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Psicólogos e neurocientistas descobriram duas características que são particularmente relevantes na tomada de decisões. A primeira, é que estamos programados para o curto prazo e consideramos a possibilidade de ganhos no curto prazo extremamente atrativa. A segunda, é a nossa tendência para adotar comportamentos de rebanho. Adotar estratégias de investimentos contrárias à maioria é muito difícil. Ou seja, somos afetados por desafios (vieses) comportamentais que condicionam o nosso processo de tomada de decisões racionais.
O excesso de otimismo e o excesso de confiança, embora importantes na nossa sobrevivência como espécie, nas decisões de investimento levam-nos a cometer graves erros. Estes vieses têm origem na ilusão de controlo e ilusão de conhecimento. A ilusão de conhecimento é a tendência que as pessoas têm de acreditar que a precisão das suas previsões aumenta com mais informação. A verdade é que mais informação não é necessariamente melhor informação. A utilização que fazemos da informação disponível é que importa. A tendência para sobrevalorizar as nossas capacidades é amplificada pela ilusão de controlo -- a crença que as pessoas têm de que conseguem controlar acontecimentos incontroláveis. A aleatoriedade é frequentemente confundida com controlo.
O viés confirmatório, mostra-me o que quero ver, realça o mau hábito que temos de procurar apenas a informação que concorda connosco. Tendemos a formar um ponto de vista e passamos o tempo a procurar informação que o confirme. Gostamos de ouvir quem concorda connosco, de ouvir as nossas próprias opiniões refletidas nos outros. Hoje, com os algoritmos dos media sociais, este viés é altamente potenciado porque nos apresentam o que procuramos e nada que o contradiga e nos ajude a clarificar o pensamento.
Um problema adicional ao viés confirmatório é o viés dos médios hostis. Isto é, não só procuramos apenas a informação que concorda connosco, mas, quando somos confrontados com informação que discorda de nós, temos a tendência de considerar a fonte dessa informação como tendo um ponto de vista enviesado.
Autoatribuição, caras é mérito nosso, coroa é azar, evidencia que temos um relativamente frágil sentido de autoestima e um dos mecanismos-chave para o proteger é o viés da autoatribuição: a tendência de atribuir os bons desfechos à nossa habilidade e os maus desfechos ao azar. Este viés constitui um dos mais fortes limites à aprendizagem que os investidores encontram. Este mecanismo de defesa impede-nos de reconhecer os erros que cometemos e, desta forma, de aprendermos com os erros cometidos no passado. Nas palavras de George Santayana, "a história repete-se e esquecer o passado é estar condenado a repeti-lo".
Hindsight: eu já sabia, um dos mais perigosos vieses que enfrentamos é o viés do retrovisor (hindsight). Refere-se ao facto de, após um evento ter tido lugar, nós estarmos convencidos de que sabíamos o que se iria passar. Se olharmos para a bolha tecnológica, para a grande crise financeira de 2008 ou mesmo para a COVID-19 em 2020, os exemplos deste comportamento abundam. Seguramente, assim será com a Guerra Ucrânia/Rússia. Hoje, os mesmos investidores que cometeram estes erros, reescreveram a sua história.
Obviamente, se todos estão convencidos de que conseguem prever o passado, é natural que estejam excessivamente certos de que conseguem prever o futuro. Assim, o hindsight é o mais poderoso gerador de excesso de confiança.
Ancoramento, o irrelevante tem valor, quando confrontados com a incerteza, todos temos a tendência de nos agarrarmos ao irrelevante como se fosse uma muleta ou uma âncora. Esta incorporação do irrelevante acontece frequentemente sem qualquer reconhecimento consciente do facto. Que âncoras influenciarão os investidores? A toda a hora, os preços das ações são publicitados: nos jornais, na internet, no ticker que está permanentemente a rodar na parte inferior dos canais financeiros de televisão. Os investidores agarram-se a estas miragens de preços e, erradamente, fazem-nos equivaler ao valor dos negócios subjacentes.
Por último, um viés relacionado com o medo, o viés da aversão à perda, explica a tendência natural do ser humano de tentar evitar perdas em contraponto com ganhos equivalentes. Por exemplo, uma pessoa que ganhe 100 euros numa lotaria atribui uma importância menor a esse evento do que a uma perda de 100 euros. Este viés reflete uma tendência natural de tentarmos evitar perdas no património financeiro ao manter o capital em dinheiro ou equivalentes de curto prazo, explicando por isso uma tendência natural para o market timing.
A Casa de Investimentos realizou, no passado sábado, dia 25 de fevereiro, a sua Assembleia Anual de Clientes 2023. O evento juntou cerca de 350 clientes e potenciais investidores no Altice Fórum, em Braga, numa tarde dedicada em exclusivo ao investimento e a responder às questões dos participantes na Assembleia.
Depois de ter realizado no ano passado a sua primeira Assembleia Anual de Clientes, a Casa de Investimentos voltou a convidar os seus clientes para ouvir a equipa de investimentos a prestar contas, falar de modelos de negócio excecionais e explicar como é que a equipa se guia para investir apenas nas melhores empresas mundiais, com maiores potenciais de retorno a longo prazo, mantendo-se fiel à sua filosofia mesmo quando as cotações de mercado teimam em contrariar os valores intrínsecos destes negócios.
"Este ano foi muito difícil para todos os nossos clientes, para quem esteve investido desde o dia 1 de janeiro até ao dia 31 de dezembro, sem fazer qualquer reforço, viu a sua carteira desvalorizar 25,6%", destacou Emília Vieira, CEO e fundadora da Casa de Investimentos no arranque da conferência. "Foi um ano negativo em termos de cotação de mercado. E vamos mostrar que é mesmo em cotação de mercado. Temos uma carteira extraordinária, de excelentes ativos", acrescentou.
2022 foi um dos piores anos do mercado
Ao longo de uma hora, a equipa de investimentos fez o balanço do ano - um dos piores na história dos mercados acionistas - e mostrou que a carteira é composta por negócios excecionais e a forte queda de 2022 (18,1%) deve motivar os investidores a reforçarem o investimento em ações. Da mesma forma que compramos calças de ganga ou sapatilhas em saldo, devemos aproveitar para comprar ações a desconto.
"Anos como o de 2022 não são anos normais. Nos últimos 80 anos só tivemos 5 anos em que o S&P 500 fechou com uma queda superior a 15%", explicou Paulo Leite, analista sénior da Casa de Investimentos. Segundo o mesmo especialista, estes períodos de incerteza "são os que que proporcionam os melhores retornos nos anos seguintes. Em média, nos 5 anos a seguir a estas quedas, o S&P 500 produziu retorno de 60%".
Confiante na qualidade das empresas em carteira, a equipa de investimentos aproveitou as quedas no primeiro semestre de 2022 para acrescentar à carteira outros cinco negócios que considera excecionais. Mas qual é o critério para considerar um negócio excecional?
Os três pilares do investimento
Selecionar uma empresa para a carteira é um processo longo, criterioso e demorado. Apenas depois de passar os vários critérios definidos pela equipa de investimentos é que o comité de investimentos vota a entrada - ou não - de uma nova empresa para a carteira. Mas para aqui chegar um negócio tem que cumprir três pilares de investimento: vantagens competitivas; equipas de gestão capazes e avenidas de crescimento.
Enquanto as vantagens competitivas têm como função criar um fosso que proteja os negócios da concorrência, é preciso assegurar que este mesmo negócio consegue crescer. Ou seja, dispõe de avenidas de crescimento.
Mas há um terceiro critério que, para a Casa de Investimentos, é essencial: a equipa de gestão. Uma liderança capaz é o elemento que vai garantir que a empresa toma as decisões acertadas para que o negócio da empresa continue a prosperar, reinvestindo bem os lucros gerados ano a ano.
Um guia em forma de manual
Para que todos os clientes possam entender melhor a filosofia de investimento e como este processo de seleção é posto em prática, a Casa de Investimentos lançou, este ano, o Manual do Investidor. O livro é um guia e também uma promessa para todos os clientes e quer "mostrar que temos uma filosofia de investimento bem estruturada. Só as melhores empresas servem", conforme explicou Emília Vieira, CEO e fundadora da Casa de Investimentos.
O manual contém as linhas mestras do investimento, de um processo que passa por "analisar profundamente estas empresas e fazer uma análise qualitativa, a história da empresa, os seus processos. Não há caminhos rápidos". E rápidos também não são os ganhos. É por isso que a gestora tem um foco de longo prazo, ignorando o ruído de curto prazo.
"Investir em ações não é um jogo de sorte e azar", realçou Emília Vieira, notando que "todos nós somos vítimas dos nossos vieses comportamentais. Cada um valoriza a experiência que tem". Mas, "nos últimos mais de 100 anos, o ativo que melhor rentabilizou o capital foram as ações".
A melhor altura para investir é...
Dedicada ao tema: "A melhor altura para investir é...", a Assembleia procurou mostrar que não há uma bola mágica nos mercados. Ainda assim, desde que haja um propósito de investimento de longo prazo, a altura ideal para investir é agora.
"Para quem tem medo [de investir], o que pode fazer é ir adicionando valor à medida que vai andando. A maior parte do tempo o mercado sobe, portanto é sempre uma boa altura para investir", refere Emília Vieira. "A melhor altura para investir é quando temos o dinheiro e um bom ativo para o fazer. E estamos numa boa altura para o fazer. O que não quer dizer que daqui a um mês não esteja 2 ou 3% abaixo, mas nós não investimos ao mês, investimos a longo prazo".
"Olhamos para 2023 confiantes no nosso portfólio de negócios excecionais que transacionam agora a múltiplos muito mais razoáveis".
Excerto da Carta Anual a Clientes 2022:
"Estamos convictos que a qualidade dos nossos investimentos amplifica a nossa margem de segurança. Estes negócios não são imunes a correções, mas são aqueles em que queremos estar investidos, independentemente do ambiente económico. Se alguma empresa no nosso portfólio deixar de respeitar estes requisitos, não hesitaremos em vender as suas ações, tal como o fizemos em 2022.
Balanços sólidos: a subida das taxas de juro traduz-se tipicamente num custo de capital mais elevado. Isto pode significar que as empresas têm mais dificuldade em refinanciar a dívida e/ou enfrentar custos de financiamento mais elevados que podem corroer as suas margens de lucro. A maior parte das empresas do nosso portfólio fazem um uso limitado de dívida. Podemos notar que algumas empresas têm rácios de alavancagem ligeiramente mais elevados, comparados com o resto do portfólio. Nestes casos, é nossa opinião que a sua dívida está estruturada de forma sensata, com um horizonte temporal muito alargado e a uma taxa fixa atrativa.
Poder de preço: tipicamente, as empresas com uma forte vantagem competitiva estão mais bem posicionadas para passar os aumentos de preços aos consumidores. Isto é particularmente verdadeiro para os negócios que fornecem serviços críticos às empresas. Exemplos incluem fornecedores de serviços de software tais como a Microsoft ou a Salesforce, cujos produtos estão profundamente entranhados na gestão do dia a dia de negócios por todo o mundo.
Margens brutas elevadas: a inflação de custos tem um impacto desproporcional em negócios com margens reduzidas. As empresas com margens elevadas estão mais bem posicionadas para absorver estes aumentos de custos. A fabricante de cosméticos premium, Estée Lauder, tem gerado, consistentemente, margens brutas acima dos 70%, o que significa que beneficia de muita mais flexibilidade na gestão da sua base de custos, para além de conseguir passar os custos aos consumidores.
Deve ser claro para os nossos Clientes que a única coisa que conseguimos controlar é assegurarmo-nos que nos mantemos fiéis ao nosso processo nestes tempos desafiadores e nos mantemos investidos em negócios excecionais que conseguem continuar a capitalizar lucros no longo prazo. Estamos convictos que, ao longo do tempo, o nosso processo ditará os desfechos.
Olhamos para 2023 confiantes no nosso portfólio de negócios excecionais que transacionam agora a múltiplos muito mais razoáveis."
Qual é a melhor altura para investir? Três em cada quatro anos, o mercado de ações sobe. Como não se consegue antecipar quando as cotações vão fixar mínimos, a melhor forma de gerir o risco é investir de forma regular e com disciplina, o chamado "dollar cost averaging".
O custo médio do dólar é uma estratégia de investimento que tem como objetivo manter um investimento regular, de modo a reforçar a aplicação em vários momentos, e com vários preços, o que atenua as flutuações do mercado na carteira e reduz o risco.
Mais do que investir quando o valor das cotações sobe ou desce importa aplicar regularmente - pode ser todos os meses ou a cada trimestre - um determinado montante.
Ao ignorar a evolução diária dos preços, o investidor consegue focar-se no longo prazo e ver o seu património crescer, beneficiando dos reforços e do poder do juro composto. Isto é, dos juros sobre juros, uma vez que os ganhos vão sempre acumulando ao capital.
Vantagens do "dollar cost averaging"
- Criar bons hábitos de investimento. Ao fixar um valor para investir de forma regular, o investidor vai resistir à tentação de gastar o dinheiro noutras coisas. Caso prefira pode fazer contribuições automáticas, para evitar esquecimentos e manter-se fiel ao seu plano. No PPR Save & Grow são permitidos reforços a partir de 100 euros por mês. Mas quem não consiga poupar 100 euros todos os meses pode fazer reforços bi-mensais ou trimestrais. O importante é a regularidade e a disciplina.
- Aproveitar oportunidades de investimento. Tentar fazer market timing do mercado é um exercício quase impossível. Mas, com esta estratégia, os investidores conseguem aproveitar oportunidades de recuperação do mercado, uma vez que vão entrando quando os preços negoceiam em diferentes preços. Vários estudos mostram que quem deixou de investir em momentos mais turbulentos falhou a recuperação do mercado, períodos que tendem a corresponder às maiores subidas.
- Impedir as emoções de levarem a melhor. Os vieses comportamentais influenciam a tomada de decisões de investimento. A maioria dos investidores não lida bem com momentos de correção e tende a adiar decisões de investimento, entrando no mercado, muitas vezes, quando este já subiu demasiado e vendendo depois na primeira crise. Ao fixar um valor de investimento e a regularidade dessa poupança, o investidor irá lidar melhor com estas oscilações, uma vez que estará a investir em vários momentos (de subida e de descida).
O "dollar cost averaging" ignora o market timing, focando-se na disciplina do investimento. Mantendo-se fiel ao plano, o investidor vai ver o valor da sua poupança crescer, por via de reforços e da capitalização de juros.
O INVESTIMENTO EM CONHECIMENTO PAGA SEMPRE O MELHOR DIVIDENDO
" Benjamin Franklin "
O Livro do investimento comportamental, by James Montier
Um guia detalhado para superar as armadilhas psicológicas encontradas com mais frequência no investimento. Vieses, emoção e excesso de confiança são apenas três das muitas características comportamentais que podem levar os investidores a perder dinheiro ou obter retornos mais baixos. As finanças comportamentais, que reconhecem que existe um elemento psicológico em todas as tomadas de decisão do investidor, podem ajudá-lo a superar esse obstáculo.
N' "O Livro do investimento Comportamental", traduzido na Biblioteca da Casa, o especialista James Montier apresenta alguns dos desafios comportamentais mais importantes enfrentados pelos investidores. Montier revela as barreiras psicológicas mais comuns, mostrando claramente como a emoção, o excesso de confiança e uma infinidade de outras características comportamentais podem afetar a tomada de decisão de investimento.
O livro apresenta maneiras comprovadas de identificar e evitar as armadilhas dos vieses do investidor, indica como aprender com os nossos erros de investimento em vez de repeti-los e explora os princípios comportamentais que permitirão que o leitor tenha sucesso como investidor.
The Psychology of Money, by Morgan Housel
Lidar com o dinheiro tem mais a ver com a forma como nos comportamos do que com aquilo que sabemos. E este comportamento é muito difícil de ensinar, mesmo a pessoas realmente inteligentes.
O dinheiro - investimentos, finanças pessoais e decisões de negócios - é ensinado como algo baseado na matemática, onde os dados e as fórmulas nos dizem exatamente o que fazer. Mas, no mundo real, as pessoas não tomam decisões financeiras com base no Excel. Tomam-nas à mesa de jantar ou numa sala de reuniões, onde a história pessoal, a sua visão única do mundo, ego, orgulho, marketing e incentivos estranhos se misturam.
Em "The Psychology of Money", Morgan Housel partilha 19 histórias que exploram as formas peculiares como as pessoas pensam sobre dinheiro e ajuda-nos a compreender melhor um dos tópicos mais importantes das nossas vidas.
The 100-Year Life: Living and Working in an Age of Longevity, by Lynda Gratton & Andrew Scott
A esperança média de vida tem vindo a aumentar nas últimas décadas. Mas, como será viver até aos 100 anos? Até que idade vamos ter que trabalhar e quanto vamos ter que poupar para viver mais 20 ou 30 anos para lá da reforma? Estas são algumas das questões que Linda Gratton & Andrew Scott exploram em The 100-Year Life.
Perante uma realidade na qual as pessoas vivem cada vez mais, com pressão crescente para os esquemas de pensões, o livro é um apelo à ação por parte de indivíduos, governos e empresas, desafiando as várias entidades a pensar uma sociedade diferente daquela que marcou as últimas gerações, com outras necessidades.
Se viver 100 anos pode ser maravilhoso, pode ser igualmente um desafio. Tudo depende da forma como nos vamos preparar para viver um século.
The Little Book That Builds Wealth by Pat Dorsey
Investir no mercado acionista qualquer um pode investir, mas nem todos têm a capacidade para analisar o que serão as empresas com potencial para valorizar no longo prazo. Em The Little Book That Builds Wealth, Pat Dorsey explica quais as características que se devem identificar num negócio para eleger uma empresa para um carteira de longo prazo.
O segredo, segundo Dorsey, está nas vantagens competitivas ou fossos económicos. Tal como os fossos protegiam os castelos na Idade Medieval, as empresas devem ter vantagens competitivas que lhes permitam proteger os seus retornos de capital da concorrência.
Identificar empresas com estas vantagens competitivas, com uma gestão capaz de criar e manter estes fossos económicos, que estejam a negociar em valores atrativos é o primeiro passo para encontrar bons investimentos a longo prazo.
Other People's Money, by John Kay
Numa crítica ao setor financeiro, Other People's Money John Kay traça uma imagem de ostentação da indústria, a qual diz estar cada vez mais desfasada da economia real.
Entre Wall Street, em Nova Iorque, e a City, em Londres, o economista constata que o que salta à vista são grandes edifícios modernos com logos de nomes de grandes bancos. "Mas o que é que esta gente faz?", questiona Kay. E responde: "Negoceiam uns com os outros".
Financiar o crescimento da economia deixou de ser a principal atividade do setor, que se dedica agora a "trocar pedaços de papel" com outras instituições financeiras, por vezes cortando o papel em diferentes formatos em nome da "inovação", nota o autor, num livro onde orienta o leitor com uma visão crítica àquilo que é hoje a atividade da banca.
The money game by Adam Smith
The Money Game foi escrito numa altura em que os mercados acionistas fervilhavam, em finais da década de 1960. Com o "bull market" a chegar ao fim, George Goodman, sob o pseudónimo Adam Smith, partilha com o leitor uma série de histórias com base em jogos de pessoas com o dinheiro e os mercados.
O livro é um retrato de como as emoções toldam as decisões dos investidores, levando a melhor à razão. Dominadas pela emoção, erro, mitos e irracionalidade, as histórias revelam a natureza dos investidores.
Um livro que mostra a importância de manter o foco e evitar seguir a "manada", com base naquilo que são acontecimentos de curto prazo.
The Company I Keep, by Leonard Lauder
The Company I Keep: My Life In Beauty é uma história de vida. Nesta obra Leonard A. Lauder partilha as lições de vida e de liderança à frente da empresa que a mãe fundou em 1946 e que acabou por tornar-se um império de milhões de dólares.
