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Ensaio publicado originalmente em 22 de março de 2022 no blog Collaborative Fund
Como pensam as pessoas
Neste planeta, já viveram 100 biliões de pessoas.
Hoje, quase oito biliões dessas pessoas estão vivas.
Cada uma delas tem uma história, mas poucas têm um microfone.
Cada uma dessas pessoas testemunhou algo de diferente e teve pensamentos únicos. A maioria sabe coisas que não conseguimos compreender e nós já passámos por coisas que ninguém acreditaria.
Muitos comportamentos são, porém, universais e abarcam gerações e geografias. As circunstâncias mudam, mas as reações das pessoas não. As tecnologias evoluem, mas as inseguranças, os ângulos mortos e a credulidade raramente o fazem.
Este artigo descreve 17 dos aspetos, na minha opinião, mais comuns e influentes de como as pessoas pensam.
É um artigo longo, mas cada ponto pode ser lido individualmente. Salte aqueles com que não concorda e releia aqueles com que concorda - isto é, em si mesmo, uma forma comum de como as pessoas pensam.
1. Todos pertencem a uma tribo e subestimam o quão influente é a tribo no seu pensamento.
Existem tribos em todo o lado - países, estados, partidos, empresas, indústrias, departamentos, estilos de investimento, filosofias económicas, religiões, famílias, escolas, cursos, credenciais. Todas adoram a sua tribo porque há conforto em saber que outras pessoas compreendem o seu passado e partilham dos seus objetivos.
Mas as tribos têm as suas próprias regras, crenças e ideias. Podemos discordar de algumas; algumas são na realidade abjetas. No entanto, continuam a ter apoio porque ninguém quer correr o risco de ser ostracizado por uma tribo que é parte da sua identidade. Assim, as pessoas concordam voluntariamente com ideias más, ou ficam cegas pela lealdade tribal sobre o quão más são aquelas ideias.
2. O que as pessoas apresentam ao mundo é uma pequena fração do que acontece no interior das suas cabeças.
A Biblioteca do Congresso contém três milhões de livros, ou qualquer coisa como um quarto de trilião de palavras.
Estima-se que toda a informação disponível na internet ultrapassa os 40 triliões de gigabytes, o que é aproximadamente suficiente para gravar um vídeo de alta-definição com duração de 14 biliões de anos desde o Big Bang.
Muito da História foi gravado.
Mas depois recordámo-nos, isto é apenas o que foi partilhado, gravado e publicado. É uma quantidade ínfima do que realmente aconteceu e uma quantidade infinitesimal do que passou pela cabeça das pessoas.
Por mais que saibamos o quão loucas, estranhas, talentosas e perspicazes as pessoas podem ser, estamos cegos para talvez 99,99999999% disso. Os "partilhadores" mais prolíficos revelam talvez um milésimo de um por cento das suas experiências e pensamentos.
Um efeito disto é que temos uma falsa visão do sucesso. A maior parte do que as pessoas partilham é o que elas querem que vejamos. As habilitações são publicitadas, os falhanços escondidos. As vitórias são exageradas, as derrotas são minimizadas. A dúvida e a ansiedade raramente são partilhadas nas redes sociais. Soldados derrotados e CEOs fracassados raramente dão entrevistas.
A maior parte das coisas é mais difícil do que parece e não é tão divertida quanto parece, porque as informações a que estamos expostos tendem a ser uma compilação do que as pessoas querem que nós saibamos sobre elas para aumentar as suas próprias probabilidades de sucesso. É mais fácil convencer as pessoas de que somos especiais se elas não nos conhecerem suficientemente bem para ver todas as formas pelas quais não o somos.
Quando temos plena consciência das nossas próprias dificuldades, mas não vemos as dos outros, é muito fácil concluir que estamos a ignorar alguma capacidade ou segredo que os outros têm. Por vezes, isto é verdade. Na maior parte das vezes, estamos simplesmente cegos para o facto de que toda a gente está a "inventar" à medida que avançam, um desafio de cada vez.
3. As previsões têm tudo a ver com as probabilidades e colocá-las a nosso favor. Mas os observadores julgam-nos sempre em termos binários, certo ou errado.
Há uma cena no filme Zero Dark Thirty onde o diretor da CIA questiona uma equipa de analistas que afirma ter localizado Osama Bin Laden.
"Estou prestes a olhar o presidente nos olhos", diz ele. "E aquilo que eu gostaria de saber, sem tretas, muito simplesmente, ele está lá, ou não?"
O líder da equipa diz que há 60% a 80% de probabilidades de Bin Laden estar no complexo.
"Isso é um sim ou um não?" pergunta o diretor.
Uma jovem analista intervém. "Cem por cento de probabilidades de ele lá estar", diz ela.
Todos ficam perplexos.
"OK, 95%, porque sei que a certeza vos assusta. Mas é 100%".
Isto é um bom exemplo de como as probabilidades podem ser desconfortáveis.
A ideia de que algo pode ser provável e não acontecer, ou improvável e mesmo assim acontecer, é um dos truques mais importantes do mundo.
A maioria das pessoas compreende que a certeza é rara, e o melhor que podemos fazer é tomar decisões quando as probabilidades estão a nosso favor. Elas compreendem que podemos ser inteligentes e estar errados, ou estúpidos e estar certos, porque é assim que a sorte e o risco funcionam.
Mas quase ninguém utiliza as probabilidades no mundo real, especialmente quando julgam o sucesso dos outros.
A maior parte das pessoas preocupa-se principalmente com: "Estavas certo ou errado?"
As probabilidades têm a ver com nuance e gradação. Mas no mundo real as pessoas só prestam atenção ao preto e branco.
Se dissemos que algo vai acontecer e acontece, estávamos certos. Se dissemos que vai acontecer e não acontece, estamos errados. É assim que as pessoas pensam, porque isto exige o mínimo de esforço. É difícil convencer os outros - ou nós mesmos - de que poderia ter acontecido um desfecho alternativo quando todos conseguem ver o resultado no mundo real.
O essencial aqui é que as pessoas pensam que querem uma visão precisa do futuro, mas o que elas realmente desejam é a certeza.
É natural que nos queiramos livrar da dolorosa realidade de não saber o que vai acontecer no futuro. Alguém que nos diz que há 60% de probabilidades de uma recessão acontecer não faz muito para aliviar essa dor. Até a podem estar a piorar. Mas alguém que diz: "Este ano vamos ter uma recessão", dá-nos algo a que nos conseguimos agarrar e, com isto, assumimos, aparentemente, o controle do nosso futuro.
Após o raide a Bin Laden, o presidente Obama declarou que a probabilidade de Bin Laden estar realmente na casa-alvo eram de 50/50. Há alguns anos, ouvi um dos SEALS envolvidos na missão falar numa conferência. Segundo ele, independentemente de Bin Laden estar ou não naquela casa, a equipa sentiu que as probabilidades de morrerem todos na missão também eram de 50/50. Temos assim 75% de probabilidade de que o ataque poderia ter culminado numa catástrofe.
Não foi isso que aconteceu - mas esse desfecho alternativo não é um "mundo" ao qual se preste muita atenção.
4. Somos máquinas extrapoladoras num mundo onde nada muito bom ou muito mau dura para sempre
Quando estamos no meio de uma tendência poderosa, é difícil imaginar uma força suficientemente forte para mudar as coisas.
O que tendemos a ignorar é que o que altera as tendências geralmente não é uma força externa. São os efeitos colaterais subtis dessa tendência que corroem aquilo que em primeiro lugar a tornou poderosa.
Quando não há recessões, as pessoas ficam confiantes. Quando ficam confiantes, correm riscos. Quando assumem riscos, temos recessões.
Quando os mercados nunca caem, as avaliações sobem. Quando as avaliações sobem, os mercados podem cair.
Quando há uma crise, as pessoas ficam motivadas. Quando ficam motivadas, resolvem freneticamente os problemas. Quando resolvem problemas, as crises tendem a acabar.
Os bons tempos plantam as sementes da sua destruição por meio da complacência e da alavancagem, e os maus tempos plantam as sementes da sua recuperação criando oportunidades e dando origem à solução de problemas impulsionada pelo pânico.
Sabemos disto em retrospetiva. É quase sempre verdade, em quase todos os lugares.
Mas tendemos a saber "só" em retrospetiva porque somos máquinas extrapoladoras e desenhar linhas retas num gráfico, quando tentamos prever o futuro, é mais fácil do que imaginar como as pessoas se podem adaptar e mudar os seus comportamentos.
Na fermentação, quando atinge um determinado ponto, o álcool mata a levedura responsável pela sua própria produção. As tendências mais poderosas terminam da mesma forma. E este tipo de forças não é intuitivo; exige que consideremos não apenas como uma tendência afeta as pessoas, mas como esse impacto vai alterar o comportamento das pessoas de tal forma que pode acabar com a tendência.
5. Há limites para a nossa sanidade. O otimismo e o pessimismo vão sempre longe demais, porque a única forma de lhes conhecer os limites é ir um pouco mais além.
Jerry Seinfeld tinha o programa mais popular da televisão. E, precisamente nessa altura, ele acabou com ele.
Mais tarde, Jerry afirmou que "matou" a sua série enquanto estava no topo porque a única forma de identificar o topo é viver a queda, e ele não estava interessado nisso. Talvez a série continuasse a melhorar, talvez não. Jerry conseguia viver sem saber a resposta.
Se queremos saber por que motivo existem inúmeras histórias do mundo a ultrapassar os limites da sanidade, saltando de boom em fracasso, de absurdo em absurdo, é porque muito poucas pessoas têm a mentalidade de Jerry. As oportunidades são escassas e as pessoas não querem deixar nada em cima da mesa. Insistem em saber onde fica o topo.
A maioria das coisas no mundo são uma mistura de factos e emoções. Quanto aço pode uma fábrica produzir (um facto) e quanto estão os investidores dispostos a pagar por essa produção (uma emoção).
O importante é que as emoções não são algo que consigamos prever com uma fórmula.
Quanto vale uma bitcoin? Até onde pode subir a Tesla? Quão louca pode ficar a política até que os eleitores se revoltem? A única forma de responder a estas perguntas é adivinhar os humores das pessoas no futuro - o quão otimistas se vão sentir, no que querem acreditar e quão persuasivos são os contadores de histórias. O que é impossível de saber. Não sei qual vai ser a minha disposição logo à noite, quanto mais como um grupo de estranhos se vai sentir daqui a anos.
A única forma de encontrar os limites dos humores das pessoas - a única forma de encontrar o topo - é continuar a pressionar até termos ido longe demais, quando conseguirmos olhar para trás e dizer: "Ah, acho que aquele foi o limite".
É tentador ver as coisas a ir do boom ao fracasso e pensar: "Por que raio é que as pessoas estão a fazer aquilo? Estarão loucos?"
Provavelmente não. Elas estão apenas a procurar, racionalmente, os limites com que toda a gente consegue lidar.
6. Ignorar que as pessoas que pensam o mundo de forma singular, de que nós gostamos, também pensam o mundo de forma singular, de que não gostamos.
Um perfil recente de Eliud Kipchoge, o melhor maratonista do mundo, descrevia a seguinte cena:
"Apertados numa sala cinzenta com horas para matar, os medalhados olímpicos fizeram o que qualquer um de nós faria: pegaram nos seus telemóveis, ligaram-se ao wifi e começaram a navegar o rio de mensagens congratulatórias.
Todos menos um. Kipchoge colocou o telemóvel à sua frente e não lhe tocou, permanecendo ali sentado - durante horas - num silêncio satisfeito.
Bashir Abdi, o medalha de bronze da Bélgica, relembra a história com gargalhadas de incredulidade, e adicionou uma frase, meio a brincar, que os praticantes do desporto já disseram muitas vezes sobre Kipchoge.
"Ele não é humano."
Ele não é humano.
Podemos utilizar uma variação desta frase relativamente à maioria dos nossos ídolos - pessoas que atingiram o sucesso extremo. Gostamos deles porque eles fazem coisas que outras pessoas nunca considerariam, ou não conseguem sequer compreender.
Algumas destas características são incríveis e devemos admirá-las. Outras não.
Kanye West disse certa vez:
"Se querem ideias loucas e cenas loucas, música louca e essa forma louca de pensar, isso provavelmente virá de uma pessoa louca."
Paul Graham disse-o desta forma: "Metade das qualidades distintivas da pessoa eminente são, na realidade, desvantagens".
Andrew Wilkinson diz: "As pessoas mais bem-sucedidas são apenas um distúrbio de ansiedade ambulante domesticado para a produtividade".
Sempre acreditei que as pessoas que são anormalmente boas numa coisa tendem a ser anormalmente más noutra. Ou talvez não sejam más, mas tenham algo que não necessariamente desejaríamos na nossa própria vida. Eles são "maníacos" naturais, extremos em todos os sentidos, bons e maus.
No entanto, é muito fácil ignorar este facto quando admiramos alguém. Torna-se perigoso quando admiramos uma pessoa pelas suas boas características, mas começamos a imitar as más porque acreditamos erradamente que foi isso que as tornou bem-sucedidas. Isto faz parte do ditado: "Nunca conheças os teus heróis".
Para além das características pessoais, o ciúme é muitas vezes enganador porque não somos capazes de escolher as partes da vida de alguém para imitar. Naval escreveu:
"Certo dia, compreendi que, com todas as pessoas de quem eu tinha inveja, eu não podia simplesmente escolher pequenos aspetos da vida delas. Eu não podia dizer que quero o corpo dele, quero o dinheiro dela, quero a personalidade dele. Eu teria que ser aquela pessoa. Será que queremos mesmo ser aquela pessoa com todas as suas reações, os seus desejos, a sua família, o seu nível de felicidade, a sua visão da vida, a sua autoimagem? Se não estamos dispostos a fazer uma troca completa, 24 horas por dia, 7 dias por semana, 100% de troca com quem essa pessoa é, então não faz sentido ter ciúmes.
Há alguns anos, David Brooks deu um exemplo do mundo real:
"Este mês, aconteceram duas coisas a Sandra Bullock. Primeiro, ganhou um Oscar de melhor atriz. Depois surgiram notícias de que o marido dela é um idiota adúltero. Portanto, a pergunta filosófica do dia é: Aceitaríamos este acordo? Trocaríamos um triunfo profissional tremendo por um golpe pessoal duríssimo?
Se demorou mais de três segundos para pensar nisto, o leitor está absolutamente louco."
A admiração pode ser muito crédula.
7. Somos incentivados a maximizar a eficiência a tal ponto que não deixamos qualquer margem para erros, apesar da margem para erros ser o fator mais importante do sucesso a longo prazo.
O mundo é competitivo. Se não explorarmos uma oportunidade, a nossa concorrência fá-lo-á. Assim, a oportunidade é explorada até à exaustão o mais rapidamente possível.
Isto é ótimo - isto faz com que o mundo avance. Mas também tem um efeito colateral desagradável: quando todas as oportunidades são exploradas, não há espaço para erros e, quando não há espaço para erros, qualquer sistema exposto à volatilidade e ao acidente acabará por falhar.
Ao descrever o fiasco das cadeias de fornecimentos do ano passado, o CEO da Flexport, Ryan Petersen, explica:
"O que causou os engarrafamentos nas cadeias de fornecimentos? As finanças modernas com a sua obsessão pelos "retornos nos capitais próprios" (ROE).
De forma a conseguirem ROE elevados, quase todos os CEOs despojaram as suas empresas do máximo de ativos possível. Sem excesso de capacidade. Sem reservas estratégicas. Sem dinheiro no balanço. P&D mínimos.
Retiramos os amortecedores da economia na busca das melhores métricas de curto prazo. Agora, como estamos a enfrentar uma "tempestade de cem anos" de procura, as nossas infraestruturas simplesmente não conseguem acompanhar o ritmo.
As empresas globais de logística têm excesso de capacidade, não há reservas de chassis (reboques para transporte de contentores), não há contentores extras, não há capacidade extra de armazém. As marcas não têm inventário extra. Os fabricantes não têm componentes extra ou matérias-primas disponíveis."
Petersen tem razão, mas parte de mim também tenta compreender os CEOs que maximizaram a eficiência porque, se não o tivessem feito, teriam sido eliminados pela concorrência. Esta é uma peculiaridade estranha do comportamento humano que incentiva as pessoas a maximizar o seu potencial até à destruição final.
Tantas pessoas esforçam-se por levar vidas eficientes, onde não se desperdiça nem uma hora. Mas quando não se desperdiça uma hora, não temos tempo para passear, explorar ou deixar que o pensamento vagueie - o que pode ser uma das formas mais produtivas de pensamento. O psicólogo Amos Tversky disse certa vez que "o segredo para uma boa pesquisa académica é estar sempre um pouco "subempregado". Perdemos anos por não ser capazes de perder horas." Uma pessoa bem-sucedida que deixa propositadamente intervalos de tempo livre na sua agenda acaba por se sentir ineficiente. E é, por isso poucas pessoas o fazem.
O paradoxo de que a margem para erros é essencial para a sobrevivência a longo prazo, mas maximizar a eficiência de uma forma que elimina a margem para erros, pode ser essencial para sobreviver a curto prazo, é estranho.
Aqueles que lutam contra isto - a rara empresa, funcionário ou economia disposta a sacrificar ganhos de curto prazo para a sobrevivência de longo prazo - são os excêntricos, raramente compreendidos, facilmente menosprezados, que têm um desempenho inferior na maior parte das vezes, mas sobrevivem o tempo suficiente para rir por último e conseguem os maiores retornos.
8. A melhor história vence.
Não é a melhor ideia. Não é a resposta certa. É quem conta a história que atrai a atenção das pessoas e as faz acenar afirmativamente a cabeça.
Sherlock Holmes disse: "O que fazemos neste mundo é uma questão de somenos importância. A questão é o que conseguimos fazer as pessoas acreditar que fizemos."
Onde quer que exista uma troca de informação - onde quer que existam produtos, empresas, carreiras, política, conhecimento, educação e cultura - descobriremos que a melhor história vence. Grandes ideias mal explicadas podem não ir a lugar nenhum enquanto que ideias velhas ou erradas contadas de forma convincente podem desencadear uma revolução. Morgan Freeman pode narrar uma lista de compras e levar as pessoas às lágrimas, enquanto que um cientista sem o dom da palavra pode curar doenças e passar despercebido.
Mesmo quando a ideia certa ou um talento superior está a trabalhar, quase sempre há uma história poderosa em ação.
Charles Darwin não descobriu a evolução, ele simplesmente escreveu o primeiro e mais convincente livro sobre a evolução. Andrew Carnegie dizia que tinha tanto orgulho no seu charme e capacidade de travar amizade com as pessoas como na sua perspicácia nos negócios. Elon Musk é tão hábil em fazer com que os investidores acreditem numa visão como em engenharia. Rory Sutherland disse recentemente: "Ninguém teria ouvido falar de Jesus se não fosse São Paulo".
O autor Elias Canette escreveu:
"As maiores multidões são atraídas pelos contadores de histórias. É ao seu redor que as pessoas se aglomeram mais densamente e ficam mais tempo... as suas palavras vão mais longe e permanecem mais tempo no ar do que aquelas das pessoas comuns."
George Packer ecoa o mesmo:
"As narrativas mais duráveis não são as que resistem melhor à verificação dos factos. São as que respondem às nossas necessidades e desejos mais profundos.
Se assumirmos que o mundo é governado pelos factos e pela objetividade - se assumimos que a melhor ideia vence, isto deixa-nos loucos. Mas é assim que as pessoas pensam. E isto, na realidade, é otimista, porque quando percebemos que podemos mudar o mundo explicando uma coisa antiga de uma forma nova ao invés de termos que criar algo realmente novo, começamos a ver muito potencial.
9. Somos atraídos pela complexidade quando a simplicidade é a verdadeira marca da inteligência e do conhecimento.
Às vezes, a extensão é necessária. Quando os Aliados se reuniram após a Segunda Guerra Mundial para discutir o destino da Alemanha, Winston Churchill observou: "Estamos a falar do destino de oitenta milhões de pessoas e isso exige mais do que oitenta minutos de discussão".
Mas Edsger Dijkstra, cientista da computação, escreveu:
"A simplicidade é a marca da verdade -- já devíamos saber isto, mas a complexidade continua a exercer uma atração mórbida. Quando damos uma palestra a um público académico que é cristalina do alfa ao ómega, o público sente-se enganado e sai da sala de aula a comentar entre si: "Isto foi bastante trivial, não foi? A dolorosa verdade é que a complexidade vende melhor."
A dolorosa verdade é que a complexidade vende melhor.
É óbvio que isto é verdade.
Um tweet pode ser mais perspicaz que um livro, mas as pessoas pagam 20 dólares por livros e nunca pagariam um cêntimo por milhares de tweets. Cobramos a um cliente por dez frases de conselhos e eles saem enojados. Entregamos um relatório do tamanho da lista telefónica e eles pagam uma fortuna e recomendar-nos-ão aos seus amigos.
Porquê?
Por que motivo a complexidade e a extensão vendem quando a simplicidade e a brevidade bastam?
Algumas razões.
Uma é que a extensão é muitas vezes a única coisa que sinaliza esforço e ponderação. Os consumidores de informação raramente tentam dissecar um argumento de forma objetiva; isso é muito difícil. Ao ler, tentam apenas concluir se o autor é credível ou não. Isto soa bem? Passa no teste do algodão? O autor dedicou mais do que alguns segundos de pensamento neste argumento? A extensão e a complexidade são muitas vezes a única indicação de que um argumento foi ponderado ao invés de não ser mais que um palpite aleatório.
A segunda é que as coisas que nós não compreendemos criam uma mística em redor das pessoas que realmente as compreendem. Quando alguém compreende coisas que nós não compreendemos, temos dificuldade em julgar os limites do seu conhecimento nesse campo, o que nos torna mais propenso a aceitar os seus pontos de vista.
