a publicidade!
AGORA
Biff: E agora, Janet McFreely, junta-se a nós para discutir a histórica inevitabilidade da facilmente previsível queda das dot.com!
Janet: Obrigado, Biff! Esta é uma bolha clássica nos mercados! Os investidores deviam estar delirantes para acreditar que a Priceline.com valia mais que algumas companhias aéreas juntas!
Biff: Em que é que eles estavam a pensar? Onde foram buscar informação tão errada?
Janet: Uh – não creio que haja forma de saber, Biff. Talvez nos chats da internet ou qualquer coisa.
Biff: Ah, ah! A internet… De seguida, um ex-milionário dot-com mostra-nos a fritadeira no seu novo emprego! Mas antes, a publicidade!
O mundo dos investimentos poderia ser menos instável se existissem regras imutáveis – tal como as que governam a gravidade – que pudéssemos confiar para que produzissem os mesmos resultados. Porém, não existem tais regras, uma vez que os mercados não têm como base leis naturais, mas sim as areias movediças da psicologia dos investidores.
Por exemplo, há um adágio muito antigo que diz que devemos “comprar com o rumor e vender com a notícia”. Isto é, a introdução de expetativas favoráveis é um sinal de compra, uma vez que as expetativas frequentemente continuam a subir. Isso, no entanto, acaba quando as notícias chegam, uma vez que o ímpeto para mais ganhos já foi realizado e não existem mais boas notícias para levar o mercado ainda mais para cima.
No entanto, no despreocupado ambiente de há um mês atrás, disse ao meu sócio Bruce Karsh que talvez a atitude prevalente se tenha tronado “comprar com o rumor e comprar com a notícia”. Por outras palavras, os investidores estavam a agir como se fosse sempre altura de comprar. Racionalmente, não se deve descontar a probabilidade de um evento positivo duas vezes: quando a possibilidade do evento é apresentada e quando o evento ocorre. Mas a euforia pode levar a melhor sobre muita gente.
Um outro exemplo da ausência de linhas orientadoras significativas pode ser encontrado neste excerto de um dos mais antigos recortes nos meus arquivos:
Um padrão continuado de consolidação e rotação sugere que se deve aumentar o ênfase em comprar ações quando estão relativamente mais fracas e vendê-las quando se verifica relativa força. Isto representa um contraste marcado com períodos anteriores onde o ênfase na força relativa provou ser eficaz. (Loe, Rhoades & Co., 1976)
Em resumo, às vezes espera-se que as coisas que subiram mais continuem a subir mais, e às vezes espera-se que as coisas que subiram menos, sejam as que vão subir mais. A isto, muitos responderão “duh”. Conclusão: há muito poucas regras eficazes para os investidores seguirem. O sucesso no investimento deve-se sempre a uma análise hábil e não a aderência cega a formulas e regras.
A psicologia volátil, perceção enviesada, reação excessiva, dissonância cognitiva, excesso de otimismo, falta de memória, e a falta de princípios fiáveis. Esta é uma extensa lista de males. Juntas, constituem a principal causa dos máximos e mínimos extremos do mercado e são responsáveis pelas oscilações dramáticas entre ambos. Benjamin Graham afirmou que, no longo prazo, o mercado é uma balança que avalia o mérito de cada ativo e lhe atribui um preço apropriado. Mas no curto prazo, é meramente uma máquina de votos e o sentimento dos investidores que a utiliza, oscila selvaticamente, incorporando pouca racionalidade e atribuindo preços diários que refletem muito pouco em termos de inteligência.
Ao invés de tentar reinventar a roda, repetirei aquilo que já escrevi em dois memos passados:
Especialmente nas quedas, muitos investidores atribuem inteligência os mercado e esperam que seja o mercado a dizer-lhes o que se está a passar e o que fazer. Este é um dos maiores erros que podemos cometer. Tal como Benjamim Graham notou, o mercado do dia a dia não é um analista fundamental; é um barómetro do sentimento dos investidores. Não o podemos levar demasiado a sério. Os participantes no mercado têm um conhecimento limitado do que está realmente a passar-se em termos fundamentais e qualquer inteligência que possa estar por trás das suas compras e vendas é obscurecida pelas oscilações emocionais. Seria errado interpretar a recente queda mundial como se o mercado “soubesse” que tempos difíceis se aproximam. (It´s Not Easy, setembro de 2015)
O meu ponto é que os mercados não avaliam o valor intrínseco dos ativos diariamente e certamente não fazem um bom trabalho durante crises. Assim, os movimentos de mercado não nos dizem muito acerca dos fundamentos económicos. Mesmo nos melhores tempos, quando os investidores são guiados pelos fundamentais e não pela psicologia, os mercados mostram aquilo que os participantes acham que vale, não qual é exatamente o valor. O valor é algo que o mercado desconhece, tal como o investidor médio. E conselhos de um investidor médio não conseguem obviamente ajudar-nos a ser investidores acima da média.
Os fundamentos económicos – de uma economia, empresa ou ativo – não se alteram significativamente de um dia para o outro. Assim, os movimentos de preços tem mais a ver com (a) alterações na psicologia do mercado e, consequentemente, (b) alterações em quem ter ou não ter determinado ativo. Estas duas afirmações são mais válidas quanto mais os preços diários variam. Grandes variações mostram que a psicologia está a mudar radicalmente. (What Does the Market Know?, janeiro de 2016)
O mercado flutua ao sabor dos caprichos dos seus participantes mais voláteis: aqueles que estão disponíveis para (a) comprar a um preço bem acima dos dias anteriores quando as notícias são boas e o entusiasmo domina e (b) vender a desconto substancial quando as notícias são más e o pessimismo reina. Tal como escrevi em On the Couch, de vez em quando, o mercado precisa de ir ao psiquiatra.
É importante notar que, como o faz o meu sócio John Frank, em comparação com o número total de acionistas de cada empresa, não são necessárias muitas pessoas para fazer subir o preço nas bolhas ou fazer cair nos crashes. Quando as ações de uma empresa que, há um mês, valiam 10 biliões de dólares, estão a transacionar a 12 ou 8 biliões, isto não significa que toda a empresa mudaria de mãos a estes preços; só uma pequena fatia. Independentemente disto, uns poucos investidores emocionais podem fazer variar os preços muito mais do que deveriam.
A pior coisa que podemos fazer é aliarmo-nos a estes investidores quando eles se lançam nestas corridas. É muito melhor assistir a isto da bancada, ajudados pelo conhecimento que temos de como os mercados funcionam. Melhor ainda é aproveitar as reações excessivas do Sr. Mercado e fazer-lhe a vontade, vendendo-lhe quando ele está com vontade de comprar a preços elevados e comprar-lhe quando ele está desesperado para vender. Eis como Benjamin Graham completou a apresentação do Sr. Mercado que inclui na página 1:
Se for um investidor prudente ou um empresário sensato, vai permitir que a comunicação diária do Sr. Mercado determine a sua visão do valor da sua participação de 1000 dólares na empresa? Só no caso de concordar com ele ou quiser fazer negócio com ele. Pode ficar contente em vender-lhe quando ele lhe oferece um preço ridiculamente elevado e igualmente feliz por comprar-lhe quando o preço é reduzido. Mas no resto do tempo, será mais sensato formar as nossas próprias ideia do valor das nossas participações, com base nos relatórios financeiros das empresas.
Por outras palavras, o principal trabalho do investidor é notar quando os preços de mercado se afastam do valor intrínseco e determinara como agir em resposta. Emoção? Não. Análise? Sim.
22 de agosto de 2024
Três coisas para refletir nesta correção no mercado acionista:
É por isso que adoro os mercados.
Tudo estava calmo. Não havia volatilidade de monta este ano. De repente, BAM.
As ações caem pelo mundo inteiro. Os investidores reajustam os seus portfólios à pressa.
As pessoas estão preocupadas com uma recessão, a bolha da IA que pode rebentar, a inação do FED, o mercado de trabalho, o carry trade do Yen e muito mais. O VIX disparou do nada:
O S&P500 está apenas 7,8% abaixo dos máximos históricos. Não estamos sequer tecnicamente numa correção, mas notava-se um sentimentos real de pânico nos mercados na segunda-feira.
Nunca deixo de ficar fascinado com o elemento humano dos mercados financeiros. É um ciclo constante de medo, ganância, inveja, pânico e euforia. Os mercados financeiros são como um laboratório para testar as emoções e o comportamento humanos em grande escala.
As coisas podem passar do “aborrecido” para o “excitante” num piscar de olhos porque a natureza humana nunca muda.
Adoro o mercado acionista.
O mercado acionista não é a economia, mas às vezes é. Na segunda-feira, tivemos uma crash ao estilo de 1987 nas ações japonesas (via Chartr):
Foi o pior dia para o Nikkei desde a Segunda-Feira Negra de outubro de 1987.
Pior que 2008. Pior que 2020. Pior que qualquer coisa nos anos 90 depois da maior bolha de ativos financeiros da história ter rebentado.
Isto não é brincadeira.
Os mercados pelo mundo inteiro seguiram o Japão e as ações caíram.
É possível que os mercados acionistas estejam a descontar uma recessão ou alguma crise financeira calamitosa. Estas coisas são raras, mas acontecem.
Também é possível que isto foi apenas o caso de alguns investidores que se tornaram demasiado complacentes, com demasiada alavancagem e foram apanhados desprevenidos no carry trade (a explicação mais simples é que as taxas de juro estavam muito baixas no Japão. Os investidores pediam dinheiro emprestado no Japão com taxas reduzidas e investiam-no noutras localizações. Estavam a fazer isto com dinheiro emprestado. Quando as taxas caíram nos Estados Unidos e subiram no Japão, este trade deixou de fazer sentido.)
Quando aconteceu o crash de 1987 e o mercado caiu mais de 20% num único dia, algumas pessoas temeram o regresso da Grande Depressão:
Muitos investidores assumiram que um crash de proporções épicas garantia que uma recessão estava para breve.
Nunca chegou.
Às vezes o mercado acionista antecipa estes coisas e “prevê” uma recessão, mas não acerta sempre. O bear market de 2022 é um exemplo perfeito do mercado acionista prever 9 das últimas 5 recessões.
Às vezes a economia impacta o mercado acionista.
Às vezes, o carry trade do Yen explode, forçando os traders com excesso de alavancagem a liquidar as suas posições, originando uma cascata de vendas e um flash crash num dos maiores mercados acionistas do mundo.
Artigo publicado originalmente na edição de junho da revista Exame
Investir não tem de ser complicado. Basta encontrar negócios excecionais, comprá-los a preços sensatos e esperar.
Mas como é que encontramos estes negócios? Afinal de contas existem milhares de empresas cotadas em bolsa por todo o mundo.
A importância de uma checklist
Um negócio excecional tem de reunir um conjunto de critérios rigorosos.
Estes critérios servem de guião. São uma lista de princípios que guiam o nosso processo de análise. Segui-los garante que agimos sempre do mesmo modo e ajuda a minimizar erros de julgamento.
Tal como um piloto verifica a sua checklist antes de aterrar um avião, o nosso processo existe para garantir que um negócio cumpre todos os nossos requisitos.
A procura por um negócio excecional começa por uma análise quantitativa. Procuramos empresas que tenham um histórico de crescimento orgânico de receitas, elevados níveis de rentabilidade, boa geração de cash flow e balanços sólidos.
Estes critérios levam-nos naturalmente a pôr de lado negócios comoditizados como empresas petrolíferas, assim como empresas financeiras demasiado complexas, como seguradoras.
Tal como Warren Buffett, acreditamos que nos devemos manter dentro do nosso círculo de competências, isto é, investir em negócios que conseguimos compreender facilmente.
Seguir este processo reduz naturalmente o nosso universo de investimento a um número limitado de negócios.
O próximo passo é conhecer este grupo de empresas em profundidade.
Os números são importantes, mas não nos dizem tudo
A parte mais importante do nosso trabalho é estudar e compreender o negócio. O objetivo é aferir se a empresa tem, ou não, uma vantagem competitiva duradoura, se é gerida por pessoas honestas e capazes e se beneficia de ventos favoráveis ao crescimento.
Procuramos responder a perguntas como:
- Como é que este negócio ganha dinheiro?
- Quem são os seus clientes?
- O negócio está em risco de disrupção?
- Tem uma vantagem competitiva duradoura?
- Tem poder de fixação de preços?
- Como se comportará numa recessão?
Para o fazer, recorremos a informação publicamente disponível, incluindo as apresentações e relatórios anuais. Ouvimos também uma vasta variedade de podcasts, lemos livros, assistimos a entrevistas das equipas de gestão e falamos com peritos e concorrentes.
De certo modo, este trabalho é como o jornalismo. É fundamental ter sentido crítico para questionar toda a informação que recolhemos e as opiniões que formamos.
Investir é uma arte, e não uma ciência
Por vezes perguntam-nos o que é mais importante, a análise qualitativa ou quantitativa? Acreditamos que ambas se complementam. Os números ajudam a suportar as nossas opiniões, permitindo-nos construir uma história.
Uma história promissora não é o suficiente, os dados financeiros têm de a suportar. Do mesmo modo, os números dizem nos muito sobre o passado, mas pouco sobre o futuro. A experiência e discernimento do analista são fundamentais para perceber a sustentabilidade da vantagem competitiva e se a equipa de gestão é, ou não capaz.
Investir, ou não?
Lá porque o investimento é simples, não significa que seja fácil. Exige trabalho, esforço, curiosidade e paciência.
Procuramos conhecer tudo sobre um negócio antes de decidir se vamos ou não investir. Este processo requer tempo para estudar, questionar e refletir. Não existem vias rápidas ou atalhos. Estudar um negócio demora o seu tempo e o processo não deve ser apressado.
A nossa análise indica-nos se o negócio é excecional ou não. O passo seguinte é decidir se será ou não um bom investimento. Para tal, é fundamental considerar o preço a que está a transacionar no mercado.
O nosso objetivo é comprar negócios excecionais a preços sensatos, e evitar negócios razoáveis a preços excecionais.
Para nós, só as melhores empresas servem.
Artigo publicado na edição de maio da Revista Exame
O que faz, na ótica de um investidor, uma boa liderança de uma empresa cotada? Há várias características a ter em conta, que se complementam e aumentam as probabilidades de retorno financeiro
Investir em negócios excecionais é a melhor estratégia para se criar riqueza a longo prazo. Para nós, os negócios excecionais devem ter três pilares: vantagens competitivas, avenidas de crescimento e boas equipas de gestão. Escrevemos, nos últimos artigos, sobre os dois primeiros pilares. Hoje, falamos sobre a importância das equipas de gestão.
Porque são Importantes?
As equipas de gestão desempenham um papel decisivo em três aspetos chave:
Cultura: as equipas de gestão influenciam de forma decisiva a cultura das empresas. Excelentes empresas costumam ser obcecadas com os clientes, fomentam uma mentalidade de melhoria contínua e tratam todas as partes interessadas de forma justa.
Alocação de capital: é o elo entre o negócio e a geração de valor para os acionistas. Procuramos empresas disciplinadas a alocar capital nas oportunidades com maiores retornos potenciais. Quando não consegue investir de forma rentável em novas oportunidades de crescimento do negócio, a empresa deverá ponderar a recompra de ações (se transacionarem a preços sensatos) ou mesmo pagar dividendos aos acionistas.
Estrutura de capital: as equipas de gestão são responsáveis por definir a estrutura financeira das empresas. Procuramos empresas com balanços fortes e evitamos empresas muito endividadas. Níveis de dívida elevados aumentam o risco e retiram liberdade na gestão. Empresas muito endividadas ficam dependentes da banca, obrigacionistas ou da emissão de novas ações que, quando emitidas, diluem a posição dos acionistas.
Que Características Procuramos?
Alinhamento de interesses: gostamos de que as equipas de gestão tenham os seus interesses alinhados com os acionistas. Quando detêm participações relevantes na empresa ou têm os pacotes de remuneração ligados à criação de valor a longo prazo, os gestores têm a sua “pele” em jogo.
A LVMH é um bom exemplo. Os negócios em que uma família ou o fundador mantêm uma posição relevante, são, por regra, negócios que pensam na criação de riqueza em termos geracionais e conseguem gerir o interesse de todas as partes, de forma equilibrada.
Foco no longo prazo: são necessários vários anos para se criar uma marca e conquistar a confiança dos clientes. Procuramos equipas de gestão que tomam decisões orientadas para resultados de longo prazo, mesmo que impactem o crescimento/rentabilidade no curto prazo. A obsessão com resultados trimestrais ou cotação da empresa no curto prazo são motivos de alerta. Alguns gestores cedem à pressão do mercado, estabelecem objetivos muito ambiciosos no curto prazo e perdem o foco do que é decisivo para triunfarem a longo prazo.
A Adobe é um exemplo de uma equipa de gestão que sacrificou resultados de curto prazo, quando transitou para o modelo de subscrição em 2012. Foram muito criticados por analistas e investidores, porque no curto prazo as margens caíram.
Contudo, essa transição permitiu aumentar o mercado endereçável e expandir a margem em dez pontos percentuais.
Gestores experientes e dedicados: quando avaliamos equipas de gestão, privilegiamos um histórico de estabilidade. A estabilidade está normalmente associada ao desenvolvimento de talento dentro da organização. Parte importante do trabalho de um CEO é criar uma bolsa de talento, por forma a, quando chegar o momento, um sucessor natural poder ser nomeado. Gostamos de ver gestores com histórico longo, que conhecem bem o negócio e que passaram grande parte da carreira nessa empresa ou, pelo menos, a mesma indústria.
A Microsoft é um exemplo de uma empresa com um histórico de estabilidade e de desenvolvimento interno de talento. Ao longo da sua história, teve apenas três CEO. Acreditamos que conhecimentos profundos da empresa e da indústria, aliados a uma cultura sólida, são fatores decisivos para o sucesso de um negócio a longo prazo.
Comunicação íntegra e transparente: gostamos de gestores que comunicam de forma honesta e transparente com os acionistas e valorizamos empresas que discutem abertamente os seus erros, demonstrando vontade de aprender com eles. Vemos isso como um sinal de uma cultura de melhoria contínua, que não tem receio de experimentar. Por fim, as contas de uma empresa devem transmitir um conhecimento justo e claro do desempenho financeiro. Evitamos estruturas complexas, em que as contas incluem notas de rodapé longas e de difícil compreensão, bem como ajustamentos aos resultados reportados.
Investir em negócios excecionais é mais seguro e também mais rentável.
É por isso que só as melhores empresas servem.
Excerto da Carta a Clientes do 1º trimestre de 2024
Aos nossos clientes,
"Dedico cerca de 15 minutos por ano à análise de dados económicos." Peter Lynch
“Os grandes retornos não se fazem a comprar e a vender, mas sim a esperar." Charlie Munger
O primeiro trimestre de 2024 foi marcado por uma forte valorização das carteiras de investimento, mantendo a tendência de ganhos que vinha do ano anterior. O Fundo Save & Grow registou um ganho no trimestre de 13,1% (o índice de ações MSCI World em EUR valorizou 11,4%). No caso das carteiras de gestão individual, o ganho foi de 11,9%.
(…)
Que impacto terão as eleições dos Estados Unidos nos mercados acionistas?
Quem ganhará as eleições e como reagirão os mercados será o grande tema do ano.
Olhando para a história desde 1927, não é relevante o presidente ser Democrata ou ser Republicano. A imagem abaixo mostra que na maior parte do tempo o mercado sobe e que só há dois momentos em que tal não aconteceu: com a Grande Depressão, que começou com o crash de 1929, e em 2008,com a Grande Crise Financeira.
Ou seja, os dados mostram que não vale a pena o esforço de vender posições antecipadamente, incorrer em custos e em pagamento de impostos sobre mais valias, para depois tentar adivinhar o melhor momento para regressar ao mercado.
Em 2016, muitos investidores estavam apreensivos com a possibilidade de Donald Trump ganhar as eleições e venderam as suas posições antecipando a sua vitória e o quão nefasto seria para os mercados acionistas. Efetivamente, Trump ganhou as eleições, mas o resultado foi ao contrário do que anteciparam e os mercados acionistas tiveram um dos melhores meses da sua história.
De uma forma geral, os investidores gostam de prever o futuro ou que alguém possa antecipar o que vai acontecer. Procuramos padrões que nos dão o conforto para tomar decisões.
O que funciona no investimento?
Para quem pensa que os mercados estão em máximos e é má altura para investir, considere o que aconteceu ao S&P500 entre março de 1982 e dezembro de 1996: o índice subiu de 113 para 741. Esta subida não se fez sem solavancos, mas foram 14 anos ininterruptos de subidas no mercado. É natural que muitos investidores considerassem que o mercado tinha subido muito e que acreditassem que este seria o máximo. Teria sido boa ideia vender a carteira ou não investir à espera da queda e tentar adivinhar e acertar no mínimo? Vejamos o gráfico abaixo:
Em dezembro de 1997, o S&P atingiu um novo máximo de 982. Para quem vendeu em 1996, perdeu uma grande subida. Mas, em 1997 não seria lógico assumir que agora sim o mercado estava em máximos e que um crash poderia acontecer em qualquer altura? Não seria melhor guardar os ganhos?
Em dezembro de 1998, o S&P500 atingiu um novo máximo,1190. Se tivesse vendido em dezembro de 1996, teria perdido mais um ano de grandes ganhos. Mas, agora seria normal pensar: agora sim, é de vender tudo e esperar. Afinal, são já 16 anos consecutivos de subidas. A verdade é que, em dezembro de 1999, o mercado fez um novo máximo histórico: o S&P500 atingiu1469. Qualquer investidor que tenha vendido em 1996 quando o mercado fez 741,está agora a recriminar-se porque teria duplicado o valor da sua carteira.
Vamos agora supor que um investidor acertou no momento de vender e conseguiu vender em máximos em 1999. Como sabe este investidor quando é seguro voltar a investir? Depois de uma queda de 10%? Espera que caia 20%,espera que caia 30%?
Vamos assumir que decide voltar a investir se o mercado cair30%. O que acontece se o mercado cair 25% e depois recuperar? Vai esperar que caia outra vez? Este é o verdadeiro problema de quem tenta adivinhar o mercado. Vai ter de estar certo várias vezes. Acredita que o consegue fazer?
Durante estes anos, o S&P500 teve um retorno anualizado de cerca de 18%!
Se olharmos agora para o gráfico abaixo, com cotações dos últimos 40 anos (31/12/1983 a 31/12/2023), a sombreado aparece o período apresentado no gráfico anterior. De lá para cá e embora tendo passado pela bolha tecnológica, pela grande crise financeira de 2008/2009, pelo Covid-19, já em2020, e pela guerra na Ucrânia em 2022, o maior índice de ações do mundo está praticamente em máximos. Ao longo destes 40 anos, os retornos anualizados doS&P500 foram de 11,51%.
Quando olhamos para a história do mercado acionista, adivinhar o mercado parece uma tarefa extremamente fácil. Quando o tentamos fazer em tempo real, é incrivelmente difícil. A boa notícia é que não precisamos de adivinhar o mercado.
Importa realçar que somos donos de negócios de grande qualidade. Porque é importante a qualidade dos negócios em que investimos?
Investir com sucesso não é apenas conseguir bons retornos. Igualmente importante é o risco em que incorremos para conseguir esses retornos. Investir em empresas com fundamentos económicos soberbos, bem geridas e comprá-las a preços sensatos, tem a grande vantagem de, inerente a esta estratégia, ser central a gestão do risco. Afinal de contas, investir em empresas com balanços fortes e quase sem dívida (como é o nosso caso), que têm vantagens competitivas fortes e duráveis, que são resilientes a recessões e que são bem geridas, não são apenas a promessa de melhores retornos, mas são sobretudo um grande contributo para corrermos menos riscos.
Os mercados farão novos máximos. Só não sabemos se antes disso farão grandes recuos. Por isso, investir em empresas excecionais a longo prazo é a chave para o sucesso. Se investir periodicamente e se mantiver investido para o longo prazo, as probabilidades são muito favoráveis ao seu sucesso.
Muito obrigada.
Com elevada estima, enviamos os melhores cumprimentos
Emília O. Vieira
Chief Executive Officer
“Trabalhamos para que os nossos Clientes sejam Clientes antigos”
Artigo publicado originalmente no blog Collaborative Fund em 7 de abril de 2024
A sorte desempenha um papel muito importante no mundo. Mas é difícil falar disso. Se eu digo que alguém teve sorte, pareço invejoso. Se eu digo que eu tive sorte, sinto-me diminuído.
Uma melhor forma de enquadrar a sorte é perguntar: o que é repetível?