Neste livro de memórias, Leonard Lauder transporta o leitor pela sua vida, a qual está interligada à história da própria empresa criada pela sua família: Estée Lauder. A companhia de produtos de beleza - uma das maiores do mundo - começou por vender apenas alguns produtos para ser uma multinacional com presença em mais de 150 países.
Mas o percurso para chegar ao que hoje é a Estée Lauder não se fez sem alguns percalços. A empresa teve de lidar com a Grande Depressão e o período pós-guerra, assim como os desafios atuais. "Esta é a nossa história. É a história da transformação de uma família, da criação de uma empresa, de um mundo em mudança, e da minha própria jornada pessoal", escreve Lauder.
The Bezos Blueprint by Carmine Gallo
Se está à espera de ler a história da Amazon neste livro, não é isso que vai encontrar. The Bezos Blueprint é uma espécie de bíblia da comunicação para todos os líderes que procuram perceber como Jeff Bezos, o criador da Amazon, conseguiu implementar uma estratégia que ajudou a tirar da garagem a empresa, tornando-a uma das maiores companhias do mundo.
Em 2004, Bezos revolucionou a forma de comunicação da empresa, ao pedir a todos os colaboradores que deixassem de utilizar o powerpoint, a tecnologia de ponta à data. Em vez disso, as ideias deveriam ser comunicadas com pitchs e uma linguagem simples, percetível para qualquer pessoa.
Carmine Gallo estudou todas as cartas escritas pelo dono da Amazon e mostra como Bezos reinventou a forma com os líderes escrevem, falam e motivam equipas e clientes. Um guia de comunicação para qualquer um.
The Everything Store by Brad Stone
"Somos as nossas escolhas", disse Jeff Bezos, o fundador da Amazon, num discurso em 2010. E Bezos fez a sua escolha muitos anos antes, quando decidiu deixar o seu trabalho como analista em Wall Street para criar aquilo que viria a tornar-se uma das maiores empresas do mundo, e uma das poucas a superar a marca do bilião de dólares em valor de mercado.
The Everything Store: Jeff Bezos and the Age of Amazon transporta o leitor pela evolução do negócio da Amazon. Aquilo que começou por ser um negócio de venda de livros online, que nasceu numa garagem em Seattle, transformou-se e tornou-se o que Bezos idealizou como The everything Store, ou a loja que vende tudo.
O que começou por ser um sonho, tornou-se realidade. A determinação de Jeff Bezos mudou a forma como todos nós vivemos as nossas vidas e alterou para sempre o conceito de compras.
Siga outras sugestões de leitura em https://www.casadeinvestimentos.pt/pt/media/leitura
Procuramos investir num conjunto de negócios excecionais que conseguem capitalizar lucros ao longo de períodos alargados. Temos a convicção que um negócio de elevada qualidade é sustentado por três pilares fundamentais:
1. Vantagens competitivas duradouras,
2. Uma equipa de gestão com provas dadas,
3. Ventos favoráveis ao crescimento estrutural.
É importante que estes negócios sejam suportados por balanços sólidos que lhes deem a flexibilidade e a capacidade para reinvestir ao longo do ciclo económico. Procuramos comprá-los quando cotam a preços sensatos.
A qualidade do negócio e o preço a que o compramos - face à nossa estimativa de valor intrínseco - são a margem de segurança com que procuramos gerir o dinheiro dos nossos Clientes e o nosso.
Este artigo vai focar-se no terceiro dos três pilares que sustentam a nossa filosofia de investimento:
Avenidas de Crescimento
A criação de valor para o acionista está intrinsecamente ligada à capacidade de uma empresa reinvestir os cash flows em oportunidades de crescimento atrativas. Costuma dizer-se que se um negócio não cresce é porque está a morrer. Por outras palavras, não basta que um negócio consiga gerar taxas de retorno elevadas. É também necessário que tenha a capacidade de reinvestir os lucros em oportunidades de crescimento. Um negócio que consegue taxas de retorno elevados no capital investido e crescimento a longo prazo é um verdadeiro motor de capitalização de riqueza a longo prazo.
"O crescimento é sempre uma componente no cálculo do valor"
Warren Buffett
Fontes de Crescimento
Uma empresa pode fazer crescer as suas receitas de diversas formas:
1. Volume: na nossa opinião, a fonte de crescimento mais sustentável resulta de vender uma maior quantidade de produtos ou serviços de forma consistente. Procuramos, portanto, um registo histórico de crescimento orgânico acima da média.
2. Preço: aumentar o preço de produtos e serviços existentes. O poder de preço existe quando os clientes são insensíveis ao preço. O exemplo mais evidente de poder de preço sustentado pode ser encontrado no espaço dos bens de luxo.
3. Inovação: As empresas de elevada qualidade tipicamente são capazes de expandir o seu mercado endereçável através de inovação bem sucedida e do lançamento de novos produtos.
4. Fusões e Aquisições: as empresas podem também aumentar as receitas adquirindo outros negócios. A nossa experiência sugere que a maioria das aquisições destrói valor.
O crescimento beneficia os investidores apenas quando cada dólar utilizado para financiar o crescimento cria mais que um dólar de valor de mercado de longo prazo.
O crescimento está assim intrinsecamente ligado à alocação de capital e, portanto, à qualidade da equipa de gestão da empresa.
Em “The Little Book that Still Beats the Market”, Joel Greenblatt apresenta a sua fórmula magica para ter sucesso no investimento: comprar negócios excecionais quando estão baratos.Esta abordagem requer disciplina e tempo para esperar que o mercado reconheça o seu verdadeiro valor.
“No curto prazo, o Sr. Mercado determina o preço de uma ação baseado nas suas emoções, mas no longo prazo o que realmente importa é o valor intrínseco do negócio”
No livro, “The Little Book That Builds Wealth” (2008), Pat Dorsey explica-nos o que são vantagens competitivas e porque são determinantes para ter retornos no investimento a longo prazo.
“A menos que uma empresa tenha um fosso económico que proteja o seu negócio, a concorrência depressa chegará aos seus portões e corroerá os seus lucros. Wall Street está repleta de carcaças de empresas que foram de bestiais a bestas num piscar de olhos.”
Pensamento predatório significa ser mais esperto que o problema. Quando um pensador predatório encontra um problema que não consegue resolver, ele altera o contexto do problema e transforma-o em algo que consegue resolver. Desmantela o problema num conjunto de problemas mais pequenos. Encontra o elo mais fraco. A parte do problema que consegue mudar. Essa mudança, por sua vez, altera todos os outros problemas.Dave Trott utiliza histórias reais para demonstrar como os pensadores predatórios fizeram exatamente isto. Este não é um livro teórico que destila 10 fórmulas ou receitas milagrosas. Trott conta as suas histórias e cabe ao leitor fazer o resto do trabalho, cabe ao leitor aplicar os princípios aos seus problemas. Predatory Thinking prova que não é difícil pensar ou abordar os problemas de forma diferente. O hábito de o fazer é que é difícil de entranhar.Apesar de a maior parte das histórias terem origem no mundo da publicidade, este livro é dirigido a todos aqueles que querem ou precisam de pensar fora da caixa. Todos nós.
Readers of Warren Buffett?s letters to Berkshire Hathaway shareholders have gained an enormously valuable informal education in the art of investing. Broad in scope and long on wisdom, Buffett?s letters explain his principles on sound investing, selecting managers, valuing businesses, using financial information profitably, and other vital topics for investors.This newly updated Fourth Edition includes Buffett?s latest wisdom on such topics as the financial crisis, the housing bubble, corporate governance, Berkshire Hathaway?s acquisition of Burlington Northern Santa Fe, the role of oversight in heavily regulated industries, today?s best investing opportunities, and the weaknesses of popular option valuation models.Features investing advice in plain English from one of the world?s most legendary investorsIncludes Buffett?s insights on the current financial crisis and recessionOffers new and potent insight on good corporate governance and other issues vital to executives and managersFor investors, corporate executives, managers, and Buffett fans, The Essays of Warren Buffett, Fourth Edition features the kind of wisdom on investing, finance, and leadership that can be found nowhere else.
Daniel Kahneman, psicólogo israelita galardoado com o Nobel da Economia de 2002, condensa o trabalho de toda a sua carreira neste livro.Thinking, Fast and Slow é, acima de tudo, sobre a facilidade com que, sem nos darmos conta disso, tomamos decisões pouco racionais. Ao contrário do que defende a teoria económica tradicional, o ser humano não toma sempre a decisão que melhor serve o seu interesse. Na realidade, as pessoas cometem erros sistemáticos de julgamento.Kahneman explica porquê e lança pistas para tentarmos evitar estas armadilhas mentais ou, pelo menos, conseguirmos identificá-las quando somos nelas apanhados.Em Thinking, Fast and Slow, Kahneman demonstra que não somos os paradigmas da razão que pensávamos ser.
Guy Spier estudou em Oxford e Harvard. Iniciou a sua carreira na banca de investimentos convencido que iria ter sucesso e que iria ser feliz. Desiludido com o ambiente que o rodeava, despediu-se. Vive agora na Suíça, feliz e em paz e gere milhões de dólares segundo os princípios do Investimento em Valor.Este livro conta a história de Guy Spier. Na realidade, este livro não se debruça particularmente sobre as regras do Investimento em Valor mas sim sobre o desenvolvimento do temperamento do investidor.Warren Buffett diz que não é preciso ter um QI de 160 para ter sucesso no investimento. É preciso, isso sim, ter o temperamento adequado. É essa a história de A Educação de um Investidor em Valor.
«As crises, como a da economia portuguesa, que resultam de diminuições da poupança tendem a originar recessões mais graves e recuperações mais lentas do que as crises em que o endividamento resultou de aumentos do investimento.Neste livro, Fernando Alexandre, Luís Aguiar-Conraria, Pedro Bação e Miguel Portela mostram a evolução das grandes tendências da poupança e investimento, desde a evolução dos fluxos globais de poupança até aos dados para a economia portuguesa. A sua publicação constitui um excelente contributo para a sistematização destes temas, fulcrais para a evolução económica.O retrato traçado é de um país com uma baixa taxa de poupança e excesso de endividamento, em particular no Estado e nas Empresas, o que constitui um obstáculo ao crescimento e à estabilidade financeira. Todos os agentes económicos acabaram por ter um papel na acumulação do endividamento externo que provocou a necessidade da entrada da troika e de um plano de intervenção externo. Vários fatores conduziram a esse comportamento, em particular as descidas das taxas de inflação e das taxas de juro em simultâneo a um maior acesso ao crédito.Na análise efetuada da composição do património das famílias, percebe-se uma grande concentração da riqueza na habitação e nos depósitos bancários. Apesar da riqueza financeira estar concentrada nos grupos com mais altos rendimentos, observa-se um grande conservadorismo nessas aplicações (74% dos ativos financeiros estão aplicados em depósitos à ordem e depósitos a prazo).O livro conclui com propostas de promoção da poupança, objetivo fulcral para superar os desafios que a economia nacional vai enfrentar nas próximas décadas, em especial com as alterações demográficas que se perspetivam.
Publicada em 2002, no rescaldo do crash das empresas dotcom, The New Buffettology é um guia para a filosofia de investimento de Warren Buffett, o Investimento em Valor.The New Buffettology ensina os investidores a decifrar e a utilizar a informação financeira disponível publicamente tal como Buffett o faz. Passo a passo, guia os investidores através das equações e fórmulas que Warren Buffett utiliza para determinar em que empresas investir e, mais importante, quando.Os autores Mary Buffett e David Clark exploram detalhadamente alguns dos investimentos de Warren Buffett e provam mais uma vez que o Investimento em Valor funciona: consegue rentabilidades acima da média com risco limitado
Widely respected and admired, Philip Fisher is among the most influential investors of all time. His investment philosophies, introduced almost forty years ago, are not only studied and applied by today?s financiers and investors, but are also regarded by many as gospel. This book is invaluable reading and has been since it was first published in 1958. The updated paperback retains the investment wisdom of the original edition and includes the perspectives of the author?s son Ken Fisher, an investment guru in his own right in an expanded preface and introduction."I sought out Phil Fisher after reading his Common Stocks and Uncommon Profits...A thorough understanding of the business, obtained by using Phil?s techniques...enables one to make intelligent investment commitments."Warren Buffet
A propósito deste livro, John Bogle, fundador da Vanguard, escreveu estas palavras: "Este livro mostra-nos o que correu mal com as nossas instituições financeiras e mercados. Neste apelo à ação - aos investidores que coletivamente são donos das empresas americanas - os autores sugerem passos claros para que possamos construir um mundo empresarial que sirva os nossos interesses e não os de Wall Street." Sem compromissos na crítica, mas otimistas na sua visão, Stephen Davis, Jon Lukomnik e Davis Pitt-Watson oferecem uma análise clara dos problemas do sistema financeiro e adiantam soluções práticas que podem mudar o mundo para melhor.
Qual é a taxa de retorno de longo prazo das acções e obrigações? Antes da publicação de "O Triunfo dos Optimistas", era surpreendentemente difícil responder a esta pergunta. Em pouco mais de 300 páginas, este livro fornece a resposta definitiva.Os investidores dão frequentemente demasiada importância à experiência mais recente. Nos anos 50, quem sonharia, a não ser o maior optimista, que, nos 50 anos seguintes, as acções renderiam cerca de 9% ao ano? No entanto, foi o que aconteceu nos Estados Unidos. Os optimistas triunfaram!Os autores desta obra, Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton, apresentam uma análise rigorosa e consistente dos retornos do investimento em acções, obrigações e notas do Tesouro, assim como câmbios e taxa de inflação, em dezasseis países desde o fim do Séc. XIX até ao início do séc. XXI. Esta informação é apresentada de uma forma clara e simples com mais de 130 diagramas que facilitam a comparação.Não restam quaisquer dúvidas, as acções são a classe de activos que melhor remunera o investidor no longo prazo.
Não existe ninguém mais qualificado que John Bogle, fundador e ex CEO dos fundos Vanguard, para denunciar as falhas do sistema financeiro americano e os abusos que aconteceram nos últimos anos. Zeloso defensor do pequeno investidor há mais de 50 anos, Bogle defende a restauração da integridade nas práticas da indústria financeira.Segundo Bogle, um sistema financeiro transparente e confiável é essencial ao progresso económico e social.Este livro não nos conta apenas a história de como tudo correu mal. Explica também o porquê e o que devemos fazer para corrigir o rumo. Para Bogle, a solução é o regresso a um capitalismo dos donos, isto é, o controlo das empresas deverá ser devolvido aos accionistas e retirado dos gestores com as suas stock options e remunerações obscenas.Este é um livro obrigatório para qualquer investidor, analista, legislador, regulador ou empresário.
Como pode uma empresa que nunca apresentou lucros ter uma avaliação de vários biliões de dólares? Por que razão algumas start-ups atraem investimentos milionários e outras não?Aswath Damodaran, professor de finanças e investidor experimentado, argumenta que o poder da história impulsiona o valor da empresa, acrescentando substância aos números e convencendo até os investidores mais cautelosos a correr riscos. Nos negócios, existem os contadores de histórias, que tecem narrativas irresistíveis, e os mastigadores de números, que constroem modelos e fazem contas. Ambos são essenciais para o sucesso, mas só combinando os dois, defende Damodaran, é que um negócio consegue criar e suster valor.Com o auxílio de um conjunto de casos de estudo, Narrative and Numbers descreve como os contadores de histórias podem incorporar e narrar números e como os mastigadores de números podem calcular modelos mais imaginativos e mais resistentes ao escrutínio. Damodaran analisa a origem da Uber e a forma como a narrativa desempenha um papel chave na compreensão de diferentes avaliações. Ele investiga por que o Twitter e o Facebook eram avaliados em biliões de dólares nas suas OPVs e por que um (Twitter) estagnou enquanto que o outro (Facebook) cresceu. Damodaran analisa também modelos de negócio já estabelecidos, tais como a Apple e a Amazon, para demonstrar como a história de uma empresa pode enriquecer ou constranger a sua narrativa. E, através da Vale, uma empresa mineira global, sediada no Brasil, demonstra a influência da narrativa externa e como um país, uma matéria prima ou uma moeda podem influenciar a história de uma empresa.Narrative and Numbers revela os benefícios, os desafios e as armadilhas de tecer narrativas à volta de números e como podemos melhor testar a plausibilidade de uma história.
Richard Thaler, autor de Misbehaving, foi galardoado pela Academia Real das Ciências da Suécia com o Nobel da Economia de 2017.Thaler, professor de economia na Universidade de Chicago, passou a maior parte dos últimos 40 anos a chamar a atenção para o facto de que as pessoas não se comportam como os economistas dizem que se deveriam comportar. As pessoas, ao contrário do que as teorias económicas defendem, não são racionais, não tomam sempre as melhores decisões financeiras e não agem sempre no seu melhor interesse.Este livro - Misbehaving - abre-nos a porta ao campo da economia comportamental. Robert Schiller, também galardoado com o Nobel da economia, declara, "Thaler está na vanguarda da mais importante revolução na economia dos últimos 30 anos. Neste cativante livro, Thaler apresenta os argumentos a favor da economia comportamental e explica porque ainda existe tanta resistência"Ler os livros de Richard Thaler torna-nos melhores investidores.
Por vezes um problema profundamente complexo tem uma solução enganadoramente simples. Esta é a mensagem de The Checklist Manifesto, de Atul Gawande, que explica como uma simples checklist uma lista de tarefas ou procedimentos pode reduzir dramaticamente as probabilidades de erro em situações de vida ou morte.Gawande, ele próprio um cirurgião, defende que a medicina se tornou demasiadamente sofisticada para o seu próprio bem. O volume e complexidade daquilo que agora sabemos excedeu a nossa capacidade individual de aproveitar os seus benefícios de forma correta, segura e fiável. O conhecimento salva-nos e simultaneamente oprime-nos.Gawande compila vários estudos que demonstram quedas dramáticas nas taxas de infeção morte após determinados procedimentos cirúrgicos. A causa destas quedas dramáticas? A implementação de simples checklists.Este livro pode ser resumido em três frases:As checklists protegem-nos de erros;As checklists estabelecem um padrão superior de performance;No fim de contas, uma checklist não é mais que uma ferramenta. Se não ajudar, algo está errado.As checklists podem ser aplicadas em todas áreas da atividade humana, na aviação, arquitetura e até nos investimentos.Warren Buffett e Charlie Munger utilizam uma checklist muito simples:Compreendo o negócio?É um negócio excelente (tem vantagens competitivas, altos retornos no capital, etc.)?Os gestores são capazes e honestos?O preço é atrativo?Se a alguma das questões acima respondemos não, provavelmente não devemos investir. Revisitando a história recente da bolsa portuguesa, muito valor poderia ter sido salvo se esta checklist tivesse sido aplicada.Atul Gawande foi recentemente nomeado CEO da empresa de cuidados médicos criada por Warren Buffett, Jeff Bezos e Jamie Dimon - três referências mais do que suficientes para prestar atenção ao que Gawande escreve.
Desde a primeira edição da nossa newsletter O Investidor Inteligente, temos vindo a recomendar um livro a todos os nossos leitores. Porque entendemos que a leitura deve ser vasta e abrangente, decidimos convidar personalidades de relevo nas mais variadas áreas de atuação para cumprir com este desígnio e proporcionar, assim, um roteiro e arquivo mais vastos para a Biblioteca da Casa de Investimentos e para todos aqueles que a acompanham.Na sua edição de outubro, partilhamos a sugestão de António Murta, CEO da Pathena e Administrador Não-Executivo da Casa de Investimentos (Ver Nota Biográfica António Murta).Memórias de Adriano"Porquê recomendar um livro de literatura a investidores / gestores profissionais? Porque é o melhor livro que eu conheço sobre liderança. É uma quase-biografia de um homem extraordinário (o Imperador Adriano), que geriu um Império (Romano).Marguerite Yourcenar retrata, de um modo romanceado é certo, mas extraordinariamente vívido a vida de um homem, as suas escolhas e as escolhas dos homens de confiança que o haviam de rodear. É para mim o melhor livro de Marguerite Yourcenar e isso já é dizer muito quando se escreveu também A Obra ao Negro, O Tempo esse grande Escultor entre outros.Recomendação de leitura por António Murta, Managing Partner, Co-Fundador e CEO da Pathena e Administrador Não-Executivo da Casa de Investimentos.