A terceira razão é que a complexidade transmite uma impressão reconfortante de controlo, enquanto que é difícil distinguir a simplicidade da falta de noção. Quanto mais botões tivermos para mexer, mais controlo sentimos que temos sobre a situação, porque a impressão de conhecimento aumenta. Prestar atenção a apenas algumas variáveis enquanto ignoramos tudo o resto pode fazer-nos parecer ignorantes, mesmo que isto seja a coisa certa a fazer. Se um cliente pergunta: "E aqui, o que é que está a acontecer aqui?" e nós respondemos: "Ah, não faço ideia, não acompanhamos isso", as probabilidades de parecermos desinformados podem superar as probabilidades de o cliente concluir que dominamos a simplicidade.
10. A disponibilidade para acreditarmos numa previsão é influenciada pelo quanto desejamos ou precisamos que essa previsão seja verdadeira.
Qual foi o dia mais feliz da sua vida?
O documentário How to Live Forever coloca esta pergunta inocente a uma centenária que respondeu de uma forma surpreendente.
"O Dia do Armistício", respondeu ela, referindo-se ao final da Primeira Guerra Mundial, em 1918.
"Porquê?" pergunta o produtor.
"Porque sabíamos que nunca mais iríamos ter guerras", declarou ela.
A Segunda Guerra Mundial começou 21 anos depois, e morreram 75 milhões de pessoas.
Há tantas coisas na vida que acreditamos que são verdadeiras apenas porque queremos desesperadamente que sejam verdadeiras. As pessoas fazem isto com os seus relacionamentos, carreiras, investimentos, pontos de vista políticos - qualquer coisa voltada para o futuro está sujeita a ser influenciada pelo nosso desejo de ter uma vida agradável.
Todos somos sonhadores porque é difícil viver o nosso quotidiano quando acreditamos genuinamente que o futuro será difícil. Uma ficção apelativa - acreditar no desfecho que desejamos, mesmo que seja improvável que se torne realidade - é muitas vezes o único conforto num mundo incerto.
Quanto mais temos a perder, mais verdadeiro isto se torna. Antes da medicina moderna, tivemos séculos de sangrias, terapia da fome, abertura de orifícios no corpo para libertar os maus espíritos e outros tratamentos que pioravam a situação, mas que davam às pessoas um pouco de esperança. Se precisamos desesperadamente de uma solução e nenhuma boa está prontamente disponível, o caminho de menor resistência é a disponibilidade para acreditar em qualquer coisa. Não é apenas uma questão de tentar qualquer coisa, mas também de acreditar.
A mesma coisa acontece nos investimentos, quando as pessoas ouvem avidamente as previsões de analistas cujo histórico é indistinguível da adivinhação. O mesmo na política. Quanto mais incerta empreitada, e quanto maiores os riscos do desfecho, mais somos atraídos pela resposta mais agradável. E se dissermos às pessoas o que elas querem ouvir, podemos estar errados indefinidamente sem qualquer penalização.
11. É difícil ter empatia pelas crenças de outras pessoas se elas experimentaram partes do mundo que nós não experimentamos.
Jason Zweig, do Wall Street Journal, escreveu na semana passada:
"Se lhe perguntar num questionário se tem medo de cobras, o leitor poderá dizer que não. Se lhe atirar uma cobra viva ao colo e depois perguntar se tem medo de cobras, provavelmente vai dizer que sim - se voltar a falar comigo."
A diferença entre como nos sentimos do lado de fora e como nos sentimos quando experimentamos algo em primeira mão pode ter um quilómetro de largura.
Existem teorias de que as grandes guerras tendem a acontecer com 20 a 40 anos de intervalo, porque esse é o espaço de tempo necessário para que surja uma nova geração de eleitores, políticos e generais que não estão traumatizados pela última guerra. Outras tendências políticas - direitos sociais, teorias económicas, prioridades orçamentais - seguem um caminho semelhante.
Não é uma questão de que as pessoas se esqueceram. É que a empatia e a mente aberta não podem conseguem recriar o medo e a incerteza genuínos.
A minha teoria é que mais de metade de todos os desentendimentos - pessoais, domésticos, internacionais, financeiros - desapareceriam se conseguíssemos ver o mundo através dos olhos do nosso oponente e tivéssemos passado pelo o que eles passaram.
Nassim Taleb resume bem isto quando diz: "Se algo nos parece irracional - e tem sido assim há muito tempo - é provável que tenhamos uma definição errada da racionalidade".
Algumas perguntas que todos nos devemos colocar a nós próprios:
De quais das minhas opiniões atuais eu discordaria se tivesse nascido num país ou geração diferentes?
O que é que eu não experimentei em primeira mão que me deixa ingénuo relativamente ao seu funcionamento?
Qual é o problema que eu acredito que se aplica apenas a outros países/indústrias/carreiras e que, eventualmente, poderá ter impacto sobre mim?
Estas questões, no entanto, são impossíveis de responder completamente. No fundo, estamos todos um pouco cegos para a forma como o mundo funciona, e quando pensamos que estamos a discordar de outra pessoa, estamos, na verdade, apenas a descobrir uma experiência que nunca tivemos.
12. Uma inocente negação das nossas próprias falhas, causada pela nossa capacidade de justificar os nossos erros na nossa própria cabeça de uma forma que não conseguimos fazer pelos outros.
George Carlin costumava dizer que é muito fácil identificar pessoas estúpidas. "Se levares um bloco de notas e lápis contigo, vais acabar o dia com 30 ou 40 nomes. Não leva muito tempo a encontrar um, pois não? São à volta de oito segundos."
Como muita coisa na comédia, é engraçado porque é verdade.
Daniel Kahneman, no entanto, menciona uma verdade mais importante no seu livro, Thinking, Fast and Slow: "É mais fácil reconhecer os erros das outras pessoas do que os nossos".
Eu acrescentaria a minha própria teoria: é mais fácil culpar a estupidez e a ganância pelos erros dos outros do que pelos nossos.
Isto porque quando alguém comete um erro, nós julgamo-lo apenas com base no que vemos. É rápido e fácil.
Mas quando cometemos um erro, há um monólogo longo e persuasivo na nossa cabeça que justifica más decisões e acrescenta um contexto importante que as outras pessoas não veem.
Todo nós somos assim. É normal.
Eis a razão pela qual isto acontece: o meu cunhado, um assistente social, disse-me recentemente: "Qualquer comportamento faz sentido com informação suficiente".
É um argumento tão bom.
Vemos alguém a fazer uma loucura e pensamos: "Por que raio faria isto?" Depois, sentamo-nos com eles, ouvimo-los a falar da sua vida e, passado algum tempo, compreendemos: "Pois, até faz algum sentido".
Todos somos um produto das nossas próprias experiências de vida, poucas das quais são visíveis ou conhecidas por outras pessoas.
O que faz sentido para mim pode não fazer sentido para si porque não sabe que tipo de experiências me moldaram e vice-versa.
A pergunta: "Por que motivo não concorda comigo?" pode ter infinitas respostas.
Às vezes, um lado é egoísta, estúpido, cego ou desinformado.
Mas geralmente uma pergunta melhor é: "Por que é que tu passaste que eu não passei que te faz acreditar no que acreditas? E eu pensaria no mundo como tu pensas se eu passasse pelo mesmo?"
Esta é a questão que contém mais respostas que justificam a razão pela qual as pessoas não concordam umas com as outras.
Mas é uma pergunta tão difícil de fazer. É muito pouco confortável pensar que aquilo pelo qual ainda não passamos pode mudar as nossas crenças. Isto é admitir a nossa própria ignorância. É muito mais fácil e comum assumir que aqueles que não concordam connosco não refletiram o suficiente- especialmente ao julgar os erros dos outros.
13. Subestimamos a capacidade de pequenas coisas se transformarem em coisas extraordinárias.
A força mais surpreendente do universo é óbvia. É a evolução. O processo que guiou organismos unicelulares até um ser humano que consegue ler este artigo um iPhone com 500 GB de armazenamento. A coisa que é responsável pela visão 20/20 e pássaros voadores e sistemas imunitários. Nada na ciência nos consegue impressionar tanto como aquilo que a evolução conseguiu realizar.
A bióloga Leslie Orgel costumava dizer que "a evolução é mais esperta do que nós" porque sempre que um crítico diz "a evolução nunca poderia fazer isto", geralmente falta-lhe imaginação.
A evolução também é facilmente subestimada devido à matemática básica.
O superpoder da evolução não é apenas selecionar características favoráveis. Esta parte é tão entediante que, se só nos concentramos nisso, ficamos céticos e confusos. Um milénio de mudanças na maioria das espécies é tão trivial que é quase impercetível.
A verdadeira magia da evolução é que ela seleciona características há 3,8 mil milhões de anos.
É o tempo, não são as pequenas mudanças, que move a agulha. Se pegarmos em mudanças minúsculas e as capitalizarmos durante 3,8 mil milhões de anos, conseguiremos resultados que são indistinguíveis da magia.
Esta é a verdadeira lição da evolução: se temos um número grande no espaço do expoente, não precisamos de mudanças extraordinárias para obter resultados extraordinários. Não é intuitivo, mas é muito poderoso. "A maior falha da raça humana é a nossa incapacidade de compreender a função exponencial", costumava dizer o físico Albert Bartlett.
Muitas coisas funcionam assim.
Já ouvi muitas pessoas dizer que quando viram pela primeira vez uma tabela de juros compostos - ou ouviram uma daquelas histórias sobre o que teriam a mais na reforma se começassem a poupar aos 20 anos em vez de aos 30 anos - a vida delas mudou. Mas provavelmente não. Provavelmente ficaram estupefactos, porque os resultados não parecem intuitivamente corretos. O pensamento linear é muito mais intuitivo do que o pensamento exponencial. Michael Batnick já explicou isto. Se nos pedirem para calcular 8+8+8+8+8+8+8+8+8 mentalmente, conseguimos fazer isto nalguns segundos (é 72). Se nos pedirem para calcular 8x8x8x8x8x8x8x8x8, a nossa cabeça explode (é 134.217.728).
Uma área comum onde vemos esta deficiência em ação é no investimento.
Howard Marks falou certa vez sobre um investidor cujos resultados anuais nunca atingiram o quartil superior, mas, ao longo de um período de 14 anos, ele ficou entre os 4% melhores de todos os investidores. Se ele mantiver esses retornos medíocres durante mais 10 anos, ele poderá atingir o top 1% dos seus pares - um dos maiores da sua geração, apesar de não se destacar em qualquer ano.
No investimento, a maior parte das pessoas concentra-se no que é possível fazer agora, este ano, ou talvez no próximo ano. "Quais são os melhores retornos que consigo ganhar?" parece uma pergunta tão intuitiva de se fazer.
Mas, tal como na evolução, não é aí que a magia acontece.
Se compreendermos a matemática por trás dos juros compostos, concluimos que a pergunta mais importante não é "Como posso obter os maiores retornos?" É: "Quais são os melhores retornos que consigo sustentar pelo maior período de tempo?"
Essa é a grande lição do juro composto: menos foco na mudança, mais foco no expoente.
14. A diferença entre saber o que fazer e realmente conseguir que as pessoas o façam pode ser enorme.
Certa vez perguntei a uma médica: Qual é a parte mais difícil do seu trabalho?
Não era o stress ou a responsabilidade. Era muito básico. "Fazer com que os meus doentes façam o que eu peço", disse ela.
A princípio não compreendi, mas quando ela me explicou, fez sentido.
"Tens uma consulta com um doente e dizes: 'Preciso que faça estas análises, marque uma consulta com este especialista, tome este medicamento'. E os doentes voltam passado um mês e não fizeram nada." Ou não podiam pagar, ou era demasiado intimidador, ou não tiveram tempo.
Ela explicou-me que tornar-se uma médica melhor significava passar mais tempo a gerir os seus doentes em vez de cuidar das suas doenças. Há uma enorme diferença, disse ela, entre um especialista em medicina e um especialista em saúde.
Um especialista em medicina sabe todas as respostas certas do livro. Conseguem diagnosticar com precisão e estão ao corrente de todos os tratamentos mais modernos.
Um especialista em saúde sabe que a medicina, do ponto de vista do doente, é assustadora, confusa, cara e demorada. Nada do que o médico diagnostica ou prescreve importa até que essa realidade seja abordada com os doentes, porque, mesmo uma solução perfeita não faz qualquer efeito no doente que não a segue.
Tantas coisas na vida funcionam assim. Investimentos, relacionamentos, saúde, carreiras. Em cada uma delas, saber o que devemos fazer não é assim tão difícil - fazê-lo é que exige mover montanhas.
Em muitos casos, isto é causado pelo apelo dos hacks - atalhos e truques para conseguir o que queremos sem pagar o preço. O doente não quer comer melhor e fazer exercício; querem um comprimido que resolva tudo. O investidor não quer esperar uma década para que o seu dinheiro capitalize; querem uma ação que duplique na semana seguinte.
Mas o mundo real abomina hacks e, em vez de uma vitória fácil, aqueles que os perseguem geralmente acabam com prejuízos. Vivemos assim num mundo onde as soluções para os problemas podem ser surpreendentemente simples, mas fazer com que as pessoas sigam conselhos simples pode ser incrivelmente difícil.
Isaac Asimov disse: "A ciência acumula conhecimento mais rapidamente do que a sociedade acumula sabedoria", o que resume muitas coisas muito bem.
15. Somos maus a imaginar como será a mudança porque, nos sonhos, não há contexto.
Quando as coisas estão a correr bem, todos acreditam ter uma alta tolerância ao risco. Depois as coisas pioram e dizemos: "Ah, sabes, isto, na verdade, dói mais do que eu pensava".
Quando pensamos nos riscos futuros, tendemos a pensar isoladamente. Se imaginarmos uma queda de 40% no mercado, imaginamos que tudo no mundo está igual, exceto que as ações estão 40% mais baratas. Isso não parece assim tão mau. Mas a razão pela qual as ações caem 40% é provavelmente porque as pessoas pensam que o mundo está a desmoronar-se - uma recessão brutal, uma pandemia, um colapso político, seja o que for. O stress que isto provoca é muito mais difícil de imaginar até que acontece.
A mesma coisa acontece quando imaginamos um ganho.
Acho que ainda não conheci ninguém que atingiu um sucesso desmedido que seja tão feliz como alguém que não o conhece poderia imaginar. Isto não significa que o sucesso não proporcione orgulho, contentamento ou independência. Mas raramente é aquilo que imaginávamos antes de o conquistar.
Jim Carrey declarou certa vez: "Acho que todos deveriam ficar ricos e famosos e fazerem tudo aquilo com que sempre sonhou para poderem ver que isto não é a resposta".
Acho que isto é parcialmente a mesma razão pela qual prever as perdas é difícil: imaginar o contexto completo é duro.
Se imaginar o seu "eu" futuro a viver numa mansão, imagina-se a deliciar-se no esplendor e tudo a corre bem. O que é fácil de esquecer é que as pessoas em mansões também apanham gripes, têm psoríase, envolvem-se em ações judiciais, discutem com os cônjuges, são assoladas por inseguranças e irritam-se com os políticos - e isto pode, a qualquer momento, substituir qualquer alegria que vem do sucesso material. As fortunas futuras são imaginadas num vácuo, mas a realidade é sempre vivida com o bem e o mal juntos, a competir por atenção.
16. Estamos cegos para o quão frágil é o mundo devido à nossa incompreensão dos eventos raros.
John Littlewood foi um matemático que procurou desmascarar a ideia de que os milagres eram algo mais do que simples estatísticas.
O físico Freeman Dyson explica:
"A lei dos milagres de Littlewood afirma que, no decurso da vida de qualquer pessoa normal, acontecem milagres a uma taxa de aproximadamente um por mês.
A prova da lei é simples. Durante o tempo em que estamos acordados e ativamente ocupados a viver as nossas vidas, cerca de oito horas por dia, vemos e ouvimos coisas a acontecer a uma taxa de uma por segundo. Portanto, o número total de eventos que nos acontecem é de cerca de 30.000 por dia, ou cerca de um milhão por mês.
Estes eventos, com poucas exceções, não são milagres porque são insignificantes. A probabilidade de um milagre é de cerca de um por milhão de eventos. Portanto, devemos esperar que um milagre aconteça, em média, a cada mês."
A ideia de que acontecem coisas incríveis por causa de estatísticas aborrecidas é importante, porque também é verdade para coisas terríveis.
Pense em eventos que, teoricamente, acontecem uma vez a cada 100 anos. Inundações, furacões, terramotos, crises financeiras, fraudes, pandemias, colapsos políticos, recessões económicas e assim por diante sem parar. Muitas coisas terríveis podem ser chamadas de "eventos de 100 anos".
Um evento de 100 anos não significa que acontece apenas uma vez em cada 100 anos. Significa que há cerca de 1% de probabilidade de ocorrer em determinado ano. Isto parece uma probabilidade baixa. Mas quando existem centenas de diferentes eventos independentes de 100 anos, quais são as probabilidades de que qualquer um deles ocorra num determinado ano?
Bastante elevadas, na verdade.
Se no próximo ano houver 1% de probabilidade de uma nova pandemia desastrosa, 1% de probabilidade de uma depressão incapacitante, 1% de probabilidade de uma inundação catastrófica, 1% de probabilidade de colapso político e assim por diante, então as probabilidades de que algo mau irá acontecer no próximo ano - ou em qualquer ano - são... desconfortavelmente elevadas.
A Lei de Littlewood diz-nos para esperar um milagre a cada mês. O reverso da medalha é esperar um desastre com a mesma frequência.
Que é o que a história nos diz, não é?
A história é "apenas uma maldita coisa atrás da outra", disse Arnold Toynbee. O livro de Dan Carlin, The End is Always Near, destaca períodos - de pandemias a guerras nucleares - em que parece que o mundo está a acabar. As crises existem em todas as épocas, todos os continentes, todas as culturas. As más notícias são a norma.
Mesmo durante aqueles que recordamos como períodos prósperos, como as décadas de 1950 e 1990, havia uma cadeia contínua de luto. Ajustado para o crescimento populacional, mais americanos perderam os seus empregos durante a recessão de 1958 do que em qualquer mês da Grande Recessão de 2008. O sistema financeiro global quase desmoronou em 1998, durante o maior boom de prosperidade que já vimos.
O mundo sofre uma crise brutal, em média, uma vez a cada dez anos. Para o seu país, estado, cidade ou empresa, uma vez a cada um ou três anos é provavelmente mais comum.
Às vezes parece um azar terrível, ou que as más notícias ganham um novo impulso. Mais frequentemente, é apenas a Lei de Littlewood em ação. Inúmeras coisas diferentes podem correr mal, assim pelo menos uma delas está a causar estragos quase permanentemente.
17. A incapacidade de aceitar problemas, coisas sem sentido e ineficiência frustra as pessoas que não conseguem aceitar como o mundo funciona.
Antes de publicar The Legend of Bagger Vance, Steven Pressfield já escrevia há 30 anos. Até essa altura, a sua carreira literária era obscura e Pressfield chegou até a viver numa "casa de passagem" para poupar na renda.
Certa vez, Pressfield falou sobre as pessoas que conheceu enquanto lá vivia:
"As pessoas daquela "casa de passagem", costumávamos ficar na cozinha a conversar a noite toda, eram das pessoas mais inteligentes que eu alguma vez conheci e as mais engraçadas e interessantes.
E o que eu concluí ao conviver com elas e com outras em situação semelhante foi que elas não eram loucas. Eles eram, na verdade, pessoas inteligentes que viam para além da "treta" da sociedade. E por causa disso, não conseguiam "funcionar" no mundo.
Não conseguiam manter um emprego porque simplesmente não aguentavam a "treta" e foi assim que acabaram em instituições. A sociedade concluiu: "Bem, estas pessoas são refugo absolutas. Eles não conseguem encaixar-se." Mas, na realidade, elas eram as pessoas que viam tudo."
Este pode não ter sido o ponto de vista de Pressfield, mas isto recorda-me de algo em que acredito há muito tempo e é uma perceção de como tantas pessoas pensam.
Se reconhecemos que a "treta" é omnipresente, então a questão não é "Como consigo evita-la?" mas, "Qual é a quantidade que eu consigo aguentar e ainda assim, funcionar num mundo confuso e imperfeito?"
Se a tolerância é zero - se é alérgico a diferenças de opinião, incentivos pessoais, emoções, ineficiências, falta de comunicação e por aí adiante - as suas hipóteses de ter sucesso em qualquer coisa que exija outras pessoas são zero. Não consegue funcionar no mundo, como diz Pressfield.
Na minha opinião, muitas pessoas não têm tolerância suficiente para "treta". Não estão no nível que Pressfield descreve. Mas há uma lacuna entre as suas expectativas e a realidade de como o mundo funciona.
O que as pessoas ignoram é que existem coisas más que se tornam problemas ainda maiores quando tentamos eliminá-las. Acho que as pessoas mais bem-sucedidas sabem reconhecer quando uma determinada aceitação supera a pureza.
O roubo é um bom exemplo. Uma mercearia poderia eliminar totalmente o roubo se revistasse todos os clientes que saíam da loja. Mas depois ninguém compraria lá. Portanto, o nível ideal de roubo nunca é zero. Aceitamos um determinado nível como um custo inevitável do progresso.
Uma capacidade única, e subestimada, é identificar a quantidade ideal de problemas e palermices que toleramos para progredir.
Franklin Roosevelt - o homem mais poderoso do mundo cuja paralisia fazia com que frequentemente os seus assistentes tivessem que o ajudar no quarto de banho - disse certa vez: "Se não consegues usar as pernas e te trazem leite quando querias sumo de laranja, aprendes a dizer "muito obrigado" e bebes."
Cada setor e carreira é diferente, mas há um valor universal nesta mentalidade, aceitar os problemas quando a realidade o exige.
Seja dono do seu destino.
Construa connosco um futuro financeiro seguro e tranquilo.