A sorte implica eventos aleatórios que não conseguimos prever. Oque não é repetível é diferente. O Jeff Bezos teve sorte quando criou a Amazon? Obviamente, não no mesmo sentido de alguém que ganha a lotaria. Bezos foi visionário e ambicioso e sábio, como poucas vezes se vê num século.
Mas será que Bezos, começando hoje, sem dinheiro ou fama, conseguiria criar um novo negócio de vários triliões a partir do nada?
Talvez, mas provavelmente não. Há tantas coisas que ajudaram a Amazon a tornar-se o que é hoje que não podem ser replicadas – o crescimento da Internet, condições de mercado, concorrentes antiquados, política, regulação, etc. Bezos foi extremamente hábil de uma forma que não pode ser confundida com sorte. Mas muito do que fez não é repetível. Estes pontos não são contraditórios.
É muito importante saber a diferença entre os dois quando tentamos aprender com alguém. O que nós queremos é tentar emular características que sejam repetíveis. Tentar copiar as partes do sucesso de alguém que não são repetíveis é o equivalente do homem com 56 anos que se veste como um adolescente e acha que é cool.
Existe uma lei na evolução chamada Lei da Irreversibilidade de Dollo que afirma que quando uma espécie perde uma determinada característica, nunca mais a recupera porque o caminho evolucionário que lhe “deu” essa característica era tão complexo que não pode ser replicado. Digamos, por exemplo, que um animal tem chifres e que, com a evolução, os perdeu. A probabilidade que evolua para ter chifres novamente é zero, porque o caminho evolucionário que originalmente lhe deu chifres era demasiado complexo – milhões de anos de seleção debaixo de condições ambientais e concorrências específicas que não se repetirão no futuro. Não podemos dizer que estes processos evolucionários são sorte – eles surgiram devido a forças muito específicas. Não podemos é esperar que essas forças se repitam exatamente como aconteceram no passado.
Muitas coisas funcionam desta forma.
Nos negócios e no investimento, queremos aprender as grandes lições: como as coisas se comportam da forma que o fazem sem assumir que o passado é um guia direto para o futuro, porque não o é – a maior parte dos detalhes não são repetíveis. A História é o estudo da mudança – ironicamente é utilizada como um mapa do futuro.
Jason Zweig, do Wall Street Journal, já escreveu sobre o que acontece quando se tenta aprender uma lição muito específica e não-repetível, em vez de prestar atenção à lição mais abrangente e bastante repetível:
“(Após o crash das dot-com), a lição que as pessoas aprenderam não foi “Não devo especular em ativos financeiros sobrevalorizados”. O que as pessoas aprenderam foi “Não devo especular em ações de Internet”. E, por isso, as mesmas pessoas que perderam 90% ou mais do seu dinheiro a fazer day-trading em ações de internet acabaram a comprar e vender casas em meados dos anos 2000 e perderam outra vez. É muito perigoso aprender lições “estreitas”.”
O grande benefício de perguntar “isto é repetível?” é que nos começamos a concentrar nas coisas que eu e o leitor – pessoas leigas comuns –temos uma hipótese de conseguir repetir.
Podemos aprender muito com a paciência de Warren Buffett. Mas não conseguimos replicar o ambiente de mercado dos anos 50. Por isso, devemos ter cuidado em copiar as estratégias específicas que Buffett utilizou nessa altura.
Podemos aprender muito com John D. Rockefeller acerca da importância de controlar a distribuição. Mas não podemos replicar o sistema legal do séc. XX que lhe permitiu esmagar a concorrência. Não nos deixemos, portanto, entusiasmar com isto.
Elon Musk pode ensinar-nos muito sobre correr riscos e o poder das marcas, mas muito menos sobre competir na indústria automóvel.
Jeff Bezos pode ensinar-nos muito sobre gestão e sobre pensar no longo prazo, mas muito menos sobre e-commerce e cloud computing.
A forma de termos mais sorte é encontrar o que é repetível.
Bill Gates passou uma década investigando as causas e os efeitos das mudanças climáticas. Com a ajuda de especialistas nas áreas da física, química, biologia, engenharia, ciência política e finanças, Gates concentrou-se no que devemos fazer para impedir que o planeta resvale em direção ao inevitável desastre ambiental. Neste livro, ele explica não apenas por que motivo precisamos de trabalhar para atingir emissões líquidas zero dos gases de estufa, mas também detalha o que precisamos de fazer para atingir essa meta profundamente importante.Gates descreve claramente os desafios que enfrentamos. Com base na sua experiência na inovação e no que é necessário para colocar novas ideias no mercado, ele descreve as áreas em que a tecnologia está já a ajudar a reduzir as emissões, onde e como a tecnologia atual pode funcionar de forma mais eficaz, onde são necessárias tecnologias e quem está a trabalhar nessas inovações essenciais. Finalmente, Bill gates apresenta um plano concreto e prático para atingir a meta de emissões zero - sugerindo não apenas políticas que os governos devem adotar, mas também o que nós, como indivíduos, podemos fazer para responsabilizar os nossos governos, os nossos empregadores e nós mesmos ??por este empreendimento vital.Tal como Bill Gates deixa claro, atingir as zero emissões não será simples ou fácil de fazer, mas se seguirmos o plano que ele aqui traça, é uma meta perfeitamente ao nosso alcance.
Think Again é um livro sobre os benefícios de ter dúvidas e sobre como nos podemos tornar melhores se abraçarmos o desconhecido e a alegria de estar errado. As evidências mostram que os génios criativos não estão apegados a uma identidade, mas, pelo contrário, estão dispostos a repensar as suas convicções e que os líderes que admitem não saber algo e procuram feedback crítico lideram equipes mais produtivas e inovadoras.Novas evidências demonstram que, tal como uma mentalidade ou um conjunto de habilidades, repensar pode ser ensinado e Grant explica como desenvolver as qualidades necessárias para o fazer. A secção 1 explora por que resistimos a pensar duas vezes e como podemos aprender a fazê-lo como indivíduos, argumentando que a "coragem" por si só pode ser contraproducente. A secção 2 discute como podemos ajudar os outros a pensar novamente, e ensina-nos sobre 'alfabetização argumentativa'. E a secção final examina como as escolas, empresas e governos falham na construção de culturas que incentivem o repensar.Aprender a repensar pode ser o segredo para conseguirmos uma preciosa vantagem num mundo que muda cada vez mais rapidamente.
A tecnologia é o setor mais ativo e lucrativo do mercado de ações, mas pode ser um pesadelo para os investidores. Empresas que hoje dominam poderão ser vendidas a preço de saldo dentro de poucos anos.Mark Mahaney, analista de empresas tecnológicas há mais de 25 anos, partilha connosco as lições que aprendeu com os seus triunfos e, principalmente, com os seus erros. Com Mahaney, revisitamos a história da Internet comercial, incluindo o Dot Com Boom e o Dot Com Bust, as empresas que atingiram um sucesso espetacular e as que falharam miseravelmente e revela dez lições para a construção de um portfólio de ações de tecnologia.Nothing But Net oferece conselhos poderosos para as próximas duas décadas - lições que podemos começar a aplicar hoje e ao longo dos próximos anos.
A aceitação da abertura pela humanidade é a chave do nosso sucesso. A liberdade de explorar e trocar - quer sejam bens ou ideias - levou a conquistas impressionantes na ciência, tecnologia e cultura. Resultado? Vivemos hoje numa época de riquezas e oportunidades sem precedentes. Por que motivo estamos então tão decididos a arruiná-la? Dos caçadores-recoletores da Idade da Pedra às relações sino-americanas de hoje, Open explora como, através dos tempos e das culturas, nos debatemos com uma tensão constante entre o nosso anseio pela cooperação e a nossa profunda necessidade de pertença. Fornecendo um novo e ousado enquadramento para a compreensão da história humana, o autor e pensador do best-seller Johan Norberg examina por que frequentemente ficamos desconfortáveis com a abertura - mas também por que ela é essencial para o progresso. Parte história arrebatadora e parte polémica, este livro defende porque mais do que nunca vale a pena lutar por um mundo aberto, com uma economia aberta.
Nós somos os primatas que contam estórias, escreve William Bernstein. E não importa quão enganadora a narrativa, se for suficientemente cativante irá quase sempre sobrepor-se aos factos. Como Bernstein demonstra no seu eloquente e persuasivo novo livro,?The Delusions of Crowds, ao longo da história humana, estórias cativantes foram catalisadoras do alastramento de narrativas contagiosas por intermédio de grupos suscetíveis?com enormes, e frequentemente desastrosas, consequências. Bernstein aborda as falsas crenças de massa com a mesma curiosidade e paixão, mas armado com a última pesquisa científica que explica as raízes biológicas, evolucionistas, e psicossociais da irracionalidade humana. Bernstein conta as estórias de dramáticas manias religiosas e financeiras na sociedade ocidental durante os últimos 150 anos?desde a Loucura Anabatista que afligiu os Países Baixos na década de 1530 às perigosas crenças do Fim dos Tempos que animam a ISIS e permeiam a América polarizada de hoje; e desde a South Sea Bubble [movimento especulativo na Londres de 1720 envolvendo a Companhia dos Mares do Sul] ao escândalo Enron e às bolhas dot-com de anos recentes. Tão reveladoras sobra a natureza humana quanto historicamente significativas, as crónicas de Bernstein revelam o imenso custo e as alarmantes implicações da mass mania: por exemplo, a crença no dispensacionalismo do Fim dos Tempos afetou profundamente ao longo de décadas a política dos EUA no Médio Oriente. Bernstein observa que se conseguirmos absorver a história e biologia das falsas crenças de massa, poderemos reconhecê-las de forma mais imediata no nosso tempo e evitar ou, pelo menos, minimizar o seu impacto.
O autor do best-seller Pioneering Portfolio Management, o modelo definitivo para gestão de fundos institucionais, regressa com um livro que ensina os investidores individuais a gerir os seus ativos financeiros.Em Unconventional Success, a lenda do investimento, David F. Swensen, demonstra, sem margem para qualquer dúvida, ?que a indústria de fundos não defende o investidor médio. Desde comissões de gestão elevadas à "rotação excessiva das carteiras, a busca incessante por lucros prejudica os clientes individuais. Mesmo que os investidores consigam sair ilesos de um encontro com a indústria de fundos, os indivíduos enfrentam a probabilidade de uma dor autoinfligida. A prática comum de vender o que está a cair e comprar o que sobe (e fazer as duas coisas com muita frequência) prejudica os retornos do portfólio e aumenta as obrigações fiscais, desferindo um golpe duplo nas aspirações do investidor.Resumindo: os investidores comuns enfrentam obstáculos quase intransponíveis.A solução de Swensen? Uma alternativa de investimento contrária que promove carteiras bem diversificadas, orientadas para ações que recompensam os investidores que demonstram coragem para manter o curso. Resultado? Unconventional Success fornece orientação e know-how financeiro para melhorar o futuro financeiro do investidor individual.
Um guia detalhado para superar as armadilhas psicológicas encontradas com mais frequência no investimento. Vieses, emoção e excesso de confiança são apenas três das muitas características comportamentais que podem levar os investidores a perder dinheiro ou obter retornos mais baixos. As finanças comportamentais, que reconhecem que existe um elemento psicológico em todas as tomadas de decisão do investidor, podem ajudá-lo a superar esse obstáculo. Em O Livro do investimento Comportamental, o especialista James Montier apresenta alguns dos desafios comportamentais mais importantes enfrentados pelos investidores. Montier revela as barreiras psicológicas mais comuns, mostrando claramente como a emoção, o excesso de confiança e uma infinidade de outras características comportamentais podem afetar a tomada de decisão de investimento. O livro apresenta maneiras comprovadas de identificar e evitar as armadilhas dos vieses do investidor, indica como aprender com os nossos erros de investimento em vez de repeti-los e explora os princípios comportamentais que permitirão que o leitor tenha sucesso como investidor. Escrito num estilo simples e acessível, O Livro do Investimento Comportamental permite ao leitor identificar e eliminar traços comportamentais que podem minar os seus esforços de investimento e mostra-lhe como conseguir retornos superiores.
Jared Diamond explica em Upheaval de que modo as pessoas reagem quando as suas vidas são viradas do avesso. Estas crises podem ser navegadas (ou não) com sucesso. As pessoas que o fazem com sucesso são aquelas que reconhecem ter um problema e assumem a responsabilidade de o resolver; separam os valores fundamentais a que não renunciam dos maus hábitos que precisam de mudar; e procuram a ajuda de quem já passou por dificuldades semelhantes.Jared Diamond adapta estas lições e utiliza-as para construir casos de estudo sobre como diversos países geriram desafios existenciais tais como guerras civis, ameaças estrangeiras e pandemias.Num altura em que o mundo se debate com uma pandemia global, Upheaval poderá, com o benefício de experiências passadas, mostra-nos o caminho.
"A voragem do tempo, a exigência de tudo acontecer on line ou em tempo real , o acesso fácil e rápido à opinião formada (sobre isto e sobre aquilo e quase sobre tudo (!)) , publicada nesta ou naquela plataforma mais ou menos tecnológica, empurra-nos para um gestão demasiado contida no pensamento dedicado à reflexão, ao estudo, ao questionamento e à criatividade, tão necessário à construção de respostas de maior qualidade aos múltiplos desafios que a nossa sociedade permanentemente nos coloca.Na JPAB acreditamos que o sucesso do nosso trabalho se mede não por epifenómenos de circunstância mas pela satisfação constante dos nossos clientes, resolvendo os seus problemas e colocando à sua disposição soluções juridicamente bem sustentadas, criativas e inovadorasO livro Capitalização de Empresas é um contributo importante para esse objetivo.A complexidade jurídica que caracteriza as relações que hoje se estabelecem, em que as várias artes se interrelacionam e a globalização se impõe, conjugada com as delicadas crises financeiras e a distribuição assimétrica da riqueza, obriga a que as empresas - suporte nuclear para um crescimento económico sustentável e para uma real criação de emprego procurem, com a necessária segurança jurídica, as fontes de financiamento disponíveis, condicionadas, por vezes, a complicadas engenharias contratuais que urge dominar.O livro cuida de aprofundar várias ferramentas que podem conduzir ao robustecimento dos capitais humano e financeiro das empresas: i. os incentivos à contratação de trabalhadores ; ii. A capitalização de empresas pela via da insolvência; iii. Fontes reais e irreais de Funding Empresarial; iv. As acões preferenciais sem direito de voto; v. as autorizações de residência para investimento; vi. Third-party ownershipA circunstância da pandemia que estamos a viver e as suas consequências económicas dá uma especial relevância ao tema que o livro trata e torna oportuna uma análise cuidada quanto à utilização dos mecanismos abordados, como instrumentos que podem ajudar muitas das nossas empresas, nomeadamente as pequenas e médias, a ultrapassar este momento único, difícil e desafiante com que todos nos confrontamos.A obra ora editada é o resultado do trabalho, esforço, dedicação e saber de todos os advogados autores e co-autores dos textos que a compõem. A JPAB no seu todo orgulha-se dos colegas que, para lá do competente trabalho diário, se privaram de muitas horas de descanso e de lazer para responderem ao desafio que lhes foi lançado.Boa leitura!"_______José Pedro Aguiar-Branco, sócio fundador da JPAB, tem-se dedicado essencialmente às áreas de contencioso, comercial e societário. Representa empresas nacionais e internacionais em matérias relacionadas com reorganização e reestruturação empresarial, fusões e aquisições, litígios sobre investimentos internacionais. Também intervém em vários processos arbitrais, como advogado de parte ou como árbitro. Acompanha clientes provenientes de diferentes sectores de actividade, com especial foco em instituições financeiras e fundos de investimento, seguradoras, retalho, distribuidores alimentares. Tem assumido a presidência de assembleias gerais de várias entidades líderes de mercado, nacionais e internacionais e desempenhou funções como consultor jurídico em organizações do sector privado. Participa frequentemente como orador em seminários e conferências, a nível nacional e internacional, na sua área de especialidade. Em 2018, foi homenageado com a Medalha de Honra atribuída pela Ordem dos Advogados. Assumiu funções públicas de grande destaque, tendo ocupado os cargos de Ministro da Justiça, Ministro da Defesa Nacional, membro do Conselho Superior da Magistratura e deputado.
Existem três coisas extremamente duras: aço, diamante e conhecermo-nos a nós mesmos, Benjamin FranklinTemos que ser constantemente relembrados para não julgar o livro pela capa, porque olhamos para as aparências exteriores e tomamo-las como reflexos precisos das qualidades internas. Precisamos que nos digam que um tostão poupado é um tostão ganho porque a forma como encaramos o dinheiro que entra é diferente da forma como encaramos o dinheiro que já temos. Aforismos como estes existem em larga medida para nos ajudar a evitar os erros que a intuição pode causar. Da mesma forma, a observação de Benjamin Franklin acerca das coisas extremamente duras sugere que devemos questionar a crença intuitiva de que nos compreendemos a nós próprios muito bem. Ao longo da nossa vida, agimos como se soubéssemos como as nossas mentes funcionam e porque nos comportamos da forma que o fazemos. É surpreendente o quão frequentemente não fazemos ideia.The Invisible Gorilla é um livro acerca de seis ilusões quotidianas que influenciam profundamente as nossas vidas: as ilusões da atenção, memória, confiança, conhecimento, causa e potencial. Estas são crenças distorcidas que abraçamos que não são apenas erradas, mas também podem ser perigosas. Este livro explora quando e como estas ilusões nos afetam, as consequências que têm nos assuntos humanos e como podemos ultrapassá-las ou, pelo menos, minimizar o seu impacto.
Em Superforecasting, Philip E. Tetlock e o co-autor Dan Gardner conseguiram uma obra-prima sobre previsões, com base em décadas de pesquisa e nos resultados de uma gigantesca competição de previsões financiada pelo governo americano. O Good Judgement Project envolve dezenas de milhares de pessoas comuns que se propuseram a prever eventos globais. Alguns dos voluntários revelaram-se surpreendentemente bons. Superaram até analistas dos serviços secretos com acesso a informação confidencial. Eles são "superprevisores". Neste livro inovador e acessível, Tetlock e Gardner mostram-nos como podemos aprender com este grupo de elite. Juntando histórias de previsões de sucesso (o ataque ao complexo de Osama bin Laden) e fracassos (a Baía dos Porcos) e entrevistas com uma série de decisores de alto nível, de David Petraeus a Robert Rubin, eles mostram que as boas previsões não exigem computadores poderosos ou métodos misteriosos. Envolve reunir evidências de uma variedade de fontes, pensar probabilisticamente, trabalhar em equipa, estar disposto a admitir o erro e mudar de curso.
O Professor Fernando Alexandre, coordenador do estudo "Do made in ao created in", disponível aqui, partilha connosco:Um novo paradigma para a próxima décadaO envelhecimento da população e a transição climática terão um forte impacto na estrutura e no crescimento da economia portuguesa. A resposta àqueles grandes desafios societais exige uma nova estrutura produtiva e um novo paradigma.A mudança de paradigma constitui uma oportunidade de romper com a longa estagnação do século XXI, de aproximar as empresas nacionais das europeias em termos de produtividade e criar oportunidades de emprego que atraiam e fixem talento em Portugal.Os projectos mais inovadores e transformadores são geralmente liderados por novas empresas. As qualificações dos gestores e a qualidade das instituições a concorrência no mercado do produto, a flexibilidade no mercado de trabalho e mercados financeiros eficientes são essenciais para o nascimento de empresas inovadoras e para o seu crescimento.Uma ligação mais estreita entre as empresas fronteira nacionais e globais, e o sistema científico e tecnológico pode acelerar a difusão da inovação e do processo de convergência da produtividade da economia portuguesa para os patamares dos países mais desenvolvidos.Trabalhadores altamente qualificados e instituições de ensino superior de excelência estão associados a empresas mais inovadoras, mais exportadoras e com maior crescimento e são fundamentais para colocar as regiões portuguesas no radar das grandes multinacionais e para a localização dos seus centros de I&D+i.Os desafios do envelhecimento e da transição climática exigem soluções de produtos e serviços inovadores, pensados para o mercado global. Estas soluções requerem uma nova estrutura produtiva e um novo paradigma de criação de riqueza assente no conhecimento, nas qualificações e na inovação: o paradigma created in.
Imagine que dois médicos na mesma cidade fazem diagnósticos diferentes a pacientes idênticos - ou que dois juízes no mesmo tribunal passam sentenças diferentes a pessoas que cometeram o mesmo crime. Suponha que diferentes inspetores alimentares dão classificações diferentes a restaurantes indistinguíveis - ou que, quando uma empresa lida com reclamações de clientes, a resolução depende de quem está a lidar com essa reclamação em particular. Agora imagine que o mesmo médico, o mesmo juiz, o mesmo inspetor ou o mesmo funcionário da empresa tomam decisões diferentes, dependendo da hora do dia ou do dia da semana. Estes são exemplos de ruído: variabilidade em julgamentos que deveriam ser idênticos. Em Noise, Daniel Kahneman, Cass R. Sunstein e Olivier Sibony mostram como o ruído contribui significativamente para erros em todos os campos, incluindo a medicina, o direito, as previsões económicas, o comportamento policial, a segurança alimentar, finanças, verificações de segurança nos aeroportos, estratégia e seleção de pessoal. E embora possamos encontrar ruído onde quer que as pessoas façam julgamentos e tomem decisões, tanto os indivíduos como as organizações estão, de uma forma geral, alheios ao papel do acaso nos seus julgamentos e ações. Com base nas últimas descobertas da psicologia e economia comportamental, Noise explica como e por que motivos somos tão suscetíveis ao ruído no julgamento - e o que podemos fazer quanto a isso.
Qual é o caminho mais eficiente para o sucesso?Muitos peritos argumentam que quem quiser desenvolver uma habilidade, tocar um instrumento ou liderar a sua área de conhecimento, deverá começar muito cedo, concentrar-se intensamente e acumular o maior número de horas de treino possível. Se procrastinarmos, nunca mais alcançaremos aqueles que já têm meses ou anos de avanço.No entanto, uma análise mais profunda à pesquisa efetuada aos melhores do mundo, desde atletas profissionais a galardoados com o Nobel, mostra que a especialização precoce é a exceção e não a regra.David Epstein estudou os atletas, músicos, artistas, inventores e cientistas e descobriu que na maior parte das áreas - especialmente aquelas que são complexas e imprevisíveis - os generalistas, não os especialistas, estão mais bem preparados para o sucesso. Os generalistas são mais criativos, agéis e capazes de fazer conexões que os seus pares mais especializados não conseguem ver.Provocante, rigoroso e cativante, Range defende a procura ativa da "ineficiência".Os inventores com mais impacto atravessam vários domínios ao invés de aprofundarem o seu conhecimento numa única área. As pessoas que abraçam experiências e perspetivas diversas terão cada vez mais sucesso.
The Intelligent Investor é, nas palavras de Warren Buffett, o melhor livro sobre investimento alguma vez escrito. Não podemos discordar desta afirmação.Nesta obra, Benjamin Graham destila o princípio fundamental do Investimento em Valor: comprar ativos a preços inferiores ao seu valor intrínseco mantendo sempre uma margem de segurança.Os capítulos 8 e 20 merecem especial leitura. No capítulo 8, Graham apresenta-nos o Sr. Mercado, uma personagem muito otimista quando tudo corre bem mas que entra em pânico quando surgem más notícias. No fundo, o Sr. Mercado é a personificação das forças que fazem flutuar os mercados: o medo e a ganância.Graham conclui: "Basicamente, as flutuações de preços têm apenas um significado importante para o investidor. Elas oferecem-lhe uma oportunidade para comprar quando os preços caem significativamente e uma oportunidade para vender quando os preços avançam excessivamente. nas outras altura, o investidor faz melhor em esquecer o mercado de capitais e prestar atenção aos dividendos que recebe e aos resultados operacionais das empresas em que está investido". No capítulo 20, Ben Graham desenvolve o conceito, segundo ele, mais importante do investimento, a margem de segurança a diferença entre o preço que se paga por um ativo e o seu verdadeiro valor. Quanto maior for essa diferença, maior é a margem de segurança e menor é o risco do investimento.The Intelligent Investor é um livro de leitura indispensável para os investidores que desejam preservar e rentabilizar o seu património.
