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Originalmente publicado no blog Collaborative Fund em 16 de dezembro de 2024
São relevantes para todos e aplicam-se a muitas coisas:
Quem tem as respostas certas, mas que eu ignoro porque não as articula bem?
O que é que eu não experimentei em primeira mão e que, por isso, sou ingénuo relativamente a como algo funciona? Tal como Jeff Immelt disse: “Todos os trabalhos parecem fáceis para quem não tem de os fazer.”
De quais das minhas opiniões atuais eu discordaria se tivesse nascido num país ou numa geração diferente?
O que é que eu quero desesperadamente que seja verdade, que acredito que é verdade quando, claramente, não o é?
Que problema eu estou convencido só se aplica a outros países/indústrias/carreiras, mas que eventualmente me vai afetar?
O que é que eu acredito que é verdade, mas na realidade é apenas bom marketing?
O que parece insustentável, mas é na realidade uma nova tendência que nós ainda não aceitamos?
O que é que foi verdadeiro durante décadas, mas vai deixar de funcionar, mas que arrasta adeptos teimosos devido à sua longa história de sucesso?
Quem é que eu acho inteligente, mas na realidade é só aparência?
O que é que eu ignoro porque é demasiado doloroso para aceitar?
Como mudariam as minhas opiniões sobre coisas recentes se eu tivesse 10 mil anos de dados fidedignos?
Quais das minhas opiniões atuais mudariam se os meus incentivos fossem diferentes?
O que estamos a ignorar hoje que vai ser chocantemente óbvio daqui a um ano?
Que eventos quase aconteceram que, caso tivessem acontecido, teriam alterado fundamentalmente o mundo que conhecemos?
Até que ponto coisas fora do meu controlo contribuíram para as coisas pelas quais reivindico crédito?
Como é que sei se estou a ser paciente (virtude) ou teimoso(defeito)? Se o benefício do retrovisor, são muito difíceis de distinguir.
Quem é que eu admiro que é secretamente infeliz?
Aos nossos Clientes,
“Os preços das ações serão sempre mais voláteis que os ativos indexados ao dinheiro. No longo prazo, contudo, estes ativos são mais arriscados – muito mais arriscados – do que portfólios diversificados de ações compradas ao longo do tempo e mantidas em carteira de forma a minimizar taxas e comissões”, Warren Buffett
No terceiro trimestre, o Fundo Save & Grow PPR registou uma valorização de 0,21% na classe Founders e de 0,16% na classe Prime. As Carteiras de Gestão Individual não sofreram variações. Desde o início do ano e até 30 de setembro, o Fundo registava um ganho de 15,58% na classe Founders e de 15,39% na classe Prime, o que compara com um retorno de 17,64% no índice global de ações MSCI World EUR.
Esta pequena variação entre 1 de junho e 30 de setembro, esconde o aumento muito significativo da volatilidade, em particular na segunda metade de julho e no início de agosto.
O aumento de volatilidade no trimestre teve origem no mercado japonês. A subida das taxas de juro pelo Banco do Japão, levaram a que investidores com estratégias de carry trade se vissem obrigados a fechar posições. Nos últimos 30 anos o japão manteve as taxas de juro próximas de zero. Vários investidores aproveitaram para se financiar em ienes para investir noutros mercados com rendimentos mais elevados. A valorização do iene criou um pânico temporário no mercado japonês que se alastrou também a outros mercados. Esta volatilidade no início de agosto relançou a discussão sobre uma possível recessão na economia norte-americana. O número de postos de trabalho criados abrandou temporariamente o que ajudou a suportar esta narrativa.
Continuamos a ver uma divergência de crescimento entre EUA e Europa. Enquanto a zona euro está a sair lentamente da estagnação em que caiu após o início do conflito na Ucrânia e as subidas de taxas de juro, os EUA mantêm um patamar de crescimento acima dos 2%.
Nos últimos dois anos, as subidas das taxas de juro levaram a que muitos previssem uma recessão nos Estados Unidos. Taxas de juro mais altas iriam asfixiar a economia. Nas nossas decisões de investimento não levamos em conta estas previsões nem nos sentimos com especial capacidade para as fazer. Procuramos negócios excecionais, com balanços sólidos e excelentes equipas de gestão. Procuramos empresas que sejam capazes de prosperar em qualquer ciclo económico e que consigam aproveitar as oportunidades que esses períodos oferecem.
A Reserva Federal dos EUA iniciou o ciclo de descida de taxas de juro, anunciando um corte de 50 pb na sua taxa diretora. Apesar da batalha contra a inflação não estar totalmente ganha (os últimos dados relativos a setembro mostram uma inflação homóloga de 2,4% na economia norte-americana, 3,3% se excluirmos os componentes de alimentação e energia), os membros do comité de política monetária entenderam que estão reunidas as condições para baixar taxas de juro. Este movimento da Reserva Federal não é imposto pelos dados económicos, mas sim pelo facto de Powell não querer repetir o erro de 2022. Na altura, foi acusado de agir tarde de mais. Nesta altura está pressionado para conseguir a chamada aterragem suave da economia.
O Banco Central Europeu anunciou mais um corte na taxa de facilidade de depósito em setembro e um segundo corte em outubro.
A redução de taxas de juro tem criado as condições para o bom desempenho do mercado acionista. Movimentos de descidas de taxas num ambiente em que o crescimento económico é sólido favorecem o investimento em ações e reduzem a atratividade das aplicações em depósitos ou obrigações.
Sabedoria Intemporal
Em 2015, Warren Buffett escreveu a carta anual aos acionistas da Berkshire que celebrava os 50 anos. O surto inflacionista dos últimos anos reforça a sua importância, e intemporalidade, para quem quer conservar e aumentar o seu poder de compra a longo prazo:
"A conclusão, pouco convencional, porém inescapável, a tirar dos últimos cinquenta anos é que tem sido muito mais seguro investir numa coleção diversificada de negócios americanos do que investir em títulos – obrigações do tesouro, por exemplo – indexados à moeda americana. Isto aconteceu também no meio século precedente, um período que incluiu uma Grande Depressão e duas guerras mundiais. Os investidores devem prestar atenção a esta lição. De uma forma ou outra, esta história repetir-se-á durante o próximo século.
Os preços das ações serão sempre mais voláteis que os ativos indexados ao dinheiro. No longo prazo, contudo, estes ativos são mais arriscados – muito mais arriscados – do que portfólios diversificados de ações compradas ao longo do tempo e mantidas em carteira de forma a minimizar taxas e comissões. Esta lição não é habitualmente ensinada nas escolas de gestão onde a volatilidade é vista, quase universalmente, como equivalente ao risco. Esta assunção pedagógica, embora fácil de ensinar, é completamente errada: a volatilidade está muito longe de ser sinónimo de risco. As populares fórmulas que confundem os dois termos levam estudantes, investidores e presidentes de empresas por maus caminhos.
É, obviamente, verdade que ter ações um dia, uma semana ou um ano é bastante mais arriscado do que ter dinheiro em obrigações do tesouro. Isto é importante para determinados investidores– bancos de investimento, por exemplo – cuja viabilidade pode ser ameaçada por quedas nos preços dos ativos e que podem ser obrigados a vender títulos em mercados deprimidos. Qualquer entidade que tenha necessidades de financiamento de curto prazo deverá manter quantias apropriadas em obrigações de tesouro e depósitos a prazo.
Para a esmagadora maioria dos investidores, contudo, que podem – e devem – investir com um horizonte de investimento de décadas, os declínios nas cotações não são importantes. A sua atenção deve estar concentrada na obtenção de ganhos significativos de poder de compra ao longo da sua vida de investimentos. Para estes investidores, um portfólio diversificado de ações, compradas ao longo do tempo, é muito menos arriscado que títulos indexados ao dólar."
Esperamos que estes quatro parágrafos ajudem os nossos Clientes a manterem o rumo, a suportarem a volatilidade e a consolidarem a convicção de que esta é a forma mais rentável e segura para investir a longo prazo com boas rentabilidades.
Prevalecemo-nos desta oportunidade para dar o conhecer o Estudo que a Casa de Investimentos realizou sobre a rentabilidade dos PPR. Entre janeiro de 2021 e 30 de setembro de 2024, a Casa de Investimentos recebeu 2683 transferências de PPR de outras instituições financeiras. A nossa análise revelou que:
• a rentabilidade média dos PPR transferidos foi de 1,16% ao ano,
• 770 PPR (29%) perderam dinheiro. Destes, 222 eram de capital garantido,
• cerca de 80% dos PPR tiveram um rendimento inferior às comissões cobradas pelas instituições financeiras.
Este estudo foi realizado com base nas informações fornecidas pelas entidades gestoras. Recordamos que, para que os PPR mantenham a antiguidade e benefícios fiscais, estas transferências deves vir acompanhadas de um histórico de entregas. Este estudo foi divulgado pela SIC, SIC Notícias, Expresso, Jornal Económico e Jornal ECO.
Esperamos que este trabalho ajude a alertar mais pessoas para a importância de conhecerem melhor os produtos em que estão investidas e para que sejam capazes de tomar decisões que protejam os seus interesses.
Agradecemos as recomendações que fazem da Casa de Investimentos e a vossa confiança. Trabalharemos para que fiquem connosco décadas.
Muito obrigada.
Com elevada estima, enviamos os melhores cumprimentos,
Emília O. Vieira
Chief Executive Officer
“Trabalhamos para que os nossos Clientes sejam Clientes antigos”
Artigo publicado originalmente no blog A Wealth of Common Sense em 20 de agosto de 2024
Existem inúmeros conselhos de investimento sobre o que se deve fazer para alcançar o sucesso.
Poucas pessoas escolhem a abordagem contrária e falam sobre o que se deve evitar.
Embora existam várias formas de ser bem-sucedido como investidor, são poucas as que garantem o fracasso.
Aqui ficam algumas estratégias infalíveis para tomar más decisões de investimento:
1. Achar que somos mais espertos que o mercado.
Investir é fácil! Ser mais esperto que o mercado não é assim tão difícil! Somos, com certeza, mais inteligentes que a sabedoria coletiva de milhões de outros investidores.
Afinal, quão complicado pode ser bater o mercado?
2. Tentar prever constantemente o mercado.
Adotamos uma mentalidade de extremos. Investimos em tudo quando o mercado está a subir. Saímos rapidamente quando as coisas parecem instáveis. Continuamos a entrar e sair até ficarmos ricos.
Qualquer pessoa consegue fazer isto.
3. Perseguir a performance passada.
Seguimos quem está na moda. Investimos como o gestor que os media adoram. Apostamos nas tendências e seguimos as dicas das ações do momento.
O sucesso a curto prazo não tem nada a ver com a sorte. É tudo uma questão de competência.
4. Travar a Guerra passada
Protegemo-nos contra o risco enorme que acabou de acontecer. Compramos o fundo “Black Swan” logo após o crash. Protegemo-nos contra a inflação depois dos preços terem subido em flecha. Fazemos as escolhas que gostaríamos de ter feito antes de perder dinheiro.
Conduzir a olhar pelo retrovisor parece seguro, por isso deve funcionar, certo?
5. Seguir os conselhos de investimento dos bilionários.
Quando os bilionários aparecem na televisão ou partilham as suas opiniões sobre o mercado, estão a falar diretamente para nós. Eles conhecem a nossa situação financeira, a nossa tolerância ao risco e o nosso horizonte de investimento. Têm exatamente a mesma estratégia que a nossa. Nunca mudam de ideias nem fazem declarações à imprensa financeira em que não acreditam verdadeiramente.
Que mal pode haver em copiar George Soros ou Stanley Druckenmiller?
Os bilionários são como nós!
6. Preocupar-se mais em ter razão do que em ganhar dinheiro.
Quem se importa com os resultados do nosso investimento? O importante é sentirmo-nos intelectualmente superiores. Não é preciso preocuparmo-nos com o desempenho do nosso portfólio se podemos passar o dia a reclamar com a dívida pública, culpar a Reserva Federal por destruir mercado livre, e criticar os políticos.
Vamos continuar a ler os blogs financeiros da moda. Isso resolve tudo.
7. Comparar o portfólio com o melhor ativo do momento.
Quem precisa de diversificação quando há sempre uma classe de ativos, estratégia ou setor a bater os outros?
Passamos o tempo a pensar que devíamos ter investido mais no que deu mais retorno recentemente. Depois, investimos tudo lá.
Repetimos esta estratégia vezes sem conta.
Eventualmente vai funcionar, não?
8. Culpar a Reserva Federal quando as coisas correm mal.
Quando temos sucesso, o mérito é nosso. Quando falhamos, a culpa é da Reserva Federal. O sistema já teria colapsado se não fossem Greenspan, Bernanke, Yellen ou Powell.
Não precisamos de reflexão depois de prever erradamente o fim do sistema financeiro tal como o conhecemos.
Nós não estamos errados, simplesmente antecipamo-nos.
9. Viver obcecado com o curto prazo.
Ninguém tem tempo para pensar a longo prazo. A chave para enriquecer está em seguir cada dado económico, publicação de resultados, manchete e teoria da conspiração nas redes sociais.
É preciso estar a par de tudo isto para podermos reagir em tempo real.
Não é como se o mercado não descontasse estas informações nos preços.
10. Vender todas as ações num mercado em queda.
As quedas são demasiado dolorosas. Quando as ações caem a pique, vendemos tudo e esperamos até que as coisas acalmem.
Quão difícil pode ser acertar no fundo do mercado?
11. Achar que somos o próximo Warren Buffett.
Ele é do Nebraska! Basta decorar algumas citações e ler um ou dois livros sobre o seu estilo de investimento.
Escolher ações é fácil!
12. Reagir exageradamente à volatilidade.
A volatilidade é assustadora. Entremos em pânico. Mudemos o portfólio. Esqueçamos a diversificação.
Não há tempo para pensar. Agimos primeiro, pensamos depois.
13. Ser pessimista em relação a tudo.
O otimismo é para os ingénuos. Está tudo mal. O mundo está a colapsar.
Para quê investir num mundo que está perdido?
14. Achar que investir é aborrecido, mais vale especular!
Vamos negociar opções de altíssimo risco. Apostamos tudo. Os mercados estão viciados e estão...
Para quê esforçarmo-nos?
15. Tentar ficar rico do dia para a noite.
Vamos esquecer os objetivos. A gratificação adiada é para os fracos. Vamos correr o máximo de riscos possíveis para ganhar dinheiro mais rapidamente.
O que pode correr mal?
Originalmente publicado no blog A Wealth of Common Sense em 24 de outubro de 2024
Um leitor perguntou-me:
Bem Carlson, é justo descrever-te como um permabull (otimista permanente)?
Esta é uma pergunta válida.
Sou um grande adepto de pensar e agir para o longo prazo, do investimento buy & hold (comprar e manter) e de manter uma perspetiva otimista acerca do futuro. Sou um tipo “copo meio cheio”.
Se a escolha fosse entre ser um permabull ou um permabear (pessimista permanente), optaria sempre pelo permabull.
Mas não me descreveria como permabull pelo simples facto de que sei que coisas más podem e vão acontecer. É difícil ser sempre otimista quando sabemos que os recuos são inevitáveis.
Esta semana estava a fazer algumas projeções simples para a minha reforma. Tenho 43 anos. Não faço ideia de quando vou querer reformar-me, mas vamos assumir 65 anos, porque é a idade mais comum. Portanto, tenho mais de 20 anos.
Nessas duas décadas, teremos provavelmente duas ou três recessões, três a quatro bear markets, pelo menos um crash enorme, talvez uma crise financeira ou duas, crises geopolíticas, guerra, turbulência política e alguns eventos completamente imprevisíveis (como uma pandemia).
Ninguém sabe estas coisas com certeza absoluta, mas é a minha assunção de base. Eu sei que coisas más vão acontecer, mas continuo a investir para o longo prazo e mantenho-me otimista relativamente ao futuro.
Numa entrevista recente, pediram-me para partilhar três dos meus livros preferidos sobre o investimento. Uma dessas escolhas é Devil Take the Hindmost de Edward Chancellor.
É o meu livro preferido de história financeira. Cada capítulo descreve um episódio histórico de especulação que correu mal – desde os mercados acionistas originais de 1600 à Bolha dos Mares do Sul, a Mania das Ferrovias, o Crash de 1929 e a Bolha do Japão dos anos 1980.
Cada evento histórico é único, mas a natureza humana é a única constante. Ficamos demasiado excitados. Levamos as coisas longe demais. Os bons tempos tornam-se maus.
Os tempos bons são mais divertidos, claro, mas adoro ler sobre os crashes. Sonhos destruídos. Pessoas a perderem tudo. Preços a atingirem mínimos que ninguém imaginou possíveis.
Não sou um homem sem coração. Não derivo qualquer prazer em ler sobre a dor dos outros. Mas ler história financeira tornou-me um investidor 100% melhor porque me recorda que devemos ser humildes para nos mantermos em jogo.
E é ao ler sobre os tempos maus – guerras, recessões, crises financeiras, crashes, etc – que aprendemos as melhores lições. Ninguém aprende com um bull market. Os testes acontecem quando os mercados caem.
Embora a nossa história como espécie esteja recheada de tragédias, sofrimento, retrocessos e conflitos, as pessoas continuam a acordar de manhã à procura de melhorar a sua situação. Apesar de todas as guerras, desastres, crises financeiras e recessões económicas, a nossa história também está repleta de progresso, inovação, determinação e padrões de vida mais elevados.
Num artigo escrito para o New York Times, publicado em outubro de 2008, Warren Buffett escreveu o seguinte:
“No longo prazo, as notícias no mercado acionista serão boas. No Séc. XX, os Estados Unidos sofreram duas guerras mundiais e outros conflitos militares traumáticos e dispendiosos; a Depressão; um dúzia de recessões e pânicos financeiros; choques petrolíferos; uma epidemia de gripe; e a demissão de um presidente em desgraça. Ainda assim, o Dow subiu de 66 para os 11 497.”
Bem, no Séc. XXI, já passamos por três guerras, o 11 de setembro, três recessões, dois crashes de mais de 50%, um golpe falhado no Capitólio, uma pandemia que literalmente encerrou o mundo e a inflação mais elevada em quatro décadas. Ainda assim, o Dow subiu de 11 497 para 43 275.
Podem acontecer coisa desagradáveis no curto prazo e, ainda assim, as coisas podem acabar muito bem no longo prazo.
Tudo depende do nosso horizonte de investimento.
Morgan Housel publicou um tweet excelente com o qual eu concordo a 100%:
Parafraseando Churchill, comprar e manter (buy & hold) é a pior estratégia de investimento que existe… à exceção de todas as outras.
No entanto, só porque sou um investidor buy & hold, isso não quer dizer que estou permanentemente otimista.
Reconheço que correções bear markets, crashes e contrações económicas vão acontecer. Também reconheço que o retorno histórico dos mercados acionistas de 10% ao ano inclui estes eventos. Temos de levar o mau juntamente com o bom.
O bom sempre pesou mais que o mau. Vou continuar a manter esta filosofia até que provem o contrário.
Originalmente publicado no blog Collaborative Fund em 14 de outubro de 2024
Quando acabámos a universidade, eu e a minha mulher (na altura, minha namorada) compramos um apartamento nos subúrbios de Seattle. Era fantástico – uma localização perfeita, um apartamento belíssimo, até tinha vista sobre o lago. A economia estava tão má que não pagamos quase nada pelo apartamento.
Há alguns meses, recordava com a minha mulher que aqueles tempos foram fantásticos. Tínhamos 23 anos, tínhamos bons empregos e vivíamos a nossa versão do Taj Mahal. Isto foi antes de termos filhos, por isso dormíamos até às 10 horas ao fim de semana, dávamos caminhadas, almoçávamos, dormíamos uma sesta e saíamos para jantar. Era assim a nossa vida. Durante anos.
“Aquilo é que era vida! Melhor era impossível”, dizia eu à minha mulher.
“De que é que estás a falar?”, perguntou ela, “Estavas sempre mais ansioso, e provavelmente mais deprimido do que alguma vez estiveste.”
Obviamente, ela tinha razão.
Se eu recordar um pouco mais profundamente, eu era mesmo infeliz. Estava assoberbado com as ansiedades do início de carreira, aterrorizado com a possibilidade de falhar e preocupado com a iminência de ser despedido. E com boas razões: Eu era mau no meu emprego. Era inseguro. E receoso acerca da fragilidades das minhas relações.
Na minha cabeça, hoje, olho para trás e penso, “Eu era muito feliz naquela altura. Aqueles foram os meus melhores anos.” Mas na realidade, na altura, eu pensava, “Mal posso esperar que estes anos acabem.”
Há um ditado russo sobre a nostalgia: “O passado é mais imprevisível do que o futuro”. É muito comum que as memórias das pessoas acerca do passado se “desliguem” daquilo que as pessoas realmente estavam a sentir na altura.
Tenho uma teoria sobre o motivo pelo qual isto acontece: quando estudamos História, sabemos como a história acaba, o que torna impossível imaginarmos aquilo que as pessoas estavam a pensar e a sentir no passado.
Quando pensamos nas nossas próprias vidas, não nos recordamos como nos sentíamos no passado; lembramo-nos de como deveríamos ter pensado – com o que sabemos agora.
Recordo-me de me ter sentido muito mais feliz do que agora porque, ao recordar-me desses tempos, agora sei que a maior parte das coisas que eu receava nunca aconteceram. Não fui despedido, a minha carreira está ótima, as relações continuam fortes. Mesmo as coisas que eram duras e tiveram desfechos menos agradáveis, eu consegui superá-las.
Eu sei isso, agora.
Mas, na altura, não o sabia.
Por isso, quando olho para trás, vejo um miúdo que não tinha preocupações. Ainda que, nessa altura, não fizesse outra coisa que não preocupar-me.
É difícil recordar como nos sentíamos quando não sabemos como a história acaba.
Há um ditado russo sobre a nostalgia: “O passado é mais imprevisível do que o futuro”.
Perguntaram-me recentemente numa conferência como deviam os investidores sentir-se relativamente ao mercado acionista dado que basicamente ele subiu sempre nos últimos 15 anos.
O minha primeira reação foi: tem razão. Se tivesse começado a investir há 15 anos e consultasse a sua conta pela primeira vez, ficaria surpreendido. Ganhou uma fortuna.
Depois, pensei, espera um minuto. Subiu sempre nos últimos 15 anos? Parafraseando a minha mulher: De que é que estás a falar?
Vamos fazer de conta que o crash de 22% no verão de 2011 nunca aconteceu?
É suposto esquecermo-nos que as ações caíram mais de 20% em 2016 e novamente em 2018?
Vamos – bom dia? – fingir que a pior calamidade económica desde a Grande Depressão não aconteceu em 2020?
Que o sistema bancário europeu quase colapsou?
Que os salários estavam estagnados
Que a dívida americana sofreu um downgrade?
Estamos agora a esquecer-nos que praticamente em todos os momentos dos últimos 15 anos, pessoas inteligentes defendiam que o mercado estava sobrevalorizado, uma recessão estava perto, a hiperinflação estava ao virar da esquina, o país estava falido, os números eram manipulados, o dólar valia zero e por aí adiante?
Eu acho que esquecemos estas coisas porque agora sabemos como a história acaba: o mercado acionista subiu muito. Se mantivemos a nossa carteira, nenhum destes eventos teve importância. Por isso é fácil descontar – ou até ignorar – como nos sentíamos na altura. Olhamos para trás e pensamos, “Isto foi tão fácil, dinheiro de graça, o mercado subiu sempre.” Poucas pessoas, no entanto, se sentiram dessa forma durante os últimos 15 anos.
Muito do que importa no investimento – e isto é verdade para muitas das coisas da vida – é como gerimos a psicologia da incerteza. O problema de recordar o passado é que nada é incerto. Achamos que não havia nada com que nos devíamos preocupar, porque a maior parte das coisas com que nos preocupávamos acabou por passar.
“Devíamos ter sido felizes e calmos, porque tudo correu bem”, é o que dizemos ao nosso “eu” passado. Mas o nosso “eu” passado não fazia a mínima ideia de como as coisas iam acabar. A incerteza dita quase tudo no momento presente, mas, ao olhar para trás, fazemos de conta que a incerteza nunca existiu.
Muito do que importa no investimento é como gerimos a psicologia da incerteza.
A minha mulher e eu compramos recentemente uma casa nova. Tal como na maior parte do país, custou muito mais dinheiro do que custaria há uns anos.