Conquiste a sua independência financeira e alcance os seus objetivos de Vida.
Abdicar de consumir hoje para ter muito mais no futuro e ter liberdade para tomar decisões:
- Comprar a casa com que sempre sonhou;
- Proporcionar uma educação melhor aos filhos;
- Deixar um trabalho de que não gosta ou criar o seu próprio negócio;
- Assegurar uma reforma confortável;
- Deixar um legado à geração seguinte;
- Ou o que quer que lhe dê motivação e o faça feliz.
Artigo anteriormente publicado no blog Contrarian Edge, em 19 de maio de 2022
6 motivos para a inflação estar tão elevada
A guerra na Ucrânia provavelmente vai atirar mais gasolina no já violento fogo inflacionário, ameaçando levar a economia global à estagflação. A estagflação é a desaceleração da atividade económica causada pela inflação.
Antes de entrarmos nas entranhas confusas da estagflação, vamos recapitular o que está a acontecer nos Estados Unidos e nas economias globais.
Petróleo
Em primeiro lugar, os preços mais elevados nas matérias-primas. Mesmo antes da pandemia, a oferta de petróleo e gás estava a ser constrangida pela queda nos investimentos, causada pelos baixos preços do petróleo e do gás natural e o facto de os petrocarbonos estarem a cair em desuso devido ao culto ESG. A pandemia provocou uma nova queda de investimentos no setor. A invasão da Ucrânia pela Rússia forçou o mundo a "explusar" o terceiro maior produtor mundial de petroquímicos da modernidade.
O mercado do petróleo tem uma dinâmica ligeiramente diferente do mercado de gás natural. O petróleo é uma matéria-prima fungível e é facilmente transportada por petroleiros e, portanto, pode ser (relativamente) facilmente redirecionada de um cliente para outro. Por exemplo, se a China comprava petróleo da Arábia Saudita e agora compra petróleo da Rússia, o petróleo que a China deixou de comprar da Arábia Saudita pode agora ser comprado pela Alemanha. Dito isto, a Rússia produz crude pesado e os sauditas produzem crude leve, o que significa que as refinarias precisam de ser adaptadas e isso leva meses.
As sanções ao petróleo só terão impacto na economia russa se todos deixarem de comprar petróleo russo. Se todos os países adotarem as sanções, cerca de 8 milhões de barris por dia serão removidos do mercado. Isto é muito petróleo, se considerarmos que o mundo consome cerca de 88 milhões de barris por dia.
Ainda não é totalmente claro se a China e a Índia, o maior e o terceiro maior importador de petróleo, continuarão a comprar quantidades significativas de petróleo da Rússia, uma vez que isso poderá prejudicar as suas relações com o Ocidente. Nenhum país gosta que lhes digam o que fazer pelo Ocidente. Eles têm os seus próprios interesses económicos a considerar, mas o comércio com os EUA e a Europa é significativamente maior do que com a Rússia.
Aparentemente, os dois países estão a distanciar-se lentamente da Rússia. Por exemplo, a rede chinesa de cartões de crédito UnionPay cortou discretamente o seu relacionamento com a Rússia. Embora a Rússia tenha uma rede interna de cartões de crédito chamada Mir, uma vez que a Rússia foi isolada das redes Visa e Mastercard e agora da UnionPay, os russos não têm agora acesso a uma forma fácil de gastar dinheiro quando viajam para o estrangeiro.
Esta guerra tem sido uma publicidade horrível para as armas russas, e a Índia poderá, muito provavelmente, decidir mudar para armas ocidentais, o que a aproximaria do Ocidente.
No curto prazo, o fornecimento de petróleo da Rússia para o mercado mundial provavelmente diminuirá; é difícil dizer quanto. A procura por petróleo russo caiu claramente, já que o preço (Urais) caiu 30%, enquanto que os preços globais do petróleo estão a atingir novos máximos.
No longo prazo, as perspetivas para o petróleo da Rússia parecem ainda pior. Havia uma boa razão pela qual as empresas ocidentais participavam nos projetos petrolíferos russos. Não era o amor pelo Ocidente que motivava a Rússia a partilhar as receitas do petróleo com a BP e a Exxon. As empresas ocidentais traziam conhecimentos técnicos essenciais às exigentes explorações russas de petróleo e gás natural. Com o Ocidente a abandonar a Rússia, a produção de petróleo e gás a longo prazo provavelmente diminuirá, mesmo que a China e a Índia continuem a comprar petróleo e gás russos.
Gás
Chamem-me Sr. Óbvio, mas vou dizê-lo na mesma: o gás natural é um gás e o petróleo é um líquido. O transporte de gases é muito mais complicado do que o transporte de líquidos. O gás natural pode ser transportado de duas formas: através de gasodutos (a forma mais barata e eficiente, mas que leva anos a construir) e por navios de LNG. LNG significa liquified natural gas (gás natural liquefeito) - o gás é arrefecido até a -160 graus centígrados e transformado em líquido. A Europa Ocidental, especialmente a Alemanha, depende fortemente do gás russo, que hoje é transportado para a Europa através de gasodutos.
Nota de rodapé: No futuro, quando colocarem o vosso sustento nas mãos de políticos bem-intencionados, lembrem-se de que os políticos alemães, no seu fervor de se tornarem verdes, abandonaram a energia nuclear, que produz zero CO2, mudou para energia eólica e solar "verdes" intermitentes (e recorreu ao carvão) e atou o seu futuro a um ditador russo que anda a cavalo de tronco nu.
Alguns países europeus mais pequenos estão já a abandonar o gás russo. A Alemanha e a Itália, os maiores consumidores de gás russo, prometem que conseguem desvincular-se do gás russo em menos de dois anos. Esta tendência vai continuar; simplesmente não vai acontecer do dia para a noite (ou em dois anos). Chamem-me cético, mas acredito que vai levar muito tempo até que a Europa abandone completamente o gás natural russo, uma vez que a construção de terminais de LNG leva anos, assim como aumentar a produção de gás natural.
Os preços do petróleo e gás natural provavelmente manter-se-ão em níveis elevados ou até poderão subir ainda mais nos próximos anos, e a produção de gás natural e petróleo dos EUA provavelmente terá que aumentar substancialmente.
Comida
A segunda nova fonte de inflação são os alimentos. É uma preocupação significativa para nós. A Rússia e a Ucrânia produzem cerca de 15% do trigo mundial. Representam cerca de um terço das exportações globais de trigo (ou cerca de 7% do consumo global de trigo). A Rússia proibiu as exportações de trigo. A temporada de plantio na Ucrânia provavelmente foi perturbada pela guerra. A oferta global de trigo pode diminuir até 7%. Isto parece um número enorme, mas não está fora dos limites da volatilidade histórica causada por secas e outros desastres naturais, que historicamente fizeram subir os preços do trigo em alguns pontos percentuais.
Não é isso que nos preocupa.
O que nos preocupa são é a subida vertiginosa dos preços dos fertilizantes com nitrogénio e potássio desde o início da guerra. A Rússia e a Bielorrússia são o segundo e terceiro maiores exportadores de potássio utilizado para fabricar fertilizantes potássicos (o Canadá é o maior produtor). O fertilizante de nitrogénio é feito a partir do gás natural. Os preços do gás natural subiram muito. Os elevados preços dos fertilizantes levarão a um aumento significativo nos preços de todas as calorias, do milho ao abacate e à carne.
A inflação nos alimentos afeta os países pobres e os pobres nos países ricos de uma forma desproporcional. Os consumidores dos EUA gastam 8,6% do seu rendimento disponível em comida (na década de 1960, gastavam 17%). Nos países pobres, esta percentagem é significativamente maior. Por exemplo, o ucraniano médio gasta 38% do rendimento disponível em comida. Os preços dos alimentos estão a subir, mas receio que ainda estejamos no início.
Taxas de Juro
A terceira nova fonte de inflação são as taxas de juros mais elevadas, que tornam todos os bens comprados com crédito mais caros, desde máquinas de lavar e secar a carros e casas. Na última década, habituámo-nos ao crédito barato e abundante. Se a inflação se mantiver nestes níveis elevados, o crédito barato tornar-se-á uma relíquia do passado. As taxas do crédito à habitação já quase duplicaram relativamente aos mínimos de 2021 - os créditos à habitação a 30 anos estão perto dos 5,1% no momento em que escrevo isto. O preço médio das casas nos Estados Unidos é de 428.000 dólares (antes da pandemia, cifrava-se nos 330.000 dólares). O aumento do juro de 2,7% para 5,1% custará ao consumidor médio 7.000 dólares por ano, ou seja, 12% do rendimento médio total anual de 61.000 dólares. Cerca de um terço do país não possui casa, mas arrenda. As rendas aumentaram 11,3% em 2021 e continuam a aumentar em 2022.
Agora, se somarmos o aumento dos preços da energia (gasolina e aquecimento), a inflação dos alimentos e o custo mais alto de qualquer coisa que precise de ser financiada, vemos como o consumidor está a ser pressionado de todas as direções. Os números de inflação "massajados" pelo governo mostram um aumento de 7 a 9% nos preços. Acredito que estes números são baixos, apesar de se terem batido recordes com várias décadas. Um número mais realista é muito mais elevado, como indicam os números da inflação nas importações e exportações, que não são ajustados pelo governo e se cifram em 12 a 18%.
Problemas nas Cadeias de Fornecimento
Outro responsável pela inflação mais elevada são os problemas nas cadeias de fornecimento. A China está a sofrer uma nova paralisação parcial na sua economia. Putin fez-nos esquecer o coronavírus, mas o coronavírus não nos esqueceu a nós. A China - a fonte original do Covid-19 - sofreu um dos menores números per capita de infeções e mortes por Covid. A desvantagem é que, por causa disso, a China tem uma imunidade de grupo muito reduzida. E embora a China tenha vacinas fabricadas localmente, elas não são muito eficazes e a China recusa-se a importar vacinas ocidentais.
O presidente Xi apostou a sua reputação numa política de "Covid Zero". Esta política está atualmente a ser duramente testada. A China está a confinar cidades do tamanho de grandes países europeus para impedir que o vírus se espalhe. Como a China produz muitas das coisas que consumimos, vão produzir menos. Os problemas de fornecimento "transitórios" da China persistirão e aumentarão a inflação.
Desglobalização
Finalmente, a Guerra na Ucrânia acelerou a desglobalização. A globalização foi um grande tsunami deflacionário. A pandemia expôs a fragilidade do nosso alardeado stock just-in-time e das cadeias de fornecimento global. A guerra na Ucrânia recordou ao Ocidente que o sistema de comércio global é construído com base na premissa de que não entramos em guerra com os nossos parceiros comerciais. A guerra na Ucrânia quebrou essa premissa e acelerou o ritmo da desglobalização seletiva, o que levará, no longo prazo, a preços mais altos em tudo.
Artigo publicado originalmente no blog Enterprising Investor em 20 de maio de 2022
Lições sobre Vieses Comportamentais: Os Mercados Acionistas e o Covid-19
Ao longo dos últimos dois anos, os mercados acionistas, dependendo de quem questionamos ou quando, têm sido bastante stressantes ou estimulantes.
No entanto, para os aficionados das finanças comportamentais, os mercados de ações da era COVID-19 ofereceram-nos uma rara oportunidade de testemunhar uma sequência quase interminável de vieses comportamentais em ação.
De facto, podemos traçar linhas retas de vários fenómenos de mercado, que observámos desde março de 2020, para vieses, ou conjuntos de vieses, comportamentais.
Ficar de fora
Um erro que os investidores cometeram no início da pandemia foi não comprar nomes de qualidade após a queda inicial. Com certeza, comprar empresas de cruzeiros e outras empresas que estavam no caminho direto das interrupções relacionada com a pandemia dificilmente seria justificável, mas muitas empresas que sofreram acentuadas correções tinham já um longo histórico de atividade altamente lucrativa em vários ciclos de mercado. Eram máquinas geradoras de dinheiro com balanços fortes, marcas poderosas, bases de clientes amplas e leais, poder de preço significativo, fossos amplos etc. A pandemia não conseguiria afundá-los. A procura iria recuperar.
Então, por que motivo tantos de nós - incluindo eu - hesitaram e perderam a oportunidade de uma vida? Devido a uma miscelânea dos seguintes preconceitos:
Os enormes programas de estímulo monetário e fiscal que tiveram início em março de 2020, combinados com o fenómeno do trabalho remoto (WFH) garantiram que muitas ações de "ficar em casa" se tornariam grandes vencedores da pandemia.
Apesar das subidas brutais, no entanto, muitas delas eram empresas deficitárias com preços absurdos, mesmo em abril de 2020. Ficou também claro que a procura estava a ser exacerbada e que o estupendo crescimento de receitas alcançado durante a pandemia era insustentável a médio e longo prazo.
Então, por que razão tantos de nós entraram no carrossel e recusaram sair?
- Aversão Miópica às Perdas: Focamo-nos em demasia nas perdas de curto prazo e subestimamos o potencial de ganhos do longo prazo. Isto leva-nos a evitar ativos que passaram recentemente por períodos de volatilidade extrema.
- Viés da Extrapolação ou Continuação: este viés também teve o seu papel. Como estávamos na montanha-russa da volatilidade, assumimos que a volta ainda não tinha acabado, assumimos que continuaria para sempre.
- Aversão ao Arrependimento: Este foi outro viés importante. Temíamos as consequências dos erros de omissão, de não comprar a ação certa, com a mesma intensidade que temíamos as consequências de comprar a ação errada. Muitos de nós ficamos nas margens.
Perseguir os vencedores da pandemia
- Viés da Auto-Promoção: Quem merece crédito pelo nosso sucesso? Nós. Se compramos a Peloton e a ação quadruplica em seis meses, foi por causa do nosso génio na escolha de ações, e não por pura sorte ou devido a um mercado alimentado com dinheiro barato.
- Comportamento de Rebanho: Tal como um cardume nada na mesma direção, nós, humanos, imitamos o comportamento dos outros. Na dúvida, seguimos a multidão para formar as nossas opiniões ou tomar decisões rápidas. E isto é especialmente verdadeiro numa bolha ou numa crise.
- Viés da Confirmação: Ao tomar decisões, escolhemos a informação que consumimos e gravitamos em torno dos dados que as validam. Rodeamo-nos assim das pessoas e dos media que nos dizem o que queremos ouvir. De abril a outubro de 2020, os media de informação financeira alardearam os vencedores da pandemia, os Pelotons e os Zooms. Uma famosa newsletter sobre investimentos que eu subscrevo escrevia apenas sobre esse tipo de ações, falando sobre os aspetos positivos e ignorando os negativos.
Ignorar os sinais da inflação
Poucos esperavam que a inflação subisse tanto ou permanecesse elevada tanto tempo.
Subestimámos a magnitude do consumo excessivo de bens de consumo durante os confinamentos e sobrestimamos a solidez e a resiliência das cadeias de fornecimento globais. E os choques do lado da procura e da oferta levaram a inflação a máximos de 40 anos.
Por que motivo não detetámos estes sinais? Porque a inflação mal se mexeu nos últimos 10 anos. A flexibilização quantitativa maciça (Quantitative Easing) no rescaldo da crise financeira global e o nível de desemprego em mínimos históricos tiveram pouco efeito inflacionário. Como a inflação não aumentava há tanto tempo, assumimos que nunca mais aumentaria. Se 4,5 triliões de dólares não o conseguiram, que diferença fariam uns triliões mais?
- Viés da disponibilidade: é assim que os economistas comportamentais chamam a isto. Tudo se resume aos três Rs: Recordamos o que é Recente e consideramos isso Relevante. Os dois primeiros Rs são bons, mas o último é um desastre. Muitos de nós não estávamos vivos durante a última estagflação, quando as taxas de juros atingiram 20%, no início dos anos 1980, e conhecemos apenas a inflação bastante benigna que tem sido a história desde que Paul Volcker domou o dragão em 1982. Portanto, estávamos convencidos que o futuro seria semelhante ao passado recente.
O Efeito Robinhood
Lembram-se da mania das meme stocks, no início de 2021? Quando Jim Cramer e companhia não paravam de falar sobre a GameStop, Hertz e AMC? As ações da AMC saltaram 250% em cinco dias e a GameStop disparou de cerca de 17 dólares para 350, em janeiro de 2021.
O subreddit Wall Street Bets foi o grande responsável. O fórum cresceu 400% em menos de uma semana, de dois milhões de utilizadores para mais de oito milhões. Muitos membros do fórum nunca tinham investido em ações.
Os cheques dos estímulos governamentais engordaram as contas bancárias e essas ações foram levadas a níveis ridículos. Vários hedge funds shortaram alguns dessas ações e muitos investidores de retalho viram nisso uma oportunidade de se vingarem dos tubarões. Alguns desses hedge funds foram apagados no short squeeze que se seguiu. Mas, passados alguns meses, as meme stocks colapsaram, deixando muitos investidores com enormes prejuízos.
- Comportamento de Rebanho: Novamente, estávamos a seguir a multidão. Só que desta vez, potenciado por uma onda de contágio social.
- Viés do Enquadramento: As decisões de investimento não eram tomadas com base em factos, mas na forma como as informações eram apresentadas ou "enquadradas". A narrativa populista do David vs. Golias dos pequenos investidores de retalho a enfrentar os tubarões hedge funds era demasiado atrativa para ser ignorada.
Céticos da vacina
O desenvolvimento de uma vacina demora muito tempo. Dez a 15 anos era o tempo habitual pré-pandemia. Poucos esperavam vacinas contra o COVID-19 menos de um ano após os primeiros confinamentos. Prevíamos que a pandemia durasse muito mais tempo.
Não vimos todo o progresso no terreno. Os cientistas já estudavam os coronavírus há mais de meio século. A tecnologia médica tornou-se tão avançada e os computadores tão poderosos que o genoma do SARS-CoV-2 foi sequenciado à velocidade da luz.
Os voluntários fizeram fila e os ensaios clínicos foram concluídos rapidamente. A Food and Drug Administration (FDA) dos EUA simplificou o seu processo de aprovação. Em vez do processo habitual de 10 meses para um novo medicamento, a FDA colocou as vacinas contra o coronavírus na frente da fila. A vacina da Pfizer foi avaliada e autorizada em apenas 21 dias.
- Viés do Conservadorismo: Preferimos informação pré-existente em detrimento de novos dados. Isso pode tornar-nos lentos na reação a informações novas e críticas.
- Viés do Ancoramento: Ao tomar decisões, muitas vezes concentramos nosso foco em um ponto de referência. Confiamos demais na primeira informação que encontramos. Isso pode consolidar uma narrativa em nossas mentes da qual temos dificuldade em romper, mesmo diante de dados mais novos e melhores. Com as vacinas, nos ancoramos nessa janela estendida de desenvolvimento de vacinas.
Vigiar os nossos próprios vieses
O mercado acionista durante a pandemia foi um verdadeiro festival de vieses. Mas foi também foi uma ótima experiência de laboratório. A grande lição a retirar é que quanto mais conseguirmos eliminar os vieses do nosso processo de investimento, melhores serão os nossos retornos.
A pergunta é: vamos aprender com o mercado acionista da pandemia? Esperemos que sim. Mas não apostemos nisso. As nossas memórias são assustadoramente curtas. É por isso que é útil manter um diário dos erros que cometemos para nos ajudar a recordar as motivações e os processos de pensamento por trás das decisões de investimento que não correram bem. O meu diário pessoal cresceu muito desde março de 2020. No entanto, é um recurso valiosíssimo e vou refletir nestes vieses durante muito tempo.
Ou então, provavelmente, isto é apenas outro viés.
Publicado originalmente no blog TKR by Sam Ro em 15 de maio de 2022
Uma Verdade sobre os Investimentos
As grandes quedas são desagradáveis, mas fazem parte do investimento.
O mercado acionista continua a cair.
Antes de subir na sexta-feira, o S&P 500 registou um mínimo de fecho nos 3.930,08 pontos, na quinta-feira - uma queda de 18,1% face ao máximo histórico de fecho de 4.796,56 pontos em 3 de janeiro.
Se considerarmos o mercado intradiário, o S&P bateu o mínimo de 3.858,87 na quinta-feira, uma queda de 19,9%, face ao máximo intradiário de 4.818,62, em 4 de janeiro.
Tecnicamente falando, as ações não entram num bear market até que os preços caiam pelo menos 20% dos máximos. E para a maioria dos observadores de mercado, esse cálculo é feito com base nos preços de fecho. Na realidade, tudo isto não passa de semântica sobre números redondos e erros de arredondamento.
Não importa como olhamos para isto, o mercado de ações caiu muito.
Aprender com a história
Poderíamos ficar aqui a discutir todos os motivos por que os mercados de hoje são, ou não, como os bull e bear markets históricos, mas é pouco provável que cheguemos a uma conclusão definitiva. Vamos, no entanto, fazer uma rápida análise do desempenho histórico dos mercados.
Tecnicamente, estamos no terceiro ano de um bull market que começou em 23 de março de 2020.
Ryan Detrick, estratega-chefe de mercado da LPL Financial, analisou a História e concluiu que três dos 11 bull markets desde a Segunda Guerra Mundial terminaram no seu terceiro ano. Portanto, do ponto de vista da duração, não seria muito incomum que as ações atravessassem um bear market antes de março de 2023.
Quanto à duração: historicamente, as correções no mercado de ações (isto é, quando o mercado cai mais de 10%, mas menos de 20%) tiveram uma duração média de 133 dias, desde o máximo ao mínimo, de acordo com dados compilados por Detrick.
A correção atual já dura há 131 dias, o que a coloca já muito perto da duração média.
Uma vez que estamos muito próximos daquilo a que tecnicamente chamamos bear market, talvez seja um bom momento para falar sobre os bear markets da história. Ben Carlson, diretor de gestão de ativos institucionais da Ritholtz Wealth Management, revisitou os dados históricos:
Desde 1950, o bear market médio durou 338 dias (com um intervalo de 33 a 929 dias) e o S&P 500 caiu em média 30,2% (com uma queda máxima de 56,8%).