«As crises, como a da economia portuguesa, que resultam de diminuições da poupança tendem a originar recessões mais graves e recuperações mais lentas do que as crises em que o endividamento resultou de aumentos do investimento.Neste livro, Fernando Alexandre, Luís Aguiar-Conraria, Pedro Bação e Miguel Portela mostram a evolução das grandes tendências da poupança e investimento, desde a evolução dos fluxos globais de poupança até aos dados para a economia portuguesa. A sua publicação constitui um excelente contributo para a sistematização destes temas, fulcrais para a evolução económica.O retrato traçado é de um país com uma baixa taxa de poupança e excesso de endividamento, em particular no Estado e nas Empresas, o que constitui um obstáculo ao crescimento e à estabilidade financeira. Todos os agentes económicos acabaram por ter um papel na acumulação do endividamento externo que provocou a necessidade da entrada da troika e de um plano de intervenção externo. Vários fatores conduziram a esse comportamento, em particular as descidas das taxas de inflação e das taxas de juro em simultâneo a um maior acesso ao crédito.Na análise efetuada da composição do património das famílias, percebe-se uma grande concentração da riqueza na habitação e nos depósitos bancários. Apesar da riqueza financeira estar concentrada nos grupos com mais altos rendimentos, observa-se um grande conservadorismo nessas aplicações (74% dos ativos financeiros estão aplicados em depósitos à ordem e depósitos a prazo).O livro conclui com propostas de promoção da poupança, objetivo fulcral para superar os desafios que a economia nacional vai enfrentar nas próximas décadas, em especial com as alterações demográficas que se perspetivam.
Richard Thaler, autor de Misbehaving, foi galardoado pela Academia Real das Ciências da Suécia com o Nobel da Economia de 2017.Thaler, professor de economia na Universidade de Chicago, passou a maior parte dos últimos 40 anos a chamar a atenção para o facto de que as pessoas não se comportam como os economistas dizem que se deveriam comportar. As pessoas, ao contrário do que as teorias económicas defendem, não são racionais, não tomam sempre as melhores decisões financeiras e não agem sempre no seu melhor interesse.Este livro - Misbehaving - abre-nos a porta ao campo da economia comportamental. Robert Schiller, também galardoado com o Nobel da economia, declara, "Thaler está na vanguarda da mais importante revolução na economia dos últimos 30 anos. Neste cativante livro, Thaler apresenta os argumentos a favor da economia comportamental e explica porque ainda existe tanta resistência"Ler os livros de Richard Thaler torna-nos melhores investidores.
Widely respected and admired, Philip Fisher is among the most influential investors of all time. His investment philosophies, introduced almost forty years ago, are not only studied and applied by today?s financiers and investors, but are also regarded by many as gospel. This book is invaluable reading and has been since it was first published in 1958. The updated paperback retains the investment wisdom of the original edition and includes the perspectives of the author?s son Ken Fisher, an investment guru in his own right in an expanded preface and introduction."I sought out Phil Fisher after reading his Common Stocks and Uncommon Profits...A thorough understanding of the business, obtained by using Phil?s techniques...enables one to make intelligent investment commitments."Warren Buffet
Quando questionados acerca das tendências globais: - que percentagem da população mundial vive em pobreza extrema?- por que motivo aumenta a população mundial?- quantas meninas completam o ensino básico? - erramos sistematicamente as respostas.Erramos de uma forma tão enfática que um chimpanzé, escolhendo as respostas aleatoriamente, consegue, de forma consistente, melhores resultados que jornalistas, prémios Nobel e banqueiros.Afinal, o mundo está em muito melhor estado do que julgamos. Quando nos preocupamos com tudo a toda a hora e não adotamos uma perspetiva global baseada nos factos, perdemos a capacidade de nos concentrarmos naquilo que realmente nos ameaça.Em Factfulness, Hans Rosling, o Professor de Saúde Internacional famoso pelas suas TED Talks, oferece-nos uma explicação radical para este fenómeno e revela os dez instintos que distorcem a nossa perspetiva.
Publicada em 2002, no rescaldo do crash das empresas dotcom, The New Buffettology é um guia para a filosofia de investimento de Warren Buffett, o Investimento em Valor.The New Buffettology ensina os investidores a decifrar e a utilizar a informação financeira disponível publicamente tal como Buffett o faz. Passo a passo, guia os investidores através das equações e fórmulas que Warren Buffett utiliza para determinar em que empresas investir e, mais importante, quando.Os autores Mary Buffett e David Clark exploram detalhadamente alguns dos investimentos de Warren Buffett e provam mais uma vez que o Investimento em Valor funciona: consegue rentabilidades acima da média com risco limitado
Como pode uma empresa que nunca apresentou lucros ter uma avaliação de vários biliões de dólares? Por que razão algumas start-ups atraem investimentos milionários e outras não?Aswath Damodaran, professor de finanças e investidor experimentado, argumenta que o poder da história impulsiona o valor da empresa, acrescentando substância aos números e convencendo até os investidores mais cautelosos a correr riscos. Nos negócios, existem os contadores de histórias, que tecem narrativas irresistíveis, e os mastigadores de números, que constroem modelos e fazem contas. Ambos são essenciais para o sucesso, mas só combinando os dois, defende Damodaran, é que um negócio consegue criar e suster valor.Com o auxílio de um conjunto de casos de estudo, Narrative and Numbers descreve como os contadores de histórias podem incorporar e narrar números e como os mastigadores de números podem calcular modelos mais imaginativos e mais resistentes ao escrutínio. Damodaran analisa a origem da Uber e a forma como a narrativa desempenha um papel chave na compreensão de diferentes avaliações. Ele investiga por que o Twitter e o Facebook eram avaliados em biliões de dólares nas suas OPVs e por que um (Twitter) estagnou enquanto que o outro (Facebook) cresceu. Damodaran analisa também modelos de negócio já estabelecidos, tais como a Apple e a Amazon, para demonstrar como a história de uma empresa pode enriquecer ou constranger a sua narrativa. E, através da Vale, uma empresa mineira global, sediada no Brasil, demonstra a influência da narrativa externa e como um país, uma matéria prima ou uma moeda podem influenciar a história de uma empresa.Narrative and Numbers revela os benefícios, os desafios e as armadilhas de tecer narrativas à volta de números e como podemos melhor testar a plausibilidade de uma história.
Desde a primeira edição da nossa newsletter O Investidor Inteligente, temos vindo a recomendar um livro a todos os nossos leitores. Porque entendemos que a leitura deve ser vasta e abrangente, decidimos convidar personalidades de relevo nas mais variadas áreas de atuação para cumprir com este desígnio e proporcionar, assim, um roteiro e arquivo mais vastos para a Biblioteca da Casa de Investimentos e para todos aqueles que a acompanham.Na sua edição de setembro, em que damos um novo cunho a esta rubrica, temos o privilégio de partilhar a sugestão do Professor António Cunha, ex-Reitor da Universidade do Minho e Presidente da Mesa da Assembleia-Geral da Casa de Investimentos (Ver Nota Biográfica António Cunha).Tecnologia versus Humanidade"Vivemos tempos muito particulares, marcados por uma revolução digital que está a introduzir transformações profundas nos nossos modos de vida, de trabalho e de organização das nossas sociedades. Assistimos igualmente a uma revolução biológica, em grande parte induzida por desenvolvimentos ao nível computacional, e ao limiar de uma era que será marcada por uma interação sem precedentes entre o tecnológico e o humano.Este tempo novo é descrito e analisado por Gerd Leonhard no livro Tecnologia vs. Humanidade, editado em Portugal pela Gradiva em 2017.Assumindo e consubstanciando a ideia de que estamos a protagonizar uma revolução sem precedentes e com impactos muito maiores do que os que resultaram da invenção da máquina a vapor ou da introdução dos computadores, Leonhard descreve a natureza exponencial, combinatória e recursiva das transformações em curso, que irão alterar radicalmente as interações entre humanos e máquinas. Para alem da partilha com robôs de operações e tarefas que sempre associamos a pessoas, partilharemos conhecimento e inteligência com máquinas que, cada vez mais, tomarão decisões.Leonhard analisa igualmente, de modo muito lúcido e de fácil leitura, as implicações destes desenvolvimentos e nossos atuais conceitos civilizacionais e levanta pertinentes interrogações sobre os seus limites. De facto, a humanidade, confronta-se com a necessidade imperiosa de refletir e fazer balanços sobre o seu futuro, decidir como avançar na procura de caminhos seguros no sentido de um aparentemente irrecusável mundo novo, marcado pelo aumento da longevidade humana e pela tendencial eliminação de trabalho físico, repetitivo ou perigoso.É para este debate que o capítulo final deste livro A hora de decidir introduz sugestões importantes para uma reflexão estruturada."Recomendação de leitura por António Cunha, Professor Catedrático, ex-Reitor da Universidade do Minho e Presidente da Mesa da Assembleia-Geral da Casa de Investimentos.
Desde a primeira edição da nossa newsletter O Investidor Inteligente, temos vindo a recomendar um livro a todos os nossos leitores. Porque entendemos que a leitura deve ser vasta e abrangente, decidimos convidar personalidades de relevo nas mais variadas áreas de atuação para cumprir com este desígnio e proporcionar, assim, um roteiro e arquivo mais vastos para a Biblioteca da Casa de Investimentos e para todos aqueles que a acompanham.Na sua edição de dezembro, partilhamos a sugestão de Luísa Anacoreta, Professora Auxiliar da Universidade Católica Portuguesa, Administradora não executiva dos CTT, Impresa e Sonaegest.Elogio da SombraO Japão é um país fascinante. Reconhecido pela sua capacidade de desenvolvimento e afirmação tecnológica, económica e, receio, também social, é para alguns difícil concebê-lo abstratamente nos conceitos tradicionais de leveza, suavidade, paz, calma e beleza. Ler o Elogio da Sombra permite deliciarmo-nos com as raízes de um país riquíssimo em história, cultura e primor estético. É um livro obrigatório para quem quer visitar o Japão, porque toda a sua visita fará muito mais sentido. Mas também essencial para quem apenas tem curiosidade sobre o país e sobre aquela cultura oriental.Mas, o Elogio da Sombra é lido com muito prazer também por aqueles que apenas querem ler quem escreve bem, e refletir sobre o que a todos um pouco interessa. Tanizaki faz-nos pensar sobre arquitetura, cosméticos, mobiliário, comida, sobre o que carateriza a evolução dos tempos, sobre contrastes entre hoje e ontem, ou amanhã e antes de ontem, sobre feio e bonito, ou atraente e repelente ou ainda sobre Ocidente e Oriente.Junichiró Tanizaki nasceu no centro de Tóquio em 1886 e fez-se o mais célebre contador de histórias do seu país. Da leitura das suas páginas vamos sentindo uma escrita suave, reveladora de uma grande sensibilidade. O tema é a estética, e portanto a beleza, mas o que se sente é uma forte nostalgia. Como se Tanizaki nos quisesse avisar que na sombra do que é belo há de estar sempre uma recordação.Confesso que procuro evitar nostalgias. Gosto do futuro e de o desenhar. Olhar para trás é perda de tempo. Mas ler Tanizaki a descrever as casas japonesas, a luz quente filtrada pelos shoji, o jogo de luz e sombra das toko no ma, e a irradiação misteriosa do papel dourado não é olhar para atrás. É ler a beleza, ler a paz, e transportarmo-nos para um espaço singular, sem dúvida penetrante e atraente.O Elogio da Sombra, sendo um ensaio sobre estética e não um romance, é um livro atípico de um dos maiores escritores japoneses. Foi escrito em 1933 mas para mim é intemporal. Deliciei-me a lê-lo. Recomendo-o a muitos e esses também se deliciam.Recomendação de leitura por Luísa Anacoreta, Doutorada em Gestão, com especialização em Contabilidade, pelo ISCTE. Professora Auxiliar da Universidade Católica Portuguesa. Administradora não executiva dos CTT, Impresa e Sonaegest. Presidente da Comissão de Auditoria dos CTT e vogal da Comissão de Auditoria da Impresa. Presidente do Conselho Fiscal do Centro Hospitalar de São João e da Sogrape. Vogal do Conselho Diretivo da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas. Membro da Comissão Executiva da Comissão de Normalização Contabilística. Árbitro fiscal no CAAD. Autora de livros e outras publicações na área contabilístico-fiscal.
Por vezes um problema profundamente complexo tem uma solução enganadoramente simples. Esta é a mensagem de The Checklist Manifesto, de Atul Gawande, que explica como uma simples checklist uma lista de tarefas ou procedimentos pode reduzir dramaticamente as probabilidades de erro em situações de vida ou morte.Gawande, ele próprio um cirurgião, defende que a medicina se tornou demasiadamente sofisticada para o seu próprio bem. O volume e complexidade daquilo que agora sabemos excedeu a nossa capacidade individual de aproveitar os seus benefícios de forma correta, segura e fiável. O conhecimento salva-nos e simultaneamente oprime-nos.Gawande compila vários estudos que demonstram quedas dramáticas nas taxas de infeção morte após determinados procedimentos cirúrgicos. A causa destas quedas dramáticas? A implementação de simples checklists.Este livro pode ser resumido em três frases:As checklists protegem-nos de erros;As checklists estabelecem um padrão superior de performance;No fim de contas, uma checklist não é mais que uma ferramenta. Se não ajudar, algo está errado.As checklists podem ser aplicadas em todas áreas da atividade humana, na aviação, arquitetura e até nos investimentos.Warren Buffett e Charlie Munger utilizam uma checklist muito simples:Compreendo o negócio?É um negócio excelente (tem vantagens competitivas, altos retornos no capital, etc.)?Os gestores são capazes e honestos?O preço é atrativo?Se a alguma das questões acima respondemos não, provavelmente não devemos investir. Revisitando a história recente da bolsa portuguesa, muito valor poderia ter sido salvo se esta checklist tivesse sido aplicada.Atul Gawande foi recentemente nomeado CEO da empresa de cuidados médicos criada por Warren Buffett, Jeff Bezos e Jamie Dimon - três referências mais do que suficientes para prestar atenção ao que Gawande escreve.
No livro Only the Best Will Do, o investidor Peter Seilern revela o que é necessário para investir em empresas de qualidade incontestável (Quality Growth): empresas que retornam aos seus acionistas, de forma confiável, um crescimento sólido e estável no longo prazo.Os negócios de Quality Growth são os ativos preferenciais para os investidores que desejam investir para o longo prazo, minimizando o risco de perda permanente de capital. Segundo Seilern, tudo o que o investimento em Quality Growth exige é paciência, pensamento independente e as 10 regras de ouro - reveladas em detalhe no livro - para encontrar as melhores empresas do mundo.Tal como Warren Buffett declarou: É melhor comprar empresas excelentes a preços razoáveis do que empresas razoáveis a preços excelentes
Poupar é ter a liberdade para decidir, para sermos mais donos do nosso destino. Poupar é cool.
"Não poupe o que sobra depois de gastar, gaste o que sobra depois de poupar"
Warren Buffett
Falar de poupança não é cool. É coisa para velhos, gente ultrapassada ou pessimistas. Cool é dizer-lhes que podem ter o que quiserem, que merecem tudo, o melhor e já.
Nas últimas décadas, os portugueses, e muitos cidadãos do mundo, esqueceram como se poupa e esqueceram a importância de criar e manter uma "almofada" para tempos mais incertos, para um contratempo, para a doença, para a perda de emprego, para a reforma.
Muitos esqueceram-se da importância de ser livre para tomar decisões, para sonhar com um futuro melhor para si, para os seus e assumir o controlo sobre o seu destino: poupar para a educação dos filhos, para cumprir com um desejo de longa data, para poder deixar um emprego que não se gosta e criar o seu próprio negócio, para se sentir mais protegido e independente ou simplesmente para deixar um legado para a geração seguinte.
É difícil poupar: os salários são baixos, as solicitações são muitas e todos os dias nos querem vender alguma coisa, procuramos satisfação imediata e consumir mais hoje, ao invés de aumentar a nossa capacidade de poder consumir mais no futuro. Não poupamos, consumimos muitas vezes pedindo emprestado ao que vamos ganhar no futuro, sem sabermos como este será. Cada crise mais acentuada relembra-nos a necessidade de poupar, mas não o fazemos com consistência, com disciplina. Não temos hoje os sábios hábitos de poupar todos os dias e esquecemos que um euro poupado todos os dias serão muitos ao longo dos anos.
Benjamin Franklin estava certo quando escreveu: "A Felicidade Humana é produzida, não tanto por grandes Pedaços de boa Fortuna que acontecem raras vezes, mas sim por pequenas Vantagens que ocorrem todos os dias".
A maior de todas as "pequenas Vantagens que ocorrem todos os dias" é o simples ato de poupar dinheiro. Isso, por sua vez, exige que prestemos mais atenção para onde vai o nosso dinheiro, e porquê, e se o estamos a gastar com sensatez e a poupar o suficiente. Não é possível cortar as nossas despesas de forma consistente e sistemática se não soubermos quais são.
De cada vez que gastamos dinheiro em algo que não nos dá um rendimento, estamos a sacrificar o nosso futuro financeiro. Warren Buffett usa uma regra básica multiplicando por 10 o custo da despesa em que incorremos para determinar quanto estamos a sacrificar na reforma. Poupar primeiro tem a grande vantagem de eliminar uma das atividades financeiras mais impopulares que é orçamentar despesas.
Nas últimas semanas, o abrandamento económico e a possibilidade de uma recessão tomam conta das preocupações. Muitos julgam que é possível encontrar ativos mágicos que na recessão não recuam de preço. Não é. Numa recessão, os ativos poderão, de forma quase generalizada, valer menos se precisarmos de os converter em dinheiro. Do mesmo modo, para quem vive e trabalha em Portugal, se houver uma recessão, o nosso trabalho também poderá valer menos. O valor das nossas habilitações depende em larga medida do local e da altura em que vivemos e da saúde da economia nacional que o rodeia. Tal como um bear market (mercado em queda) tende a arrastar o valor de quase todas as ações, uma economia em dificuldades deprime o valor do capital humano de quase todos aqueles que vivem nesse país.
Numa nota pessoal, devo dizer que tive muita sorte. Nasci numa aldeia onde, na década de setenta e oitenta, se ensinava aos filhos e aos netos que devemos poupar para a velhice, para a doença ou um "azar": não se deve gastar tudo o que se ganha e tostão poupado é tostão ganho.
É preciso motivar os mais novos para a poupança, criar hábitos que os acompanhem para a vida. É preciso quebrar este ciclo vicioso de queda na taxa de poupança das famílias, hoje em mínimos de sempre.
Poupar é ter a liberdade para decidir, para sermos mais donos do nosso destino. Poupar é cool.
Os mercados financeiros oferecem muitas tentações aos investidores vulneráveis. É fácil cometer erros, especular em vez de investir.
Há muitos anos, encontrei um pequeno livro numa livraria em Charing Cross chamado "Money, Misery and Madness". No capítulo Sabedoria depois do acontecimento, surgia uma citação muito apropriada para o que escrevo hoje: "o preço das ações pode subir como também pode cair".
Esta citação será mais útil aos investidores do que as inúmeras previsões que grande parte das instituições financeiras e tantos comentadores de televisão levam a cabo nas últimas semanas de cada ano apenas, para uns meses depois, as reformularem ou justificarem por que motivo não se materializaram. 2019 encarregou-se, mais uma vez, de demonstrar a incapacidade do ser humano para prever o futuro.
A nossa capacidade para prever o curto prazo é zero
Não fazemos a mais pequena ideia de como se vão comportar os mercados financeiros daqui a um mês, um ano ou dois. Não sabemos que setores vão subir, em que geografias "apostar" ou sequer se o ano vai ser positivo. Podemos, no entanto, encarar como natural que os resultados obtidos em 2019 afetarão a forma como os investidores vão encarar os mercados em 2020. O viés da recência afeta-nos a todos de uma forma ou doutra. Os investidores, com base na performance de 2019, estarão excessivamente confiantes. Outros, porque falharam grandes ganhos, serão mais tímidos. Tendemos a utilizar a nossa experiência recente como ponto de partida para o que ocorrerá no futuro. Temos ainda a tendência de dizer "eu já sabia" após um evento ter acontecido, criando a nós próprios a ideia que sabíamos o que se iria passar. Isto faz com que não aprendamos nada com os erros que cometemos.
O foco no curto prazo e a fixação de tentar prever o imprevisível distrai os investidores do essencial - o valor dos ativos e o rendimento que produzem.
O investimento deve garantir a segurança do capital e um retorno satisfatório. Seguir uma filosofia de investimento focada no valor, no que o negócio produz, na previsibilidade dos seus cash-flows, na durabilidade das suas vantagens competitivas a longo prazo é a estratégia mais objetiva para criar riqueza.
Matriz dos Nossos Investimentos:
- Só compramos ações de empresas de grande qualidade, quando estão baratas: exigimos um desconto substancial face ao valor que julgamos justo.
- Só vendemos quando o preço se aproxima do valor justo, quando temos oportunidade de investir num negócio de igual qualidade, mas com maior potencial de valorização ou quando cometemos um erro de avaliação.
- Não temos receio de estar totalmente investidos e ver o nosso futuro financeiro alinhado com o sucesso de alguns dos melhores negócios do mundo. A aposta no engenho humano, na capacidade de algumas centenas de empresas produzirem riqueza e conquistarem ganhos de produtividade são a verdadeira razão porque os ricos ficam mais ricos.
Como Evitar o Azar e Estimular a Sorte?
Focamos a nossa atenção no que conseguimos fazer bem: avaliamos os ativos em que queremos estar investidos e ignoramos todo o ruído que se gera à volta dos mercados onde os conflitos de interesse e o curto prazo tomam conta das emoções e reações dos investidores. O que dita a nossa decisão de comprar ou vender é o valor.
Imagine um investidor "Sortudo" que conseguiu antecipar a crise financeira e em outubro de 2007, nos máximos de mercado, vendeu todas as ações que tinha e colocou todo o seu dinheiro em obrigações seguras do governo americano. Considere ainda um investidor "Azarado" que fez o contrário, comprou nos máximos de 2007 e viu o seu investimento desvalorizar o mesmo que o maior índice de ações do mundo, o S&P500: cerca de 55%.
O "Sortudo" terá recebido em média, ao longo dos últimos cerca de 12 anos, 3,8% ao ano (taxa média das obrigações de tesouro americano), num retorno total acumulado de 57%. O "Azarado", desde os máximos de 2007, viu a sua carteira de investimentos valorizar 160%, ou seja, cerca de 8,2% ao ano. Lembre-se que o "Azarado" comprou no máximo de 2007 e suportou um recuo no seu investimento de cerca de 55%. Desde esse mínimo, o S&P 500 subiu 475%.
Não foi preciso acertar no mínimo ou adivinhar seja o que fosse. Foi necessário manter a calma, ter a convicção do que tinha em carteira e aguentar as opiniões contrárias, as previsões pessimistas e não precisar dos valores investidos nesta carteira para fazer face a algum contratempo ou despesa inesperada que tenha surgido. Esta não foi uma tarefa fácil e muitos sucumbiram no processo.
Ao estudarmos o que alguns dos melhores investidores do mundo fizeram ao longo de décadas, constatamos que os fatores mais importantes são o tempo que permanecemos no mercado e a capacidade para manter uma estratégia de valor de longo prazo.
A Longa Curva da Prosperidade
Só devemos investir em ações se pudermos estar investidos 5 ou 10 anos e tivermos o temperamento para ver os mercados recuar 30 ou 40%. Ou seja, faça o que deve fazer sempre: saiba o que está a comprar, compre com desconto e espere pelos resultados. O tempo trabalhará a seu favor, como mostra o gráfico tendo em conta o comportamento dos mercados nos últimos 92 anos.
Como investir para os próximos anos?
Os mercados americanos estão em máximos. Para muitos é mais um receio a vencer. Em quem confiar com tanta "informação" (ruído) disponível?
Há vários anos que tomámos a decisão de não escrever publicamente sobre os investimentos que fazemos. Fazemo-lo em cartas trimestrais dirigidas aos nossos Clientes. Contudo, a título excecional, falo hoje de 5 títulos em que investimos nos últimos 18 meses: Alphabet, Amazon, Alibaba, Disney e Tencent e com os quais eu, como acionista, estaria confortável mesmo que os mercados financeiros fechassem um par de anos (note que isto não significa que possam ser bons investimentos para o próximo ano ou mais e que fazem parte de uma carteira de investimentos diversificada por setores e geografias).
Estes 5 negócios têm grandes vantagens competitivas, são difíceis de replicar e ganham retornos acima da média para os acionistas. Em todos eles, reconhecemos a transformação que tem sido feita nas últimas duas décadas: até 1999, os Estados Unidos não incluíam o software nos cálculos do PIB. Em 2006, a Microsoft era a empresa mais valiosa do mundo, com uma capitalização bolsista de 250 mil milhões de dólares. No seu balanço, constavam 3 mil milhões de dólares de ativos tradicionais, pouco mais de 1% do seu valor de mercado. O valor restante era justificado pelo design de produtos, ideias geradas pelo seu programa de Investigação & Desenvolvimento (I&D), a sua marca, a cadeia de fornecimento global, estruturas internas e o capital humano criado com a formação interna.