Começamos a falar de como as casa eram baratas em 2009. Na nossa região, as casas custam, literalmente, quatro a cinco vezes mais do que custavam nessa altura – mais, as taxas de juro eram baixas em 2009 e havia uma infindável oferta de casas no mercado. Dissemos algo do género, “Que sorte que as pessoas tinham em 2009.”
Mas depois caímos em nós, “Espera aí, nós estamos nostálgicos pela economia de 2009?” Foi a pior economia em 80 anos. Só se dizia que tudo estava terrível. As casas eram baratas porque o desemprego estava nos 10% e o mercado acionistas tinha caído 50%.
Olhando para trás, sabemos que 2009 não foi apenas o fundo do mercado, mas também o início de um novo boom (ainda que com volatilidade). Mas não sabíamos disso na altura e isso deu-nos bastante com que nos preocuparmos – e hoje é fácil esquecermo-nos disso. O que nos pareciam riscos, hoje parecem oportunidades. O que sentíamos como perigos, hoje parecem-nos aventuras.
De uma forma similar, os americanos têm nostalgia pela vida nos anos 50. Vedações brancas, prosperidade da classe média, famílias felizes, uma economia em franco crescimento. Havia também o risco de aniquilação nuclear. Hoje sabemos que os mísseis nunca foram lançados. Mas as crianças no 5º ano que faziam simulacros de ataques nucleares e se agachavam debaixo das secretárias? Não faziam ideia e viviam neste medo, que é impossível de contextualizar hoje, uma vez que sabemos como a história acaba. Portanto, era óbvio que aquelas crianças não eram tão felizes como nós julgamos que eram.
Subscrevo algumas contas no Instagram dedicadas à nostalgia dos anos 90. Era uma criança nessa década, por isso adoro essas coisas. Os comentários nesses posts são, inevitavelmente, uma variação de: “Esses forma os melhores anos. O final dos anos 90 e início dos anos 2000 foram a melhor altura para estar vivo”. Talvez tivesse sido muito bom. Mas também tivemos: uma profunda recessão em 2001, uma eleição presidencial contestada, o 11 de setembro – que alterou completamente a forma como vivemos – duas guerras, uma recuperação económica lenta, e por aí adiante. É fácil esquecer tudo isto porque sabemos que a economia recuperou, as guerras acabaram e não sofremos mais nenhum grande ataque terrorista. No espelho retrovisor, tudo parece certo, mas na altura a incerteza reinava.
O que pareciam riscos, hoje parecem oportunidades. O que sentíamos como perigos, hoje parecem-nos aventuras.
Claro que as coisas poderiam ter acontecido de forma diferente. E para muitas pessoas – as que foram despedidas, ou perderam a casa, ou morreram numa guerra – a nostalgia por um tempo passado mais feliz é válida.
Mas tal como Thomas Jefferson disse, “Quanto dor nos custaram os males que nunca aconteceram?”
Parte da razão pela qual a nostalgia existe é porque, sabendo o que sabemos hoje, frequentemente recordamos o passado e dizemos, “realmente não tínhamos motivo para nos preocuparmos.” Adaptávamo-nos e seguíamos em frente. Esta não será uma lição importante quando olhamos para o futuro?
Compreender porque a nostalgia económica é tão poderosa – porque é quase impossível recordar o quão incertas as coisas eram no passado quando sabemos como a história acaba – ajuda a explicar aquilo que eu acredito ser a lição mais importante da história económica, que é verdadeira para a maioria das pessoas na maior parte do tempo:
O passado não foi tão bom como o recordamos. O presente não é tão mau como pensamos. O futuro será melhor do que prevemos.
Artigo publicado originalmente na revista EXAME de agosto de 2024
Às vezes, o pior inimigo está mesmo dentro de nós próprios e, no mundo do investimento, assume a forma de vários vieses, que devem ser controlados para tomarmos as melhores decisões.
O sucesso no investimento está mais correlacionado com a forma como nos comportamos do que com os conhecimentos que temos sobre mercados financeiros. Ter algum conhecimento, disciplina e paciência é o suficiente para que “as coisas” corram razoavelmente bem. Investir é simples, mas não é fácil.
Deixe-me apresentar-lhe dois investidores muito diferentes:
Richard Fuscone licenciou-se em Dartmouth e tem um MBA na Universidade de Chicago. Foi chairman da região Américas da Merrill Lynch. Reformou-se em 2000, para se dedicar a “interesses pessoais e filantrópicos”.
Grace Groner nasceu em1909, no Illinois, Estados Unidos da América, e ficou órfã aos12 anos. Iniciou a carreira durante a Grande Depressão. Trabalhou 43 anos na mesma empresa como secretária. Vivia numa casa modesta, viajou pelo mundo e nunca se casou.
Em 2010, estes dois investidores foram notícia por razões muito diferentes. Fuscone pediu proteção contra credores, para evitar que a sua mansão com 11 casas de banho, duas piscinas, dois elevadores e garagem para sete automóveis fosse penhorada pelo banco. Isto aconteceu após ter sido obrigado a vender a casa de férias na Flórida. Grace morreu com 100 anos. Foi notícia pelo facto de ter deixado uma pequena fortuna de cerca de 7 milhões de dólares à universidade em que tinha estudado, para financiar bolsas de estudo. Em 1935, Grace comprou três ações da empresa onde trabalhava, Abbott Laboratories, por 180 dólares. Nunca as vendeu e reinvestiu sempre os dividendos recebidos. Segundo o seu advogado, ao longo da vida fez doações para os mais necessitados da sua área de residência.
Seguramente, existem poucos campos de conhecimento em que a secretária de uma empresa farmacêutica pudesse ter mais sucesso do que um cirurgião, um piloto de aviões ou um engenheiro de programação. Grace conseguiu fazer melhor do que um reputado gestor de Wall Street.
Por que razão estas histórias são possíveis?
Psicólogos e neurocientistas descobriram duas características muito relevantes no processo de tomada de decisões. A primeira é que estamos programados para o curto prazo, o que torna a possibilidade de ganhos rápidos extremamente atrativa. A segunda é a nossa tendência para adotarmos comportamentos de rebanho. O sentimento de exclusão é sentido na mesma parte do cérebro que sente a dor física.
“É muito difícil imaginar que se possa desenvolver verdadeiro conhecimento na previsão do comportamento dos mercados acionistas. Não é possível, porque o mundo não é suficientemente regular para que as pessoas aprendam as regras” Daniel Kahneman
Inúmeros estudos mostram que os seres humanos, sem exceção, são afetados por desafios comportamentais (vieses comportamentais ou armadilhas mentais), que condicionam o nosso processo de tomada de decisões e que nos levam a ser muitas vezes o nosso pior inimigo.
Porque sofremos estes vieses?
Segundo Daniel Kahneman (prémio Nobel da Economia, em 2002), a melhor forma de perceber como o nosso cérebro funciona é imaginarmos que temos dois sistemas: o sistema X e o sistema C. O primeiro é comandado pela emoção, toma decisões de forma automática, sem fazer esforço. As decisões são baseadas na semelhança, na familiaridade e na proximidade temporal. O sistema C requer um esforço deliberado e tenta resolver os problemas através de uma abordagem lógica e dedutiva. Como qualquer processo lógico, verifica a informação, passo a passo. Para que o sistema C acredite em algo, precisa de provas. Todos nós julgamos que o sistema C é que comanda a nossa tomada de decisões. Na prática, o sistema X (e os vieses que produz) está muito mais no comando do que gostamos de admitir.
Alguns dos vieses mais perigosos que nos afetam quando investimos são:
Excesso de confiança
É a tendência para sobrevalorizar as nossas capacidades, o que pode resultar em excesso de trading, diversificação desadequada e levar-nos a ignorar riscos.
Confirmatório
Muitas vezes procuramos apenas a informação que confirma a nossa opinião. Infelizmente, os media e as redes sociais potenciam ainda mais este viés. Quando somos confrontados com informação que discorda connosco, temos a tendência para considerar que essa informação está enviesada.
Autoatribuição
Todos temos um sentido de autoestima relativamente frágil e um dos mecanismos-chave para o proteger é o viés da autoatribuição: a tendência para considerar que os bons resultados se devem à nossa habilidade e os maus ao azar. Para os investidores, este viés é uma das mais fortes barreiras à aprendizagem. Este mecanismo de defesa impede-nos de reconhecer os erros que cometemos e, assim, não aprendemos nada.
Experiência direta
É a tendência para dar mais peso às nossas experiências pessoais, em detrimento de estatísticas ou de experiências alheias. Algo que se passou connosco ou com alguém próximo assume demasiada importância na nossa tomada de decisão. A maioria dos portugueses acha que investir na bolsa é um jogo, devido às más experiências que tiveram.
Ancoramento
Quando confrontados com a incerteza, todos temos a tendência para nos agarrarmos ao irrelevante, como se fosse uma muleta ou uma âncora. Por exemplo, o preço a que compramos uma ação ou máximo de uma cotação impede-nos muitas vezes de tomar uma decisão de venda quando toda a informação disponível, racionalmente, levaria a essa decisão.
Retrovisor ou hindsight
“Eu já sabia” é um dos mais perigosos vieses que enfrentamos e refere-se ao facto de, após um evento ter tido lugar, estarmos convencidos de que sabíamos o que iria passar-se. A bolha tecnológica no final dos anos 90 ou a Crise Financeira de 2008/2009 são bons exemplos disso. Muitos dos que já sabiam estavam totalmente investidos.
Por que motivo esta informação é relevante no investimento?
Ter o temperamento adequado é mais importante do que ter um QI elevado. Os vieses emocionais que sofremos impelem-nos a cometer erros que afetam o nosso bem-estar financeiro. Estar alerta para estes vieses é o primeiro passo para nos prevenirmos e aprendermos a passar as nossas decisões por um processo dedutivo, bem estruturado e assente no conhecimento.
Para conseguirmos uma perspetiva ampla, é preciso cultivar a curiosidade e procurar orientação. Em 2012, na EXAME, escrevi o ensaio “Finanças Comportamentais”, em que abordo com maior pormenor este assunto. Apesar de o ter escrito há mais de 12 anos, mantém-se atual, porque a natureza humana nunca muda.
Em “The Little Book that Still Beats the Market”, Joel Greenblatt apresenta a sua fórmula magica para ter sucesso no investimento: comprar negócios excecionais quando estão baratos.Esta abordagem requer disciplina e tempo para esperar que o mercado reconheça o seu verdadeiro valor.
“No curto prazo, o Sr. Mercado determina o preço de uma ação baseado nas suas emoções, mas no longo prazo o que realmente importa é o valor intrínseco do negócio”
No livro, “The Little Book That Builds Wealth” (2008), Pat Dorsey explica-nos o que são vantagens competitivas e porque são determinantes para ter retornos no investimento a longo prazo.
“A menos que uma empresa tenha um fosso económico que proteja o seu negócio, a concorrência depressa chegará aos seus portões e corroerá os seus lucros. Wall Street está repleta de carcaças de empresas que foram de bestiais a bestas num piscar de olhos.”
Antes de 1870, a humanidade vivia em extrema pobreza, com um lento arrastar de inovação que não conseguia acompanhar o crescimento demográfico. Então irrompeu uma grande mudança: a inovação acelerou o passo, duplicando as nossas capacidades tecnológicas a cada geração e transformando completamente a economia, uma e outra vez. Os nossos antepassados assumiriam que teríamos utilizado tais poderes para construir uma utopia global. Mas não foi assim. Quando 1870-2010 terminou, o mundo acordou para o aquecimento global; depressão económica, incerteza e desigualdade; e a ampla rejeição do status quo. Slouching Towards Utopia, do economista Brad DeLong, conta a história de como ocorreu esta explosão de riqueza material sem precedentes, como ela transformou o mundo e por que motivo não nos conseguiu levar à utopia. De notável amplitude e ambição, este livro revela que o século passado não foi tanto uma marcha em direção ao progresso, mas sim um cambalear na direção certa.
The Perfection Trap, de Thomas Curran, professor da London School of Economics, explora como a busca pela perfeição pode tornar-se uma obsessão perigosa que leva ao esgotamento e à depressão - impedindo-nos de alcançar os nossos objetivos.Hoje, o esgotamento e a depressão estão em níveis recorde, impulsionados por uma combinação de intensa competição no local de trabalho e redes sociais opressivamente omnipresentes.A sociedade publicita continuamente a necessidade de querer mais e de ser perfeito.Nesta obra, Curran sugere introspecção e mudanças sociais mais amplas. Mostra-nos o que podemos fazer como indivíduos para resistir à pressão moderna de sermos perfeitos e, ao fazê-lo, conquistarmos para nós próprios uma vida com mais propósito.The Perfection Trap dirige-se a todos aqueles que já se sentiram oprimidos pela necessidade esmagadora competir para além de qualquer racionalidade.
Um guia em forma de manualPara que todos os clientes possam entender melhor a filosofia de investimento e como este processo de seleção é posto em prática, a Casa de Investimentos lançou, este ano, o Manual do Investidor. O livro é um guia e também uma promessa para todos os clientes e quer mostrar que temos uma filosofia de investimento bem estruturada. Só as melhores empresas servem, conforme explicou Emília Vieira, CEO e fundadora da Casa de Investimentos.O manual contém as linhas mestras do investimento, de um processo que passa por analisar profundamente estas empresas e fazer uma análise qualitativa, a história da empresa, os seus processos. Não há caminhos rápidos. E rápidos também não são os ganhos. É por isso que a gestora tem um foco de longo prazo, ignorando o ruído de curto prazo.Investir em ações não é um jogo de sorte e azar, realçou Emília Vieira, notando que todos nós somos vítimas dos nossos vieses comportamentais. Cada um valoriza a experiência que tem. Mas, nos últimos mais de 100 anos, o ativo que melhor rentabilizou o capital foram as ações.
Uma sondagem de 2020 concluiu que 60% das pessoas pensam que o ritmo de mudança nas suas vidas é muito rápido. As gerações anteriores, confrontadas com motores a vapor ou elevadores pela primeira vez, provavelmente também pensavam assim. Mas, segundo Azeem Azhar, analista de tecnologia e empresário, entramos de facto num período de mudança desestabilizadora e sem precedentes: uma era totalmente nova da sociedade humana e da organização económica a Era Exponencial.Azhar identifica a computação e inteligência artificial, eletricidade renovável e armazenamento de energia, biotecnologia e manufatura (por exemplo, a impressão 3D) como as áreas em que as inovações surgem a um ritmo exponencial: inventam-se e escalam-se novas tecnologias a um ritmo cada vez mais rápido, e simultaneamente, diminuem-se rapidamente os preços.O problema é que, embora a mudança tecnológica esteja a acelerar rapidamente, a nossa sociedade evolui a um ritmo mais gradual e incremental. Resultado? Está a abrir-se uma divisão entre a tecnologia e a sociedade, a denominada, segundo Azhar, lacuna exponencial.Temos vindo a inventar novas tecnologias desde os tempos dos machados de pedra e das pás de madeira. De acordo com Azhar, no entanto, temos muita dificuldade como espécie em compreender a mudança exponencial: As nossas mentes evoluiram para um mundo que ainda não tinha descoberto o poder da mudança rápida.No entanto, indivíduos e empresas ignoram esta mudança rápida por sua conta e risco. Em 2007, Steve Ballmer, da Microsoft, descreveu o iPhone, dizendo: Isto não tem a mínima hipótese de ganhar quota de mercado significativa. Como Azhar observa: Ballmer caiu na lacuna exponencial.Segundo Azhar existe agora um abismo de incompreensão mútua entre os tecnólogos e o resto da sociedade. Os políticos mostram muitas vezes uma profunda ignorância até mesmo das tecnologias mais básicas: Eles são como pessoas que tentam abastecer um carro enchendo a bagageira com feno.Azhar é assumidamente otimista quanto ao poder da tecnologia: Estamos a entrar numa era de abundância. O primeiro período da história humana em que a energia, comida, computação e muito mais serão trivialmente baratos de produzir.
Nesta obra, John Kay, escreve: O setor financeiro cresceu em demasia, distanciou-se dos negócios normais e da vida quotidiana e transformou-se numa indústria que, na maior parte das vezes, faz negócios consigo própria, fala sozinha, e julga-se a si mesma com os padrões que ela própria criou. E o mundo cá fora adotou esses padrões, salvando as instituições financeiras que nos falharam com a sua ganância e incompetência.Numa análise crítica ao que se tornou o negócio do setor financeiro, Kay realça que o livro pretende apresentar um plano provisório para as autoridades se prepararem para a próxima crise. É hora de voltar ao trabalho: o negócio sério e responsável de gerir o dinheiro das outras pessoas.
O que quer que a liberdade financeira signifique para nós viver a vida que quisermos, não trabalhar de acordo com os horários dos outros, ser dono do nosso destino ou qualquer outro sonho a forma de a atingir é investir.Neste livro conciso e acessível, Ben Carlson e Robin Powell mostram como tomar o caminho da liberdade financeira através da poupança e do investimento.Não se trata de ficar rico de um dia para o outro. Criar riqueza através do investimento com o objetivo de longo prazo da liberdade financeira exige disciplina, sacrifício e tempo.Mas é possível, e quase qualquer um pode fazê-lo, se munido das informações corretas.Invest Your Way to Financial Freedom partilha connosco todas as etapas que precisamos de seguir para alcançar os nossos objetivos e inclui respostas claras e simples para as seguintes perguntas:Porque é que poupar é importante?Porque é que investir é a melhor forma de criar riqueza?O que podem os investidores esperar do mercado de ações?É tarde demais se não começarmos cedo a poupar e a investir?
Os nossos objetivos pessoais precisam de uma estratégia de longo prazo.Assim como alguns CEOs privilegiam os lucros trimestrais em detrimento dos investimentos estratégicos necessários para o crescimento de longo prazo, o mesmo acontece nas nossas vidas pessoais e profissionais.Todos sabemos intelectualmente que o sucesso duradouro exige persistência e esforço. No entanto, a pressão implacável omnipresente no mundo moderno leva-nos a escolher o que parece fácil, garantido ou o que está na moda.Em The Long Game, Dorie Clark defende um caminho diferente. Clark partilha princípios que podemos aplicar à nossa situação específica, bem como histórias da sua própria carreira e experiências de outros profissionais. Todos temos as mesmas vinte e quatro horas, mas com as estratégias certas, podemos aproveita-las de forma mais eficiente.Este não é um processo que dará resultados da noite para o dia, mas a recompensa a longo prazo é imensa.
Qualidade. Todos nós fazemos diariamente julgamentos sobre a qualidade. No entanto, articular uma definição clara de qualidade no contexto do investimento é um desafio. Este livro aborda esse desafio e destila anos de experiência prática de investimento numa sistematização definitiva desta filosofia de investimento.A teoria financeira afirma que os resultados anormais não perduram, que o desempenho excecional rapidamente se tornará mediano. Investir em qualidade implica procurar empresas com os atributos certos para superar essas forças de reversão à média e, mais importante, investir nessas excelentes empresas para o longo prazo.Este livro aponta e analisa as características que aumentam as probabilidades de uma empresa ter sucesso ao longo do tempo - bem como aquelas características que impedem esse sucesso. Ao longo do livro são abordadas uma série de fascinantes casos de estudo reais que ilustram os traços que significam qualidade.
Numa mistura inovadora de ciência e imaginação, o ex-líder da Google China e um dos mais importantes escritores de ficção especulativa unem forças para responder a uma pergunta: como vai a inteligência artificial mudar o nosso mundo nos próximos vinte anos?A IA vai definir o século XXI, mas muitas pessoas sabem muito pouco sobre ela, exceto as visões de robots distópicos ou carros voadores. Embora o termo exista há já meio século, é só agora, defende Kai-Fu Lee, que a IA está prestes a revolucionar a nossa sociedade, tal como tecnologias como a eletricidade e smartphones o fizeram antes. Nos últimos cinco anos, a IA mostrou que pode aprender jogos como o xadrez em poucas horas - e vencer sempre os humanos . A IA ultrapassou os humanos no reconhecimento de fala e objetos, superando até mesmo os radiologistas nos diagnósticos do cancro do pulmão. Dentro de duas décadas, teremos dificuldades em reconhecer a vida cotidiana.Neste livro provocador que alia a narrativa especulativa e a ciência, Lee, um dos maiores especialistas em IA do mundo, juntou-se ao célebre escritor Chen Qiufan para revelar como a IA vai invadir todos os aspectos do nosso mundo, em 2041.
Um livro profundamente relevante de um dos principais escritores financeiros do mundo, The Price of Time explica a situação financeira global atual e como aqui chegámos.No início era o empréstimo, e o empréstimo tinha juros. Há pelo menos cinco mil anos que as pessoas pedem dinheiro emprestado e emprestam dinheiro com juros. Esta prática nem sempre foi popular no mundo antigo, a usura era geralmente vista como exploradora, um caminho potencial para a servidão e escravidão.No entanto, à medida que o capitalismo se estabeleceu a partir do final da Idade Média, as críticas aos juros foram sendo atenuadas porque os juros eram uma recompensa essencial para que os credores aplicassem o seu capital. E o juro desempenha muitas outras funções vitais: incentiva as pessoas a poupar; permite que valorizem ativos preciosos, tais como casas e todos os tipos de títulos financeiros; e permite-nos pôr um preço no risco.Todas as atividades económicas e financeiras acontecem ao longo do tempo. O juro é frequentemente descrito como o preço do dinheiro, mas na realidade é melhor descrito como o preço do tempo: o tempo é escasso, o tempo tem valor, o juro é o valor do dinheiro no tempo.Nas duas primeiras décadas do século XXI, as taxas de juros caíram mais do que nunca. O dinheiro fácil após a crise financeira global de 2007/2008 causou vários efeitos nefastos, incluindo o aparecimento de várias bolhas de preços de ativos, um abrandamento no crescimento da produtividade, desencorajando a poupança e exacerbando a desigualdade e forçando investidores sedentos por rendimento a assumir riscos excessivos.O mundo financeiro encontra-se agora num lugar difícil e Edward Chancellor está aqui para nos explicar porquê.
Este livro defende que as forças subjacentes da demografia e da globalização farão em breve reverter três tendências globais de várias décadas a inflação e as taxas de juros vão subir, mas levarão a um retrocesso na desigualdade.O que quer que o futuro reserve, argumentam os autores, nada será como o passado.Os ventos deflacionários das últimas três décadas devem-se principalmente a um enorme aumento na oferta de mão de obra disponível no mundo, devido a tendências demográficas muito favoráveis ??e à entrada da China e da Europa Oriental no sistema comercial mundial.Este livro mostra como estas tendências demográficas estão prestes a reverter-se drasticamente, coincidindo com um recuo da globalização.O resultado? Pode-se esperar que o envelhecimento aumente a inflação e as taxas de juros, trazendo uma série de problemas para uma economia mundial superendividada, mas também deverá aumentar a participação do trabalho, de modo que a desigualdade diminua.Abarcando muitos fatores sociais e políticos, bem como aqueles que são mais puramente macroeconômicos, os autores abordam temas como envelhecimento, demência, desigualdade, populismo, aposentadoria e financiamento de dívidas, entre outros. Este livro merece a atenção de qualquer pessoa que esteja interessada em saber para onde vai a economia mundial.
A sugestão de hoje surge-nos de Hugo Palma, informático de profissão e formação, filósofo e desportista por paixão, inconformado com o desinteresse por natureza. Leitor de menos livros de ficção do que por vezes gosta de admitir, mas os temas não ficcionais ganham quase sempre na constante batalha do próximo livro a atacar."O otimista diz O copo está meio cheio. O pessimista diz O copo está meio vazio. O racionalista diz Este copo é o dobro do tamanho que precisa de ser.Para muitos filosofia é sinónimo de algo desprovido de aplicação prática, uma ciência romântica da qual pouca utilidade poderá ser espremida. Proponho que repensem a filosofia como a base para toda a lógica argumentativa mas sem perder de vista o sentido de humor e a capacidade de rir de nós próprios. Neste livro são abordados conceitos basilares da filosofia antiga através de pequenas histórias e anedotas numa voz livre de preconceitos e classicismos. Se filosofia sempre foi aquele tema que pareceu aborrecido ou se simplesmente quer uma resumida e divertida passagem pelos principais filósofos antigos, este é o livro para si."