Quando questionados acerca das tendências globais: - que percentagem da população mundial vive em pobreza extrema?- por que motivo aumenta a população mundial?- quantas meninas completam o ensino básico? - erramos sistematicamente as respostas.Erramos de uma forma tão enfática que um chimpanzé, escolhendo as respostas aleatoriamente, consegue, de forma consistente, melhores resultados que jornalistas, prémios Nobel e banqueiros.Afinal, o mundo está em muito melhor estado do que julgamos. Quando nos preocupamos com tudo a toda a hora e não adotamos uma perspetiva global baseada nos factos, perdemos a capacidade de nos concentrarmos naquilo que realmente nos ameaça.Em Factfulness, Hans Rosling, o Professor de Saúde Internacional famoso pelas suas TED Talks, oferece-nos uma explicação radical para este fenómeno e revela os dez instintos que distorcem a nossa perspetiva.
Desde a primeira edição da nossa newsletter O Investidor Inteligente, temos vindo a recomendar um livro a todos os nossos leitores. Porque entendemos que a leitura deve ser vasta e abrangente, decidimos convidar personalidades de relevo nas mais variadas áreas de atuação para cumprir com este desígnio e proporcionar, assim, um roteiro e arquivo mais vastos para a Biblioteca da Casa de Investimentos e para todos aqueles que a acompanham.Na sua edição de novembro, partilhamos a sugestão de Fernando Alexandre, Professor Universitário na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho.Enlightenment NowA percepção da maioria da população, em muitos países desenvolvidos, é que o mundo está cada vez pior e que não está no bom caminho. Não podemos ignorar as guerras que persistem, a pobreza que convive ao lado da mais absoluta riqueza ou as doenças que continuam a tornar tão difícil a vida de tantas pessoas. No entanto, contra a percepção da maioria, os factos mostram que o mundo registou um extraordinário progresso nos últimos três séculos, proporcionando mais rendimento e mais qualidade de vida a cada vez mais pessoas e reduzindo o número das que vivem em situação de pobreza, situação de guerra, expostas ao crime e insegurança ou que morrem prematuramente, para valores que, apenas há algumas décadas, eram impensáveis.Steven Pinker, professor na Universidade de Harvard, escreveu o livro Enlighenment Now como um manifesto em defesa das instituições do Iluminismo, que estiveram na origem daquele extraordinário progresso da humanidade e que estão hoje sob ataque de movimentos populistas. Estes movimentos preferem o nacionalismo ao cosmopolitismo, o autoritarismo à democracia, desvalorizam o conhecimento científico e, mais do que um futuro melhor, procuram um passado idílico, que nunca existiu.Pinker lembra que as instituições refletem formas de cooperação que as sociedades foram aperfeiçoando ao longo do tempo e que permitem que o bem universal se sobreponha aos egoísmos individuais e de grupos de interesse. Entre as regras que favorecem o progresso estão a abertura à crítica, a liberdade de expressão, a cooperação, o cosmopolitismo, os direitos humanos, o reconhecimento da falibilidade do ser humano. Entre as instituições que promovem o progresso estão a ciência, a educação, os media, os governos democráticos, as organizações internacionais e os mercados. Apresentando um manancial de dados sobre o progresso e os seus benefícios para o bem-estar da humanidade, Pinker mostra por que é que hoje, mais do que nunca, é essencial preservar as instituições que herdámos do Iluminismo. Utilizando a razão, a ciência e os princípios do humanismo será mais fácil ultrapassar os problemas que se colocam à sociedade, evitando retrocessos civilizacionais e o regresso da barbárie, que, como sabemos, está sempre à porta.Recomendação de leitura por Fernando Alexandre, Doutorado em Economia pela Universidade de Londres - Birkbeck College. Professor Associado da UMinho, consultor da área de estudos económicos da Fundação Francisco Manuel dos Santos e Presidente do Conselho de Administração da SBS Startup Braga Investimentos em Startups, SA. Foi Pró-Reitor da UMinho para a Valorização do Conhecimento e Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Administração Interna no XIX Governo Constitucional. É autor e coordenador de quatro livros sobre a economia portuguesa. Prestou serviços de consultoria para entidades como a Fundação Calouste Gulbenkian, o Tribunal de Contas, o Governo português, a Associação Portuguesa de Seguradores ou a Associação Comercial do Porto.
Desde a primeira edição da nossa newsletter O Investidor Inteligente, temos vindo a recomendar um livro a todos os nossos leitores. Porque entendemos que a leitura deve ser vasta e abrangente, decidimos convidar personalidades de relevo nas mais variadas áreas de atuação para cumprir com este desígnio e proporcionar, assim, um roteiro e arquivo mais vastos para a Biblioteca da Casa de Investimentos e para todos aqueles que a acompanham.Na sua edição de dezembro, partilhamos a sugestão de Luísa Anacoreta, Professora Auxiliar da Universidade Católica Portuguesa, Administradora não executiva dos CTT, Impresa e Sonaegest.Elogio da SombraO Japão é um país fascinante. Reconhecido pela sua capacidade de desenvolvimento e afirmação tecnológica, económica e, receio, também social, é para alguns difícil concebê-lo abstratamente nos conceitos tradicionais de leveza, suavidade, paz, calma e beleza. Ler o Elogio da Sombra permite deliciarmo-nos com as raízes de um país riquíssimo em história, cultura e primor estético. É um livro obrigatório para quem quer visitar o Japão, porque toda a sua visita fará muito mais sentido. Mas também essencial para quem apenas tem curiosidade sobre o país e sobre aquela cultura oriental.Mas, o Elogio da Sombra é lido com muito prazer também por aqueles que apenas querem ler quem escreve bem, e refletir sobre o que a todos um pouco interessa. Tanizaki faz-nos pensar sobre arquitetura, cosméticos, mobiliário, comida, sobre o que carateriza a evolução dos tempos, sobre contrastes entre hoje e ontem, ou amanhã e antes de ontem, sobre feio e bonito, ou atraente e repelente ou ainda sobre Ocidente e Oriente.Junichiró Tanizaki nasceu no centro de Tóquio em 1886 e fez-se o mais célebre contador de histórias do seu país. Da leitura das suas páginas vamos sentindo uma escrita suave, reveladora de uma grande sensibilidade. O tema é a estética, e portanto a beleza, mas o que se sente é uma forte nostalgia. Como se Tanizaki nos quisesse avisar que na sombra do que é belo há de estar sempre uma recordação.Confesso que procuro evitar nostalgias. Gosto do futuro e de o desenhar. Olhar para trás é perda de tempo. Mas ler Tanizaki a descrever as casas japonesas, a luz quente filtrada pelos shoji, o jogo de luz e sombra das toko no ma, e a irradiação misteriosa do papel dourado não é olhar para atrás. É ler a beleza, ler a paz, e transportarmo-nos para um espaço singular, sem dúvida penetrante e atraente.O Elogio da Sombra, sendo um ensaio sobre estética e não um romance, é um livro atípico de um dos maiores escritores japoneses. Foi escrito em 1933 mas para mim é intemporal. Deliciei-me a lê-lo. Recomendo-o a muitos e esses também se deliciam.Recomendação de leitura por Luísa Anacoreta, Doutorada em Gestão, com especialização em Contabilidade, pelo ISCTE. Professora Auxiliar da Universidade Católica Portuguesa. Administradora não executiva dos CTT, Impresa e Sonaegest. Presidente da Comissão de Auditoria dos CTT e vogal da Comissão de Auditoria da Impresa. Presidente do Conselho Fiscal do Centro Hospitalar de São João e da Sogrape. Vogal do Conselho Diretivo da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas. Membro da Comissão Executiva da Comissão de Normalização Contabilística. Árbitro fiscal no CAAD. Autora de livros e outras publicações na área contabilístico-fiscal.
Desde a primeira edição da nossa newsletter O Investidor Inteligente, temos vindo a recomendar um livro a todos os nossos leitores. Porque entendemos que a leitura deve ser vasta e abrangente, decidimos convidar personalidades de relevo nas mais variadas áreas de atuação para cumprir com este desígnio e proporcionar, assim, um roteiro e arquivo mais vastos para a Biblioteca da Casa de Investimentos e para todos aqueles que a acompanham.Na sua edição de setembro, em que damos um novo cunho a esta rubrica, temos o privilégio de partilhar a sugestão do Professor António Cunha, ex-Reitor da Universidade do Minho e Presidente da Mesa da Assembleia-Geral da Casa de Investimentos (Ver Nota Biográfica António Cunha).Tecnologia versus Humanidade"Vivemos tempos muito particulares, marcados por uma revolução digital que está a introduzir transformações profundas nos nossos modos de vida, de trabalho e de organização das nossas sociedades. Assistimos igualmente a uma revolução biológica, em grande parte induzida por desenvolvimentos ao nível computacional, e ao limiar de uma era que será marcada por uma interação sem precedentes entre o tecnológico e o humano.Este tempo novo é descrito e analisado por Gerd Leonhard no livro Tecnologia vs. Humanidade, editado em Portugal pela Gradiva em 2017.Assumindo e consubstanciando a ideia de que estamos a protagonizar uma revolução sem precedentes e com impactos muito maiores do que os que resultaram da invenção da máquina a vapor ou da introdução dos computadores, Leonhard descreve a natureza exponencial, combinatória e recursiva das transformações em curso, que irão alterar radicalmente as interações entre humanos e máquinas. Para alem da partilha com robôs de operações e tarefas que sempre associamos a pessoas, partilharemos conhecimento e inteligência com máquinas que, cada vez mais, tomarão decisões.Leonhard analisa igualmente, de modo muito lúcido e de fácil leitura, as implicações destes desenvolvimentos e nossos atuais conceitos civilizacionais e levanta pertinentes interrogações sobre os seus limites. De facto, a humanidade, confronta-se com a necessidade imperiosa de refletir e fazer balanços sobre o seu futuro, decidir como avançar na procura de caminhos seguros no sentido de um aparentemente irrecusável mundo novo, marcado pelo aumento da longevidade humana e pela tendencial eliminação de trabalho físico, repetitivo ou perigoso.É para este debate que o capítulo final deste livro A hora de decidir introduz sugestões importantes para uma reflexão estruturada."Recomendação de leitura por António Cunha, Professor Catedrático, ex-Reitor da Universidade do Minho e Presidente da Mesa da Assembleia-Geral da Casa de Investimentos.
Até 1999, os Estados Unidos não incluíam o software nos cálculos do PIB. Em 2006, a Microsoft era a empresa mais valiosa do mundo, com uma capitalização bolsista de 250 biliões de dólares. No seu balanço, constavam 3 biliões de dólares de ativos tradicionais, pouco mais de 1% do seu valor de mercado. O valor restante era justificado pelo design de produtos, ideias geradas pelo seu programa de Investigação & Desenvolvimento (I&D), a sua marca, a cadeia de fornecimento global, estruturas internas e o capital humano criado com a formação interna.Atualmente, o PIB americano ainda não inclui investimentos em pesquisas de mercado, branding e formação - ativos intangíveis em que as empresas investem biliões todos os anos. Esta é a nova economia e a percentagem destes investimentos na economia mundial não para de crescer.O livro Capitalism without Capital: The Rise of the Intangible Economy, de Jonathan Haskel e Stian Westlake, explica as diferenças fundamentais do investimento intangível e a sua importância. Os autores começam por definir ativos intangíveis como qualquer coisa em que não podemos tocar. A grande diferença, quando comparadas com a velha economia, é que as indústrias intangíveis têm dinâmicas muito diferentes em termos de velocidade de mudança, risco e competição e estes fatores são determinantes na forma como se avaliam estes negócios.O núcleo do livro é uma explicação dos Quatro S que diferenciam os investimentos intangíveis: scalability (capacidade de escalar o negócio), sunkenness (incapacidade de recuperar os custos), spillovers (efeitos de repercussão) e sinergias.Estas quatro propriedades aliam-se para criar duas características gerais adicionais. Em primeiro lugar, há uma maior incerteza quanto ao valor do investimento intangível relativamente ao investimento tangível. A combinação de sunkenness e spillovers pode significar que o investimento não terá retorno. Em alternativa, a combinação de sinergias e escala pode levar a sucessos inesperados que criam valor para os donos dos ativos intangíveis.Em segundo lugar, os intangíveis tendem a ser contestados. Tal como os autores explicam, as pessoas e negócios frequentemente disputam quem os controla, os possui ou beneficia com eles.Capitalism without Capital descreve também a ligação entre o aumento dos intangíveis e outros desafios estagnação, desigualdades crescentes e o impacto da alteração dos padrões de investimento nas políticas públicas. O livro reforça a necessidade de atuação dos legisladores para que se ajustem as políticas económicas de forma a refletir estas novas realidades, políticas de concorrência e questões fiscais.Os autores apresentam três cenários possíveis para o que poderá ser o mundo intangível do futuro e sugerem de que forma os gestores, investidores e políticos podem explorar as características de uma era intangível para potenciar os seus negócios, portefólios e economias.Este livro não é de leitura difícil, mas interpretar as suas muitas lições pode ser um desafio um desafio altamente recomendável para quem é investidor ou se interessa por o que pode ser o futuro.
Gestão descontraída, mas Profissional é o meu primeiro livro. Não é mais um livro sobre gestão, é uma obra a pensar nas PME portuguesas. Nele, revelo muitas das práticas que estão na base do sucesso da PHC Software.Ao longo da obra, explico tudo o que gostava de ter aprendido na faculdade, mas que fui aprendendo com a experiência na prática.Este é um livro a pensar nos gestores portugueses, com exemplos práticos, baseados em conhecimento de gestão comprovado e que podem ser facilmente aplicados no tecido empresarial português.Na introdução da obra afirmo que A gestão é acima de tudo uma ciência prática que pode ser aprendida através do erro ou pela partilha de conhecimento da experiência e completo afirmando que Este é o livro que gostava de ter lido quando comecei a empresa e que evitava muitos erros que fui cometendo.Ao longo de nove capítulos, este meu livro é uma viagem de gestão para os gestores que procuram exemplos para melhorar as suas empresas e divide-se em três partes: a gestão do próprio indivíduo, a gestão da equipa e a gestão da empresa. Lembre-se que as práticas internas da gestão da empresa, agora tornadas públicas, estão na base do sucesso da PHC Software, que nasceu há trinta anos por dois amigos de faculdade e que é hoje uma multinacional que bate recordes de venda há vários anos consecutivos e que tem sido distinguida e ganho prémios pelas suas boas práticas.____Ricardo Parreira é CEO da PHC Software. Licenciado em gestão e com MBA em marketing, ambos pela Universidade Católica. Destaca-se por ser um líder que inspira boas práticas de gestão e a atitude para a felicidade no local de trabalho, características que têm permitido à PHC crescer de forma sustentável. Tem criado na PHC um ecossistema focado na best experience at work. Um conceito que procura construir empresas com pessoas mais felizes, motivadas e consequentemente mais produtivas.
No livro Only the Best Will Do, o investidor Peter Seilern revela o que é necessário para investir em empresas de qualidade incontestável (Quality Growth): empresas que retornam aos seus acionistas, de forma confiável, um crescimento sólido e estável no longo prazo.Os negócios de Quality Growth são os ativos preferenciais para os investidores que desejam investir para o longo prazo, minimizando o risco de perda permanente de capital. Segundo Seilern, tudo o que o investimento em Quality Growth exige é paciência, pensamento independente e as 10 regras de ouro - reveladas em detalhe no livro - para encontrar as melhores empresas do mundo.Tal como Warren Buffett declarou: É melhor comprar empresas excelentes a preços razoáveis do que empresas razoáveis a preços excelentes
Novas Lições de Liderança de CEO Portuguesas, de que eu e Maria Serina somos autoras, é a destilação de dez extensas e aprofundadas entrevistas com Carla Rebelo, diretora geral do Adecco Group, Carmo Sousa Machado, chairman da Abreu Advogados, Clara Raposo, presidente do ISEG, Cristina Campos, presidente do Grupo Novartis, Cristina Rodrigues, administradora delegada da Capgemini, Dulce Mota, CEO do Montepio, Marta Carvalho Araújo, CEO da Castelbel, Paula Panarra, country manager da Microsoft, Ruth Breitenfeld, vice-presidente da Cepsa, e Vera Pinto Pereira, administradora executiva do Grupo EDP. Estas 10 executivas lideram em diferentes setores de atividade (banca, tecnologia, consultoria, energia, academia, indústria, recursos humanos, advocacia e consumo) e têm percursos muito diversificados. Em entrevistas francas, partilham como chegaram aos lugares que hoje ocupam, os principais desafios que enfrentaram, as conquistas que alcançaram, os receios que sentiram, os erros que cometeram e as principais aprendizagens que fizeram. Este livro surge na senda de Lições de Liderança de CEO Portuguesas, publicado em 2016,com edição esgotada, para dar palco a outras dez mulheres que lideram importantes empresas em Portugal, com o objetivo de inspirar as novas gerações de líderes. São testemunhos muito valiosos para todas as mulheres que ambicionam construir uma carreira de sucesso. Mais do que isso, são lições de liderança úteis a homens e mulheres, porque a boa liderança não tem género. Isabel Canha, jornalista, é co-fundadora e directora da Executiva.pt, depois de perto 30 anos de jornalismo na área dos negócios, em que se inclui a direcção da revista Exame (de Setembro de 2003 a Dezembro de 2012). É autora dos livros As Mulheres Normais têm Qualquer Coisa de Excepcional; António Champalimaud Construtor de Impérios (com Filipe S. Fernandes); e Memórias de Executivas, Lições de Liderança de CEO Portuguesas, Como Chegar a Líder (coordenação), O Sucesso Não Cai do Céu e Novas Lições de Liderança de CEO Portuguesas (todos com Maria Serina). Foi organizadora licenciada da TEDxBelémWomen (em 2013) e oradora na TEDxFCT-UNL 2013 com o tema Telhado de Vidro. Será oradora na TEDxPorto, em Março de 2020. Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, tem extensa formação complementar em Gestão, Finanças, Marketing, Liderança e Jornalismo. Nos tempos livres, dança tango.