Atualmente, o PIB americano ainda não inclui investimentos em pesquisas de mercado, branding e formação - ativos intangíveis em que as empresas investem vários milhares de milhões de dólares todos os anos. Esta é a nova economia e a percentagem destes investimentos na economia mundial não para de crescer.
Estas empresas podem gastar muito dinheiro no desenvolvimento da primeira unidade de um programa novo, de um produto ou serviço. No entanto, cada unidade adicional é produzida quase gratuitamente. A porção da economia mundial que não se encaixa no modelo antigo é cada vez maior, como bem argumenta o livro Capitalism without Capital: The Rise of the Intangible Economy, de Jonathan Haskel e Stian Westlake.
Os mercados financeiros oferecem muitas tentações aos investidores vulneráveis. É fácil cometer erros, especular em vez de investir. A emoção está perigosamente próxima da superfície para muitos investidores e pode ser particularmente intensa quando os preços se movimentam dramaticamente em qualquer direção.
É essencial que os investidores compreendam a diferença entre especular e investir e que aprendam a tirar partido das oportunidades que o mercado apresenta. O tempo trabalhará a seu favor.
"É quase impossível imaginar que, de todas as coisas à venda, a mais atrativa, em termos de preço, seja aquela que está a ser vendida por um vendedor conhecedor do negócio a alguém menos conhecedor."
Warren Buffett
Num ano fértil em IPOs (Initial Public Offerings - operações de venda de ações de empresas que vêm ao mercado pela primeira vez), a WeWork destaca-se. O seu modelo de negócio é simples: arrenda escritórios - não é a dona dos espaços - divide-os, remodela-os e subarrenda-os a preços mais elevados. O modelo de negócio não é novo ou suficientemente distinto de outros no passado. No entanto, o acesso a grandes volumes de capital e a ambição do seu fundador e CEO, Adam Neumann, fizeram toda a diferença para se chegar a ouvir avaliações de pré IPO de cerca de 90 mil milhões de USD. Em 2012, numa ronda de entrada de capital, a empresa havia sido avaliada em quase 100 milhões de USD.
Existem centenas de empresas de co-working, mas Neumann insistia em 2017 que a WeWork era algo mais: "a nossa avaliação (na altura, 47 mil milhões de dólares) e tamanho tem mais a ver com a nossa energia e espiritualidade do que com qualquer múltiplo de receitas." Neumann defendia que a WeWork não era apenas uma empresa de imobiliário, "somos uma comunidade e estamos aqui para mudar o mundo". Numa festa da empresa em 2018, Neumann declarou que a missão da WeWork era "elevar a consciência do mundo".
Aswath Damodaran, Professor na Universidade de Nova Iorque e autor do livro "Narrative and Numbers", salienta, na sua análise da WeWork: "a maior parte dos negócios precisa de escritórios e a forma como esse espaço é criado e fornecido segue um determinado modelo há décadas. O dono de um edifício, que o comprou recorrendo a dívida, arrenda-o a empresas que precisam de espaço e usa as rendas recebidas para pagar os juros da dívida e os custos de manutenção.
À medida que a economia enfraquece, a procura por escritórios diminui e a queda nas taxas de ocupação expõe o dono do edifício a riscos. Os empresários de imobiliário prudentes tentam comprar os edifícios quando os preços estão baixos e procuram que os inquilinos assinem contratos de longa duração quando as rendas estão altas. Tentam, assim, construir uma almofada de lucros que os proteja de recessões.
Mesmo com esta prudência acrescida, o imobiliário comercial foi sempre um negócio de bolhas e crises e mesmo os empresários mais bem-sucedidos já foram milionários e falidos (pelo menos no papel) em momentos diferentes das suas vidas".
Confiante que faz muito melhor, Neumann propõe-se reinventar este setor e o mundo. O que conseguiu é realmente impressionante: a WeWork tem 466 mil membros a trabalhar em 485 localizações em mais de 100 cidades em 28 países. Em 2014, arrecadou receitas de 75 milhões de dólares, o ano passado atingiu os 1,8 mil milhões. Há 3 anos, tinha 1.000 colaboradores, hoje cerca de 12.400. É o maior inquilino de Nova Iorque e o segundo maior em Londres. A sua narrativa era, para muitos, fantástica.
A publicação, em agosto passado, do prospeto do IPO foi um duro choque com a realidade: Neumann teria direito a 20 vezes os direitos de voto dos outros acionistas e, em caso de morte, seria a esposa a escolher o sucessor. O prospeto revelou ainda que as perdas da WeWork escalaram de 900 milhões de dólares em 2017 para 1,6 mil milhões em 2018 e que a empresa pagou 20,9 milhões de dólares de rendas em edifícios de que Neumann era parcialmente proprietário.
O IPO acabou por ser cancelado e a WeWork só não vale zero porque o seu maior acionista, o Softbank, preferiu injetar mais 9,5 mil milhões de dólares - a somar aos 10,65 mil milhões que já tinha investido na empresa. Neumann foi afastado - com uma indemnização que pode atingir 1,7 mil milhões - e a empresa está a ser reestruturada na tentativa de operar um modelo de negócio que possa vir a ser rentável. A única coisa positiva neste caso é que os investidores particulares não perderam dinheiro. Tiveram sorte, o IPO não teve lugar.
Um estudo realizado nos Estados Unidos entre 1980 e 2007, concluiu que as ações compradas nos IPOs perdem, relativamente ao mercado, cerca de 21% ao ano nos três primeiros anos em que estão cotadas e a performance real destas empresas é pouco menos que um desastre. Apesar da péssima performance dos IPOs estar bem documentada, os investidores continuam a participar na festa.
O que leva os bancos a serem tão otimistas nos IPOs?
Damodaran diz que a banca não avalia os ativos, apenas os apreça. A diferença entre avaliar e apreçar é enorme: quando avaliamos um ativo, queremos saber o que ele produz e os cash flows que vai gerar no futuro. Quando a banca apreça um ativo, fá-lo por comparação, procura ativos semelhantes e o preço a que transacionam. É o que se faz no imobiliário: se temos um apartamento para vender, procuramos os preços das últimas transações de apartamentos com a mesma tipologia na mesma zona e calculamos o metro quadrado a que foram vendidos. Os valores resultantes das rondas de financiamento destas empresas usam a mesma abordagem. O problema é quando não há empresas semelhantes ou quando os mercados não as apreçam corretamente. Nesses casos, vale tudo para embelezar o que se está a vender, incluindo transformar um senhorio imobiliário num conceito de tecnologia. A narrativa sobrepõe-se aos números.
Scott Galloway, num artigo de 27 de setembro, a propósito deste e de outros IPOs recentes, aponta o dedo à Banca de Investimento. Ao que parece, Neumann aconselhava-se com o CEO do JPMorgan, Jamie Dimon, entre outros da alta finança. O JP Morgan terá aconselhado ao Conselho de Administração da WeWork um intervalo de avaliações de 40-60 mil milhões. O Goldman Sachs terá avaliado entre 60-90 mil milhões.
Scott Galloway enfatiza os conflitos de interesse com que estes vendedores de histórias operam, "nos últimos cinco anos, a Goldman tem tentado, agressivamente, gerir o meu dinheiro. Convidaram-me para a estreia de Solo: A Star Wars Story, o que vale, sem dúvida, um por cento anual dos meus ativos. Se a Goldman fosse a minha gestora de fortunas, teria inundado a minha carteira com ações da WeWork se, no IPO, tivessem conseguido comprar ao preço "barato" de 47 mil milhões? Estará a Goldman mais focada nas comissões de colocação das ações (130 milhões de dólares) ou em atuar como fiduciário dos interesses dos clientes? Ou serão apenas idiotas?"
Texto escrito originalmente a 17 de março de 2022 como mensagem de acolhimento do Relatório & Contas de 2021 da Casa de Investimentos.
"Desinformação não significa informação falsa. Significa informação enganadora - deslocada, irrelevante, fragmentada ou superficial - informação que cria a ilusão de saber algo, mas que de facto nos afasta do conhecimento", Neil Postman
"As pessoas têm excesso de confiança nos seus julgamentos. Cometem erros porque geralmente são excessivamente otimistas quando fazem planos e acreditam piamente que esses planos resultarão", Daniel Kahneman
"Não me digas o que pensas, diz-me o que tens no teu portfólio", Nassim Taleb
Apesar de uma rentabilidade média nas carteiras de gestão discricionária de cerca de 16,3% e no fundo Casa Global Value PPR de 16,85%, consideramos 2021 um ano com sabor amargo. Deixámos muito dinheiro em cima da mesa. Isto significa, tal como escrevemos no Relatório e Contas de 2018, que temos hoje uma carteira a transacionar com um desconto considerável face ao que realmente vale. O potencial de valorização e o facto de determos hoje a coleção de negócios com maior qualidade na história da Casa de Investimentos permite-nos estar muito confiantes que o futuro nos vai voltar a dar razão, com retornos superiores à média de mercado.
Este foi um ano extraordinário para a Casa de Investimentos e para os seus colaboradores. Foi com muito gosto, e sobretudo com enorme sentido de responsabilidade, que demos as Boas-Vindas a mais de 2.000 novos Clientes. O lançamento do fundo Casa Global Value PPR permite que qualquer investidor possa ter acesso a uma filosofia de valor a partir de 1.000 euros. Cabe-nos agora demonstrar que esta deve ser a conta para acumular riqueza a longo prazo. Com horizonte temporal que nos permite investir com risco limitado na classe de ativos com melhores rentabilidades na história financeira (as ações) e o facto de ser fundo PPR - garantindo um conjunto de vantagens fiscais que protege e potencia a acumulação de riqueza - esta deve ser a conta de poupança de longo prazo das famílias. Este é o produto financeiro com maiores vantagens fiscais associadas.
Em 2018, iniciámos a escrita de Cartas Trimestrais aos nossos Clientes. Este compromisso de comunicação regular parece-nos essencial para que percebam os investimentos que fazemos, o que se passa com os títulos em carteira, o que compramos, o que vendemos e o porquê. Do último ano, realçamos a carta do primeiro trimestre, a que demos o nome "A melhor carta de sempre", escrita por Jeff Bezos aos acionistas da Amazon:
"Se queremos ser bem-sucedidos nos negócios (na realidade, na vida), temos de criar mais do que consumimos. O nosso objetivo deverá ser criar valor para todos aqueles com quem interagimos",
Jeff Bezos, Carta aos Acionistas, abril 2021
O trabalho mais importante que fazemos para os nossos Clientes é estudar e analisar as empresas, os seus modelos de negócios, as suas demonstrações financeiras, e avaliar até que ponto os seus gestores executam o que prometem. Nesta nossa carta partilhamos parte de uma leitura recente da que é já considerada a melhor carta de sempre dirigida aos acionistas.
"Aos nossos acionistas:
Na carta da Amazon aos acionistas de 1997, a nossa primeira carta, falei acerca da nossa esperança em criar uma "empresa duradoura", que reinventasse o que significa servir um cliente através do poder da internet. Observei que a Amazon tinha crescido de 158 para 614 colaboradores e que tínhamos ultrapassado os 1,5 milhões de contas de clientes. Tínhamos acabado de cotar na bolsa a um preço ajustado de 1,5 dólares por ação. Escrevi também que era o Dia 1.
Desde então, já percorremos um longo caminho e estamos a trabalhar mais do que nunca para servir e deliciar clientes. No ano passado, contratámos 500.000 funcionários e empregamos agora 1,3 milhões de pessoas em todo o mundo. Temos mais de 200 milhões de clientes Prime pelo mundo inteiro. Mais de 1,9 milhões de pequenas e médias empresas vendem produtos na nossa loja e representam cerca de 60% das nossas vendas a retalho. Os clientes ligaram mais de 100 milhões de casas aos nossos dispositivos Alexa. A Amazon Web Services serve milhões de clientes e terminou 2020 com uma receita anualizada de 50 biliões de dólares. Em 1997, ainda não tínhamos inventado o Prime, Marketplace, Alexa ou AWS. Não eram sequer ideias ainda e nenhuma delas estava predestinada. Corremos enormes riscos em cada uma e canalizámos suor e engenho em cada uma delas.
Pelo caminho, criámos 1,6 triliões de dólares de riqueza para os acionistas. Quem são eles? O vosso CEO é um deles e as minhas ações da Amazon tornaram-me rico. No entanto, mais de 7/8 das ações, que representam 1,4 triliões de riqueza, são propriedade de outros. Quem são eles? São fundos de pensões, universidades, planos de poupança reforma e são a Mary e o Larry, que me enviaram esta carta, precisamente na altura em que me preparava para escrever esta carta aos acionistas:
5 de março de 2021
Sr. Jeff Bezos
Executive Chairman
Amazon.com Inc.
410 Terry Avenue North
Seattle, WA 98109
Caro Sr. Bezos,
Obrigado por fazer da Amazon uma empresa excecional! Acreditamos que gostaria de saber como a Amazon beneficiou a nossa família.
Em 1997, quando a Amazon entrou em bolsa, o nosso filho Ryan tinha 12 anos e era um leitor voraz. No aniversário dele, oferecemos-lhe duas ações da sua empresa que vendia livros - não tínhamos dinheiro para mais na altura. Passado um ano, as ações tiveram um stock split de 2 para 1, depois de 3 para 1 e finalmente de 2 para 1 e o Ryan ficou com 24 ações. As ações estavam em nosso nome devido à sua idade. Pretendíamos colocá-las em nome dele, mas nunca chegámos a fazê-lo, mas ele sabia que eram dele.
Por várias vezes, ao longo dos anos, o Ryan quis liquidar as ações, mas sempre lhe dissemos que lhas comprávamos. Depois, eventualmente, acabávamos por lhas oferecer novamente. Era uma espécie de piada privada na família.
Dado o crescimento exponencial no valor das ações, decidimos dividi-las entre nós próprios e ambos os nossos filhos, Ryan e Katy.
O Ryan vai comprar casa este ano e gostaria de vender algumas ações. Antes de as vender, tivemos de converter os certificados originais em papel para um formato digital. Reparámos que o primeiro certificado tinha um número extremamente baixo. Nem consigo imaginar quantas mais ações foram emitidas desde essa data!
Anexo uma cópia do certificado original das ações de 1997 - há 24 anos. Essas duas ações tiveram uma influência maravilhosa na nossa família. Todos nós adoramos testemunhar o crescimento da Amazon ano após ano e esta é uma história que adoramos contar.
Parabéns pela sua carreira como CEO da Amazon. Nem conseguimos imaginar o esforço e o trabalho que o Sr. Bezos e a sua equipa tiveram de fazer para tornar a Amazon na empresa mais bem-sucedida e inventiva do planeta. Desejamos que tenha agora tempo para relaxar e para fazer as coisas que deseja fazer, tal como explorar o espaço!
Mal podemos esperar para ver onde a Amazon vai entregar de seguida! No Dia Seguinte em Marte!
Com os melhores cumprimentos,
Mary e Larry
Recebo constantemente histórias parecidas. Conheço pessoas que utilizaram o dinheiro das ações da Amazon para a universidade, para emergências, casas, férias, para dar início à sua empresa, para ajudar os outros - e a lista é interminável. Tenho muito orgulho na riqueza que criámos para os acionistas. É significativa e melhora as suas vidas. No entanto, estou seguro de outra coisa: este não é o maior quinhão do valor que criámos.
Recordemos que os preços das ações não têm a ver com o passado. Os preços das ações são uma previsão dos cash flows futuros descontados para o presente. O mercado de ações antecipa.
Permitam-me falar um pouco do passado. Quanto valor criámos para os acionistas em 2020? Esta é uma questão relativamente fácil de responder, uma vez que existem sistemas contabilísticos preparados para isso. O nosso lucro em 2020 foi de 21,3 biliões de dólares. Se, ao invés de ser uma empresa publicamente cotada com milhares de donos, a Amazon tivesse um único dono, esse teria sido o lucro que o dono arrecadaria em 2020.
E os funcionários? Esta também é uma pergunta relativamente fácil de responder, uma vez que podemos consultar os gastos com pessoal. Em 2020, os funcionários ganharam 80 biliões de dólares, a que se somam mais 11 biliões de dólares em benefícios e impostos, para um total de 91 biliões de dólares.
E quanto aos vendedores na nossa loja? Temos uma equipa (Selling Partner Services) que trabalha para responder a esta questão. Estimam que, em 2020, os lucros das suas vendas nas nossas lojas foram entre 25 e 39 biliões de dólares. Sendo conservador, levamos em consideração os 25 biliões de dólares.
Para os clientes, temos de os dividir entre clientes consumidores e clientes AWS.
Primeiro, os consumidores. Oferecemos preços baixos, uma vasta seleção e entregas rápidas, mas imaginemos que, para o propósito desta estimativa, ignoramos tudo isto e avaliamos apenas uma coisa: poupamos tempo aos nossos clientes.
Os clientes completam 28% das compras na Amazon em três minutos ou menos e metade de todas as compras são concluídas em menos de 15 minutos. Se compararmos isto a uma típica saída às compras numa loja física - conduzir, estacionar, procurar nas estantes da loja, esperar na caixa, encontrar o carro no parque e regressar a casa. Estudos sugerem que a típica viagem à loja demora cerca de uma hora. Se assumirmos que uma compra típica na Amazon demora 15 minutos e que nos poupa um par de viagens a uma loja física, isto significa uma poupança de mais de 75 horas por ano. Isto é importante. Neste início do Séc. XXI, estamos todos muito ocupados.
Para que possamos chegar a um número em dólares, vamos avaliar a poupança no tempo em 10 dólares por hora, um número conservador. Setenta e cinco horas multiplicadas por dez menos o custo do Amazon Prime resulta numa criação de valor para cada membro do Prime de cerca de 630 dólares. Temos 200 milhões de membros Prime e uma criação de valor, em 2020, de 126 biliões de dólares.
É difícil estimar a criação de valor na AWS, uma vez que as exigências de cada cliente são tão diferentes, mas vamos tentar de qualquer maneira, reconhecendo à partida que as margens de erro são elevadas. As reduções de custos diretos devidas à operação de servidores na cloud em vez de localmente variam enormemente, mas uma estimativa razoável é de 30%. Com base nas receitas da AWS de 2020, 45 biliões de dólares, esses 30% significam uma criação de valor para os clientes de 19 biliões (o que lhes custaria 64 biliões de dólares isoladamente, custa-lhes 45 biliões com a AWS). A parte difícil deste exercício de estimativa é que a redução de custos direta é a porção mais pequena do benefício que o cliente consegue ao mudar-se para a cloud. O maior benefício é o aumento na velocidade de desenvolvimento de software - algo que pode melhorar significativamente a competitividade e lucros do cliente. Não temos qualquer forma razoável de estimar essa porção de criação de valor para o cliente exceto dizer que é quase certo que é superior à poupança nos custos diretos. Sendo conservadores (e tendo em mente que estamos apenas a tentar chegar a valores aproximados), diria que é equivalente e que a criação de valor da AWS para o cliente, em 2020, foi de 38 biliões.
Somando a AWS e os consumidores dá-nos um total de criação de valor para o cliente, em 2020, de 164 biliões de dólares. Resumindo:
Acionistas: 21 biliões de dólares
Funcionários: 91 biliões de dólares
Vendedores: 25 biliões de dólares
Clientes: 164 biliões de dólares
Total: 301 biliões de dólares
Se cada grupo tivesse uma demonstração de resultados representando as suas interações com a Amazon, os números acima seriam os "lucros" dessas demonstrações de resultados. Estes números são parte da razão pela qual estas pessoas trabalham para nós, pela qual os vendedores vendem através da nossa plataforma, e pela qual os clientes compram na nossa loja. Nós criamos valor para eles. E esta criação de valor não é um jogo de soma zero. Não é apenas mover dinheiro de um bolso para outro. Se desenharmos um círculo à volta de toda a sociedade, descobrimos que a invenção está na raiz de toda a verdadeira criação de valor. E o valor criado é, no fundo, uma métrica para a inovação."
Na Casa de Investimentos trabalhamos para ser o principal parceiro financeiro dos nossos Clientes, trabalhamos para ser o "agente capitalizador" da riqueza que nos é confiada. Isto significa que procuramos investir em negócios que têm a capacidade de capitalizar retornos ao longo de muitos anos e que conseguem criar valor para os seus colaboradores, para os seus clientes, para os seus acionistas e para a sociedade.
Pensar como um investidor capitalizador é muito natural para as pessoas que compram pequenas empresas não cotadas. O investidor em empresas não cotadas concentra-se cuidadosamente num punhado de investimentos e espera que os contabilistas reportem consistentemente, no final de cada ano, que o seu capital por ação cresceu. Estes investidores não pensam em entrar e sair dos seus investimentos mensalmente ou diariamente.
Esta abordagem é tão básica que, muitas vezes, é esquecida nos mercados acionistas. Nos mercados acionistas, é muito fácil distrairmo-nos com as flutuações hora a hora e com a excitação dos corretores e dos canais financeiros com as notícias de curto prazo. Para ser um investidor capitalizador, precisamos de nos abstrair do ruído de curto prazo. Refletimos profundamente sobre os ingredientes necessários para que um negócio consiga capitalizar o valor ao longo de muitos anos. São estas as empresas que procuramos e que hoje fazem parte da nossa carteira, entre os quais a Amazon.
É importante reconhecer que o mercado acionista não é nem realidade nem verdade, mas antes o reflexo do julgamento coletivo da "multidão" com uma grande dose de irracionalidade e emoção à mistura. Para tornar isto ainda pior, o curto prazo é o máximo denominador comum. A título de exemplo, a cotação de mercado da TESLA há algumas semanas transformou-a na sexta empresa mais valiosa do mundo, apesar da sua história quase sem lucros. Contudo, para muitos investidores, este facto não é relevante. Apesar de parecer que os preços das ações se podem manter irracionais indefinidamente, os desenvolvimentos da vida real das empresas, com frequência, servem de mecanismos de reversão para o correspondente valor que geram. Muitos dos grandes excessos de 2020 e 2021 estão já com correções muito substanciais. Muitas empresas, há meses tão "queridas" pelos investidores, viram a sua cotação cair 70% a 80% nas primeiras semanas de 2022. Cerca de 42% das empresas do Nasdaq já corrigiram mais de 50% dos máximos recentes.
Gerimos o dinheiro dos nossos Clientes como gostávamos que fizessem com o nosso. Ao longo deste documento, dizemos o que pensamos e o que fazemos. Dizemos e investimos com os nossos Clientes, nos mesmos negócios, na mesma proporção. Toda a Equipa da CASA investe no fundo Casa Global Value PPR.
Trabalhamos para nos tornarmos no maior parceiro financeiro dos nossos Clientes. Para o conseguirmos, promovemos um relacionamento justo, dedicamos recursos consideráveis à divulgação de conhecimento e comunicamos com clareza e regularidade. É nossa convicção que, entendendo como tomamos decisões de investimento, se construirá uma relação de confiança e nos entregarão uma fatia maior do esforço do trabalho e poupança.
É um privilégio e uma honra para a Casa de Investimentos poder gerir o dinheiro de Famílias e de investidores institucionais. Nós, acionistas-gestores e quadros da CASA, estamos verdadeiramente comprometidos com o longo-prazo e é esse compromisso que torna possível manter uma perspetiva de investimento de anos, que resultará em retornos mais elevados para o benefício de todos. A confiança e o apoio dos nossos Clientes fortalecem a nossa vontade e propósito de proteger e valorizar os patrimónios que nos confiam. Tudo faremos para que se mantenham connosco, para que se sintam seguros e para que esta seja uma parceria rentável a longo prazo. Contamos convosco para criarmos uma legião de investidores em valor.
Aos nossos Clientes deixamos um agradecimento muito especial pela confiança e pelas recomendações que fazem da nossa CASA. Muito obrigada.
Com consideração, apresentamos os melhores cumprimentos,
Emília Oliveira Vieira
Chief Executive Officer & Chairman
Casa de Investimentos
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Relatório & Contas 2021 completo onde foi originalmente publicada esta mensagem de abertura: descarregar
Mensagem de acolhimento do Relatório & Contas 2019 | Casa de Investimentos
Texto escrito originalmente a 31 março de 2020 e publicado como mensagem de abertura do Relatório & Contas 2019 da Casa de Investimentos.