Mais uma obra-prima de um dos meus autores favoritos. . . Se procura saber mais sobre muitas das forças fundamentais que moldam a vida humana, este é o livro a ler. É um tour de force Bill Gates Nunca tivemos tanta informação ao nosso alcance e, no entanto, a maioria de nós não sabe como o mundo realmente funciona. Este livro explica sete das realidades mais fundamentais que governam a nossa sobrevivência e prosperidade. Desde a produção de energia e alimentos, passando pelo mundo material e pela globalização, até aos riscos que ameaçam a nossa civilização, o meio ambiente e o seu futuro, How the World Really Works oferece-nos uma verificação de realidade muito necessária no fim de contas, antes de podermos enfrentar os problemas de forma eficaz, temos que compreender os factos.Neste livro ambicioso e provocador, vemos, por exemplo, que a globalização não é inevitável - os perigos de permitir que 70% das luvas de borracha do mundo sejam fabricadas em apenas uma fábrica tornaram-se evidentes em 2020 - e que as nossas sociedades têm vindo a aumentar cada vez mais a sua dependência dos combustíveis fósseis, tornando cada vez mais improvável a sua completa e rápida eliminação. Por exemplo, cada tomate cultivado em estufas exige, para a sua produção, o equivalente a cinco colheres de sopa de gasóleo; e ainda não temos formas comercialmente viáveis ??de fabricar aço, amónia, cimento ou plástico, à escala exigida globalmente, sem combustíveis fósseis.Vaclav Smil não é pessimista nem otimista, é um cientista; ele é o perito líder mundial em energia e um polímata surpreendente. Com base na ciência mais recente, Smil responde à pergunta mais profunda dos nossos tempos: estamos irrevogavelmente condenados ou espera-nos uma utopia mais brilhante? Convincente, rica em dados e revisionista, esta obra-prima interdisciplinar encontra falhas em ambos os extremos. Olhar o mundo através desta lente quantitativa revela verdades ocultas que alteram a forma como encaramos o nosso passado, presente e futuro incerto.
Por ocasião das eleições presidenciais americanas, recomendmos a leitura de Washington: A Life.Um retrato emocionante do primeiro presidente dos Estados Unidos pelo autor de Alexander Hamilton, a biografia mais vendida do New York Times que inspirou o musical.O célebre biógrafo Ron Chernow fornece um retrato ricamente matizado do primeiro presidente dos Estados Unidos. Com uma profundidade única, esta vívida narrativa transporta o leitor aos seus primeiros anos de aventura, as suas façanhas heróicas com o Exército Continental durante a Guerra Revolucionária, a sua presidência da Convenção Constitucional e sua desempenho como presidente. Chernow destrói o mito de George Washington como uma figura impassível e sem emoção e traz à vida um homem arrojado e apaixonado de opiniões inflamadas e muitos humores.
Vaclav Smil é um dos autores favoritos de Bill Gates.A sua última obra, Growth - From Microorganisms to Megacities, é alvo de uma entusiástica recomendação do fundador da Microsoft.Leia-a aqui
A economia americana moderna foi criada por quatro homens: Andrew Carnegie, John D. Rockefeller, Jay Gould e J. P. Morgan. Eles foram os gigantes da Era Dourada, um momento de crescimento desenfreado que confirmou a América como o país mais rico, inventivo e produtivo do planeta.Charles R. Morris descreve vividamente os homens e os tempos em que viveram. O cruel e competitivo Carnegie, o imperial Rockefeller e o provocador Gould eram obcecados pelo progresso, experiências e velocidade. Eles foram contrabalançados por Morgan, o cavalheiro empresário, que lutava pela confiança global nos negócios americanos.Com o seu antagonismo e entusiasmo, eles construíram um gigante industrial - e um país de consumidores de classe média. The Tycoons conta a incrível história de como estes quatro homens determinados puxaram a economia para a era moderna, inventando uma nação de plena participação económica que, apenas algumas décadas antes, não poderia ter sido imaginada.
"Nos últimos tempos, tem-se falado muito sobre prestar atenção ao nosso corpo e à nossa mente através da mindfulness, que é uma adaptação moderna da meditação que Buda ensinou há dois milénios e meio. Assim como aqueles que meditam estão cientes de cada respiração para viverem uma vida plena sem serem arrastados pelo caos, a saúde das nossas finanças pessoais também depende do nível de atenção que lhes damos. Nesse sentido, escrevi o livro Money Mindfulness (consciência do dinheiro) como uma via direta para deixarmos de ser esmagados por algo que foi criado para nos ajudar. Ao entendermos o dinheiro e nos responsabilizarmos por ele, assumimos as rédeas das nossas vidas. E isso permite-nos ser livres, independentemente de termos muito ou pouco. Não tem nada a ver com o que possuímos, mas com a atenção que damos ao dinheiro, assim como a pessoa que medita faz com o ar que passa pelas suas narinas.O método que proponho combina a atenção plena com os segredos dos homens e mulheres de negócios com maior sucesso no mundo. Aprenderemos a gerar, economizar e fazer crescer o nosso dinheiro, através de nove leis e pequenos hábitos diários, aplicáveis a todos, que se tornam uma excelente preparação para grandes decisões. As três primeiras leis são sobre como gerar dinheiro. As três seguintes ajudam-nos a poupá-lo. As três últimas são sobre como fazê-lo crescer. Nunca devemos esquecer que muitas coisas que nos fazem felizes não podem ser compradas com dinheiro, mas, para desfrutá-las, precisamos de duas coisas: tempo e serenidade. E ambos dependem da saúde de nossas finanças, crescendo silenciosamente, sem desperdício ou investimentos malucos, enquanto capturamos o melhor da vida."Cristina Benito é economista e graduada do Company Executive Program da IE Business School. Trabalhou nos últimos 20 anos como consultora financeira da Morgan Stanley e também como auditora do Governo da sua região autónoma.Viajou por cinquenta países para encontrar novas formas de progredir na vida quotidiana.Os media afirmam que é a Marie Kondo das finanças pessoais. Coloque ordem no seu bolso e você colocará ordem na sua vida, poderia dizer-se. Isto deve ter algo de verdade, uma vez que o livro Money Mindfulness desta autora de Rioja, que atualmente reside em Lisboa após uma longa estadia em Londres, foi reeditado apenas alguns dias após o seu lançamento e já foram assinados os respetivos direitos de tradução para vários países, como França, Itália , Grécia, Brasil, Portugal e Polónia.
Em Richer, Wiser, Happier, William Green, jornalista financeiro que já escreveu para a Time, Fortune, Forbes e The New Yorker, partilha connosco entrevistas que conduziu ao longo de 25 anos a muitos dos maiores investidores do mundo. Os investidores mais bem-sucedidos são rebeldes e iconoclastas que questionam a sabedoria convencional e lucram com a sua capacidade de pensar de forma mais racional, rigorosa e objetiva. Tal como Green explica, os melhores investidores podem ensinar-nos não apenas como ganhar dinheiro, mas também como melhorar a forma como pensamos, tomamos decisões, avaliamos riscos, evitamos erros dispendiosos, construímos resiliência e utilizamos a incerteza a nosso favor.Green apresenta-nos mais de quarenta superinvestidores, visitando-os nos seus escritórios, casas e até mesmo nos seus locais de culto. Richer, Wiser, Happier reúne o pensamento de muitas das maiores mentes do investimento, de Sir John Templeton a Charlie Munger, Jack Bogle a Ed Thorp, Will Danoff a Mohnish Pabrai, Bill Miller a Laura Geritz, Joel Greenblatt a Howard Marks. Ao explicar como eles pensam e por que ganham, este livro fornece-nos lições que nos enriquecerão, não apenas financeiramente, mas também profissional e pessoalmente.
Lidar com o dinheiro tem mais a ver com a forma como nos comportamos do que com aquilo que sabemos. E este comportamento é muito difícil de ensinar, mesmo a pessoas realmente inteligentes.O dinheiro - investimentos, finanças pessoais e decisões de negócios - é ensinado como algo baseado na matemática, onde os dados e as fórmulas nos dizem exatamente o que fazer. Mas, no mundo real, as pessoas não tomam decisões financeiras com base no Excel. Tomam-nas à mesa de jantar ou numa sala de reuniões, onde a história pessoal, a sua visão única do mundo, ego, orgulho, marketing e incentivos estranhos se misturam.Em The Psychology of Money, Morgan Housel, presença assídua nas nossas newsletters, partilha 19 histórias que exploram as formas peculiares como as pessoas pensam sobre dinheiro e ajuda-nos a compreender melhor um dos tópicos mais importantes das nossas vidas. Howard Marks, a propósito de Morgan Housel, diz, As observações de Housel atingem um duplo alvo: dizem coisas que nunca antes forma ditas e que fazem sentido.
Don't Fall For It de Ben Carlson, presença assídua nas nossas newsletters, explora algumas das maiores fraudes financeiras e mais bem-sucedidos charlatões, golpistas e vigaristas de todos os tempos. Estas histórias reais incluem os relatos de como essas fraudes foram levadas a cabo e discussões sobre o que podemos aprender com elas. Partilhando lições que se aplicam a negócios, gestão de dinheiro e investimentos, este livro responde a questões, tais como: Por que motivo até os mais inteligentes de nós caem vítimas de golpes financeiros? O que torna os vigaristas bem-sucedidos? Por que motivo é mais difícil permanecer rico do que enriquecer? A História está repleta de fraudes e esquemas financeiros sensacionais. A Enron foi forçada a declarar falência após alegações de fraude contabilística maciça, destruindo 78 mil milhões de dólares de capitalização bolsista. Bernie Madoff, o maior charlatão individual da história, construiu um esquema de Ponzi de 65 mil milhões de dólares que resultou numa condenação a uma pena de prisão de 150 anos. Não importa se é um agricultor que anseia por uma cura milagrosa ou uma estrela de Hollywood que procura um lucro rápido - ninguém é imune a ser enganado quando há dinheiro envolvido.
Escrito num estilo direto e realista, Invent and Wander oferece aos leitores uma lição sobre valores de negócios, estratégia e execução:? A importância de uma mentalidade de pioneiro? Por que razão é tudo uma questão de longo prazo? O que significa realmente ser obcecado pelo cliente? Como começar novos negócios e criar um crescimento orgânico significativo numa empresa já bem-sucedida? Por que motivo a cultura é um imperativo? Como a disposição para falhar está intimamente ligada à inovação? O que a pandemia Covid-19 nos ensinouTodos, desde CEOs a empreendedores que acabaram de abrir uma loja, até aos milhões que utilizam os produtos e serviços da Amazon nas suas casas ou empresas, compreenderão os princípios que impulsionaram o sucesso de um dos inovadores mais importantes de nosso tempo.
No mundo dos investimentos, o nome Warren Buffett é sinónimo de sucesso e prosperidade com este livro, o leitor pode aprender como Warren Buffett conseguiu isso e como ele também pode conseguir.Construindo do zero, Buffett escolheu as suas ações sabiamente e com cuidado, por sua vez acumulando a enorme fortuna pela qual agora é famoso. Mary Buffett, ex-nora deste lendário génio financeiro e uma empresária de sucesso por seus próprios méritos, juntou-se ao famoso Buffettologist David Clark para criar Buffettology, um guia de investimento único que explica as estratégias vencedoras do mestre.
Nesta edição da nossa Newsletter, partilhamos a sugestão de Carlos Lucena, Presidente do Conselho de Administração da TELLES.ESTRADA LESTE-OESTEO livro Estrada Leste-Oeste, de Philippe Sands, mereceu a minha escolha para efeitos de um breve comentário neste local, depois de inicialmente ter estado perto de fazer a minha opção pelo livro Le Naufrage des Civilizations de Amin Maalouf . Um e outro contribuíram de forma decisiva para o meu ano de 2019.Philippe Sands é um brilhante advogado inglês exercendo a sua atividade internacionalmente na área dos direitos humanos, que escreve maravilhosamente, neste livro, a propósito dos Julgamentos de Nuremberga, subsequentes ao final da segunda guerra mundial, a história da sua família.Nesse contexto, evidencia um profundíssimo conhecimento da evolução da europa central nos anos decisivos posteriores à grande guerra de 1914/1918 e até ao período da guerra fria, relata espantosamente episódios terríveis do período nazi, distingue claramente as realidades inglesa e americana, com relevo para o setor do ensino, evidencia um controlo rigoroso de noções jurídicas como as de crime contra a humanidade e de crime de genocídio, difíceis de precisar e hoje ainda mundialmente tão relevantes, descreve parte importante dos referidos julgamentos, cuja importância na história do direito nunca é demasiado sublinhar, tratando-se da primeira vez que um conjunto de responsáveis por um país foram julgados pelo seu papel durante uma guerra, ao mesmo tempo que descreve o percurso da sua família, cujos membros, por serem judeus, tiveram, em diferentes campos de concentração, o destino trágico que milhões de outras pessoas conheceram.Tudo isto Philippe Sands descreve de uma forma elevada, rigorosa e escrupulosa, revelando um grande conhecimento dos homens e dos seus comportamentos, nas diferentes circunstâncias em que são chamados a viver, descrevendo objetivamente o percurso de famílias judias perseguidas e de famílias dos seus perseguidores, da história da segunda grande guerra, fazendo refletir o depoimento de filhos dos condenados de Nuremberga, tudo com recurso aos meios tecnológicos hoje ao nosso dispor, que só eles permitiram reconstituir a passagem por diferentes e longínquas partes do mundo de um conjunto vasto de pessoas que se cruzaram com os seus avós.Fica bem claro, quando se lê um livro como a Estrada Leste-Oeste, que o bem e o mal não são noções subjetivas, que há um critério comum dos mesmos que não pode deixar de reger os humanos e que, hoje, apesar de muitos anos decorridos desde que conhecemos a verdade da guerra de 39-45, há estradas como aquela que está na origem do nome desta obra que estão todos os dias a ser percorridas por seres humanos e que continuam a separar civilizações e comunidades.Leiam o livro!Recomendação de leitura por Carlos LucenaCarlos Lucena é sócio fundaddor da Telles desde 1992, foi seu Managing Partner até 2016 e é atualmente Presidente do Conselho de Administração. Intervém essencialmente nas áreas de Direito Comercial e Societário, Corporate Governance e Imobiliário. Tem grande experiência no acompanhamento de empresas familiares, family offices e de famílias ligadas a empresas. É Licenciado em Ciências Jurídico-Económicas pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (1983).
Poupar é ter a liberdade para decidir, para sermos mais donos do nosso destino. Poupar é cool.
"Não poupe o que sobra depois de gastar, gaste o que sobra depois de poupar"
Warren Buffett
Falar de poupança não é cool. É coisa para velhos, gente ultrapassada ou pessimistas. Cool é dizer-lhes que podem ter o que quiserem, que merecem tudo, o melhor e já.
Nas últimas décadas, os portugueses, e muitos cidadãos do mundo, esqueceram como se poupa e esqueceram a importância de criar e manter uma "almofada" para tempos mais incertos, para um contratempo, para a doença, para a perda de emprego, para a reforma.
Muitos esqueceram-se da importância de ser livre para tomar decisões, para sonhar com um futuro melhor para si, para os seus e assumir o controlo sobre o seu destino: poupar para a educação dos filhos, para cumprir com um desejo de longa data, para poder deixar um emprego que não se gosta e criar o seu próprio negócio, para se sentir mais protegido e independente ou simplesmente para deixar um legado para a geração seguinte.
É difícil poupar: os salários são baixos, as solicitações são muitas e todos os dias nos querem vender alguma coisa, procuramos satisfação imediata e consumir mais hoje, ao invés de aumentar a nossa capacidade de poder consumir mais no futuro. Não poupamos, consumimos muitas vezes pedindo emprestado ao que vamos ganhar no futuro, sem sabermos como este será. Cada crise mais acentuada relembra-nos a necessidade de poupar, mas não o fazemos com consistência, com disciplina. Não temos hoje os sábios hábitos de poupar todos os dias e esquecemos que um euro poupado todos os dias serão muitos ao longo dos anos.
Benjamin Franklin estava certo quando escreveu: "A Felicidade Humana é produzida, não tanto por grandes Pedaços de boa Fortuna que acontecem raras vezes, mas sim por pequenas Vantagens que ocorrem todos os dias".
A maior de todas as "pequenas Vantagens que ocorrem todos os dias" é o simples ato de poupar dinheiro. Isso, por sua vez, exige que prestemos mais atenção para onde vai o nosso dinheiro, e porquê, e se o estamos a gastar com sensatez e a poupar o suficiente. Não é possível cortar as nossas despesas de forma consistente e sistemática se não soubermos quais são.
De cada vez que gastamos dinheiro em algo que não nos dá um rendimento, estamos a sacrificar o nosso futuro financeiro. Warren Buffett usa uma regra básica multiplicando por 10 o custo da despesa em que incorremos para determinar quanto estamos a sacrificar na reforma. Poupar primeiro tem a grande vantagem de eliminar uma das atividades financeiras mais impopulares que é orçamentar despesas.
Nas últimas semanas, o abrandamento económico e a possibilidade de uma recessão tomam conta das preocupações. Muitos julgam que é possível encontrar ativos mágicos que na recessão não recuam de preço. Não é. Numa recessão, os ativos poderão, de forma quase generalizada, valer menos se precisarmos de os converter em dinheiro. Do mesmo modo, para quem vive e trabalha em Portugal, se houver uma recessão, o nosso trabalho também poderá valer menos. O valor das nossas habilitações depende em larga medida do local e da altura em que vivemos e da saúde da economia nacional que o rodeia. Tal como um bear market (mercado em queda) tende a arrastar o valor de quase todas as ações, uma economia em dificuldades deprime o valor do capital humano de quase todos aqueles que vivem nesse país.
Numa nota pessoal, devo dizer que tive muita sorte. Nasci numa aldeia onde, na década de setenta e oitenta, se ensinava aos filhos e aos netos que devemos poupar para a velhice, para a doença ou um "azar": não se deve gastar tudo o que se ganha e tostão poupado é tostão ganho.
É preciso motivar os mais novos para a poupança, criar hábitos que os acompanhem para a vida. É preciso quebrar este ciclo vicioso de queda na taxa de poupança das famílias, hoje em mínimos de sempre.
Poupar é ter a liberdade para decidir, para sermos mais donos do nosso destino. Poupar é cool.
Os mercados financeiros oferecem muitas tentações aos investidores vulneráveis. É fácil cometer erros, especular em vez de investir.
Há muitos anos, encontrei um pequeno livro numa livraria em Charing Cross chamado "Money, Misery and Madness". No capítulo Sabedoria depois do acontecimento, surgia uma citação muito apropriada para o que escrevo hoje: "o preço das ações pode subir como também pode cair".
Esta citação será mais útil aos investidores do que as inúmeras previsões que grande parte das instituições financeiras e tantos comentadores de televisão levam a cabo nas últimas semanas de cada ano apenas, para uns meses depois, as reformularem ou justificarem por que motivo não se materializaram. 2019 encarregou-se, mais uma vez, de demonstrar a incapacidade do ser humano para prever o futuro.
A nossa capacidade para prever o curto prazo é zero
Não fazemos a mais pequena ideia de como se vão comportar os mercados financeiros daqui a um mês, um ano ou dois. Não sabemos que setores vão subir, em que geografias "apostar" ou sequer se o ano vai ser positivo. Podemos, no entanto, encarar como natural que os resultados obtidos em 2019 afetarão a forma como os investidores vão encarar os mercados em 2020. O viés da recência afeta-nos a todos de uma forma ou doutra. Os investidores, com base na performance de 2019, estarão excessivamente confiantes. Outros, porque falharam grandes ganhos, serão mais tímidos. Tendemos a utilizar a nossa experiência recente como ponto de partida para o que ocorrerá no futuro. Temos ainda a tendência de dizer "eu já sabia" após um evento ter acontecido, criando a nós próprios a ideia que sabíamos o que se iria passar. Isto faz com que não aprendamos nada com os erros que cometemos.
O foco no curto prazo e a fixação de tentar prever o imprevisível distrai os investidores do essencial - o valor dos ativos e o rendimento que produzem.
O investimento deve garantir a segurança do capital e um retorno satisfatório. Seguir uma filosofia de investimento focada no valor, no que o negócio produz, na previsibilidade dos seus cash-flows, na durabilidade das suas vantagens competitivas a longo prazo é a estratégia mais objetiva para criar riqueza.
Matriz dos Nossos Investimentos:
- Só compramos ações de empresas de grande qualidade, quando estão baratas: exigimos um desconto substancial face ao valor que julgamos justo.
- Só vendemos quando o preço se aproxima do valor justo, quando temos oportunidade de investir num negócio de igual qualidade, mas com maior potencial de valorização ou quando cometemos um erro de avaliação.
- Não temos receio de estar totalmente investidos e ver o nosso futuro financeiro alinhado com o sucesso de alguns dos melhores negócios do mundo. A aposta no engenho humano, na capacidade de algumas centenas de empresas produzirem riqueza e conquistarem ganhos de produtividade são a verdadeira razão porque os ricos ficam mais ricos.
Como Evitar o Azar e Estimular a Sorte?
Focamos a nossa atenção no que conseguimos fazer bem: avaliamos os ativos em que queremos estar investidos e ignoramos todo o ruído que se gera à volta dos mercados onde os conflitos de interesse e o curto prazo tomam conta das emoções e reações dos investidores. O que dita a nossa decisão de comprar ou vender é o valor.
Imagine um investidor "Sortudo" que conseguiu antecipar a crise financeira e em outubro de 2007, nos máximos de mercado, vendeu todas as ações que tinha e colocou todo o seu dinheiro em obrigações seguras do governo americano. Considere ainda um investidor "Azarado" que fez o contrário, comprou nos máximos de 2007 e viu o seu investimento desvalorizar o mesmo que o maior índice de ações do mundo, o S&P500: cerca de 55%.
O "Sortudo" terá recebido em média, ao longo dos últimos cerca de 12 anos, 3,8% ao ano (taxa média das obrigações de tesouro americano), num retorno total acumulado de 57%. O "Azarado", desde os máximos de 2007, viu a sua carteira de investimentos valorizar 160%, ou seja, cerca de 8,2% ao ano. Lembre-se que o "Azarado" comprou no máximo de 2007 e suportou um recuo no seu investimento de cerca de 55%. Desde esse mínimo, o S&P 500 subiu 475%.
Não foi preciso acertar no mínimo ou adivinhar seja o que fosse. Foi necessário manter a calma, ter a convicção do que tinha em carteira e aguentar as opiniões contrárias, as previsões pessimistas e não precisar dos valores investidos nesta carteira para fazer face a algum contratempo ou despesa inesperada que tenha surgido. Esta não foi uma tarefa fácil e muitos sucumbiram no processo.
Ao estudarmos o que alguns dos melhores investidores do mundo fizeram ao longo de décadas, constatamos que os fatores mais importantes são o tempo que permanecemos no mercado e a capacidade para manter uma estratégia de valor de longo prazo.
A Longa Curva da Prosperidade
Só devemos investir em ações se pudermos estar investidos 5 ou 10 anos e tivermos o temperamento para ver os mercados recuar 30 ou 40%. Ou seja, faça o que deve fazer sempre: saiba o que está a comprar, compre com desconto e espere pelos resultados. O tempo trabalhará a seu favor, como mostra o gráfico tendo em conta o comportamento dos mercados nos últimos 92 anos.
Como investir para os próximos anos?
Os mercados americanos estão em máximos. Para muitos é mais um receio a vencer. Em quem confiar com tanta "informação" (ruído) disponível?
Há vários anos que tomámos a decisão de não escrever publicamente sobre os investimentos que fazemos. Fazemo-lo em cartas trimestrais dirigidas aos nossos Clientes. Contudo, a título excecional, falo hoje de 5 títulos em que investimos nos últimos 18 meses: Alphabet, Amazon, Alibaba, Disney e Tencent e com os quais eu, como acionista, estaria confortável mesmo que os mercados financeiros fechassem um par de anos (note que isto não significa que possam ser bons investimentos para o próximo ano ou mais e que fazem parte de uma carteira de investimentos diversificada por setores e geografias).
Estes 5 negócios têm grandes vantagens competitivas, são difíceis de replicar e ganham retornos acima da média para os acionistas. Em todos eles, reconhecemos a transformação que tem sido feita nas últimas duas décadas: até 1999, os Estados Unidos não incluíam o software nos cálculos do PIB. Em 2006, a Microsoft era a empresa mais valiosa do mundo, com uma capitalização bolsista de 250 mil milhões de dólares. No seu balanço, constavam 3 mil milhões de dólares de ativos tradicionais, pouco mais de 1% do seu valor de mercado. O valor restante era justificado pelo design de produtos, ideias geradas pelo seu programa de Investigação & Desenvolvimento (I&D), a sua marca, a cadeia de fornecimento global, estruturas internas e o capital humano criado com a formação interna.