Desde a primeira edição da nossa newsletter O Investidor Inteligente, temos vindo a recomendar um livro a todos os nossos leitores. Porque entendemos que a leitura deve ser vasta e abrangente, decidimos convidar personalidades de relevo nas mais variadas áreas de atuação para cumprir com este desígnio e proporcionar, assim, um roteiro e arquivo mais vastos para a Biblioteca da Casa de Investimentos e para todos aqueles que a acompanham.Na sua edição de janeiro, interrompemos excecionalmente este "roteiro" para recuperar "The Battle For The Soul Of Capitalism", assinalando desta forma a vida do extraordinário Investidor, Fundador e ex-CEO dos Fundos Vanguard, John Bogle, que faleceu no passado dia 16.A Batalha pela Alma do CapitalismoNeste livro, publicado em 2005, ainda antes da grande crise financeira de 2008, Bogle é extremamente crítico dos gestores de grandes empresas e aponta o dedo ao sistema financeiro. Para si, a grande dispersão do capital das grandes multinacionais em bolsa faz com que não haja um dono responsável. Os investidores grandes institucionais ou particulares não assacam responsabilidades aos gestores. Os grandes institucionais que detêm grande parte das ações e na maioria dos casos são detidos por grandes bancos gerem os fundos de pensões destas grandes multinacionais e são contratados para as operações de banca de investimento, que proporcionam comissões extraordinárias. Ora, não têm liberdade para questionar as remunerações de gestores, as políticas de aquisições ou a falta de estratégia de criação de riqueza para os acionistas a longo prazo. Os pequenos investidores são estimulados a olhar para o curto prazo e as ações são papel para trocar de mãos todos os dias, permitindo elevadas comissões de transação. Os auditores, que deveriam vigiar a atividade dos gestores para minorar conflitos de interesses, são, eles próprios, contratados por aqueles que terão que avaliar.Através de inúmeros exemplos com factos concretos e nomes, Bogle escreve que assistimos a uma enorme transferência de riqueza dos acionistas para os gestores de grandes multinacionais, financeiras ou não, que pagam a si próprios compensações extravagantes. Nas instituições financeiras, esta transferência acontece, não só de acionistas, mas também de clientes para administrações e gestores. Entre 1997 e 2002, o total de comissões pagas pelos investidores norte americanos aos bancos, corretoras e fundos de investimentos excedeu os 1,275 triliões de dólares.Segundo Bogle, um sistema financeiro transparente e confiável é essencial ao progresso económico e social. Este livro não nos conta apenas a história de como tudo correu mal. Explica também o porquê e o que devemos fazer para corrigir o rumo. Aponta uma variedade de causas para se ter chegado aqui, cada uma interagindo com e reforçando as outras: a ascensão do CEO imperial; os truques da engenharia financeira no reporte de resultados; o falhanço dos nossos guardiões auditores, reguladores, gestores de investimentos e conselhos de administração que se esqueceram a quem deviam lealdade; as instituições financeiras que passaram a ser traders de ações ao invés de se comportarem como donos de ações; a hipérbole promocional de Wall Street; a vontade dos analistas em pôr de lado o seu cepticismo; a excitação frenética dos media; e, obviamente, os membros do público investidor que festejam sempre o lucro fácil. Foi esta conspiração entre todas as partes interessadas, que baixou os padrões do negócio. Conclui, que este é o capitalismo dos gestores e não o dos donos, como deveria ser.
O Investimento em Valor consiste em comprar bons activos a preços substancialmente abaixo do seu valor justo. Preço é o que se paga, valor é o que se recebe, e da diferença entre preço e valor o investidor obtém a Margem de Segurança, a "almofada" necessária para proteger os valores investidos.
Quando é que o investidor consegue comprar activos muito abaixo do seu valor, com Margem de Segurança?
A Margem de Segurança é conseguida graças a factores de vária ordem: resultados trimestrais abaixo das expectativas; um problema do sector - como o aumento dos custos de matérias-primas; um produto defeituoso que obriga à retirada do mercado; uma alteração legislativa que afecta o negócio; ou uma recessão que afecta o mercado em geral. Existirá sempre algo que faz com que uma acção, um sector ou o mercado no seu todo, se deprimam. Cabe ao Investidor em Valor detectar essas oportunidades, analisá-las e determinar, baseado nos dados fundamentais da empresa, o impacto que tais eventos possam ter nos seus resultados e na sua capacidade de criar riqueza para os seus accionistas, no futuro.
É importante que o investidor em acções e obrigações esteja preparado, psicológica e financeiramente, para as flutuações dos preços destes activos no mercado. O facto de terem grande liquidez e de serem facilmente comprados ou vendidos no mercado onde milhões de vendedores e compradores se encontram diariamente, torna estes activos susceptíveis a variações, por vezes muito significativas. O preço da acção pode estar muito desfasado do valor da empresa subjacente, do seu negócio e da sua capacidade de produzir bons retornos a médio e longo prazo.
Na bolsa, o "Sr. Mercado" está sempre disposto a comprar e a vender; às vezes eufórico, oferece um preço muito acima do valor do negócio e outras vezes, deprimido, oferece um preço muito abaixo do valor. Quanto mais deprimido estiver o "Sr. Mercado" (analogia criada por Benjamin Graham para explicar os movimentos dos mercados), maior é a diferença entre preço e valor e, por isso, melhores serão as oportunidades de investimento e maior a Margem de Segurança conseguida para o capital investido. Não somos, no entanto, obrigados a transaccionar diariamente com o "Sr. Mercado". O investidor não é obrigado a comprar ou a vender. Deve fazê-lo apenas quando o preço lhe for conveniente.
Quando o investidor vê títulos que tem em carteira a transaccionar a preços muito abaixo do seu valor não deve , apenas porque existem opiniões contrárias à sua ou porque alguém lhe diz que o preço hoje é mais baixo, vendê-los. Da mesma forma que o proprietário de um imóvel, quando abordado por um potencial comprador que lhe oferece um preço 20 ou 30% abaixo do real valor, recusa essa oferta, também o investidor em acções deve aguardar que alguém esteja disposto a pagar o preço que reflicta o valor justo do activo .
O Investimento em Valor pressupõe que o investidor se mantenha focado no valor dos negócios das empresas que tem em carteira e nas oportunidades de investimento a prazo, consciente e fiel aos seus princípios de investimento.
Actualmente, o investidor que possui uma carteira diversificada e o horizonte de investimento adequado, deve, caso tenha dinheiro disponível, aproveitar as quedas do mercado para reforçar algumas posições que possam ter ainda ficado mais baratas. Só há uma altura em que devemos investir em acções e essa altura é quando estão baratas.
As variações de curto prazo devem ser aproveitadas para a realização de bons negócios, tendo sempre presente o sentido oportunista da regra : comprar barato e vender caro.
"Encare as flutuações de mercado como amigas e não como inimigas; lucre com a loucura em vez de participar nela"
-- Warren Buffett
Defende o multimilionário Warren Buffett que "o futuro nunca é claro e paga-se um preço muito elevado por um consenso alargado. Aliás, a incerteza é amiga do investidor.
O Investimento em Valor é uma filosofia de investimento intuitiva e com grande racional económico que enfatiza a necessidade de levar a cabo uma análise muito detalhada dos fundamentos das empresas, a busca de resultados a médio e longo prazo, com risco limitado e capacidade para resistir à psicologia da multidão.
No último ano e meio os mercados mundiais têm sido muito influenciados pela resolução da crise de dívida na Grécia e o seu contágio a outros países. Depois do acordo conseguido na semana passada em que a banca foi forçada a assumir uma perda de 50% dos valores que detinham em obrigações da Grécia, ninguém previu que o primeiro Ministro grego viesse agora, passado 18 meses do início da crise e depois de assinar o acordo com a união Europeia e FMI, referendar o acordo.
Temos portanto condições para que os analistas, comentadores e jornalistas se entusiasmem a analisar, a escrever e a prever o que possa ser o futuro próximo, sobredimensionando aquele que pode ser o verdadeiro impacto que este importante evento possa ter na vida das pessoas e das empresas. A verdade é que condicionam a tomada de decisões de consumo, de investimento e de poupança dos agentes económicos.
No final dos anos 90 as previsões dos analistas e especialistas em estratégia tornaram-se mais importantes do que nunca nos mercados financeiros. Infelizmente não se tornaram mais precisas e os exemplos são imensos. Hoje há previsões sobre a variação futura de todo o tipo de indicadores, desde inflação, taxas de juro, desemprego, resultados trimestrais das empresas, passando pelos preços dos mercados de acções e de obrigações, matérias-primas etc. Quando os números reais observados são divulgados, e raramente coincidem com as previsões, estão automaticamente justificadas as condições para que se comportem com grande volatilidade. Ora, isto não faz sentido algum. A origem das previsões, ou necessidade de conforto de algum conhecimento sobre o que possa ser o futuro, vêm limitar a capacidade de tomar decisões assentes num racional económico.
"O futuro nunca é claro e paga-se um preço muito elevado por um consenso alargado. Aliás, a Incerteza é amiga do investidor de longo prazo"
-- Warren Buffett
O investidor em valor aproveita as alturas de grande incerteza, em que o medo leva a uma desvalorização generalizada dos activos, que apesar de baratos ficam ainda mais baratos, e, consciente do valor das empresas, dos seus negócios, da sua capacidade de produzir lucros e os aumentar ao longo do tempo, tem o conhecimento, coragem e a experiência para comprar acções cujo preço hoje no mercado é muito inferior ao seu valor. A incerteza é pois uma das razões pelas quais conseguimos uma margem de segurança maior e uma taxa de retorno superior quando procedermos à venda do activo.
A propósito da incerteza e sobre o melhor investimento a prazo, o Sr. Warren Buffett numa entrevista num canal de televisão americano dizia: "Eu não sei onde o mercado vai estar amanhã ou dentro de uma semana, um mês ou um ano. Sei, no entanto, que se tivesse à escolha manter dinheiro em caixa ou em obrigações a 30 anos ou em acções, não hesitaria um segundo em escolher acções. O mercado já subiu um bom bocado desde Março, mas ainda está muito abaixo de onde estava há três ou quatro anos. Se eu fosse comprar uma quinta da qual serei o dono durante os próximos 50 anos e alguém me dissesse, com grande grau de certeza, que este vai ser um ano terrível em termos meteorológicos, eu não diria "então só vou pagar $1.100 por acre, mas, se me fizer uma previsão favorável, pagarei $1.500!". Tenho de aceitar que terei alguns anos horríveis em termos de tempo. Mas também terei muitos anos bons e alguns anos excelentes. Penso que a ideia de que podemos temporizar os investimentos com base no que achamos que o negócio vai fazer no próximo ano ou dois, é o pior erro que os investidores podem cometer porque a incerteza existe sempre. As pessoas dizem que esta é uma altura de incertezas. Também era uma altura de incerteza em 10 de Setembro de 2001, as pessoas é que não o sabiam. Todos os dias são incertos. Portanto temos que tomar a incerteza com uma parte integrante do investimento. Mas a incerteza pode ser nossa amiga. Quero dizer, quando as pessoas estão assustadas, pagam menos pelas coisas. Devemos tentar encontrar o melhor preço e não tentar adivinhar a direcção do mercado. E, em termos de preço, hoje prefiro investir em acções."
A poupança deve ser vista como uma indispensável forma de bem-estar, como reserva de valor ou como garantia de um consumo futuro.
Ter o dinheiro seguro deixou de ser um luxo para passar a ser uma necessidade absoluta. Investidores e aforradores não podem agora contar com "relações de confiança", com os mercados a subir ou os estados para os proteger no futuro.
Nunca se ouviu falar tanto da necessidade de estados, empresas e famílias pouparem, equilibrarem os seus "balanços" e criarem uma "almofada" para a reforma, para um imprevisto ou para a educação dos filhos. No passado recente, fomos todos incentivados a consumir, a pedir ao futuro o mais possível para usufruir no presente. Com muita frequência, um particular com alguma poupança que entrasse num banco para pedir um crédito à habitação, era aconselhado a recorrer a financiamento para o valor total da casa. Muitas vezes era aconselhado a aplicar a poupança que tinha acumulado em produtos estruturados, cuja matriz de rentabilidade está enviesada para o lado do emitente, em obrigações de estados e empresas, em acções a qualquer preço. Frequentemente, endividava-se para comprar ainda mais acções. O resultado? Carteiras de investimento extremamente desvalorizadas e um endividamento excessivo em relação ao rendimento disponível, que entretanto, se reduziu devido ao aumento da carga fiscal, à redução de salários e até à perda de emprego. Apesar disto, há muitos que dizem que na Ásia se poupa muito mais com muito menos.
A importância da Poupança é reforçada pela cada vez mais certa decadência do sistema de segurança social em virtude da alteração da estrutura da pirâmide etária (aumento da idade média de vida, diminuição da natalidade e menor número de pessoas em idade activa), dos elevados défices incorridos por sucessivos governos, pela grave crise financeira na Europa e pela fraca competitividade da economia nacional face aos principais parceiros europeus. Estes factores obrigam-nos a pensar em programas de poupança individual que compensem a redução violenta das prestações de reforma.
A Poupança deve ser vista como uma indispensável forma de bem-estar, como reserva de valor ou como garantia de um consumo futuro, permitindo maior controlo sobre o nosso destino.
Contudo, tão importante como poupar é rentabilizar a poupança. O maior risco que enfrentamos quanto à manutenção do estilo de vida no futuro, é a possibilidade das nossas poupanças não acompanharem a subida do nível de preços durante os anos ou décadas que faltam para a reforma. Por isso, a poupança implica um plano de longo prazo para ser bem sucedida.
O investidor inteligente, ao investir em acções, assegura-se que está a investir em activos que produzem rendimentos ao longo do tempo, tendo sempre presente o princípio da margem de segurança, isto é, garantindo que está a comprar muito valor por um preço baixo. Há inúmeros estudos que comparam o investimento em diversas classes de activos ao longo de várias décadas e as acções surgem consistentemente como o activo com melhores rentabilidades.
Alguns pontos percentuais de retornos superiores podem ter um impacto enorme na riqueza que vai acumular ao longo do tempo. Suponha que investe 10.000 Euros na sua conta de reforma e que esse valor rende 3% (a taxa de inflação média das últimas 8 décadas) anualmente durante 30 anos, o tempo médio que se poupa para a reforma. Quando chegar a altura de se reformar, terá no seu pé-de-meia cerca de 24.273 Euros. Uma soma simpática! Contudo, se os seus 10.000 Euros renderem, no mesmo período de 30 anos, 10% anuais (a taxas de retorno anual do mercado de acções norte-americano no mesmo período), o seu pé-de-meia atingiria os 174.494 Euros. Isto faria uma diferença enorme na forma como viveria os seus anos de reforma. Tal como faz sentido comprar roupas ou electrodomésticos em saldo, também faz sentido comprar acções em saldo. As acções em saldo dar-lhe-ão mais valor por menos euros.
Tão importante como poupar é "dar vida" à poupança.
A chave para investir com sucesso é a compra de acções de empresas com negócios fabulosos, geridos por gente capaz e honesta, quando os preços estão a desconto.
Todos os dias, os investidores podem comprar e vender milhares de empresas cotadas nas bolsas mundiais, obrigações de governos e empresas no mercado secundário; inúmeros produtos derivados e estruturados, fundos de investimento, hedge funds Warrants, ETF´s etc. Estes activos são "criados" por instituições financeiras mundiais com dois objectivos: criar a ilusão aos investidores de que podem enriquecer da noite para o dia e gerar comissões. Os investidores são "incentivados" a ter uma carteira muito diversificada de produtos financeiros, para reduzir os riscos. O pretexto é "não ponha os ovos todos no mesmo cesto".
Aprendemos com Benjamin Graham e Warren Buffet que a chave para investir com sucesso é a compra de acções de empresas com negócios fabulosos, geridos por gente capaz e honesta, quando os seus preços estão a desconto substancial do seu valor justo.
Seguindo este critério, o investidor inteligente vê o universo de empresas e activos em que deve investir o seu dinheiro muito reduzido. Atendendo que os seus recursos, quer de tempo, para levar a cabo uma análise profunda e posteriormente acompanhar estes negócios, quer de capital para investir, são escassos; o investidor deve concentrar os valores a investir em 10 ou 12 boas empresas que conhece muito bem, que se encontram dentro do seu círculo de competências e possuem as características apresentadas acima.
Se considerarmos, primeiro, avaliar as perspectivas económicas de longo prazo das empresas e as suas vantagens competitivas; segundo, avaliar a qualidade das pessoas encarregues de as gerirem; e terceiro, tentar comprar algumas destas empresas a preços sensatos, acreditamos que a politica de concentração do património financeiro num conjunto limitado de boas empresas, reduz muito o risco do investimento. O investidor sabe muito mais acerca de cada um dos negócios e tem muito maior conforto com as suas perspectivas económicas para o futuro. Isto permite-lhe adoptar uma política de comprar e manter, em vez de estar sempre a comprar e a vender, incorrendo em comissões exageradas e perdas de capital.
Quando o investidor sabe a qualidade dos activos que tem em carteira, mais facilmente resiste a opiniões contrárias à sua, ignora a "multidão" e todo o comportamento emocional que o "Sr. Mercado" vai apresentando diariamente.
Este método de investimento, quando comparado com um fundo "diversificado de acções", produz retornos superiores ao longo do tempo. Os gestores de fundos de investimentos acreditam que se alocarem os capitais dos investidores por um grande número de acções de empresas, muitas vezes 300 ou 400 títulos diferentes, incorrem num risco menor. Contudo, ao mesmo tempo que têm algumas boas empresas no portfólio, também têm um conjunto significativo de acções cujos negócios subjacentes são medíocres e não têm capacidade de gerar retornos excepcionais a médio e longo prazo. Há também a necessidade, por parte destes gestores de se compararem com o mercado e, assim, incorrem nos mesmos erros: tentam adivinhar os movimentos diários do mercado e compram e vendem com muita frequência.
John Maynard Keynes que, além de um economista brilhante, foi também um investidor astuto, escreveu: " estou cada vez mais convencido que o melhor método de investimento é colocar uma percentagem muito considerável de capital em empresas que acreditamos conhecer muito bem e em cujos gestores confiamos. É um erro considerar que o investidor reduz o risco espalhando o seu dinheiro por muitas acções acerca das quais sabe pouco e não tem motivos para confiar. O conhecimento e a experiência de cada um são limitados e raramente existem mais do que duas ou três empresas, em determinado momento, em que eu me sinta inteiramente confiante."
"Preço é o que paga, Valor é o que recebe"
-- Warren Buffett
O Investimento em Valor é um método de investimento completo, intuitivo e com um racional económico forte, cujo princípio central é a compra de bons activos a preços substancialmente abaixo do seu valor. A ênfase é colocada na necessidade de levar a cabo uma análise profunda do activo para determinar o seu valor, limitar os riscos e resistir à "psicologia da multidão" na procura de resultados do investimento a médio e longo prazo. O preço é a cotação do mercado a dado momento.
Grande parte das pessoas toma decisões de poupança e investimento sem o conhecimento claro do valor que estão a comprar. Grande parte destas decisões são influenciadas pelo amigo, um primo do cunhado que percebe "umas coisas" ou pelo Senhor do banco, que em princípio, sabe mais que os clientes. Às vezes porque "tive um palpite" e...
Quando temos um problema sério de saúde, procuramos um bom médico da especialidade, alguém recomendado e com provas dadas. Quando queremos fazer uma casa, procuramos a arquitecta cuja obra feita nos dá algumas garantias de vir a construir a casa que pretendemos. Do mesmo modo, quando investimos o nosso dinheiro devemos ter a certeza que o fazemos com especialistas. O investimento bem sucedido deve assentar em quatro pilares: 1. o domínio da teoria financeira, 2. o conhecimento obtido pela experiência, 3. ter consciência da psicologia financeira e 4. um sólido entendimento de como a industria financeira opera e se comporta nos momentos bons e maus da economia. Não é necessário um QI excepcional. É preciso bom senso.
O investidor, deve certificar-se da qualidade de quem o aconselha, da sua honestidade e capacidade para levar a cabo uma análise profunda do valor dos activos (sejam acções, um terreno, ou uma casa) e da sua capacidade para produzir valor ao longo do tempo e criar riqueza para quem investe.
Como um médico lê os exames de um paciente para chegar a um diagnóstico, o gestor de patrimónios deve analisar o balanço e demonstração de resultados da empresa para descobrir a sua saúde económica. O balanço é efectivamente um gráfico médico, uma fotografia da condição financeira da empresa num determinado momento. Mostra o quão solvente é uma empresa e a situação exacta - boa ou má - em que se encontra. Aqui é onde começamos a formar uma ideia concreta do que realmente vale uma empresa, quanto deve e que recursos tem à sua disposição para sobreviver no futuro. É basicamente o mesmo impresso que se preenche quando nos estamos a candidatar a um empréstimo bancário.