"No curto prazo aprendemos muito, a médio prazo aprendemos alguma coisa e no longo prazo não aprendemos absolutamente nada"
Jeremy Grantham
"Um pessimista vê dificuldades em cada oportunidade; um otimista vê oportunidades em cada dificuldade"
Winston Churchill
As nossas primeiras preocupações e pensamentos prendem-se com a saúde e bem-estar dos nossos Clientes e colaboradores, das suas famílias, dos profissionais de saúde e tantos trabalhadores que arriscam a vida para cuidar dos doentes, para que continuemos a ter os bens que precisamos para o dia-a-dia e para garantir a segurança e ordem pública.
Tínhamos praticamente concluído o Relatório & Contas deste ano quando fomos confrontados com uma das maiores ameaças de saúde pública, a nível global, da História. A velocidade e ferocidade com que se propagou terá seguramente um impacto profundo sobre a economia e a população a nível mundial. Neste contexto, o medo sobrepôs-se ao otimismo e os principais índices de ações mundiais sofreram as quedas mais rápidas das últimas 9 décadas.
Esta é uma crise muito diferente das que conhecemos do passado e não se restringe aos mercados bolsistas, a uma classe de ativos, a um setor ou geografia. Esta é uma paragem na atividade económica mundial que produziu também grandes repercussões nos mercados de crédito, de matérias primas e nos mercados imobiliários. A rapidez com que o mundo parou quase toda a atividade económica não tem precedentes na história. Parece-nos assemelhar-se mais ao que acontece depois de um desastre natural ou de uma guerra do que à grande crise financeira de 2008, ao rebentar da bolha tecnológica de 2001 ou ao grande crash financeiro de 1987.
Por todo o mundo, a resposta de bancos centrais e de governos tem sido rápida e em muitos casos muito vigorosa, com políticas fiscais e monetárias que procuram evitar a destruição da atividade económica e, consequentemente, o desemprego em massa e uma recessão profunda. A questão agora é saber por quanto tempo estará a atividade económica quase parada e a que ritmo será retomada.
Acreditamos ser nossa responsabilidade fiduciária, assim como nossa responsabilidade ética, contribuir para a objetividade e racionalidade das análises subjacentes e que permitirão aos nossos Clientes tomar decisões ponderadas e proteger os valores a longo prazo. Acreditamos que a filosofia de investimento em valor que praticamos - quer pelo foco que colocamos na qualidade dos ativos em que investimos, quer pelo desconto com que os compramos face à nossa estimativa de valor intrínseco - nos permite antecipar que ultrapassaremos este desafio sem que a nossa tese de investimento de longo prazo se altere para o conjunto da carteira em que estamos investidos. Os mercados recuperam sempre. Não temos, contudo, qualquer ideia do tempo necessário para regressarmos à normalidade ou aos níveis de mercado em que estávamos há dois meses. Nunca na história tivemos tantos recursos tecnológicos, conhecimento e riqueza para comprometer com a resolução desta crise e fazê-lo em tempo record. É do interesse de todos a sua resolução e por isso a solução poderá chegar mais depressa do que hoje antecipamos.
Nestas mensagens do Relatório & Contas, procuramos escrever sobre os resultados do ano, sobre os princípios e regras de ouro que nos servem de "estrela polar" e que nos permitem criar uma CASA segura, construída com experiência e conhecimento e que produza valor para os seus Clientes, trabalhadores e acionistas. Esta é a ordem das prioridades desde o primeiro dia.
A Casa de Investimentos entra nesta crise com uma posição forte e capitais próprios reforçados. Embora pareça já tão distante no tempo, devemos olhar agora para a atividade de 2019. Este foi, a vários níveis, o melhor ano desde a fundação da CASA:
- Ganhámos 28,95% de rentabilidade aos nossos Clientes (líquida de comissões de transação, custódia, comissões de gestão fixa e de performance e ainda dos impostos sobre dividendos retidos na fonte), mantendo uma liquidez média de cerca de 6%.
- Este foi o melhor ano de resultados para a CASA, a demonstrar o alinhamento de interesses com os nossos Clientes. Estes resultados e os valores em reservas permitem-nos cumprir com a determinação dos acionistas em aumentar o Capital Social para dois milhões de euros já nos primeiros meses de 2020.
- Reforçámos os quadros da CASA, para uma equipa de 15 elementos e continuaremos a fazê-lo, antecipando o crescimento da nossa atividade. Destacamos a entrada para a Administração e estrutura acionista do Engº Nuno Lopes Gama para coordenar as áreas tenológicas, marketing, comunicação e melhoramento contínuo e plataforma online. O seu extraordinário percurso profissional, integridade, princípios e visão de longo prazo são uma enorme mais valia para a CASA e para os nossos Clientes.
- O aumento de 47% dos valores em gestão permitiu-nos, já em final do ano, baixar os custos de negociação e custódia junto dos nossos intermediários financeiros, cujos beneficiários são os nossos Clientes.
Em novembro de 2019, a CASA foi notificada pela CMVM da obtenção de autorização para exercício de gestão de organismos de investimento coletivo em valores mobiliários e de organismos de investimento alternativo em valores mobiliários. Estamos agora muito bem posicionados para servir Family Offices e as suas estruturas de organização patrimonial, clientes institucionais e sobretudo, fazê-lo a preços sensatos.
O objetivo para 2020 é o lançamento de um Fundo de Investimento que permita aos investidores - ou porque têm valores mais pequenos ou não estão disponíveis para "experimentar" com valores elevados - terem acesso a uma filosofia de valor focada na criação de riqueza com segurança a longo prazo. Esperamos criar uma legião de investidores em valor que beneficiem das maravilhas dos retornos compostos e acumular riqueza que permita concretizar objetivos e sonhos de longa data e construir um futuro financeiro mais independente e seguro. Desde o primeiro dia da CASA, procuramos contribuir para potenciar o conhecimento financeiro dos investidores para que sejam mais capazes de fazer escolhas no seu melhor interesse. Essa será também a âncora de desenvolvimento do Fundo.
Do Relatório e Contas de 2018, destacamos:
"Aquilo que a nossa carteira realmente vale não é o que o mercado pagaria hoje. O verdadeiro valor dos títulos que temos em carteira depende dos negócios subjacentes e da riqueza que estes produzirão no futuro e que receberemos sob duas formas: dividendos periódicos e os lucros que, não sendo distribuídos, são reinvestidos para a expansão do negócio e das suas vantagens competitivas - aumentando o potencial da empresa ganhar mais no futuro. Com tempo, a cotação de mercado tenderá a refletir o valor intrínseco acumulado. É nisto que acreditamos na Casa de Investimentos."
Esperamos sempre anos difíceis, como aliás foi o ano de 2019 apesar de ganharmos, com as nossas comissões, mais de 31%. Por isso mesmo, em 28 de janeiro deste ano apresentámos aos nossos Clientes, na nossa sede, os resultados do ano e como deveríamos investir para a próxima década. Isso mesmo, para a próxima década. Desde o primeiro dia que consideramos ser nossa obrigação fazer um trabalho competente e íntegro, comunicar com transparência e assumir a responsabilidade de cuidar dos patrimónios dos clientes com a máxima dedicação e segurança. Não sabemos, nem achamos que seja relevante adivinhar - nem os clientes devem esperar que o façamos - o que os mercados farão daqui a uma semana, um mês ou um ano. O futuro próximo não é claro para nós.
A nossa postura, enquanto investidores, é a de dono de negócio. Quando investimos num negócio, estamos a comprar os cash-flows que este vai gerar no futuro. É importante saber quanto estamos a pagar por esses cash-flows. O Valor de uma empresa é a soma do dinheiro que pode ser distribuído aos seus donos ao longo da vida do negócio, descontado a uma taxa de juro razoável. Não temos qualquer dúvida que os resultados dos negócios que temos em carteira serão afetados em 2020 e possivelmente em 2021. Contudo, esta representa uma pequena parte do valor que calculamos para decidir se investimos ou não.
Em situação de lucros normalizados, à data em que escrevemos esta mensagem, a nossa carteira tem múltiplos mais baixos do que em final de 2018. Para além de ser significativamente mais barata do que a média do S&P500 e do MSCI World, estamos investidos em empresas mais rentáveis, com balanços mais sólidos, com maior geração de cash-flow e melhores perspetivas de crescimento. O que nos dá o conforto adicional não são apenas os dados históricos destas empresas nos últimos dez anos e capacidade dos seus gestores em reforçarem as suas vantagens competitivas. O conforto advém, para vermos como pode ser o futuro destes negócios, das decisões que tomamos se basearem em teoria financeira sólida e numa filosofia de investimento testada pelo tempo com resultados consistentes.
Ao longo do último ano, reforçámos a estratégia de criação de valor na qualidade dos negócios e equipas de gestão. Investimos nalguns dos melhores negócios globais nos quais também se encontram investidas algumas das famílias mais ricas do mundo (Jeff Bezos na Amazon, Larry Page e Sergey Brin na Alphabet, Bill Gates na Microsoft, Warren Buffett na Berkshire Hathaway, entre outros). A cotação destas empresas, embora volátil, tenderá a replicar a prazo os lucros que estes negócios forem capazes de produzir. Manter o rumo e ter paciência permitirá colher os frutos.
Na carta deste ano aos acionistas, datada de 22 de fevereiro, Warren Buffett escreve o seguinte:
"O que podemos dizer é que se as taxas de juro atuais se mantiverem inalteradas nas próximas décadas e se os impostos às empresas também se mantiverem nos níveis reduzidos que hoje beneficiam, então é quase garantido que as ações, no longo prazo, irão ter uma melhor performance do que instrumentos de taxa fixa de longo prazo. Esta previsão rósea carrega um aviso: amanhã, tudo pode acontecer aos preços das ações. Ocasionalmente, assistiremos a enormes quedas no mercado, talvez com magnitudes de 50% ou ainda mais. No entanto, a combinação do "vento pelas costas americano", sobre o qual escrevi o ano passado e as maravilhas do juro composto, descritas por Mr. Smith, farão com que as ações sejam a melhor escolha de longo prazo para o indivíduo que não tem alavancagem e que consegue controlar as suas emoções. Os outros? Tenham cuidado!"
A longa curva da prosperidade refletida no índice de ações americano nos últimos mais de 100 anos resume bem os ventos favoráveis de que fala Warren Buffett. Mas, como tudo, tem um preço: em vários momentos ao longo destas décadas, os recuos de mercado foram muitos e por vezes com impacto muito grande nas cotações. Aqueles que não conseguem olhar para as ações como uma fatia de um negócio que lhes confere o direito aos lucros futuros, terão resultados especulativos e por isso mesmo inconsistentes e na maior parte das vezes perderão. Os que não estiverem preparados para esses recuos, não devem investir em ações.
Para concluir e porque são a razão pela qual existimos de porta aberta, deixamos nestas páginas uma palavra de gratidão e apreço aos nossos Clientes pela confiança que mantêm no nosso trabalho, pela preocupação e cuidado que têm manifestado a toda a equipa e pelo reforço dos valores que têm à nossa guarda e que saberemos aumentar a prazo. Como sempre, trabalhamos para que fiquem connosco décadas. Obrigada pelo privilégio e pelas referências que fazem do trabalho da CASA.
Em meu nome, do Pedro Alves e do Nuno Lopes Gama, agradecemos aos nossos colegas da CASA a extraordinária capacidade de trabalho, o sentido de responsabilidade e a determinação em manter o foco e acrescentar valor em tempos tão desafiantes. Muito obrigada a todos.
Terminamos com um ditado português que muito nos inspira no que fazemos:
"Quem pensa em si planta um eucalipto, quem se preocupa com os filhos planta um pinheiro, quem se preocupa com os netos planta um sobreiro".
Há anos em que a "meteorologia" não nos ajuda, haverá anos maus, anos razoáveis, anos excecionais, e muitos anos bons. Com tempo, as árvores crescem e dão frutos.
Com consideração, apresento os melhores cumprimentos,
Emília Oliveira Vieira
Chief Executive Officer
Casa de Investimentos
"Trabalhamos para que os nossos Clientes sejam Clientes antigos".
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Relatório & Contas 2019 completo onde foi originalmente publicada esta mensagem de abertura: 20200619_CdI_RelatorioContas_2019_Digital
Mensagem de Abertura | Relatório & Contas 2020 | Casa de Investimentos
Texto escrito originalmente a 17 de março de 2021 como mensagem de acolhimento do Relatório & Contas de 2020 da Casa de Investimentos.
"Assim como não é uma andorinha ou um belo dia que faz a Primavera, também não é um dia ou um curto período de tempo que faz um homem abençoado e feliz.",
Aristóteles em "Ética a Nicómaco"
"As nossas experiências pessoais com o dinheiro representam talvez 0,00000001% do que aconteceu no mundo, mas representam cerca de 80% de como julgamos que o mundo funciona.",
Morgan Housel
"A única coisa que vos digo é que o pior investimento que podem ter é dinheiro. O dinheiro, ao longo do tempo, vai valer menos. Os bons negócios, ao longo do tempo, valem mais.",
Warren Buffett
Aos nossos Clientes deixamos um agradecimento muito especial pela confiança e pelas recomendações que fazem da nossa CASA.
O ano de 2020 foi o mais difícil para os nossos Clientes. Num mercado em tumulto e perante a queda mais rápida de sempre nos mercados financeiros mundiais, permitiram-nos manter o rumo e confiaram na nossa capacidade de avaliação quanto ao impacto destes eventos nos investimentos que temos em carteira. Confiaram-nos reforços das suas contas de investimento e fizeram com que março de 2020 fosse o melhor mês de sempre, em entradas de dinheiro novo, na história da Casa de Investimentos. Esta é a maior prova de confiança no nosso trabalho e que nos motiva para melhorar todos os dias e colocar sempre os seus interesses em primeiro lugar.
Para nós, manter a estratégia de investimento e reforçar posições, foi mais fácil do que para os nossos Clientes. O facto de termos um conhecimento muito profundo dos negócios em carteira, de terem balanços muito fortes, aliados a equipas de gestão excelentes, as vantagens competitivas face a concorrentes, e conseguirmos acompanhar todos os dias as medidas que os gestores estavam a tomar para adequar as suas atividades à pandemia, deu-nos o conforto de decidir com margem de segurança. Estes factos permitiram-nos manter o rumo e potenciar os retornos a longo prazo.
Em 2020, perdemos, em média, 2,9% aos nossos Clientes. Este número é, em muitos casos, muito diferente: os Clientes que reforçaram substancialmente as contas e os que abriram contas depois de março, tiveram rentabilidades positivas muito significativas. O dólar americano desvalorizou 8,45% no ano. Uma vez que a carteira tinha no fecho do ano uma exposição de 72% a USD, esta desvalorização da moeda americana retirou-nos em 2020 cerca de 6,10% de rentabilidade.
Desde o primeiro dia, há 10 anos, que consideramos que a comunicação direta e objetiva com os nossos Clientes é importante porque nos dá a oportunidade de explicar a nossa estratégia de investimento, o que fazemos e os resultados que conseguimos, sem que os nossos Clientes tenham que adivinhar ou especular sobre as nossas decisões de alocação de capital. Isto é especialmente importante quando as coisas correm mal ou cometemos erros, o que acontecerá de tempos a tempos, uma vez que pode evitar que os nossos Clientes tomem decisões que os prejudicam e que põem em causa uma estratégia bem estruturada de criar valor a longo prazo. Por isso, não são apenas as cartas trimestrais que escrevemos, o Relatório & Contas anual, mas também as cartas que escrevemos sempre que há eventos que consideramos relevantes e que poderão contribuir para que os Clientes aproveitem as oportunidades que o pessimismo produz. É nestas alturas que os bons negócios se conseguem comprar em saldo. Também sabemos que é nestas alturas que os investidores têm medo e preferem estar em dinheiro. É por isso que investir não é fácil.
Revisitamos nas páginas deste Relatório alguns dos artigos mais relevantes que escrevemos nestes 10 anos para os principais jornais e revistas nacionais. Esta é também a oportunidade para explicar algumas das lições que aprendemos:
A primeira é que a estratégia de investimento em negócios de qualidade excecional funciona. O nosso objetivo é encontrar negócios excecionais a preços razoáveis e fugir dos negócios razoáveis a preços excecionais. Como somos investidores de longo prazo, os primeiros rapidamente ganharão vantagem.
A segunda é que não precisamos de adivinhar o mercado ou estar certos todos os dias.
A terceira é que, quanto maior for a liquidez disponível em carteira, menor será o retorno dos nossos investimentos.
Mais apropriada do que nunca e uma das mais antigas, é a história que se conta na City, em Londres, sobre um homem que queria enriquecer e que rezou ao seu Deus para que pudesse encontrar na rua o jornal com as notícias do ano que vem. O milagre aconteceu e o jornal surgiu aos seus pés com a descrição de todos os eventos do ano seguinte. Apesar disto, o homem não enriqueceu porque o jornal não revelava os preços das ações do ano que vem, apenas as notícias.
Imaginem que, em janeiro de 2020, sabiam exatamente que a pandemia iria atingir todo o mundo e que iria paralisar a economia mundial. O que fariam? Se vendessem tudo e ficassem em dinheiro, iriam perder a recuperação fulgurante que se seguiu à queda mais rápida da história.
Já todos sabem o que vou dizer a seguir. Mesmo que consiga prever o que vai acontecer nos próximos tempos, isso não é o mais importante. O que é essencial é prever como vai reagir a maioria das pessoas. Conseguir fazer estas previsões é impossível. O melhor, portanto, é mantermo-nos investidos.
Na Carta a Clientes do 3.º Trimestre de 2020, escrevemos o seguinte:
"A história, pelo contrário, mostra-nos uma e outra vez que os otimistas triunfaram, conforme a história financeira dos retornos mundiais nos últimos 122 anos demonstra. Porque acham os investidores que desta vez será diferente? A incerteza e a volatilidade a que os investidores de ações têm sido sujeitos este ano é fora do comum em magnitude e frequência. O que muitos experienciaram nos últimos 7 meses é equivalente a um período de 10 ou 20 anos.
David Swensen, gestor há 35 anos do Fundo Endowment da Universidade de Yale nos Estados Unidos, diz que os investidores de taxa fixa devem esperar, e merecem, rendimentos muito baixos. Estar hoje em liquidez, em depósitos, em obrigações e outros títulos de dívida, embora seja uma estratégia menos volátil, não está isenta de risco nem de custos de oportunidade. Os investidores que estejam dispostos a aceitar a volatilidade das ações e que não precisam de estar certos todos os dias quanto à direção que os mercados financeiros tomam, serão recompensados com retornos mais elevados.
A volatilidade é o preço a pagar por melhores retornos a prazo. Não há bela sem senão".
Já todos sabem que o retorno nos ativos de taxa fixa é quase zero e que não acompanha sequer a inflação. Já todos sabem que os mercados acionistas recuperam sempre. Já todos sabem que as famílias mais ricas do mundo investem uma percentagem maior do seu património em ações e que isso contribui para que o fosso na distribuição da riqueza continue a aumentar a nível mundial.
A questão que se coloca é a seguinte:
Por que motivo tantos evitam pagar o preço (aceitar a volatilidade das ações) para ter retornos mais elevados? Porque é que tantas pessoas que estão dispostas a pagar o preço de carros, casas, férias, tentam evitar pagar o preço de bons retornos no investimento?
O preço do sucesso no investimento não é imediatamente óbvio. Não tem uma etiqueta que consigamos consultar e, por isso, quando a "conta" chega não a sentimos com um custo por algo de bom. Parece uma multa por algo de errado que fizemos. A resposta, natural, de alguém que vê a sua fortuna a diminuir a cada dia que passa (ainda que seja apenas no papel) e encara essa queda como uma multa é tentar evitar multas futuras.
Embora pareça trivial, encarar a volatilidade do mercado como um custo e não uma multa é uma parte importante no desenvolvimento da mentalidade que nos permite mantermo-nos no mercado o tempo suficiente para que os ganhos nos investimentos se materializem e avolumem.
Os bilhetes para a Disneylândia custam cerca de 100 euros, mas em troca passamos um dia com os nossos filhos que nunca esqueceremos. Em 2019, cerca de 156 milhões de pessoas acharam que era um preço que valia a pena pagar. Poucos acharam que os 100 euros eram um castigo ou uma multa.
O mesmo se passa no investimento, onde a volatilidade é quase sempre um custo, e não uma multa. Os retornos no mercado não são gratuitos e nunca o serão. Não somos forçados a pagar este preço, assim como não somos obrigados a ir à Disneylândia. Podemos ir ao parque de diversões local onde os bilhetes custam 10 euros ou ficar em casa de graça. Podemo-nos divertir na mesma. Mas, de uma forma geral, temos aquilo que pagamos. O mesmo acontece com os mercados. A volatilidade/incerteza - o preço dos retornos - é o custo de admissão para conseguirmos retornos acima da média dos parques baratos (depósitos e obrigações).
A chave é convencermo-nos de que vale a pena pagar o custo do mercado. Esta é a única forma de lidar com a volatilidade e a incerteza - não apenas tolerá-la, mas tomar consciência de que é um custo de admissão que vale a pena pagar.
Não existe nenhuma garantia. Às vezes chove na Disneylândia. Mas, se encararmos este custo de admissão como uma multa, nunca apreciaremos a magia.
Encontre o preço, pague-o e conte connosco na "viagem".
Com consideração, apresentamos os melhores cumprimentos,
Emília Oliveira Vieira
Chief Executive Officer
Casa de Investimentos
"Trabalhamos para que os nossos Clientes sejam Clientes antigos".
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Relatório & Contas 2020 completo onde foi originalmente publicada esta mensagem de abertura: RelatorioContas_2020_CdI
Créditos foto: Kon Karampelas via Unsplash
Carta Anual a Clientes 2021 (excertos)"Time IN the Market"
"Desinformação não significa informação falsa. Significa informação enganadora - deslocada, irrelevante, fragmentada ou superficial - informação que cria a ilusão de saber algo, mas que de facto nos afasta do conhecimento"
Neil Postman
"As pessoas têm excesso de confiança nos seus julgamentos. Cometem erros porque geralmente são excessivamente otimistas quando fazem planos e acreditam piamente que esses planos resultarão"
Daniel Kahneman
"Não me digas o que pensas, diz-me o que tens no teu portfólio"
Nassim Taleb
Este foi um ano extraordinário para a Casa de Investimentos e para os seus colaboradores. Foi com muito gosto e sobretudo com enorme sentido de responsabilidade que demos as Boas-Vindas a mais de 2000 novos Clientes.
O lançamento do Fundo PPR Casa Global Value permite que qualquer investidor possa ter acesso a uma filosofia de valor a partir de 1000 euros. Cabe-nos agora demonstrar que esta deve ser a conta para acumular riqueza a longo prazo. Com horizonte temporal que nos permite investir com risco limitado na classe de ativos com melhores rentabilidades na história financeira - as ações - e o facto de ser Fundo PPR garantir um conjunto de vantagens fiscais que protege e potencia a acumulação de riqueza. Este é o produto financeiro com maiores vantagens fiscais associadas.
Gerimos o dinheiro dos nossos Clientes como gostávamos que fizessem com o nosso se os lugares estivessem invertidos. Trabalhamos para que a prazo sejamos o maior parceiro financeiro dos nossos Clientes e, para o conseguirmos, promovemos um relacionamento justo, comunicamos com clareza e dedicamos recursos consideráveis à divulgação de conhecimento. É nossa convicção que, entendendo o que fazemos e como tomamos decisões de investimento, se construirá uma relação de confiança e nos entreguem uma fatia maior do esforço do Vosso trabalho e poupança.
Tudo faremos para que se mantenham connosco, para que se sintam seguros e para que esta seja uma parceria rentável a longo prazo. Contamos convosco para criarmos uma legião de investidores em valor.
De uma forma geral, 2021 foi um ano de forte crescimento económico, com os Estados Unidos a registar neste século a maior margem de crescimento face à economia mundial. A taxa de desemprego atingiu o mínimo dos últimos 52 anos. Graças ao pagamento de estímulos, taxas de juro muito baixas e ao facto de não haver alternativas de investimento, o dinheiro foi chegando ao mercado de ações, de matérias-primas, e mesmo ao mercado de taxa fixa, comprando de forma quase indiscriminada o que era popular e estava a subir. De facto, com as poupanças das pessoas a serem "confiscadas" gradualmente pela inflação, não admira que o investimento em ações pelo americano médio tenha atingido máximos históricos.