Atualmente, o PIB americano ainda não inclui investimentos em pesquisas de mercado, branding e formação - ativos intangíveis em que as empresas investem vários milhares de milhões de dólares todos os anos. Esta é a nova economia e a percentagem destes investimentos na economia mundial não para de crescer.
Estas empresas podem gastar muito dinheiro no desenvolvimento da primeira unidade de um programa novo, de um produto ou serviço. No entanto, cada unidade adicional é produzida quase gratuitamente. A porção da economia mundial que não se encaixa no modelo antigo é cada vez maior, como bem argumenta o livro Capitalism without Capital: The Rise of the Intangible Economy, de Jonathan Haskel e Stian Westlake.
Os mercados financeiros oferecem muitas tentações aos investidores vulneráveis. É fácil cometer erros, especular em vez de investir. A emoção está perigosamente próxima da superfície para muitos investidores e pode ser particularmente intensa quando os preços se movimentam dramaticamente em qualquer direção.
É essencial que os investidores compreendam a diferença entre especular e investir e que aprendam a tirar partido das oportunidades que o mercado apresenta. O tempo trabalhará a seu favor.
"É quase impossível imaginar que, de todas as coisas à venda, a mais atrativa, em termos de preço, seja aquela que está a ser vendida por um vendedor conhecedor do negócio a alguém menos conhecedor."
Warren Buffett
Num ano fértil em IPOs (Initial Public Offerings - operações de venda de ações de empresas que vêm ao mercado pela primeira vez), a WeWork destaca-se. O seu modelo de negócio é simples: arrenda escritórios - não é a dona dos espaços - divide-os, remodela-os e subarrenda-os a preços mais elevados. O modelo de negócio não é novo ou suficientemente distinto de outros no passado. No entanto, o acesso a grandes volumes de capital e a ambição do seu fundador e CEO, Adam Neumann, fizeram toda a diferença para se chegar a ouvir avaliações de pré IPO de cerca de 90 mil milhões de USD. Em 2012, numa ronda de entrada de capital, a empresa havia sido avaliada em quase 100 milhões de USD.
Existem centenas de empresas de co-working, mas Neumann insistia em 2017 que a WeWork era algo mais: "a nossa avaliação (na altura, 47 mil milhões de dólares) e tamanho tem mais a ver com a nossa energia e espiritualidade do que com qualquer múltiplo de receitas." Neumann defendia que a WeWork não era apenas uma empresa de imobiliário, "somos uma comunidade e estamos aqui para mudar o mundo". Numa festa da empresa em 2018, Neumann declarou que a missão da WeWork era "elevar a consciência do mundo".
Aswath Damodaran, Professor na Universidade de Nova Iorque e autor do livro "Narrative and Numbers", salienta, na sua análise da WeWork: "a maior parte dos negócios precisa de escritórios e a forma como esse espaço é criado e fornecido segue um determinado modelo há décadas. O dono de um edifício, que o comprou recorrendo a dívida, arrenda-o a empresas que precisam de espaço e usa as rendas recebidas para pagar os juros da dívida e os custos de manutenção.
À medida que a economia enfraquece, a procura por escritórios diminui e a queda nas taxas de ocupação expõe o dono do edifício a riscos. Os empresários de imobiliário prudentes tentam comprar os edifícios quando os preços estão baixos e procuram que os inquilinos assinem contratos de longa duração quando as rendas estão altas. Tentam, assim, construir uma almofada de lucros que os proteja de recessões.
Mesmo com esta prudência acrescida, o imobiliário comercial foi sempre um negócio de bolhas e crises e mesmo os empresários mais bem-sucedidos já foram milionários e falidos (pelo menos no papel) em momentos diferentes das suas vidas".
Confiante que faz muito melhor, Neumann propõe-se reinventar este setor e o mundo. O que conseguiu é realmente impressionante: a WeWork tem 466 mil membros a trabalhar em 485 localizações em mais de 100 cidades em 28 países. Em 2014, arrecadou receitas de 75 milhões de dólares, o ano passado atingiu os 1,8 mil milhões. Há 3 anos, tinha 1.000 colaboradores, hoje cerca de 12.400. É o maior inquilino de Nova Iorque e o segundo maior em Londres. A sua narrativa era, para muitos, fantástica.
A publicação, em agosto passado, do prospeto do IPO foi um duro choque com a realidade: Neumann teria direito a 20 vezes os direitos de voto dos outros acionistas e, em caso de morte, seria a esposa a escolher o sucessor. O prospeto revelou ainda que as perdas da WeWork escalaram de 900 milhões de dólares em 2017 para 1,6 mil milhões em 2018 e que a empresa pagou 20,9 milhões de dólares de rendas em edifícios de que Neumann era parcialmente proprietário.
O IPO acabou por ser cancelado e a WeWork só não vale zero porque o seu maior acionista, o Softbank, preferiu injetar mais 9,5 mil milhões de dólares - a somar aos 10,65 mil milhões que já tinha investido na empresa. Neumann foi afastado - com uma indemnização que pode atingir 1,7 mil milhões - e a empresa está a ser reestruturada na tentativa de operar um modelo de negócio que possa vir a ser rentável. A única coisa positiva neste caso é que os investidores particulares não perderam dinheiro. Tiveram sorte, o IPO não teve lugar.
Um estudo realizado nos Estados Unidos entre 1980 e 2007, concluiu que as ações compradas nos IPOs perdem, relativamente ao mercado, cerca de 21% ao ano nos três primeiros anos em que estão cotadas e a performance real destas empresas é pouco menos que um desastre. Apesar da péssima performance dos IPOs estar bem documentada, os investidores continuam a participar na festa.
O que leva os bancos a serem tão otimistas nos IPOs?
Damodaran diz que a banca não avalia os ativos, apenas os apreça. A diferença entre avaliar e apreçar é enorme: quando avaliamos um ativo, queremos saber o que ele produz e os cash flows que vai gerar no futuro. Quando a banca apreça um ativo, fá-lo por comparação, procura ativos semelhantes e o preço a que transacionam. É o que se faz no imobiliário: se temos um apartamento para vender, procuramos os preços das últimas transações de apartamentos com a mesma tipologia na mesma zona e calculamos o metro quadrado a que foram vendidos. Os valores resultantes das rondas de financiamento destas empresas usam a mesma abordagem. O problema é quando não há empresas semelhantes ou quando os mercados não as apreçam corretamente. Nesses casos, vale tudo para embelezar o que se está a vender, incluindo transformar um senhorio imobiliário num conceito de tecnologia. A narrativa sobrepõe-se aos números.
Scott Galloway, num artigo de 27 de setembro, a propósito deste e de outros IPOs recentes, aponta o dedo à Banca de Investimento. Ao que parece, Neumann aconselhava-se com o CEO do JPMorgan, Jamie Dimon, entre outros da alta finança. O JP Morgan terá aconselhado ao Conselho de Administração da WeWork um intervalo de avaliações de 40-60 mil milhões. O Goldman Sachs terá avaliado entre 60-90 mil milhões.
Scott Galloway enfatiza os conflitos de interesse com que estes vendedores de histórias operam, "nos últimos cinco anos, a Goldman tem tentado, agressivamente, gerir o meu dinheiro. Convidaram-me para a estreia de Solo: A Star Wars Story, o que vale, sem dúvida, um por cento anual dos meus ativos. Se a Goldman fosse a minha gestora de fortunas, teria inundado a minha carteira com ações da WeWork se, no IPO, tivessem conseguido comprar ao preço "barato" de 47 mil milhões? Estará a Goldman mais focada nas comissões de colocação das ações (130 milhões de dólares) ou em atuar como fiduciário dos interesses dos clientes? Ou serão apenas idiotas?"
Texto escrito originalmente a 17 de março de 2022 como mensagem de acolhimento do Relatório & Contas de 2021 da Casa de Investimentos.
"Desinformação não significa informação falsa. Significa informação enganadora - deslocada, irrelevante, fragmentada ou superficial - informação que cria a ilusão de saber algo, mas que de facto nos afasta do conhecimento", Neil Postman
"As pessoas têm excesso de confiança nos seus julgamentos. Cometem erros porque geralmente são excessivamente otimistas quando fazem planos e acreditam piamente que esses planos resultarão", Daniel Kahneman
"Não me digas o que pensas, diz-me o que tens no teu portfólio", Nassim Taleb
Apesar de uma rentabilidade média nas carteiras de gestão discricionária de cerca de 16,3% e no fundo Casa Global Value PPR de 16,85%, consideramos 2021 um ano com sabor amargo. Deixámos muito dinheiro em cima da mesa. Isto significa, tal como escrevemos no Relatório e Contas de 2018, que temos hoje uma carteira a transacionar com um desconto considerável face ao que realmente vale. O potencial de valorização e o facto de determos hoje a coleção de negócios com maior qualidade na história da Casa de Investimentos permite-nos estar muito confiantes que o futuro nos vai voltar a dar razão, com retornos superiores à média de mercado.
Este foi um ano extraordinário para a Casa de Investimentos e para os seus colaboradores. Foi com muito gosto, e sobretudo com enorme sentido de responsabilidade, que demos as Boas-Vindas a mais de 2.000 novos Clientes. O lançamento do fundo Casa Global Value PPR permite que qualquer investidor possa ter acesso a uma filosofia de valor a partir de 1.000 euros. Cabe-nos agora demonstrar que esta deve ser a conta para acumular riqueza a longo prazo. Com horizonte temporal que nos permite investir com risco limitado na classe de ativos com melhores rentabilidades na história financeira (as ações) e o facto de ser fundo PPR - garantindo um conjunto de vantagens fiscais que protege e potencia a acumulação de riqueza - esta deve ser a conta de poupança de longo prazo das famílias. Este é o produto financeiro com maiores vantagens fiscais associadas.
Em 2018, iniciámos a escrita de Cartas Trimestrais aos nossos Clientes. Este compromisso de comunicação regular parece-nos essencial para que percebam os investimentos que fazemos, o que se passa com os títulos em carteira, o que compramos, o que vendemos e o porquê. Do último ano, realçamos a carta do primeiro trimestre, a que demos o nome "A melhor carta de sempre", escrita por Jeff Bezos aos acionistas da Amazon:
"Se queremos ser bem-sucedidos nos negócios (na realidade, na vida), temos de criar mais do que consumimos. O nosso objetivo deverá ser criar valor para todos aqueles com quem interagimos",
Jeff Bezos, Carta aos Acionistas, abril 2021
O trabalho mais importante que fazemos para os nossos Clientes é estudar e analisar as empresas, os seus modelos de negócios, as suas demonstrações financeiras, e avaliar até que ponto os seus gestores executam o que prometem. Nesta nossa carta partilhamos parte de uma leitura recente da que é já considerada a melhor carta de sempre dirigida aos acionistas.
"Aos nossos acionistas:
Na carta da Amazon aos acionistas de 1997, a nossa primeira carta, falei acerca da nossa esperança em criar uma "empresa duradoura", que reinventasse o que significa servir um cliente através do poder da internet. Observei que a Amazon tinha crescido de 158 para 614 colaboradores e que tínhamos ultrapassado os 1,5 milhões de contas de clientes. Tínhamos acabado de cotar na bolsa a um preço ajustado de 1,5 dólares por ação. Escrevi também que era o Dia 1.
Desde então, já percorremos um longo caminho e estamos a trabalhar mais do que nunca para servir e deliciar clientes. No ano passado, contratámos 500.000 funcionários e empregamos agora 1,3 milhões de pessoas em todo o mundo. Temos mais de 200 milhões de clientes Prime pelo mundo inteiro. Mais de 1,9 milhões de pequenas e médias empresas vendem produtos na nossa loja e representam cerca de 60% das nossas vendas a retalho. Os clientes ligaram mais de 100 milhões de casas aos nossos dispositivos Alexa. A Amazon Web Services serve milhões de clientes e terminou 2020 com uma receita anualizada de 50 biliões de dólares. Em 1997, ainda não tínhamos inventado o Prime, Marketplace, Alexa ou AWS. Não eram sequer ideias ainda e nenhuma delas estava predestinada. Corremos enormes riscos em cada uma e canalizámos suor e engenho em cada uma delas.
Pelo caminho, criámos 1,6 triliões de dólares de riqueza para os acionistas. Quem são eles? O vosso CEO é um deles e as minhas ações da Amazon tornaram-me rico. No entanto, mais de 7/8 das ações, que representam 1,4 triliões de riqueza, são propriedade de outros. Quem são eles? São fundos de pensões, universidades, planos de poupança reforma e são a Mary e o Larry, que me enviaram esta carta, precisamente na altura em que me preparava para escrever esta carta aos acionistas:
5 de março de 2021
Sr. Jeff Bezos
Executive Chairman
Amazon.com Inc.
410 Terry Avenue North
Seattle, WA 98109
Caro Sr. Bezos,
Obrigado por fazer da Amazon uma empresa excecional! Acreditamos que gostaria de saber como a Amazon beneficiou a nossa família.
Em 1997, quando a Amazon entrou em bolsa, o nosso filho Ryan tinha 12 anos e era um leitor voraz. No aniversário dele, oferecemos-lhe duas ações da sua empresa que vendia livros - não tínhamos dinheiro para mais na altura. Passado um ano, as ações tiveram um stock split de 2 para 1, depois de 3 para 1 e finalmente de 2 para 1 e o Ryan ficou com 24 ações. As ações estavam em nosso nome devido à sua idade. Pretendíamos colocá-las em nome dele, mas nunca chegámos a fazê-lo, mas ele sabia que eram dele.
Por várias vezes, ao longo dos anos, o Ryan quis liquidar as ações, mas sempre lhe dissemos que lhas comprávamos. Depois, eventualmente, acabávamos por lhas oferecer novamente. Era uma espécie de piada privada na família.
Dado o crescimento exponencial no valor das ações, decidimos dividi-las entre nós próprios e ambos os nossos filhos, Ryan e Katy.
O Ryan vai comprar casa este ano e gostaria de vender algumas ações. Antes de as vender, tivemos de converter os certificados originais em papel para um formato digital. Reparámos que o primeiro certificado tinha um número extremamente baixo. Nem consigo imaginar quantas mais ações foram emitidas desde essa data!
Anexo uma cópia do certificado original das ações de 1997 - há 24 anos. Essas duas ações tiveram uma influência maravilhosa na nossa família. Todos nós adoramos testemunhar o crescimento da Amazon ano após ano e esta é uma história que adoramos contar.
Parabéns pela sua carreira como CEO da Amazon. Nem conseguimos imaginar o esforço e o trabalho que o Sr. Bezos e a sua equipa tiveram de fazer para tornar a Amazon na empresa mais bem-sucedida e inventiva do planeta. Desejamos que tenha agora tempo para relaxar e para fazer as coisas que deseja fazer, tal como explorar o espaço!
Mal podemos esperar para ver onde a Amazon vai entregar de seguida! No Dia Seguinte em Marte!
Com os melhores cumprimentos,
Mary e Larry
Recebo constantemente histórias parecidas. Conheço pessoas que utilizaram o dinheiro das ações da Amazon para a universidade, para emergências, casas, férias, para dar início à sua empresa, para ajudar os outros - e a lista é interminável. Tenho muito orgulho na riqueza que criámos para os acionistas. É significativa e melhora as suas vidas. No entanto, estou seguro de outra coisa: este não é o maior quinhão do valor que criámos.
Recordemos que os preços das ações não têm a ver com o passado. Os preços das ações são uma previsão dos cash flows futuros descontados para o presente. O mercado de ações antecipa.
Permitam-me falar um pouco do passado. Quanto valor criámos para os acionistas em 2020? Esta é uma questão relativamente fácil de responder, uma vez que existem sistemas contabilísticos preparados para isso. O nosso lucro em 2020 foi de 21,3 biliões de dólares. Se, ao invés de ser uma empresa publicamente cotada com milhares de donos, a Amazon tivesse um único dono, esse teria sido o lucro que o dono arrecadaria em 2020.
E os funcionários? Esta também é uma pergunta relativamente fácil de responder, uma vez que podemos consultar os gastos com pessoal. Em 2020, os funcionários ganharam 80 biliões de dólares, a que se somam mais 11 biliões de dólares em benefícios e impostos, para um total de 91 biliões de dólares.
E quanto aos vendedores na nossa loja? Temos uma equipa (Selling Partner Services) que trabalha para responder a esta questão. Estimam que, em 2020, os lucros das suas vendas nas nossas lojas foram entre 25 e 39 biliões de dólares. Sendo conservador, levamos em consideração os 25 biliões de dólares.
Para os clientes, temos de os dividir entre clientes consumidores e clientes AWS.
Primeiro, os consumidores. Oferecemos preços baixos, uma vasta seleção e entregas rápidas, mas imaginemos que, para o propósito desta estimativa, ignoramos tudo isto e avaliamos apenas uma coisa: poupamos tempo aos nossos clientes.
Os clientes completam 28% das compras na Amazon em três minutos ou menos e metade de todas as compras são concluídas em menos de 15 minutos. Se compararmos isto a uma típica saída às compras numa loja física - conduzir, estacionar, procurar nas estantes da loja, esperar na caixa, encontrar o carro no parque e regressar a casa. Estudos sugerem que a típica viagem à loja demora cerca de uma hora. Se assumirmos que uma compra típica na Amazon demora 15 minutos e que nos poupa um par de viagens a uma loja física, isto significa uma poupança de mais de 75 horas por ano. Isto é importante. Neste início do Séc. XXI, estamos todos muito ocupados.
Para que possamos chegar a um número em dólares, vamos avaliar a poupança no tempo em 10 dólares por hora, um número conservador. Setenta e cinco horas multiplicadas por dez menos o custo do Amazon Prime resulta numa criação de valor para cada membro do Prime de cerca de 630 dólares. Temos 200 milhões de membros Prime e uma criação de valor, em 2020, de 126 biliões de dólares.
É difícil estimar a criação de valor na AWS, uma vez que as exigências de cada cliente são tão diferentes, mas vamos tentar de qualquer maneira, reconhecendo à partida que as margens de erro são elevadas. As reduções de custos diretos devidas à operação de servidores na cloud em vez de localmente variam enormemente, mas uma estimativa razoável é de 30%. Com base nas receitas da AWS de 2020, 45 biliões de dólares, esses 30% significam uma criação de valor para os clientes de 19 biliões (o que lhes custaria 64 biliões de dólares isoladamente, custa-lhes 45 biliões com a AWS). A parte difícil deste exercício de estimativa é que a redução de custos direta é a porção mais pequena do benefício que o cliente consegue ao mudar-se para a cloud. O maior benefício é o aumento na velocidade de desenvolvimento de software - algo que pode melhorar significativamente a competitividade e lucros do cliente. Não temos qualquer forma razoável de estimar essa porção de criação de valor para o cliente exceto dizer que é quase certo que é superior à poupança nos custos diretos. Sendo conservadores (e tendo em mente que estamos apenas a tentar chegar a valores aproximados), diria que é equivalente e que a criação de valor da AWS para o cliente, em 2020, foi de 38 biliões.
Somando a AWS e os consumidores dá-nos um total de criação de valor para o cliente, em 2020, de 164 biliões de dólares. Resumindo:
Acionistas: 21 biliões de dólares
Funcionários: 91 biliões de dólares
Vendedores: 25 biliões de dólares
Clientes: 164 biliões de dólares
Total: 301 biliões de dólares
Se cada grupo tivesse uma demonstração de resultados representando as suas interações com a Amazon, os números acima seriam os "lucros" dessas demonstrações de resultados. Estes números são parte da razão pela qual estas pessoas trabalham para nós, pela qual os vendedores vendem através da nossa plataforma, e pela qual os clientes compram na nossa loja. Nós criamos valor para eles. E esta criação de valor não é um jogo de soma zero. Não é apenas mover dinheiro de um bolso para outro. Se desenharmos um círculo à volta de toda a sociedade, descobrimos que a invenção está na raiz de toda a verdadeira criação de valor. E o valor criado é, no fundo, uma métrica para a inovação."
Na Casa de Investimentos trabalhamos para ser o principal parceiro financeiro dos nossos Clientes, trabalhamos para ser o "agente capitalizador" da riqueza que nos é confiada. Isto significa que procuramos investir em negócios que têm a capacidade de capitalizar retornos ao longo de muitos anos e que conseguem criar valor para os seus colaboradores, para os seus clientes, para os seus acionistas e para a sociedade.
Pensar como um investidor capitalizador é muito natural para as pessoas que compram pequenas empresas não cotadas. O investidor em empresas não cotadas concentra-se cuidadosamente num punhado de investimentos e espera que os contabilistas reportem consistentemente, no final de cada ano, que o seu capital por ação cresceu. Estes investidores não pensam em entrar e sair dos seus investimentos mensalmente ou diariamente.
Esta abordagem é tão básica que, muitas vezes, é esquecida nos mercados acionistas. Nos mercados acionistas, é muito fácil distrairmo-nos com as flutuações hora a hora e com a excitação dos corretores e dos canais financeiros com as notícias de curto prazo. Para ser um investidor capitalizador, precisamos de nos abstrair do ruído de curto prazo. Refletimos profundamente sobre os ingredientes necessários para que um negócio consiga capitalizar o valor ao longo de muitos anos. São estas as empresas que procuramos e que hoje fazem parte da nossa carteira, entre os quais a Amazon.
É importante reconhecer que o mercado acionista não é nem realidade nem verdade, mas antes o reflexo do julgamento coletivo da "multidão" com uma grande dose de irracionalidade e emoção à mistura. Para tornar isto ainda pior, o curto prazo é o máximo denominador comum. A título de exemplo, a cotação de mercado da TESLA há algumas semanas transformou-a na sexta empresa mais valiosa do mundo, apesar da sua história quase sem lucros. Contudo, para muitos investidores, este facto não é relevante. Apesar de parecer que os preços das ações se podem manter irracionais indefinidamente, os desenvolvimentos da vida real das empresas, com frequência, servem de mecanismos de reversão para o correspondente valor que geram. Muitos dos grandes excessos de 2020 e 2021 estão já com correções muito substanciais. Muitas empresas, há meses tão "queridas" pelos investidores, viram a sua cotação cair 70% a 80% nas primeiras semanas de 2022. Cerca de 42% das empresas do Nasdaq já corrigiram mais de 50% dos máximos recentes.
Gerimos o dinheiro dos nossos Clientes como gostávamos que fizessem com o nosso. Ao longo deste documento, dizemos o que pensamos e o que fazemos. Dizemos e investimos com os nossos Clientes, nos mesmos negócios, na mesma proporção. Toda a Equipa da CASA investe no fundo Casa Global Value PPR.
Trabalhamos para nos tornarmos no maior parceiro financeiro dos nossos Clientes. Para o conseguirmos, promovemos um relacionamento justo, dedicamos recursos consideráveis à divulgação de conhecimento e comunicamos com clareza e regularidade. É nossa convicção que, entendendo como tomamos decisões de investimento, se construirá uma relação de confiança e nos entregarão uma fatia maior do esforço do trabalho e poupança.
É um privilégio e uma honra para a Casa de Investimentos poder gerir o dinheiro de Famílias e de investidores institucionais. Nós, acionistas-gestores e quadros da CASA, estamos verdadeiramente comprometidos com o longo-prazo e é esse compromisso que torna possível manter uma perspetiva de investimento de anos, que resultará em retornos mais elevados para o benefício de todos. A confiança e o apoio dos nossos Clientes fortalecem a nossa vontade e propósito de proteger e valorizar os patrimónios que nos confiam. Tudo faremos para que se mantenham connosco, para que se sintam seguros e para que esta seja uma parceria rentável a longo prazo. Contamos convosco para criarmos uma legião de investidores em valor.
Aos nossos Clientes deixamos um agradecimento muito especial pela confiança e pelas recomendações que fazem da nossa CASA. Muito obrigada.
Com consideração, apresentamos os melhores cumprimentos,
Emília Oliveira Vieira
Chief Executive Officer & Chairman
Casa de Investimentos
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Relatório & Contas 2021 completo onde foi originalmente publicada esta mensagem de abertura: descarregar
Mensagem de acolhimento do Relatório & Contas 2019 | Casa de Investimentos
Texto escrito originalmente a 31 março de 2020 e publicado como mensagem de abertura do Relatório & Contas 2019 da Casa de Investimentos.
"No curto prazo aprendemos muito, a médio prazo aprendemos alguma coisa e no longo prazo não aprendemos absolutamente nada"
Jeremy Grantham
"Um pessimista vê dificuldades em cada oportunidade; um otimista vê oportunidades em cada dificuldade"
Winston Churchill
As nossas primeiras preocupações e pensamentos prendem-se com a saúde e bem-estar dos nossos Clientes e colaboradores, das suas famílias, dos profissionais de saúde e tantos trabalhadores que arriscam a vida para cuidar dos doentes, para que continuemos a ter os bens que precisamos para o dia-a-dia e para garantir a segurança e ordem pública.
