Publicado originalmente a 5 de outubro de 2021 por Joshua M. Brown no seu blog The Reformed Broker

Eu coleciono ações de empresas. Já faço isto desde o final da minha adolescência. Nem sempre com sucesso. Para o fazer, utilizo um certo tipo de token não fungível, denominado certificado de ações. Eu nunca ponho as mãos no certificado, ele está em formato digital e vive algures no multiverso. Uma empresa chamada DTC garante que as ações que comprei são as que recebo. E depois mantenho-as em carteira. Às vezes, troco-as por dólares digitais, que também nunca vejo ou toco, mas pouco depois, troco esses dólares por outra pilha de certificados virtuais de ações. As pessoas vão dizer "És louco, por que razão queres comprar uma fração de uma empresa que nunca vais tocar ou segurar nas tuas mãos?" E eu digo "Tu, simplesmente, não compreendes."

O meu portfólio de tokens virtuais de propriedade de negócios dá-me também o direito de propriedade real de negócios no mundo não online. Por exemplo, eu tenho ações de um fundo de investimento imobiliário, que é um tipo de NFT que possui terrenos e propriedades e é obrigado a distribuir 90% dos alugueres que esses terrenos e propriedades geram. Distribuem por mim e pelas outras pessoas que têm ações do fundo. É cool ter ações no mundo virtual, mas também é cool poder ver os prédios reais que possuo em cidades por toda a América. Se quiser, posso tocá-los. Posso saber que eles estão lá, de pé, a trabalhar, a receber dinheiro e a pagar. A melhor parte é que não preciso me preocupar se esse token será suficientemente cool para que outra pessoa o queira comprar. Eu recebo os fluxos de caixa e as distribuições de dividendos, desde que o mantenha em carteira.

Há muito, muito tempo, comprei uns layer one protocols que tiveram uma subida apreciável no seu valor.  Estes incluem certificados negociáveis ​​e visualizáveis ​​on-line que denotam a minha propriedade nos projetos chamados Apple, Amazon, Alphabet, Berkshire Hathaway, JPMorgan e Nvidia. Estes protocolos começaram por ser empresas, mas acabaram por se tornar plataformas - a camada básica sobre a qual milhões de outras empresas foram construídas. De um dia para o outro, entram e saem da moda e às vezes podem perder o seu encanto durante anos a fio. No entanto, produzem fluxos de caixa e eu possuo certificados que me dão direito a uma parte desses fluxos de caixa, para sempre, desde que esses certificados continuem a ser negociados nas bolsas digitais em que estão cotados. Infelizmente, eles não têm avatares de gatinhos ou JPEGs desfocados. Tudo bem, é a minha coleção privada e não a exibo no Twitter para que estranhos coloquem likes. É muito difícil convencer-me a abrir mão de um desses certificados de propriedade de protocolo da camada base, dada a sua importância para o ecossistema em que todos estão a construir.

Agora, o leitor pode estar a dizer para com os seus botões, “Por que motivo está este idiota a desperdiçar dinheiro a colecionar certificados de ações digitais e os fluxos de caixa de empresas quando poderia estar a comprar desenhos de estudantes universitários ucranianos?” Reconheço que, na verdade, não tenho respostas para isso. Talvez venha a compreender num futuro próximo, mas sou da velha escola. Talvez tenha mau gosto para itens colecionáveis.

Há quem goste de colecionar cartões de basebol e quem prefira banda desenhada. Há colecionadores de selos, de automóveis raros, de memorabilia do rock n 'roll, móveis antigos, livros antigos, joias vintage, camisolas autografadas e até mesmo de pedras bonitas apanhadas do chão e polidas até brilharem intensamente. Recentemente, surgiram colecionadores de imagens que outros desenham à mão ou geram via software. Para colecionarem essas imagens, têm que competir com especuladores que não são sentimentais e estão lá apenas para transformar uma pequena quantia num grande valor, comprando e vendendo. Alguns dos colecionadores tornaram-se colecionadores porque, à medida que os valores de suas imagens aumentavam, também aumentava a sua autoestima. Alguns colecionadores ficaram tão ligados às imagens que compraram, que as imagens passaram a fazer parte da sua identidade - “Eu sou o tipo que comprou esta foto na internet por um preço muito mais baixo do que poderia vendê-la hoje.”

Para alguns colecionadores, colecionar não é suficiente. Eles precisam que todos à sua volta – amigos, familiares ou estranhos, não importa – saibam da sua coleção. Eles têm que evangelizar a astúcia da sua coleção e admoestar aqueles que não foram suficientemente inteligentes para também o fazer. “O meu trabalho não terminará até que todos na terra reconheçam a minha sagacidade na aquisição deste NFT de um macaco por 36 000 dólares, muito antes de outra pessoa adquirir o NFT de um macaco semelhante por 91 000 dólares. todos se vão ajoelhar perante mim da próxima vez que nos encontrarmos no Twitter.”

E, na minha opinião, está tudo bem. Cada um tem a sua preferência pelas coisas que gosta de colecionar e a sua própria forma de o expressar. A minha sogra adora elefantes de porcelana e vidro. Ela não fala sobre isso dia e noite num Discord qualquer ou altera a foto da carta de condução para uma foto do elefante favorito. Eles apenas estão expostos numa prateleira e fazem-na feliz.

Gosto de colecionar fluxos de caixa das melhores empresas do mundo. Acumulo-os nas minhas contas, reforço-os quando os preços caem, e, quando os dividendos são pagos, compro mais. A minha coleção aumenta a cada ano que passa. Não consigo tocar na minha coleção. Não consigo segurá-la nas mãos. É virtual, é digital, vive no ambiente online criado pelas corretoras e pelas bolsas. Existem muitas coleções como esta, mas esta é minha. Conto os fluxos de caixa que recebo quando estou de mau humor e isso põe-me bem-disposto outra vez. Acho que todos deveriam colecionar coisas que os fazem felizes.

Aqui está uma réplica de um dos meus NFTs favoritos. É um certificado de ações que representa a propriedade real nos fluxos de caixa atuais e futuros da empresa mais lucrativa da história da Terra. O certificado é digital, mas o registo da minha propriedade existe numa cadeia de custódia imutável. É lindo: