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Relatório e Contas

RELATÓRIO DO CONSELHO DE ADMINSTRAÇÃO

CASA DE INVESTIMENTOS – GESTÃO DE PATRIMÓNIOS, S.A.

Braga, 31 de Dezembro de 2013

INTRODUÇÃO

No cumprimento das disposições legais e estatutárias, o Conselho de Administração da Casa de Investimentos – Gestão de Patrimónios, S.A. vem apresentar o Relatório de Gestão e as Demonstrações Financeiras bem como a Proposta de Aplicação de Resultados referentes ao exercício findo em 31 de Dezembro de 2013.

I - ENVOLVENTE MACROECONÓMICA

Macroeconomia

Em 2013, o crescimento mundial continuou a desapontar as expetativas, sobretudo devido ao abrandamento da atividade económica dos países emergentes. Fatores políticos e o impacto do anúncio da retirada dos apoios não convencionais pela Reserva Federal dos EUA, em Maio, tiveram um reflexo relevante na evolução da atividade económica via confiança dos agentes económicos. Os países Emergentes, sobretudo os mais expostos em termos de Balança Corrente, evidenciaram uma evolução menos positiva em face da saída significativa de capitais perante condições financeiras menos favoráveis, devido aos efeitos das alterações anunciadas pela Reserva Federal dos EUA. Contextos políticos menos favoráveis tiveram também impacto, conduzindo a um desempenho abaixo do previsto. No entanto, as economias desenvolvidas continuam a fazer progressos no sentido de corrigir os desequilíbrios económicos acumulados até à crise financeira 2008. Os défices públicos têm sido corrigidos e as projeções apontam para que nos próximos dois anos os endividamentos públicos atinjam o ponto de inflexão iniciando a sua redução. Apesar de a Reserva Federal ter sinalizado a progressiva retirada de estímulos monetários, os mesmos continuam a ser regra um pouco por todo o mundo desenvolvido.

Os Estados Unidos registaram crescimento económico de 1,9% em 2013 face a 2,8% em 2012. O crescimento foi menor refletindo a contração fiscal levada a cabo, as disputas políticas em torno do nível de dívida e o continuar da desalavancagem dos agentes económicos. A taxa de desemprego recuou de 8,1% em finais de 2012 para 7,4% em Dezembro de 2013.

Na Europa o sentimento de possível desagregação da zona Euro foi-se dissipando em 2013, o que contribuiu para a recuperação da confiança dos consumidores e para a atração de investimento. O Banco Central Europeu cortou a taxa de juro diretora de 0,75% para 0,25%. Mesmo assim, a atividade económica na zona euro recuou 0,5% no ano, tendo na segunda metade registado crescimentos positivos. A taxa de desemprego subiu para 12,05%.

O estado chinês avisou , no final de 2013, que "lidará severamente" com empresas estatais ineficientes e que reportam constantemente prejuízos. Também afirmou que "as forças de mercado terão um maior papel na economia". Uma reforma destas empresas estatais poderá significar o acesso mais difícil a crédito e, como consequência a economia chinesa poderá sofrer nos próximos tempos um abrandamento de atividade. Há cada vez uma menor vontade do estado chinês para providenciar sempre os fundos e assegurar a liquidez barata às empresas estatais. Prevê-se que a economia chinesa tenha de vir a lidar cada vez mais com as forças de mercado, que muitas vezes são artificialmente impedidas de produzir as suas consequências naturais.

Portugal continuou em 2013 o processo de ajustamento dos desequilíbrios estruturais acumulados ao longo de anos, tendo registado contração económica pelo terceiro ano consecutivo. Verificou-se um crescimento económico negativo de -1,3% e a taxa de desemprego no final do ano subiu para 16,25%. Ainda assim, a evolução do ano pautou-se por uma alteração drástica na tendência económica – após um primeiro trimestre fortemente negativo, sucederam-se nove meses em que a atividade económica foi, sucessivamente, surpreendendo em alta.

Mercados Financeiros

O mercado de capitais verificou ganhos expressivos durante 2013 apesar das incertezas macroeconómicas que subsistiram durante o ano. O Dow Jones Industrial Average - índice que agrega as 30 maiores empresas americanas – subiu, em 2013, cerca de 29,65%. O S&P 500 – índice que agrega as 500 empresas americanas de maior capitalização bolsista – subiu 32,38%. Na Europa, a performance em média foi também bastante positiva: o principal índice alemão, DAX, teve uma valorização de 23,01% e o principal índice francês, o CAC 40, verificou uma subida de 18,79%. Na península ibérica, o mercado português apresentou uma valorização de 17,03%, enquanto que o mercado espanhol desvalorizou 23,53%.

No segmento de taxa fixa, as obrigações governamentais dos Estados Unidos da América, com maturidade a 10 anos, cotavam a 3,028% no final de 2013 quando em 2012 cotavam a 1,758%. Na Europa, as yields das obrigações do Estado Alemão subiram, de 1,316%, no final de 2012, para 1,929% em final de 2013. As yields das obrigações portuguesas com maturidade a 10 anos caíram de 7,011% no final de 2012 para 6,13%, refletindo uma progressiva redução do prémio de risco do país.


As taxas de juro históricamente baixas levaram a que a atividade nos mercados de capitais acelerasse. O número de IPO´s aumentou consideravelmente; as empresas e até países conseguiram mais financiamentos e a taxas mais baixas.

Os Mercados Emergentes tiveram um ano muito difícil. As moedas desses países estiveram muito voláteis e as respectivas bolsas sofreram perdas muito significativas. Nesta altura encontram-se valorizações baixas nestes mercados e há boas razões para acreditar que possam recuperar já em 2014.

II– OBJECTIVOS DA CASA DE INVESTIMENTOS

São os que traçámos quando decidimos criar a Casa de Investimentos, são os mesmos do ano passado e manter-se-ão os mesmos enquanto os gestores e accionistas formos nós, os fundadores: servir os nossos Clientes com competência, honestidade, transparência e independência.

O nosso trabalho é criar riqueza para os Clientes, fazê-lo com risco limitado e de forma compreensível e confiável. O nosso objectivo é ganhar clientes para a vida, merecer o seu respeito e admiração.