Tínhamos praticamente concluído o Relatório & Contas deste ano quando fomos confrontados com uma das maiores ameaças de saúde pública, a nível global, da História. A velocidade e ferocidade com que se propagou terá seguramente um impacto profundo sobre a economia e a população a nível mundial. Neste contexto, o medo sobrepôs-se ao otimismo e os principais índices de ações mundiais sofreram as quedas mais rápidas das últimas 9 décadas.
Esta é uma crise muito diferente das que conhecemos do passado e não se restringe aos mercados bolsistas, a uma classe de ativos, a um setor ou geografia. Esta é uma paragem na atividade económica mundial que produziu também grandes repercussões nos mercados de crédito, de matérias primas e nos mercados imobiliários. A rapidez com que o mundo parou quase toda a atividade económica não tem precedentes na história. Parece-nos assemelhar-se mais ao que acontece depois de um desastre natural ou de uma guerra do que à grande crise financeira de 2008, ao rebentar da bolha tecnológica de 2001 ou ao grande crash financeiro de 1987.
Por todo o mundo, a resposta de bancos centrais e de governos tem sido rápida e em muitos casos muito vigorosa, com políticas fiscais e monetárias que procuram evitar a destruição da atividade económica e, consequentemente, o desemprego em massa e uma recessão profunda. A questão agora é saber por quanto tempo estará a atividade económica quase parada e a que ritmo será retomada.
Acreditamos ser nossa responsabilidade fiduciária, assim como nossa responsabilidade ética, contribuir para a objetividade e racionalidade das análises subjacentes e que permitirão aos nossos Clientes tomar decisões ponderadas e proteger os valores a longo prazo. Acreditamos que a filosofia de investimento em valor que praticamos - quer pelo foco que colocamos na qualidade dos ativos em que investimos, quer pelo desconto com que os compramos face à nossa estimativa de valor intrínseco - nos permite antecipar que ultrapassaremos este desafio sem que a nossa tese de investimento de longo prazo se altere para o conjunto da carteira em que estamos investidos. Os mercados recuperam sempre. Não temos, contudo, qualquer ideia do tempo necessário para regressarmos à normalidade ou aos níveis de mercado em que estávamos há dois meses. Nunca na história tivemos tantos recursos tecnológicos, conhecimento e riqueza para comprometer com a resolução desta crise e fazê-lo em tempo record. É do interesse de todos a sua resolução e por isso a solução poderá chegar mais depressa do que hoje antecipamos.
Nestas mensagens do Relatório & Contas, procuramos escrever sobre os resultados do ano, sobre os princípios e regras de ouro que nos servem de "estrela polar" e que nos permitem criar uma CASA segura, construída com experiência e conhecimento e que produza valor para os seus Clientes, trabalhadores e acionistas. Esta é a ordem das prioridades desde o primeiro dia.
A Casa de Investimentos entra nesta crise com uma posição forte e capitais próprios reforçados. Embora pareça já tão distante no tempo, devemos olhar agora para a atividade de 2019. Este foi, a vários níveis, o melhor ano desde a fundação da CASA:
- Ganhámos 28,95% de rentabilidade aos nossos Clientes (líquida de comissões de transação, custódia, comissões de gestão fixa e de performance e ainda dos impostos sobre dividendos retidos na fonte), mantendo uma liquidez média de cerca de 6%.
- Este foi o melhor ano de resultados para a CASA, a demonstrar o alinhamento de interesses com os nossos Clientes. Estes resultados e os valores em reservas permitem-nos cumprir com a determinação dos acionistas em aumentar o Capital Social para dois milhões de euros já nos primeiros meses de 2020.
- Reforçámos os quadros da CASA, para uma equipa de 15 elementos e continuaremos a fazê-lo, antecipando o crescimento da nossa atividade. Destacamos a entrada para a Administração e estrutura acionista do Engº Nuno Lopes Gama para coordenar as áreas tenológicas, marketing, comunicação e melhoramento contínuo e plataforma online. O seu extraordinário percurso profissional, integridade, princípios e visão de longo prazo são uma enorme mais valia para a CASA e para os nossos Clientes.
- O aumento de 47% dos valores em gestão permitiu-nos, já em final do ano, baixar os custos de negociação e custódia junto dos nossos intermediários financeiros, cujos beneficiários são os nossos Clientes.
Em novembro de 2019, a CASA foi notificada pela CMVM da obtenção de autorização para exercício de gestão de organismos de investimento coletivo em valores mobiliários e de organismos de investimento alternativo em valores mobiliários. Estamos agora muito bem posicionados para servir Family Offices e as suas estruturas de organização patrimonial, clientes institucionais e sobretudo, fazê-lo a preços sensatos.
O objetivo para 2020 é o lançamento de um Fundo de Investimento que permita aos investidores - ou porque têm valores mais pequenos ou não estão disponíveis para "experimentar" com valores elevados - terem acesso a uma filosofia de valor focada na criação de riqueza com segurança a longo prazo. Esperamos criar uma legião de investidores em valor que beneficiem das maravilhas dos retornos compostos e acumular riqueza que permita concretizar objetivos e sonhos de longa data e construir um futuro financeiro mais independente e seguro. Desde o primeiro dia da CASA, procuramos contribuir para potenciar o conhecimento financeiro dos investidores para que sejam mais capazes de fazer escolhas no seu melhor interesse. Essa será também a âncora de desenvolvimento do Fundo.
Do Relatório e Contas de 2018, destacamos:
"Aquilo que a nossa carteira realmente vale não é o que o mercado pagaria hoje. O verdadeiro valor dos títulos que temos em carteira depende dos negócios subjacentes e da riqueza que estes produzirão no futuro e que receberemos sob duas formas: dividendos periódicos e os lucros que, não sendo distribuídos, são reinvestidos para a expansão do negócio e das suas vantagens competitivas - aumentando o potencial da empresa ganhar mais no futuro. Com tempo, a cotação de mercado tenderá a refletir o valor intrínseco acumulado. É nisto que acreditamos na Casa de Investimentos."
Esperamos sempre anos difíceis, como aliás foi o ano de 2019 apesar de ganharmos, com as nossas comissões, mais de 31%. Por isso mesmo, em 28 de janeiro deste ano apresentámos aos nossos Clientes, na nossa sede, os resultados do ano e como deveríamos investir para a próxima década. Isso mesmo, para a próxima década. Desde o primeiro dia que consideramos ser nossa obrigação fazer um trabalho competente e íntegro, comunicar com transparência e assumir a responsabilidade de cuidar dos patrimónios dos clientes com a máxima dedicação e segurança. Não sabemos, nem achamos que seja relevante adivinhar - nem os clientes devem esperar que o façamos - o que os mercados farão daqui a uma semana, um mês ou um ano. O futuro próximo não é claro para nós.
A nossa postura, enquanto investidores, é a de dono de negócio. Quando investimos num negócio, estamos a comprar os cash-flows que este vai gerar no futuro. É importante saber quanto estamos a pagar por esses cash-flows. O Valor de uma empresa é a soma do dinheiro que pode ser distribuído aos seus donos ao longo da vida do negócio, descontado a uma taxa de juro razoável. Não temos qualquer dúvida que os resultados dos negócios que temos em carteira serão afetados em 2020 e possivelmente em 2021. Contudo, esta representa uma pequena parte do valor que calculamos para decidir se investimos ou não.
Em situação de lucros normalizados, à data em que escrevemos esta mensagem, a nossa carteira tem múltiplos mais baixos do que em final de 2018. Para além de ser significativamente mais barata do que a média do S&P500 e do MSCI World, estamos investidos em empresas mais rentáveis, com balanços mais sólidos, com maior geração de cash-flow e melhores perspetivas de crescimento. O que nos dá o conforto adicional não são apenas os dados históricos destas empresas nos últimos dez anos e capacidade dos seus gestores em reforçarem as suas vantagens competitivas. O conforto advém, para vermos como pode ser o futuro destes negócios, das decisões que tomamos se basearem em teoria financeira sólida e numa filosofia de investimento testada pelo tempo com resultados consistentes.
Ao longo do último ano, reforçámos a estratégia de criação de valor na qualidade dos negócios e equipas de gestão. Investimos nalguns dos melhores negócios globais nos quais também se encontram investidas algumas das famílias mais ricas do mundo (Jeff Bezos na Amazon, Larry Page e Sergey Brin na Alphabet, Bill Gates na Microsoft, Warren Buffett na Berkshire Hathaway, entre outros). A cotação destas empresas, embora volátil, tenderá a replicar a prazo os lucros que estes negócios forem capazes de produzir. Manter o rumo e ter paciência permitirá colher os frutos.
Na carta deste ano aos acionistas, datada de 22 de fevereiro, Warren Buffett escreve o seguinte:
"O que podemos dizer é que se as taxas de juro atuais se mantiverem inalteradas nas próximas décadas e se os impostos às empresas também se mantiverem nos níveis reduzidos que hoje beneficiam, então é quase garantido que as ações, no longo prazo, irão ter uma melhor performance do que instrumentos de taxa fixa de longo prazo. Esta previsão rósea carrega um aviso: amanhã, tudo pode acontecer aos preços das ações. Ocasionalmente, assistiremos a enormes quedas no mercado, talvez com magnitudes de 50% ou ainda mais. No entanto, a combinação do "vento pelas costas americano", sobre o qual escrevi o ano passado e as maravilhas do juro composto, descritas por Mr. Smith, farão com que as ações sejam a melhor escolha de longo prazo para o indivíduo que não tem alavancagem e que consegue controlar as suas emoções. Os outros? Tenham cuidado!"
A longa curva da prosperidade refletida no índice de ações americano nos últimos mais de 100 anos resume bem os ventos favoráveis de que fala Warren Buffett. Mas, como tudo, tem um preço: em vários momentos ao longo destas décadas, os recuos de mercado foram muitos e por vezes com impacto muito grande nas cotações. Aqueles que não conseguem olhar para as ações como uma fatia de um negócio que lhes confere o direito aos lucros futuros, terão resultados especulativos e por isso mesmo inconsistentes e na maior parte das vezes perderão. Os que não estiverem preparados para esses recuos, não devem investir em ações.
Para concluir e porque são a razão pela qual existimos de porta aberta, deixamos nestas páginas uma palavra de gratidão e apreço aos nossos Clientes pela confiança que mantêm no nosso trabalho, pela preocupação e cuidado que têm manifestado a toda a equipa e pelo reforço dos valores que têm à nossa guarda e que saberemos aumentar a prazo. Como sempre, trabalhamos para que fiquem connosco décadas. Obrigada pelo privilégio e pelas referências que fazem do trabalho da CASA.
Em meu nome, do Pedro Alves e do Nuno Lopes Gama, agradecemos aos nossos colegas da CASA a extraordinária capacidade de trabalho, o sentido de responsabilidade e a determinação em manter o foco e acrescentar valor em tempos tão desafiantes. Muito obrigada a todos.
Terminamos com um ditado português que muito nos inspira no que fazemos:
"Quem pensa em si planta um eucalipto, quem se preocupa com os filhos planta um pinheiro, quem se preocupa com os netos planta um sobreiro".
Há anos em que a "meteorologia" não nos ajuda, haverá anos maus, anos razoáveis, anos excecionais, e muitos anos bons. Com tempo, as árvores crescem e dão frutos.
Com consideração, apresento os melhores cumprimentos,
Emília Oliveira Vieira
Chief Executive Officer
Casa de Investimentos
"Trabalhamos para que os nossos Clientes sejam Clientes antigos".
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Relatório & Contas 2019 completo onde foi originalmente publicada esta mensagem de abertura: 20200619_CdI_RelatorioContas_2019_Digital
Mensagem de Abertura | Relatório & Contas 2020 | Casa de Investimentos
Texto escrito originalmente a 17 de março de 2021 como mensagem de acolhimento do Relatório & Contas de 2020 da Casa de Investimentos.
"Assim como não é uma andorinha ou um belo dia que faz a Primavera, também não é um dia ou um curto período de tempo que faz um homem abençoado e feliz.",
Aristóteles em "Ética a Nicómaco"
"As nossas experiências pessoais com o dinheiro representam talvez 0,00000001% do que aconteceu no mundo, mas representam cerca de 80% de como julgamos que o mundo funciona.",
Morgan Housel
"A única coisa que vos digo é que o pior investimento que podem ter é dinheiro. O dinheiro, ao longo do tempo, vai valer menos. Os bons negócios, ao longo do tempo, valem mais.",
Warren Buffett
Aos nossos Clientes deixamos um agradecimento muito especial pela confiança e pelas recomendações que fazem da nossa CASA.
O ano de 2020 foi o mais difícil para os nossos Clientes. Num mercado em tumulto e perante a queda mais rápida de sempre nos mercados financeiros mundiais, permitiram-nos manter o rumo e confiaram na nossa capacidade de avaliação quanto ao impacto destes eventos nos investimentos que temos em carteira. Confiaram-nos reforços das suas contas de investimento e fizeram com que março de 2020 fosse o melhor mês de sempre, em entradas de dinheiro novo, na história da Casa de Investimentos. Esta é a maior prova de confiança no nosso trabalho e que nos motiva para melhorar todos os dias e colocar sempre os seus interesses em primeiro lugar.
Para nós, manter a estratégia de investimento e reforçar posições, foi mais fácil do que para os nossos Clientes. O facto de termos um conhecimento muito profundo dos negócios em carteira, de terem balanços muito fortes, aliados a equipas de gestão excelentes, as vantagens competitivas face a concorrentes, e conseguirmos acompanhar todos os dias as medidas que os gestores estavam a tomar para adequar as suas atividades à pandemia, deu-nos o conforto de decidir com margem de segurança. Estes factos permitiram-nos manter o rumo e potenciar os retornos a longo prazo.
Em 2020, perdemos, em média, 2,9% aos nossos Clientes. Este número é, em muitos casos, muito diferente: os Clientes que reforçaram substancialmente as contas e os que abriram contas depois de março, tiveram rentabilidades positivas muito significativas. O dólar americano desvalorizou 8,45% no ano. Uma vez que a carteira tinha no fecho do ano uma exposição de 72% a USD, esta desvalorização da moeda americana retirou-nos em 2020 cerca de 6,10% de rentabilidade.
Desde o primeiro dia, há 10 anos, que consideramos que a comunicação direta e objetiva com os nossos Clientes é importante porque nos dá a oportunidade de explicar a nossa estratégia de investimento, o que fazemos e os resultados que conseguimos, sem que os nossos Clientes tenham que adivinhar ou especular sobre as nossas decisões de alocação de capital. Isto é especialmente importante quando as coisas correm mal ou cometemos erros, o que acontecerá de tempos a tempos, uma vez que pode evitar que os nossos Clientes tomem decisões que os prejudicam e que põem em causa uma estratégia bem estruturada de criar valor a longo prazo. Por isso, não são apenas as cartas trimestrais que escrevemos, o Relatório & Contas anual, mas também as cartas que escrevemos sempre que há eventos que consideramos relevantes e que poderão contribuir para que os Clientes aproveitem as oportunidades que o pessimismo produz. É nestas alturas que os bons negócios se conseguem comprar em saldo. Também sabemos que é nestas alturas que os investidores têm medo e preferem estar em dinheiro. É por isso que investir não é fácil.
Revisitamos nas páginas deste Relatório alguns dos artigos mais relevantes que escrevemos nestes 10 anos para os principais jornais e revistas nacionais. Esta é também a oportunidade para explicar algumas das lições que aprendemos:
A primeira é que a estratégia de investimento em negócios de qualidade excecional funciona. O nosso objetivo é encontrar negócios excecionais a preços razoáveis e fugir dos negócios razoáveis a preços excecionais. Como somos investidores de longo prazo, os primeiros rapidamente ganharão vantagem.
A segunda é que não precisamos de adivinhar o mercado ou estar certos todos os dias.
A terceira é que, quanto maior for a liquidez disponível em carteira, menor será o retorno dos nossos investimentos.
Mais apropriada do que nunca e uma das mais antigas, é a história que se conta na City, em Londres, sobre um homem que queria enriquecer e que rezou ao seu Deus para que pudesse encontrar na rua o jornal com as notícias do ano que vem. O milagre aconteceu e o jornal surgiu aos seus pés com a descrição de todos os eventos do ano seguinte. Apesar disto, o homem não enriqueceu porque o jornal não revelava os preços das ações do ano que vem, apenas as notícias.
Imaginem que, em janeiro de 2020, sabiam exatamente que a pandemia iria atingir todo o mundo e que iria paralisar a economia mundial. O que fariam? Se vendessem tudo e ficassem em dinheiro, iriam perder a recuperação fulgurante que se seguiu à queda mais rápida da história.
Já todos sabem o que vou dizer a seguir. Mesmo que consiga prever o que vai acontecer nos próximos tempos, isso não é o mais importante. O que é essencial é prever como vai reagir a maioria das pessoas. Conseguir fazer estas previsões é impossível. O melhor, portanto, é mantermo-nos investidos.
Na Carta a Clientes do 3.º Trimestre de 2020, escrevemos o seguinte:
"A história, pelo contrário, mostra-nos uma e outra vez que os otimistas triunfaram, conforme a história financeira dos retornos mundiais nos últimos 122 anos demonstra. Porque acham os investidores que desta vez será diferente? A incerteza e a volatilidade a que os investidores de ações têm sido sujeitos este ano é fora do comum em magnitude e frequência. O que muitos experienciaram nos últimos 7 meses é equivalente a um período de 10 ou 20 anos.
David Swensen, gestor há 35 anos do Fundo Endowment da Universidade de Yale nos Estados Unidos, diz que os investidores de taxa fixa devem esperar, e merecem, rendimentos muito baixos. Estar hoje em liquidez, em depósitos, em obrigações e outros títulos de dívida, embora seja uma estratégia menos volátil, não está isenta de risco nem de custos de oportunidade. Os investidores que estejam dispostos a aceitar a volatilidade das ações e que não precisam de estar certos todos os dias quanto à direção que os mercados financeiros tomam, serão recompensados com retornos mais elevados.
A volatilidade é o preço a pagar por melhores retornos a prazo. Não há bela sem senão".
Já todos sabem que o retorno nos ativos de taxa fixa é quase zero e que não acompanha sequer a inflação. Já todos sabem que os mercados acionistas recuperam sempre. Já todos sabem que as famílias mais ricas do mundo investem uma percentagem maior do seu património em ações e que isso contribui para que o fosso na distribuição da riqueza continue a aumentar a nível mundial.
A questão que se coloca é a seguinte:
Por que motivo tantos evitam pagar o preço (aceitar a volatilidade das ações) para ter retornos mais elevados? Porque é que tantas pessoas que estão dispostas a pagar o preço de carros, casas, férias, tentam evitar pagar o preço de bons retornos no investimento?
O preço do sucesso no investimento não é imediatamente óbvio. Não tem uma etiqueta que consigamos consultar e, por isso, quando a "conta" chega não a sentimos com um custo por algo de bom. Parece uma multa por algo de errado que fizemos. A resposta, natural, de alguém que vê a sua fortuna a diminuir a cada dia que passa (ainda que seja apenas no papel) e encara essa queda como uma multa é tentar evitar multas futuras.
Embora pareça trivial, encarar a volatilidade do mercado como um custo e não uma multa é uma parte importante no desenvolvimento da mentalidade que nos permite mantermo-nos no mercado o tempo suficiente para que os ganhos nos investimentos se materializem e avolumem.
Os bilhetes para a Disneylândia custam cerca de 100 euros, mas em troca passamos um dia com os nossos filhos que nunca esqueceremos. Em 2019, cerca de 156 milhões de pessoas acharam que era um preço que valia a pena pagar. Poucos acharam que os 100 euros eram um castigo ou uma multa.
O mesmo se passa no investimento, onde a volatilidade é quase sempre um custo, e não uma multa. Os retornos no mercado não são gratuitos e nunca o serão. Não somos forçados a pagar este preço, assim como não somos obrigados a ir à Disneylândia. Podemos ir ao parque de diversões local onde os bilhetes custam 10 euros ou ficar em casa de graça. Podemo-nos divertir na mesma. Mas, de uma forma geral, temos aquilo que pagamos. O mesmo acontece com os mercados. A volatilidade/incerteza - o preço dos retornos - é o custo de admissão para conseguirmos retornos acima da média dos parques baratos (depósitos e obrigações).
A chave é convencermo-nos de que vale a pena pagar o custo do mercado. Esta é a única forma de lidar com a volatilidade e a incerteza - não apenas tolerá-la, mas tomar consciência de que é um custo de admissão que vale a pena pagar.
Não existe nenhuma garantia. Às vezes chove na Disneylândia. Mas, se encararmos este custo de admissão como uma multa, nunca apreciaremos a magia.
Encontre o preço, pague-o e conte connosco na "viagem".
Com consideração, apresentamos os melhores cumprimentos,
Emília Oliveira Vieira
Chief Executive Officer
Casa de Investimentos
"Trabalhamos para que os nossos Clientes sejam Clientes antigos".
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Relatório & Contas 2020 completo onde foi originalmente publicada esta mensagem de abertura: RelatorioContas_2020_CdI
Créditos foto: Kon Karampelas via Unsplash
Carta Anual a Clientes 2021 (excertos)"Time IN the Market"
"Desinformação não significa informação falsa. Significa informação enganadora - deslocada, irrelevante, fragmentada ou superficial - informação que cria a ilusão de saber algo, mas que de facto nos afasta do conhecimento"
Neil Postman
"As pessoas têm excesso de confiança nos seus julgamentos. Cometem erros porque geralmente são excessivamente otimistas quando fazem planos e acreditam piamente que esses planos resultarão"
Daniel Kahneman
"Não me digas o que pensas, diz-me o que tens no teu portfólio"
Nassim Taleb
Este foi um ano extraordinário para a Casa de Investimentos e para os seus colaboradores. Foi com muito gosto e sobretudo com enorme sentido de responsabilidade que demos as Boas-Vindas a mais de 2000 novos Clientes.
O lançamento do Fundo PPR Casa Global Value permite que qualquer investidor possa ter acesso a uma filosofia de valor a partir de 1000 euros. Cabe-nos agora demonstrar que esta deve ser a conta para acumular riqueza a longo prazo. Com horizonte temporal que nos permite investir com risco limitado na classe de ativos com melhores rentabilidades na história financeira - as ações - e o facto de ser Fundo PPR garantir um conjunto de vantagens fiscais que protege e potencia a acumulação de riqueza. Este é o produto financeiro com maiores vantagens fiscais associadas.
Gerimos o dinheiro dos nossos Clientes como gostávamos que fizessem com o nosso se os lugares estivessem invertidos. Trabalhamos para que a prazo sejamos o maior parceiro financeiro dos nossos Clientes e, para o conseguirmos, promovemos um relacionamento justo, comunicamos com clareza e dedicamos recursos consideráveis à divulgação de conhecimento. É nossa convicção que, entendendo o que fazemos e como tomamos decisões de investimento, se construirá uma relação de confiança e nos entreguem uma fatia maior do esforço do Vosso trabalho e poupança.
Tudo faremos para que se mantenham connosco, para que se sintam seguros e para que esta seja uma parceria rentável a longo prazo. Contamos convosco para criarmos uma legião de investidores em valor.
De uma forma geral, 2021 foi um ano de forte crescimento económico, com os Estados Unidos a registar neste século a maior margem de crescimento face à economia mundial. A taxa de desemprego atingiu o mínimo dos últimos 52 anos. Graças ao pagamento de estímulos, taxas de juro muito baixas e ao facto de não haver alternativas de investimento, o dinheiro foi chegando ao mercado de ações, de matérias-primas, e mesmo ao mercado de taxa fixa, comprando de forma quase indiscriminada o que era popular e estava a subir. De facto, com as poupanças das pessoas a serem "confiscadas" gradualmente pela inflação, não admira que o investimento em ações pelo americano médio tenha atingido máximos históricos.