De repente, eis que a inflação - tema que animou os mercados nos primeiros meses do ano passado - regressou à ordem do dia fixando máximos dos últimos 30 anos nos Estados Unidos. A questão é se estes números são temporários e resultado das disrupções nas cadeias de fornecimento ou se, pelo contrário, é permanente. Sobre o futuro da taxa de inflação, há bons argumentos dos dois lados do debate. Os que acreditam que a inflação é permanente argumentam que, 1) a globalização, grande motor de deflação das últimas décadas, tem sofrido reveses com os países a serem mais protecionistas; 2) a tendência de queda nos salários que observamos há décadas inverteu-se e 3) a Reserva Federal americana sentir-se-á forçada em manter as taxas baixas ajudando a que a dívida do Estado seja mais fácil de pagar. Do outro lado do debate estão os que defendem que: 1) os programas de estímulos económicos estão a acabar, 2) o envelhecimento da população nas economias desenvolvidas e 3) os níveis de endividamento das economias são forças deflacionárias.
Os avanços tecnológicos, que permitiram ganhos de produtividade sem precedentes, contribuíram para acelerar as pressões deflacionistas nas últimas décadas. O que fica claro desta pandemia, é que os avanços tecnológicos estão a ser massivamente adotados. O estratega David Rosenberg diz que "apostar na inflação é apostar contra o engenho humano".
Em relação às taxas de juro, o mercado começa a descontar várias subidas ao longo deste ano nos Estados Unidos. Os mercados apreçam já pelo menos quatro movimentos de subida que, a ocorrerem, levam as taxas de curto prazo de valores próximos do zero para 1,25% até ao final de 2022. Na Europa, a taxa de inflação atingiu os 5%. Contudo, excluindo as componentes de energia e alimentação a subida de preços foi de apenas 2,6%. A economia europeia está inclusivamente com uma maior folga já que só em 2022 é que vai recuperar os níveis de produto de 2019. Por isso, a premência de subidas de taxas está longe do que observamos na economia norte-americana, até porque o próprio BCE reviu a sua orientação estratégica no ano passado, passando a tolerar períodos transitórios de inflação mais elevada.
O impacto que uma subida das taxas de juro pode ter nos mercados acionistas preocupa sempre os investidores uma vez que estas atuam como gravidade para as ações, penalizando as empresas com múltiplos muito elevados até porque grande parte do seu valor está no seu desempenho futuro. Contudo, os níveis a que as taxas de juro se encontram não devem ser uma preocupação para quem investe em empresas rentáveis, com balanços fortes e a transacionar a múltiplos de mercado sensatos. As empresas mais penalizadas pelas subidas dos juros são as mais alavancadas: empresas com elevados níveis de endividamento e que vão ver essa dívida ter um custo mais alto, podendo mesmo em alguns casos colocar a sua sobrevivência em causa. Ora, as empresas que temos em carteira têm balanços fortes, grande parte delas tem mesmo saldos de caixa positivos (têm mais dinheiro em caixa do que dívida), o que significa que poderão obter algum rendimento na aplicação dessa liquidez que hoje não tem qualquer retorno.
É crucial reconhecer que o mercado acionista não é nem realidade nem verdade, mas antes o reflexo do julgamento coletivo da "multidão" com uma grande dose de irracionalidade e emoção à mistura. Para tornar isto ainda pior, o curto prazo é o máximo denominador comum. A título de exemplo, a cotação de mercado da TESLA há algumas semanas transformou-a na sexta empresa mais valiosa do mundo apesar da sua história quase sem lucros. Contudo, para muitos investidores, este facto não é relevante. Apesar de parecer que os preços das ações se podem manter irracionais indefinidamente, os desenvolvimentos da vida real das empresas, com frequência, servem de mecanismos de reversão para o correspondente valor que geram.
Muitos dos grandes excessos de 2020 e 2021 estão já com correções muito substanciais. Muitas empresas, há meses tão "queridas" pelos investidores, viram a sua cotação cair 70 a 80% nas últimas semanas. Cerca de 42% das empresas do Nasdaq já corrigiram 50% ou mais dos máximos recentes.
Os últimos meses recordam-nos a frase "déjà vu all over again"
Porque é que os investidores tomam decisões tão más e o que podemos fazer sobre isso? Os vieses comportamentais a que todos estamos sujeitos levam-nos, previsivelmente, a comportamentos irracionais. No investimento, provas deste comportamento prejudicial podem ser encontradas nos estudos anuais da Dalbar - que medem os retornos reais conseguidos pelos investidores e não pelos índices passivos, tal como o S&P500. Estes estudos capturam o grau com que os investidores tentam adivinhar o mercado com as suas entradas e saídas. Os resultados não são agradáveis: entre 1990 e 2010 o S&P gerou retornos anuais médios de pouco mais de 8%. Os gestores ativos (gestores de fundos de investimentos) subtraíram a este retorno entre 1 a 2% ao ano em custos de transação e em comissões de gestão. Daqui poderíamos concluir que os investidores teriam conseguido neste período retornos anuais médios entre 6 e 7%. Infelizmente não foi o caso. Os retornos que os investidores conseguiram nesses 20 anos foram de apenas 1,9% ao ano.
Ou seja, ao contrário do que a maioria é tentada a concluir, a principal razão para que os investidores tenham retornos muito inferiores aos índices não deve ser (apenas) atribuída aos gestores de fundos, mas sobretudo ao facto de comprarem ou venderem nas piores alturas e estarem constantemente à procura do fundo ou da estratégia que permitirá ganhar sempre os maiores retornos. Tal como o condutor apressado numa estrada com meia dúzia faixas de rodagem está sempre a tentar mudar para a faixa onde o trânsito está a fluir mais rapidamente (conduzindo com mais perigo e maior consumo de combustível), a maioria dos investidores não suporta ver ao lado alguém que esteja a ganhar mais e não participar na festa. Até porque, sofrendo do viés de excesso de otimismo, acreditam que tal como a Cinderela, conseguirão sair da festa antes da meia noite.
Entre os principais erros que os investidores cometem destaca-se o market timing que se resume à ideia de que há momentos para estar investido e há momentos para estar completamente fora de mercado. É a tentativa de inúmeros investidores de "proteger" o seu dinheiro saindo de mercado quando pressentem uma correção ou aumentar a sua exposição a ações mais arriscadas quando pressentem a sua recuperação.
Antes de mais, deixem-me esclarecer isto sem margem para dúvidas: o market timing não funciona e apesar de todos já o termos tentado sem sucesso, continua a ser praticado em massa por três grupos de pessoas:
"Há três tipos de pessoas que fazem previsões no mercado. Aquelas que não sabem, aquelas que não sabem que não sabem e aquelas que sabem muito bem que não sabem, mas são muito bem pagas para fingir que sabem"
Burton Malkiel, autor do livro "A Random Walk Down Wall Street".
Já alguma vez disse ou pensou alguma coisa do género:
- "Eu tenho dinheiro de lado, mas estou à espera que as coisas acalmem e não haja tanta incerteza",
- "Recebi um bónus, mas vou esperar por um recuo de mercado",
- "O mercado subiu muito, vou vender e volto a investir daqui a uns meses",
- "Vou investir depois de, por exemplo, passarem as eleições, ver se a inflação vem para ficar ou não, se os bancos centrais vão subir taxas, no próximo ano quando tudo estiver mais calmo e se souber o que vai acontecer com a Rússia/Ucrânia, etc."
Tudo isto é market timing. Não funciona.
Charlie Munger, vice chairman da Berkshire Hathaway e sócio de longa data de Warren Buffett, refere que a venda com o propósito de fazer market timing, dá ao investidor duas formas distintas de estar errado: o declínio na cotação pode ou não acontecer e caso aconteça, o investidor precisa ainda de perceber quando é que será a altura certa para voltar ao mercado. Adicionalmente poderíamos acrescentar uma terceira forma de estar errado já que o investidor terá ainda que decidir o que irá fazer com o resultado da venda enquanto não volta ao mercado.
A FUTILIDADE DO MARKET TIMING
Um dos melhores investidores de sempre, Peter Lynch, que geriu o fundo Magellan da Fidelity entre 1977 e 1990, refere diversas vezes um estudo realizado internamente sobre a performance do fundo e a performance que os seus investidores conseguiram efetivamente obter. Durante os seus 13 anos como gestor, o fundo obteve um retorno anual de 29%, tendo sido um dos fundos a obter a maior rentabilidade anual de sempre. No entanto, segundo Peter Lynch, o investidor médio do fundo perdeu dinheiro com o seu investimento, apesar da rentabilidade alcançada pelo gestor.
O fundo Magellan obteve naquele período anos de rentabilidade muito elevada (por exemplo em 1980 obteve um retorno de 70%), tendo, no entanto, nalguns anos, ficado significativamente aquém da performance do mercado. Provavelmente, muitos investidores, ao observarem o retorno de 70% em 1980, decidiram perseguir os retornos (isto é, entraram no fundo a posteriori), observando um ano depois uma performance negativa em relação ao mercado. Muitos destes investidores terão vendido as suas posições para tentar encontrar um novo fundo ganhador, assumindo desta forma as suas perdas neste fundo.
As decisões dos investidores ao longo dos 13 anos, de sair ou entrar no fundo, levaram à destruição, em média, de pelo menos 29% de retorno anual. Este é um facto incrível! Tendo este conhecimento, os investidores insistem nos mesmos comportamentos e ignoram que os resultados, inevitavelmente, serão os mesmos.
De acordo com o relatório de 2021 da Dalbar, no período entre janeiro de 2001 e dezembro de 2020, o investidor médio em fundos de investimento obteve um retorno anual no seu portfólio de ações de 5,96% o que compara com um retorno anual do S&P 500 de 7,43% (isto é, cerca de 1,47% ao ano de diferencial). O diferencial entre o retorno do mercado (S&P 500) e o retorno efetivamente alcançado pelos investidores individuais, depende significativamente dos momentos analisados. O gráfico seguinte ilustra esta dispersão ao longo dos últimos 20 anos.
Diferencial de retorno investidor médio vs. S&P 500 (%)
Fonte: Dalbar, "Quantitative Analysis of Investor Behavior: Variable Annuities, 2020"
Observamos que os 3 anos, onde o diferencial de retorno foi maior, coincidiu com o período seguinte à crise financeira. Os investidores, em momentos de recessão ou bear market, tendem a tomar a decisão emotiva de sair do mercado, perdendo os períodos de recuperação e, por isso, de maiores retornos.
Parece inegável que o contributo das decisões de um investidor de tentar adivinhar o momento de mercado para permanecer investido, saindo ou entrando de um fundo de investimento (seja um fundo ativamente gerido ou um fundo passivo que replique o mercado ou um segmento de mercado) é, em média, negativo. A melhor e mais difícil decisão para um investidor parece ser a de permanecer investido e não fazer nada.
EFEITO DE PERDER OS MELHORES DIAS
Um comportamento muito comum é a decisão de vender depois de quedas do mercado na tentativa de "estancar" as perdas. Esta é normalmente uma reação emotiva e que, segundo o prémio Nobel da economia, Daniel Kahneman - autor dos livros "Pensar Rápido e Devagar" e do mais recente, "Noise", é explicada por um conjunto de vieses que nos afetam a todos sem exceção. Estar alerta para estes vieses e contrariá-los é a chave para melhorarmos o nosso processo de decisão.
Anualmente, o banco americano JPMorgan publica um estudo onde descreve o que seria o retorno anual de um investidor nos últimos 10 anos caso perca os melhores dias do mercado. Estes dados são relevantes, dado que normalmente, os melhores dias do mercado ocorrem tipicamente após os piores dias (onde há uma maior probabilidade de um investidor "emotivo" tomar a decisão de sair do mercado de ações). Sete dos dez melhores dias do mercado (entre 2 de janeiro de 2001 e 31 de dezembro de 2020) ocorreram nas duas semanas seguintes aos dez piores dias de mercado.
Performance de um investimento de 10,000 USD entre Jan-2001 e Dez-2020
Fonte: JPMorgan, 2021 Retirement Guide
As diferenças de performance para um investidor que permaneça no mercado em comparação com um investidor que perca os 10 melhores dias são muito expressivas. O investidor que permaneceu investido no S&P 500 entre 2001 e 2020 conseguiu um retorno de 7,5% ao ano, o que compara com uma performance de 3,4% ao ano para o investidor que decidiu vender o portfólio em diferentes momentos de tempo e perdeu as 10 maiores subidas.
Para além do diferencial de retorno existem outras considerações importantes que seria necessário fazer nomeadamente, custos de transação de compra e venda da carteira de ações e tributação sobre mais-valias, que na prática aumentariam ainda mais o diferencial de retorno das duas situações comparadas acima. Este exercício ilustra o impacto que a decisão de permanecer fora do mercado em alguns momentos de tempo pode ter na rentabilidade de longo prazo dos investidores. O market timer não só precisa de adivinhar com precisão quando sair do mercado, como também precisa de adivinhar com grande precisão sobre quando voltar a investir. Disto mesmo damos conta com maior profundidade no Relatório & Contas deste ano e que ficará disponível até 30 de abril no site da Casa de Investimentos.
O PAPEL DO GESTOR DE ATIVOS
David Swensen foi Chief Investment Officer do Endowment da Universidade de Yale nos Estados Unidos desde 1985 até à sua morte, em maio do ano passado (a quem prestámos homenagem na nossa Newsletter O Investidor Inteligente|maio 2021, sob o título In Memoriam: David F. Swensen). De 1,3 biliões com que iniciou o endowment em 1985, chegou a 31,2 biliões. Para além de ter contribuído para a acumulação de muita riqueza, contribuiu para que aquela universidade pudesse dispor anualmente de parte dela através de um vasto orçamento para investir e para potenciar o conhecimento e o seu alcance a nível mundial. Neste período, revolucionou o investimento institucional de endowments a que se veio a chamar o Modelo de Yale ou Modelo de Endowment. Num excerto de um dos seus livros excecionais, "Unconventional Success", refere:
"Tentar adivinhar o momento para estar dentro ou fora de mercado - estratégia conhecida por market timing - representa uma aposta de curto prazo contra uma política de alocação de ativos bem estruturada e pensada a longo prazo"
Esta citação remete-nos para o papel que nós, Casa de Investimentos, temos na proteção e adição de valor aos nossos Clientes. O propósito do nosso trabalho é salvaguardar e fazer crescer a riqueza dos nossos Clientes, conquistar ganhos de poder de compra a longo prazo e procurar fazê-lo com risco limitado. O nosso objetivo é contribuir para que acumulem riqueza que lhes permita concretizar propósitos de vida, sonhos de longa data ou simplesmente deixar um legado para a geração seguinte. Para o fazermos com responsabilidade e orientação a longo prazo e de forma estruturada:
1º delineamos uma estratégia consistente de alocação de ativos que significa definir por classes de ativos que percentagem do património total alocar a cada uma: de entre ações/participações de empresas (cotadas ou não), obrigações (de governos ou de empresas), imobiliário (onde a maioria, através da posse da sua própria casa tem uma parte mais substancial do que consegue acumular ao longo da vida) e disponibilidades para acomodar um contratempo ou levar a cabo o cumprimento de um objetivo de curto ou médio prazo.
Outros ativos, como arte, ouro, podem ser considerados, dependendo das preferências/conforto individual. Apesar de apoiarmos os Clientes na melhor definição desta alocação (em linha com o que é feito por algumas das famílias mais ricas do mundo) a decisão é tomada pelo investidor considerando as suas preferências pessoais e horizontes temporais para as diferentes classes.
A maior parte dos investidores sucumbe logo neste ponto, não conseguindo manter uma estratégia por classes de ativos e frequentemente alterando a percentagem alocada a cada classe.
2º definimos a filosofia e estratégia de investimento e, não menos importante, os processos que devem assegurar o cumprimento da mesma. Definida a percentagem a alocar à Classe das ações e obrigações, é nossa função implementar uma filosofia de valor cujo foco no nosso caso é a qualidade absoluta das empresas em que investimos. Procuramos negócios de qualidade excecional que componham os retornos dos acionistas a taxas elevadas e acima da média.
Estes negócios devem ser suportados por balanços fortes, capacidade de geração de cash-flow elevado e com boas oportunidades de crescimento no mercado global. A orientação para qualidade e a disciplina para comprar a desconto face à estimativa de valor intrínseco é crucial para reduzirmos o risco do investimento e obter taxas de rentabilidade atrativas para os Clientes. De importância crucial neste processo são as equipas de gestão das empresas em que investimos, que procuramos que tenham provas dadas a alocar capital, focadas na criação de valor a longo prazo e cuja remuneração esteja alinhada com os interesses dos acionistas.
Conscientes que existe apenas um número limitado de negócios capazes de cumprir com estes nossos filtros de seleção de investimentos, procuramos concentrar o nosso capital e dos nossos Clientes em 20 a 30 negócios de qualidade excecional e que são líderes no mercado global. O conhecimento da teoria financeira e de imensos estudos demonstram que este número é suficiente para uma diversificação adequada.
A maioria dos investidores tem muita dificuldade em ver alguém a ganhar mais dinheiro do que ele(a) própria e não resiste à tentação de seguir o "cardume" para ver lucros mais rápidos, ainda que não perceba o que os origina.
3º assistimos os nossos Clientes na racionalização da tomada de decisões, nomeadamente evitando e minimizando erros de movimentos indesejados como tentativas de adivinhar os momentos para permanecer dentro ou fora do mercado (market timing) ou tentando adivinhar os melhores momentos para reforçarem os valores que têm connosco. Assumimos a responsabilidade de lhes dar conta do que pensamos em momentos críticos como o que hoje vivemos com o conflito Rússia/Ucrânia ou com o Covid 19 em março de 2020.
Assumimos desde a fundação da CASA o compromisso de providenciar aos nossos clientes, atuais e prospetivos, informação transparente com qualidade informativa e educativa, que permita que façam também um processo de acumulação de conhecimento que contribua para decidirem melhor e protegerem o seu património.
Embora nenhum de nós, na Casa de Investimentos, acredite que consegue prever o mercado, estamos confiantes que conseguimos avaliar com sucesso negócios individuais, o que nos permite gerar retornos absolutos atrativos através da procura de diferenças entre preço e valor, um investimento de cada vez.
Ao avaliarmos negócios individualmente, queremos saber:
- Quais são as perspetivas para o negócio?
- Se a equipa de gestão é capaz e quais são as suas prioridades?
- Quais são os maiores riscos para o sucesso do investimento?
Procuramos filtrar, entre numerosas oportunidades potenciais, e identificar aquelas com os melhores retornos ajustados ao risco. Não tentamos comprar o que está na moda no momento (porque está a subir), à espera que continuem a subir. Pelo contrário, mantemo-nos ancorados à avaliação e focados nos fundamentais económicos do negócio, tentando fazer investimentos que conseguirão bons retornos num vasto espectro de futuros cenários económicos e de mercado.
O nosso processo de investimento leva-nos à recolha de toda a informação disponível - incluindo cada vez mais dados que novas tecnologias colocam à nossa disposição e serviços independentes de análises setoriais e de empresas que contratamos para termos a melhor informação possível, reunir factos e integrá-los nos nossos processos de decisão.
Construímos modelos de avaliação, falamos com especialistas, analisamos research independente e de Wall Street e debatemos as nossas avaliações para chegarmos à melhor decisão possível. O objetivo da aplicação destes princípios é evitar que os vieses comportamentais e o ruído afetem a tomada de decisão.
Um processo de investimento robusto beneficia dos erros cometidos no passado, uma consciência sempre presente das muitas coisas que podem correr mal em qualquer investimento e da procura constante de factos. Capacidade de julgamento imparcial e consistência intelectual é fundamental.
A consistência no processo de investimento implica que com os mesmos factos cheguemos às mesmas conclusões quer seja janeiro ou agosto ou, quer tenhamos rentabilidade positiva ou negativa.
Procuramos fazer crescer o capital dos clientes de forma segura, ao longo dos próximos três a cinco anos, não na próxima semana ou trimestre. A nossa experiência é que as oportunidades migram regularmente entre mercados, indústrias e geografias, à medida que o capital circula e inflaciona os preços de alguns investimentos enquanto que deixa outros para trás.
Para navegar esta evolução natural dos mercados, utilizamos uma abordagem de investimento que é fixa nos seus princípios gerais, mas flexível na sua implementação. Dada a nossa abordagem de valor centrada na qualidade dos negócios, não precisamos que o mercado no seu todo se desvalorize - apenas um número limitado de oportunidades de tempos a tempos.
Enquanto a qualidade do negócio se mantiver intacta, os gestores continuarem a cumprir e manter a sua reputação e estes negócios não cotarem preços extravagantes, é natural que nos mantenhamos investidos durante tempo considerável. Não acreditamos em market timing nem estratégias de trading de curto prazo.
Quando encontramos um investimento com o potencial de crescer ao longo do tempo e uma perceção de risco razoável, uma das coisas mais difíceis de fazer é ter paciência e manter a posição. Naturalmente, seremos sempre testados porque inevitavelmente haverão notícias negativas, opiniões contrárias e factos extraordinários que nos põe à prova.
Facilmente poderíamos ser afetados por uma notícia negativa, um trimestre de resultados menos positivo, ou porque uma ideia alternativa nos parece mais emocionante. É nestes momentos mais difíceis que os processos de investimento robustos e tomadas de decisões bem estruturadas são fundamentais e nos permitem proteger e potenciar a riqueza.
"Como tantas coisas no investimento, manter-se investido é mais fácil de dizer do que fazer. Demasiadas pessoas confundem atividade com adição de valor"
Howard Marks
Um exemplo prático ilustra que existem ao longo do tempo múltiplas situações onde a entrada ou saída num título parecem a melhor decisão:
- Consideremos que um investidor teria comprado ações da Microsoft no final de 1997 (a 16,2 USD). Dois anos depois o seu investimento teria multiplicado por quase 4 vezes. Uma boa parte dos investidores teriam decidido que os ganhos já eram bons e por isso iriam vender para fazer a "tomada dos lucros",
- No espaço de um ano, no final de 2000, com a crise das dotcom, a cotação caiu 62% voltando para níveis um pouco acima do final de 1997 (21,7 USD). Teria um investidor conseguido permanecer investido e ver os seus lucros desaparecerem?
- Nos 12 anos seguintes, a Microsoft teve uma performance fraca com o título a cotar 26,7 USD no final de 2012, tendo resultado numa rentabilidade anual de 4.1% (ainda assim superior ao índice S&P 500 de 2.6%). Um investidor que tivesse decidido sair do título provavelmente consideraria que tinha tomado uma boa decisão enquanto que os investidores que permaneceram investidos na Microsoft questionariam se não estariam a cometer um erro,
- Desde então, a cotação da Microsoft multiplicou por quase 12 vezes, estando hoje a transacionar acima de 300 USD.
- Um investidor que tivesse comprado Microsoft no final de 1997 e tivesse permanecido investido estaria a ganhar anualmente um retorno de 15,2%, ou seja cerca de 6,6% acima do índice S&P500. Posto de outra forma, um investidor que tivesse adquirido 10.000 USD em ações da Microsoft no final de 1997, hoje teria um valor equivalente de cerca de 303 mil dólares enquanto que um investidor que tivesse investido no S&P 500 teria cerca de 74 mil dólares (24% do valor em Microsoft).
Há um paralelismo óbvio entre este exemplo e a própria decisão de um cliente em permanecer investido com a CASA em detrimento de outras alternativas de investimento (um fundo de investimento passivo, uma ação recomendada por um amigo ou ainda uma oportunidade de investimento imobiliário, por exemplo). A decisão racional terá necessariamente que ponderar não só a rentabilidade passada, mas também o nível de conforto com a estratégia e a rentabilidade potencial a prazo.
O "nível de conforto com a estratégia" é a nosso ver uma mais-valia para os nossos clientes, sendo na verdade o ativo intangível mais valioso que acreditamos oferecer. Este ativo, que reflete um maior conhecimento por parte dos nossos clientes, permite evitar cair nas "armadilhas emocionais" do mercado e proteger desta forma os patrimónios individuais.
"A melhor altura para plantar uma árvore foi há 20 anos. A segunda melhor altura é agora."
Provérbio chinês.
O mais importante no investimento - para ter retornos consistentes com risco limitado - é o tempo que estamos investidos (time in the market). Já que adivinhar estar dentro ou fora de mercado (market timing) não é possível - e nem sequer é necessário - para ter sucesso. Vejamos o exemplo:
Valor de um investimento de 10.000EUR começando com 20, 30 e 40 anos
Este gráfico ilustra o poder dos retornos compostos e como, a partir de alguns anos, ganha momentum. O diferencial de valor acumulado no final do período (para ilustração, selecionamos os 70 anos de idade como final do investimento) é abismal para diferentes idades de realização do investimento:
- Um investidor que tenha aplicado 10 mil euros aos 20 anos com rendimento líquido anual de 9,8% (idêntico ao retorno do S&P entre 1927 e 2019), teria ao fim de 50 anos EUR1.071.808.