A verdade é que, na maioria dos casos, o investidor não resiste a especular, a tentar adivinhar o que o mercado vai fazer amanhã, a investir na "última moda" de que toda a gente fala e que lhe permitirá ficar rico depressa. Ao mínimo contratempo, assume-se como um azarado e desfaz-se do activo a qualquer preço. Em alturas de grande incerteza, como a que vivemos, vende e diz-se avesso ao risco.
Há dias encontrei um amigo que trabalha no sector financeiro. Disse-me que agora os clientes só querem investir em Bunds (Obrigações do Tesouro Alemão) que estão a render 2,34% (abaixo da inflação). Perguntei-lhe quem é afinal o "médico especialista", é o cliente ou somos nós? Nós que todos os dias avaliamos activos e sabemos que há várias décadas que não se conseguiam tão bons negócios a transaccionar tão a desconto do seu valor. Grandes empresas mundiais que continuam a aumentar os seus resultados e a reinvestir os lucros, estão a pagar dividendos, em muitos casos superiores às taxas dos depósitos a prazo.
Quem tem a experiência de estar no mercado há 20 anos, sabe avaliar os negócios e produtos financeiros e consegue ignorar o comportamento da "multidão", deve aconselhar o cliente no seu melhor interesse. Deve acrescentar valor.
"Quem pensa em si, planta um eucalipto; quem se preocupa com os filhos, planta um pinheiro; quem se preocupa com os netos, planta um sobreiro"
-- ditado português
O gráfico no pdf em anexo apresenta as rentabilidades de várias classes de activos desde 1926 até 2010. Ao longo destes 84 anos, a taxa média de inflação foi de 3%, ou seja, 1 dólar em 1926 actualizado para 2010 daria 12 dólares. Se em 1926 um investidor tivesse investido 1 dólar em Obrigações do Tesouro americano de curto prazo teria obtido um rendimento médio anual de 3,6%, o que até 2010 resultaria em 21 dólares. Se o investidor tivesse optado por investir em Obrigações do Tesouro Americano de Longo Prazo, teria uma rentabilidade média anual no mesmo período de 5,5%, ou seja, 93 dólares. Finalmente, se tivesse investido em acções de grande capitalização teria uma rentabilidade anual de 9,9%, o que, em valores absolutos resultaria em 2.982 dólares, 32 vezes mais que o investimento em Obrigações do Tesouro americano de longo prazo.
Durante este período viveram-se tempos de grande incerteza: a Grande Depressão, a Segunda Guerra Mundial, várias recessões, os choques petrolíferos de 1973 e 1979, a bolha tecnológica e a crise financeira do subprime da qual ainda estamos a recuperar. No entanto, as acções foram a classe de activos que melhores retornos proporcionaram aos investidores.
Se o investidor tiver o cuidado de comprar grandes marcas mundiais com fundamentos económicos soberbos, quando estão baratas; e tiver paciência para as manter na carteira até que se materialize todo o seu potencial de criação de riqueza, esta é a melhor forma de rentabilizar as suas poupanças. Alguns exemplos de grandes máquinas de criação de riqueza para os seus accionistas passaram por todas estas crises : a Johnson-Johnson foi criada em 1887; a General Electric em 1878, a Nestlé em 1866, o Wells Fargo em 1852, a American Express em 1850 a Procter & Gamble em 1837; a Coca-Cola em 1886; a Total em 1924, entre outras.
Comparo o investimento em acções a plantar árvores. É necessário escolher boas árvores, preparar a terra e plantar. Depois devemos acompanhar o seu crescimento ao longo do tempo. Haverá anos com meteorologia muito favorável, haverá anos maus e outros razoáveis. É natural. Mas só plantando é que crescem. Devemos assegurar-nos que temos "boas árvores na nossa floresta", que todos os anos dão frutos ou aumentam a tonelagem. Da mesma forma, as boas empresas vendem produtos ou prestam serviços todos os dias e, por isso, colhem os seus lucros.
Tentar prever a direcção de curto prazo do mercado é um jogo de tolos e um mau serviço ao público investidor. No longo prazo, os mercados sobem. Sempre o fizeram e, muito provavelmente, sempre o farão. Os adivinhos do mercado gostam de pensar que conseguem obter grandes retornos entrando no mercado quando as acções sobem e saindo quando elas caem. Há centenas de estudos que comprovam que isso não é possível.
Na Casa de Investimentos, preferimos confiar na capacidade de avaliação e garantir que compramos bons activos quando estão baratos. Depois, com disciplina e paciência, colhemos os frutos ano após ano, até que o "mercado" os avalie ao seu valor justo.
Como investidor de longo prazo, o perigo real para o seu pé-de-meia é estar fora do mercado quando os grandes movimentos ocorrem. Temos simplesmente que aceitar e suportar alguns, temporários, recuos no mercado. Se o nosso portfólio tiver sido bem construído, um pouco de turbulência no mercado não é motivo para fugir.
Daqui a alguns anos quando olharmos para a continuação deste gráfico, veremos que este foi apenas mais um recuo na Longa Curva da Prosperidade.
Post Scriptum: Se tiver terra plante árvores. 30 anos passam depressa.
Não temos de fazer o que toda a gente está a fazer. Devemos investir com inteligência. Comprar boas empresas abaixo do seu valor produz excelentes retornos.
Durante 1987, o mercado de capitais foi um local com muita excitação mas pouca variação líquida: o Dow subiu 2,3 % no ano. O "Sr. Mercado" esteve numa agitação frenética de compras até Outubro, altura em que sofreu um súbito colapso, no dia 19 caiu 22,7%.
Os gestores profissionais de dinheiro, aqueles que gerem biliões, mereceram, quase na sua totalidade, a nossa gratidão, por este turbilhão. Ao invés de prestarem atenção ao que os negócios farão nos anos vindouros, concentraram-se naquilo que esperam que os outros gestores de dinheiro farão nos próximos dias. Venderam mais quando as acções caíram mais. Para eles, as acções são meramente peças num jogo, como o dedal ou a bota no Monopólio.
Após comprar uma quinta, um proprietário racional ordenaria ao seu agente imobiliário que vendesse pequenas parcelas de terra sempre que uma quinta vizinha fosse vendida a um preço mais baixo? Ou o leitor, venderia a sua casa a qualquer comprador que estivesse disponível às 8h01, porque às 8h00 uma casa semelhante à sua foi vendida por menos do que valia no dia anterior?
Contudo, é esta a atitude que grandes gestores têm relativamente às suas acções. Quanto mais baixo for o valor que o mercado dá a estas empresas, com mais vigor são vendidas. O corolário "lógico" deste comportamento ordena que se recomprem estas mesmas empresas - e eu não estou a inventar isto - assim que os seus preços tenham recuperado significativamente dos mínimos anteriores. Considerando as somas gigantescas de dinheiro que são controladas por gestores que seguem estas práticas dignas da Alice no País das Maravilhas, será surpresa que o mercado se comporte, por vezes, irracionalmente?
Muitos comentadores concluíram que o pequeno investidor não tem hipóteses de sucesso num mercado dominado pelo comportamento errático dos tubarões. Pelo contrário, estes mercados são ideais para qualquer tipo de investidor - pequeno ou grande - desde que ele se mantenha fiel aos seus princípios de investimento. A volatilidade, causada pelos gestores que especulam irracionalmente com largas somas, oferece ao verdadeiro investidor mais oportunidades para fazer investimentos inteligentes. O verdadeiro investidor só será prejudicado por esta volatilidade se se vir forçado, por pressões financeiras ou psicológicas, a vender em alturas desfavoráveis.
2011 foi, de certa forma, semelhante a 1987. Até à 3ª semana de Julho, o DOW - índice que agrega as 30 maiores empresas americanas - subiu cerca de 10%. Nas duas semanas seguintes caiu 17%. O S&P 500 - índice que agrega as 500 empresas de maior capitalização bolsista - subiu no mesmo período cerca de 7% e nas duas semanas seguintes caiu 18,22%. No ano, o Dow subiu 5,5% e o S&P500 ficou a zero.
Conclusões:
1. Comprar boas empresas, as máquinas de fazer dinheiro de que falei aqui a semana passada, e mantê-las dá seguramente bons resultados: a Pfizer subiu, em 2011, 23,59% mais um dividendo de 4,68%; a Johnson & Johnson subiu 6,03% mais 3,69% de dividendo; General Electric, que caiu 2,08%, pagou um dividendo de 3,34%; Wal-Mart subiu 10,81% e pagou um dividendo de 2,7%; a Exxon Mobil, que em 2011 subiu 15,95%, pagou um dividendo de 2,54% e a McDonald's subiu 30,71% e pagou um dividendo de 3,3%. Estes são apenas alguns exemplos.
2. Se aproveitarmos a volatilidade para investir quando estas empresas estão muito baratas, como aconteceu na primeira semana de Agosto do ano que acabou, os resultados serão excelentes. Quando todos tinham medo e os grandes gestores profissionais venderam, muitas destas grandes empresas fizeram mínimos de vários pontos percentuais face ao início do ano.
Na altura escrevi aqui o primeiro artigo com o título "Ignore a Multidão". Não temos que fazer o que toda a gente está a fazer. Devemos fazer o que está certo, investir com inteligência. Comprar boas empresas muito abaixo do seu valor produz excelentes retornos a médio e longo prazo.
Quando se constata que alguma coisa que depende da acção humana não interessa a ninguém, como o fim do euro, o mais provável é que não aconteça.
As últimas semanas de negociações na Europa têm permitido todo o tipo de especulação acerca do futuro do Euro. Os jornais, as televisões, comentadores e políticos têm contribuído para alarmar as pessoas, para as manter em suspense e inseguras. Muito provavelmente, ajudaram-nas a tomar más decisões financeiras.
O Euro aparece em 1999 como uma moeda que se quer forte. A partir de 2004, começa a emergir como uma moeda mais estável e segura, entre outros motivos, pelo facto da administração Bush ter contribuído para a deterioração das contas públicas americanas e o agravamento do seu endividamento exterior.
Em 17 de Setembro de 2007, Alan Greenspan, presidente da Reserva Federal americana de 1987 a 2006, afirmou à conceituada revista alemã Stern, que é "possível" que o Euro substitua ou fique a par do dólar como moeda de reserva mais usada no mundo. Vários países, entre os quais a China, anunciaram o aumento da alocação das suas reservas de moeda em Euros. Até alguns países exportadores de petróleo vieram defender que esta matéria-prima passasse a cotar em Euros. O dólar não era seguro.
Em 8 de Abril de 2008, um artigo da Bloomberg declarava que o dólar seria ultrapassado pelo Euro, como a moeda líder mundial em reservas, em 2015, segundo previsões de diversos economistas, incluindo um estudo do National Bureau of Economic Research.
Muitos analistas técnicos previam a manutenção da tendência de valorização do euro, numa altura em que o câmbio em relação ao dólar cotava a cerca de 1,60. Seis meses depois, o euro tinha desvalorizado cerca de 22% face ao dólar.
Servem estes exemplos, de entre muitos disponíveis, para demonstrar a volatilidade e volubilidade dos "consensos generalizados" e os custos financeiros, em termos de investimento, que tomar decisões com base nessas opiniões, podem ter.
Hoje as opiniões são completamente opostas. "O Euro não vai sobreviver como moeda, e as pessoas devem-se proteger perante este cenário". Assim, são sugeridas opções de investimento que vão desde "ponha tudo em Francos Suíços", "compre Bunds Alemãs", "compre umas barras de ouro" e até, espante-se, "invista em obrigações do Tesouro americano".
O fim do Euro não é do interesse de ninguém. Não é do interesse dos países que investiram parte das suas reservas de moeda em Euros. O Euro representa 26,7% das reservas mundiais, ultrapassado apenas pelo dólar americano, que representa 60,2%. A terceira maior moeda, a libra esterlina, representa apenas 4,2%. Não é do interesse dos credores de mais de 14 Triliões de Euros de dívida emitida nos países da Zona Euro, sendo os maiores detentores os países mais fortes da própria Zona Euro, a Alemanha e a França, e as suas instituições financeiras. Não é do interesse dos Estados Unidos e das economias emergentes, não só por terem também reservas investidas em Euros, mas porque colocaria em causa a recuperação económica mundial. Não é seguramente do interesse dos países da periferia da Zona Euro, Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha, Itália; pois tal significaria uma destruição enorme de riqueza. Os custos seriam incalculáveis. O Euro já é grande demais para cair.
Ora, quando se constata que algo, que depende da acção humana, não é do interesse de ninguém, o mais provável é que não aconteça. Isto significará maior integração europeia, nomeadamente fiscal e alguma perda de soberania dos países membros mais débeis e incumpridores.
Posto isto, devo acrescentar que, nos últimos 3 anos, temos aconselhado os nossos clientes a diversificar os seus investimentos comprando acções de grandes empresas mundiais americanas quando estão baratas. Vendem em muitas moedas pelo mundo, estão expostas a muitas economias que estão a crescer e são "governadas" por gente honesta e capaz. Para nós estes são investimentos seguros, não são especulação.
O medo não é bom conselheiro.
O capitalismo requer uma estrutura e um sistema de valores em que as pessoas acreditem e dependam.
Capitalismo, segundo o Dicionário Webster, é "um sistema económico baseado na propriedade de bens de capital, com o investimento determinado por decisão privada e com preços, produção e a distribuição de bens e serviços determinados principalmente num mercado livre". John Bogle, fundador da Vanguard, acrescentaria, "é um sistema fundado na honestidade, decência e confiança".
Durante os séc. XVIII e XIX, à medida que o mundo se afastava das suas raízes agrárias em direcção a uma sociedade industrial, o capitalismo começou a florescer. Tornaram-se indispensáveis grandes acumulações de capital para a construção de fábricas, para o desenvolvimento de sistemas de transporte e para o financiamento dos bancos, de quem a nova economia iria depender.
Segundo um artigo de James Surowiecki na Revista Forbes, os Quakers estiveram na origem deste desenvolvimento. No séc. XVIII e início do séc. XIX, os Quakers dominavam a economia britânica, provavelmente porque a sua simplicidade e frugalidade lendárias lhes permitiram arrecadar o capital para investir. Eram proprietários de mais de metade das empresas metalúrgicas do país e desempenhavam papéis chave na banca, bens de consumo e no comércio transatlântico. A sua ênfase na fiabilidade, honestidade absoluta e registos rigorosos criavam confiança nos negócios entre si e os restantes mercadores observavam que a confiança caminhava de mãos dadas com o sucesso nos negócios. O interesse próprio exigia a virtude.
Esta coincidência de virtude e valor é exactamente aquilo que o grande economista e filósofo escocês, Adam Smith, esperava. Em A Riqueza das Nações, de 1776, escreveu, "o esforço ininterrupto e uniforme para melhorar a sua condição, o princípio do qual derivam a opulência pública e privada é suficientemente poderoso para manter o progresso natural das coisas para a sua melhoria...Cada indivíduo não pretende promover o interesse público nem sabe o quão o está a promover... (mas) ao orientar a sua indústria de forma a que o seu produto seja o mais valioso possível, ele é guiado por uma mão invisível que promove um objectivo que não faz parte das suas intenções".
Assim, continua o artigo da Forbes, a evolução do capitalismo foi na direcção de uma maior confiança e transparência e um comportamento menos egoísta; não é coincidência que esta evolução trouxe consigo uma maior produtividade e crescimento económico...Não porque os capitalistas são boas pessoas por natureza, mas porque os benefícios da confiança são potencialmente imensos e porque um sistema de mercado de sucesso ensina as pessoas a reconhecer esses benefícios...um ciclo virtuoso em que cada nível de confiança gera um novo nível de confiança".
Este era o capitalismo dos proprietários, cujo objectivo era servir os interesses dos donos e accionistas das empresas maximizando os retornos dos capitais investidos.
Infelizmente, nos últimos anos, desenvolveu-se um novo sistema: o capitalismo dos gestores. As grandes empresas são geridas para beneficiar os seus gestores, em cumplicidade com contabilistas, auditores e gestores de outras empresas. Como é que isto aconteceu? Os mercados diluíram de tal maneira a propriedade das empresas que deixou de existir um dono responsável. A partir de 1950, sobretudo nos Estados Unidos, estes milhões de investidores deram lugar a investidores institucionais criados e controlados pelas grandes instituições financeiras. Estes investidores "profissionais" alteraram o seu foco de investimento de longo prazo para a especulação de curto prazo e comissionamento. Ao mesmo tempo criou-se um sério conflito de interesses: as empresas que gerem os fundos de biliões são as mesmas que prestam os serviços de banca de investimento a estas grandes multinacionais. Um insanável conflito de interesses.
O capitalismo requer uma estrutura e um sistema de valores em que as pessoas acreditem e dependam. Não precisamos de ter fé na boa vontade humana, mas precisamos de ter confiança que as promessas e compromissos, uma vez assumidos, serão cumpridos. Também necessitamos de garantias que o sistema, no seu todo, não beneficia indevidamente alguns à custa de outros.
É importante o regresso do capitalismo dos donos. É fundamental confiar e ser de confiança.
Há apenas duas formas de perder peso: comer menos e fazer mais exercício. Não podia ser mais fácil. Mas é muito difícil num mundo cheio de bolos de chocolate.
Tal como fazer dieta, investir é simples, mas não é fácil. Há apenas duas formas de perder peso: comer menos e fazer mais exercício. Não podia ser mais fácil. No entanto, tal revela-se muito difícil num mundo cheio de bolos de chocolate, de batatas fritas, de bons assados ou bons vinhos. A tentação está em todo o lado.
A chave para investir com sucesso também é simples: comprar bons activos, que produzam rendimentos, quando estão baratos e mantê-los; diversificar apenas o essencial e manter os custos de transacção baixos. Infelizmente este conceito tão simples não é facilmente aplicável para os investidores que todos os dias são bombardeados com a ideia "fique rico depressa", avisos para saírem do mercado (ou entrarem) antes que seja demasiado tarde e comentadores de televisão que gritam "dicas" de investimento como se tivessem a roupa interior a arder. Os investidores são muitas vezes "forçados" a tomar decisões motivados pelo medo ou pela ganância.
O objectivo do meu artigo semanal é explicar os princípios do Investimento em Valor para que o leitor possa beneficiar da estratégia de investimento que, consistentemente, proporciona melhores rentabilidades a médio a longo prazo. É importante que compreenda os princípios de investimento e, sobretudo, é fundamental a escolha do seu gestor ou conselheiro financeiro, que deve ser pessoa capaz, honesta e independente.
Chris Browne, conceituado investidor em valor, conta um caso que se passou consigo que realça bem essa importância. No início dos anos 80, uma cliente de há muitos anos procurou-o para se aconselhar na reestruturação dos seus activos. O marido tinha falecido e deixou-lhe uma conta na gestora de patrimónios que Browne dirigia, com cerca de 4 milhões de dólares. A cliente tinha ainda acções da Berkshire Hathaway no valor de 30 milhões de dólares. O seu marido tinha sido um dos primeiros investidores na empresa de Warren Buffett e manteve sempre todas as acções da Berkshire. A viúva planeava agora reformar-se e pretendia programar rendimentos futuros. Para manter o seu estilo de vida, confortável mas relativamente modesto dada a sua fortuna, precisava de cerca de 200.000,00 USD por ano.
O seu contabilista tinha-lhe proposto um plano que ia de encontro aos seus desejos de rendimento; uma vez que as suas acções da Berkshire tinham um preço médio de compra de cerca de 20 USD, sugeriu o estabelecimento de uma fundação para fins de beneficência, transferir para lá a posição da Berkshire e vendê-la sem pagar impostos de mais valias. Este valor seria reinvestido em obrigações, que garantiriam um rendimento regular.