De repente, eis que a inflação - tema que animou os mercados nos primeiros meses do ano passado - regressou à ordem do dia fixando máximos dos últimos 30 anos nos Estados Unidos. A questão é se estes números são temporários e resultado das disrupções nas cadeias de fornecimento ou se, pelo contrário, é permanente. Sobre o futuro da taxa de inflação, há bons argumentos dos dois lados do debate. Os que acreditam que a inflação é permanente argumentam que, 1) a globalização, grande motor de deflação das últimas décadas, tem sofrido reveses com os países a serem mais protecionistas; 2) a tendência de queda nos salários que observamos há décadas inverteu-se e 3) a Reserva Federal americana sentir-se-á forçada em manter as taxas baixas ajudando a que a dívida do Estado seja mais fácil de pagar. Do outro lado do debate estão os que defendem que: 1) os programas de estímulos económicos estão a acabar, 2) o envelhecimento da população nas economias desenvolvidas e 3) os níveis de endividamento das economias são forças deflacionárias.
Os avanços tecnológicos, que permitiram ganhos de produtividade sem precedentes, contribuíram para acelerar as pressões deflacionistas nas últimas décadas. O que fica claro desta pandemia, é que os avanços tecnológicos estão a ser massivamente adotados. O estratega David Rosenberg diz que "apostar na inflação é apostar contra o engenho humano".
Em relação às taxas de juro, o mercado começa a descontar várias subidas ao longo deste ano nos Estados Unidos. Os mercados apreçam já pelo menos quatro movimentos de subida que, a ocorrerem, levam as taxas de curto prazo de valores próximos do zero para 1,25% até ao final de 2022. Na Europa, a taxa de inflação atingiu os 5%. Contudo, excluindo as componentes de energia e alimentação a subida de preços foi de apenas 2,6%. A economia europeia está inclusivamente com uma maior folga já que só em 2022 é que vai recuperar os níveis de produto de 2019. Por isso, a premência de subidas de taxas está longe do que observamos na economia norte-americana, até porque o próprio BCE reviu a sua orientação estratégica no ano passado, passando a tolerar períodos transitórios de inflação mais elevada.
O impacto que uma subida das taxas de juro pode ter nos mercados acionistas preocupa sempre os investidores uma vez que estas atuam como gravidade para as ações, penalizando as empresas com múltiplos muito elevados até porque grande parte do seu valor está no seu desempenho futuro. Contudo, os níveis a que as taxas de juro se encontram não devem ser uma preocupação para quem investe em empresas rentáveis, com balanços fortes e a transacionar a múltiplos de mercado sensatos. As empresas mais penalizadas pelas subidas dos juros são as mais alavancadas: empresas com elevados níveis de endividamento e que vão ver essa dívida ter um custo mais alto, podendo mesmo em alguns casos colocar a sua sobrevivência em causa. Ora, as empresas que temos em carteira têm balanços fortes, grande parte delas tem mesmo saldos de caixa positivos (têm mais dinheiro em caixa do que dívida), o que significa que poderão obter algum rendimento na aplicação dessa liquidez que hoje não tem qualquer retorno.
É crucial reconhecer que o mercado acionista não é nem realidade nem verdade, mas antes o reflexo do julgamento coletivo da "multidão" com uma grande dose de irracionalidade e emoção à mistura. Para tornar isto ainda pior, o curto prazo é o máximo denominador comum. A título de exemplo, a cotação de mercado da TESLA há algumas semanas transformou-a na sexta empresa mais valiosa do mundo apesar da sua história quase sem lucros. Contudo, para muitos investidores, este facto não é relevante. Apesar de parecer que os preços das ações se podem manter irracionais indefinidamente, os desenvolvimentos da vida real das empresas, com frequência, servem de mecanismos de reversão para o correspondente valor que geram.
Muitos dos grandes excessos de 2020 e 2021 estão já com correções muito substanciais. Muitas empresas, há meses tão "queridas" pelos investidores, viram a sua cotação cair 70 a 80% nas últimas semanas. Cerca de 42% das empresas do Nasdaq já corrigiram 50% ou mais dos máximos recentes.
Os últimos meses recordam-nos a frase "déjà vu all over again"
Porque é que os investidores tomam decisões tão más e o que podemos fazer sobre isso? Os vieses comportamentais a que todos estamos sujeitos levam-nos, previsivelmente, a comportamentos irracionais. No investimento, provas deste comportamento prejudicial podem ser encontradas nos estudos anuais da Dalbar - que medem os retornos reais conseguidos pelos investidores e não pelos índices passivos, tal como o S&P500. Estes estudos capturam o grau com que os investidores tentam adivinhar o mercado com as suas entradas e saídas. Os resultados não são agradáveis: entre 1990 e 2010 o S&P gerou retornos anuais médios de pouco mais de 8%. Os gestores ativos (gestores de fundos de investimentos) subtraíram a este retorno entre 1 a 2% ao ano em custos de transação e em comissões de gestão. Daqui poderíamos concluir que os investidores teriam conseguido neste período retornos anuais médios entre 6 e 7%. Infelizmente não foi o caso. Os retornos que os investidores conseguiram nesses 20 anos foram de apenas 1,9% ao ano.
Ou seja, ao contrário do que a maioria é tentada a concluir, a principal razão para que os investidores tenham retornos muito inferiores aos índices não deve ser (apenas) atribuída aos gestores de fundos, mas sobretudo ao facto de comprarem ou venderem nas piores alturas e estarem constantemente à procura do fundo ou da estratégia que permitirá ganhar sempre os maiores retornos. Tal como o condutor apressado numa estrada com meia dúzia faixas de rodagem está sempre a tentar mudar para a faixa onde o trânsito está a fluir mais rapidamente (conduzindo com mais perigo e maior consumo de combustível), a maioria dos investidores não suporta ver ao lado alguém que esteja a ganhar mais e não participar na festa. Até porque, sofrendo do viés de excesso de otimismo, acreditam que tal como a Cinderela, conseguirão sair da festa antes da meia noite.
Entre os principais erros que os investidores cometem destaca-se o market timing que se resume à ideia de que há momentos para estar investido e há momentos para estar completamente fora de mercado. É a tentativa de inúmeros investidores de "proteger" o seu dinheiro saindo de mercado quando pressentem uma correção ou aumentar a sua exposição a ações mais arriscadas quando pressentem a sua recuperação.
Antes de mais, deixem-me esclarecer isto sem margem para dúvidas: o market timing não funciona e apesar de todos já o termos tentado sem sucesso, continua a ser praticado em massa por três grupos de pessoas:
"Há três tipos de pessoas que fazem previsões no mercado. Aquelas que não sabem, aquelas que não sabem que não sabem e aquelas que sabem muito bem que não sabem, mas são muito bem pagas para fingir que sabem"
Burton Malkiel, autor do livro "A Random Walk Down Wall Street".
Já alguma vez disse ou pensou alguma coisa do género:
- "Eu tenho dinheiro de lado, mas estou à espera que as coisas acalmem e não haja tanta incerteza",
- "Recebi um bónus, mas vou esperar por um recuo de mercado",
- "O mercado subiu muito, vou vender e volto a investir daqui a uns meses",
- "Vou investir depois de, por exemplo, passarem as eleições, ver se a inflação vem para ficar ou não, se os bancos centrais vão subir taxas, no próximo ano quando tudo estiver mais calmo e se souber o que vai acontecer com a Rússia/Ucrânia, etc."
Tudo isto é market timing. Não funciona.
Charlie Munger, vice chairman da Berkshire Hathaway e sócio de longa data de Warren Buffett, refere que a venda com o propósito de fazer market timing, dá ao investidor duas formas distintas de estar errado: o declínio na cotação pode ou não acontecer e caso aconteça, o investidor precisa ainda de perceber quando é que será a altura certa para voltar ao mercado. Adicionalmente poderíamos acrescentar uma terceira forma de estar errado já que o investidor terá ainda que decidir o que irá fazer com o resultado da venda enquanto não volta ao mercado.
A FUTILIDADE DO MARKET TIMING
Um dos melhores investidores de sempre, Peter Lynch, que geriu o fundo Magellan da Fidelity entre 1977 e 1990, refere diversas vezes um estudo realizado internamente sobre a performance do fundo e a performance que os seus investidores conseguiram efetivamente obter. Durante os seus 13 anos como gestor, o fundo obteve um retorno anual de 29%, tendo sido um dos fundos a obter a maior rentabilidade anual de sempre. No entanto, segundo Peter Lynch, o investidor médio do fundo perdeu dinheiro com o seu investimento, apesar da rentabilidade alcançada pelo gestor.
O fundo Magellan obteve naquele período anos de rentabilidade muito elevada (por exemplo em 1980 obteve um retorno de 70%), tendo, no entanto, nalguns anos, ficado significativamente aquém da performance do mercado. Provavelmente, muitos investidores, ao observarem o retorno de 70% em 1980, decidiram perseguir os retornos (isto é, entraram no fundo a posteriori), observando um ano depois uma performance negativa em relação ao mercado. Muitos destes investidores terão vendido as suas posições para tentar encontrar um novo fundo ganhador, assumindo desta forma as suas perdas neste fundo.
As decisões dos investidores ao longo dos 13 anos, de sair ou entrar no fundo, levaram à destruição, em média, de pelo menos 29% de retorno anual. Este é um facto incrível! Tendo este conhecimento, os investidores insistem nos mesmos comportamentos e ignoram que os resultados, inevitavelmente, serão os mesmos.
De acordo com o relatório de 2021 da Dalbar, no período entre janeiro de 2001 e dezembro de 2020, o investidor médio em fundos de investimento obteve um retorno anual no seu portfólio de ações de 5,96% o que compara com um retorno anual do S&P 500 de 7,43% (isto é, cerca de 1,47% ao ano de diferencial). O diferencial entre o retorno do mercado (S&P 500) e o retorno efetivamente alcançado pelos investidores individuais, depende significativamente dos momentos analisados. O gráfico seguinte ilustra esta dispersão ao longo dos últimos 20 anos.
Diferencial de retorno investidor médio vs. S&P 500 (%)
Fonte: Dalbar, "Quantitative Analysis of Investor Behavior: Variable Annuities, 2020"
Observamos que os 3 anos, onde o diferencial de retorno foi maior, coincidiu com o período seguinte à crise financeira. Os investidores, em momentos de recessão ou bear market, tendem a tomar a decisão emotiva de sair do mercado, perdendo os períodos de recuperação e, por isso, de maiores retornos.
Parece inegável que o contributo das decisões de um investidor de tentar adivinhar o momento de mercado para permanecer investido, saindo ou entrando de um fundo de investimento (seja um fundo ativamente gerido ou um fundo passivo que replique o mercado ou um segmento de mercado) é, em média, negativo. A melhor e mais difícil decisão para um investidor parece ser a de permanecer investido e não fazer nada.
EFEITO DE PERDER OS MELHORES DIAS
Um comportamento muito comum é a decisão de vender depois de quedas do mercado na tentativa de "estancar" as perdas. Esta é normalmente uma reação emotiva e que, segundo o prémio Nobel da economia, Daniel Kahneman - autor dos livros "Pensar Rápido e Devagar" e do mais recente, "Noise", é explicada por um conjunto de vieses que nos afetam a todos sem exceção. Estar alerta para estes vieses e contrariá-los é a chave para melhorarmos o nosso processo de decisão.
Anualmente, o banco americano JPMorgan publica um estudo onde descreve o que seria o retorno anual de um investidor nos últimos 10 anos caso perca os melhores dias do mercado. Estes dados são relevantes, dado que normalmente, os melhores dias do mercado ocorrem tipicamente após os piores dias (onde há uma maior probabilidade de um investidor "emotivo" tomar a decisão de sair do mercado de ações). Sete dos dez melhores dias do mercado (entre 2 de janeiro de 2001 e 31 de dezembro de 2020) ocorreram nas duas semanas seguintes aos dez piores dias de mercado.
Performance de um investimento de 10,000 USD entre Jan-2001 e Dez-2020
Fonte: JPMorgan, 2021 Retirement Guide
As diferenças de performance para um investidor que permaneça no mercado em comparação com um investidor que perca os 10 melhores dias são muito expressivas. O investidor que permaneceu investido no S&P 500 entre 2001 e 2020 conseguiu um retorno de 7,5% ao ano, o que compara com uma performance de 3,4% ao ano para o investidor que decidiu vender o portfólio em diferentes momentos de tempo e perdeu as 10 maiores subidas.
Para além do diferencial de retorno existem outras considerações importantes que seria necessário fazer nomeadamente, custos de transação de compra e venda da carteira de ações e tributação sobre mais-valias, que na prática aumentariam ainda mais o diferencial de retorno das duas situações comparadas acima. Este exercício ilustra o impacto que a decisão de permanecer fora do mercado em alguns momentos de tempo pode ter na rentabilidade de longo prazo dos investidores. O market timer não só precisa de adivinhar com precisão quando sair do mercado, como também precisa de adivinhar com grande precisão sobre quando voltar a investir. Disto mesmo damos conta com maior profundidade no Relatório & Contas deste ano e que ficará disponível até 30 de abril no site da Casa de Investimentos.
O PAPEL DO GESTOR DE ATIVOS
David Swensen foi Chief Investment Officer do Endowment da Universidade de Yale nos Estados Unidos desde 1985 até à sua morte, em maio do ano passado (a quem prestámos homenagem na nossa Newsletter O Investidor Inteligente|maio 2021, sob o título In Memoriam: David F. Swensen). De 1,3 biliões com que iniciou o endowment em 1985, chegou a 31,2 biliões. Para além de ter contribuído para a acumulação de muita riqueza, contribuiu para que aquela universidade pudesse dispor anualmente de parte dela através de um vasto orçamento para investir e para potenciar o conhecimento e o seu alcance a nível mundial. Neste período, revolucionou o investimento institucional de endowments a que se veio a chamar o Modelo de Yale ou Modelo de Endowment. Num excerto de um dos seus livros excecionais, "Unconventional Success", refere:
"Tentar adivinhar o momento para estar dentro ou fora de mercado - estratégia conhecida por market timing - representa uma aposta de curto prazo contra uma política de alocação de ativos bem estruturada e pensada a longo prazo"
Esta citação remete-nos para o papel que nós, Casa de Investimentos, temos na proteção e adição de valor aos nossos Clientes. O propósito do nosso trabalho é salvaguardar e fazer crescer a riqueza dos nossos Clientes, conquistar ganhos de poder de compra a longo prazo e procurar fazê-lo com risco limitado. O nosso objetivo é contribuir para que acumulem riqueza que lhes permita concretizar propósitos de vida, sonhos de longa data ou simplesmente deixar um legado para a geração seguinte. Para o fazermos com responsabilidade e orientação a longo prazo e de forma estruturada:
1º delineamos uma estratégia consistente de alocação de ativos que significa definir por classes de ativos que percentagem do património total alocar a cada uma: de entre ações/participações de empresas (cotadas ou não), obrigações (de governos ou de empresas), imobiliário (onde a maioria, através da posse da sua própria casa tem uma parte mais substancial do que consegue acumular ao longo da vida) e disponibilidades para acomodar um contratempo ou levar a cabo o cumprimento de um objetivo de curto ou médio prazo.
Outros ativos, como arte, ouro, podem ser considerados, dependendo das preferências/conforto individual. Apesar de apoiarmos os Clientes na melhor definição desta alocação (em linha com o que é feito por algumas das famílias mais ricas do mundo) a decisão é tomada pelo investidor considerando as suas preferências pessoais e horizontes temporais para as diferentes classes.
A maior parte dos investidores sucumbe logo neste ponto, não conseguindo manter uma estratégia por classes de ativos e frequentemente alterando a percentagem alocada a cada classe.
2º definimos a filosofia e estratégia de investimento e, não menos importante, os processos que devem assegurar o cumprimento da mesma. Definida a percentagem a alocar à Classe das ações e obrigações, é nossa função implementar uma filosofia de valor cujo foco no nosso caso é a qualidade absoluta das empresas em que investimos. Procuramos negócios de qualidade excecional que componham os retornos dos acionistas a taxas elevadas e acima da média.
Estes negócios devem ser suportados por balanços fortes, capacidade de geração de cash-flow elevado e com boas oportunidades de crescimento no mercado global. A orientação para qualidade e a disciplina para comprar a desconto face à estimativa de valor intrínseco é crucial para reduzirmos o risco do investimento e obter taxas de rentabilidade atrativas para os Clientes. De importância crucial neste processo são as equipas de gestão das empresas em que investimos, que procuramos que tenham provas dadas a alocar capital, focadas na criação de valor a longo prazo e cuja remuneração esteja alinhada com os interesses dos acionistas.
Conscientes que existe apenas um número limitado de negócios capazes de cumprir com estes nossos filtros de seleção de investimentos, procuramos concentrar o nosso capital e dos nossos Clientes em 20 a 30 negócios de qualidade excecional e que são líderes no mercado global. O conhecimento da teoria financeira e de imensos estudos demonstram que este número é suficiente para uma diversificação adequada.
A maioria dos investidores tem muita dificuldade em ver alguém a ganhar mais dinheiro do que ele(a) própria e não resiste à tentação de seguir o "cardume" para ver lucros mais rápidos, ainda que não perceba o que os origina.
3º assistimos os nossos Clientes na racionalização da tomada de decisões, nomeadamente evitando e minimizando erros de movimentos indesejados como tentativas de adivinhar os momentos para permanecer dentro ou fora do mercado (market timing) ou tentando adivinhar os melhores momentos para reforçarem os valores que têm connosco. Assumimos a responsabilidade de lhes dar conta do que pensamos em momentos críticos como o que hoje vivemos com o conflito Rússia/Ucrânia ou com o Covid 19 em março de 2020.
Assumimos desde a fundação da CASA o compromisso de providenciar aos nossos clientes, atuais e prospetivos, informação transparente com qualidade informativa e educativa, que permita que façam também um processo de acumulação de conhecimento que contribua para decidirem melhor e protegerem o seu património.
Embora nenhum de nós, na Casa de Investimentos, acredite que consegue prever o mercado, estamos confiantes que conseguimos avaliar com sucesso negócios individuais, o que nos permite gerar retornos absolutos atrativos através da procura de diferenças entre preço e valor, um investimento de cada vez.
Ao avaliarmos negócios individualmente, queremos saber:
- Quais são as perspetivas para o negócio?
- Se a equipa de gestão é capaz e quais são as suas prioridades?
- Quais são os maiores riscos para o sucesso do investimento?
Procuramos filtrar, entre numerosas oportunidades potenciais, e identificar aquelas com os melhores retornos ajustados ao risco. Não tentamos comprar o que está na moda no momento (porque está a subir), à espera que continuem a subir. Pelo contrário, mantemo-nos ancorados à avaliação e focados nos fundamentais económicos do negócio, tentando fazer investimentos que conseguirão bons retornos num vasto espectro de futuros cenários económicos e de mercado.
O nosso processo de investimento leva-nos à recolha de toda a informação disponível - incluindo cada vez mais dados que novas tecnologias colocam à nossa disposição e serviços independentes de análises setoriais e de empresas que contratamos para termos a melhor informação possível, reunir factos e integrá-los nos nossos processos de decisão.
Construímos modelos de avaliação, falamos com especialistas, analisamos research independente e de Wall Street e debatemos as nossas avaliações para chegarmos à melhor decisão possível. O objetivo da aplicação destes princípios é evitar que os vieses comportamentais e o ruído afetem a tomada de decisão.
Um processo de investimento robusto beneficia dos erros cometidos no passado, uma consciência sempre presente das muitas coisas que podem correr mal em qualquer investimento e da procura constante de factos. Capacidade de julgamento imparcial e consistência intelectual é fundamental.
A consistência no processo de investimento implica que com os mesmos factos cheguemos às mesmas conclusões quer seja janeiro ou agosto ou, quer tenhamos rentabilidade positiva ou negativa.
Procuramos fazer crescer o capital dos clientes de forma segura, ao longo dos próximos três a cinco anos, não na próxima semana ou trimestre. A nossa experiência é que as oportunidades migram regularmente entre mercados, indústrias e geografias, à medida que o capital circula e inflaciona os preços de alguns investimentos enquanto que deixa outros para trás.
Para navegar esta evolução natural dos mercados, utilizamos uma abordagem de investimento que é fixa nos seus princípios gerais, mas flexível na sua implementação. Dada a nossa abordagem de valor centrada na qualidade dos negócios, não precisamos que o mercado no seu todo se desvalorize - apenas um número limitado de oportunidades de tempos a tempos.
Enquanto a qualidade do negócio se mantiver intacta, os gestores continuarem a cumprir e manter a sua reputação e estes negócios não cotarem preços extravagantes, é natural que nos mantenhamos investidos durante tempo considerável. Não acreditamos em market timing nem estratégias de trading de curto prazo.
Quando encontramos um investimento com o potencial de crescer ao longo do tempo e uma perceção de risco razoável, uma das coisas mais difíceis de fazer é ter paciência e manter a posição. Naturalmente, seremos sempre testados porque inevitavelmente haverão notícias negativas, opiniões contrárias e factos extraordinários que nos põe à prova.
Facilmente poderíamos ser afetados por uma notícia negativa, um trimestre de resultados menos positivo, ou porque uma ideia alternativa nos parece mais emocionante. É nestes momentos mais difíceis que os processos de investimento robustos e tomadas de decisões bem estruturadas são fundamentais e nos permitem proteger e potenciar a riqueza.
"Como tantas coisas no investimento, manter-se investido é mais fácil de dizer do que fazer. Demasiadas pessoas confundem atividade com adição de valor"
Howard Marks
Um exemplo prático ilustra que existem ao longo do tempo múltiplas situações onde a entrada ou saída num título parecem a melhor decisão:
- Consideremos que um investidor teria comprado ações da Microsoft no final de 1997 (a 16,2 USD). Dois anos depois o seu investimento teria multiplicado por quase 4 vezes. Uma boa parte dos investidores teriam decidido que os ganhos já eram bons e por isso iriam vender para fazer a "tomada dos lucros",
- No espaço de um ano, no final de 2000, com a crise das dotcom, a cotação caiu 62% voltando para níveis um pouco acima do final de 1997 (21,7 USD). Teria um investidor conseguido permanecer investido e ver os seus lucros desaparecerem?
- Nos 12 anos seguintes, a Microsoft teve uma performance fraca com o título a cotar 26,7 USD no final de 2012, tendo resultado numa rentabilidade anual de 4.1% (ainda assim superior ao índice S&P 500 de 2.6%). Um investidor que tivesse decidido sair do título provavelmente consideraria que tinha tomado uma boa decisão enquanto que os investidores que permaneceram investidos na Microsoft questionariam se não estariam a cometer um erro,
- Desde então, a cotação da Microsoft multiplicou por quase 12 vezes, estando hoje a transacionar acima de 300 USD.
- Um investidor que tivesse comprado Microsoft no final de 1997 e tivesse permanecido investido estaria a ganhar anualmente um retorno de 15,2%, ou seja cerca de 6,6% acima do índice S&P500. Posto de outra forma, um investidor que tivesse adquirido 10.000 USD em ações da Microsoft no final de 1997, hoje teria um valor equivalente de cerca de 303 mil dólares enquanto que um investidor que tivesse investido no S&P 500 teria cerca de 74 mil dólares (24% do valor em Microsoft).
Há um paralelismo óbvio entre este exemplo e a própria decisão de um cliente em permanecer investido com a CASA em detrimento de outras alternativas de investimento (um fundo de investimento passivo, uma ação recomendada por um amigo ou ainda uma oportunidade de investimento imobiliário, por exemplo). A decisão racional terá necessariamente que ponderar não só a rentabilidade passada, mas também o nível de conforto com a estratégia e a rentabilidade potencial a prazo.
O "nível de conforto com a estratégia" é a nosso ver uma mais-valia para os nossos clientes, sendo na verdade o ativo intangível mais valioso que acreditamos oferecer. Este ativo, que reflete um maior conhecimento por parte dos nossos clientes, permite evitar cair nas "armadilhas emocionais" do mercado e proteger desta forma os patrimónios individuais.
"A melhor altura para plantar uma árvore foi há 20 anos. A segunda melhor altura é agora."
Provérbio chinês.
O mais importante no investimento - para ter retornos consistentes com risco limitado - é o tempo que estamos investidos (time in the market). Já que adivinhar estar dentro ou fora de mercado (market timing) não é possível - e nem sequer é necessário - para ter sucesso. Vejamos o exemplo:
Valor de um investimento de 10.000EUR começando com 20, 30 e 40 anos
Este gráfico ilustra o poder dos retornos compostos e como, a partir de alguns anos, ganha momentum. O diferencial de valor acumulado no final do período (para ilustração, selecionamos os 70 anos de idade como final do investimento) é abismal para diferentes idades de realização do investimento:
- Um investidor que tenha aplicado 10 mil euros aos 20 anos com rendimento líquido anual de 9,8% (idêntico ao retorno do S&P entre 1927 e 2019), teria ao fim de 50 anos EUR1.071.808.