Por isso, colocamos os seus interesses em primeiro lugar, sabendo que a prazo, estamos a agir no nosso melhor interesse. São eles que levam o nome da nossa Casa mais longe e que melhor apresentam os resultados do nosso trabalho. É assim que temos crescido e conseguido chegar a cada vez maior número de investidores. Em 2014, pretendemos:

      1. Conseguir mais um ano de boas rentabilidades, não abdicando dos padrões de exigência nos ativos que selecionamos, nem da margem de segurança que nos permite limitar o risco e potenciar as rentabilidades,

      2. Manter o rigor na avaliação dos ativos – só depois de uma análise profunda da qualidade do ativo, poderemos saber se o ativo é caro ou barato,

      3. Aguardar pacientemente que os investimentos que fizemos se materializem e mantermo-nos disciplinados: comprando quando o ativo transaciona ao nosso preço de compra (o que nos garante a tal margem de segurança) e vendendo quando o ativo chega ao nosso preço de venda, o valor que entendemos ser justo,

      4. Apresentar a Casa de Investimentos a novos Investidores, os méritos de investir com uma filosofia de Valor e com um sentido oportunístico: comprar quando nos vendem um activo bom em saldo e vendendo aos optimistas que acreditam que os ativos podem subir indefinidamente,

      5. Contribuir para melhorar a cultura financeira: alertando para os riscos, a necessidade de um horizonte de investimento adequado e a importância de investir com margem de segurança,

      6. Conseguir aumentar o número de clientes,

      7. Conseguir o reforço das contas dos Clientes que já servimos; quer pela valorização que conseguimos na gestão, quer por depósitos novos em conta.

A nossa presença assídua na imprensa tem como principal objectivo contribuir para melhorar e valorizar a cultura financeira. Acreditamos que investidores/aforradores com mais conhecimentos financeiros tenderão a privilegiar a nossa abordagem ao investimento e a ter maior motivação para criar riqueza. Investidores mais exigentes permitir-nos-ão ser mais capazes e crescer como verdadeiros guardiões de capital.

Na colaboração quinzenal que mantemos com a Vida Económica, procuramos alertar os investidores e motivá-los para o conhecimento. Presumimos que continuamos a criar valor nestas páginas. Este trabalho tem também o objectivo de chegar a um maior número de potenciais investidores e que venham a resultar em alguns novos clientes. Fazêmo-lo sempre de forma séria, tal como acreditamos ser a melhor forma de estar no mercado financeiro.

No último ano, salientamos duas peças na imprensa que nos trazem grande satisfação:

1 - o site SumZero, classificou o Director da Gestão de Ativos, Hugo Roque, entre os 4 melhores analistas do mundo, em resultado das análises publicadas nesse site. A referência foi publicada no Wall Street Journal. O Jornal Expresso, em artigo de 06 de abril, noticiou este prémio.

2 – A DECO, através de cliente mistério, visitou várias gestoras de patrimónios e bancos, entre as quais se contou a Casa de Investimentos. Na sua edição de setembro passado, a Deco concluiu que a Casa de Investimentos é a Gestora de Patrimónios que em Portugal melhor rentabiliza o dinheiro dos seus clientes.

Trabalhamos para que os nossos Clientes sejam Clientes antigos. Se o conseguirmos, os benefícios serão enormes, para clientes, colaboradores e acionistas. É este conjunto de objetivos que estamos motivados para atingir.

III – COMO VEMOS O NOSSO TRABALHO

É nossa convicção que o mercado de capitais é um centro de realocação de capital no qual o dinheiro é transferido dos mais ativos para os mais pacientes.”

Warren Buffet

Quando o mercado cai para preços verdadeiramente ridículos e as ações de empresas extraordinárias cotam a 40 ou 50% do seu real valor, o pessimismo apodera-se dos investidores. O pânico, o pessimismo e o medo produzem preços baixos. É neste ambiente que gostamos de comprar ações de empresas extraordinárias que comprovaram, ao longo de décadas, que são excelentes máquinas de fazer dinheiro para os seus acionistas.

Os preços que resultam deste ambiente são os que nos dão grande margem de segurança e, como consequência, são os que proporcionam grandes retornos para os nossos clientes. No entanto, nesse ambiente é muito difícil encontrarmos grande recetividade junto do público investidor.

Do mesmo modo, o otimismo faz com que a generalidade dos ativos suba de preço: a legião de compradores aumenta e a tese de que desta vez é diferente vai ganhando adeptos e conquistando os mais céticos. É nestas ocasiões que gostamos de vender, de manter a flexibilidade para oportunidades que possam surgir a preços mais sensatos e que protejam os valores que estamos a investir.

Em resumo, quando é altura para comprar, quase todos querem vender e quando é altura de vender, quase todos querem comprar.

Diz-se que são precisos dois para dançar o tango. Na Casa de Investimentos, vemos a nossa tarefa um pouco mais complicada. Sejamos claros, investir é difícil, seja qual for a circunstância:

  1. é preciso avaliar os ativos,

  2. é fundamental ter disciplina para comprar apenas quando estão baratos - quando o preço a que compramos é substancialmente inferior ao valor que estamos a receber,

  3. é importante ter paciência para aguardar e vender apenas quando a cotação de mercado reflete o valor da empresa - é essencial ter paciência para esperar pela melhor altura para agir.

  4. é preciso encontrar os clientes certos, aqueles que, como nós, se comportam como donos de uma pequena fatia de um negócio.

Os verdadeiros investidores, os que têm “residência permanente”, sabem que não é possível fazer coisas extraordinárias no mercado financeiro todos os dias. Muitas vezes, a nossa maior contribuição na Casa de Investimentos, como gestores de dinheiro, – porque pomos os interesses dos clientes em primeiro lugar – é mantermo-nos relativamente inativos. Se não houver bons ativos a preços sensatos para comprar ou não tivermos em carteira ações, cuja cotação de mercado seja pelo menos igual ao valor intrínseco, para vender, a inatividade parece-nos a atitude mais inteligente e sensata.

A filosofia de Investimento em Valor que seguimos, é fácil de entender mas muito difícil de implementar de forma consistente. Warren Buffett, fê-lo ao longo de décadas e, na assembleia de accionistas de 2013, lembrou o que é importante no investimento:

  • é muito melhor comprar um negócio excecional ao preço justo do que comprar um negócio razoável barato. As vantagens competitivas fortes irão permitir ganhar rentabilidades acima da média. Claro que um negócio com fundamentos soberbos pode ser um mau investimento se o comprarmos a um preço excessivo. Um bom exemplo é a Microsoft: em 2000 já era uma empresa excelente, contudo, foi um mau investimento para quem a comprou nessa altura,

  • investir envolve um grande grau de subjectividade e capacidade de julgamento, não é apenas a análise de números e rácios financeiros. É importante entender o negócio, saber as suas vantagens competitivas e a sua capacidade de se manter para o futuro,

  • previsões macroeconómicas não têm qualquer relevância para o investidor. Há demasiada incerteza à volta de todas as previsões macroecómicas e portanto, ignorar aquilo que sabemos dos bons negócios, só porque as previsões não são boas, parece-nos uma tolice,

  • pensar em ações como uma parte de um negócio que, dia após dia, cria riqueza. A cada oportunidade, Buffett aconselha os investidores a comportarem-se como donos dos negócios e não como se as acções fossem apenas pedaços de papel para trocar de mãos todos os dias ou semanas,

  • recordando as orientações da sua filosofia de investimento: “gostamos de boas empresas a preços baixos, independentemente de se localizarem nos Estados Unidos ou na Europa, onde as incertezas económicas são maiores. Se for uma boa empresa, com vantagens competitivas e o preço for atrativo, será um bom investimento”.