Vale a pena notar que muitos bear markets - mas não todos - vieram acompanhados de recessões económicas. E, como você seria de esperar, os bear markets com recessões tendem a ser piores.
Carlson concluiu que, desde 1929, os bear markets recessivos duraram em média 390 dias, do topo ao fundo, com as ações a cairem em média 39,4% durante esse período. Em contrapartida, os bear markets não recessivos duraram em média 202 dias, com as ações a cair em média 26,1%.
Os investidores devem contar com isto
Grandes quedas no mercado acionista são normais. Historicamente, o S&P tem assistido a recuos intra-anuais (no mesmo ano civil) médios de 14%. Nalguns anos, os recuos são mais brandos. Noutros, são piores.
Tudo isto tem a ver com duas realidades conflituantes com as quais os investidores devem lidar: no longo prazo, as coisas quase sempre funcionam para melhor, mas no curto prazo, tudo pode correr mal. É isto que é investir no mercado de ações.
Uma nota sobre o momento atual...
Os dados económicos continuam muito fortes e continuam a existir fortes ventos favoráveis que sugerem que o crescimento manter-se-á.
Da mesma forma, as expectativas de crescimento dos lucros têm vindo a melhorar. Se a isto juntarmos os preços em queda, significa que as avaliações estão cada vez mais atrativas.
Na sexta-feira, segundo o FactSet, o PER no S&P 500 era de 16,6 - abaixo da média de 10 anos de 16,9.
Esta combinação de crescimento económico resiliente, crescimento dos lucros e avaliações atraentes faz com que, pelo menos alguns profissionais de Wall Street, aconselhassem os clientes a assumir riscos.
E a história diz que quedas como a que estamos a assistir são frequentemente seguidas por fortes recuperações.
De acordo com dados de Benedek Vörös, diretor de estratégia de investimento em índices do S&P Dow Jones Indices, "uma queda de 15% ou mais [num período de cinco meses] no S&P 500 foi seguido por retornos positivos, nos 12 meses seguintes, em todas, exceto duas ocasiões nos últimos 65 anos, com um ganho médio de perto de 20%".
Obviamente que não existem quaisquer garantias de que estas métricas continuem a desenvolver-se favoravelmente. E é certamente possível que as ações continuem a cair, caindo, independentemente dos dados económicos.
Mas, de uma forma geral, as condições continuam a parecer favoráveis para os investidores com um horizonte temporal de longo prazo.
Este artigo foi originalmente publicado no blog do Stokes Family office em 17 de março de 2022.
Guerra Económica: Uma Breve História
A guerra Rússia-Ucrânia e as rondas subsequentes de sanções económicas vieram destacar o importante papel do dinheiro nos conflitos armados.
Ao longo dos séculos, as nações utilizaram o dinheiro como um meio de controlo e influência geopolítica. Os instrumentos financeiros e sanções económicas foram utilizados como qualquer outra arma.
De facto, a política externa do presidente americano William Taft ficou conhecida como a "Diplomacia do Dólar". No seu discurso sobre o Estado da União em 1912, o presidente Taft referiu explicitamente a permutabilidade das armas tradicionais e da dívida, explicando que o objetivo da sua política externa era "substituir as balas por dólares".
Este artigo recorre a casos de estudo históricos para demonstrar como, ao longo de vários séculos, o dinheiro foi utilizado como arma ou ferramenta geopolítica em conflitos.
PILHAGEM, SAQUES E CERCOS: A IMPORTÂNCIA DO DINHEIRO NO CONFLITO
A força financeira de um estado foi sempre um fator essencial na determinação de desfechos militares. No entanto, essa influência tornou-se mais pronunciada na Europa do século XVI. Considerando que 95% dos anos entre 1500-1599 na Europa aconteceram guerras, não é surpreendente que esse ponto de inflexão tenha acontecido na Europa do século XVI.
No entanto, por que motivo é que o dinheiro e as finanças se tornaram mais influentes para os desfechos militares especificamente neste período? A resposta está num conjunto de inovações tecnológicas conhecido como "Revolução Militar". Em particular, a introdução da pólvora alterou drasticamente a forma como os exércitos travavam a guerra. Os historiadores Gennaioli e Voth explicam:
"A disseminação dos canhões depois de 1400 significou que as muralhas medievais podiam ser rapidamente destruídas. Fortalezas que resistiram a cercos de um ano na Idade Média podiam cair em poucas horas. Em resposta, os engenheiros militares italianos criaram um novo tipo de fortificação - o traço italiano. Consistia em baluartes de terra, cobertos por tijolos, que conseguiam resistir a tiros de canhão.
A construção destas novas fortificações era imensamente dispendiosa. A existência de numerosos pontos fortes significava que as guerras muitas vezes se arrastavam por longos períodos de tempo - vencer uma batalha já não era o suficiente para controlar um território."
Em resumo, a pólvora facilitou o surgimento da guerra de canhões, o que levou à substituição das frágeis fortalezas existentes por fortificações mais fortes que conseguiam resistir ao fogo de canhão. Construir essas fortificações era dispendioso. No entanto, essas fortalezas mais fortes tornaram as batalhas mais longas, já que se tornou mais difícil destruir as fortalezas dos inimigos.
Num nível superior, as novas tecnologias como pólvora, canhões e armas de fogo exigiam que os soldados fossem treinados para conseguirem manuseá-las no campo de batalha. Essa necessidade operacional levou lentamente à criação de exércitos permanentes, que exigiam um maior investimento do estado. Consequentemente, os custos de organizar e manter um exército permanente eram escandalosamente caros antes mesmo de começar a guerra.
À medida que os custos de financiamento das forças armadas aumentavam, os países economicamente mais poderosos conseguiram uma vantagem significativa. O gráfico abaixo mostra o grau da vantagem que os países mais ricos possuíam durante a guerra, ao longo do tempo:
A GUERRA DA CONTRAFAÇÃO
A sua principal dependência não é das suas armas, acredito, mas sim da ausência das nossas receitas. Pensar que tomaram tais medidas, fazendo circular notas falsas, para depreciar a nossa moeda, para que ela não possa garantir o nosso crédito para além desta campanha. Contudo, eles estão enganados.
"John Adams"
À medida que o dinheiro se tornou mais influente no desfecho de conflitos militares, as nações em guerra rapidamente criaram estratégias para militarizar o dinheiro. Podemos encontrar um exemplo na Guerra Revolucionária, quando a Grã-Bretanha atacou o papel-moeda dos Estados Unidos ("continentais") inundando o mercado com notas falsas. O objetivo era destruir o valor desse papel-moeda causando inflação devido ao excesso de oferta de notas. Benjamin Franklin protestou:
"O papel-moeda era, naquela altura, a nossa moeda universal. Mas, sendo ele o instrumento com o qual combatíamos os nossos inimigos, resolveram privar-nos do seu uso desvalorizando-o; e o meio mais eficaz que foi falsificá-lo. Os artistas que empregaram fizeram um tão bom trabalho que vastas quantidades dessas falsificações, emitidas pelo governo britânico em Nova York, circularam entre os habitantes de todos os Estados, antes que fosse detetada a fraude.
Isto teve o efeito de desvalorizar a totalidade da massa monetária, primeiro pela vasta quantidade adicional e depois pela incerteza em distinguir o dinheiro verdadeiro do falso; e a desvalorização foi uma perda para todos e a ruína de muitos."
Os britânicos distribuíram notas falsas, fornecendo aos "Patriotas" desertores e aos "Lealistas" britânicos notas falsas para gastar em empresas locais. A operação de falsificação da Grã-Bretanha tornou-se tão grande e bem-sucedida que as penas por falsificação aumentaram significativamente. As autoridades americanas puseram as cabeças dos falsários a prémio e um desertor do 8º Regimento da Pensilvânia capturado com notas falsas foi condenado à morte por George Washington.
A contrafação por parte da Grã-Bretanha conseguiu desvalorizar a moeda americana e provocou inflação. Conforme se demonstra abaixo, o Índice de Preços ao Consumidor dos EUA atingiu 13,4% em 1778 e permaneceu acima de 10% de 1777 a 1781.
Este problema da moeda e da inflação teve o seu apogeu em 1781, quando 225 dólares em notas "Continentais" equivaliam a 1 dólar em espécie. Esta era uma situação terrível, já que o salário médio mensal dos soldados do exército continental era de apenas 5 dólares. Apesar de todos os danos causados por esta campanha de contrafação da Grã-Bretanha, havia um lado positivo: as inovadoras obrigações indexadas à inflação.
Para combater a inflação galopante que corroía o salário dos soldados, Massachusetts emitiu obrigações indexadas à inflação para os soldados como um método de "compensação diferida" pelo seu serviço em 1780. Com o objetivo de proteger os pagamentos das obrigações da inflação, os valores foram indexados a um índice de preços ao consumidor.
Qualquer gráfico recente do rublo russo prova que o conceito de atacar a moeda de um inimigo em tempos de conflito ainda é amplamente praticado.
SANÇÕES COM PEDRAS RAI
Voltando ao conflito atual, a decisão dos aliados ocidentais de cortar o acesso da Rússia às reservas de moeda estrangeira é uma sanção economicamente significativa. Putin contava com essas reservas para sustentar o rublo quando as sanções ocidentais inevitavelmente chegassem, o que faria com que a moeda russa caísse a pique. No entanto, tal como Matt Levine da Bloomberg tão eloquentemente explicou:
""Reservas em moeda estrangeira" não são um facto objetivo; são principalmente uma série de entradas em listas mantidas por emissores de moeda estrangeira e intermediários (bancos centrais, bancos correspondentes, emissores de títulos soberanos, corretoras, etc). Se essas pessoas o riscam da lista ou colocam um asterisco ao lado da sua entrada congelando os seus fundos, é impossível utilizar esses fundos."
Esta estratégia de bloquear o acesso a ativos financeiros importantes para enfraquecer um adversário não é nova. Na verdade, esta situação é semelhante à que aconteceu na ilha de Yap, no Pacífico. No entanto, devemos abordar, em primeiro lugar a singular moeda de Yap.
Os nativos de Yap utilizaram "pedras rai" como moeda durante séculos. Estas "pedras", contudo, são enormes discos de calcário que pesam até quatro toneladas e podem atingir os 3,5 metros de altura.
Os residentes de Yap viajavam de canoa até à ilha de Palau, rica em calcário, e "cunhavam" (extraíam) esta moeda bizarra. Depois do regresso a Yap, o chefe local avaliava publicamente cada pedra rai com base no seu tamanho e peso. Os locais compravam posteriormente as pedras rai em frente aos seus pares para que existisse uma "prova de transação" pública.
Embora estranho para os padrões modernos dos países economicamente desenvolvidos, este sistema funcionava para Yap. Quando Yap ficou sob administração alemã (colonização) no século XIX, no entanto, a singular moeda dos ilhéus sofreu problemas semelhantes aos que Vladimir Putin enfrenta hoje.
Quando as autoridades alemãs quiseram melhorar as estradas e caminhos em Yap, encontraram forte resistência dos moradores locais, que se recusaram a concluir quaisquer obras nas estradas. No entanto, os alemães não conseguiam multar os chefes Yap, pois quaisquer multas pagas em pedras rai eram inúteis para os cidadãos alemães. A solução alemã foi "confiscar" as pedras rai locais, marcando-as com um enorme "X" negro. Os alemães anunciaram que as pedras permaneceriam confiscadas até que os moradores terminassem as obras nas estradas de Yap.
Embora este seja um exemplo extremo e bizarro, esta história tem claros paralelos com a guerra económica moderna. Tal como Matt Levine apontou, o acesso a ativos financeiros como reservas em moeda estrangeira ou pedras rai pode ser restringido com um simples asterisco ou um "X" negro. A história da ilha Yap demonstra que o dinheiro tem sido utilizado como ferramenta de controlo e influência há centenas de anos.
GEOPOLÍTICA DA DÍVIDA
A História demonstra que a dívida soberana é muitas vezes inseparável da geopolítica. Por exemplo, no seu "Manifesto Financeiro" de 1905, os bolcheviques russos argumentavam:
"Existe apenas uma saída - derrubar o governo, privá-lo das suas últimas forças. É preciso isolar o governo da última fonte da sua existência: as receitas financeiras. É necessário fazê-lo, não apenas para a libertação política e económica do país, mas, em particular, para restaurar a ordem nas finanças governamentais.
Decidimos, portanto: Recusar os pagamentos para recompra das terras e todos os outros pagamentos ao Tesouro. Em todas as transações e no pagamento de salários e vencimentos, exigir ouro e, no caso de quantias inferiores a cinco rublos, moeda viva. Retirar depósitos das caixas económicas estaduais e do Banco do Estado e exigir o reembolso total em ouro.
A autocracia nunca desfrutou da confiança do povo e nunca dele recebeu qualquer autoridade".
A experiência da Bulgária no período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial é um caso de estudo informativo sobre a utilização da dívida como arma geopolítica.
ENTRE A ESPADA E A PAREDE: BULGÁRIA, PODERES EUROPEUS E DÍVIDA
Após ter alcançado a independência do Império Otomano em 1878, a Bulgária tornou-se imediatamente num campo de batalha financeiro onde diferentes alianças europeias se digladiaram. Para países mais pequenos e economicamente menos estáveis, como a Bulgária, garantir financiamento externo, através de empréstimos de grandes potências europeias, era fundamental para a sobrevivência. No entanto, esses empréstimos raramente eram transações financeiras diretas.
"A partir da década de 1890, o recebimento de financiamento foi vinculado explicitamente à adesão a um ou outro dos blocos militares que estavam a desestabilizar cada vez mais a política europeia... onde os interesses estratégicos dos credores e devedores estavam alinhados, podia-se falar de uma forma de 'império por convite'".
Por exemplo, aceitar um empréstimo da Rússia ou da França exigia o alinhamento de interesses com a aliança franco-russa e todas as consequências militares que isso acarretava. Se o país credor entrasse em guerra, o destino do país devedor estava ligado ao resultado da guerra. Se o país credor perdesse, o destino do país devedor poderia ser terrível. Portanto, países como a Bulgária eram forçados a avaliar os aspetos financeiros dos empréstimos estrangeiros (taxa de juros, etc.) e as consequências geopolíticas.
Para além disto, credores como a França, Rússia, Alemanha, Grã-Bretanha e Áustria-Hungria impunham frequentemente medidas de controlo significativas. Por exemplo, em 1902, a Bulgária aceitou um modesto empréstimo do banco Paribas em Paris que continha controlos dessa natureza.
O excerto abaixo é do relatório anual do Paribas de 1902:
"Juntamente com o Banco de Estado Russo, contratamos com o Governo do Príncipe da Bulgária um empréstimo de 5% em ouro garantido por taxas sobre o tabaco".
Em suma, o Paribas tinha direito às valiosas receitas tributárias da indústria do tabaco da Bulgária.
Esta intrusão estrangeira e a subjugação ao controlo externo era impopular na Bulgária. Os empréstimos que autorizavam potências estrangeiras a qualquer elemento de controlo foram veementemente debatidos no parlamento.
A divisão causada por estes empréstimos foi bem demonstrada em 1914, quando os bancos alemães ofereceram à Bulgária um empréstimo com cláusulas de controlo igualmente intrusivas. O debate na casa legislativa da Bulgária culminou em violência:
"O primeiro-ministro, que discursava em defesa do empréstimo [alemão] Disconto, foi atingido na cabeça por um livro arremessado por um oponente furioso.
Na confusão, os funcionários parlamentares não conseguiram escrutinar quem realmente estava presente na Câmara, e nunca se estabeleceu de forma conclusiva se o empréstimo alemão havia, na realidade, conquistado a maioria que o governo de Radoslavoff mais tarde reivindicou."
A decisão do governo búlgaro de aceitar este empréstimo foi desastrosa. Esta transação financeira e as "condições anexas" exigiam que a Bulgária se alinhasse com a Alemanha e as Potências do Eixo na Primeira Guerra Mundial, que acabaram por perder.
A utilização da dívida no exercício da influência geopolítica ainda é amplamente praticada. Recentemente, assistimos à China intervir para ajudar a Rússia depois de as sanções ocidentais terem afetado as suas finanças. Da mesma forma, a China instituiu em África uma política que alguns denominam "diplomacia da dívida armadilhada", sobrecarregando as nações com dívida e tomando posse de valiosos ativos estatais quando as empresas africanas deixam inevitavelmente de pagar a monstruosamente elevada carga da dívida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: A GUERRA DE SANÇÕES HOJE
Em 2008, num depoimento perante o Congresso, o então Secretário do Tesouro Henry M. Paulson declarou:
"Se temos uma bazuca e as pessoas sabem que a temos, talvez não seja necessário exibi-la."
Esta lógica também pode ser aplicada à utilização do dinheiro e das sanções económicas em conflitos. O comércio e o poder económico podem atuar como um substancial dissuasor para a guerra, uma vez que os países reconhecem as consequências económicas de iniciar conflitos com países mais poderosos e ricos (ou com aqueles que são parceiros comerciais importantes).
Este breve retrato histórico realça como o dinheiro e os instrumentos financeiros são apenas mais uma arma nos arsenais dos países. Seja ao atacar a moeda de um inimigo, restringir o acesso a ativos financeiros valiosos e/ou utilizando a dívida para exercer influência geopolítica, o dinheiro é uma ferramenta para exercer o poder.
Os métodos e meios pelos quais os países utilizam esta arma económica mudaram ao longo do tempo, mas os objetivos das sanções económicas hoje são os mesmos dos séculos passados: ferir o inimigo, ferindo a sua economia e restringindo o acesso às "linhas de vida" financeiras.
À medida que a prevalência das "guerras quentes" continua a diminuir, a guerra económica, ou seja, a militarização do dinheiro e das finanças, desempenha um papel cada vez mais importante na forma como as guerras são travadas.
Até 1999, os Estados Unidos não incluíam o software nos cálculos do PIB. Em 2006, a Microsoft era a empresa mais valiosa do mundo, com uma capitalização bolsista de 250 biliões de dólares. No seu balanço, constavam 3 biliões de dólares de ativos tradicionais, pouco mais de 1% do seu valor de mercado. O valor restante era justificado pelo design de produtos, ideias geradas pelo seu programa de Investigação & Desenvolvimento (I&D), a sua marca, a cadeia de fornecimento global, estruturas internas e o capital humano criado com a formação interna.Atualmente, o PIB americano ainda não inclui investimentos em pesquisas de mercado, branding e formação - ativos intangíveis em que as empresas investem biliões todos os anos. Esta é a nova economia e a percentagem destes investimentos na economia mundial não para de crescer.O livro Capitalism without Capital: The Rise of the Intangible Economy, de Jonathan Haskel e Stian Westlake, explica as diferenças fundamentais do investimento intangível e a sua importância. Os autores começam por definir ativos intangíveis como qualquer coisa em que não podemos tocar. A grande diferença, quando comparadas com a velha economia, é que as indústrias intangíveis têm dinâmicas muito diferentes em termos de velocidade de mudança, risco e competição e estes fatores são determinantes na forma como se avaliam estes negócios.O núcleo do livro é uma explicação dos Quatro S que diferenciam os investimentos intangíveis: scalability (capacidade de escalar o negócio), sunkenness (incapacidade de recuperar os custos), spillovers (efeitos de repercussão) e sinergias.Estas quatro propriedades aliam-se para criar duas características gerais adicionais. Em primeiro lugar, há uma maior incerteza quanto ao valor do investimento intangível relativamente ao investimento tangível. A combinação de sunkenness e spillovers pode significar que o investimento não terá retorno. Em alternativa, a combinação de sinergias e escala pode levar a sucessos inesperados que criam valor para os donos dos ativos intangíveis.Em segundo lugar, os intangíveis tendem a ser contestados. Tal como os autores explicam, as pessoas e negócios frequentemente disputam quem os controla, os possui ou beneficia com eles.Capitalism without Capital descreve também a ligação entre o aumento dos intangíveis e outros desafios estagnação, desigualdades crescentes e o impacto da alteração dos padrões de investimento nas políticas públicas. O livro reforça a necessidade de atuação dos legisladores para que se ajustem as políticas económicas de forma a refletir estas novas realidades, políticas de concorrência e questões fiscais.Os autores apresentam três cenários possíveis para o que poderá ser o mundo intangível do futuro e sugerem de que forma os gestores, investidores e políticos podem explorar as características de uma era intangível para potenciar os seus negócios, portefólios e economias.Este livro não é de leitura difícil, mas interpretar as suas muitas lições pode ser um desafio um desafio altamente recomendável para quem é investidor ou se interessa por o que pode ser o futuro.