Browne disse-lhe que a razão pela qual ela era rica era porque estava muito bem investida em acções e questionou-a porque motivo desejaria desistir de apreciações futuras. Com base na longa vida da sua mãe, a cliente, argumentou Browne, podia esperar viver mais 35 anos de vida. O seu contabilista respondeu que ela tinha todos os seus activos no mercado accionista que era, por definição, arriscado.
Browne argumentou que, mesmo que o mercado caísse 50%, ela ficaria ainda com dinheiro suficiente para viver até à idade de Matusalém. A cliente decidiu confiar em Browne mantendo tudo investido em acções e este garantiria qualquer necessidade financeira com o dinheiro que estava investido na sua Gestora de Patrimónios. Anos mais tarde, quando reuniram para rever o plano, os seus investimentos em acções valiam 180 milhões de dólares. Browne voltou a sugerir que o mantivesse investido em acções. Em 2007 Browne calculava que a posição em acções valesse cerca de 300 milhões.
Os investidores em Valor são como agricultores. Semeiam boas sementes em terra fértil e esperam que as colheitas cresçam. Se o milho demora um pouco mais devido ao frio, não arrancam a sementeira para fazer uma nova. Esperam pacientemente pela colheita.
Votos de um Feliz Natal.
O professor Jeremy Siegel demonstrou que as cem empresas do S&P500 que pagam mais dividendos têm uma performance superior à do índice em cerca de 3% ao ano.
Imagine que há trinta anos investiu 1.000 dólares em Altria (antiga Philip Morris, fabricante dos cigarros Marlboro) e as manteve em carteira até hoje. Na altura, teria comprado 29 acções ao preço de 34,50 dólares. Hoje, depois de vários stock splits (divisões das acções em mais unidades) e spinoffs (a distribuição de novas acções de empresas independentes formadas apartir de negócios ou divisões da empresa mãe), teria em carteira:
- 700 acções da Altria - Tabaqueira americana com interesses na área dos vinhos e serviços financeiros,
- Quase 500 acções da Kraft Foods - Empresa de produtos de consumo alimentar e bebidas,
- 700 acções da Philip Morris International - Tabaqueira americana com negócio fora dos Estados Unidos.
Estas posições valeriam cerca de 65.900 dólares. Melhor ainda, teria recebido 32.600 dólares em dividendos. Se tivesse reinvestido esses dividendos, em vez de quase 1.900 acções das três empresas (Altria, Kraft e Philip Morris International), teria mais de 7.400 acções com um valor de 260.000 dólares. Este valor inclui dividendos de 91.500 dólares - quase o triplo do rendimento recebido por quem escolheu não reinvestir os dividendos. E a cereja no topo do bolo é que hoje, sem vender qualquer acção, estaria a receber anualmente 13.000 dólares em dividendos.
Pensará o leitor que este exemplo da Altria é meramente teórico. Na verdade a avó de Jim Mueller, analista do site Motley Fool, fez algo semelhante. No início da década de 60, comprou acções da Exxon e reinvestiu todos os dividendos. Quando se reformou, 30 anos depois, com os lucros deste investimento, comprou dois lotes de terra e construiu a casa onde goza agora a sua reforma. Por outras palavras, a Altria não é o único exemplo de como investir em boas empresas e reinvestir os seus dividendos pode torná-lo mais rico ao longo dos anos.
O Professor Jeremy Siegel, da Wharton School of Business, demonstrou que as cem empresas do S&P500 que pagam mais dividendos têm uma performance superior à do índice em cerca de 3% ao ano. Uma vantagem de 3% ao ano pode não parecer muito mas, em dez anos, significa mais 900 euros extra por cada 1.000 euros investidos.
Como podemos encontrar agora empresas que possam replicar esta performance? Altria e Exxon são "máquinas de dinheiro" não porque eram grandes empresas (apesar de o serem) ou porque pagavam um dividendo - nem todas as empresas que pagam dividendos podem ser consideradas máquinas de dinheiro - mas porque aumentam consistentemente os seus dividendos. E tinham a capacidade de o fazer porque tinham lucros consistentes. E sabemos bem o impacto que o crescimento de lucros tem no preço das acções.
Contrariamente ao que se possa pensar, estas empresas não são raridades; quase 20% das empresas do S&P500 aumentaram em mais de 10% os seus dividendos nos últimos 10 anos. Esta lista inclui nomes tão familiares como a McDonald's (com um aumento de dividendos de 46,5% ao ano), TJX Cos. (com 21,8% anuais), Newmont Mining (12,8%) ou EOG Resources (25,9%).
Estes retornos médios rivalizam com a performance histórica de Warren Buffett. Bastando, para tal, investir em empresas bem geridas com uma história consistente de rentabilidades e crescimento de resultados, com marcas fortes e negócios sustentáveis que lhes permitem suportar aumentos regulares dos dividendos. Definidos os negócios com as qualidades apontadas, resta-nos aguardar pelo preço de entrada que garanta uma margem de segurança, isto é, que proteja o capital investido de evoluções desfavoráveis no negócio. Tal permitir-nos-á salvaguardar o investimento e potenciar a sua rentabilidade futura.
Para os investidores é importante saber se as suas carteiras de investimento possuem acções que possam ser máquinas de fazer dinheiro para o futuro. É fundamental comprá-las quando estão baratas.
Votos de um próspero ano novo.
Quando a conjuntura é favorável ou as notícias para determinada empresa são muito positivas, é fácil o investidor comum perder o bom senso e seguir a multidão.
O medo e a ganância têm separado muitos investidores do seu dinheiro. Quando o mercado de acções cai porque as notícias são más e a conjuntura macroeconómica difícil, os investidores vendem a qualquer preço activos de grande valor. Do mesmo modo, quando a conjuntura é favorável ou as notícias para determinada empresa são muito positivas é fácil ao investidor comum perder o bom senso e seguir a multidão.
Como devemos, então, investir em acções?
1. Não nos devemos focar no preço da acção mas sim no valor do negócio subjacente:
Os preços das acções mudam de segundo em segundo ao longo da sessão de bolsa. Mas o valor do negócio muda, quanto muito, algumas vezes por ano. No curto prazo, o preço da acção é afectado por quase tudo desde se o sol brilha hoje até ao que diz um blogger, algures, sobre a acção. No longo prazo, o preço de uma acção é determinado pelo dinheiro que é gerado pelo negócio subjacente. Se a empresa gera cada vez mais dinheiro, torna-se mais valiosa e o preço da acção acompanhará essa subida. Se, pelo contrário, o negócio não se torna mais valioso, nada poderá manter, no longo prazo, o preço da acção em níveis elevados.
Paremos, então, de olhar para o que o preço da acção está a fazer. Em vez disso, aprendamos o mais possível sobre o negócio. Os seus clientes manter-se-ão fiéis se a empresa aumentar preços? Gera mais dinheiro do que consome? Consegue financiar a sua expansão sem crédito? Os seus gestores são remunerados justamente, sem exageros?
Se compramos um determinado activo somente porque o seu preço tem estado a subir ou o vendemos meramente porque o seu preço está a cair, não somos investidores. Somos especuladores e os nossos ganhos futuros serão reféns das manias da multidão.
2. Devemos compreender o "Sr. Mercado" e os seus comportamentos:
Compreendamos o "Sr. Mercado". Este é o nome que Benjamin Graham deu às variações de sentimento dos investidores. Graham pede-nos para imaginarmos que somos o principal accionista de uma empresa privada. Diariamente, um dos sócios nesse negócio, o "Sr. Mercado", vem bater-nos à porta. Umas vezes, oferece-se para nos vender a parte dele no negócio por um preço ridiculamente alto. Outras vezes, oferece um preço irrisório para comprar a nossa parte no negócio. Faria negócio com o "Sr. Mercado" apenas porque ele o pediu? Ou dir-lhe-ia que não está interessado em transaccionar a parte do seu negócio a um preço que é demasiado alto ou demasiado baixo?
O "Sr. Mercado" é mais que uma imagem ou uma metáfora. Ele é a encarnação de centenas de milhões de investidores e especuladores cujos caprichos fazem com que os preços diários de uma acção pareçam o electrocardiograma de alguém que está a ter um ataque cardíaco. Não somos obrigados a negociar com estas pessoas apenas porque elas querem que nós o façamos. Não podemos permitir que a nossa visão sobre uma certa acção, ou sobre o mercado em geral, seja determinada pelo pessimismo ou optimismo de milhões de estranhos. De facto, a ânsia do "Sr. Mercado" em transaccionar connosco é o sinal de que só devemos agir após determinarmos de forma independente, usando o nosso próprio julgamento, se o preço está certo.
3. Devemos manter sempre uma margem de segurança:
Finalmente, preservar uma margem de segurança. Demasiados investidores devotam toda a sua atenção à probabilidade de estarem certos. Os investidores precisam também de pensar acerca da possibilidade de estarem errados - e como minimizar as consequências daí resultantes. Devemos questionar-nos constantemente quanto podemos perder se, no fim de contas, estivermos errados e devemos investir apenas naquelas oportunidades que, no longo prazo, nos dão maiores probabilidades de lucros do que de perdas.
Devemos também diversificar. Nunca concentrar demasiado do nosso capital apenas num investimento, não importa quão seguros estejamos da segurança desse investimento.
Como diria Warren Buffett, "seja ganancioso quando os outros têm medo e tenha medo quando os outros são gananciosos".
Como consegue o investidor identificar, entre milhares de empresas cotadas em bolsa, quais delas são realmente empresas com excelentes negócios?
O investidor inteligente procura o melhor rendimento em segurança: comprar acções de grandes empresas mundiais a um preço substancialmente inferior ao valor real do negócio subjacente. Mas como consegue o investidor identificar, de entre as milhares de empresas cotadas em bolsa, quais delas são realmente empresas com excelentes negócios? De forma simples, elenco 10 questões cujas respostas ajudarão os investidores a separar o trigo do joio:
1. A empresa investe bem os capitais próprios?
As melhores empresas são aquelas que geram os lucros mais elevados com o mínimo de capitais investidos. A consistência das rentabilidades permitirá o crescimento da empresa para o futuro.
2. Investe de forma consistente os capitais totais?
As empresas têm duas fontes de financiamento, os capitais próprios e a dívida. Aquelas que têm rentabilidade acima do custo do seu financiamento criam valor para os accionistas.
3. Os resultados estão a crescer consistentemente?
Os resultados consistentes ao longo de vários anos (pelo menos 10) permitem, ao potencial investidor, prever mais facilmente a sua evolução futura, ao contrário de empresas com grande volatilidade nos resultados.
4. A empresa é financeiramente saudável?
Empresas com índices de endividamento baixo têm maior margem de manobra em tempos de crise, como podemos facilmente verificar nos dias que correm. Por outro lado possuem a solidez necessária para investir, aumentar os seus negócios e aumentar as suas vantagens competitivas.
5. A empresa tem vantagens competitivas?
A empresa beneficia de marcas fortes (Coca-Cola), redes de utilizadores fiéis (Microsoft) ou patentes (Pfizer)? As vantagens competitivas defendem a empresa dos concorrentes e permitem a obtenção de margens mais elevadas na venda de produtos ou serviços.
6. A empresa está inserida num sector demasiado dependente das suas organizações laborais?
Empresas com estruturas rígidas e custos salariais elevados face aos resultados raramente têm vantagens competitivas.
7. A empresa pode aumentar os preços de acordo com a inflação?
A empresa tem liberdade para ajustar o preço dos seus produtos para compensar os aumentos dos custos de produção. A inflação é um imposto escondido que com o tempo pode diluir de forma significativa os retornos de uma empresa.
8. Como reinveste os lucros?
Investir os lucros na expansão da empresa criará maiores lucros para os accionistas no futuro. No entanto, se essa expansão significa menor rentabilidade, é preferível que a empresa distribua esses lucros pelos accionistas.
9. Recompra acções próprias?
A empresa distribui os lucros pelos accionistas de duas formas, paga dividendos ou compra acções próprias. A recompra de acções próprias é fiscalmente preferível pois, ao contrário dos dividendos, não é tributada. É boa política comprar acções próprias sempre que a acção esteja a transaccionar abaixo do seu real valor. Assim, a participação de cada accionista no capital da empresa aumenta o que significa maiores retornos no futuro sem qualquer custo fiscal.
10. O valor contabilístico cresce?
Empresas com resultados consistentes e boas rentabilidades nos capitais investidos conseguem fazer crescer o seu valor contabilístico. O mercado de capitais, mais cedo ou mais tarde, reflectirá, no preço da acção, este crescimento. Devemos verificar que, ano após ano, o valor intrínseco da empresa aumenta a uma taxa satisfatória.
Quando compramos acções, devemos assegurar-nos que compramos negócios com fundamentos económicos soberbos, geridos por gente capaz e honesta que proteja os interesses dos accionistas, e garantir que o preço que estamos a pagar é substancialmente inferior ao valor intrínseco do negócio.
Ao seleccionar, desta forma, oportunidades de investimento, a compra de acções não é mais do que a compra de uma pequena parte de um excelente negócio.
Warren Buffett investe em acções, por vezes comprando toda a empresa, muitas vezes comprando, em bolsa, "fatias" de bons negócios.
Einstein terá dito um dia que o juro composto é a mais poderosa força do Universo. De Warren Buffett, ouvimos falar do efeito bola de neve, de como uma pequena bola vai aumentando de tamanho à medida que vai rolando, resultando na segunda maior fortuna do mundo. Desde 1965, com a Berkshire Hathaway, Warren Buffet investe em acções, por vezes comprando toda a empresa, muitas vezes comprando, em bolsa, "fatias" de bons negócios. Buffett, nestes 46 anos, ganhou para os seus accionistas 20,2% ao ano.
Vejamos então o efeito bola de neve. Quem tivesse em 1965 aplicado 10.000 dólares em produtos de muito curto prazo, teria ganho aproximadamente a taxa média de inflação no período, ou seja, 3% ao ano. O resultado desta aplicação seria hoje de 38.950 dólares. Quem tivesse investido em Obrigações de Tesouro Americano de longo prazo, que no período renderam cerca de 5,5%, obteria, 117.385 dólares, ou seja conseguiria cerca de 3 vezes mais. Warren Buffett, investindo em acções, conseguiu compor estes retornos a uma média de 20,2% ao ano. Os mesmos 10.000 dólares resultariam em 49.228.755 dólares. Exactamente. Leu bem. Quarenta e nove milhões duzentos e vinte e oito mil setecentos e cinquenta e cinco dólares. É uma rentabilidade excepcional e Warren Buffet é um investidor excepcional. Este é o efeito bola de neve. A taxa à qual conseguimos compor os retornos do nosso património financeiro. A força mais poderosa do universo.
46 anos é muito tempo, sem dúvida, e 20,2% é uma taxa excepcional. Contudo, alguém que entra no mercado de trabalho com 25 anos e se reforma aos 65, descontou para a sua reforma cerca de 40 anos. Se, durante este período, para além dos descontos que faz para a segurança social, fizer individualmente o seu plano para a reforma, poderá, passados 30 ou 40 anos, acumular uma soma muito satisfatória para acomodar a subida do custo de vida e permitir maior tranquilidade.
No início da década de 90, muitos aforradores portugueses, motivados por benefícios fiscais, constituíram PPRs - Planos de Poupança Reforma. Nos últimos 20 anos, estes PPRs ganharam em média 3,8% ao ano, o que, num investimento inicial de 100.000 euros, sem qualquer reforço adicional, teria resultado em 210.837 euros. Sensivelmente no mesmo período, o Fundo de Pensões da Holanda ganhou 7,1% ao ano, ou seja, o mesmo investimento teria resultado em 394.266 euros, quase o dobro do caso português.
Este exemplo pretende tornar claro ao leitor, que tão importante como poupar é dar vida à poupança. É essencial assegurarmo-nos que ela é bem gerida, que é aplicada e capitalizada a taxas satisfatórias que incentivem os investimentos a longo prazo, mas com rentabilidades muito superiores àquilo que tem sido oferecido pelas instituições financeiras através de produtos estruturados complexos, seguros de capitalização e mesmo depósitos a prazo puros.
Um investidor com 60 anos tem uma esperança de vida de mais 25 ou 30 anos. Se, durante este período de tempo, investir todo o seu património financeiro em depósitos a prazo ou produtos de seguros de capitalização obtém rentabilidades brutas de cerca de 3,5 a 5% ao ano.
No passado dia 16 de Dezembro, escrevi nesta página " A longa curva da prosperidade". Apresento aí as várias alternativas de investimento em diferentes classes de activos e concluí que investir em empresas com negócios excepcionais ,geridos por gente honesta e capaz, compradas a preços sensatos, permitir-nos-á, compor o retorno dos capitais investidos a taxas de rentabilidade excelentes.
Quando deveríamos estar a ensinar os nossos jovens universitários sobre o investimento a longo prazo e a magia do juro composto, os jogos da bolsa que são organizados pelas universidades e corretoras estão, na realidade, a ensiná-los a especular e a reforçar uma mentalidade de curto prazo.
Um horizonte de investimento de 3 a 5 anos é essencial para conseguir retornos satisfatórios.
Na passada segunda-feira, chegou às livrarias "O Livro do Investimento em Valor", da autoria de Christopher Browne, traduzido e promovido pela Casa de Investimentos e pela Editora Caleidoscópio.
O livro explica numa linguagem simples e intuitiva o que é o Investimento em Valor, o método de investimento popularizado por Warren Buffett e que, ao longo dos últimos 80 anos, produziu retornos superiores a qualquer outra estratégia de investimento. Oferece um conjunto de princípios que apelam fortemente ao bom senso e permitem aos investidores e aforradores tomarem decisões mais conscientes de poupança, investimento e até de consumo.
A tomada de decisões de investimento ponderadas pode ter um impacto significativo na vida das pessoas: pagar a educação dos filhos, preparar uma reforma confortável, proporcionar liberdade financeira para construir um futuro melhor.
Da mesma forma que seleccionamos, das prateleiras dos supermercados, os produtos que precisamos tendo por base uma relação preço/qualidade, devemos estar preparados para rejeitar muitos produtos oferecidos pelas instituições financeiras e subscrever apenas o que entendemos e melhor serve os nossos interesses no futuro.
Neste livro, tão importante como expor o método de investimento e o bom senso que lhe está subjacente sobre o que devemos fazer para rentabilizar a poupança, é o que não se deve fazer para a pôr em risco e o impacto que a passagem do tempo tem sobre o património financeiro que não é criteriosamente gerido. O autor apresenta inúmeros exemplos vividos ao longo da sua carreira de 40 anos como gestor da mais antiga gestora de patrimónios de Wall Street. Avisa os leitores para o facto de grande parte das instituições financeiras no mundo estarem cada vez mais vocacionadas para gerir no curto prazo, para o comissionamento e a venda, criando ilusões e falsa segurança aos investidores.
Acreditamos que a melhor forma de preparar as pessoas para os desafios da vida é através da divulgação do conhecimento. O documentário, que no passado dia 28 de Fevereiro foi transmitido na SIC Notícias, "Nascido para Viver", sobre a extraordinária queda da taxa de mortalidade infantil nos últimos 40 anos em Portugal, realça isso mesmo. Aproveito aqui para endereçar os parabéns a todos os que contribuíram para nos colocar entre os melhores do mundo. Parabéns também à Fundação Francisco Manuel dos Santos por mostrar que é possível trabalhar por um bem comum e que devemos traçar objectivos de médio e longo prazo.
É fundamental educar as pessoas. É importante tornar o conhecimento acessível e combater preconceitos. O saber não ocupa lugar, a falta de conhecimento limita as pessoas, submete-as.
Diz-se que é preciso muito tempo para que os resultados comecem a aparecer. Sou bastante mais optimista. A informação, cada vez mais acessível a um maior número de pessoas, circula cada vez mais depressa. É importante começar.
Deixo aqui três citações do livro:
"A maior parte das pessoas tendem a olhar para tudo o que compram relacionando o valor que recebem com o preço que pagam. Quando os preços baixam, compram mais daquilo que querem ou precisam. Excepto no mercado de acções."
"A maioria das pessoas procura a gratificação imediata em quase tudo o que fazem, incluindo o investimento. Quando compram uma ação, estes investidores estão à espera que ela suba imediatamente. Se isso não acontece, vendem-na e vão procurar outra.
"Os investidores em valor são como agricultores. Semeiam e esperam que as colheitas cresçam. Se o milho demora um pouco mais devido ao frio, eles não arrancam a sementeira para fazer uma nova. Eles esperam pacientemente que o milho brote do chão, confiantes que, eventualmente, isso acontecerá."
Warren Buffett diz que "Preço é o que paga, Valor é o que recebe". Este livro tem o preço de 14,84 Euros. É muito valor por pouco dinheiro. É um Investimento em Valor.
Se compramos bons activos a um preço barato, garantimos certamente que vamos obter uma valorização desses activos e um bom retorno do nosso investimento.
"Os portugueses são muito conservadores". "Os investidores não gostam de risco". "Acções eu? Não. Só depósitos a prazo, produtos garantidos ou fundos".
Grande parte dos investidores, quando aplicam o seu dinheiro, procuram depósitos a prazo ou produtos de capital garantido. Infelizmente, os resultados dos investimentos feitos nesta última dúzia de anos vieram mostrar que:
1. Os depósitos a prazo são garantidos parcialmente porque houve um movimento mundial ao nível dos governos em Outubro de 2008 para que acabasse a corrida generalizada aos levantamentos da banca. Quanto à conservação do capital investido, o cliente de depósitos a prazo corre o risco real dos seus rendimentos não acompanharem a inflação e perder assim poder de compra. Este é o imposto escondido que vai erodindo o património financeiro.
2. Os produtos de capital garantido são criados e vendidos por grandes instituições financeiras para atrair os investidores que gostam de garantias. Primeiro, têm maturidades longas e os valores são garantidos apenas no seu vencimento. Qualquer vicissitude de curto prazo que obrigue o investidor a vender, implica assumir perdas de capital, por vezes elevadas, dependendo do momento de mercado. Estes valores estão também investidos nos mercados financeiros. Segundo, são produtos opacos, difíceis de entender e com tantos "ses" que aliciam o investidor para um rendimento potencial condicionado por tantas variáveis que dificilmente se conjugam em simultâneo. Têm resultado em rentabilidades próximas de zero. Os bancos que os vende aos seus clientes, são meros comissionistas da banca mundial de investimento.
3. As obrigações de dívida soberana, de empresas públicas, de instituições financeiras e grandes empresas foram outro investimento onde muitas poupanças foram colocadas. Era garantido e todos os 6 meses pagava um valor certo. Ora, uma obrigação é uma promessa que o emitente está a fazer a quem a subscreve, dando o direito a receber juros nas datas acordadas e a devolução do capital no vencimento.
As promessas valem o que vale quem as faz e muitas não foram cumpridas. O que mais chocou o investidor comum nos últimos 2 anos foi verificar que as obrigações valem hoje muito menos do que o valor investido. Cotam diariamente no Mercado Secundário, com mais ou menos liquidez e, se o investidor precisar do seu dinheiro rapidamente, terá que vender com perdas, em muitos casos, substanciais.
Na semana passada, num leilão de dívida alemã, os investidores aplicaram o seu dinheiro motivados pelo medo. Por cada 100 euros emprestados à Alemanha irão receber no vencimento, daqui a 6 meses, 99,99 Euros. Os investidores estão realmente a pagar à Alemanha para lhes "guardar" o dinheiro. Considero que as garantias, independentemente da qualidade que possam ter, estão muito sobrevalorizadas.
4. Os fundos de investimento apresentam custos excessivos que vão desde comissões de subscrição, resgate, gestão e performance. Na maioria dos casos, os clientes não fazem a menor ideia onde estes fundos investem, das percentagens que investem em cada activo e dos custos associados. Por vezes têm investimentos fora da caracterização que apresentam. As rentabilidades são na maioria dos casos negativas ou próximas de zero.
5. Investimentos em acções que, em muitos casos, apresentam perdas de 60 a 70% dos valores investidos. Talvez o título com maior disseminação pelos investidores, o BCP, perdeu nos últimos 5 anos cerca de 94%. Muitas acções foram vendidas com crédito e em carteiras monotítulo. Esta foi sem dúvida uma máquina de destruição de dinheiro e sobretudo uma máquina de destruição de confiança. Hoje, muitos destes investidores não querem ouvir falar em investimentos em acções. Resta dizer que esta actuação nada teve de investimento, foi especulação e jogo.
Se garantirmos que compramos bons activos, que geram bons rendimentos e estão baratos, com tempo, teremos garantido um bom retorno.
Warren Buffett, num artigo que será publicado a 27 de Fevereiro na "Fortune", explica de forma clara porque não devemos investir em ouro.
A definição de investimento expandiu-se muito nos últimos 20 anos: desde selos, arte, vinhos, ouro, petróleo, todo o tipo de produtos financeiros exóticos, até apostas desportivas. Muitos destes activos não são produtivos e quem os compra tem a esperança que no futuro alguém venha a pagar mais por eles. Quem investe assim, não é inspirado por aquilo que o activo produz, mas sim porque acredita que outros o desejarão ainda mais no futuro. Esta é, na sua essência, a definição de especulação. É desta forma que surgem as bolhas especulativas.
Warren Buffett, num artigo que será publicado no próximo dia 27 de Fevereiro na revista Fortune, explica porque prefere o investimento em activos produtivos. Explica, de forma clara, porque não devemos investir em ouro. Passo a citar:
"O ouro é, hoje, um dos activos favoritos dos investidores que temem quase todos os outros, especialmente dinheiro. O ouro, contudo, tem dois defeitos: não tem grande utilidade nem produz rendimentos. É verdade que o ouro tem alguma aplicação industrial e decorativa mas a procura para estes propósitos é limitada e incapaz de absorver toda a nova produção. Entretanto, se mantivermos em carteira uma grama de ouro por uma eternidade, continuaremos a possuir uma grama de ouro no fim da eternidade.
O que motiva a maior parte dos compradores de ouro é a crença que as legiões de medrosos continuarão a crescer. Ao longo desta última década, essa crença esteve correcta. O aumento do preço gerou, por si só, um entusiasmo comprador adicional atraindo compradores que encaram o aumento do preço como a validação da sua tese de investimento. À medida que mais investidores se juntam à festa, eles criam a sua própria verdade - durante algum tempo.
Ao longos dos últimos 15 anos, tanto as acções tecnológicas como o mercado imobiliário demonstraram os excessos extraordinários que podem ser criados pela combinação de uma tese de investimento sensata, na sua génese, e bem publicitados preços crescentes. Nestas bolhas, um exército de investidores, a princípio cépticos, sucumbem à prova entregue pelo mercado e o grupo de compradores expande-se - durante algum tempo - o suficiente para manter a roda a girar. Mas as bolhas inevitavelmente estouram. E o velho provérbio é mais uma vez confirmado: "aquilo que o sábio faz no princípio, o tolo faz no fim".
Actualmente, o stock global de ouro é de cerca de 170.000 toneladas métricas. A 1.750,00 dólares por onça - o preço actual do ouro - o seu valor global atinge os 9,6 triliões de dólares. Chamemos a este stock, Conjunto A.
Criemos agora um Conjunto B com um valor igual. Podemos comprar toda a terra agrícola dos Estados Unidos (162 milhões de hectares, com uma produção anual de 200 biliões de dólares) e 16 Exxon Mobil's (a mais lucrativa empresa do mundo, com lucros anuais superiores a 40 biliões de dólares). Após estas compras, ficaríamos com uns trocos no bolso, cerca de 1 trilião de dólares. Consegue imaginar algum investidor, com 9,6 triliões de dólares disponíveis, que escolhesse o Conjunto A?
Para além da avaliação estarrecedora que é dada ao stock de ouro existente, os preços actuais do ouro avaliam a sua produção anual em cerca de 160 biliões de dólares. Os compradores - quer sejam joalheiros, utilizadores industriais, indivíduos assustados ou especuladores - têm que absorver continuamente toda esta produção apenas para manter o equilíbrio nos preços actuais.
Dentro de um século, os 162 milhões de hectares de terra agrícola terão produzido quantidades enormes de milho, trigo, algodão e outras colheitas - e continuarão a produzir qualquer que seja a moeda em utilização. As 16 Exxon Mobil´s terão pago triliões de dólares em dividendos aos seus accionistas e terão nos seus balanços activos avaliados em muitos mais triliões. As 170.000 toneladas de ouro não terão variado no peso e continuarão a ser incapazes de produzir qualquer rendimento.
Admito que, daqui a cem anos, quando as pessoas se assustarem, muitas corram a comprar ouro. Estou confiante, contudo, que o Conjunto A terá conseguido uma taxa de retorno muito inferior à do Conjunto B."
Assistimos a uma enorme transferência de riqueza dos accionistas para os gestores de grandes multinacionais, que pagam a si próprios compensações extravagantes.
O anúncio feito pela DECO na passada quarta-feira e a carta de Greg Smith, ex-responsável pela área de derivados na Europa, Médio Oriente e África da Goldman Sachs, noticiada pela imprensa no mesmo dia, motivam este artigo. A Deco afirma que maus depósitos custaram 1,5 mil milhões aos portugueses em 2011. Greg Smith afirma, entre outras declarações fortes, que "os interesses dos clientes continuam a ser marginalizados".
Há meses, um artigo da Bloomberg noticiava que por todo o mundo Familly Offices retiravam o dinheiro dos bancos para criarem as suas estruturas de gestão. Nesse artigo, gestores de várias famílias nos quatro cantos do mundo manifestavam a sua insatisfação com os grandes bancos e gestores de dinheiro, alegando que deixaram de actuar como guardiões de capital, para passarem a meros vendedores e comissionistas.
Adam Smith não ficaria muito surpreendido com este resultado. Há mais de 2 séculos escreveu: "Sendo os administradores de tais empresas, os gestores de dinheiro alheio, mais do que do próprio, não se pode esperar que o vigiem tão ansiosamente como os sócios particulares fazem com o seu. Como os guardiões de um homem rico, muito facilmente concedem a si mesmo uma recompensa. A negligência e profusão, portanto, prevalecem sempre".
A grande dispersão do capital das grandes multinacionais em bolsa, financeiras ou não, faz com que não haja "um dono" responsável. Os investidores - grandes institucionais ou particulares - não assacam responsabilidades aos gestores. Os grandes institucionais, que detêm grande parte das acções - e na maioria dos casos são detidos por grandes bancos - gerem os fundos de pensões destas grandes multinacionais e são contratados para as operações de banca de investimento, que proporcionam comissões extraordinárias. Ora, não têm "liberdade" para questionar as remunerações de gestores, as políticas de aquisições ou a falta estratégia de criação de riqueza para os accionistas a longo prazo. Os pequenos investidores são estimulados a olhar para o curto prazo e as acções são papel para trocar de mãos todos os dias, permitindo elevadas comissões de transacção. Os auditores, que deveriam vigiar a actividade dos gestores para minorar conflitos de interesses, são, eles próprios, contratados por aqueles que terão que avaliar.
Assistimos, por isso, a uma enorme transferência de riqueza dos accionistas para os gestores de grandes multinacionais que pagam a si próprios compensações extravagantes. Nas instituições financeiras, esta transferência acontece, não só de accionistas, mas também de clientes para administrações e gestores. Entre 1997 e 2002, o total de comissões pago pelos investidores norte americanos aos bancos, corretoras e fundos de investimentos excedeu os 1,275 triliões de dólares. Parafraseando Churchil, nunca tanto foi pago por tantos a tão poucos por tão pouco.
O nosso sistema de capitalismo de mercado sofreu um falhanço profundo - como a todos os sistemas, às vezes, acontece - com uma variedade de causas, cada uma interagindo com e reforçando as outras: a ascensão do CEO imperial; os truques da engenharia financeira no reporte de resultados; o falhanço dos nossos guardiões - auditores, reguladores, gestores de investimentos e conselhos de administração - que se esqueceram a quem deviam lealdade; as instituições financeiras que passaram a ser traders de acções ao invés de se comportarem como donos de acções; a hipérbole promocional de Wall Street; a vontade dos analistas em pôr de lado o seu cepticismo; a excitação frenética dos media; e, obviamente, os membros do público investidor que festejam sempre o lucro fácil. Foi esta conspiração entre todas as partes interessadas, que baixou os padrões do negócio.
Este é o capitalismo dos gestores e não o dos donos, como deveria ser.
No mundo do investimento tudo o que é óbvio é questionável e nada do que é importante é intuitivo.
Incluo, com frequência, nos meus artigos, citações famosas que resistem à passagem do tempo exactamente porque são relevantes, eloquentes e cheias de sabedoria.
De Santayana, "a história repete-se e esquecer o passado é estar condenado a repeti-lo" . De Winston Churchil, "quanto mais longe no passado olhares, mais longe no futuro conseguirás ver". De Mark Twain, "a história não se repete, rima". De que serve a história? No fim de contas, a história é passado.
Li, por estes dias, mais uma carta a investidores digna de nota, desta vez, de Howard Marks, com referências que também já aqui escrevi: "A verdade é que a história pode ser uma grande ajuda... no investimento e na vida. Na quinta década da minha carreira como investidor, sinto que muita da minha capacidade de adicionar valor tem origem na história que testemunhei e no significado que dela consegui extrair".
Como Twain disse, os eventos da história não se repetem exactamente. Raramente se passa a mesma coisa uma e outra vez. No mundo dos investimentos, por exemplo, a duração e amplitude das flutuações raramente são as mesmas de ciclo para ciclo. Mas também, como Twain disse, a história rima. São aquilo a que eu chamo tendências ou padrões comportamentais que apresentam as lições importantes.
A tendência dos investidores em ignorar ou esquecer o passado é notável. Assim como o hábito de sucumbir à emoção. As pessoas esquecem-se, particularmente, da natureza cíclica das coisas, extrapolam até ao excesso as tendências passadas e ignoram a probabilidade da reversão para a média.
"A Morte das Acções", um artigo publicado na BusinessWeek em Agosto de 1979 sinalizando uma mudança tectónica no investimento, é um bom exemplo. A base era a seguinte:
1. Sete milhões de accionistas tinham abandonado o mercado de acções desde 1970,
2. As instituições que geriam fundos de pensões foram autorizadas a investir noutros activos que não acções,
3. Os fundos de investimento, até então com cerca de 80% investido em acções, estavam abaixo de 50%,
4. Poucas empresas encontravam comprador para as suas acções.
O artigo era tão negativo que, quem pensasse só por si, diria: isto já não pode piorar mais. A verdade é que marcou a mudança: o início do maior bull market da história.
"Yogi" Berra, famoso jogador de basebol dos New Youk Yankees, ficou também na história por proferir frases sem lógica: "não chega ao fim enquanto não acaba", "quando chegares a uma bifurcação, segue-a", "deja vu outra vez" ou "na verdade, eu não disse tudo aquilo que disse"
O autor deste artigo "A morte das Acções" não lhe ficava atrás. No artigo justificava o título dizendo: "...com o preço do imobiliário sempre a subir... a terra é uma garantia contra perdas" ou "para os investidores... os preços baixos das acções continuam a ser um desincentivo ao investimento" e "seria necessário um bull market sustentado durante um par de anos para atrair uma base alargada de investidores e restaurar a confiança".
Ora, quando os preços estão tão baixos, as acções podem começar a subir sem a ajuda de um bull market. Da mesma forma, quando as acções estão caras, os preços podem ruir sob o seu próprio peso.
A conclusão é simples: o bom senso não é comum. A multidão está invariavelmente errada nos extremos do mercado. No mundo do investimento, tudo o que é óbvio é questionável e tudo o que é importante é contra-intuitivo. Os investidores provam repetidamente que conseguem ser menos lógicos que Yogi.
Quando os preços sobem para níveis além do céu, quer no mercado de acções ou imobiliário ou outro, reina o optimismo... Do mesmo modo, quando os preços caem para níveis tão baixos que as empresas transaccionam a 60% do valor de substituição dos activos subjacentes e o pessimismo está em máximos, é comum aparecer um novo paradigma: as velhas regras já não se aplicam.
O que, consistentemente, fornece as fundações para esta insistência de que o "jogo" mudou para sempre? As quatro palavras mais perigosas do mundo do investimento: DESTA VEZ É DIFERENTE.
Buffett apelidou este conjunto de vantagens competitivas Moat, ou seja, o fosso, como os que existiam à volta dos castelos medievais para os proteger dos inimigos.
O Investimento em Valor pressupõe a selecção de um conjunto limitado de boas empresas cujos negócios subjacentes tenham fundamentos económicos soberbos, que sejam geridas por gestores capazes e honestos e que estejam a transaccionar a preços sensatos. A ênfase deve ser colocada primeiro, na procura de bons negócios, os que têm grandes vantagens competitivas e capacidade para as manter por muitos e bons anos; segundo, no desconto a que a acção transacciona no mercado em relação ao valor justo determinado para a empresa.
É claro que uma excelente empresa pode não ser um bom investimento se comprarmos as suas acções sem margem de segurança. A Microsoft, em 2000, já era uma empresa excepcional. Contudo não era um bom negócio e quem a comprou ainda está a perder dinheiro.
O nosso objectivo na gestão de patrimónios financeiros é encontrar negócios com características excepcionais a preços sensatos. Os negócios medíocres, mesmo em saldo, não interessam ao investidor em Valor. Uma empresa que consiga gerar retornos elevados no capital investido durante muitos anos, irá capitalizar a riqueza dos seus accionistas a taxas de rentabilidade mais elevadas.
Para se encontrar boas empresas com grande potencial a prazo, é necessário concentrar os esforços na análise dos negócios que lhes estão subjacentes e determinar se essas empresas têm o seu futuro protegido por atributos que lhes conferem vantagens competitivas duráveis.
Empresas que conseguem fazer isto não são comuns, uma vez que a obtenção de retornos elevados atrai concorrentes para o sector o que reduz as rentabilidades do negócio. No entanto, algumas empresas resistem aos ataques da concorrência promovendo o seu crescimento por períodos bastante alargados de tempo. Empresas deste género podem preencher qualquer carteira de investimento em acções que tenha como objectivo obter um bom retorno com risco muito reduzido.
Alguns exemplos de empresas com grandes vantagens competitivas e que ao longo dos últimos 30 anos conseguiram rentabilidades excepcionais: Johnson & Johnson (retorno total: 5233% i.e, 14,16% anuais), Exxon Mobil (retorno total: 7144% i.e, 15,33% anuais), Procter & Gamble (retorno total: 5088% i.e, 14,06% anuais), Wells Fargo (retorno total: 8408% i.e, 15,95% anuais) ou Coca Cola (retorno total: 10202% i.e, 16,69% anuais) têm sofrido competição intensa ao longo destes anos. No entanto, continuam a gerar excelentes retornos do capital.
Existem características estruturais específicas que permitem detectar este tipo de empresas. Os atributos mais comuns que conferem vantagens a um negócio são:
1. activos intangíveis, como marcas fortes, patentes ou licenças regulatórias, que lhe permitem vender produtos e serviços que os seus concorrentes não conseguem replicar,
2. produtos e serviços muito difíceis de abdicar pelos clientes, criando custos de mudança que conferem à empresa poder de fixação de preços,
3. efeitos de rede - uma força poderosa de vantagem competitiva que pode permitir manter os concorrentes à margem por longos períodos de tempo,
4. vantagens na estrutura de custos, que podem ter origem nos processos operacionais, na localização, escala ou no acesso privilegiado a determinado activo (uma matéria-prima, por exemplo), que permite à empresa disponibilizar bens e serviços a preços mais baixos que os concorrentes.