IV - QUANTO VALE UMA AÇÃO? QUANTO VALE A EMPRESA TODA?

A questão é simples e merece uma resposta simples: uma empresa vale o valor presente de todo o dinheiro que vai gerar no futuro. É isto. No entanto, isto não quer dizer que aferir o valor de uma empresa seja fácil.

Warren Buffett e Munger costumam dizer que, quando compram ações de empresas cotadas, fazem uma análise muito semelhante à que utilizam quando compram empresas inteiras. Em primeiro lugar, tentam estimar os resultados da empresa para os próximos cinco anos ou mais. Se o conseguirem fazer, compram a ação (ou negócio) se ela estiver a transacionar a um preço razoável relativamente às estimativas a que chegaram. Se, pelo contrário, não são capazes de estimar os lucros futuros - o que às vezes acontece, dizem eles - avançam para outra oportunidade. Garantem que nunca recusaram uma compra atrativa devido ao ambiente macroeconómico ou político e que esses fatores nem são levados em conta quando tomam estas decisões de investimento.

Para sabermos quanto vale a empresa, recorremos a diversos métodos de análise dos fundamentais económicos do seu negócio. Vamos analisar os 10 últimos anos do negócio e todos os dados do balanço e demonstrações financeiras são escrutinados. Dividimos em três os métodos de avaliação absoluta, cuja escolha deverá considerar cada caso específico a avaliar, sector e elementos de valor da empresa:

  • Avaliação dos Activos,

  • Avaliação de Resultados,

  • Avaliação do Potencial de Crescimento Sustentado.

Independentemente do sector em que a empresa opera, usamos ainda métodos comparativos de avaliação. O valor da empresa é calculado usando um múltiplo, que pode ser uma média do sector em que a empresa opera ou uma média histórica da empresa:

  • Price Earnings Ratio (PER)

  • Price to Book Ratio (PB)

Para além de procurarmos que haja uma grande diferença entre o que a empresa vale e o preço a que cota no mercado, procuramos outros elementos que permitam reforçar a Margem de Segurança:

  • Selecionar empresas com balanços conservadores, empresas com um rácio de dívida baixo em relação aos capitais próprios,

  • A qualidade dos activos no Balanço, por exemplo, terrenos e imóveis bem localizados, ativos líquidos como dinheiro, depósitos, etc,

  • Seleção de negócios simples que consigamos compreender e analisar, o que implicará maior confiança na análise e por consequência no investimento,

  • Procurar oportunidades de investimento durante as crises, recessões, ou quando existem problemas inerentes a um setor de actividade, um problema de uma empresa em particular ou numa correção generalizada de mercado, em que o pessimismo se instale,

  • As apresentações de resultados – o facto do horizonte temporal da maior parte dos investidores ser tão curto - resultam muitas vezes em excelentes oportunidades para investir.

  • Utilizar estimativas conservadoras nestes processos de análise e determinação do valor, é fundamental. Investir deve ser uma atividade rigorosa e muito exigente.

V - HORIZONTE DE INVESTIMENTO

É bem sabido que muitos investidores profissionais transacionam freneticamente embora isso, inevitavelmente, aumente os seus custos de transacção. Estima-se que mesmo aqueles que investem em obrigações do tesouro americano com vencimento a 30 anos, por exemplo, apenas as mantêm em carteira alguns meses. Isto demonstra que mesmo os investidores em obrigações soberanas estão mais interessados em especular do que nos retornos de longo prazo.

Os investidores em valor gostam de recordar a velha história do trading das sardinhas: há uns anos, as sardinhas desapareceram das suas águas territoriais tradicionais em Monterrey, na Califórnia. Os traders de matérias primas (as chamadas commodities), devido à sua escassez, fizeram aumentar os preços. Cada lata de sardinha passou a valer uma fortuna. Certo dia, um comprador decidiu cometer uma extravagância e abriu uma lata para se deliciar com as sardinhas. Adoeceu imediatamente e disse ao vendedor que as sardinhas estavam estragadas. O vendedor declarou, "essas sardinhas não são para comer, são sardinhas para o trading!" Nos mercados financeiros de hoje, existem muitas sardinhas para o trading e, aos preços actuais, muito poucas sardinhas para comer.

A juntar aos impulsos especulativos dos investidores, a inovação tecnológica, ao longo dos anos, comprimiu o horizonte temporal dos investidores. A tecnologia permite que a performance de um gestor de dinheiro seja medida, não apenas mensalmente ou trimestralmente, mas também diariamente, hora a hora e constantemente. A pressão sobre a performance que muitos investidores sentem empurra-os para uma orientação absurda de curto prazo. Se os seus resultados são avaliados no curto prazo, se gere um fundo e a sua performance é publicada todos os dias no jornal, se o seu track record vais ser analisado por comités de investimento e consultores todos os trimestres, se pode perder clientes e até o seu emprego devido a uma performance de curto prazo mais fraca, o longo prazo torna-se irrelevante.

Os investidores profissionais não suportam quando o mercado sobe cada vez mais alto e a sua performance não o acompanha. Mesmo quando os preços são absurdos, eles são incapazes de ter liquidez e aguardar pacientemente fora do campo de jogo. Precisam de acompanhar o mercado. Isto faz com que se cometam loucuras, chegam a alavancar as suas posições para conseguir mais umas migalhas de retornos. São atraídos para aqueles activos que mais subiram e compram mais. Ao mesmo tempo, vendem aqueles que não acompanharam a subida. Estas pressões levam inevitavelmente a uma atitude cada vez mais de curto prazo.

Muitos estudos comprovam que os activos que têm melhor performance num passado recente terão, provavelmente, pior performance no futuro e aqueles cuja performance deixa a desejar, provavelmente irão melhorar. Este tipo de pensamento contrário é, contudo, muito raro nos mercados financeiros. As pressões para a performance de curto prazo e a compulsão quase universal para tentar acompanhar um mercado que sobe levam a que, por vezes, se formem bolhas de mercado.

Uma bolha pode ser parcialmente identificada pelas avaliações estratosféricas, mas pode ser também comportamental. Quando os preços sobem simplesmente porque têm estado a subir, quando as pessoas são empurradas para a especulação porque não conseguem resistir a ver os vizinhos e amigos a ganhar dinheiro, o mercado pode estar a entrar em território de bolha. Nas palavras do famoso economista, John Kenneth Galbraith, "Uma bolha tem origem na subida dos preços, quer seja de acções, imobiliário, obras de arte ou qualquer outro activo. Um aumento nos preços chama a atenção e atrai compradores, o que resulta em preços ainda mais altos".

Os média financeiros regam o fogo com gasolina. A cobertura ubíqua das televisões por cabo do mercado financeiro, reforça a loucura frenética que exacerba a já forte orientação de curto prazo dos investidores individuais e profissionais. Fomenta a crença de que é possível - ou mesmo necessário - ter uma opinião sobre tudo que tenha a ver com o mercado. A cultura do soundbite reforça a impressão popular de que

investir é fácil e não uma actividade rigorosa e exigente. Os comentadores diários exultam nas grandes subidas de mercado e lamentam-se nas quedas. Os espectadores ficam convencidos que a subida é a única direção racional do mercado e que vender ou estar fora do mercado é uma atitude pouco patriótica. O histerismo é exacerbado a cada esquina.