Desde a primeira edição da nossa newsletter O Investidor Inteligente, temos vindo a recomendar um livro a todos os nossos leitores. Porque entendemos que a leitura deve ser vasta e abrangente, decidimos convidar personalidades de relevo nas mais variadas áreas de atuação para cumprir com este desígnio e proporcionar, assim, um roteiro e arquivo mais vastos para a Biblioteca da Casa de Investimentos e para todos aqueles que a acompanham.Na sua edição de abril, partilhamos a sugestão de Cláudia Ribeiro, Professora Auxiliar da Faculdade de Economia da Universidade do PortoPRINCIPLES OF SUSTAINABLE FINANCEO nosso planeta debate-se crescentemente com consequências imprevisíveis das mudanças climáticas e do esgotamento dos recursos naturais, tornando urgente a adoção de um modelo mais sustentável de vida humana na terra. Um modelo que suporte a transição para uma economia capaz de fazer uma utilização mais eficiente dos recursos e que, ao mesmo tempo, reduza drasticamente as emissões de carbono, preservando o planeta que queremos deixar como legado para as gerações futuras.O sistema financeiro, e todos os que nele participam, têm um papel importante a desempenhar nesse processo de transição: reorientando investimentos para tecnologias e negócios mais sustentáveis, financiando consistentemente o crescimento sustentável, contribuindo para o desenvolvimento de uma economia circular com baixas emissões de carbono e respeitadora do planeta, promovendo a transparência e uma visão de longo prazo nas atividades económicas e financeiras. Em Principles of Sustainable Finance, Dirk Schoenmaker e Willem Schramade analisam a importância que as Finanças Sustentáveis podem ter na alocação de recursos a necessidades individuais e sociais ao longo do tempo, no estrito respeito dos limites do planeta. Os autores analisam os desafios que o compromisso com a sustentabilidade representa para as empresas para depois desenvolverem as diferentes áreas das Finanças Sustentáveis: o investimento e a criação de valor de longo prazo (nos seus segmentos acionista e obrigacionista); a banca e as novas formas de concessão de empréstimos; os seguros e a gestão de riscos de longo prazo. Os autores falam-nos, ainda, sobre a sua implementação prática e a gestão da transição.... porque a sustentabilidade do nosso planeta a todos importa e todos deve implicar!Recomendação de leitura por Cláudia RibeiroCláudia Ribeiro é Doutorada em Finanças pela Universidade de Warwick - Warwick Business School, Professora Auxiliar da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, Investigadora do CEF.UP (Center for Economics and Finance at UPorto), Professora convidada e consultora da Porto Business School, Membro dos Conselhos Fiscais do Banco Português de Investimentos e do BPI Private Equity Sociedade de Capital de Risco. Foi Vice-Reitora da Universidade Europeia, Associate Dean da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, Membro do Conselho Geral da Porto Business School, Consultora da Bolsa de Derivados do Porto e Diretora da Executive Education no Instituto de Estudos Financeiros e Fiscais.
Desde a primeira edição da nossa newsletter O Investidor Inteligente, temos vindo a recomendar um livro a todos os nossos leitores. Porque entendemos que a leitura deve ser vasta e abrangente, decidimos convidar personalidades de relevo nas mais variadas áreas de atuação para cumprir com este desígnio e proporcionar, assim, um roteiro e arquivo mais vastos para a Biblioteca da Casa de Investimentos e para todos aqueles que a acompanham.Na sua edição de outubro, partilhamos a sugestão de António Murta, CEO da Pathena e Administrador Não-Executivo da Casa de Investimentos (Ver Nota Biográfica António Murta).Memórias de Adriano"Porquê recomendar um livro de literatura a investidores / gestores profissionais? Porque é o melhor livro que eu conheço sobre liderança. É uma quase-biografia de um homem extraordinário (o Imperador Adriano), que geriu um Império (Romano).Marguerite Yourcenar retrata, de um modo romanceado é certo, mas extraordinariamente vívido a vida de um homem, as suas escolhas e as escolhas dos homens de confiança que o haviam de rodear. É para mim o melhor livro de Marguerite Yourcenar e isso já é dizer muito quando se escreveu também A Obra ao Negro, O Tempo esse grande Escultor entre outros.Recomendação de leitura por António Murta, Managing Partner, Co-Fundador e CEO da Pathena e Administrador Não-Executivo da Casa de Investimentos.
Desde a primeira edição da nossa newsletter O Investidor Inteligente, temos vindo a recomendar um livro a todos os nossos leitores. Porque entendemos que a leitura deve ser vasta e abrangente, decidimos convidar personalidades de relevo nas mais variadas áreas de atuação para cumprir com este desígnio e proporcionar, assim, um roteiro e arquivo mais vastos para a Biblioteca da Casa de Investimentos e para todos aqueles que a acompanham.Na sua edição de fevereiro, partilhamos a sugestão de Nuno Lopes Gama, Head of Innovation and Continuous Improvement da Sonae SGPSORIGINALSUm dos marcos indeléveis do regresso de Steve Jobs ao timão da Apple, em 1997, após uns anos de afastamento forçado, foi o lançamento de uma das mais marcantes campanhas publicitárias da história - think different. Pretendendo assinalar o reencontro da marca da maçã com o caminho de criação de produtos representativos de uma conceção muito própria do mundo e capazes de transformar a vida das pessoas, esta campanha prestou um tributo a um conjunto de personalidades que tiveram a coragem de pensar e agir de forma radicalmente diferente aos padrões da sua época e geografia, rompendo com o status quo e contribuindo, com essa rotura, para importantes avanços civilizacionais.No seu livro Originals, Adam Grant vem glosar o mote de think different, enunciando os fatores que caracterizam os indivíduos que se distinguem pela criatividade - ou, se preferirmos, a originalidade - das suas contribuições, mas também explicando e exemplificando como esses fatores podem ser estimulados quer a nível individual, quer a nível coletivo. Nesse exercício, Grant dessacraliza a rota de acesso à originalidade e desmonta ideias pré-concebidas sobre a propensão e o domínio deste traço, designadamente ao mostrar que, contrariamente ao que seria expectável. as pessoas originais são muitas vezes heróis improváveis que encontraram uma fórmula vencedora para criar a diferença, pese embora as (ou mesmo como resultado das) suas múltiplas inseguranças. hesitações e procrastinações.Um dos bónus do livro é o acesso a recomendações de natureza prática sobre como podemos criar ambientes acolhedores e catalisadores da originalidade e como podemos alavancar nesses ambientes para a desenvolver em nós e à nossa volta, o que o torna uma leitura obrigatória para pais, educadores, decisores empresariais e políticos comprometidos com a construção de um futuro melhor.Recomendação de leitura por Nuno Lopes Gama.Nuno Lopes Gama é um apaixonado por ideias capazes de mudar para melhor um destino coletivo tido como imutável, revolucionando as regras estabelecidas, e por tudo aquilo que o futuro pareça querer trazer consigo, o que foi sempre determinante nas suas apostas de desenvolvimento pessoal e nas suas escolhas profissionais.É licenciado em Engenharia Electrónica Industrial pela Universidade do Minho, MBA pela Porto Business School, Mestre em Gestão de Empresas pela Universidade do Porto, tendo concluído ainda o Executive Development Program da Booth School of Business Universidade de Chicago. O seu percurso profissional dividiu-se entre as organizações sem fins lucrativos, onde se salienta a passagem pela Associação Nacional de Jovens Empresários na qualidade de Diretor de Associativismo e a experiência docente na Universidade do Minho e na Porto Business School, e as empresas, destacando-se aqui a Optimus/NOS onde teve responsabilidades executivas em áreas de Marketing, Vendas e Operações, e mais recentemente o Retalho da Sonae, onde está desde 2014, primeiro como Diretor de Inovação & Tecnologias Emergentes a que se veio juntar também a área de Projetos Financiados. Entre 1994 e 2000 participou na fundação de alguns negócios de iniciativa pessoal relacionados com o Digital, a Internet e o Retalho On/Offline que, na maioria dos casos, empobreceram a sua conta bancária, mas que lhe ensinaram duas lições preciosas - que há ideias que precisam de encontrar o seu tempo e que convém ter o resguardo de uma jaula resistente quando se nada com tubarões. Durante este percurso, pôde criar e liderar iniciativas pioneiras em disciplinas de ponta à época como PC Multimedia (1993-), eCommerce (1999-), Mobile M2M (2003-), Mobile Internet (2008-), Mobile Multimedia (2008-), Telco 2.0 (2010-), LTE/4G Broadband (2012-), Internet of Things (2013-), ICT/Cloud(2013-), Smart Textiles (2016-), Wearables (2017-), Mixed Reality (2018). Foi agraciado com alguns prémios de desempenho individual e coletivo por organizações de diferente âmbito, entre as quais a Sociedade Portuguesa de Física, a Associação Industrial do Minho, o Governo Civil de Braga, o Instituto Português da Juventude, os CTT, a Orange, os European Excellence Awards e a Startup Europe Partnership. É pai do Afonso e da Mafalda, o maior projeto em que alguma vez esteve envolvido, para os quais aspira tudo aquilo que souberem sonhar e forem capazes de merecer.
Gestão descontraída, mas Profissional é o meu primeiro livro. Não é mais um livro sobre gestão, é uma obra a pensar nas PME portuguesas. Nele, revelo muitas das práticas que estão na base do sucesso da PHC Software.Ao longo da obra, explico tudo o que gostava de ter aprendido na faculdade, mas que fui aprendendo com a experiência na prática.Este é um livro a pensar nos gestores portugueses, com exemplos práticos, baseados em conhecimento de gestão comprovado e que podem ser facilmente aplicados no tecido empresarial português.Na introdução da obra afirmo que A gestão é acima de tudo uma ciência prática que pode ser aprendida através do erro ou pela partilha de conhecimento da experiência e completo afirmando que Este é o livro que gostava de ter lido quando comecei a empresa e que evitava muitos erros que fui cometendo.Ao longo de nove capítulos, este meu livro é uma viagem de gestão para os gestores que procuram exemplos para melhorar as suas empresas e divide-se em três partes: a gestão do próprio indivíduo, a gestão da equipa e a gestão da empresa. Lembre-se que as práticas internas da gestão da empresa, agora tornadas públicas, estão na base do sucesso da PHC Software, que nasceu há trinta anos por dois amigos de faculdade e que é hoje uma multinacional que bate recordes de venda há vários anos consecutivos e que tem sido distinguida e ganho prémios pelas suas boas práticas.____Ricardo Parreira é CEO da PHC Software. Licenciado em gestão e com MBA em marketing, ambos pela Universidade Católica. Destaca-se por ser um líder que inspira boas práticas de gestão e a atitude para a felicidade no local de trabalho, características que têm permitido à PHC crescer de forma sustentável. Tem criado na PHC um ecossistema focado na best experience at work. Um conceito que procura construir empresas com pessoas mais felizes, motivadas e consequentemente mais produtivas.
Desde a primeira edição da nossa newsletter O Investidor Inteligente, temos vindo a recomendar um livro a todos os nossos leitores. Porque entendemos que a leitura deve ser vasta e abrangente, decidimos convidar personalidades de relevo nas mais variadas áreas de atuação para cumprir com este desígnio e proporcionar, assim, um roteiro e arquivo mais vastos para a Biblioteca da Casa de Investimentos e para todos aqueles que a acompanham.Na sua edição de novembro, partilhamos a sugestão de Fernando Alexandre, Professor Universitário na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho.Enlightenment NowA percepção da maioria da população, em muitos países desenvolvidos, é que o mundo está cada vez pior e que não está no bom caminho. Não podemos ignorar as guerras que persistem, a pobreza que convive ao lado da mais absoluta riqueza ou as doenças que continuam a tornar tão difícil a vida de tantas pessoas. No entanto, contra a percepção da maioria, os factos mostram que o mundo registou um extraordinário progresso nos últimos três séculos, proporcionando mais rendimento e mais qualidade de vida a cada vez mais pessoas e reduzindo o número das que vivem em situação de pobreza, situação de guerra, expostas ao crime e insegurança ou que morrem prematuramente, para valores que, apenas há algumas décadas, eram impensáveis.Steven Pinker, professor na Universidade de Harvard, escreveu o livro Enlighenment Now como um manifesto em defesa das instituições do Iluminismo, que estiveram na origem daquele extraordinário progresso da humanidade e que estão hoje sob ataque de movimentos populistas. Estes movimentos preferem o nacionalismo ao cosmopolitismo, o autoritarismo à democracia, desvalorizam o conhecimento científico e, mais do que um futuro melhor, procuram um passado idílico, que nunca existiu.Pinker lembra que as instituições refletem formas de cooperação que as sociedades foram aperfeiçoando ao longo do tempo e que permitem que o bem universal se sobreponha aos egoísmos individuais e de grupos de interesse. Entre as regras que favorecem o progresso estão a abertura à crítica, a liberdade de expressão, a cooperação, o cosmopolitismo, os direitos humanos, o reconhecimento da falibilidade do ser humano. Entre as instituições que promovem o progresso estão a ciência, a educação, os media, os governos democráticos, as organizações internacionais e os mercados. Apresentando um manancial de dados sobre o progresso e os seus benefícios para o bem-estar da humanidade, Pinker mostra por que é que hoje, mais do que nunca, é essencial preservar as instituições que herdámos do Iluminismo. Utilizando a razão, a ciência e os princípios do humanismo será mais fácil ultrapassar os problemas que se colocam à sociedade, evitando retrocessos civilizacionais e o regresso da barbárie, que, como sabemos, está sempre à porta.Recomendação de leitura por Fernando Alexandre, Doutorado em Economia pela Universidade de Londres - Birkbeck College. Professor Associado da UMinho, consultor da área de estudos económicos da Fundação Francisco Manuel dos Santos e Presidente do Conselho de Administração da SBS Startup Braga Investimentos em Startups, SA. Foi Pró-Reitor da UMinho para a Valorização do Conhecimento e Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Administração Interna no XIX Governo Constitucional. É autor e coordenador de quatro livros sobre a economia portuguesa. Prestou serviços de consultoria para entidades como a Fundação Calouste Gulbenkian, o Tribunal de Contas, o Governo português, a Associação Portuguesa de Seguradores ou a Associação Comercial do Porto.
Não existe ninguém mais qualificado que John Bogle, fundador e ex CEO dos fundos Vanguard, para denunciar as falhas do sistema financeiro americano e os abusos que aconteceram nos últimos anos. Zeloso defensor do pequeno investidor há mais de 50 anos, Bogle defende a restauração da integridade nas práticas da indústria financeira.Segundo Bogle, um sistema financeiro transparente e confiável é essencial ao progresso económico e social.Este livro não nos conta apenas a história de como tudo correu mal. Explica também o porquê e o que devemos fazer para corrigir o rumo. Para Bogle, a solução é o regresso a um capitalismo dos donos, isto é, o controlo das empresas deverá ser devolvido aos accionistas e retirado dos gestores com as suas stock options e remunerações obscenas.Este é um livro obrigatório para qualquer investidor, analista, legislador, regulador ou empresário.
Novas Lições de Liderança de CEO Portuguesas, de que eu e Maria Serina somos autoras, é a destilação de dez extensas e aprofundadas entrevistas com Carla Rebelo, diretora geral do Adecco Group, Carmo Sousa Machado, chairman da Abreu Advogados, Clara Raposo, presidente do ISEG, Cristina Campos, presidente do Grupo Novartis, Cristina Rodrigues, administradora delegada da Capgemini, Dulce Mota, CEO do Montepio, Marta Carvalho Araújo, CEO da Castelbel, Paula Panarra, country manager da Microsoft, Ruth Breitenfeld, vice-presidente da Cepsa, e Vera Pinto Pereira, administradora executiva do Grupo EDP. Estas 10 executivas lideram em diferentes setores de atividade (banca, tecnologia, consultoria, energia, academia, indústria, recursos humanos, advocacia e consumo) e têm percursos muito diversificados. Em entrevistas francas, partilham como chegaram aos lugares que hoje ocupam, os principais desafios que enfrentaram, as conquistas que alcançaram, os receios que sentiram, os erros que cometeram e as principais aprendizagens que fizeram. Este livro surge na senda de Lições de Liderança de CEO Portuguesas, publicado em 2016,com edição esgotada, para dar palco a outras dez mulheres que lideram importantes empresas em Portugal, com o objetivo de inspirar as novas gerações de líderes. São testemunhos muito valiosos para todas as mulheres que ambicionam construir uma carreira de sucesso. Mais do que isso, são lições de liderança úteis a homens e mulheres, porque a boa liderança não tem género. Isabel Canha, jornalista, é co-fundadora e directora da Executiva.pt, depois de perto 30 anos de jornalismo na área dos negócios, em que se inclui a direcção da revista Exame (de Setembro de 2003 a Dezembro de 2012). É autora dos livros As Mulheres Normais têm Qualquer Coisa de Excepcional; António Champalimaud Construtor de Impérios (com Filipe S. Fernandes); e Memórias de Executivas, Lições de Liderança de CEO Portuguesas, Como Chegar a Líder (coordenação), O Sucesso Não Cai do Céu e Novas Lições de Liderança de CEO Portuguesas (todos com Maria Serina). Foi organizadora licenciada da TEDxBelémWomen (em 2013) e oradora na TEDxFCT-UNL 2013 com o tema Telhado de Vidro. Será oradora na TEDxPorto, em Março de 2020. Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, tem extensa formação complementar em Gestão, Finanças, Marketing, Liderança e Jornalismo. Nos tempos livres, dança tango.
Desde a primeira edição da nossa newsletter O Investidor Inteligente, temos vindo a recomendar um livro a todos os nossos leitores. Porque entendemos que a leitura deve ser vasta e abrangente, decidimos convidar personalidades de relevo nas mais variadas áreas de atuação para cumprir com este desígnio e proporcionar, assim, um roteiro e arquivo mais vastos para a Biblioteca da Casa de Investimentos e para todos aqueles que a acompanham.Na sua edição de março, partilhamos a sugestão de Pedro Pita Barros, Professor Catedrático da Faculdade de Economia, Universidade Nova de LisboaQUEM DISSER O CONTRÁRIO É PORQUE TEM RAZÃOA minha proposta de leitura é o livro de Mário de Carvalho, Quem disser o contrário é porque tem razão guia prático de escrita de ficção. É um livro que aborda a escrita criativa numa visão plena de humor e ironia, desde logo presente no título, e que apesar do subtítulo, não é verdadeiramente um manual de escrita.Além do estilo próprio do autor, e de ser um livro que pode facilmente levar a uma leitura de rajada, tem elementos, na descoberta do que é a escrita de um livro, que são similares a uma boa estratégia de investimento. Foi este aspecto que fez pensar nesta sugestão de leitura. Vejamos dois exemplos. Primeiro exemplo, a leitura e o estudo como etapas prévias. Um aspecto destacado por Mário de Carvalho como essencial para um bom escritor é este ler muito e ler a boa literatura deste e dos séculos passados. Ao longo do seu livro, Mário de Carvalho fornece as suas sugestões, mas se o leitor tiver outras é porque tem razão).Ora, também uma boa estratégia de investimentos financeiros deve ter como base conhecer o comportamento das empresas subjacentes aos activos em que se considera investir e ler muito, sobre o passado, como forma de pensar o futuro. O segundo aspecto é o método. É necessário saber construir personagens, dar-lhes personalidade, acompanhá-las e acarinhá-las. É um caminho lento e que exige trabalho. E grande capacidade para fazer e refazer esse caminho.De forma análoga, a definição de uma carteira de investimentos exige trabalho, muito trabalho, de análise. Exige construir a personagem, o motivo pelo qual se adquire ou não um determinado ativo financeiro para fazer parte da carteira de investimentos. Escrever um livro não é apenas ter uma ideia e sentar a escrever. Boas leituras.Recomendação de leitura por Pedro Pita BarrosPedro Pita Barros é Professor Catedrático da Faculdade de Economia, Universidade Nova de Lisboa. Doutorado em Economia. A sua investigação foca em economia da saúde, regulação económica e política de concorrência, tendo sido publicada em numerosas revistas científicas. Pedro Pita Barros também contribuiu para diversos livros, tendo igualmente publicado diversas monografias. É actualmente editor-chefe do International Journal of Health Economics and Management. Colabora com o processo editorial das revistas científicas Health Policy, Health Care Management Science, Portuguese Economic Journal e Revista Portuguesa de Saúde Pública.Membro do EC Expert Panel on Effective ways of Investing in Health. Membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida. Membro da Direcção do IPP Instituto de Políticas Públicas Thomas Jefferson Correia da Serra. Membro do Editorial Board do Office of Health Economics (Londres).Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Medalha de Serviços Distintos, grau ouro" - Ministério da Saúde.
A propósito deste livro, John Bogle, fundador da Vanguard, escreveu estas palavras: "Este livro mostra-nos o que correu mal com as nossas instituições financeiras e mercados. Neste apelo à ação - aos investidores que coletivamente são donos das empresas americanas - os autores sugerem passos claros para que possamos construir um mundo empresarial que sirva os nossos interesses e não os de Wall Street." Sem compromissos na crítica, mas otimistas na sua visão, Stephen Davis, Jon Lukomnik e Davis Pitt-Watson oferecem uma análise clara dos problemas do sistema financeiro e adiantam soluções práticas que podem mudar o mundo para melhor.
Qual é a taxa de retorno de longo prazo das acções e obrigações? Antes da publicação de "O Triunfo dos Optimistas", era surpreendentemente difícil responder a esta pergunta. Em pouco mais de 300 páginas, este livro fornece a resposta definitiva.Os investidores dão frequentemente demasiada importância à experiência mais recente. Nos anos 50, quem sonharia, a não ser o maior optimista, que, nos 50 anos seguintes, as acções renderiam cerca de 9% ao ano? No entanto, foi o que aconteceu nos Estados Unidos. Os optimistas triunfaram!Os autores desta obra, Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton, apresentam uma análise rigorosa e consistente dos retornos do investimento em acções, obrigações e notas do Tesouro, assim como câmbios e taxa de inflação, em dezasseis países desde o fim do Séc. XIX até ao início do séc. XXI. Esta informação é apresentada de uma forma clara e simples com mais de 130 diagramas que facilitam a comparação.Não restam quaisquer dúvidas, as acções são a classe de activos que melhor remunera o investidor no longo prazo.