- Um investidor mais tardio, que faça o investimento aos 30 anos, conseguiria alcançar cerca de 421 mil euros com a idade de 70 anos (cerca de 39% do valor do investidor mais precoce).
- Um investidor que decida investir apenas 40 anos, conseguirá apenas alcançar cerca de 165 mil euros, ou seja, 15% do valor do investidor que tenha tomada a decisão de investir mais cedo. Iniciar o investimento 20 anos mais cedo permite atingir um património final quase 6 vezes superior.
O horizonte temporal permite, não só beneficiar plenamente deste fenómeno extraordinário que é o rendimento composto, mas faz também com que o momento em que se investe se torne menos relevante.
O gráfico seguinte mostra o rendimento anual (em termos reais, ou seja, levando em conta a inflação) de um investimento no mercado de ações (S&P500) e em obrigações de curto prazo. Conforme é evidente, existem anos com rentabilidades muito positivas e anos com rentabilidades muito negativas.
Se o horizonte temporal é curto, o investidor enfrenta uma "lotaria" e tanto poderá ter um retorno de 30% no espaço de um ano como estar a perder 20% ou 30% ao final de doze meses.
Retornos reais para períodos de 1 ano (1927-2020)
Salientamos que os investimentos em obrigações têm entre 1927 e 2020 muitos anos com rendimentos reais negativos (o que significa que a taxa de juro paga é inferior à taxa de inflação). Tal como hoje acontece, a taxa de juro obtida em obrigações de curto prazo ou em depósitos a prazo é inferior à inflação e faz com que os investidores percam poder de compra. Este é uma espécie de "imposto" escondido que, na nossa opinião, os investidores não precisam de pagar.
Retomando a análise do horizonte temporal, o caso muda radicalmente de figura à medida que se for alargando o horizonte temporal e período de detenção do investimento, conforme o gráfico seguinte:
Retornos reais para períodos de 20 anos (1927-2020)
Ao aumentar o horizonte temporal, o investidor reduz a importância de acertar no momento de mercado para investir. Na verdade, um investidor que ao longo dos últimos 93 anos tenha decidido investir no mercado de ações norte-americano (S&P500), desde que tenha permanecido investido por um horizonte temporal igual ou superior a 20 anos, terá tido sempre um retorno anual real positivo (e significativamente superior à alternativa de permanecer investido em títulos de dívida pública norte-americana, que, como podemos observar mantém retornos negativos neste período).
Uma conclusão poderosa e que deveria ser retida por qualquer investidor é que o horizonte temporal é o maior determinante da rentabilidade futura de um investimento. As tentativas de acertar no momento de mercado não só são fúteis e condenadas ao insucesso, como se tornam quase irrelevantes à medida que o horizonte temporal do investimento vai aumentando.
RESULTADOS DAS EMPRESAS APRESENTADOS NO 4º TRIMESTRE 2021
A época de resultados do terceiro trimestre - divulgados entre outubro e dezembro - continuou a revelar a força dos negócios que compõem a carteira em que estamos investidos. A maioria das empresas apresentou crescimento face ao trimestre homólogo de 2019 e, ao contrário dos trimestres anteriores, não tivemos nenhuma empresa a apresentar prejuízos.
Termino esta longa carta com um sentido agradecimento e um pedido. Muito obrigada a todos Vós pela confiança e pelas recomendações que fazem da nossa CASA. O que Vos pedimos é que continuem a recomendar a CASA e ajudar-nos a criar a tal legião de investidores em valor de que venho a falar há 10 anos. Já somos muitos, mas, ainda não somos uma legião.
O que pedimos permitirá criar um círculo virtuoso. À medida que consigamos ganhos de escala, procuraremos devolver-vos uma parte.
Muito obrigada.
Com elevada estima, enviamos os melhores cumprimentos,
Emília O. Vieira
Chief Executive Officer
"Trabalhamos para que os nossos Clientes sejam Clientes antigos"
Post Scriptum: em resposta a Nassim Taleb, ao longo desta carta dizemos o que pensamos e o que fazemos. Aqui, dizemos e investimos com os nossos Clientes, nos mesmos negócios, na mesma proporção. Toda a Equipa da CASA investe no Fundo PPR Casa Global Value.
Artigo publicado originalmente na Simple - plataforma internacional de colaboração e produção de conhecimento orientada às necessidades de family offices e famílias empresariais - a 29 de janeiro de 2021.
Para os family offices e famílias empresariais que procurem proteger e fazer crescer o património familiar, é primordial uma abordagem à gestão do mesmo estruturada em horizontes temporais. Para os que tenham a seu cargo as decisões financeiras, estas projeções temporais são possivelmente a estratégia mais sensata para preservar, fazer crescer e transferir património em contexto familiar.
Debruçamo-nos aqui sobre a forma como pinhões, pinheiros e carvalhos podem ser uma boa metáfora de como salvaguardar riqueza para futuras gerações.
Num relatório de 2018, a UBS apresentou os contornos de uma abordagem à gestão de património movida por propósito, através dos 3 Ls: Liquidez, Longevidade e Legado. Na sua essência, a estratégia 3L é um mapa de instruções para as famílias que queiram compreender como melhor alocar o seu capital para atingirem os seus objetivos. Mas como poderemos transformar estes termos financeiros em algo que inspire a geração seguinte a tomar as rédeas deste futuro?
A resposta poderá passar pelo seu enquadramento num paradigma de crescimento e legado, pedindo emprestadas à natureza algumas metáforas. Chamamos PPO a esta abordagem (do inglês "Pine nuts, Pine trees, and Oak trees") - colher pinhões e plantar pinheiros e carvalhos. Os pinhões são a reserva nutricional (poupanças) para as necessidades imediatas e de curto prazo. Pinheiros são o que plantamos (investimos) com a expetativa de obtermos um fluxo de rendimento durante a nossa vida. Finalmente, carvalhos são o que plantamos (investimos) para a posteridade, para benefício de filhos, netos, gerações seguintes e a sociedade em geral.
Desperta para (e em harmonia com) o balanço financeiro e os objetivos de vida da família, a abordagem PPO inverte a típica jornada de decisão financeira. O mix ideal de classes de ativos e produtos de investimento de uma família é, muitas vezes, uma consequência inescapável e óbvia das suas escolhas quanto a estilo de vida, tranquilidade e legado pretendidos em diferentes horizontes temporais. Isto pode ser contraintuitivo e não convencional, mas revela-se quase sempre acertado.
O mapa PPO
O seu futuro começa amanhã e pode levá-lo (e a cada um dos seus) tão longe quanto os 100 anos de vida ou mais. Quer seja um empreendedor bem-sucedido da geração millennial ou já esteja a ponderar reformar-se de uma posição executiva no seu negócio familiar e explorar outros caminhos de felicidade, uma abordagem PPO pode permitir-lhe tomar certas decisões sábias agora e delinear um trajeto para um futuro mais luminoso. Em última análise, tudo se resume a viver uma vida com propósito, nos seus próprios termos e fazer com que cada dia conte para alcançar aquilo que é mais importante para si e para a sua família. Abaixo elencamos sete passos e princípios chave a seguir numa estratégia PPO.
- Identifique os ativos e passivos tangíveis e intangíveis da família e os recursos disponíveis para os períodos pré e pós-reforma. Tome nota dos aspetos mais importantes desse seu balanço financeiro familiar, de forma a perceber como podem articular-se entre si ao longo dos ciclos de vida e de mercado.
- Considere exaustivamente as metas e objetivos financeiros da sua família ao longo da vida. Seja ambicioso e preocupado com cada pessoa - não se contenha. Se o dinheiro não fosse problema, como quereria que fosse a sua vida e a deles? Consegue identificar as necessidades e os desejos? Se o inesperado bater à porta - como acontece com frequência - vai estar preparado?
- Organize as suas finanças pessoais em três dimensões chave - pinhões, pinheiros e carvalhos. Distribua os seus ativos entre elas e (re)aloque-os com confiança quando necessário. Poderá então reequilibrar essas três estratégias em função do seu propósito, caprichos do mercado e circunstâncias.
- Otimize a sua carteira, alinhando oportunamente os seus investimentos e decisões de alocação com as intenções da família e a sua potencialmente maior capacidade para lidar com a incerteza.
- Assegure-se de que constrói um plano dinâmico e flexível o suficiente para aguentar tanto o risco, como o retorno de longo prazo, e que possa suportar os gastos da família também durante períodos de volatilidade e perante necessidades imprevisíveis.
- Esteja consciente do fator impostos desde o início.
- Seja disciplinado e evite de forma consciente vieses emocionais que possam provocar decisões imprudentes.
Este plano será a tela desenhada por si a que irá recorrer para proteger e fazer crescer o seu património no longo prazo e para as gerações seguintes. Para começar, considere todos os seus objetivos financeiros, divida-os em três grupos e crie, deliberadamente, uma estratégia específica de investimento para cada um.
Pinhões - Alimentar os gastos imediatos e de curto prazo
A subestratégia pinhões lida com o financiamento das despesas e regularização das dívidas durante os dois a cinco anos mais próximos, depois de acautelar uma margem para o inesperado. Dado o propósito de curto prazo, esta fatia da sua estratégia financeira deverá assentar em fluxos recorrentes de rendimento, tais como os de trabalho e rendas de imóveis. Estes fluxos devem ser considerados como ativos estáveis e de grande liquidez - aqueles que é expectável manterem o seu preço independentemente de variações de mercado e muito fácil e rapidamente convertíveis num instrumento de pagamento. Podemos estar a falar de depósitos, contas poupança, instrumentos de rendimento fixo excecionais como os de dívida soberana ou de empresas de muito bom risco e apólices de seguro com recebimentos regulares estipulados.
Pense neles como sendo o fruto mais fácil de apanhar. Saber que permanecem disponíveis mesmo que surja algum contratempo deverá trazer-lhe tranquilidade e reforçar a sua confiança em deter carteiras com maior volatilidade. Isto evitará que tome decisões de investimento prejudiciais - como desinvestir à pressa em ativos que comprou para o longo prazo e ainda não atingiram a devida valorização.
Pinheiros - Plantar os rebentos da prosperidade de toda uma vida
A subestratégia pinheiros deverá ter uma orientação de crescimento e ser configurada de forma a ir ao encontro das metas financeiras da família durante o resto da sua vida. Permite acompanhar potenciais aumentos de capital no negócio familiar, de forma a manter o seu controlo do mesmo sob a asa da família e garantir a sua independência estratégica. Também serve para manter e melhorar o bem-estar da família, em aspetos como cuidados de saúde no longo prazo, residência principal, pagamento de hipoteca, segunda moradia, seguro de incapacidade e educação avançada. Assim como para suportar necessidades pós-reforma que vão além das pensões ou outros veículos de poupança reforma.
Tipicamente isto traduz-se numa carteira de investimentos bem diversificada com exposição significativa a ações negociadas em bolsa - a classe de ativos com o melhor histórico de retornos no longo prazo. As diferentes famílias escolherão deter mais ou menos ações, de acordo com o patamar de vida em que se encontrem e o perfil de investidor do indivíduo a cargo. Mas os mercados de ações, e bem assim o private equity, são bons aliados no esforço de redução da concentração do património familiar no negócio de família, reduzindo, em paralelo, os seus riscos setoriais, geográficos, relacionais e específicos daquele negócio.
Carvalhos - Plantar uma floresta de legado intergeracional e filantrópico
Os ativos que excedem aquilo de que precisa para satisfazer as suas necessidades ao longo da vida são a plataforma para melhorar a vida de outros. Poderá, não apenas apoiar financeiramente os seus filhos e netos, transferindo o seu património através de gerações, mas também partilhar a sua boa sorte com o mundo mais alargado. Isto poderá traduzir-se no patrocínio de organizações e projetos com que se identifique e que sejam responsáveis por contributos importantes para a sua comunidade local em áreas como educação, saúde ou cultura. As carteiras de investimento na subestratégia carvalhos podem ser - e tipicamente são - investidos mais agressivamente, em ativos com o maior potencial de crescimento, dado que o horizonte temporal associado é de muito mais longo prazo - habitualmente várias décadas, com vista a financiar objetivos multigeracionais. Tal poderá incluir ações de empresas excecionais de elevado crescimento que ainda não são lucrativas, para além de investimentos em capital de risco, de impacto ou em bens colecionáveis.
Combinação de horizontes
Muito antes da reforma, quererá ter as suas despesas de curto prazo cobertas por ativos pinhões e focar-se em estar maioritariamente investido no plantio de ativos pinheiros cujos frutos possa colher no final da sua vida. É provável que, nessa fase, a subestratégia carvalhos ainda seja prematura.
Mas, à medida que se aproximar da reforma, os objetivos da sua subestratégia pinheiros deverão estar já totalmente financiados e deverá adotar uma ou duas das seguintes estratégias: (i) primeiro, começar a deslocar ativos para a subestratégia pinhões para compensar a expectável redução de rendimentos (por exemplo, ter uma porção de investimento grande o suficiente para financiar gastos que, nesta fase, excedam os rendimentos de segurança social, pensões e participações em negócios); e (ii) em segundo lugar, poderá querer deslocar alguns ativos para a subestratégia carvalhos.
Inversamente, na hipótese de o mercado o apanhar de surpresa, também poderá rever as suas subestratégias pinheiros e carvalhos e pedir emprestado um pouco do investido nesta para financiar aquela. Não obstante, durante os seus anos dourados, deverá ter por objetivo viver calmamente à sombra dos seus ativos pinheiros, saboreando os seus frutos lentamente e deixando a componente carvalhos a aumentar de valor sossegadamente.
Com estes princípios em mente, pode pôr em prática a sua própria estratégia PPO à prova de futuro. Ao criá-la e acompanhá-la de forma intencional e atenta, estará a planear tanto para o presente como para o longo prazo, ajustando o plano para cada horizonte temporal como mais conveniente às soluções de compromisso que a sua própria família prefira.
Se olhar para o futuro e dedicar o tempo e esforço necessários à colocação dos pontos que definirão a linha de vida da sua família, será muito mais fácil reconhecer a influência da sua própria iniciativa quando um dia os unir olhando retrospetivamente.
Artigo de opinião originalmente publicado a 26 de julho de 2023 no site da FundsPeople
O que esperar de cada uma das principais economias
No último ano, os mercados financeiros têm oscilado em função das sucessivas narrativas:
Primeiro, a inflação elevada - inicialmente, aparentava ser transitória, mas revelou-se mais persistente que o esperado. Por isso, houve a necessidade de uma política monetária agressiva através das subidas de taxas de juro. Fizeram-no tardiamente, mas assistimos ao ciclo de subidas de taxas de juro mais agressivo dos últimos 40 anos.
Os investidores não tiveram onde se esconder. Obrigações com maturidades longas e ações de crescimento (onde se enquadra o setor de tecnologia), tiveram desvalorizações mais elevadas.
Segundo, a inflação começa a descer - no início deste ano, a economia começa a revelar-se mais forte do que o esperado (consumo robusto auxiliado pela acumulação de poupanças, um mercado de emprego forte, estímulos fiscais, uma crise energética menos severa que o esperado) e a inflação nos bens a recuar. Os mercados, entusiasmados com a perspetiva de uma aterragem suave da economia, começaram a recuperar das perdas do ano passado.
Nesta altura, a narrativa é que a inflação poderia estar controlada e a Reserva Federal Americana começaria a descer as taxas de juro ainda este ano. Os mercados adotaram esta narrativa. O setor tecnológico, que tinha sido o mais penalizado em 2022, teve uma subida bastante forte, sobretudo em títulos das empresas cujos modelos de negócio são altamente lucrativos e com balanços muito fortes. Passaram a ser as novas queridas dos investidores - possivelmente muitos dos que as venderam em 2022.
A nova narrativa é que as empresas sofrerão apenas uma correção nos seus lucros ao invés de uma forte recessão nos resultados que muitos esperavam. Ou seja, os mercados têm andado ao sabor das sucessivas narrativas sobre o comportamento da inflação e das taxas de juro. A recessão mais anunciada da história acabou por não acontecer, ainda.
Terceiro - os últimos dados da economia americana mostram que a inflação está a abrandar: o principal indicador nos Estados Unidos revelado em 12 julho, mostram o indicador principal nos 3%. Recordo que há um ano estávamos nos 8%.
Quer isto dizer que nos Estados Unidos a batalha contra a inflação está conquistada? Não, mas para já os dados mostram que estamos no bom caminho.
Na Europa, o BCE começou tarde e, por isso, há ainda caminho a percorrer. O índice de preços estão 5% acima de junho de 2022.
O que é que tudo isto nos diz do último ano e meio? Diz-nos que as expectativas/previsões dos analistas, de muitos gestores de fundos e comentadores, estiveram erradas. Por isso, na Casa de Investimentos não achamos que o nosso trabalho seja prever o que vai acontecer no próximo meio ano. No segundo semestre vai haver uma recessão pouco profunda? Talvez, não sabemos. Sabemos que algures no tempo vai acontecer, fazem parte dos ciclos económicos e o nosso trabalho é estarmos bem preparados investindo em excelentes empresas.
Para nós o que é relevante é saber que estamos investidos em negócios robustos, altamente rentáveis e bem preparados para aguentar uma conjuntura menos favorável e recuperarem.
As classes de ativos melhor posicionadas para enfrentar o semestre
O imobiliário deverá corrigir de uma bolha também criada por taxas de juro extremamente baixas ao longo de cerca de 14 anos. Quanto às matérias-primas, não são para nós uma alternativa de investimento. Os investidores devem saber que estas são sempre apostas especulativas. Não produzem qualquer rendimento e, por isso, para nós não fazem parte das alternativas de investimento.
Parafraseando Warren Buffett, as taxas de juro são gravidade para as ações. Isto significa que as taxas de juro elevadas, à partida, não favorecem nenhuma classe de ativos. Qualquer fluxo de cash-flows a ser recebido no futuro, atualizado a uma taxa mais elevada vão resultar num valor atual mais baixo. Por isso, é fundamental sabermos a qualidade dos balanços em que estamos investidos e a sua independência de financiamento (quer através da emissão de dívida, quer através de emissão de ações, que levam à diluição dos acionistas). Estes níveis de taxas de juro a par de uma inflação elevada, tornarão muitas empresas muito pouco rentáveis e levarão a que muitas desapareçam.
Num contexto de inflação substancialmente mais elevado do que foi nos últimos 14 anos, é importante investir em empresas de qualidade que conseguem passar a inflação para os consumidores e produzir retornos que permitam aos acionistas ganhos de poder de compra a longo prazo. A inflação afeta as margens de lucro das empresas.
A história dos últimos 100 anos mostra-nos que mesmo em ambientes de inflação, as ações deverão ser a melhor classe de ativos. Negócios excecionais conseguem passar esse aumento de custos para os consumidores. Num contexto de inflação elevada os ativos denominados em dinheiro são os piores investimentos. É preciso que as taxas de juro reais sejam superiores à inflação para que não haja erosão de capital e perda de poder de compra a longo prazo.
Ainda assim, é importante referir que a seis meses não fazemos a menor ideia do que é melhor investir. Não sabemos o que vai subir ao cair. O nosso foco é o longo prazo.
Riscos
Estamos muito atentos ao desempenho das empresas que temos em carteira e à sua capacidade de execução neste contexto de incerteza. Vai ser muito interessante ver como nestes próximos trimestres se comportam as margens das empresas e se a rentabilidade é afetada. Há um ano, as taxas de juro estavam a cerca de 1%. Esta subida tão brusca demora alguns meses a chegar à economia. Certamente, muito negócios serão afetados.
Monitorizamos os riscos do nosso portefólio, procurando sempre que as oportunidades surgem a preços sensatos, adicionar empresas defensivas com grande qualidade. Embora com taxas de crescimento mais baixas, permitem reduzir a volatilidade da carteira. Estamos muito atentos às oportunidades da nossa whatchlist, onde temos um conjunto de negócios avaliados e que, ao preço certo, poderemos investir.
O fundo de investimento recomendado para o segundo semestre
Recomendamos o nosso Fundo PPR. Tem uma estratégia clara de investimento, um conjunto de negócios excecionais a desconto do seu valor intrínseco custos baixos e transparência total. Salvo pequenos ajustes, esta é a carteira de investimentos que pretendemos ter quer faça chuva ou sol. Estas empresas têm muita qualidade e produzirão bons resultados a prazo.
Se juntarmos a isto os benefícios fiscais, temos a melhor conta de poupança a longo prazo.
Temas de investimento onde procuram alternativas de investimento
A nossa estratégia de investimento é o Investimento em valor. Para manter o rumo, definimos o universo investível, que é composto por empresas que reúnam as seguintes características:
- vantagens competitivas duráveis, que são evidenciadas por níveis elevados de rentabilidade sobre os capitais investidos,
- oportunidades de crescimento estrutural, evidenciado por um histórico de crescimento orgânico,
- um balanço forte,
- equipas de gestão comprovas dadas e com um bom track record de alocação de capital.
Estas características são mais comuns de encontrar em setores como a saúde, tecnologia, consumo, e algumas áreas industriais.
Para além de acompanhar os títulos em carteira e os seus concorrentes, procuramos expandir o nosso conhecimento sobre novas empresas dentro deste universo investível.
A Casa de Investimentos não investe por temas. O que procuramos são empresas que possam prosperar em qualquer ciclo económico e que, quando tomamos a decisão de investimento, fazêmo-lo com o objetivo de estar investido a longo prazo.
"Apesar do sucesso do investimento em valor estar tão documentado, o que realmente surpreende é que representa menos de 2% do mercado financeiro mundial. O que me deixa perplexa é por que razão um investidor que consistentemente perde dinheiro a investir no mercado financeiro ou tem rentabilidades medíocres, continua a investir da mesma forma e muitas vezes com os mesmos gestores de investimentos. Como diz Charlie Munger, se já sabem onde vão morrer, porque continuam a lá regressar?"
A frase é de Charlie Munger, sócio de Warren Buffett. Numa entrevista de televisão, apresentou as regras a seguir para se ser bem-sucedido no investimento.
Devemos, segundo Munger, selecionar ações da mesma forma que avaliamos a aquisição de um negócio na sua totalidade:
1. Dentro do nosso círculo de competências;
2. Com vantagens competitivas duráveis;
3. Geridos por pessoas capazes e honestas;
4. Comprados a preços sensatos.
Sustenta o próprio que estas são ideias muito simples e, talvez por isso, tão poucos as sigam.
A regra mais antiga do investimento, e também a mais simples, diz que devemos comprar barato e vender caro. Quem desejaria fazer de outra maneira? Mas, comprar barato relativamente a quê?
Certamente, comprar barato relativamente ao valor do bem. Para que o investidor tenha sucesso é fundamental ter uma estimativa do valor intrínseco do ativo e só comprar quando o preço está a desconto face a esse valor, salvaguardando, assim, a margem de segurança.
Todas as abordagens ao investimento em bolsa podem ser resumidas a duas grandes orientações: uma baseada na análise dos atributos da empresa, conhecida por análise fundamental e que congrega duas abordagens - o Investimento em Valor e o Investimento em Crescimento - e outra baseada no estudo do comportamento passado das cotações do ativo, que reúne, também, duas abordagens: a Análise Técnica e o Investimento Momentum. Por outras palavras, um investidor tem duas alternativas: avaliar o ativo determinando o seu valor intrínseco e comprando apenas quando está substancialmente mais barato ou vendendo quando está acima; ou, basear simplesmente a sua decisão nas expetativas do que possam ser as variações futuras dos preços do ativo. Esta última abordagem, conhecida por Análise Técnica, é o estudo dos preços passados. Embora muitos julguem que é uma técnica recente, é praticada desde sempre no mercado financeiro. O próprio Warren Buffett admite que a seguia no início da sua carreira.
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO PASSADO DOS COTAÇÕES DO ATIVO
A - A Análise Técnica teve um grande declínio no mercado financeiro a partir do início da década de 60 quando a escola de Chicago, primeiro com o Professor Eugene Fama, vem dizer que os preços passados de uma ação não servem de nada na previsão dos seus movimentos futuros. Esta é chamada a "random walk hypothesys" que, por outras palavras, significa que é um processo aleatório tal como o é atirar uma moeda ao ar. Todos sabemos que mesmo ao atirar uma moeda ao ar 10 vezes e tendo saído 10 vezes consecutivas "cara", a probabilidade de na próxima vez que a atiramos voltar a sair "cara", continua a ser de 50%. Da mesma forma, as teorias da escola de Chicago asseguram que o facto de o preço da ação ter subido nos últimos 10 dias, nada diz sobre se o preço sobe ou desce no dia seguinte.