Nos últimos 20 anos, a Psicologia e a Neurociência, descobriram duas características que são particularmente relevantes na tomada de decisões:

A primeira, é que estamos preparados para o curto prazo – o ser humano tende a considerar a possibilidade de ganhos no curto prazo extremamente atractiva. Estes ganhos estimulam os centros emocionais do cérebro e libertam dopamina: ficamos mais confiantes, estimulados e satisfeitos connosco próprios.

A Segunda, é a nossa tendência para adoptar comportamentos de rebanho: a dor de exclusão social (ou seja, comprar quando todos vendem ou vender quando todos compram) é sentida nas mesmas partes do corpo em que sentimos a dor física real.

Os canais financeiros potenciam ainda estas limitações que temos como investidores: levam a mentalidade de rebanho a todas as salas de estar, fazendo com que seja cada vez mais difícil para os espectadores não entrarem em jogo. Num mundo onde a diferença entre investir e especular é cada vez mais ténue, os disparates nos canais financeiros apenas acentuam o problema.

Na Casa de Investimentos, quando somos procurados por algum investidor que pretende investir o seu dinheiro com o objectivo de conseguir um lucro rápido nos próximos seis a doze meses, informamos que não podemos fazê-lo. Com este horizonte de investimento, o que o investidor deve fazer é um depósito a prazo. Nós não daríamos qualquer outro conselho.

É extremamente difícil, para os gestores de dinheiro, manter o horizonte temporal necessário para o sucesso quando os resultados de curto prazo ditam se eles se vão manter em actividade para o longo prazo.

Nunca compraríamos um ativo que não fossemos capazes de ter 3, 4 ou mais anos. Não compraríamos um ativo, que nós como investidores do nosso próprio dinheiro, não investíssemos. O nosso princípio é comprar excelentes ativos baratos. Nalguns casos esperamos anos para conseguir comprar ações de uma excelente empresa. Da mesma maneira, enquanto esta ação transacionar no mercado a desconto do valor justo, manteremos o investimento.

VI - DIVERSIFICAÇÃO, A ESSENCIAL

Todos os dias, os investidores podem comprar e vender milhares de empresas cotadas nas bolsas mundiais, obrigações de governos e empresas no mercado secundário; inúmeros produtos derivados e estruturados, fundos de investimento, hedge funds Warrants, ETF´s etc. Estes activos são “criados” por instituições financeiras mundiais com com o objectivo de gerar comissões. É por isso importante para esta indústria criar a ilusão aos investidores que podem enriquecer do dia para a noite. Os investidores são “incentivados” a ter uma carteira muito diversificada de produtos financeiros, para reduzir os riscos. O pretexto é “não ponha os ovos todos no mesmo cesto”.

Aprendemos com Benjamin Graham e Warren Buffett que a chave para investir com sucesso é a compra de acções de empresas com negócios fabulosos, geridos por gente capaz e honesta, quando os seus preços estão a desconto substancial do seu valor justo.

Seguindo este critério, o investidor inteligente vê o universo de empresas e activos em que deve investir o seu dinheiro, muito reduzido. Atendendo que os seus recursos, quer de tempo, para levar a cabo uma análise profunda e posteriormente acompanhar estes negócios, quer de capital para investir, são escassos; o investidor deve concentrar os valores a investir em 18 a 20 excelentes empresas, as chamadas máquinas de fazer dinheiro.

Se considerarmos, primeiro, avaliar as perspectivas económicas de longo prazo das empresas e as suas vantagens competitivas; segundo, avaliar a qualidade das pessoas encarregues de as gerirem; e terceiro, tentar comprar algumas destas empresas a preços sensatos, acreditamos que a politica de concentração do património financeiro num conjunto limitado de boas empresas, reduz muito o risco do investimento. Desta forma, o investidor sabe muito mais acerca de cada um dos negócios e tem muito maior conforto com as suas perspectivas económicas para o futuro. Isto permite-lhe adoptar uma política de comprar e manter, em vez de estar sempre a comprar e a vender, incorrendo em comissões exageradas, perdas de capital e falta de confiança na carteira de investimentos que tem. Ao mínimo revés, entra em pânico e vende. Quando o investidor sabe a qualidade dos activos que tem em carteira, mais facilmente resiste a opiniões contrárias à sua, ignora a “multidão” e todo o comportamento emocional que se vive diariamente no mercado. Todos os dias encontramos no mercado financeiro opiniões contrárias. Contudo, sabendo o que os ativos valem, mantemo-nos firmes e consistente na procura de valor a prazo.

Os gestores de fundos de investimentos acreditam que se alocarem os capitais dos investidores por um grande número de acções de empresas, muitas vezes 300 ou 400 títulos diferentes, incorrem num risco menor. Contudo, ao mesmo tempo que têm algumas boas empresas no portfólio, também têm um conjunto significativo de acções cujos negócios subjacentes são medíocres e não têm capacidade de gerar retornos excepcionais a médio e longo prazo. Como referido acima, estes gestores estão muito orientados para o curto prazo: tentam adivinhar os movimentos diários do mercado e compram e vendem com muita frequência, até porque o horizonte de invesimento é muito curto.

John Maynard Keynes que, além de um economista brilhante, foi também um investidor astuto, escreveu: “ estou cada vez mais convencido que o melhor método de investimento é colocar uma percentagem muito considerável de capital em empresas que acreditamos conhecer muito bem e em cujos gestores confiamos. É um erro considerar que o investidor reduz o risco espalhando o seu dinheiro por muitas acções acerca das quais sabe pouco e não tem motivos para confiar. O conhecimento e a experiência de cada um são limitados e raramente existem mais do que duas ou três empresas, em determinado momento, em que eu me sinta inteiramente confiante.”

VII - IGNORAR O RUÍDO - AS LOUCURAS DO “SENHOR MERCADO”

Tão importante com avaliar os ativos é ter o temperamento adequado: a paciência e a disciplina são determinantes e a prazo, são remuneradas. Os preços dos ativos são muitas vezes resultado do medo e da ganância, de estimativas irrealistas e loucuras coletivas. Os capitais estarão sempre em risco a menos que se compre bom e barato. Uma das contribuições mais profundas de Graham é uma personagem que vive em Wall Street e a que ele deu o nome de “Sr. Mercado”. O Sr. Mercado é o nosso hipotético sócio e está sempre disposto a comprar a nossa parte na empresa ou a vender a dele a preços de mercado. O Sr. Mercado é muito temperamental e alterna rapidamente entre estados de euforia e desespero. Às vezes, ele oferece preços muito acima do valor do negócio; outras vezes, muito abaixo. Quanto mais maníaco-depressivo ele está, maior é a diferença entre o preço e o valor e, por conseguinte, melhores são as oportunidades de investimento que ele oferece. Do mesmo modo, por vezes o Sr. Mercado está radiante, otimista e disponível a pagar mais do que os ativos valem. Esta situação dá origem a que o valor intrínseco do ativo seja inferior ao preço. É nesta altura que devemos vender.