Desde a primeira edição da nossa newsletter O Investidor Inteligente, temos vindo a recomendar um livro a todos os nossos leitores. Porque entendemos que a leitura deve ser vasta e abrangente, decidimos convidar personalidades de relevo nas mais variadas áreas de atuação para cumprir com este desígnio e proporcionar, assim, um roteiro e arquivo mais vastos para a Biblioteca da Casa de Investimentos e para todos aqueles que a acompanham.Na sua edição de janeiro, interrompemos excecionalmente este "roteiro" para recuperar "The Battle For The Soul Of Capitalism", assinalando desta forma a vida do extraordinário Investidor, Fundador e ex-CEO dos Fundos Vanguard, John Bogle, que faleceu no passado dia 16.A Batalha pela Alma do CapitalismoNeste livro, publicado em 2005, ainda antes da grande crise financeira de 2008, Bogle é extremamente crítico dos gestores de grandes empresas e aponta o dedo ao sistema financeiro. Para si, a grande dispersão do capital das grandes multinacionais em bolsa faz com que não haja um dono responsável. Os investidores grandes institucionais ou particulares não assacam responsabilidades aos gestores. Os grandes institucionais que detêm grande parte das ações e na maioria dos casos são detidos por grandes bancos gerem os fundos de pensões destas grandes multinacionais e são contratados para as operações de banca de investimento, que proporcionam comissões extraordinárias. Ora, não têm liberdade para questionar as remunerações de gestores, as políticas de aquisições ou a falta de estratégia de criação de riqueza para os acionistas a longo prazo. Os pequenos investidores são estimulados a olhar para o curto prazo e as ações são papel para trocar de mãos todos os dias, permitindo elevadas comissões de transação. Os auditores, que deveriam vigiar a atividade dos gestores para minorar conflitos de interesses, são, eles próprios, contratados por aqueles que terão que avaliar.Através de inúmeros exemplos com factos concretos e nomes, Bogle escreve que assistimos a uma enorme transferência de riqueza dos acionistas para os gestores de grandes multinacionais, financeiras ou não, que pagam a si próprios compensações extravagantes. Nas instituições financeiras, esta transferência acontece, não só de acionistas, mas também de clientes para administrações e gestores. Entre 1997 e 2002, o total de comissões pagas pelos investidores norte americanos aos bancos, corretoras e fundos de investimentos excedeu os 1,275 triliões de dólares.Segundo Bogle, um sistema financeiro transparente e confiável é essencial ao progresso económico e social. Este livro não nos conta apenas a história de como tudo correu mal. Explica também o porquê e o que devemos fazer para corrigir o rumo. Aponta uma variedade de causas para se ter chegado aqui, cada uma interagindo com e reforçando as outras: a ascensão do CEO imperial; os truques da engenharia financeira no reporte de resultados; o falhanço dos nossos guardiões auditores, reguladores, gestores de investimentos e conselhos de administração que se esqueceram a quem deviam lealdade; as instituições financeiras que passaram a ser traders de ações ao invés de se comportarem como donos de ações; a hipérbole promocional de Wall Street; a vontade dos analistas em pôr de lado o seu cepticismo; a excitação frenética dos media; e, obviamente, os membros do público investidor que festejam sempre o lucro fácil. Foi esta conspiração entre todas as partes interessadas, que baixou os padrões do negócio. Conclui, que este é o capitalismo dos gestores e não o dos donos, como deveria ser.
Pensamento predatório significa ser mais esperto que o problema. Quando um pensador predatório encontra um problema que não consegue resolver, ele altera o contexto do problema e transforma-o em algo que consegue resolver. Desmantela o problema num conjunto de problemas mais pequenos. Encontra o elo mais fraco. A parte do problema que consegue mudar. Essa mudança, por sua vez, altera todos os outros problemas.Dave Trott utiliza histórias reais para demonstrar como os pensadores predatórios fizeram exatamente isto. Este não é um livro teórico que destila 10 fórmulas ou receitas milagrosas. Trott conta as suas histórias e cabe ao leitor fazer o resto do trabalho, cabe ao leitor aplicar os princípios aos seus problemas. Predatory Thinking prova que não é difícil pensar ou abordar os problemas de forma diferente. O hábito de o fazer é que é difícil de entranhar.Apesar de a maior parte das histórias terem origem no mundo da publicidade, este livro é dirigido a todos aqueles que querem ou precisam de pensar fora da caixa. Todos nós.
Guy Spier estudou em Oxford e Harvard. Iniciou a sua carreira na banca de investimentos convencido que iria ter sucesso e que iria ser feliz. Desiludido com o ambiente que o rodeava, despediu-se. Vive agora na Suíça, feliz e em paz e gere milhões de dólares segundo os princípios do Investimento em Valor.Este livro conta a história de Guy Spier. Na realidade, este livro não se debruça particularmente sobre as regras do Investimento em Valor mas sim sobre o desenvolvimento do temperamento do investidor.Warren Buffett diz que não é preciso ter um QI de 160 para ter sucesso no investimento. É preciso, isso sim, ter o temperamento adequado. É essa a história de A Educação de um Investidor em Valor.
Readers of Warren Buffett?s letters to Berkshire Hathaway shareholders have gained an enormously valuable informal education in the art of investing. Broad in scope and long on wisdom, Buffett?s letters explain his principles on sound investing, selecting managers, valuing businesses, using financial information profitably, and other vital topics for investors.This newly updated Fourth Edition includes Buffett?s latest wisdom on such topics as the financial crisis, the housing bubble, corporate governance, Berkshire Hathaway?s acquisition of Burlington Northern Santa Fe, the role of oversight in heavily regulated industries, today?s best investing opportunities, and the weaknesses of popular option valuation models.Features investing advice in plain English from one of the world?s most legendary investorsIncludes Buffett?s insights on the current financial crisis and recessionOffers new and potent insight on good corporate governance and other issues vital to executives and managersFor investors, corporate executives, managers, and Buffett fans, The Essays of Warren Buffett, Fourth Edition features the kind of wisdom on investing, finance, and leadership that can be found nowhere else.
Daniel Kahneman, psicólogo israelita galardoado com o Nobel da Economia de 2002, condensa o trabalho de toda a sua carreira neste livro.Thinking, Fast and Slow é, acima de tudo, sobre a facilidade com que, sem nos darmos conta disso, tomamos decisões pouco racionais. Ao contrário do que defende a teoria económica tradicional, o ser humano não toma sempre a decisão que melhor serve o seu interesse. Na realidade, as pessoas cometem erros sistemáticos de julgamento.Kahneman explica porquê e lança pistas para tentarmos evitar estas armadilhas mentais ou, pelo menos, conseguirmos identificá-las quando somos nelas apanhados.Em Thinking, Fast and Slow, Kahneman demonstra que não somos os paradigmas da razão que pensávamos ser.
A causa mais comum dos preços baixos é o pessimismo - umas vezes generalizado, outras específico a uma empresa ou indústria. Nós desejamos fazer negócios neste ambiente, não porque gostemos do pessimismo mas porque gostamos dos preços que ele produz. O otimismo é inimigo do comprador racional.
Nada disto significa, contudo, que um negócio ou uma ação é uma compra inteligente apenas porque é pouco popular; uma abordagem contrária é tão tola como a estratégia de seguir a multidão. O que é necessário é pensar em vez de sondar a opinião dos outros. Infelizmente, a observação de Bertrand Russel sobre a vida em geral aplica-se com perfeição ao mundo financeiro: "A maioria dos homens prefere morrer a ter que pensar. Muitos fazem-no."
As três palavras mais importantes em qualquer processo de investimento são "Margem de Segurança", ou seja, a diferença entre o valor intrínseco do ativo e o preço a que o podemos comprar. Quando o pessimismo se instala, na economia, num setor ou relativamente à performance de determinada empresa, é natural que os preços caiam e, por vezes, ações baratas ficam ainda mais baratas.
O investidor avesso ao risco reconhece que quanto maior for a diferença entre preço e valor, maior é a margem de segurança que consegue no investimento que está a fazer e melhor será a sua taxa de rentabilidade.
Porque o negócio de telecomunicações comporta alguns riscos, nomeadamente, a regulação e a necessidade constante de grandes investimentos, antes de considerar qualquer ação neste sector, exigimos uma grande margem de segurança.
A France Telecom é um exemplo de um ativo, que ao preço atual, nos permite investir com uma margem de segurança muito confortável.
1. O negócio da France Telecom
É a maior operadora de telecomunicações em França, negócio que representa cerca de metade da sua faturação. O negócio da empresa está dividido em: serviços móveis (41%), serviços de linha fixa (29%) e outros serviços de telecomunicações (30%). A France Telecom tem presença em Espanha (8,8%), Polónia (7,39%), e resto do mundo (18,1%) onde se inclui uma joint-venture com a Deutsche Telekom, no Reino Unido, e várias operações no norte de África e Médio Oriente. O negócio mundial direcionado para empresas representa 15,3% das vendas. Em 2012 a empresa apresentou um free cash flow de 8 mil milhões de euros.
No ano passado, entrou no mercado de telecomunicações francês um novo operador móvel, a Iliad. Nos primeiros 3 trimestres, graças a uma estratégia agressiva de preços baixos, conseguiu ganhar 6 milhões de clientes. Os 3 operadores instalados sentiram o aumento da concorrência e a France Telecom não foi exceção. A empresa baixou os preços para se adaptar ao mercado e o resultado foi uma recuperação do número de clientes.
As operadoras móveis europeias têm tido dificuldades em aumentar as suas receitas. Um motivo relevante tem sido a tendência a nível europeu para a imposição de limites às "termination rates" - as taxas que as operadoras pagam às suas concorrentes para que os seus clientes possam fazer chamadas para outras redes. França é, aliás, o país mais adiantado nesta exigência, tendo cortado estas taxas para 0,008 cêntimos, desde 1 de Janeiro de 2013. A média europeia é 3 a 4 vezes mais alta. Isto significa que a France Telecom já não será muito afetada por futuras reduções, em comparação com as suas congéneres europeias.
Para além do mercado móvel, a France Telecom tem investido no marketing da sua solução de banda larga, com bons resultados. Na televisão, tem vindo a apresentar crescimento significativo: o negócio de televisão tem já 4,9 milhões de subscritores, aproximadamente os mesmos do maior operador de televisão por cabo francês, a Numericable.
O estado francês tem uma participação de 26,94% na France Telecom. Dois terços dos funcionários da empresa estão qualificados como funcionários públicos. No entanto, pelo menos 30% dos seus trabalhadores deverão atingir a reforma durante os próximos 8 anos o que permitirá uma redução de custos muito significativa.
A France Telecom tem vindo a apostar em zonas geográficas de maior crescimento, nomeadamente África e Médio Oriente, onde o mercado de telecomunicações tem maior potencial. A empresa tem o objetivo de dobrar a sua presença em mercados emergentes até 2015.
2. Níveis de endividamento e resultados
O elevado endividamento da generalidade das telecoms europeias advém do facto do setor da telecomunicações gerar resultados estáveis, que suportam um serviço de dívida elevado, e das somas elevadas de capital que são necessárias para suportar os grandes investimentos que caracterizam esta atividade.
O setor das telecomunicações enfrenta desafios assinaláveis. Precisa de se adaptar ao ambiente concorrencial, às alterações tecnológicas e de regulação. Para o futuro, a manutenção de uma posição competitiva sustentável vai exigir das empresas capacidade financeira e flexibilidade para explorar novos mercados e oportunidades. A France Telecom tem condições para estabilizar o seu negócio e prepará-lo para o crescimento futuro. A empresa prevê atingir um free cash flow de 7 mil milhões de euros em 2013 e iniciar uma recuperação em 2014 suportada por melhorias operacionais significativas.
No entanto, a atual crise económica e maiores pressões competitivas e regulatórias, obrigou as empresas a repensarem os seus rácios de endividamento e a limitarem os dividendos distribuídos aos acionistas. A KPN, maior operadora holandesa, foi obrigada recentemente a fazer um aumento de capital e a cortar o seu dividendo.
A France Telecom é das operadoras europeias menos endividadas (ver quadro), mantendo como objetivo um rácio de endividamento líquido em relação ao EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) inferior a 2.
EmpresaDívida líquida/EBITDAPER est. Anos CorrenteFrance Telecom2,237,00Telefónica2,848,62Telecom Itália2,765,19Deutsche Telekom2,1112,90Portugal Telecom3,4912,88Verizon (EUA)1,6316,40
Para o conseguir, decidiu reduzir o elevado dividendo, trazendo-o para níveis mais razoáveis e de acordo com o nível atual de resultados da empresa.
3. O que produz de resultados e dividendos para os seus acionistas?
Nos últimos 5 anos, a empresa produziu um resultado médio por ação de 1,61 EUR. Para os próximos anos os resultados previstos são, em média, de 1,12 EUR, números bastante conservadores relativamente ao passado. Ou seja, se um investidor comprar uma ação aos preços atuais, 7,26 EUR, obterá uma rentabilidade anual do investimento (resultado por ação / preço do investimento) de cerca de 15,43%, admitindo que os resultados se mantêm constantes.
A empresa não vai distribuir a totalidade dos seus lucros aos acionistas. É objetivo da administração continuar a investir e a reduzir o endividamento, o que fará aumentar o valor da empresa. No entanto, a administração comprometeu-se já com o pagamento de um dividendo de 0,80 EUR para os próximos 2 anos. Este montante, à cotação atual, representa um dividendo de 11%.
5. Investimento nas ações da FTE versus investimentos em obrigações
Investir é abdicar de consumir hoje com o objetivo de poder consumir mais no futuro. Por isso, quando investimos, devemos avaliar a probabilidade - a probabilidade razoável - de um investimento causar ao dono do dinheiro uma perda do seu poder de compra no futuro.
Ao contrário do que muitos pensam, os ativos podem variar muito de preço e não serem arriscados, desde que exista uma certeza razoável de, no final do período em que os temos, nos permitirem um aumento do poder de compra.
Do mesmo modo, depósitos a prazo, fundos de tesouraria, obrigações e outros instrumentos de taxa fixa, embora sejam vistos pelos investidores como "seguros", são na sua essência ativos muito arriscados. Ao longo do último século, estes investimentos destruíram o poder de compra de muitos investidores em muitos países, apesar destes investidores receberem os pagamentos nas datas acordadas, dos juros e cupões e do valor inicial investido.
A France Telecom emitiu uma obrigação no último ano com vencimento em 2023. Essa obrigação paga um cupão anual de 2,5% para os próximos 10 anos. Quem investiu nesta obrigação irá certamente receber ano após ano o respetivo cupão e na maturidade ser-lhe-á devolvido o capital investido. Contudo, quem investe hoje na ação da empresa, tem direito a um dividendo, também pago anualmente, de 11%. Melhor ainda, se assegurarmos que estamos a comprar a ação barata, iremos ter também ter ganhos de capital muito significativos no futuro.
Tal como a FTE, existem outras empresas excecionais a pagar dividendos muito acima dos produtos de taxa fixa e que hoje transacionam no mercado a preços sensatos para quem pretende investir em valor.
Transacionando a 7 vezes os seus resultados (PER), a empresa é um ativo muito barato e com muito valor. Hoje, estaremos a comprar aos pessimistas. Quando no mercado houver um consenso generalizado sobre o mérito deste investimento, já ele terá subido muito significativamente.
AVISO: Esta não é uma recomendação de compra. A recomendação depende da situação financeira de cada investidor, da composição do seu património financeiro, do temperamento adequado para suportar a volatilidade nos mercados financeiros e da capacidade de manter os investimentos o tempo necessário para que a oportunidade se materialize, ou seja, para que o preço seja igual ao valor.
Qualquer operação de investimento, após avaliação rigorosa, deve garantir a segurança do capital e um retorno satisfatório a prazo.
A avaliação rigorosa visa determinar o valor intrínseco da empresa/negócio e a sua capacidade de produzir retornos acima da média para os seus acionistas. O Investidor em Valor seleciona os negócios a ter em carteira, baseado nos seguintes critérios:
1. Negócios que se enquadrem nas suas competências de análise;
2. Negócios que demonstrem possuir vantagens competitivas duradouras no sector (pela marca, dimensão, rede, etc);
3. Empresas com historial de resultados consistentemente altos e acima da média do sector/mercado;
4. Empresas com historial de rentabilidades de capital consistentemente altas e acima da média do sector/mercado;
5. Empresas com balanços conservadores a curto e longo prazo, ou seja, com baixos níveis de endividamento;
6. Empresas com administrações francas e capazes, com posição acionista na empresa e com provas dadas em termos de maximização de valor para os acionistas;
7. Empresas com estratégias de investimento a médio e longo prazo;
8. Empresas que transacionam a um preço significativamente abaixo do seu valor intrínseco, com margem de segurança confortável.
O investidor inteligente deve concentrar nas carteiras essas oportunidades de forma a obter retornos mais elevados e consistentes a médio e longo prazo.
A Cisco Systems é um exemplo de um excelente Investimento em Valor.
A empresa norte-americana é líder mundial no fornecimento de equipamentos e software de conexão em rede na Internet. Os clientes, em todo o mundo, são institucionais, empresas e particulares com necessidades de soluções para a transmissão de dados, voz e vídeo. A empresa é liderada por John Chambers, CEO desde 1995.
O domínio da empresa nas redes de informação é claro. A quota de mercado da Cisco nos ethernet switches, que servem para transmitir dados entre redes locais, manteve-se acima dos 70% nos últimos 5 anos. Os custos de alteração de fornecedor para este género de sistemas são muito elevados, particularmente para aplicações críticas em que a certificação Cisco continua a ser o standard da indústria para os administradores de redes.
Vantagens de escala significativas, custos de mudança elevados e uma reputação única nos canais de distribuição, conferem à Cisco vantagens competitivas duráveis. O investimento contínuo em Investigação & Desenvolvimento de novos produtos proporciona aos seus clientes um excelente serviço, difícil de bater pelos seus concorrentes.
Os routers da Cisco, com 70% da quota do mercado mundial, são usados por empresas de telecomunicações e de televisão por cabo, entre outras. A empresa mantém praticamente um duopólio com a Juniper Networks.
Os routers e os switches representam 60% da facturação da empresa. A restante faturação resulta de negócios mais pequenos, embora alguns deles bastante rentáveis, como são os centros de dados ou os sistemas wireless.
Nos últimos anos a Cisco tem tentado entrar no mercado de produtos de consumo, onde não tem uma posição de relevo. Estes esforços desviaram o seu foco operacional para áreas onde não é particularmente competitiva. A empresa está a implementar um plano de reestruturação no sentido de se concentrar no desenvolvimento dos seus negócios principais.
Ao analisarmos a atividade da empresa nos últimos 10 anos, encontramos algumas das características que procuramos nas ações em que investimos:
Resultados consistentemente crescentes
Os EPS são os lucros por acção; os EPS CO são os lucros por acção das operações continuadas; e os FCF PS são fluxos de caixa libertos por ação. A empresa está a gerar cerca de 9 MM de dólares por ano de FCF, o que a dividir pelas cerca de 5,4 MM de ações emitidas pela empresa, se traduz num FCF por acção de 1,66.
Rentabilidade do capital consistentemente elevadas
O ROE mede os lucros da empresa em relação aos capitais próprios. Nos últimos 10 anos, a média foi de 17,8% e, nos últimos 5 anos, foi de 20%. A média das empresas norte-americanas é de 12%.
Balanço pouco endividado a curto e longo prazo
O crescimento do negócio foi acompanhado pelo crescimento sustentado do balanço da empresa, conseguido pelo aumento muito significativo do dinheiro em caixa e que neste momento representam cerca de 48 MM dólares (Caixa mais Investimentos de Curto Prazo).
Os lucros anuais, que foram sendo acumulados no balanço, permitiram à empresa um aumento muito relevante da componente do capital próprio.
Este desenvolvimento harmonioso permite à empresa uma posição competitiva muito forte nas aquisições que considera relevantes, na emissão de dívida a taxas muito baixas (recentemente emitiu 2 MM de dólares com maturidade a 3 anos à taxa de 1,625%) ou na remuneração do acionista através de planos de recompras de ações. A Cisco iniciou a distribuição de dividendos em Março de 2011. O dividendo é agora de 8 cêntimos por trimestre, o que equivale a 2% ao ano.
Com um PER (preço da acção em relação ao lucros que gera) de 11 e em mínimos históricos, a diferença entre o valor da empresa e o preço a que está a cotar no mercado representa uma margem de segurança bastante confortável.
Negócios com fundamentos económicos soberbos, geridos por pessoas honestas e capazes, comprados a preços sensatos, são a melhor forma de proteger e valorizar o património a médio e longo prazo.
AVISO: Esta não é uma recomendação de compra. A recomendação depende da situação financeira de cada investidor, da composição do seu património financeiro, do temperamento adequado para suportar a volatilidade nos mercados financeiros e da capacidade de manter os investimentos o tempo necessário para que a oportunidade se materialize, ou seja, para que o preço seja igual ao valor.
A regra mais antiga do investimento é a mais simples: "compre barato e venda caro". Isto é óbvio. O que significa realmente esta regra? Significa que devemos comprar a um preço baixo e vendê-lo a um preço alto. Mas o que é um preço baixo ou alto?
Devemos encontrar um padrão objetivo para determinar o preço "baixo" e "alto" e esse padrão é o valor intrínseco do ativo. Assim o significado de "compre barato e venda caro" torna-se claro: compre a um preço abaixo do valor intrínseco e venda a um preço mais alto. Para fazer isto, temos que ter uma boa estimativa do valor intrínseco. Este é o ponto de partida indispensável.
No investimento em valor, o objetivo é comprar o que é bom e barato. Os investidores em valor analisam os dados financeiros das empresas, tais como lucros, cash flows, dividendos e ativos e põem especial ênfase em comprar barato com base nestes indicadores.
O facto do investimento em valor produzir bons resultados de forma consistente, não significa que é fácil. Primeiro, depende de uma estimativa correta do valor da empresa. Sem isso, qualquer esperança de sucesso consistente é apenas isso: esperança. Se pagamos demais, precisaremos de uma melhoria surpreendente no valor, de um mercado forte ou de um comprador menos exigente para nos salvar. Segundo, é necessário o temperamento adequado.
A Staples respeita os critérios acima expostos. É a líder mundial na venda de produtos de escritório. Fatura anualmente 25 mil milhões de dólares em mais de 2.000 lojas espalhadas por 25 países. A empresa representa cerca de 10% do mercado global de produtos de escritório, mais do que os concorrentes diretos OfficeMax e Office Depot em conjunto. O negócio de entregas nos Estados Unidos constitui a sua maior atividade e representa 40% das receitas. Segue-se o negócio de retalho nos Estados Unidos (39%) e as operações internacionais (21%). As vendas pela internet têm crescido substancialmente (10 mil milhões de dólares em 2010). Só a Amazon.com faz melhor nos Estados Unidos.