- Um investidor mais tardio, que faça o investimento aos 30 anos, conseguiria alcançar cerca de 421 mil euros com a idade de 70 anos (cerca de 39% do valor do investidor mais precoce).
- Um investidor que decida investir apenas 40 anos, conseguirá apenas alcançar cerca de 165 mil euros, ou seja, 15% do valor do investidor que tenha tomada a decisão de investir mais cedo. Iniciar o investimento 20 anos mais cedo permite atingir um património final quase 6 vezes superior.
O horizonte temporal permite, não só beneficiar plenamente deste fenómeno extraordinário que é o rendimento composto, mas faz também com que o momento em que se investe se torne menos relevante.
O gráfico seguinte mostra o rendimento anual (em termos reais, ou seja, levando em conta a inflação) de um investimento no mercado de ações (S&P500) e em obrigações de curto prazo. Conforme é evidente, existem anos com rentabilidades muito positivas e anos com rentabilidades muito negativas.
Se o horizonte temporal é curto, o investidor enfrenta uma "lotaria" e tanto poderá ter um retorno de 30% no espaço de um ano como estar a perder 20% ou 30% ao final de doze meses.
Retornos reais para períodos de 1 ano (1927-2020)
Salientamos que os investimentos em obrigações têm entre 1927 e 2020 muitos anos com rendimentos reais negativos (o que significa que a taxa de juro paga é inferior à taxa de inflação). Tal como hoje acontece, a taxa de juro obtida em obrigações de curto prazo ou em depósitos a prazo é inferior à inflação e faz com que os investidores percam poder de compra. Este é uma espécie de "imposto" escondido que, na nossa opinião, os investidores não precisam de pagar.
Retomando a análise do horizonte temporal, o caso muda radicalmente de figura à medida que se for alargando o horizonte temporal e período de detenção do investimento, conforme o gráfico seguinte:
Retornos reais para períodos de 20 anos (1927-2020)
Ao aumentar o horizonte temporal, o investidor reduz a importância de acertar no momento de mercado para investir. Na verdade, um investidor que ao longo dos últimos 93 anos tenha decidido investir no mercado de ações norte-americano (S&P500), desde que tenha permanecido investido por um horizonte temporal igual ou superior a 20 anos, terá tido sempre um retorno anual real positivo (e significativamente superior à alternativa de permanecer investido em títulos de dívida pública norte-americana, que, como podemos observar mantém retornos negativos neste período).
Uma conclusão poderosa e que deveria ser retida por qualquer investidor é que o horizonte temporal é o maior determinante da rentabilidade futura de um investimento. As tentativas de acertar no momento de mercado não só são fúteis e condenadas ao insucesso, como se tornam quase irrelevantes à medida que o horizonte temporal do investimento vai aumentando.
RESULTADOS DAS EMPRESAS APRESENTADOS NO 4º TRIMESTRE 2021
A época de resultados do terceiro trimestre - divulgados entre outubro e dezembro - continuou a revelar a força dos negócios que compõem a carteira em que estamos investidos. A maioria das empresas apresentou crescimento face ao trimestre homólogo de 2019 e, ao contrário dos trimestres anteriores, não tivemos nenhuma empresa a apresentar prejuízos.
Termino esta longa carta com um sentido agradecimento e um pedido. Muito obrigada a todos Vós pela confiança e pelas recomendações que fazem da nossa CASA. O que Vos pedimos é que continuem a recomendar a CASA e ajudar-nos a criar a tal legião de investidores em valor de que venho a falar há 10 anos. Já somos muitos, mas, ainda não somos uma legião.
O que pedimos permitirá criar um círculo virtuoso. À medida que consigamos ganhos de escala, procuraremos devolver-vos uma parte.
Muito obrigada.
Com elevada estima, enviamos os melhores cumprimentos,
Emília O. Vieira
Chief Executive Officer
"Trabalhamos para que os nossos Clientes sejam Clientes antigos"
Post Scriptum: em resposta a Nassim Taleb, ao longo desta carta dizemos o que pensamos e o que fazemos. Aqui, dizemos e investimos com os nossos Clientes, nos mesmos negócios, na mesma proporção. Toda a Equipa da CASA investe no Fundo PPR Casa Global Value.
Artigo publicado originalmente na Simple - plataforma internacional de colaboração e produção de conhecimento orientada às necessidades de family offices e famílias empresariais - a 29 de janeiro de 2021.
Para os family offices e famílias empresariais que procurem proteger e fazer crescer o património familiar, é primordial uma abordagem à gestão do mesmo estruturada em horizontes temporais. Para os que tenham a seu cargo as decisões financeiras, estas projeções temporais são possivelmente a estratégia mais sensata para preservar, fazer crescer e transferir património em contexto familiar.
Debruçamo-nos aqui sobre a forma como pinhões, pinheiros e carvalhos podem ser uma boa metáfora de como salvaguardar riqueza para futuras gerações.
Num relatório de 2018, a UBS apresentou os contornos de uma abordagem à gestão de património movida por propósito, através dos 3 Ls: Liquidez, Longevidade e Legado. Na sua essência, a estratégia 3L é um mapa de instruções para as famílias que queiram compreender como melhor alocar o seu capital para atingirem os seus objetivos. Mas como poderemos transformar estes termos financeiros em algo que inspire a geração seguinte a tomar as rédeas deste futuro?
A resposta poderá passar pelo seu enquadramento num paradigma de crescimento e legado, pedindo emprestadas à natureza algumas metáforas. Chamamos PPO a esta abordagem (do inglês "Pine nuts, Pine trees, and Oak trees") - colher pinhões e plantar pinheiros e carvalhos. Os pinhões são a reserva nutricional (poupanças) para as necessidades imediatas e de curto prazo. Pinheiros são o que plantamos (investimos) com a expetativa de obtermos um fluxo de rendimento durante a nossa vida. Finalmente, carvalhos são o que plantamos (investimos) para a posteridade, para benefício de filhos, netos, gerações seguintes e a sociedade em geral.
Desperta para (e em harmonia com) o balanço financeiro e os objetivos de vida da família, a abordagem PPO inverte a típica jornada de decisão financeira. O mix ideal de classes de ativos e produtos de investimento de uma família é, muitas vezes, uma consequência inescapável e óbvia das suas escolhas quanto a estilo de vida, tranquilidade e legado pretendidos em diferentes horizontes temporais. Isto pode ser contraintuitivo e não convencional, mas revela-se quase sempre acertado.
O mapa PPO
O seu futuro começa amanhã e pode levá-lo (e a cada um dos seus) tão longe quanto os 100 anos de vida ou mais. Quer seja um empreendedor bem-sucedido da geração millennial ou já esteja a ponderar reformar-se de uma posição executiva no seu negócio familiar e explorar outros caminhos de felicidade, uma abordagem PPO pode permitir-lhe tomar certas decisões sábias agora e delinear um trajeto para um futuro mais luminoso. Em última análise, tudo se resume a viver uma vida com propósito, nos seus próprios termos e fazer com que cada dia conte para alcançar aquilo que é mais importante para si e para a sua família. Abaixo elencamos sete passos e princípios chave a seguir numa estratégia PPO.
- Identifique os ativos e passivos tangíveis e intangíveis da família e os recursos disponíveis para os períodos pré e pós-reforma. Tome nota dos aspetos mais importantes desse seu balanço financeiro familiar, de forma a perceber como podem articular-se entre si ao longo dos ciclos de vida e de mercado.
- Considere exaustivamente as metas e objetivos financeiros da sua família ao longo da vida. Seja ambicioso e preocupado com cada pessoa - não se contenha. Se o dinheiro não fosse problema, como quereria que fosse a sua vida e a deles? Consegue identificar as necessidades e os desejos? Se o inesperado bater à porta - como acontece com frequência - vai estar preparado?
- Organize as suas finanças pessoais em três dimensões chave - pinhões, pinheiros e carvalhos. Distribua os seus ativos entre elas e (re)aloque-os com confiança quando necessário. Poderá então reequilibrar essas três estratégias em função do seu propósito, caprichos do mercado e circunstâncias.
- Otimize a sua carteira, alinhando oportunamente os seus investimentos e decisões de alocação com as intenções da família e a sua potencialmente maior capacidade para lidar com a incerteza.
- Assegure-se de que constrói um plano dinâmico e flexível o suficiente para aguentar tanto o risco, como o retorno de longo prazo, e que possa suportar os gastos da família também durante períodos de volatilidade e perante necessidades imprevisíveis.
- Esteja consciente do fator impostos desde o início.
- Seja disciplinado e evite de forma consciente vieses emocionais que possam provocar decisões imprudentes.
Este plano será a tela desenhada por si a que irá recorrer para proteger e fazer crescer o seu património no longo prazo e para as gerações seguintes. Para começar, considere todos os seus objetivos financeiros, divida-os em três grupos e crie, deliberadamente, uma estratégia específica de investimento para cada um.
Pinhões - Alimentar os gastos imediatos e de curto prazo
A subestratégia pinhões lida com o financiamento das despesas e regularização das dívidas durante os dois a cinco anos mais próximos, depois de acautelar uma margem para o inesperado. Dado o propósito de curto prazo, esta fatia da sua estratégia financeira deverá assentar em fluxos recorrentes de rendimento, tais como os de trabalho e rendas de imóveis. Estes fluxos devem ser considerados como ativos estáveis e de grande liquidez - aqueles que é expectável manterem o seu preço independentemente de variações de mercado e muito fácil e rapidamente convertíveis num instrumento de pagamento. Podemos estar a falar de depósitos, contas poupança, instrumentos de rendimento fixo excecionais como os de dívida soberana ou de empresas de muito bom risco e apólices de seguro com recebimentos regulares estipulados.
Pense neles como sendo o fruto mais fácil de apanhar. Saber que permanecem disponíveis mesmo que surja algum contratempo deverá trazer-lhe tranquilidade e reforçar a sua confiança em deter carteiras com maior volatilidade. Isto evitará que tome decisões de investimento prejudiciais - como desinvestir à pressa em ativos que comprou para o longo prazo e ainda não atingiram a devida valorização.
Pinheiros - Plantar os rebentos da prosperidade de toda uma vida
A subestratégia pinheiros deverá ter uma orientação de crescimento e ser configurada de forma a ir ao encontro das metas financeiras da família durante o resto da sua vida. Permite acompanhar potenciais aumentos de capital no negócio familiar, de forma a manter o seu controlo do mesmo sob a asa da família e garantir a sua independência estratégica. Também serve para manter e melhorar o bem-estar da família, em aspetos como cuidados de saúde no longo prazo, residência principal, pagamento de hipoteca, segunda moradia, seguro de incapacidade e educação avançada. Assim como para suportar necessidades pós-reforma que vão além das pensões ou outros veículos de poupança reforma.
Tipicamente isto traduz-se numa carteira de investimentos bem diversificada com exposição significativa a ações negociadas em bolsa - a classe de ativos com o melhor histórico de retornos no longo prazo. As diferentes famílias escolherão deter mais ou menos ações, de acordo com o patamar de vida em que se encontrem e o perfil de investidor do indivíduo a cargo. Mas os mercados de ações, e bem assim o private equity, são bons aliados no esforço de redução da concentração do património familiar no negócio de família, reduzindo, em paralelo, os seus riscos setoriais, geográficos, relacionais e específicos daquele negócio.
Carvalhos - Plantar uma floresta de legado intergeracional e filantrópico
Os ativos que excedem aquilo de que precisa para satisfazer as suas necessidades ao longo da vida são a plataforma para melhorar a vida de outros. Poderá, não apenas apoiar financeiramente os seus filhos e netos, transferindo o seu património através de gerações, mas também partilhar a sua boa sorte com o mundo mais alargado. Isto poderá traduzir-se no patrocínio de organizações e projetos com que se identifique e que sejam responsáveis por contributos importantes para a sua comunidade local em áreas como educação, saúde ou cultura. As carteiras de investimento na subestratégia carvalhos podem ser - e tipicamente são - investidos mais agressivamente, em ativos com o maior potencial de crescimento, dado que o horizonte temporal associado é de muito mais longo prazo - habitualmente várias décadas, com vista a financiar objetivos multigeracionais. Tal poderá incluir ações de empresas excecionais de elevado crescimento que ainda não são lucrativas, para além de investimentos em capital de risco, de impacto ou em bens colecionáveis.
Combinação de horizontes
Muito antes da reforma, quererá ter as suas despesas de curto prazo cobertas por ativos pinhões e focar-se em estar maioritariamente investido no plantio de ativos pinheiros cujos frutos possa colher no final da sua vida. É provável que, nessa fase, a subestratégia carvalhos ainda seja prematura.
Mas, à medida que se aproximar da reforma, os objetivos da sua subestratégia pinheiros deverão estar já totalmente financiados e deverá adotar uma ou duas das seguintes estratégias: (i) primeiro, começar a deslocar ativos para a subestratégia pinhões para compensar a expectável redução de rendimentos (por exemplo, ter uma porção de investimento grande o suficiente para financiar gastos que, nesta fase, excedam os rendimentos de segurança social, pensões e participações em negócios); e (ii) em segundo lugar, poderá querer deslocar alguns ativos para a subestratégia carvalhos.
Inversamente, na hipótese de o mercado o apanhar de surpresa, também poderá rever as suas subestratégias pinheiros e carvalhos e pedir emprestado um pouco do investido nesta para financiar aquela. Não obstante, durante os seus anos dourados, deverá ter por objetivo viver calmamente à sombra dos seus ativos pinheiros, saboreando os seus frutos lentamente e deixando a componente carvalhos a aumentar de valor sossegadamente.
Com estes princípios em mente, pode pôr em prática a sua própria estratégia PPO à prova de futuro. Ao criá-la e acompanhá-la de forma intencional e atenta, estará a planear tanto para o presente como para o longo prazo, ajustando o plano para cada horizonte temporal como mais conveniente às soluções de compromisso que a sua própria família prefira.
Se olhar para o futuro e dedicar o tempo e esforço necessários à colocação dos pontos que definirão a linha de vida da sua família, será muito mais fácil reconhecer a influência da sua própria iniciativa quando um dia os unir olhando retrospetivamente.
Artigo de opinião originalmente publicado a 26 de julho de 2023 no site da FundsPeople
O que esperar de cada uma das principais economias
No último ano, os mercados financeiros têm oscilado em função das sucessivas narrativas:
Primeiro, a inflação elevada - inicialmente, aparentava ser transitória, mas revelou-se mais persistente que o esperado. Por isso, houve a necessidade de uma política monetária agressiva através das subidas de taxas de juro. Fizeram-no tardiamente, mas assistimos ao ciclo de subidas de taxas de juro mais agressivo dos últimos 40 anos.
Os investidores não tiveram onde se esconder. Obrigações com maturidades longas e ações de crescimento (onde se enquadra o setor de tecnologia), tiveram desvalorizações mais elevadas.
Segundo, a inflação começa a descer - no início deste ano, a economia começa a revelar-se mais forte do que o esperado (consumo robusto auxiliado pela acumulação de poupanças, um mercado de emprego forte, estímulos fiscais, uma crise energética menos severa que o esperado) e a inflação nos bens a recuar. Os mercados, entusiasmados com a perspetiva de uma aterragem suave da economia, começaram a recuperar das perdas do ano passado.
Nesta altura, a narrativa é que a inflação poderia estar controlada e a Reserva Federal Americana começaria a descer as taxas de juro ainda este ano. Os mercados adotaram esta narrativa. O setor tecnológico, que tinha sido o mais penalizado em 2022, teve uma subida bastante forte, sobretudo em títulos das empresas cujos modelos de negócio são altamente lucrativos e com balanços muito fortes. Passaram a ser as novas queridas dos investidores - possivelmente muitos dos que as venderam em 2022.
A nova narrativa é que as empresas sofrerão apenas uma correção nos seus lucros ao invés de uma forte recessão nos resultados que muitos esperavam. Ou seja, os mercados têm andado ao sabor das sucessivas narrativas sobre o comportamento da inflação e das taxas de juro. A recessão mais anunciada da história acabou por não acontecer, ainda.
Terceiro - os últimos dados da economia americana mostram que a inflação está a abrandar: o principal indicador nos Estados Unidos revelado em 12 julho, mostram o indicador principal nos 3%. Recordo que há um ano estávamos nos 8%.
Quer isto dizer que nos Estados Unidos a batalha contra a inflação está conquistada? Não, mas para já os dados mostram que estamos no bom caminho.
Na Europa, o BCE começou tarde e, por isso, há ainda caminho a percorrer. O índice de preços estão 5% acima de junho de 2022.
O que é que tudo isto nos diz do último ano e meio? Diz-nos que as expectativas/previsões dos analistas, de muitos gestores de fundos e comentadores, estiveram erradas. Por isso, na Casa de Investimentos não achamos que o nosso trabalho seja prever o que vai acontecer no próximo meio ano. No segundo semestre vai haver uma recessão pouco profunda? Talvez, não sabemos. Sabemos que algures no tempo vai acontecer, fazem parte dos ciclos económicos e o nosso trabalho é estarmos bem preparados investindo em excelentes empresas.
Para nós o que é relevante é saber que estamos investidos em negócios robustos, altamente rentáveis e bem preparados para aguentar uma conjuntura menos favorável e recuperarem.
As classes de ativos melhor posicionadas para enfrentar o semestre
O imobiliário deverá corrigir de uma bolha também criada por taxas de juro extremamente baixas ao longo de cerca de 14 anos. Quanto às matérias-primas, não são para nós uma alternativa de investimento. Os investidores devem saber que estas são sempre apostas especulativas. Não produzem qualquer rendimento e, por isso, para nós não fazem parte das alternativas de investimento.
Parafraseando Warren Buffett, as taxas de juro são gravidade para as ações. Isto significa que as taxas de juro elevadas, à partida, não favorecem nenhuma classe de ativos. Qualquer fluxo de cash-flows a ser recebido no futuro, atualizado a uma taxa mais elevada vão resultar num valor atual mais baixo. Por isso, é fundamental sabermos a qualidade dos balanços em que estamos investidos e a sua independência de financiamento (quer através da emissão de dívida, quer através de emissão de ações, que levam à diluição dos acionistas). Estes níveis de taxas de juro a par de uma inflação elevada, tornarão muitas empresas muito pouco rentáveis e levarão a que muitas desapareçam.
Num contexto de inflação substancialmente mais elevado do que foi nos últimos 14 anos, é importante investir em empresas de qualidade que conseguem passar a inflação para os consumidores e produzir retornos que permitam aos acionistas ganhos de poder de compra a longo prazo. A inflação afeta as margens de lucro das empresas.
A história dos últimos 100 anos mostra-nos que mesmo em ambientes de inflação, as ações deverão ser a melhor classe de ativos. Negócios excecionais conseguem passar esse aumento de custos para os consumidores. Num contexto de inflação elevada os ativos denominados em dinheiro são os piores investimentos. É preciso que as taxas de juro reais sejam superiores à inflação para que não haja erosão de capital e perda de poder de compra a longo prazo.
Ainda assim, é importante referir que a seis meses não fazemos a menor ideia do que é melhor investir. Não sabemos o que vai subir ao cair. O nosso foco é o longo prazo.
Riscos
Estamos muito atentos ao desempenho das empresas que temos em carteira e à sua capacidade de execução neste contexto de incerteza. Vai ser muito interessante ver como nestes próximos trimestres se comportam as margens das empresas e se a rentabilidade é afetada. Há um ano, as taxas de juro estavam a cerca de 1%. Esta subida tão brusca demora alguns meses a chegar à economia. Certamente, muito negócios serão afetados.
Monitorizamos os riscos do nosso portefólio, procurando sempre que as oportunidades surgem a preços sensatos, adicionar empresas defensivas com grande qualidade. Embora com taxas de crescimento mais baixas, permitem reduzir a volatilidade da carteira. Estamos muito atentos às oportunidades da nossa whatchlist, onde temos um conjunto de negócios avaliados e que, ao preço certo, poderemos investir.
O fundo de investimento recomendado para o segundo semestre
Recomendamos o nosso Fundo PPR. Tem uma estratégia clara de investimento, um conjunto de negócios excecionais a desconto do seu valor intrínseco custos baixos e transparência total. Salvo pequenos ajustes, esta é a carteira de investimentos que pretendemos ter quer faça chuva ou sol. Estas empresas têm muita qualidade e produzirão bons resultados a prazo.
Se juntarmos a isto os benefícios fiscais, temos a melhor conta de poupança a longo prazo.
Temas de investimento onde procuram alternativas de investimento
A nossa estratégia de investimento é o Investimento em valor. Para manter o rumo, definimos o universo investível, que é composto por empresas que reúnam as seguintes características:
- vantagens competitivas duráveis, que são evidenciadas por níveis elevados de rentabilidade sobre os capitais investidos,
- oportunidades de crescimento estrutural, evidenciado por um histórico de crescimento orgânico,
- um balanço forte,
- equipas de gestão comprovas dadas e com um bom track record de alocação de capital.
Estas características são mais comuns de encontrar em setores como a saúde, tecnologia, consumo, e algumas áreas industriais.
Para além de acompanhar os títulos em carteira e os seus concorrentes, procuramos expandir o nosso conhecimento sobre novas empresas dentro deste universo investível.
A Casa de Investimentos não investe por temas. O que procuramos são empresas que possam prosperar em qualquer ciclo económico e que, quando tomamos a decisão de investimento, fazêmo-lo com o objetivo de estar investido a longo prazo.
"Apesar do sucesso do investimento em valor estar tão documentado, o que realmente surpreende é que representa menos de 2% do mercado financeiro mundial. O que me deixa perplexa é por que razão um investidor que consistentemente perde dinheiro a investir no mercado financeiro ou tem rentabilidades medíocres, continua a investir da mesma forma e muitas vezes com os mesmos gestores de investimentos. Como diz Charlie Munger, se já sabem onde vão morrer, porque continuam a lá regressar?"
A frase é de Charlie Munger, sócio de Warren Buffett. Numa entrevista de televisão, apresentou as regras a seguir para se ser bem-sucedido no investimento.
Devemos, segundo Munger, selecionar ações da mesma forma que avaliamos a aquisição de um negócio na sua totalidade:
1. Dentro do nosso círculo de competências;
2. Com vantagens competitivas duráveis;
3. Geridos por pessoas capazes e honestas;
4. Comprados a preços sensatos.
Sustenta o próprio que estas são ideias muito simples e, talvez por isso, tão poucos as sigam.
A regra mais antiga do investimento, e também a mais simples, diz que devemos comprar barato e vender caro. Quem desejaria fazer de outra maneira? Mas, comprar barato relativamente a quê?
Certamente, comprar barato relativamente ao valor do bem. Para que o investidor tenha sucesso é fundamental ter uma estimativa do valor intrínseco do ativo e só comprar quando o preço está a desconto face a esse valor, salvaguardando, assim, a margem de segurança.
Todas as abordagens ao investimento em bolsa podem ser resumidas a duas grandes orientações: uma baseada na análise dos atributos da empresa, conhecida por análise fundamental e que congrega duas abordagens - o Investimento em Valor e o Investimento em Crescimento - e outra baseada no estudo do comportamento passado das cotações do ativo, que reúne, também, duas abordagens: a Análise Técnica e o Investimento Momentum. Por outras palavras, um investidor tem duas alternativas: avaliar o ativo determinando o seu valor intrínseco e comprando apenas quando está substancialmente mais barato ou vendendo quando está acima; ou, basear simplesmente a sua decisão nas expetativas do que possam ser as variações futuras dos preços do ativo. Esta última abordagem, conhecida por Análise Técnica, é o estudo dos preços passados. Embora muitos julguem que é uma técnica recente, é praticada desde sempre no mercado financeiro. O próprio Warren Buffett admite que a seguia no início da sua carreira.
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO PASSADO DOS COTAÇÕES DO ATIVO
A - A Análise Técnica teve um grande declínio no mercado financeiro a partir do início da década de 60 quando a escola de Chicago, primeiro com o Professor Eugene Fama, vem dizer que os preços passados de uma ação não servem de nada na previsão dos seus movimentos futuros. Esta é chamada a "random walk hypothesys" que, por outras palavras, significa que é um processo aleatório tal como o é atirar uma moeda ao ar. Todos sabemos que mesmo ao atirar uma moeda ao ar 10 vezes e tendo saído 10 vezes consecutivas "cara", a probabilidade de na próxima vez que a atiramos voltar a sair "cara", continua a ser de 50%. Da mesma forma, as teorias da escola de Chicago asseguram que o facto de o preço da ação ter subido nos últimos 10 dias, nada diz sobre se o preço sobe ou desce no dia seguinte.