Buffett reintroduz o Sr. Mercado enfatizando o quão valiosa é para o investimento disciplinado a alegoria de Benjamin Graham – ainda que o Sr. Mercado seja praticamente irreconhecível para os teóricos das finanças modernas e até para grandes alocadores de capital. A maior parte dos “investidores” não consegue tirar partido desta enorme vantagem que o Sr. Mercado proporciona: o facto de termos uma cotação ao segundo para milhares de ativos não deveria obrigar a negociar, a comprar ou vender quando não há uma razão, devidamente fundamentada, para acreditar que se está a tomar a melhor decisão de investimento.

VIII - QUANDO DEVEMOS VENDER UMA AÇÃO

Intelectualmente qualquer investidor entende que devemos comprar barato e vender caro, ou pelo menos ao preço justo. A dificuldade não reside apenas no conhecimento e experiência em avaliar negócios e que a esmagadora maioria dos investidores não tem. O investidor inteligente deve fazer o contrário do que a maioria dos investidores está a fazer. No entanto, poucos investidores são suficientemente disciplinados para ignorar a multidão.

A verdade é que quando as notícias são boas tendemos a acreditar que o serão sempre e que o futuro será ainda melhor que o passado. O facto de muitos mais investidores terem agora interesse no ativo torna a decisão de venda muito mais difícil. Esquecemo-nos, quando tudo está bem, da natureza cíclica das coisas. Esquecemo-nos de um factor muito importante, que se verificam em todos os mercados e com todos os ativos: a tendência dos ativos eventualmente reverterem para uma média.

Saber quando devemos sair de uma ação é, pelo menos, tão importante quanto saber quando devemos comprar. Muitos estudos documentam que grande parte dos investidores vendem as melhores ações e mantêm as piores demasiado tempo.

É muito mais compensador investir algum tempo na leitura das notícias que rodeiam as empresas que temos em carteira e as indústrias em que elas operam do que verificar o preço das ações 20 vezes ao dia.

Quando não se deve vender?

Se a ação caiu - os movimentos dos preços das ações, por si só, não transmitem qualquer informação útil. Na realidade, os preços podem mover-se em qualquer direção no curto prazo por motivos absolutamente inescrutáveis. O investidor inteligente deve manter presente que não importa o que a ação fez desde a altura em que a comprou, se os seus fundamentais não se alteraram. Não pode fazer nada para mudar o passado e o mercado não se importa se ganhou ou perdeu dinheiro na ação.

A ação subiu muito - uma vez mais, pouco importa o que fizeram as ações no passado – o que é realmente importante é o que farão no futuro. A priori, não existe uma razão para que as ações que subiram substancialmente venham a cair, se o seu valor é substancialmente superiror. Muitos de nós seríamos melhores investidores se conseguíssemos ignorar os gráficos de performance passada que pouca informação útil trazem sobre o futuro.

Na Casa de Investimentos, decidimos a venda com a resposta às seguintes questões:

1. Cometemos algum erro na avaliação?

Algum pormenor escapou aquando da primeira avaliação da empresa? Talvez pensasse que os gestores iriam conseguir recuperar a empresa mas essa tarefa revelou-se mais difícil do que os gestores pensaram. Ou talvez tenha subestimado a força dos concorrentes da empresa ou sobrestimado a sua capacidade de encontrar novas oportunidades de crescimento. Não importa qual foi o erro, raramente compensa manter uma ação que comprámos por uma razão que já não é válida. Se a análise inicial estava errada, assuma as perdas e não olhe para trás.

2. Os fundamentais económicos deterioraram-se?

Após vários anos de sucesso, a empresa de crescimento rápido que comprou está a abrandar. O dinheiro está a acumular-se no balanço porque a empresa está a ter dificuldades em encontrar novas oportunidades lucrativas e os concorrentes estão a comer as margens de lucro. Está na altura de reavaliar as perspetivas futuras da empresa. Se elas forem piores do que costumavam ser, é altura de vender.

3. A ação subiu muito acima do valor intrínseco?

O “Sr. Mercado”, por vezes, acorda muito bem disposto e oferece-lhe um preço muito acima do que o seu investimento realmente vale. Não há qualquer motivo porque não deve tirar partido da boa disposição dos outros investidores. Com certeza, não quererá vender empresas extraordinárias só porque estão ligeiramente caras – incorrerá em impostos sobre mais valias e não tirará todo o partido do juro composto. Mas até as melhores empresas devem ser vendidas quando transacionam a preços exagerados.

4. Existem oportunidades melhores para o seu dinheiro?

Como investidor, deverá alocar o seu capital nos ativos que consigam gerar o melhor retorno. Não há vergonha em vender um investimento subavaliado – mesmo que tenha perdido dinheiro – para libertar fundos para comprar uma ação com maior potencial. Se a avaliação inicial de determinado negócio foi demasiado otimista e o seu potencial é agora muito limitado, perante nova oportunidade de investimento com maior potencial de valorização, o investidor tem boas razões para vender. Não devemos permitir que um mau investimento se perpetue numa carteira.

5. Tem muito dinheiro na mesma ação?

Esta é a melhor razão para vender porque significa que escolhemos uma ação vencedora. A chave é não deixar que a ganância interfira na gestão inteligente de um portfólio. Se um determinado investimento constituir uma percentagem muito grande da sua carteira, está na altura de pensar seriamente em vender uma parte, ainda que as perspetivas da empresa sejam as mais sólidas.

Ao longo do último ano, vendemos a posição na Pfizer, com ganhos muito significativos para os nossos clientes. Vendemos uma parte da posição da General Electric, com ganhos nalguns casos superiores a 300%, vendemos uma parte da Berkshire, empresa de Warren Buffett, com ganhos de 74%, vendemos parte da Microsoft com ganhos de 48%. A estas rentabilidades, com a excepção da Berkshire, ainda adicionámos os dividendos recebidos no período em que aas mantivemos na carteira. As razões que motivaram as vendas foram muito positivas: os ativos em causa atingiram o seu valor justo e/ou, nalguns casos, encontrámos investimentos alternativos de excelente qualidade que, à data, nos ofereciam maior margem de segurança.

IX - A INATIVIDADE É UM COMPORTAMENTO INTELIGENTE

O que podemos aprender com os guarda-redes?

Keynes notou, com alguma tristeza, “a natureza humana deseja resultados rápidos, tem um gosto especial em ganhar dinheiro depressa... Os investidores actuais concentram-se em demasia no valor anual, trimestral ou até mensal das suas carteiras e na apreciação do capital”. Infelizmente, os trimestres e meses a que Keynes se referia tornaram-se dias ou minutos para alguns investidores de hoje.