A atividade da Staples está muito relacionada com o nível do emprego de "colarinho branco", de empresas financeiras e de outras grandes empresas, onde o crescimento nos últimos anos não tem sido significativo. No entanto, o valor total anual do mercado americano ultrapassa os 300 mil milhões de dólares.
A empresa supera consistentemente os seus concorrentes diretos nos indicadores mais importantes, como o crescimento de vendas, retorno dos capitais e margens operacionais.
Nos Estados Unidos, os concorrentes da Staples estão a fechar lojas numa tentativa de melhorar a sua performance. A sua escala permite-lhe aproveitar estas oportunidades mantendo-se como o vendedor que consegue os mais baixos preços.
O negócio de entregas de material de escritório nos Estados Unidos serve 95% do território. É uma estrutura altamente eficiente uma vez que a maioria das encomendas é feita através da internet e por contratos de vendas a médias e grandes empresas. As necessidades de capital do negócio são relativamente baixas e o negócio é mais rentável que o de retalho, estando a ganhar quota de mercado.
O seu negócio internacional está bastante concentrado no norte da Europa. Está atualmente a sofrer as consequências do abrandamento económico europeu. A empresa já anunciou planos para reestruturar o negócio, que passarão pelo encerramento de lojas, redução do número de funcionários e possível saída de alguns países. O encerramento destas unidades menos produtivas poderá potenciar os resultados globais da empresa.
O mercado estima, para o ano de 2012, um Free Cash Flow superior a mil milhões de dólares. Distribui um dividendo de 44 cêntimos ao ano, isto é, uma taxa de dividendo de 3,54% e tem recomprado ações próprias no âmbito do programa de que lançou em Setembro de 2011, no valor de 1,5 mil milhões de dólares. O número de ações atuais da empresa está em mínimos de sempre como podemos constatar na Fig. 2.
A sua situação financeira é fortíssima. A empresa tem 984 milhões de dólares em dinheiro no balanço. A dívida de longo prazo, 2.262 mil milhões de dólares, não ultrapassa os 22,7% do capital próprio.
A cotar a 8 vezes os resultados líquidos dos últimos 4 trimestres (rácio em mínimos históricos, como podemos ver na Fig. 2), este é um negócio com vantagens competitivas devido à sua escala, estando a transacionar a preços atrativos para o investidor em valor.
Infelizmente, o investimento é um concurso de popularidade e uma empresa que, por algum motivo, desagrada ao mercado, pode ver a sua cotação cair muito para além do razoável. No curto prazo, a psicologia dos investidores pode fazer com que uma ação cote a qualquer preço, independentemente dos seus fundamentos económicos.
Com um horizonte de investimento adequado, incluída numa carteira de 10 a 15 excelentes ações, compradas a desconto do seu valor, será uma oportunidade de investimento excecional a médio e longo prazo.
AVISO: Esta não é uma recomendação de compra. A recomendação depende da situação financeira de cada investidor, da composição do seu património financeiro, do temperamento adequado para suportar a volatilidade nos mercados financeiros e da capacidade de manter os investimentos o tempo necessário para que a oportunidade se materialize, ou seja, para que o preço seja igual ao valor.
Nunca dependa de uma boa venda. Compre a um preço tão atrativo que até uma venda medíocre produz bons resultados.
-- Warren Buffett
A regra mais antiga do investimento é a mais simples: "compre barato e venda caro". Isto é óbvio. O que significa realmente esta regra? Significa que devemos comprar a um preço baixo e vender a um preço alto. Mas o que é um preço baixo ou alto? Deve-se determinar o valor intrínseco do ativo, comprar a um desconto significativo desse valor e vender quando o preço de mercado estiver acima do valor.
Na Casa de Investimentos, analisamos os dados financeiros das empresas: lucros, cash flows, dividendos e ativos e atribuímos especial ênfase em comprar barato com base nestes indicadores.
No curto prazo, a psicologia dos investidores (tema que tratamos com maior profundidade na revista Exame de Junho) pode fazer com que uma ação cote a qualquer preço, independentemente dos seus fundamentos económicos. O investidor inteligente aproveita as quedas nos mercados financeiros para comprar excelentes ativos quando transacionam substancialmente abaixo do seu valor intrínseco.
A Johnson & Johnson (JNJ) é um investimento em Valor, existe há mais de 130 anos e aumenta os dividendos há 50 anos consecutivos.
Fabricante e distribuidora americana muito diversificada com produtos e serviços nas áreas de cuidados de saúde, nomeadamente no sector farmacêutico, no sector de produtos de consumo e no sector de equipamentos médicos e de diagnóstico. A JNJ é uma empresa multinacional de grande dimensão, com vendas de 65 mil milhões de dólares em 2011, 55% das quais tiveram origem fora dos Estados Unidos. A empresa opera numa estrutura descentralizada com mais de 117.000 empregados. No último ano, gerou free cash flows de 12 mil milhões de dólares.
Nos últimos 10 anos, a empresa obteve um crescimento de resultados anualizado de cerca de 10%, com rentabilidades médias anuais no capital próprio de 27% e margens operacionais médias acima dos 25%. Estes indicadores revelam a consistência operacional da empresa e o elevado nível de eficiência em que opera.
A JNJ mantém um balanço conservador. Atualmente, a dívida da empresa tem um peso inferior a 35% do capital próprio. As maiores agências de rating de crédito - S&P, Moody's e Fitch - atribuem à JNJ um rating AAA, o que significa uma posição extremamente conservadora e protegida por um negócio bastante saudável e gerador de excelentes resultados.
A empresa aumenta dividendos há 50 anos consecutivos e distribui pelos seus acionistas 40% dos seus lucros anuais. Os lucros retidos são utilizados na recompra de ações próprias (outra forma de remunerar o acionista) e no financiamento da sua estratégia de crescimento; seja por intermédio de aquisições, seja pela via de investimento nas áreas de investigação da empresa (normalmente cerca de 10% das vendas).
Durante este período de crise, a JNJ aproveitou o facto de algumas empresas estarem a transacionar com grandes descontos do seu valor para as comprar (Mentor e Cruccel) e criar parcerias com empresas farmacêuticas de forma a expandir o seu portfólio de produtos e serviços (Elan). Recentemente, concluiu a operação de aquisição da Synthes, empresa suíça de dispositivos médicos, por 19,7 mil milhões de dólares. Aumentará substancialmente, desta forma, o peso da unidade de equipamentos médicos nas vendas da empresa.
Na unidade farmacêutica, a empresa enfrenta, tal como muitas das suas concorrentes, perdas de patentes de alguns dos seus produtos. No entanto, a empresa detém um portfólio robusto de produtos em desenvolvimento perto da fase de aprovação que contribuirão para reforçar as vendas da unidade farmacêutica.
A unidade de produtos de consumo enfrentou algumas dificuldades em 2010 e 2011 com a recolha voluntária de alguns produtos defeituosos, causando danos de imagem à empresa. Estes problemas foram já reconhecidos pela administração, estando previstas medidas para os corrigir. O nível elevado de diversificação das atividades da Johnson & Johnson salvaguarda a posição da empresa. Nenhum problema específico terá peso suficiente para abalar a performance global da empresa.
Após a reforma do anterior presidente executivo, a JNJ nomeou um novo CEO em Abril passado, o veterano da indústria Alex Gorsky. Gorsky trabalha com a JNJ desde 1988, tendo presidido, nos últimos anos, à unidade de equipamentos médicos e liderado o processo de aquisição da Synthes.
Grandes investidores em valor mantêm ou têm reforçado as suas posições na empresa salientando o carácter conservador do negócio aliado ao potencial de expansão a nível mundial, bem como a exposição a um sector - o da saúde - com muito boas perspetivas futuras devido ao envelhecimento progressivo da população, principalmente nos países desenvolvidos.
Em termos de avaliação, o Price Earnings Ratio (PER), que se traduz no número de anos que se demoraria a pagar a cotação da ação com os resultados do último ano, situa-se nos 13. Isto significa uma taxa de rentabilidade inicial do investimento (os resultados líquidos mais recentes a dividir pelo preço da ação) de 7.7%. O dividendo é superior a 3,6 %, taxa superior à dos depósitos a prazo, e com boas probabilidades de crescer no futuro, como aliás aconteceu nos últimos 50 anos. Os seus resultados líquidos estão em máximos, enquanto que a cotação se mantém sensivelmente nos mesmos valores dos últimos anos.
Em conclusão, trata-se de uma empresa que tem demonstrado uma performance operacional bastante acima da média. Desde 1980, a ação valorizou-se 14,57% ao ano incluindo dividendos. No entanto, a cotação atual continua barata. A equipa de gestão tem sabido alocar o capital da forma mais eficiente e com um negócio bastante diversificado, mantendo-o com baixo risco e elevado potencial de crescimento. O nosso preço de compra é um pouco abaixo do preço a que está a cotar.
Esta é uma boa proposta de valor.
AVISO: Esta não é uma recomendação de compra. A recomendação depende da situação financeira de cada investidor, da composição do seu património financeiro, do temperamento adequado para suportar a volatilidade nos mercados financeiros e da capacidade de manter os investimentos o tempo necessário para que a oportunidade se materialize, ou seja, para que o preço seja igual ao valor.
O mercado bolsista está cheio de indivíduos que sabem o preço de tudo mas não sabem o valor de nada.
-- Philip Fisher
O método de Investimento em Valor consiste em comprar negócios com fundamentos económicos soberbos, geridos por gente capaz e honesta, quando estão baratos. É simples, mas não é fácil.
Primeiro, a decisão de investir resulta de um processo de análise rigorosa dos dados fundamentais das empresas (balanços e demonstrações financeiras dos últimos 10 anos de atividade), dos negócios que lhe estão subjacentes e da sua capacidade de gerar um rendimento crescente no futuro. São avaliadas a qualidade do negócio, as margens operacionais, a evolução dos lucros, a rentabilidade dos capitais investidos, os níveis de endividamento, as vantagens competitivas dentro do sector e a capacidade de remunerar o acionista.
Segundo, e porque nem todos os elementos de valor do negócio são revelados na análise dos documentos contabilísticos, a experiência, a capacidade de julgamento e o ceticismo são fundamentais para estimar o valor da empresa.
Terceiro, quando estimado o valor da empresa, devemos compará-lo com o preço a que está a cotar no mercado. Se a diferença entre preço e Valor for grande, entendemos que o investimento se justifica por garantir ao investidor uma boa margem de segurança e permitir boas rentabilidades a prazo.
Quarto, e não menos importante, o investidor deve diversificar apenas o essencial, garantir um horizonte de investimento adequado e ter paciência e disciplina para aguardar que o preço a que o ativo cota no mercado se aproxime do seu valor intrínseco. Eventualmente, isso acontecerá.
A EDP enquadra-se no Investimento em Valor porque está barata.
A EDP - Energias de Portugal, SA gera, abastece e distribui eletricidade e gás em Portugal e Espanha. A empresa, através de subsidiárias, tem negócios de distribuição, produção e fornecimento de energia elétrica no Brasil e operações de geração de energia eólica (é o 3º maior produtor mundial) em Espanha, França, Bélgica e Estados Unidos. Cerca de 58% dos resultados operacionais da empresa (EBITDA - lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) são originados fora de Portugal.
A empresa apresentou, no passado dia 23 de Maio, o plano de negócios para o período de 2012 a 2015. Os objetivos são a manutenção do seu perfil de risco operacional baixo (atualmente 90% dos seus resultados derivam de contratos de longo prazo em atividades reguladas); o aumento da sua capacidade de geração de cash flows; o crescimento sustentável de resultados a longo prazo e a distribuição de rendimentos estáveis e atrativos aos seus acionistas.
A EDP espera crescer os seus resultados operacionais 5% ao ano e os resultados líquidos entre 1% e 5% ao ano. Em 2011, os lucros líquidos totalizaram 1,124 mil milhões de euros. A empresa pretende manter o volume de investimento anual em 2,1 mil milhões de euros e reduzir o endividamento líquido da empresa para 3 vezes o EBITDA em 2015, valor que atualmente é de 4,5 vezes.
Para a concretização destes objetivos, a EDP terá a ajuda da China Three Gorges (CTG), o acionista chinês que adquiriu a participação de 21,35% do Estado português a um preço de 3,45 euros por ação (53% acima do preço de mercado do dia anterior ao anúncio). Para além da participação acionista, a CTG vai financiar a EDP com uma linha de crédito de 2 mil milhões de euros e com investimentos minoritários em projetos de energia eólica com um valor de 2 mil milhões de euros. Isto significa que as necessidades de financiamento da EDP estão satisfeitas até 2015.
Recentemente, a EDP resolveu o dossier das chamadas rendas excessivas, acordando voluntariamente com o governo um corte que custará à empresa 50 milhões de euros por ano, o que corresponde a 2,5% dos resultados líquidos previstos para 2014.
A empresa propõe distribuir dividendos pelos acionistas equivalentes a 55%-65% dos resultados líquidos, a partir de 18,5 cêntimos. Este foi o dividendo pago em 2011 e representa uma taxa de dividendo atual de 10,99%. A EDP já aumenta dividendos há 7 anos consecutivos.
Resultados e Dividendos por Ação da EDPAnoResultados por AçãoDividendos por Ação20050,280,1020060,260,1120070,280,12520080,300,1420090,280,15520100,300,1720110,310,185
A cotação atual da empresa em bolsa é de 1,685 euros. Considerando que o resultado líquido por ação médio da empresa, para os próximos anos, se fixará pelos 0,30 cêntimos por ação, isto significa uma taxa de rentabilidade do investimento de 17,8% ao ano. Ou seja, em menos de 6 anos, a empresa gerará lucros suficientes que pagam a cotação atual da empresa. Nunca, na história da EDP, a relação entre o preço e os lucros gerados (PER - price earnings ratio) foi tão baixa. Por outras palavras, considerando os lucros que gera, nunca a ação da EDP esteve tão barata
Historicamente, a EDP transaciona em bolsa a cerca de 15 vezes os resultados líquidos por ação. Sendo um pouco mais conservadores e aplicando um múltiplo de 13,5 vezes ao resultado médio de 0,30 cêntimos por ação, obtemos um valor intrínseco para o negócio de 4,05 euros por ação.
Esta é uma estimativa de valor e não um price target. Para ser mais clara, não sabemos se este valor será atingido no mercado em 2, 3 ou 4 anos. Sabemos, no entanto, que eventualmente o mercado tenderá a reconhecer o verdadeiro valor do negócio. Sabemos que hoje, a este preço, estamos a comprar 1 Euro por menos de 50 cêntimos.
Pontos Fracos:
- Elevado endividamento,
- Exposição de 42% do negócio à economia portuguesa, que está em recessão,
- Risco da regulação,
- Liberalização da atividade e consequente concorrência.
Pontos Fortes:
- Cash flows regulares,
- Necessidades de financiamento acauteladas até 2015,
- Estrutura acionista estável,
- 58% dos lucros operacionais gerados fora de Portugal.
Considerando que as taxas médias dos depósitos a prazo são de 3,27%, que o dividendo pago pela EDP a esta cotação de mercado é 10,99% (a tributação fiscal é igual) e a taxa de rentabilidade do investimento é de 17,8%, o investidor em valor não terá dúvidas em aproveitar a oportunidade de investimento que a EDP oferece.
AVISO: Esta não é uma recomendação de compra. A recomendação depende da situação financeira de cada investidor, da composição do seu património financeiro, do temperamento adequado para suportar a volatilidade nos mercados financeiros e da capacidade de manter os investimentos o tempo necessário para que a oportunidade se materialize, ou seja, para que o preço seja igual ao valor.
Muitos investidores adotam as mais variadas estratégias que oferecem poucas ou nenhumas perspetivas reais de sucesso a longo prazo e uma grande probabilidade de perdas financeiras substanciais. Essas estratégias não são métodos coerentes de investimento mas antes se assemelham a especulação ou jogo.
A Margem de Segurança deve ser central em qualquer processo de investimento conservador. No caso do investimento em ações, o investidor avesso ao risco deve reconhecer que quanto maior for a diferença entre o valor - o que realmente valem os negócios por detrás das ações - e o preço a que estão a cotar - o que temos que pagar para ser donos desses negócios - maior é a margem de segurança com que aplica o seu dinheiro. Daqui resulta uma melhor taxa de retorno para o seu investimento.
A Sonae SGPS é disto um bom exemplo. A Sonae SGPS é um conglomerado familiar português, que detém a maior cadeia de hipermercados, supermercados e lojas de retalho especializado em Portugal, com uma estratégia de expansão internacional.
Esta holding é controlada pela Família Azevedo, que detém 53% do capital. A maior parte da riqueza da família está ligada à empresa. A Sonae SGPS é o maior empregador privado português, com mais de 40.000 funcionários.
A Sonae SGPS tem uma participação de 50% na Sonae Sierra, empresa dedicada à gestão e promoção de centros comerciais e uma participação de 53% na Sonae.com, empresa de telecomunicações nacional.
Tese
O negócio de retalho alimentar, representado pela marca Continente, é o seu maior negócio, com uma quota de mercado crescente de 25%. Num ambiente muito difícil para a confiança dos consumidores, isto evidencia um negócio estável. A base de clientes é muito leal, com mais de 90% das vendas associadas a cartão de fidelidade.
A Sonae é a principal empresa de retalho alimentar em Portugal, com a maioria dos hipermercados localizados em centros urbanos. Todos os seus hipermercados e supermercados estão em centros comerciais, beneficiando do tráfego de clientes das outras lojas. Disponibiliza uma enorme variedade de produtos aos seus clientes, contando com mais de 70,000 referências. De destacar, é o facto de 29% das suas vendas serem em produtos de marca própria.
A empresa detém as maiores operações logísticas em Portugal, o que os torna extremamente eficientes. As suas margens de lucro de 7% são mais elevadas do que as dos principais concorrentes, como a Jerónimo Martins (6,6%) e a DIA (5,7%). Num ambiente económico difícil, conseguiram aumentar as margens no primeiro trimestre deste ano, o que revela ganhos de eficiência.
Atualmente, a empresa é proprietária de 78% dos imóveis das lojas. A sua estratégia passa também pela monetização de ativos - importante fonte futura de capital para os investimentos da empresa - através da venda e locação de imóveis.
A dívida e dividendos
A dívida financeira líquida consolidada é de 2.264MEUR. Ao longo dos últimos três anos, reduziu 394MEUR. Espera-se que a dívida total tenha uma redução significativa nos próximos 6 anos. Parte significativa da dívida, cerca de 1.000MEUR, está vinculada aos imóveis das lojas de retalho. A sua dívida líquida equivale a 3,2 vezes o EBITDA (lucros antes de juros, impostos e amortizações).
A Sonae distribui pelos seus acionistas 51% dos lucros da empresa 0,0331 euros por ação, o que representa um yield de 7,7%.
Sonae Sierra, 50% da joint venture com a Grosvenor (grupo imobiliário escocês). Possui e desenvolve centros comerciais (49 centros comerciais com valor de mercado de aproximadamente 6,4 biliões de euros). A empresa apresenta uma considerável diversificação internacional: forte presença no Brasil (21%), Espanha (14%), Alemanha (13%) e Itália (6%). A componente de negócio em Portugal representa 44%. A taxa de ocupação dos seus espaços comerciais é de 96,8%.
No primeiro semestre de 2011, a OPV da Sonae Sierra Brasil permitiu o encaixe de 200MEUR para futuros investimentos na região.
Salientamos ainda que, apesar da crise, as vendas e os resultados líquidos da empresa aumentaram face ao ano anterior. O Loan-to-value de 43% é conservador face aos níveis do sector que se situam entre os 60 e os 70%.
Após a recessão de 2008, a sua participação na Sonae Sierra e a desvalorização de mercado das suas propriedades imobiliárias penalizou fortemente os resultados da Sonae SGPS. O NAV da Sonae Sierra caiu do máximo de EUR 1.713M para EUR 1.185M. Estas perdas parecem agora estar a estabilizar.
O valor atual de mercado da participação Sonae SGPS: 1.185,83MEUR (NAV em 31-03-2012) x 50% = 592,92MEUR.
A Sonae.com, terceiro maior operador de telecomunicações em Portugal, com uma quota de mercado de 21,1%, é um negócio autónomo, estável e crescente. A France Telecom tem uma participação de 20%, que deseja alienar. A dívida líquida representa 1,5 vezes o EBITDA. Considerando a atual cotação de mercado das ações da Sonae.com, a participação da Sonae SGPS é de 247,7MEUR (466MEUR x 53,16%).
Conclusão: A soma das partes
Relembro o leitor que preço e valor justo são coisas muito diferentes. O preço é o que o mercado cota a cada instante. O valor corresponde à capacidade que a empresa tem de produzir riqueza para os seus acionistas. Estamos aqui a levar em conta o preço que, no caso destas duas participações da Sonae SGPS na Sonae Sierra e Sonae.com, é muito inferior ao seu real valor.
O preço corrente de mercado, por ação, das participações da Sonae SGPS (na Sonae Sierra e Sonae.com) é de cerca de 0,42 Euros por ação, ou seja, quase a cotação atual de mercado da empresa, que é de 0,43 Euros. Por outras palavras, o mercado está a atribuir valor Zero ao negócio de hipermercados da Sonae SGPS. Esta é uma prova de que o mercado é extremamente ineficiente e pode, durante um período considerável de tempo, não avaliar corretamente as empresas e os negócios que lhes estão subjacentes.
A Sonae SGPS, ao preço a que está a cotar agora, é uma oportunidade que não pode ser ignorada.