Warren Bufett apelidou este conjunto de vantagens competitivas de Moat, ou seja, o fosso, como os que existiam à volta dos castelos medievais para os proteger dos inimigos e que, no caso das empresas com fundamentos económicos excelentes, contribuem para manter a concorrência afastada do seu negócio e rentabilidades excepcionais.
O objectivo do investidor em Valor é ter em carteira negócios de primeira classe. Ao longo de qualquer período de tempo alargado, estes investimentos provarão ser os vencedores destacados face a outras categorias de activos. Melhor ainda, serão os mais seguros.
Katsenelson não investe num índice, investe num conjunto limitado de excelentes empresas com vantagens competitivas, quando estão baratas.
Na conferência organizada pelo Jornal de Negócios dia 19 deste mês, John Authers, principal conferencista e colunista do Financial Times, fez a sua apresentação defendendo que estamos num mercado "caranguejo", ou seja um mercado que anda de lado.
Embora nunca tenha feito referência a Vitaliy Katsenelson ou ao livro de sua autoria "Sideways Markets" (2011), quem leu o livro percebeu que Authers apresentou os argumentos do autor para dizer que não estamos num bull market, estamos, segundo ele, num mercado "caranguejo", que anda de lado há vários anos e tudo leva a crer que continuará a andar mais alguns.
Na sua apresentação, justifica este possível comportamento para os próximos anos por duas razões: primeiro, pelo facto de estarmos num processo de desalavancagem a nível mundial em que Estados, empresas e consumidores têm que reduzir o seu endividamento. Segundo, porque o mercado se encontra ao valor justo, ou seja, os PER´s - Price Earnings Ratio - avaliados com base na média dos resultados das empresas nos últimos 10 anos, estão a níveis que correspondem ao justo valor que produzem. Apesar das grandes variações observadas nos mercados nos últimos 10 anos, se os investidores tivessem investido no índice, desde 2000, estavam a zero. De acordo com esta teoria, até 2020 os mercados continuarão a andar de lado.
Depois, veio o tempo das perguntas: o que devem então fazer os investidores? Nestas situações as respostas raramente são muito concretas, por limitações impostas pelas instituições que cada um representa, ou outras.
O facto dos índices não "irem a lado nenhum", como referiu Authers, não quer dizer que os investidores não devam investir em acções. Katsenelson defende aliás que há excelentes condições para ganhar dinheiro nestes mercados. É importante saber avaliar as empresas, procurar e encontrar as que têm excelentes posições competitivas e que por isso terão bons resultados, verificar que têm pouca dívida e que são geridas por gestores capazes. Depois, comprar apenas quando estão baratas.
Katsenelson, que regularmente expressa as suas opiniões no Financial Times, Barron´s, Institutional Investor, Bloomberg, New York Post, entre outros, é um investidor em valor conhecido pelo seu bom senso. Katsenelson não investe num índice, investe num conjunto limitado de excelentes empresas com vantagens competitivas, quando estão baratas. Portanto, mesmo quando o mercado "transacciona numa banda", é possível obter boas rentabilidades.
Questionados onde investir, os conferencistas sugeriram o mercado americano, com o argumento que é o mercado que tem recuperado melhor.
No site da Casa de Investimentos, pode encontrar um conjunto de artigos escritos desde Novembro de 2008, no Correio do Minho. Ao longo destes últimos três anos, aconselhamos os investidores a investir em acções americanas. A propósito da descida no rating dos Estados Unidos, e com os mercados a cair cerca de 20% dos máximos do ano, escrevi aqui o primeiro artigo: "Ignore a Multidão". Explicámos porque era aquela altura excelente para comprar acções de boas empresas, grandes máquinas de fazer dinheiro para os seus accionistas e que estavam baratas. Desde então, o mercado subiu cerca de 25%.
Como diz Warren Buffett, "O futuro nunca é claro e paga-se um preço muito elevado por um consenso alargado. Aliás, a Incerteza é amiga do investidor de longo prazo"
Continuamos a encontrar excelentes empresas a transaccionar a desconto significativo do seu valor. Contudo, são hoje muitas menos. É, na minha opinião, muito importante dizer aos investidores que é fundamental avaliar os negócios por trás dessas acções e certificar-se que estão baratas. Só assim protegem e rentabilizam o seu dinheiro, quer o mercado se comporte em "sideways" ou não.
Só com más notícias é que conseguimos comprar boas empresas baratas. Como disse um dia Keynes, quando todos concordam com os méritos do investimento já ele estará caro.
Caro leitor ,
Venho trazer ao seu conhecimento o resumo de uma carta que o conceituado gestor de fundos americano, Jeremy Grantham, dirigiu recentemente ao seus clientes. Tenho a certeza, porque os sigo, que estes princípios lhe serão muito úteis. Recomendo que a guarde e, de tempos a tempos, a releia.
(...)"Acredite na História. No mundo dos investimentos, Santayana está certo: "a história repete-se e esquecer o passado é estar condenado a repeti-lo". Todas as bolhas rebentam e todas as manias passam. Devemos, em absoluto, ignorar os interesses escondidos da indústria financeira e as claques inevitáveis que asseguram, de tempos a tempos, que desta vez é diferente e que vivemos um novo paradigma. O mercado é gloriosamente ineficiente e afasta-se, por vezes muito, do seu preço justo mas, eventualmente, após partir o seu coração e esgotar a sua paciência (...), regressará ao valor justo. Eis como deve actuar.
Não empreste, nem peça emprestado. Se pedir emprestado para investir, está a interferir com a sua sobrevivência. Os portefólios alavancados podem ser destruídos por ordens stop. O endividamento reduz o activo crítico de qualquer investidor: a paciência.
Não ponha todos os seus tesouros num único barco. Este é o mais óbvio de todos os conselhos sobre investimento. Foi uma lição que os antigos mercadores aprenderam literalmente há milhares de anos. Vários investimentos diferentes darão resistência ao seu portfólio e a capacidade de resistir a choques inesperados.
Seja paciente e esteja focado no longo prazo. Espere por um bom jogo de cartas. Se esperou e esperou mais um pouco até que o mercado esteja muito barato, essa será a sua margem de segurança. Só tem que ter coragem de comprar. As acções habitualmente recuperam, os mercados recuperam sempre. Se seguiu as regras anteriores, conseguirá aguentar as más notícias.
Reconheça as suas vantagens face aos profissionais. O maior problema para os investidores profissionais é lidar com o risco de carreira, isto é, proteger o próprio posto de trabalho. O segundo maior problema é o excesso de transacções causado pela necessidade de aparentar estar ocupado para merecer o salário. O investidor individual está muito melhor posicionado para esperar pacientemente pela altura certa enquanto ignora o que os outros estão fazer. Isto é quase impossível para os profissionais.
Tente conter o optimismo. O optimismo é provavelmente uma característica positiva de sobrevivência. A nossa espécie é optimista e, de uma forma geral, as pessoas de sucesso são mais optimistas que a média. Mas o optimismo tem uma desvantagem, principalmente para os investidores: não gosta de ouvir más notícias.
Em raras ocasiões, tente ser corajoso. O investidor individual pode investir uma maior parte do seu portfolio quando surge uma oportunidade única. O maior risco para o investidor profissional - perda de comissões e de clientes - não existe para o investidor individual.
Resista à multidão: os números são mais importantes. Este é o conselho mais difícil de seguir: é difícil resistir ao entusiasmo de uma multidão. Ver os vizinhos a enriquecer no fim de uma bolha enquanto estamos fora do mercado é pura tortura. A melhor maneira de resistir é calcular o valor do mercado, focar-se nestes números e ignorar tudo o resto. Ignore especialmente as notícias de curto prazo: o vaivém das notícias económicas e políticas é irrelevante. O valor das acções está baseado no valor futuro total dos lucros e dividendos que a empresa vai gerar nas próximas décadas.
Seja verdadeiro consigo próprio. É imperativo, para ter algum sucesso nos investimentos, que conheça as suas próprias limitações. Se consegue ser paciente e ignorar a multidão, provavelmente terá sucesso. Mas pensar que o consegue e depois adoptar uma estratégia que lhe permite ser seduzido ou intimidado pela multidão é uma garantia de desastre. Se não consegue resistir à tentação, simplesmente não deve investir na bolsa. (...)"
Com consideração,
Emília O. Vieira
Presidente do Conselho de Administração
Casa de Investimentos - Gestão de Patrimónios, S.A.
As alterações sociais que conduziram a uma "sociedade do lucro", em que o dinheiro se sobrepõe à realização pessoal, mede a nossa valia pelo que ganhamos e gastamos.
O primeiro fundo de investimento, Massachusetts Investors Trust (MIT), foi criado em 1924, nos Estados Unidos e era gerido pelos seus próprios depositários. Apesar desta indústria, na sua génese, ter objectivos e princípios sãos - a proteção dos valores investidos e a recompensa dos donos do dinheiro - estes foram rapidamente adulterados em benefício dos seus gestores e dos conglomerados financeiros.
Várias são as razões que contribuíram para essa transformação:
1. As alterações sociais que conduziram a uma "sociedade do lucro", em que o dinheiro se sobrepõe à realização pessoal, mede a nossa valia pelo que ganhamos e gastamos e corrói o círculo virtuoso de confiança em que a nossa sociedade tão profundamente depende.
2. O crescimento dos Fundos de Investimento e a sua transformação num "grande negócio". A SEC - Securities and Exchange Comission, entendia que a venda de uma empresa gestora de fundos era a venda de um dever fiduciário e os lucros excessivos dos gestores constituíam uma apropriação ilegal dos activos dos fundos. Em 1958, uma decisão judicial veio permitir que estas empresas fossem cotadas em bolsa e detidas por indivíduos que não os gestores dos fundos. O grande objetivo dos fundos passou a centrar-se no lucro e no crescimento do negócio.
Só nos Estados Unidos, passou-se de um volume de 2 biliões em 1950, para 8 triliões em 2005. A guarda dos valores confiados passou para segundo plano. A venda e o comissionamento passaram a ditar a estratégia a seguir. Os fundos passaram a ser um dos negócios mais lucrativos para os gestores, em detrimentos dos investidores. Muitos empreendedores foram atraídos para esta actividade, não com o propósito do dever fiduciário, mas antes com o fim claro de criação das suas fortunas individuais.
O prémio Nobel Paul Samuelson declarou, em 1967, de forma pungente: "Só existe um sítio para fazer dinheiro no negócio dos fundos de investimento - da mesma forma como só existe um sítio para um homem moderado num bar - atrás do bar e não à frente... por isso investi numa empresa gestora de fundos". Olhando para a situação actual, Samuelson estava muito mais certo do que alguma vez poderia imaginar.
John Boogle, fundador da Vanguard, uma das poucas gestoras independentes que restam, conclui: "a indústria dos fundos de investimento desenvolveu uma estrutura que favorece os interesses dos gestores em detrimento dos interesses dos clientes".
3. As gestoras tornam-se subsidiárias dos grandes conglomerados financeiros, os grandes Bancos mundiais: a extraordinária acumulação de activos sob gestão que resultou destas compras - muitas vezes centenas de biliões de dólares - servem somente o interesses dos gestores dos fundos e dos bancos que detêm estas empresas. A consequência deste aumento de dimensão foi a escalada das comissões, muitas vezes escondidas no preço das unidades de participação.
Por outro lado, esta concentração dificilmente serviria os interesses dos clientes. É muito pouco provável que dimensões gigantes e a procura de lucros crescentes tornem a gestão do dinheiro mais eficiente ou baixem os custos para os clientes ou façam a indústria regressar à sua missão original de guarda e valorização dos patrimónios.
Os retornos para os investidores não foram beneficiados com estas alterações. De facto, o inverso é verdadeiro. Os fundos geridos sob a égide de grandes instituições financeiras conseguiram retornos distintamente inferiores aos conseguidos por fundos geridos por empresas não cotadas em bolsa. Um estudo levado a cabo pela Fidelity Investments analisou as performances de 54 gestoras ao longo da década terminada em 2003. As conclusões são espantosas. As oito melhores gestoras não estavam cotadas em bolsa, eram detidas pelos gestores dos fundos.
A independência e o alinhamento com os interesses dos clientes são fundamentais para a protecção e valorização dos patrimónios financeiros.
Os investidores são incentivados a não meter todos os ovos no mesmo cesto e os fundos de investimento proporcionam uma enorme variedade de investimentos.
Na semana passada, fiz aqui um sumário sobre o aparecimento, crescimento e transformação da "indústria dos fundos de investimento". A perspetiva apresentada nesse artigo é apenas do lado da oferta: os volumes extraordinários em gestão e a procura de lucros crescentes passaram a ser os objetivos das instituições financeiros.
Na venda dos fundos de investimento, a banca recorre sempre a argumentos a que os investidores são sensíveis:
1. Vantagens na diversificação de investimentos - os investidores são incentivados a não colocar "todos os ovos no mesmo cesto" e os fundos de investimento proporcionam uma enorme variedade de investimentos em diversas classes de ativos. Desde fundos mobiliários compostos por ações, obrigações, contratos de futuros; fundos sectoriais, de matérias-primas, de índices, fundos imobiliários, e até fundos de fundos, existe uma imensidão de variantes para todos os gostos e perfis inventados pela indústria financeira. Infelizmente aquilo que é vendido como uma vantagem torna-se na sua maior desvantagem: excesso de diversificação e falta de transparência. O fundo de ações com 300 ou 400 empresas terá certamente retornos semelhantes ou piores aos dos índices. Os retornos das boas empresas são diluídos pelas empresas medíocres e menos boas.
Porquê este excesso de diversificação? Os gestores dos fundos, por restrições legais, internas à própria instituição financeira e até para protegerem o seu emprego, enveredam por uma diversificação que tende a refletir as variações dos índices de mercado. Se tiverem performances (ainda que más) que reflitam o mercado, o seu lugar está a salvo. Por outro lado, os gestores e os seus fundos são constantemente avaliados pela performance do último trimestre e, portanto, vendem quando todos vendem e compram quando todos compram, focados apenas no curto prazo.
2. Possibilidade de investir montantes reduzidos - este é um bom princípio para quem tem valores mais reduzidos. No entanto, verificamos que a banca gere patrimónios financeiros relevantes, com uma grande dispersão por muitos fundos de investimento. Uma diversificação sem sentido e propósito, que têm apenas subjacente o comissionamento na venda.
3. Acesso a uma gestão "profissional" - até Junho de 2009, o bancos aconselhavam os investidores a aplicarem o seu dinheiro em depósitos a prazo: "fique conservador e lá para Junho fique mais agressivo". Em Junho, os jornais noticiavam que os gestores de fundos estavam naquela data, mais recetivos à compra de ações. O mercado já tinha subido 40%. Em Agosto de 2011, em duas semanas, o mercado americano recuou 20%. Nos mínimos desta correção, as grandes gestoras mundiais anunciavam nos canais de televisão, CNBC e Bloomberg, que estavam em dinheiro porque o futuro era incerto. Desde essa altura, o mercado americano subiu 24%.
4. Custos de transação baixos. Este argumento é falso na esmagadora maioria dos casos. Os fundos de investimento têm comissões de subscrição, de resgate, de gestão, de performance e custos de transação. O comissionamento é tão elevado que os retornos só podem ser medíocres. Estas comissões não são comunicadas com transparência, são escondidas aos clientes nas cotações das Unidades de Participação.
John Bogle, fundador da gestora de fundos Vanguard, sumariza muito bem o melhor caminho a seguir: "é fundamental que as gestoras sejam detidas pelos gestores e que sejam independentes dos grandes grupos financeiros. Só assim atuam como guardiões dos donos do dinheiro".
Warren Buffett diz-nos como investir com sucesso: devemos comprar ações de empresas com negócios excecionais, geridos por gente capaz e honesta, quando os seus preços estão a desconto substancial do seu valor justo. Assim, o investidor diversifica apenas o essencial e concentra os seus investimentos em 10 ou 12 boas empresas que conhece muito bem e nas quais se sente inteiramente confiante. Este investimento é completamente transparente. Só devemos investir naquilo que entendemos.
A frase que dá título a esta crónica é de Christopher H. Browne e foi extraída de "O Livro do Investimento em Valor".
O princípio central do investimento em valor é a salvaguarda da margem de segurança. Quanto mais baixo for o preço de compra do ativo em que investimos, maior é a margem de segurança que se consegue e consequentemente, maior será o retorno para o investidor.
Nada,, no investimento, surge de forma fácil - e quando parece devemos usar de grande ceticismo na sua análise - e portanto, a margem de segurança é conseguida devido a diversos fatores de natureza negativa: a crise financeira em que vivemos, abrandamento do crescimento económico, problemas com determinado sector, legislação desfavorável, aumento dos custos de matérias primas em determinado sector, problemas que a empresa tem com determinado produto ou mesmo alterações na gestão. Todos estes fatores geram notícias negativas que, independentemente de serem comunicadas de forma esclarecedora ou não, geram um sentimento de pessimismo, por vezes, extremo, que depreciam os preços dos ativos ainda mais.
Todos somos influenciados por notícias que lemos nos jornais e vemos nas televisões, ou pelo que ouvimos a amigos e pessoas que julgamos especialistas. No entanto, todos sabemos também que a melhor altura para comprar ações, uma quinta ou qualquer outro ativo, é quando estão baratos. Contudo, quando as ações estão baratas é muito fácil encontrar motivos para não as comprar. É nestas alturas que é muito difícil ser contrário e ignorar o que a multidão está a fazer. É nestas alturas que toda a gente vende e, em qualquer conversa de circunstância em que o assunto possa surgir, anuncia que já vendeu.
A experiência do passado recente da maior parte dos investidores em Portugal é de perdas muito significativas. Os títulos mais disseminados na bolsa portuguesa são dos que maiores perdas acumulam. É compreensível que os investidores estejam tão céticos e julguem que o futuro seja sempre este. Esta atitude amplia ainda mais a queda das cotações.
O investidor comum não está sozinho. Este foi também o comportamento dos grandes gestores de dinheiro a nível mundial. Entre Outubro de 2008 e Junho de 2009 muitos, nos principais canais de negócios e nas revista e jornais da especialidade, com grande orgulho apregoavam Cash is King, ou seja, dinheiro é rei. Muitos deles mantiveram esta postura e previram a desgraça por muito tempo. Não queriam desistir da sua genialidade de um dia para o outro. Dos mínimos de Março de 2009 até fim de Junho, o principal índice americano S&P500, subiu cerca de 44%. Dinheiro, afinal, não era rei.
É claro que não sabemos quando o mercado começa a subir e portanto, não tentamos adivinhar o dia em que deveremos comprar. Estou aliás convencida que ninguém sabe. Sabemos, no entanto, o preço a que devemos comprar para garantir uma margem de segurança confortável: é quando nos vendem o valor de 1 euro por 60 cêntimos (nalguns casos os "saldos" na bolsa são ainda maiores).
O futuro próximo não é claro para nós. As recuperações económicas não se fazem de um dia para o outro e a estrada apresentará sempre solavancos. No entanto, sabemos que, a prazo, os mercados acabarão por refletir o verdadeiro valor das empresas. Sempre o fizeram no passado. Sabemos também que quando as notícias sobre a economia e as empresas forem favoráveis o mercado já terá subido substancialmente.
O verdadeiro investidor deve estar preparado psicológica e financeiramente para, no curto prazo, ver grandes desvios entre valor intrínseco das ações e preço a que estão a cotar no mercado e aproveitar para fazer bons investimentos.
Uma carteira diversificada em ações de boas empresas nacionais e estrangeiras que geram bons rendimentos (nalguns casos com dividendos superiores aos depósitos a prazo), compradas tão baratas, mantidas por um horizonte de investimento adequado; proporcionarão excelentes rentabilidades.