Não só desejamos resultados rápidos mas também gostamos de ser vistos a fazer qualquer coisa (em oposição a não fazer nada); todos temos um viés para a acção. Os guarda-redes de futebol oferecem-nos um belíssimo exemplo desta tendência infeliz. Os guarda-redes não são, habitualmente, as estrelas da equipa. No entanto, aquando da marcação de grandes penalidades, os guarda-redes tornam-se homens de acção. Um estudo recente revelou alguns padrões fascinantes nas tentativas de defender penaltis. No futebol, quando uma grande penalidade é assinalada, a bola é colocada a 11 metros da baliza e apenas o guarda-redes se coloca à frente do rematador. O guarda-redes não se pode mover antes que o remate ocorra.

Dado que, em média, são marcados 2,5 golos em cada partida de futebol, uma grande penalidade (que tem 80% de probabilidades de se transformar em golo) pode influenciar dramaticamente o resultado do jogo. Desta forma, ao contrário de outras experiências psicológicas, o que está em jogo é significativo.

Num estudo, foram analisadas 311 marcações de penaltis nos principais campeonatos mundiais. Um painel de três especialistas independentes foi utilizado para analisar a direcção do remate e a direcção do movimento do guarda-redes. Os remates foram distribuídos, de uma forma geral, uniformemente; cerca de um terço para a esquerda, para a direita e para o centro. Contudo, os guarda-redes demonstraram um claro viés para a acção: 94% das vezes mergulharam para a esquerda ou direita e raramente escolheram manter-se parados no centro da baliza. No entanto, teriam tido bastante mais sucesso caso tivessem escolhido manter-se no centro da baliza. De acordo com as estatísticas, quando o guarda-redes se mantém no centro da baliza, defende cerca de 60% dos remates dirigidos ao centro. Contudo, os guarda-redes apenas escolhem esta opção 6% das vezes.

Questionados porque escolhiam mergulhar em vez de ficar imóveis, os guarda-redes responderam que, ao mergulhar, sentem que estão a fazer algum esforço para evitar um golo e que, se ficassem quietos e o golo entrasse, se sentiriam piores.

Este parece ser também o problema da maior parte dos gestores de dinheiro e das orientações das instituições financeiras (que, quer corram bem ou mal, ganham sempre).

Nem nós nem a maioria dos gestores ou donos de empresas sonhariam em freneticamente vender e comprar subsidiárias altamente lucrativas apenas porque o Banco Central baixou as taxas de juro na passada semana ou algum comentador mudou de opinião acerca da direcção do mercado. Porque nos deveríamos então comportar de forma diferente relativamente às posições que detemos em negócios maravilhosos como a IBM, a Coach, o Wells Fargo ou a Johnson & Johnson (JNJ), a General Electric (GE) ou o Bank of America (apenas para referir alguns)?

Só porque o mercado cota preços todos os dias, somos obrigados a negociar, a comprar ou a vender? Claro que não.

Essa opção só deve ser usada quando nos é vantajosa, não somos obrigados a fazer negócio todos os dias. Quando o mercado nos cota a JNJ a 92 dólares e a este preço, embora não seja ainda o preço de venda, já não nos dá a margem de segurança necessária para iniciar o investimento, aguardamos pacientemente que nos cote o preço de venda. Este investimento foi feito a uma média de 60 dólares. Em 02 de Março de 2009, quatro dias antes dos mínimos do mercado, recomendámos a compra da GE, em artigo publicado no Diário do Minho e disponível no nosso site. Esta ação foi comprada a preços de 7 USD, a 8,5 USD, a 10 USD e até 16 USD (em agosto de 2011), à medida que os clientes abriram as contas e a GE cotava com Margem de Segurança. Grande parte da posição ainda está nas carteiras de investimento. Apesar dos clientes terem ganhos muito significativos com esta posição,não é, no entanto, razão para que a venda ocorra, se entendemos que o preço a que hoje cota ainda não é, pelo menos, igual ao valor intrínseco do negócio, ou se não encontrarmos um investimento alternativo com maior potencial de valorização.

Na Casa de Investimentos, quando apresentamos a empresa e o método de investimento, queremos ter a certeza que os nossos clientes entendem que investir deve ser um processo de longo prazo.

Todos os dias são muitos os que tentam convencer os investidores de que sabem o que o mercado fará no curto prazo. Muitos de nós sabem que não existe forma de prever o que o mercado fará. Por isso, devemos seguir sempre uma filosofia de Valor e estar preparado, tal como o caçador exímio, com a arma carregada, à espera da presa: quando aparece a oportunidade, estamos prontos para premir o gatilho.

Controlando o risco e limitando as perdas através de uma análise fundamental profunda, disciplina férrea e paciência sem fim, os investidores em Valor podem esperar bons resultados com risco limitado.

Seja um “oportunista” paciente e “Nunca dependa de uma boa venda. Compre a um preço tão atrativo que até uma venda medíocre produz bons resultados” Warren Buffett

As rentabilidades em 2013

Conseguimos no último ano rentabilidades de 27,36%, com uma exposição de cerca de 60% da carteira aos mercados americanos. O dólar teve um recuo face ao euro de cerca de 4%, o que prejudicou um pouco a nossa performance. Os índices europeus tiveram uma performance inferior ao S&P500, que valorizou 28,82%. O DAX a valorizar 23,01%, o Cac40 a valorizar 22,23%, o FTSE100 a valorizar 16,32%, o IBEX a valorizar 27,77% e o PSI20 a valorizar 20,22%. O MSCI World Index valorizou 24,41% e o Stoxx Europe 50 valorizou 15,62%.

Muitos julgam hoje que desta vez será diferente. No último ano, a subida generalizada da nossa bolsa e dos principais índices de ações, veio fazer muitos investidores esquecerem-se que a qualidade dos ativos que compramos é fundamental para obtermos retornos consistentes a prazo.

Nos últimos 20 anos a definição de investimento expandiu-se muito: desde arte, selos, vinho, matérias primas e tantos produtos, inventados para criar comissões e necessidades e servir alguns.

Vemos o mundo do investimento um pouco mais simples do que isto. De entre as classes de ativos em que os investidores podem alocar o dinheiro, destacamos:

  • ações

  • obrigações

  • depósitos a prazo/cash

  • imobiliário

A partir daqui, há milhares de “combinações e misturas” criadas para satisfazer “investidores”, fundos de investimento de tudo o que se possa imaginar, produtos estruturados, produtos derivados, com elevados níveis de alavancagem, que permitem destruir dinheiro ainda mais depressa. Criam a ilusão de que se pode ficar rico muito depressa.

É de esperar que as taxas comecem a subir mais tarde ou mais cedo e que os Bancos Centrais comecem a recolher lentamente os estímulos. Hoje, os investimentos em taxa fixa são muito pouco atrativos. Os depósitos a prazo estão a pagar taxas muito baixas, as obrigações de bom risco estão a pagar cupões muito reduzidos. Neste último caso, com uma agravante adicional: à medida que as taxas subam, os investidores das obrigações irão perder dinheiro.