A questão fundamental para o investidor comum é saber se esta abordagem ao investimento produz bons resultados e se o faz de forma consistente. Não tenho conhecimento de qualquer estudo que o demonstre.
B - O Investimento Momentum é outra abordagem que recorre às cotações passadas. Os investidores que a praticam fazem-no no pressuposto de que conseguem saber se uma ação que tem estado a subir, continuará a subir. Este tipo de abordagem permite participar num bull market que continua a subir. Contudo, tem muitos inconvenientes. Como é que esta abordagem lhes permite vender antes de começarem as quedas e evitar perdas? O que fazem quando os mercados caem continuamente? O maior exemplo do fracasso desta abordagem aconteceu em 1998 e 1999 com o exponencial aumento de day traders, muitos não profissionais, à procura de dinheiro fácil. Raramente mantinham posições durante a noite até porque para o fazer precisariam de dinheiro para as pagar. Várias vezes ao dia, os day traders tentam adivinhar se a ação para a qual estão a olhar irá subir ou cair. Todos sabemos o que aconteceu a estes day traders em 2000 e 2001...
Os day traders ficam muito satisfeitos quando compram uma ação a 10 e vendem a 11; passados uns meses compram-na a 22 e vendem-na a 23 e algum tempo depois compram-na a 39 e vendem-na a 40 Euros. Na verdade, numa ação que subiu 30 euros conseguiram ganhar 3 euros e ter custos de transação em 6 operações. Em contraponto, um investidor em valor teria apenas 2 operações e teria conseguido ganhar grande parte destes 30 euros de variação.
ANÁLISE DOS FUNDAMENTAIS DAS EMPRESAS
O Investimento em Valor e o Investimento em Crescimento são as duas filosofias de investimento que privilegiam a análise dos fundamentais das empresas. Em poucas palavras, os investidores em valor têm como objetivo uma estimativa do valor intrínseco do ativo e comprá-lo quando o preço é inferior. Os investidores em crescimento tentam encontrar ativos cujo valor irá aumentar rapidamente no futuro.
C - O objetivo do Investimento em Crescimento passa por identificar as empresas com futuro brilhante. Isto significa que se coloca menos ênfase nos atributos atuais da empresa e mais no seu potencial futuro. A diferença entre estes dois métodos de investimento pode ser resumida desta forma:
- Os investidores em valor compram ações (mesmo aquelas cujo valor intrínseco possa não crescer muito no futuro) com a convicção que o valor atual é superior relativamente ao preço atual. Embora existam variações dentro desta filosofia, a que seguimos parte da premissa de que é melhor comprar um negócio extraordinário a um preço razoável do que comprar um negócio razoável a um preço extraordinário.
- Os investidores em crescimento compram ações (mesmo aquelas cujo valor é inferior ao preço atual) porque acreditam que o valor irá crescer suficientemente depressa no futuro e produzirá uma apreciação substancial no preço. Esquecem que as taxas de crescimento elevadas não são possíveis para sempre e que à medida que estes negócios são mais maduros, estas taxas revertem para valores médios mais baixos.
D - No caso do Investimento em Valor, impõe-se, desde logo, colocar duas questões: O que é que torna um ativo valioso? Quanto vale uma ação ou a empresa que lhe está subjacente?
O que torna um ativo valioso é a riqueza que pode produzir no futuro. No caso de uma empresa são os seus recursos financeiros, fábricas, lojas, patentes, recursos humanos, a gestão, o nome da marca, o potencial de crescimento e de geração de cash flows. É a capacidade de todos estes ativos gerarem lucros para os acionistas.
O Investimento em Valor coloca a ênfase em fatores concretos como ativos tangíveis e cash flows. Aos ativos intangíveis como talento, modas populares e potencial de crescimento de longo prazo é dado um peso menor.
O Investimento em Valor procura negócios com vantagens competitivas duráveis e aguarda para os comprar quando estão baratos. Os investidores em valor olham, tipicamente, para fundamentais económicos como lucros, cash flows, dividendos e ativos tangíveis e querem comprar barato, com base nestes indicadores.
É extremamente difícil, como investidores, fazer sempre a coisa mais certa. É, no entanto, impossível fazer consistentemente a coisa certa exatamente na altura certa.
O mais que o investidor inteligente pode esperar é estar certo acerca do valor de um ativo e comprá-lo quando está disponível por menos do que esse valor. Mas fazer isso hoje não significa que começaremos a ganhar dinheiro amanhã.
A convicção no valor do ativo ajuda a fazer face a esta dissonância entre o que vale e a cotação de mercado. Ajuda-nos a resistir a opiniões contrárias, a um mau momento de mercado ou a um qualquer problema de curto prazo da empresa. Permite-nos estar focados no valor que a empresa tem e na sua capacidade de criação de riqueza ao longo do tempo.
Inúmeros são os estudos que demonstram a eficácia e consistência do Investimento em Valor. Os professores Martin e Puthenpurackal, num paper de 2008, concluíram que um investidor que imitasse as compras de Warren Buffett um mês após a sua divulgação pública, teria conseguido uma rentabilidade de 23,57%/ano entre 1976 e 2006. Nesse período o S&P 500 valorizou 12,82%/ano e Warren Buffett ganhou 23,96%/ano.
Porterba e Larry Summers têm inúmeros estudos que demonstram o sucesso do Investimento em Valor. A título de exemplo, "Mean Reversion in Stock Prices, Evidence and Implications", que ao longo de 60 anos, confirma os méritos do Investimento em Valor.
Warren Buffett escreveu um artigo em 1984 intitulado "Os Superinvestidores de Graham & Doddsville". Nesse artigo, Buffett elenca alguns investidores em valor que, ao longo de vários anos, conseguiram retornos muito acima de mercado:
Warren Buffett (em 54 anos) 20,2%/ano
Walter Schloss (em 28 anos) 21,3%/ano
Tom Knapp (em 16 anos) 20,0%/ano
Bill Ruane (em 19 anos) 17,2%/ano
Charlie Munger (em 13 anos) 19,8%/ano
Rick Guerin (em 19 anos) 32,9%/ano
Seth Klarman (em 25 anos) 25%/ano
O facto de o Investimento em Valor produzir bons resultados de forma consistente não significa que é fácil. Primeiro, se pagamos demais, precisaremos de uma melhoria surpreendente no valor, de um mercado forte ou de um comprador menos exigente para nos salvar. Segundo, é necessário o temperamento adequado para resistir à volatilidade do mercado financeiro, às opiniões contrárias e à capacidade de venda da indústria financeira e dos media, que patrocinam "qualquer festa ou moda".
Ignorar a multidão é fundamental.
Apesar do sucesso do investimento em valor estar tão documentado, o que realmente surpreende é que representa menos de 2% do mercado financeiro mundial. O que me deixa perplexa é por que razão um investidor que consistentemente perde dinheiro a investir no mercado financeiro ou tem rentabilidades medíocres, continua a investir da mesma forma e muitas vezes com os mesmos gestores de investimentos.
Porque é que fazendo a mesma coisa os investidores esperam resultados diferentes?
Como diz Charlie Munger, se já sabem "onde vão morrer", porque continuam a lá regressar?
Artigo originalmente escrito por Emília Vieira para a Vida Económica, em outubro de 2013, e atualizado em 22/08/2018.
EXCERTO DA CARTA A CLIENTES 2T2023
Se tudo o que faz precisa de funcionar num horizonte temporal de três anos, então está a competir com muita gente. Mas se estiver disposto a investir num horizonte temporal de sete anos, está a competir com uma fração dessas pessoas
" Jeff Bezos "
No último ano e meio os mercados financeiros têm oscilado em função das sucessivas narrativas em torno da inflação e das taxas de juro. Infelizmente, os investidores de curto prazo prestam-lhes muita atenção e acabam por tomar decisões que, a longo prazo, não lhes são favoráveis.
O que aconteceu realmente?
1º ATO - UMA SÉRIE DE EVENTOS INFELIZES (2022)
- Inflação elevada - quebras nas cadeias de fornecimento, guerra na Ucrânia e excesso de liquidez fornecida pelos Bancos Centrais durante a pandemia. A inflação elevada, que inicialmente aparentava ser transitória, revelou-se persistente.
- Política monetária agressiva - a ferramenta que os bancos centrais têm para conter a inflação é subir as taxas de juro. Apesar de iniciarem este processo tarde e da sua credibilidade ser posta em causa, este foi o movimento com maior magnitude e no espaço de tempo mais curto dos últimos 40 anos.
- Receios de uma recessão - estas políticas monetárias agressivas podem levar a economia a uma recessão. Como consequência, os mercados acionistas e obrigacionistas caíram ao longo de 2022. Este foi o segundo pior ano dos últimos 100 para a classe obrigacionista.
Obrigações com maturidades longas e ações de maior crescimento (onde se enquadra o setor de tecnologia) tiveram desvalorizações mais elevadas. Isto acontece porque uma parte significativa dos cash-flows destes ativos ocorre no futuro. Ao avaliarmos ativos hoje (uma ação, obrigação, imóvel) teremos que descontar os seus cash-flows a uma taxa de juro mais elevada. Consequentemente, teremos um valor menor.
2022 foi marcado pela incerteza: inflação persistente, subidas nas taxas de juro, mercados em queda. Receios de um abrandamento económico abrupto - o chamado hard landing - uma recessão, ausência de visibilidade quanto à evolução da inflação. A narrativa dominante antecipava uma recessão.
2º ATO - GOLDILOCKS1 (1T 2023) - ATERRAGEM SUAVE?
No primeiro trimestre, a economia revela-se mais forte do que o esperado: consumo robusto auxiliado pela acumulação de poupanças no período da pandemia, um mercado de emprego forte, estímulos fiscais, uma crise energética menos severa do que o esperado. A inflação nos bens começa a recuar. Os mercados, entusiasmados com a perspetiva de uma "aterragem suave" da economia, começam a recuperar das perdas do ano passado.
Nesta altura, a narrativa é que a inflação poderia estar controlada e a Reserva Federal Americana começaria a descer as taxas de juro ainda em 2023. Os mercados adotaram esta narrativa. O setor tecnológico, que tinha sido o mais penalizado em 2022, teve uma subida bastante forte, sobretudo em títulos das empresas cujos modelos de negócio são altamente lucrativos e com balanços muito fortes. A nova narrativa é que as empresas sofrerão apenas uma correção nos seus lucros ao invés da forte recessão nos lucros que muitos esperavam.
Independentemente da narrativa, no ano passado escrevemos em diversas ocasiões que não havia razão para que alguns dos negócios mais rentáveis e com balanços sem dívida sofressem desvalorizações tão expressivas (exemplo da Google, Microsoft, Nvidia, Amazon).
A inflação pode não estar vencida. O Bank of International Settlements (BIS), no seu Relatório Económico Anual, publicado em junho, alerta que reduzir a inflação não será tarefa fácil. Adverte para os riscos que as taxas de juro mais elevadas representam para a estabilidade financeira. Embora a inflação nos bens tenha abrandado, a inflação nos serviços tem-se revelado mais persistente. O BIS reforça a ligação entre preços e salários.
Apesar de uma política monetária agressiva, as taxas diretoras continuam, em muitos casos, abaixo da inflação. Contudo, os mercados parecem ignorar o risco de inflação elevada e acreditar que poderá regressar rapidamente aos 2%. O BIS realça a dissonância entre os preços dos mercados financeiros e as políticas anunciadas pelos bancos centrais e alerta para os riscos da estabilidade financeira. As expetativas dos mercados quanto às taxas de juro são inferiores às projetadas pelos bancos centrais.
Entre estes cenários, tentar adivinhar a evolução da economia é um exercício não só difícil, como fútil. Por isso, mantemos o nosso foco em investir em empresas que consigam prosperar em qualquer um dos cenários. A sua cotação de mercado até pode temporariamente ser-nos desfavorável. No entanto, o que realmente importa é que o seu valor intrínseco e a sua capacidade de produzir lucros aumentem a prazo.
3º ATO - AS PREVISÕES PODEM DIZER-NOS MUITO SOBRE QUEM AS FAZ;NÃO NOS DIZEM NADA SOBRE O FUTURO (2T 2023)
Os riscos não desapareceram:
- Falências em empresas - a alavancagem excessiva com que operam muitas empresas e a inflação elevada que lhes degrada as margens estão a fazer aumentar o número de falências.
- Solvabilidade dos bancos - os casos de vários bancos regionais nos Estados Unidos, e mesmo o Credit Suisse, são um exemplo dos riscos escondidos que foram sobretudo motivados por um longo período de taxas baixas em que a procura de rendimento, por parte destes bancos, em obrigações de longo prazo os levou a negligenciar a adequação da sua estrutura de ativos e passivos. Estes são os bancos que regionalmente apoiam famílias e pequenos negócios. Certamente o aumento de crédito em incumprimento - em virtude da subida de taxas de juro - vem fragilizar ainda mais muitos destes bancos regionais.
- Consequências para os mercados emergentes - os países emergentes que se financiaram em dólares enfrentam dois problemas: primeiro, precisam de substancialmente mais dinheiro para pagar a dívida em dólares, já que esta moeda se fortaleceu face à esmagadora maioria das moedas dos países emergentes. Segundo, a perceção de risco de emprestar a estes países aumentou e o custo do dinheiro subiu significativamente. Refinanciar as suas dívidas é hoje bastante mais caro.
- Níveis de dívida - primeiro com a crise financeira (apesar de ter sido há 15 anos, a maioria dos governos não conseguiu reduzir dívida) e depois com o Covid, os países voltaram a aumentar ainda mais os seus níveis de endividamento para enfrentar a crise de saúde pública com estímulos financeiros e fiscais. Com taxas mais elevadas hoje, os custos destas dívidas pesarão nos orçamentos dos Estados.
O que significa isto para os mercados acionistas?
As taxas de juro são, nas palavras de Warren Buffett, gravidade para as ações. Taxas de juro elevadas não favorecem nenhuma classe de ativos: qualquer portfólio de cash-flows a serem recebidos no futuro, descontados a uma taxa mais elevada, vão resultar num valor atual mais baixo.
Vejamos o que nos diz a história financeira. O quadro abaixo apresenta, por décadas, os últimos 90 anos de retornos em ações, obrigações e liquidez:
A performance das obrigações é muitas vezes fraca em ambientes de inflação elevada. As ações, que são ativos reais, tiveram uma performance melhor do que obrigações ou aplicações de curto prazo. Num contexto de inflação mais elevado do que nos últimos 14 anos, é importante investir em empresas de qualidade e que têm poder de fixação de preços. São estas que conseguem passar a inflação para os consumidores.
Contudo, empresas com níveis de endividamento elevado e negócios com margens mais baixas, serão seguramente menos rentáveis:
- a inflação afeta as margens de lucro das empresas,
- as taxas de juro aumentam o custo de capital.
Por isso, é fundamental sabermos a qualidade dos balanços em que estamos investidos e a sua independência de financiamento (quer bancário, quer através de emissão de ações que levam à diluição dos acionistas). Estes níveis de taxas de juro, a par de uma inflação elevada, tornarão muitas empresas muito pouco rentáveis.
Nos últimos 15 anos, com taxas de juro nominais perto de zero (taxas de juro reais negativas) e inflação inferior a 2%, os mercados acionistas tiveram um excelente desempenho. A gestão passiva teve um crescimento muito significativo e investir através de um fundo índice permitiu bons retornos. Vários especialistas financeiros defendem que a gestão ativa é hoje mais adequada. Num artigo escrito para o Financial Times, Mohamed El- Erian, defende que este é o momento para a gestão ativa.
Perante a atual conjuntura, o que podemos controlar?
O que monitorizamos hoje é a qualidade das empresas em que estamos investidos e de que forma podem ser afetadas por esta mudança de regime: o dinheiro mais caro e o convívio com inflação mais elevada.
Primeiro, podemos controlar a qualidade das empresas em que estamos investidos, assegurando-nos que estas cumprem com os nossos três pilares: vantagens competitivas duráveis, balanços fortes (com disponibilidade para investir em novas oportunidades de crescimento, comprar empresas em situação financeira mais difícil ou mesmo recomprando ações próprias a desconto do valor intrínseco) e equipas de gestão capazes de alocar capital e aproveitar as oportunidades. Acompanhamos trimestralmente os resultados destas empresas para avaliar os impactos na qualidade dos seus lucros e, por consequência, no seu valor intrínseco.
Segundo, podemos controlar e gerir o risco da carteira de investimentos. Ao longo dos últimos anos, fomos saindo de negócios mais alavancados e cíclicos para reforçar posições em empresas com modelos de negócios com um perfil mais defensivo, com balanços quase sem dívida e altamente rentáveis. Este é um movimento que continuamos a aproveitar sempre que o mercado nos apresentar as oportunidades. Estes negócios, embora tenham taxas de crescimento mais baixas, apresentam uma maior previsibilidade de resultados.
Mantemos uma watchlist de empresas de grande qualidade que temos analisadas. Muitas delas continuam caras e por isso aguardamos por uma oportunidade para comprar a preços sensatos: algo que possa correr mal no curto prazo, resultados trimestrais negativos, etc.
A MUDANÇA DE REGIME
A inflação cria maiores desigualdades sociais e aumenta a pobreza. Quem não a perceber paga-a. Numa investigação feita para muitos países, incluindo Portugal, o Professor Elroy Dimson e os seus co-autores estudaram o período de 101 anos desde 1900 a 2001. Segundo os autores, todos os investimentos chamados "conservadores" perderam dinheiro para a inflação. Em termos nominais, o dinheiro das pessoas aumentou. Contudo, em termos reais, os investidores perderam dinheiro.
Estes investimentos têm provado ao longo da história que não conservam a riqueza. Infelizmente, como não variam de cotação, os investidores não têm receio de estarem "investidos" em dinheiro à espera do momento perfeito para investirem. Apesar de muitos decidirem as suas aplicações por questões fiscais, não conseguem perceber que a inflação é o maior imposto - o chamado imposto escondido - sobre a riqueza.
"O mercado está a sobrevalorizar significativamente as qualidades do grupo de empresas mais caras e a subvalorizar as mais baratas. Nos últimos três anos, os investidores têm vindo a pagar cada vez mais pelas receitas esperadas dos quatro maiores nomes do mundo digital. É o preço a pagar para acompanhar o forte crescimento destes gigantes. Mas até quando?"
Nos últimos anos, as estratégias de investimento em valor não têm tido um desempenho tão forte como ao longo das várias décadas para as quais existem dados estatísticos (ver, por exemplo, "What has worked in investing" da Tweedy Browne). Desde a crise financeira de 2008, a economia global tem apresentado crescimentos moderados aliados a níveis de inflação extremamente baixos.
Como resultado, o crescimento nominal da economia tem sido muito inferior ao registado nas décadas anteriores. Antes da crise financeira, o crescimento real nas economias desenvolvidas era de 3% e a taxa de inflação de 2%, o que permitia atingir crescimentos nominais de 5%.
Actualmente, com menos crescimento e menos inflação, os crescimentos
nominais estão abaixo dos 3%. Neste ambiente, o mercado tem sobrevalorizado as empresas que conseguem sustentar taxas de crescimento mais elevadas, ignorando muitas vezes a rentabilidade
associada a esses investimentos.
Este fenómeno, em que as estratégias de investimento em valor têm mais dificuldade em produzir retornos acima da média, não é novo. Periodicamente, existem momentos de mercado em que um conjunto de empresas são percepcionadas como as vencedoras do futuro, e as restantes, são vistas como as perdedoras. Provavelmente, os dois exemplos mais paradigmáticos são as "Nifty Fifty" no início da década de 1970 e a bolha tecnológica no final da década de 1990. Em ambos os casos, os investidores concentraram as suas expectativas mais optimistas num grupo de empresas em detrimento do restante universo de investimento, levando esse grupo de "eleitas" para cotações insustentáveis. O resultado foi o mesmo em ambos os casos: perdas avultadas para os investidores das empresas da "moda" e resultados muito superiores para quem investiu nas empresas "chatas" que constituíam o resto do mercado.
No momento actual, vemos sintomas semelhantes com o ciclo a favorecer dois tipos de empresas: as empresas disruptivas de alto crescimento, ou FANG (acrónimo para Facebook, Amazon, Netflix e Google), que se têm afirmado nas áreas de social media, e-commerce, streaming e web services e que se têm valorizado como se fossem monopólios inabaláveis; e as empresas de negócios estáveis nas áreas de consumo, tecnologia, saúde e eletricidade, ou Bond Proxies (aproximações de obrigações), negócios que atraem capital que procura estabilidade e rendimento num mundo em que muitos bancos centrais mantêm taxas de juro negativas ou próximas de zero. Em ambos os casos, os investidores estão a ignorar os riscos subjacentes a cada um dos grupos.
Distorção do mercado e das expectativas
No caso das empresas de crescimento, as expectativas implícitas nos preços actuais obrigam a crescimentos anuais de 15% a 20% das vendas ao longo da próxima década. No entanto, muito poucas empresas conseguem sustentar ritmos de crescimento tão elevados durante períodos tão longos. Ao mínimo sinal de abrandamento, o reajustamento das expectativas dos investidores poderá ter um impacto violento nas cotações.
Actualmente, verificamos que o mercado está a pagar um valor muito elevado por cada dólar de vendas esperadas pelas empresas FANG - cerca do dobro do que pagavam em 2014. No caso da Amazon, por exemplo, se há três anos pagavam um dólar por cada dólar de vendas estimadas, hoje já pagam 2,8 (cerca de 2,3 euros). Comprar crescimento está cada vez mais caro... Mas estas empresas não são casos únicos entre as empresas cotadas e em transacções privadas (UBER, Airbnb, etc.). As avaliações são também extraordinariamente generosas.
No caso das chamadas Bond Proxies, o risco pode vir de dois lados: uma possível desilusão nos resultados ou uma subida das taxas de juro que desvalorize o valor dos cash flows futuros. Quando o preço de uma empresa reflecte um cenário perfeito, o mínimo desvio desse cenário poderá implicar perdas avultadas. O problema é agravado porque grande parte destas empresas não revelam rentabilidades acima do resto do mercado.
Richard Pzena, o gestor da Pzena Investment Management, notou que o grupo de empresas mais caras do mercado (por via de rácios como Preço/Lucros e Preço/Valor Contabilístico) não tem apresentado nos últimos anos melhores taxas de crescimento de vendas do que o grupo das empresas mais baratas, nem produziram melhores retornos (quando medidos pelos retornos nos capitais próprios) para os seus accionistas. Ou seja, o mercado está a sobrevalorizar significativamente as qualidades do grupo de empresas mais caras e a subvalorizar as mais baratas. Os gestores da GMO partilham desta visão. No Insight de Junho de 2017, afirmam que o fosso de valorizações que se cavou entre estas áreas de mercado cria as condições para assistirmos, mais cedo ou mais tarde, a uma normalização que produza retornos superiores para os investidores em valor.
Teoria do tolo maior
A transferência significativa de dinheiro da gestão activa (fundos de investimento e hedge funds) para a gestão passiva (investimento em fundos que replicam os índices) contribuiu também para estas distorções no mercado. O principal problema da indexação é que ela representa a compra indiscriminada das acções em proporção ao valor de mercado da empresa. Se o mercado fosse eficiente, estaríamos a comprar, pelo menos em média, as acções ao seu valor justo. Mas quando se registam tantas distorções nos valores de mercado, indexar significa comprar uma proporção maior das empresas que estão mais caras. É, pois, de esperar que a indexação venha a criar mais oportunidades para nós, os investidores em valor.
Segundo Jason Zweig, colunista do Wall Street Journal, no seu livro "O Dicionário Financeiro do Diabo", defende a teoria que não importa o quão tolo é o preço que se paga por uma acção ou activo, se conseguir encontrar um tolo maior que lhes pague mais para comprar esse activo. Para quê tero trabalho de avaliar uma acção se podemos simplesmente apostar que existe alguém que acha que ela vale ainda mais? Esta expressão, que é uma crença partilhada por muitos investidores, teve origem na década de 1960 - embora a esperança de ser capaz de vender a alguém ainda mais temeroso que nós é quase certamente tão velha como os mercados financeiros.
Pode parecer surpreendente que alguma vez se verifique uma escassez de tolos neste mundo. No entanto, aqueles que estão seguros que encontrarão um tolo quando mais precisam, poderão acordar um dia e verificar que todos os outros subitamente ficaram espertos e que o tolo maior é ele próprio.