A questão fundamental para o investidor comum é saber se esta abordagem ao investimento produz bons resultados e se o faz de forma consistente. Não tenho conhecimento de qualquer estudo que o demonstre.
B - O Investimento Momentum é outra abordagem que recorre às cotações passadas. Os investidores que a praticam fazem-no no pressuposto de que conseguem saber se uma ação que tem estado a subir, continuará a subir. Este tipo de abordagem permite participar num bull market que continua a subir. Contudo, tem muitos inconvenientes. Como é que esta abordagem lhes permite vender antes de começarem as quedas e evitar perdas? O que fazem quando os mercados caem continuamente? O maior exemplo do fracasso desta abordagem aconteceu em 1998 e 1999 com o exponencial aumento de day traders, muitos não profissionais, à procura de dinheiro fácil. Raramente mantinham posições durante a noite até porque para o fazer precisariam de dinheiro para as pagar. Várias vezes ao dia, os day traders tentam adivinhar se a ação para a qual estão a olhar irá subir ou cair. Todos sabemos o que aconteceu a estes day traders em 2000 e 2001...
Os day traders ficam muito satisfeitos quando compram uma ação a 10 e vendem a 11; passados uns meses compram-na a 22 e vendem-na a 23 e algum tempo depois compram-na a 39 e vendem-na a 40 Euros. Na verdade, numa ação que subiu 30 euros conseguiram ganhar 3 euros e ter custos de transação em 6 operações. Em contraponto, um investidor em valor teria apenas 2 operações e teria conseguido ganhar grande parte destes 30 euros de variação.
ANÁLISE DOS FUNDAMENTAIS DAS EMPRESAS
O Investimento em Valor e o Investimento em Crescimento são as duas filosofias de investimento que privilegiam a análise dos fundamentais das empresas. Em poucas palavras, os investidores em valor têm como objetivo uma estimativa do valor intrínseco do ativo e comprá-lo quando o preço é inferior. Os investidores em crescimento tentam encontrar ativos cujo valor irá aumentar rapidamente no futuro.
C - O objetivo do Investimento em Crescimento passa por identificar as empresas com futuro brilhante. Isto significa que se coloca menos ênfase nos atributos atuais da empresa e mais no seu potencial futuro. A diferença entre estes dois métodos de investimento pode ser resumida desta forma:
- Os investidores em valor compram ações (mesmo aquelas cujo valor intrínseco possa não crescer muito no futuro) com a convicção que o valor atual é superior relativamente ao preço atual. Embora existam variações dentro desta filosofia, a que seguimos parte da premissa de que é melhor comprar um negócio extraordinário a um preço razoável do que comprar um negócio razoável a um preço extraordinário.
- Os investidores em crescimento compram ações (mesmo aquelas cujo valor é inferior ao preço atual) porque acreditam que o valor irá crescer suficientemente depressa no futuro e produzirá uma apreciação substancial no preço. Esquecem que as taxas de crescimento elevadas não são possíveis para sempre e que à medida que estes negócios são mais maduros, estas taxas revertem para valores médios mais baixos.
D - No caso do Investimento em Valor, impõe-se, desde logo, colocar duas questões: O que é que torna um ativo valioso? Quanto vale uma ação ou a empresa que lhe está subjacente?
O que torna um ativo valioso é a riqueza que pode produzir no futuro. No caso de uma empresa são os seus recursos financeiros, fábricas, lojas, patentes, recursos humanos, a gestão, o nome da marca, o potencial de crescimento e de geração de cash flows. É a capacidade de todos estes ativos gerarem lucros para os acionistas.
O Investimento em Valor coloca a ênfase em fatores concretos como ativos tangíveis e cash flows. Aos ativos intangíveis como talento, modas populares e potencial de crescimento de longo prazo é dado um peso menor.
O Investimento em Valor procura negócios com vantagens competitivas duráveis e aguarda para os comprar quando estão baratos. Os investidores em valor olham, tipicamente, para fundamentais económicos como lucros, cash flows, dividendos e ativos tangíveis e querem comprar barato, com base nestes indicadores.
É extremamente difícil, como investidores, fazer sempre a coisa mais certa. É, no entanto, impossível fazer consistentemente a coisa certa exatamente na altura certa.
O mais que o investidor inteligente pode esperar é estar certo acerca do valor de um ativo e comprá-lo quando está disponível por menos do que esse valor. Mas fazer isso hoje não significa que começaremos a ganhar dinheiro amanhã.
A convicção no valor do ativo ajuda a fazer face a esta dissonância entre o que vale e a cotação de mercado. Ajuda-nos a resistir a opiniões contrárias, a um mau momento de mercado ou a um qualquer problema de curto prazo da empresa. Permite-nos estar focados no valor que a empresa tem e na sua capacidade de criação de riqueza ao longo do tempo.
Inúmeros são os estudos que demonstram a eficácia e consistência do Investimento em Valor. Os professores Martin e Puthenpurackal, num paper de 2008, concluíram que um investidor que imitasse as compras de Warren Buffett um mês após a sua divulgação pública, teria conseguido uma rentabilidade de 23,57%/ano entre 1976 e 2006. Nesse período o S&P 500 valorizou 12,82%/ano e Warren Buffett ganhou 23,96%/ano.
Porterba e Larry Summers têm inúmeros estudos que demonstram o sucesso do Investimento em Valor. A título de exemplo, "Mean Reversion in Stock Prices, Evidence and Implications", que ao longo de 60 anos, confirma os méritos do Investimento em Valor.
Warren Buffett escreveu um artigo em 1984 intitulado "Os Superinvestidores de Graham & Doddsville". Nesse artigo, Buffett elenca alguns investidores em valor que, ao longo de vários anos, conseguiram retornos muito acima de mercado:
Warren Buffett (em 54 anos) 20,2%/ano
Walter Schloss (em 28 anos) 21,3%/ano
Tom Knapp (em 16 anos) 20,0%/ano
Bill Ruane (em 19 anos) 17,2%/ano
Charlie Munger (em 13 anos) 19,8%/ano
Rick Guerin (em 19 anos) 32,9%/ano
Seth Klarman (em 25 anos) 25%/ano
O facto de o Investimento em Valor produzir bons resultados de forma consistente não significa que é fácil. Primeiro, se pagamos demais, precisaremos de uma melhoria surpreendente no valor, de um mercado forte ou de um comprador menos exigente para nos salvar. Segundo, é necessário o temperamento adequado para resistir à volatilidade do mercado financeiro, às opiniões contrárias e à capacidade de venda da indústria financeira e dos media, que patrocinam "qualquer festa ou moda".
Ignorar a multidão é fundamental.
Apesar do sucesso do investimento em valor estar tão documentado, o que realmente surpreende é que representa menos de 2% do mercado financeiro mundial. O que me deixa perplexa é por que razão um investidor que consistentemente perde dinheiro a investir no mercado financeiro ou tem rentabilidades medíocres, continua a investir da mesma forma e muitas vezes com os mesmos gestores de investimentos.
Porque é que fazendo a mesma coisa os investidores esperam resultados diferentes?
Como diz Charlie Munger, se já sabem "onde vão morrer", porque continuam a lá regressar?
Artigo originalmente escrito por Emília Vieira para a Vida Económica, em outubro de 2013, e atualizado em 22/08/2018.
EXCERTO DA CARTA A CLIENTES 2T2023
Se tudo o que faz precisa de funcionar num horizonte temporal de três anos, então está a competir com muita gente. Mas se estiver disposto a investir num horizonte temporal de sete anos, está a competir com uma fração dessas pessoas
" Jeff Bezos "
No último ano e meio os mercados financeiros têm oscilado em função das sucessivas narrativas em torno da inflação e das taxas de juro. Infelizmente, os investidores de curto prazo prestam-lhes muita atenção e acabam por tomar decisões que, a longo prazo, não lhes são favoráveis.
O que aconteceu realmente?
1º ATO - UMA SÉRIE DE EVENTOS INFELIZES (2022)
- Inflação elevada - quebras nas cadeias de fornecimento, guerra na Ucrânia e excesso de liquidez fornecida pelos Bancos Centrais durante a pandemia. A inflação elevada, que inicialmente aparentava ser transitória, revelou-se persistente.
- Política monetária agressiva - a ferramenta que os bancos centrais têm para conter a inflação é subir as taxas de juro. Apesar de iniciarem este processo tarde e da sua credibilidade ser posta em causa, este foi o movimento com maior magnitude e no espaço de tempo mais curto dos últimos 40 anos.
- Receios de uma recessão - estas políticas monetárias agressivas podem levar a economia a uma recessão. Como consequência, os mercados acionistas e obrigacionistas caíram ao longo de 2022. Este foi o segundo pior ano dos últimos 100 para a classe obrigacionista.
Obrigações com maturidades longas e ações de maior crescimento (onde se enquadra o setor de tecnologia) tiveram desvalorizações mais elevadas. Isto acontece porque uma parte significativa dos cash-flows destes ativos ocorre no futuro. Ao avaliarmos ativos hoje (uma ação, obrigação, imóvel) teremos que descontar os seus cash-flows a uma taxa de juro mais elevada. Consequentemente, teremos um valor menor.
2022 foi marcado pela incerteza: inflação persistente, subidas nas taxas de juro, mercados em queda. Receios de um abrandamento económico abrupto - o chamado hard landing - uma recessão, ausência de visibilidade quanto à evolução da inflação. A narrativa dominante antecipava uma recessão.
2º ATO - GOLDILOCKS1 (1T 2023) - ATERRAGEM SUAVE?
No primeiro trimestre, a economia revela-se mais forte do que o esperado: consumo robusto auxiliado pela acumulação de poupanças no período da pandemia, um mercado de emprego forte, estímulos fiscais, uma crise energética menos severa do que o esperado. A inflação nos bens começa a recuar. Os mercados, entusiasmados com a perspetiva de uma "aterragem suave" da economia, começam a recuperar das perdas do ano passado.
Nesta altura, a narrativa é que a inflação poderia estar controlada e a Reserva Federal Americana começaria a descer as taxas de juro ainda em 2023. Os mercados adotaram esta narrativa. O setor tecnológico, que tinha sido o mais penalizado em 2022, teve uma subida bastante forte, sobretudo em títulos das empresas cujos modelos de negócio são altamente lucrativos e com balanços muito fortes. A nova narrativa é que as empresas sofrerão apenas uma correção nos seus lucros ao invés da forte recessão nos lucros que muitos esperavam.
Independentemente da narrativa, no ano passado escrevemos em diversas ocasiões que não havia razão para que alguns dos negócios mais rentáveis e com balanços sem dívida sofressem desvalorizações tão expressivas (exemplo da Google, Microsoft, Nvidia, Amazon).
A inflação pode não estar vencida. O Bank of International Settlements (BIS), no seu Relatório Económico Anual, publicado em junho, alerta que reduzir a inflação não será tarefa fácil. Adverte para os riscos que as taxas de juro mais elevadas representam para a estabilidade financeira. Embora a inflação nos bens tenha abrandado, a inflação nos serviços tem-se revelado mais persistente. O BIS reforça a ligação entre preços e salários.
Apesar de uma política monetária agressiva, as taxas diretoras continuam, em muitos casos, abaixo da inflação. Contudo, os mercados parecem ignorar o risco de inflação elevada e acreditar que poderá regressar rapidamente aos 2%. O BIS realça a dissonância entre os preços dos mercados financeiros e as políticas anunciadas pelos bancos centrais e alerta para os riscos da estabilidade financeira. As expetativas dos mercados quanto às taxas de juro são inferiores às projetadas pelos bancos centrais.
Entre estes cenários, tentar adivinhar a evolução da economia é um exercício não só difícil, como fútil. Por isso, mantemos o nosso foco em investir em empresas que consigam prosperar em qualquer um dos cenários. A sua cotação de mercado até pode temporariamente ser-nos desfavorável. No entanto, o que realmente importa é que o seu valor intrínseco e a sua capacidade de produzir lucros aumentem a prazo.
3º ATO - AS PREVISÕES PODEM DIZER-NOS MUITO SOBRE QUEM AS FAZ;NÃO NOS DIZEM NADA SOBRE O FUTURO (2T 2023)
Os riscos não desapareceram:
- Falências em empresas - a alavancagem excessiva com que operam muitas empresas e a inflação elevada que lhes degrada as margens estão a fazer aumentar o número de falências.
- Solvabilidade dos bancos - os casos de vários bancos regionais nos Estados Unidos, e mesmo o Credit Suisse, são um exemplo dos riscos escondidos que foram sobretudo motivados por um longo período de taxas baixas em que a procura de rendimento, por parte destes bancos, em obrigações de longo prazo os levou a negligenciar a adequação da sua estrutura de ativos e passivos. Estes são os bancos que regionalmente apoiam famílias e pequenos negócios. Certamente o aumento de crédito em incumprimento - em virtude da subida de taxas de juro - vem fragilizar ainda mais muitos destes bancos regionais.
- Consequências para os mercados emergentes - os países emergentes que se financiaram em dólares enfrentam dois problemas: primeiro, precisam de substancialmente mais dinheiro para pagar a dívida em dólares, já que esta moeda se fortaleceu face à esmagadora maioria das moedas dos países emergentes. Segundo, a perceção de risco de emprestar a estes países aumentou e o custo do dinheiro subiu significativamente. Refinanciar as suas dívidas é hoje bastante mais caro.
- Níveis de dívida - primeiro com a crise financeira (apesar de ter sido há 15 anos, a maioria dos governos não conseguiu reduzir dívida) e depois com o Covid, os países voltaram a aumentar ainda mais os seus níveis de endividamento para enfrentar a crise de saúde pública com estímulos financeiros e fiscais. Com taxas mais elevadas hoje, os custos destas dívidas pesarão nos orçamentos dos Estados.
O que significa isto para os mercados acionistas?
As taxas de juro são, nas palavras de Warren Buffett, gravidade para as ações. Taxas de juro elevadas não favorecem nenhuma classe de ativos: qualquer portfólio de cash-flows a serem recebidos no futuro, descontados a uma taxa mais elevada, vão resultar num valor atual mais baixo.
Vejamos o que nos diz a história financeira. O quadro abaixo apresenta, por décadas, os últimos 90 anos de retornos em ações, obrigações e liquidez:
A performance das obrigações é muitas vezes fraca em ambientes de inflação elevada. As ações, que são ativos reais, tiveram uma performance melhor do que obrigações ou aplicações de curto prazo. Num contexto de inflação mais elevado do que nos últimos 14 anos, é importante investir em empresas de qualidade e que têm poder de fixação de preços. São estas que conseguem passar a inflação para os consumidores.
Contudo, empresas com níveis de endividamento elevado e negócios com margens mais baixas, serão seguramente menos rentáveis:
- a inflação afeta as margens de lucro das empresas,
- as taxas de juro aumentam o custo de capital.
Por isso, é fundamental sabermos a qualidade dos balanços em que estamos investidos e a sua independência de financiamento (quer bancário, quer através de emissão de ações que levam à diluição dos acionistas). Estes níveis de taxas de juro, a par de uma inflação elevada, tornarão muitas empresas muito pouco rentáveis.
Nos últimos 15 anos, com taxas de juro nominais perto de zero (taxas de juro reais negativas) e inflação inferior a 2%, os mercados acionistas tiveram um excelente desempenho. A gestão passiva teve um crescimento muito significativo e investir através de um fundo índice permitiu bons retornos. Vários especialistas financeiros defendem que a gestão ativa é hoje mais adequada. Num artigo escrito para o Financial Times, Mohamed El- Erian, defende que este é o momento para a gestão ativa.
Perante a atual conjuntura, o que podemos controlar?
O que monitorizamos hoje é a qualidade das empresas em que estamos investidos e de que forma podem ser afetadas por esta mudança de regime: o dinheiro mais caro e o convívio com inflação mais elevada.
Primeiro, podemos controlar a qualidade das empresas em que estamos investidos, assegurando-nos que estas cumprem com os nossos três pilares: vantagens competitivas duráveis, balanços fortes (com disponibilidade para investir em novas oportunidades de crescimento, comprar empresas em situação financeira mais difícil ou mesmo recomprando ações próprias a desconto do valor intrínseco) e equipas de gestão capazes de alocar capital e aproveitar as oportunidades. Acompanhamos trimestralmente os resultados destas empresas para avaliar os impactos na qualidade dos seus lucros e, por consequência, no seu valor intrínseco.
Segundo, podemos controlar e gerir o risco da carteira de investimentos. Ao longo dos últimos anos, fomos saindo de negócios mais alavancados e cíclicos para reforçar posições em empresas com modelos de negócios com um perfil mais defensivo, com balanços quase sem dívida e altamente rentáveis. Este é um movimento que continuamos a aproveitar sempre que o mercado nos apresentar as oportunidades. Estes negócios, embora tenham taxas de crescimento mais baixas, apresentam uma maior previsibilidade de resultados.
Mantemos uma watchlist de empresas de grande qualidade que temos analisadas. Muitas delas continuam caras e por isso aguardamos por uma oportunidade para comprar a preços sensatos: algo que possa correr mal no curto prazo, resultados trimestrais negativos, etc.
A MUDANÇA DE REGIME
A inflação cria maiores desigualdades sociais e aumenta a pobreza. Quem não a perceber paga-a. Numa investigação feita para muitos países, incluindo Portugal, o Professor Elroy Dimson e os seus co-autores estudaram o período de 101 anos desde 1900 a 2001. Segundo os autores, todos os investimentos chamados "conservadores" perderam dinheiro para a inflação. Em termos nominais, o dinheiro das pessoas aumentou. Contudo, em termos reais, os investidores perderam dinheiro.
Estes investimentos têm provado ao longo da história que não conservam a riqueza. Infelizmente, como não variam de cotação, os investidores não têm receio de estarem "investidos" em dinheiro à espera do momento perfeito para investirem. Apesar de muitos decidirem as suas aplicações por questões fiscais, não conseguem perceber que a inflação é o maior imposto - o chamado imposto escondido - sobre a riqueza.
"O mercado está a sobrevalorizar significativamente as qualidades do grupo de empresas mais caras e a subvalorizar as mais baratas. Nos últimos três anos, os investidores têm vindo a pagar cada vez mais pelas receitas esperadas dos quatro maiores nomes do mundo digital. É o preço a pagar para acompanhar o forte crescimento destes gigantes. Mas até quando?"
Nos últimos anos, as estratégias de investimento em valor não têm tido um desempenho tão forte como ao longo das várias décadas para as quais existem dados estatísticos (ver, por exemplo, "What has worked in investing" da Tweedy Browne). Desde a crise financeira de 2008, a economia global tem apresentado crescimentos moderados aliados a níveis de inflação extremamente baixos.
Como resultado, o crescimento nominal da economia tem sido muito inferior ao registado nas décadas anteriores. Antes da crise financeira, o crescimento real nas economias desenvolvidas era de 3% e a taxa de inflação de 2%, o que permitia atingir crescimentos nominais de 5%.
Actualmente, com menos crescimento e menos inflação, os crescimentos
nominais estão abaixo dos 3%. Neste ambiente, o mercado tem sobrevalorizado as empresas que conseguem sustentar taxas de crescimento mais elevadas, ignorando muitas vezes a rentabilidade
associada a esses investimentos.
Este fenómeno, em que as estratégias de investimento em valor têm mais dificuldade em produzir retornos acima da média, não é novo. Periodicamente, existem momentos de mercado em que um conjunto de empresas são percepcionadas como as vencedoras do futuro, e as restantes, são vistas como as perdedoras. Provavelmente, os dois exemplos mais paradigmáticos são as "Nifty Fifty" no início da década de 1970 e a bolha tecnológica no final da década de 1990. Em ambos os casos, os investidores concentraram as suas expectativas mais optimistas num grupo de empresas em detrimento do restante universo de investimento, levando esse grupo de "eleitas" para cotações insustentáveis. O resultado foi o mesmo em ambos os casos: perdas avultadas para os investidores das empresas da "moda" e resultados muito superiores para quem investiu nas empresas "chatas" que constituíam o resto do mercado.
No momento actual, vemos sintomas semelhantes com o ciclo a favorecer dois tipos de empresas: as empresas disruptivas de alto crescimento, ou FANG (acrónimo para Facebook, Amazon, Netflix e Google), que se têm afirmado nas áreas de social media, e-commerce, streaming e web services e que se têm valorizado como se fossem monopólios inabaláveis; e as empresas de negócios estáveis nas áreas de consumo, tecnologia, saúde e eletricidade, ou Bond Proxies (aproximações de obrigações), negócios que atraem capital que procura estabilidade e rendimento num mundo em que muitos bancos centrais mantêm taxas de juro negativas ou próximas de zero. Em ambos os casos, os investidores estão a ignorar os riscos subjacentes a cada um dos grupos.
Distorção do mercado e das expectativas
No caso das empresas de crescimento, as expectativas implícitas nos preços actuais obrigam a crescimentos anuais de 15% a 20% das vendas ao longo da próxima década. No entanto, muito poucas empresas conseguem sustentar ritmos de crescimento tão elevados durante períodos tão longos. Ao mínimo sinal de abrandamento, o reajustamento das expectativas dos investidores poderá ter um impacto violento nas cotações.
Actualmente, verificamos que o mercado está a pagar um valor muito elevado por cada dólar de vendas esperadas pelas empresas FANG - cerca do dobro do que pagavam em 2014. No caso da Amazon, por exemplo, se há três anos pagavam um dólar por cada dólar de vendas estimadas, hoje já pagam 2,8 (cerca de 2,3 euros). Comprar crescimento está cada vez mais caro... Mas estas empresas não são casos únicos entre as empresas cotadas e em transacções privadas (UBER, Airbnb, etc.). As avaliações são também extraordinariamente generosas.
No caso das chamadas Bond Proxies, o risco pode vir de dois lados: uma possível desilusão nos resultados ou uma subida das taxas de juro que desvalorize o valor dos cash flows futuros. Quando o preço de uma empresa reflecte um cenário perfeito, o mínimo desvio desse cenário poderá implicar perdas avultadas. O problema é agravado porque grande parte destas empresas não revelam rentabilidades acima do resto do mercado.
Richard Pzena, o gestor da Pzena Investment Management, notou que o grupo de empresas mais caras do mercado (por via de rácios como Preço/Lucros e Preço/Valor Contabilístico) não tem apresentado nos últimos anos melhores taxas de crescimento de vendas do que o grupo das empresas mais baratas, nem produziram melhores retornos (quando medidos pelos retornos nos capitais próprios) para os seus accionistas. Ou seja, o mercado está a sobrevalorizar significativamente as qualidades do grupo de empresas mais caras e a subvalorizar as mais baratas. Os gestores da GMO partilham desta visão. No Insight de Junho de 2017, afirmam que o fosso de valorizações que se cavou entre estas áreas de mercado cria as condições para assistirmos, mais cedo ou mais tarde, a uma normalização que produza retornos superiores para os investidores em valor.
Teoria do tolo maior
A transferência significativa de dinheiro da gestão activa (fundos de investimento e hedge funds) para a gestão passiva (investimento em fundos que replicam os índices) contribuiu também para estas distorções no mercado. O principal problema da indexação é que ela representa a compra indiscriminada das acções em proporção ao valor de mercado da empresa. Se o mercado fosse eficiente, estaríamos a comprar, pelo menos em média, as acções ao seu valor justo. Mas quando se registam tantas distorções nos valores de mercado, indexar significa comprar uma proporção maior das empresas que estão mais caras. É, pois, de esperar que a indexação venha a criar mais oportunidades para nós, os investidores em valor.
Segundo Jason Zweig, colunista do Wall Street Journal, no seu livro "O Dicionário Financeiro do Diabo", defende a teoria que não importa o quão tolo é o preço que se paga por uma acção ou activo, se conseguir encontrar um tolo maior que lhes pague mais para comprar esse activo. Para quê tero trabalho de avaliar uma acção se podemos simplesmente apostar que existe alguém que acha que ela vale ainda mais? Esta expressão, que é uma crença partilhada por muitos investidores, teve origem na década de 1960 - embora a esperança de ser capaz de vender a alguém ainda mais temeroso que nós é quase certamente tão velha como os mercados financeiros.
Pode parecer surpreendente que alguma vez se verifique uma escassez de tolos neste mundo. No entanto, aqueles que estão seguros que encontrarão um tolo quando mais precisam, poderão acordar um dia e verificar que todos os outros subitamente ficaram espertos e que o tolo maior é ele próprio.