Neste contexto de taxas baixas, os investidores são empurrados pelos gestores de dinheiro para ativos com muito mais risco, nomeadamente obrigações cujo emitente não nos dá a segurança: o caso do Rwanda, o Paquistão ou outros, as obrigações com grau de risco CCC, e cuja probabilidade histórica de incumprimento é de 69%, vieram cotar em 2013 yields de 6,7%. Significa isto que os investidores estão desesperados por rendimento e sacrificam os padrões de qualidade para conseguir um pouco mais. Os retornos que estão a obter para os riscos que têm que suportar, são muito desproporcionados.

Na Casa de Investimentos entendemos que os melhores investimentos hoje, continuam a ser as ações e os depósitos a prazo - que nos permitem aplicar a liquidez de curto prazo enquanto aguardamos por pechinchas. Quando abrimos conta a um Cliente, gostamos que seja claro que não abdicaremos do padrão de qualidade nos ativos a investir, nem na margem de segurança que exigimos para investir com risco limitado. Não gostamos de ter muito dinheiro parado e o nosso objectivo não é ganhar a remuneração dos depósitos a prazo. Preferimos investir em negócios excelentes que transacionem a preços sensatos e cujos dividendos são significativamente acima das taxas fixas. Contudo, preferimos ter liquidez (e temporariamente retornos baixos nos depósitos a prazo) a fazer disparates.

X - MERCADOS EMERGENTES

A base fundamental do investimento é o valor temporal do dinheiro. O investimento que produzir o maior retorno no período mais curto será sempre o preferido dos investidores. Essa é também a razão pela qual, de tempos a tempos, os mercados emergentes são redescobertos como o melhor “destino” para alocar capital.

Na primeira metade de 2009, os fundos de investimento mundiais investiram nestes mercados cerca de 10,6 mil milhões de dólares, 34 vezes mais do que havia sido investido nos fundos de ações americanas. O fundo Índice MSCI Mercados Emergentes era o quarto maior de todos os ETFs - Exchange Traded Funds, com 30,8 mil milhões de dólares.

Há boas razões, de uma forma geral, para investir nas ações dos mercados emergentes. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), os mercados emergentes representam metade da economia mundial. Estes países estão a crescer mais que as economias desenvolvidas e a sua população é maior. Os investidores esperam beneficiar destas elevadas taxas de crescimento sobretudo quando nos mercados desenvolvidos a expectativa é de crescimento económico modesto, ou estagnação.

Os custos e os riscos são maiores

Os investidores deverão ponderar os riscos de investir em países politicamente instáveis, assim como as incertezas que envolvem as flutuações económicas, cambiais e de taxas de juro. No último ano, assistimos a tudo isto. Quanto do seu capital querem "atado" na Argentina ou Tailândia, ou à Rússia, Brasil ou Venezuela - mesmo que as ações nesses mercados estejam bastante subvalorizadas.

Nos países onde o capitalismo e a propriedade de ações é relativamente recente, os acionistas têm poucas proteções. Apesar de não evitarem todos os abusos, a SEC e suas congéneres nos mercados desenvolvidos permitem uma maior proteção aos investidores.

A questão dos custos é também muito relevante: os fundos de ações de mercados emergentes tipicamente cobram comissões mais elevadas: de subscrição, de gestão, de resgate, de performance. Os custos não acabam aqui. Para quem gere estes fundos, os custos de comprar e vender em diferentes zonas e mercados é também maior. Muitas vezes, os volumes nestes mercados são menores, novas empresas aparecem e desaparecem e a fiscalidade associada com estes mercados pode ser elevada e pouco estável.

Como beneficiar do crescimento das economias emergentes?

Os nosso clientes conhecem bem a nossa opinião sobre os mercados emergentes. Não concebemos o investimento sem uma grande margem de segurança, para nós as 3 palavras mais importantes do investimento.

Estamos numa economia global: refrescamo-nos com Coca Cola ou Heineken, comemos bolachas da Kraft Foods ou cereais Nestlé, vestimos Zara ou Louis Vuitton, conduzimos um Toyota ou um Volkswagen, usamos um Iphone ou um Samsung, trabalhamos num computador da HP com software Microsoft, estamos ligados pelos routers da CISCO, consumimos produtos da Johnson & Johnson ou Novartis, procuramos o “mundo” na Google,.....

As grandes empresas mundiais, as que têm enormes vantagens competitivas, pela força da marca, pelas economias de escala, o efeito de rede, etc, estão presentes em todas as geografias, vendem em todo o mundo os seus produtos e serviços e consolidam os seus balanços em muitas moedas. Conseguem colher as vantagens destas economias, sem estarem expostas apenas a elas.

Os últimos tempos, têm sido muito negativos nestes mercados. Gostamos de procurar valor também em algumas destas geografias. Exigimos, quando decidimos investir, uma margem de segurança maior, ou seja, que a diferença entre o valor que atribuímos para a empresa e o preço a que ela cota no mercado, seja maior, para acomodar maiores riscos. A nossa exposição a qualquer negócio, que nestes mercados possa ser excepcional e que esteja barato, será sempre menor.

A regra número um é não perder dinheiro. A regra número dois é não esquecer a primeira. No investimento não é fácil recuperar perdas: se um investimento perder 50%, para o recuperar, qualquer que seja o ativo, tem que subir 100%.

XI – PERSPECTIVAS E PREVISÕES PARA 2014: “Share Prices can go down as well as up” .

Em janeiro de 2013, escrevi um artigo na Vida Económica com o título “Aqueles que preveem não sabem”, onde apresento razões de sobra para que não se confiem nas previsões. Muito menos nas previsões dos chamados especialistas/analistas financeiros.

Uma das descobertas mais bem documentadas na psicologia é que os especialistas têm um excesso de confiança muito maior que o resto de nós. Examinemos dois grupos de especialistas: médicos e meteorologistas. A cada grupo é dada informação relativa à sua própria área de conhecimento – aos meteorologistas são dados padrões climatéricos e pedem-lhes que prevejam o tempo, aos médicos são dados conjuntos de sintomas e pedem-lhe que façam um diagnóstico. A ambos é pedido também que digam o quão confiantes estão nas suas respostas.

Contrariamente à opinião comum, os meteorologistas são muito bons nisto. Quando pensam que estarão correctos 50% das vezes, eles, de facto acertam 50% das vezes. Pelo contrário, os médicos são assustadores, quando pensam que acertam o diagnóstico 90% das vezes, na realidade só o fazem 15% das vezes.

Porquê uma diferença tão grande nestes grupos? Em parte, esta diferença advém do grau de feedback que cada grupo recebe. Os meteorologistas sabem que são previsores terríveis e, por isso, têm intervalos de confiança enormes. Por exemplo, se vive no Reino Unido e ouvir a previsão de um meteorologista, ela será qualquer coisa deste género: “há uma pequena probabilidade de abertas com sol, uma grande probabilidade de aguaceiros dispersos, uma possibilidade de neve nas terras altas e uma hipótese remota de um furacão no Canal.” Desta forma, obviamente, todas os desfechos foram previstos. Os meteorologistas podem também espreitar pela janela e constatar se estão a ser minimamente precisos nas suas previsões.

Os médicos, por seu lado, tendem a não receber bom feedback. A juntar a isto, a nossa espécie tem o hábito infeliz de confundir confiança com capacidade. Se formos a um médico e dissermos, “Doutor, tenho esta inflamação terrível na pele”, e o médico responder, “Não se preocupe, já sei exactamente o que é isso. Tome estes comprimidos e dentro de uma semana estará curado”, sairemos de lá felizes e sossegados.

Imaginemos agora que vivemos numa realidade alternativa. Entramos no consultório e dizemos, “Doutor, tenho esta inflamação terrível na pele” e o médico responde, “Meu Deus, isso é de facto terrível. Nunca vi uma coisa dessas. Será contagioso? Experimente estes comprimidos e, se ainda estiver vivo dentro de uma semana, volte cá”. Com certeza não ficaríamos felizes com esta experiência.

Na Casa de Investimentos, não nos dedicamos a esta atividade de previsão. Não nos reconhecemos qualquer talento. Por isso, entendemos que devemos centrar-nos no que efectivamente sabemos fazer: avaliar empresas, definir a margem de segurança que precisamos para limitar os riscos, aguardar disciplinados só comprando ao nosso preço de compra, e aguardarmos pacientemente que o investimento dê frutos.

Infelizmente, jé vemos hoje nesta indústria muito relaxados os padrões de qualidade na seleção de ativos, vemos os investidores baixarem a guarda, a prudência para ponderarem devidamente os riscos em que incorrem. Já são muitos os que acreditam que desta vez é diferente. Poucos são os que, quando compram ações, se comportam

como donos de uma parte da empresa (negócio) que estão a comprar e que lhes confere o direito aos lucros futuros da empresa e àquela “fatiazinha” do negócio.

Em certo sentido, este rápido regresso a um frenesim especulativo, como já observamos em muitos mercados, era previsível. Parafraseando Sir Humphrey Appleby, da famosa série da BBC “Sim Sr. Ministro”, os investidores precisam de atividade. É o seu substituto do sucesso.

Como Jeremy Grantham, fundador da firma de investimentos GMO, quando questionado acerca do impacto do colapso de 2008, declarou, "Vamos aprender muito no curto prazo, alguma coisa no médio prazo e absolutamente nada no longo prazo. Este é o precedente histórico."

Nos Mercados Financeiros, o conhecimento da história é fundamental, a história repete-se e ignorá-la terá sempre um preço alto para os investidores.

XII - ESTRUTURA INTERNA

A Gestora tem a sua estrutura assente em quatro departamentos: Comercial, Consultoria Financeira, Gestão de Activos e Backoffice. Cada departamento é organizado e gerido autonomamente por um responsável de forma a evitar conflitos de interesses. A supervisão de cada um fica a cargo de um elemento da administração, de forma independente.

Para a prossecução da actividade da empresa são necessários serviços externos de intermediários financeiros: execução de ordens de compra e venda, custódia e guarda de títulos. A Casa de Investimentos assegura os serviços dos melhores parceiros tendo em conta a credibilidade da instituição financeira, a segurança e a fiabilidade humana e técnica dos serviços em questão.

XIII - POLÍTICA DE GESTÃO DE RISCOS DA ACTIVIDADE

No desenvolvimento da sua actividade, a Casa de Investimentos promove uma postura geral de prudência e estabelece políticas para a gestão dos principais riscos em que incorre, que são sobretudo operacionais. Devidamente identificados, todos os processos operacionais são seguidos em conformidade com as disposições legais e com o manual de procedimentos internos.

A sociedade estabeleceu um conjunto de políticas e procedimentos para reduzir o risco operacional, ou seja, o risco de falha humana e dos sistemas de informação, de energia e da preservação de dados em segurança, incluindo, designadamente, um plano de continuidade em caso de acidentes. A garantia do seu cumprimento é assegurada por um elemento da administração.

O departamento de Controlo e Compliance assegura o cumprimento das normas estabelecidas de condução da actividade da Gestora. É responsável pela aplicação das normas de conduta interna bem como pela implementação de todas as imposições e legislação que as entidades de supervisão exigem.

Damos especial atenção a todos os que se relacionam com a salvaguarda dos patrimónios dos clientes em conformidade com as comunicações que mensalmente são reportadas aos supervisores.

De forma a minimizar o risco de contraparte, a sociedade cumpre com elevada diligência o dever de escolha e avaliação dos custodiantes dos patrimónios dos clientes.

XIV - ACTIVIDADE EM 2013

A Casa de Investimentos – Gestão de Patrimónios, S.A. recebeu a licença da CMVM para poder dar início às suas actividades em 1 de Julho de 2010 e foi apresentada publicamente em 20 de Outubro do mesmo ano.

A 31 de Dezembro de 2013, os valores sob gestão da Casa de Investimentos totalizaram 40.692.003 euros, um crescimento de 146,4% em relação ao ano anterior.

As comissões de gestão cobradas atingiram os 393.068 euros. Em 2013 foram gerados resultados líquidos positivos de 116.254 euros, o equivalente a 1,16 euros por acção. A 31 de Dezembro de 2013 a situação patrimonial da empresa fixou-se nos 566.558 euros.

À data de 31 de Dezembro de 2013, a Sociedade não mantinha quaisquer dívidas em mora ao sector público estatal nem existiam quaisquer contratos celebrados entre a Sociedade e os seus Administradores.

XV - PROPOSTA DE APLICAÇÃO DE RESULTADOS

Em cumprimentos das disposições legais e estatutárias, o Conselho de Administração propõe a transferência do Resultado Líquido de 116.254 euros (cento e dezasseis mil duzentos e cinquenta e quatro euros) para Resultados Transitados.

XVI - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Servem estas linhas para um agradecimento muito sentido aos nossos estimados Clientes. Agradecemos a Vossa confiança e recomendação da nossa CASA. Trabalhamos para que este relacionamento seja justo, para que o principal beneficiário do dinheiro seja o seu dono e para merecer a Vossa confiança e respeito.

A dedicação e competência dos nossos colaboradores é altamente apreciada. Muito obrigada.

Às instituições que nos permitem desenvolver a nossa actividade de forma competente e em tempo útil - cumprindo os compromissos que assumimos com clientes, entidades reguladoras, e colaboradores, apresentamos os nossos agradecimentos.

Aos reguladores, Banco de Portugal e CMVM, agradecemos o relacionamento cordial e exigente, que nos permite trabalhar ao mais alto nível.

Braga, 24 de Março de 2014

O Conselho de Administração,

Emília de Fátima de Oliveira Vieira

Presidente

António Pedro Moreira da Silva Alves

Vogal

Vitor Hugo Ferreira Roque

Vogal

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