AVISO: Esta não é uma recomendação de compra. A recomendação depende da situação financeira de cada investidor, da composição do seu património financeiro, do temperamento adequado para suportar a volatilidade nos mercados financeiros e da capacidade de manter os investimentos o tempo necessário para que a oportunidade se materialize, ou seja, para que o preço seja igual ao valor.
Os investidores que não conhecem ou nem se preocupam com os fundamentais do negócio não têm a determinação necessária para fazer a coisa certa na altura certa.
A regra mais antiga do investimento é a mais simples: "compre barato e venda caro". Isto é óbvio. O que significa realmente esta regra? Significa que devemos comprar a um preço baixo e vendê-lo a um preço alto. Mas o que é um preço baixo ou alto?
Devemos encontrar um padrão objetivo para determinar o preço "baixo" e "alto" e esse padrão é o valor intrínseco do ativo. Assim o significado de "compre barato e venda caro" torna-se claro: compre a um preço abaixo do valor intrínseco e venda a um preço mais alto. Para fazer isto, temos que ter uma boa estimativa do valor intrínseco. Este é o ponto de partida indispensável.
No investimento em valor, o objetivo é comprar o que é bom e barato. Os investidores em valor analisam os dados financeiros das empresas, tais como lucros, cash flows, dividendos e ativos e põem especial ênfase em comprar barato com base nestes indicadores.
O facto do investimento em valor produzir bons resultados de forma consistente, não significa que é fácil. Primeiro, depende de uma estimativa correta do valor da empresa. Sem isso, qualquer esperança de sucesso consistente é apenas isso: esperança. Se pagamos demais, precisaremos de uma melhoria surpreendente no valor, de um mercado forte ou de um comprador menos exigente para nos salvar. Segundo, é necessário o temperamento adequado.
É extremamente difícil, como investidores, fazer sempre a coisa mais certa. É, no entanto, impossível fazer consistentemente a coisa certa exatamente na altura certa. O mais que os investidores em valor podem esperar é estar certos acerca do valor de um ativo e comprá-lo quando está disponível por menos do que esse valor. Mas fazer isso hoje não significa que começaremos a ganhar dinheiro amanhã. A convicção no Valor ajuda a fazer face a esta dissonância.
Imaginemos que determina que um ativo vale 80 e tem a oportunidade de o comprar a 60. Não espere sucesso imediato. Verificará com alguma frequência que comprou durante um período de declínio nos mercados que poderá continuar. Em breve, estará a olhar para perdas potenciais na sua carteira. Agora, a ação que vale 80 e foi comprada a 60, está a cotar a 50. O que faz?
A curva da procura diz que, à medida que o preço sobe, a quantidade procurada diminui e vice-versa. É por isso que as lojas fazem mais negócios quando os bens que vendem estão em saldo. Na bolsa, no entanto, quando o preço cai, os investidores gostam menos da ação que compraram. Começam a duvidar da decisão que tomaram.
Para a maioria dos investidores, comprar mais ações a preços mais baixos, especialmente se o período de queda dos mercados for extenso, é difícil. Contudo, se gostámos da ação a 60, deveríamos gostar mais a 50... e muito mais a 40. Isto, porém, não é fácil. Ninguém se sente confortável com perdas e, eventualmente, o investidor começará a pensar, "será que estou errado e o mercado é que está certo?" O perigo é ampliado quando começam a pensar, "está a cair tanto, é melhor sair antes que chegue a zero." Este é o raciocínio que grassa no fundo dos mercados e que causa vendas desesperadas.
Os investidores que não conhecem ou nem se preocupam com os fundamentais do negócio não têm a determinação necessária para fazer a coisa certa na altura certa. Com um mercado em queda livre, não têm a confiança de manter ou comprar mais ações a preços reduzidos.
Infelizmente, o investimento é um concurso de popularidade e a coisa mais perigosa é comprar algo no pico da popularidade. Nesse ponto, todos os factos e opiniões favoráveis estão descontados no preço e não existem novos compradores.
No curto prazo, a psicologia dos investidores (tema que tratamos com mais profundidade na revista Exame de Junho) pode fazer com que uma ação cote a qualquer preço, independentemente dos seus fundamentos económicos.
Com horizonte de investimento adequado, uma carteira de 10 a 15 excelentes ações compradas a desconto do seu valor será um investimento excecional a médio e longo prazo.
Quanto menos pagarmos por uma acção, relativamente aos seus lucros, melhores serão os retornos futuros.
Nos mercados financeiros há uma atração irresistível pelos investimentos de que toda a gente fala. São esses, os que toda a gente quer ter e onde reina a excitação, que grande parte das instituições financeiras se apressam a oferecer. Ninguém quer ficar para trás.
É certamente intuitivo e simples de explicar porque devemos comprar ativos com bons rendimentos quando estão baratos. O que tem funcionado no investimento nos últimos 80 anos é comprar lucros baratos: comprar ações que transacionam a múltiplos baixos dos seus lucros. Os lucros são aquilo que resta depois da empresa pagar todas as suas contas e, portanto, são o motor principal do preço das ações. Quanto menos pagarmos por uma ação, relativamente aos seus lucros, melhores serão os retornos futuros.
O rácio preço/lucros da ação, vulgarmente apelidado de PER (price earnings rácio) é o preço da ação a dividir pelos seus lucros por ação. O inverso deste rácio é o yield dos lucros. Este yield reflete o retorno que receberíamos se a empresa distribuísse todos os seus lucros sob a forma de dividendo em vez de os reinvestir na empresa (o payout ratio é a percentagem de lucros que a empresa distribui sob a forma de dividendos e o restante é retido na empresa para reinvestimento).
O yield dos lucros é calculado dividindo o lucro por ação pelo preço da ação. Dito de outra forma, uma ação com um PER de 20 tem um yield de 5%. A EDP, com as ações a cotar a cerca de 2,20 Euros por ação tem um PER de 7 (lucro por ação de 0,314, ou seja, 2,20/0,314= 7). O yield dos lucros é, portanto, 14,27%. Por outras palavras, quanto mais baixo o PER, mais barata está a ação e mais elevado é o yield dos lucros (a EDP distribuiu em 2011 cerca de 55% dos lucros gerados).
O conceito de yield dos lucros é muito útil quando queremos comparar oportunidades de investimento. Por exemplo, a empresa petrolífera francesa TOTAL transaciona a 6,49 vezes os lucros, ou seja, com um yield de 15,4% (deste rendimento cerca de 43% será distribuído aos acionistas, equivalendo a uma taxa de dividendo de 6,51%). Se compararmos o yield dos lucros da TOTAL com o yield das obrigações soberanas a 10 anos da Alemanha (1,52%), da França (2,86%) ou dos Estados Unidos (1,82%), verificamos que a diferença é muito substancial, mesmo considerando apenas a taxa de dividendo. A mesma yield em Portugal é de 11.53%, mas comporta o risco da reestruturação da dívida .
Com a ação, o investidor consegue um rendimento muito superior. A obrigação alemã a 10 anos paga um cupão de 1,75%. Se o investidor aplicar aí 10.000 Euros, receberá 175 Euros por ano durante os próximos 10 anos, no total de 1750 Euros. No final do prazo, o governo alemão devolve-lhe os 10.000 Euros. Contudo há um senão: desde 1926, a taxa média de inflação é de 3%/ano. Assumindo esta taxa de inflação para os próximos 10 anos, isto significa que os 10.000 que o governo alemão vai devolver valerão nessa altura 7.374 Euros. A desvalorização do poder de compra deste investimento é de 26,3%.
Serve esta explicação simples para demonstrar que o investimento em ações excecionais que produzem rendimentos superiores permitirá aos investidores, não só proteger o seu poder de compra, mas também potenciar a rentabilidade das suas poupanças no futuro. Melhor ainda, se este investimento for realizado com critério e com este horizonte de investimento, o risco é muito limitado.
No passado dia 04 de Maio, o fundo soberano da Noruega anunciou ter vendido toda a dívida portuguesa e irlandesa e reduzido os seus investimentos em dívida da Itália, Espanha e Reino Unido. Apesar disto, o mesmo fundo tem optado por manter e até reforçar as posições que tem nas empresas cotadas nacionais.
O gestor do fundo declarou em Março que considerava as empresas portuguesas um melhor investimento que a dívida nacional. Agora viemos a saber que pôs a "carteira" onde havia posto a boca. É assim que deve ser.
Aos investidores importa saber se nas suas carteiras de investimento têm acções que possam ser máquinas de fazer dinheiro para o futuro.
Investir é abdicar de algum consumo no presente para garantir maior consumo e segurança no futuro. O verdadeiro risco de um investimento deve ser medido pela probabilidade de causar ao investidor uma perda de poder de compra no futuro, não apenas porque perde parte do capital mas também quando a remuneração desses investimentos não compensa a inflação.
Investimentos denominados em determinada moeda e que incluem fundos no mercado monetário, obrigações, depósitos bancários e outros instrumentos, são investimentos arriscados, ao contrário do que se possa pensar. Estes investimentos, para além de comportarem riscos, têm remunerações muito limitadas.
Outra categoria de investimentos incluem ativos que nunca produzirão nada e que são comprados pelos investidores na expectativa que outros, no futuro, os comprem a um preço mais elevado. O ouro, que tanto tem fascinado tantos investidores - motivados pelo medo - é um exemplo de um ativo que não produz nada e que precisa de atrair diariamente muitos compradores para escoar a produção que todos os dias é colocada no mercado.
A nossa preferência é o investimento em ativos que produzam rendimentos e que são, certamente, mais seguros. Acreditamos na capacidade extraordinária que algumas dezenas de empresas têm para produzir bens e serviços que o mundo inteiro precisa e irá continuar a consumir. Acreditamos que negócios de primeira classe como a Microsoft, Wells Fargo, Pfizer, Total, Novartis, General Electric, Wal-Mart, Johnson & Johnson, entre outras, continuarão a beneficiar de enormes vantagens competitivas, a gerar retornos excelentes e a produzir lucros excecionais para os seus acionistas.
O investimento nestas grandes marcas mundiais - empresas com grandes vantagens competitivas e com balanços com pouca dívida - está a proporcionar aos investidores a possibilidade de terem acesso a 5 fontes de rendimento/valorização para os próximos anos. As 5 componentes de valor:
1. Dividendos - estes negócios estão a distribuir, em média, 2% a 4% de dividendos pelos seus acionistas, numa altura em que as taxas de juro de estados soberanos, com ratings AAA, se fixam perto dos 2%. Esta é uma situação inédita nos últimos 50 anos.
2. Recompra de ações - estas empresas, suportados pelos seus balanços fortes e capacidade de geração de cash flows, estão a recomprar ações, que é outra forma de remunerar o acionista. Em média, estão em condições de recomprar anualmente 2% de ações próprias nos próximos anos.
3. Ajustar preços para inflação - as vantagens competitivas que sustentam estes negócios permitem que quaisquer aumentos de custos, na produção dos seus produtos ou serviços, possam ser passados para o preço final, não afetando a sua rentabilidade. Este fator pode significar mais 2% de rendimento médio.
4. Crescimento económico - estas empresas estão presentes em todo o mundo. Estão expostas ao crescimento económico, não só dos países desenvolvidos de onde são originárias, mas também ao crescimento mais acelerado das economias emergentes. Será de esperar que os seus resultados líquidos acompanhem o crescimento real médio esperado para estas economias, que será superior a 3% ao ano.
5. Reavaliação para a média normal - estas empresas estão subavaliadas em termos históricos. O mercado, a prazo, regressará para níveis normalizados de avaliação. Verificamos que, em média, estes negócios estão a ser avaliados a cerca de 12 vezes os seus lucros atuais, sendo a média histórica de 16. Anualizando o potencial de valorização em 5 anos, temos mais uma fonte de valorização, superior a 6% ao ano.
Adicionando estas componentes de valor, estamos perante oportunidades de investimento que, para os próximos anos, poderão proporcionar rentabilidades superiores a 15% ao ano.
Aos investidores importa saber se nas suas carteiras de investimento têm ações que possam ser máquinas de fazer dinheiro para o futuro. É fundamental comprá-las quando estão baratas.
É quase uma impossibilidade matemática imaginar que, de todas as coisas à venda em determinado dia, a mais atrativa, em termos de preço, é aquela que está a ser vendida, por um vendedor conhecedor do negócio (os insiders da empresa), a alguém menos conhecedor (os investidores).
-- Warren Buffett
As finanças comportamentais tentam explicar porque tantas vezes não tomamos as melhores decisões de investimento. O IPO do Facebook oferece aos especialistas desta área muita matéria-prima para estudar.
Na sexta-feira passada, realizou-se o IPO do Facebook, empresa com mais de 900 milhões de utilizadores em todo o mundo e líder incontestado das redes sociais. É por isso compreensível que a história do Facebook seja muito atrativa para investidores, analistas e comentadores. Ninguém deveria ficar surpreendido com o facto de o vendedor tentar sempre vender o mais caro possível ou que o sindicato bancário responsável pelo IPO tente agradar ao seu cliente e, simultaneamente, maximize as suas comissões que, em operações desta natureza, são enormes. Devido a tão elevadas expectativas no mercado, o número de ações a vender foi aumentado e reservaram um muito publicitado lote para investidores de retalho. Perante tal excitação, o preço do IPO foi fixado, naturalmente, no máximo do intervalo. As ações foram, assim, admitidas à cotação a 38 USD, ou seja, uma capitalização bolsista de 81,3 mil milhões de USD. Este foi o preço. Qual é o valor?
Investimento é toda a operação de capital com o fim de aumentar o seu valor. Como tal, o investidor prudente deve investir com margem de segurança, ou seja a desconto significativo do valor justo do negócio. Grande parte dos investidores ignoram o valor do negócio e investem na expectativa de outros o desejarem ainda mais no futuro e pagarem mais por ele.
Os IPO´s (Inicial Public Offering), são operações de venda de ações de empresas que vêm ao mercado pela primeira vez. Estas empresas têm, geralmente, histórias excelentes para contar e conseguem sempre atrair o dinheiro dos investidores. Contudo, os IPO´s, em geral, são péssimos investimentos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o IPO típico perde, relativamente ao mercado, cerca de 21% ao ano nos três primeiros anos em que a ação está cotada. Podem ser encontrados padrões similares na maior parte dos países. Um estudo realizado nos Estados Unidos, entre 1980 e 2007 e tendo como ponto de partida o preço do IPO, calculou a taxa de crescimento dos lucros da empresa que os investidores estavam a pagar. O preço médio descontava um crescimento anual de 33%. Qual foi a performance real destas empresas? Pouco menos que um desastre. O crescimento do free cash flow médio foi de -55% ao longo de cinco anos! A esperança que os investidores colocaram no crescimento das empresas foi extremamente dispendiosa. Apesar da péssima performance dos IPO´s estar bem documentada, os investidores continuam a participar na festa.
"É quase uma impossibilidade matemática imaginar que, de todas as coisas à venda em determinado dia, a mais atrativa, em termos de preço, é aquela que está a ser vendida, por um vendedor conhecedor do negócio (os insiders da empresa), a alguém menos conhecedor (os investidores)". Esta frase é de Warren Buffett, que tão bons conselhos tem dado aos investidores ao longo de várias décadas.
Ao investidor comum é difícil determinar o valor de uma empresa. O Facebook existe há apenas 8 anos e, ainda que poucos duvidem do seu sucesso, não possui um historial consistente de operações e de gestão que permita ao investidor em valor analisar a consistência da sua atividade.
A cotação do FB representa 121,7 vezes os lucros atuais e 16,6 vezes o capital próprio da empresa. Quem comprou Facebook, pagou muito mais pela "esperança" de lucros futuros. Isto significa que o mercado espera, não só que os resultados e vendas do Facebook continuem a crescer, mas que continuem a crescer a taxas muito elevadas e por muitos anos.
Não precisamos de determinar o valor exato do Facebook para concluir que o preço do IPO é muito caro. Tal como Benjamin Graham, pai do investimento em valor, dizia, "não precisamos de saber o peso exato de uma pessoa para saber que ela é obesa".
A quantidade de informação e opiniões que nos são apresentadas diariamente pelos media, a rapidez com que circulam, não têm dado vida fácil a aforradores e investidores.
Já aqui escrevi vários artigos que, pela sua atualidade, merecem ser revistos: "Euro too big to fail" de 9 de Dezembro, "Investir é simples mas não é fácil" de 23 de Dezembro e "O medo e a ganância" de 10 de Fevereiro passado.
A quantidade de informação e opiniões que nos são apresentadas diariamente pelos media, a rapidez com que circulam e a frequente falta de seriedade e profundidade de análise, não têm dado vida fácil a aforradores e investidores que, na maioria dos casos, já só se preocupam em preservar o que têm. O medo não é, com certeza, bom conselheiro e tantas opiniões contrárias, por vezes até montadas de forma convincente para aliciar os investidores para este ou aquele negócio, levam investidores a tomar decisões por impulso e de forma irracional. O bom senso diz-nos que devemos ver a qualidade de quem dá opiniões e as motivações que têm.
"Espíritos animais" é a expressão que John Maynard Keynes utilizou no seu livro de 1936, "A Teoria Geral do Emprego, Juro e Dinheiro", para explicar as emoções que influenciam e condicionam os nossos comportamentos e decisões: "A juntar à instabilidade devida à especulação, existe a instabilidade devida à característica da natureza humana que dita que uma grande proporção das nossas atividades depende de impulsos espontâneos e não de expectativas matemáticas ou económicas. Provavelmente, a maioria das nossas decisões apenas podem ser encaradas como resultado de espíritos animais, isto é, uma tendência espontânea para a ação ao invés da inação e não como o resultado de uma média ponderada de benefícios quantitativos multiplicada pelas probabilidades quantitativas".
Segundo neurocientistas, há um conjunto de situações em que somos mais suscetíveis de tomar decisões irracionais e que automaticamente nos conduzem a decisões emotivas: quando o problema é complexo, quando a informação está em permanente mudança e aparece de forma incompleta e confusa, quando os objetivos estão mal definidos, quando o stress é elevado, quando as decisões dependem da interação com terceiros e quando muito está em jogo. As decisões de investimento com que aforradores se deparam encaixam bem nas circunstâncias descritas.
O que devem então fazer os investidores para acautelarem as suas poupanças?
Costumo dizer que grande parte das decisões de investimento são decisões de bom senso. A verdade é que o bom senso não é comum quando o medo se instala. A tendência do ser humano para seguir o rebanho leva-o a cometer erros com custos muito significativos para os seus patrimónios.
O bom senso diz-nos que esta crise também vai passar. No dia-a-dia, a terra continuará a produzir comida, as empresas continuarão a produzir produtos e serviços, as pessoas continuarão a deslocar-se para trabalhar. Cada vez conseguimos produzir mais com menos recursos e população mundial continua a aumentar e a consumir.
Os aforradores devem concentrar-se na informação essencial e não no acessório que diariamente nos impingem e que não tem qualquer importância para as empresas que criam riqueza.
Na Casa de Investimentos acompanhamos cerca de 200 negócios excecionais no mundo, analisamos profundamente esses negócios e a capacidade que têm de produzir lucros acima da média para os seus acionistas, a força das suas vantagens competitivas e a capacidade e clareza de quem os gere. Ou seja, queremos saber quanto valem realmente. Quando cotam a preços que nos garantem uma boa margem de segurança, compramos. Quando cotam ao preço justo vendemos.
Durante este processo, queremos saber sempre o que os melhores investidores estão a fazer, onde investem eles o seu dinheiro. Para nós, os melhores investidores não são os que olham para amanhã a tentar adivinhar o mercado. São os que olham pelo menos para os próximos 10 anos e que, nos últimos 20, 30 ou 54 anos, como é o caso de Warren Buffett, tiveram resultados excecionais.
Não siga a multidão, siga os melhores.
Este aumento de capital vai limitar o potencial de crescimento futuro do BES e reduzir o valor justo do negócio.
Na semana passada, o Banco Espírito Santo surpreendeu o mercado com o anúncio de um aumento de capital de 1.010 milhões de euros. O BES pretende emitir 2.556,7 milhões de novas ações ao preço de subscrição de 0,395 o que, face à cotação de fecho do dia do anúncio, representa um desconto de 66%.
Os testes de stress realizados pela Autoridade Bancária Europeia (ABE), atualizados em Dezembro passado na sequência da avaliação da TROIKA aos ativos dos bancos, indicavam a necessidade de 810 milhões de euros. Na altura, o BES chamou a atenção para o facto de já depois de 30 de Setembro (data até à qual decorreram os testes de stress) ter reforçado o capital em 622 milhões de euros, resultantes da troca de valores mobiliários. Portanto, feitas as contas, o BES precisaria apenas de um reforço do capital social de 188 milhões de euros.
O Banco Espírito Santo sempre defendeu que as suas necessidades de capital eram reduzidas, pondo sempre de parte qualquer recurso aos dinheiros públicos, que implicassem a presença do Estado na estrutura acionista.
O banco defende que, com este aumento de capital, assegura o reforço dos rácios de capital para cumprimento das exigências da ABE e do Banco de Portugal.
Este aumento de capital, na nossa opinião, não é a melhor maneira de proteger os atuais acionistas do banco, que sofrerão uma enorme diluição de capital. Vejamos:
1. O valor contabilístico do BES era, antes do aumento de capital de 3,69 euros por ação. No dia 11 de Abril, data do anúncio do aumento de capital, a cotação de fecho do BES foi de 1,167 euros, 32% do valor contabilístico. Com o aumento de capital a 0,395 euros, o desconto relativamente à cotação de fecho é de 66%. No entanto, relativamente ao valor contabilístico, representa um desconto de 89,3%. Este foi, porventura, o desconto que tiveram que conceder ao sindicato bancário e ao núcleo duro de acionistas para que um aumento de capital desta dimensão se concretizasse.
Atendendo que as necessidades de capital do banco não eram tão elevadas, não encontramos justificação para que se faça um aumento de capital tão grande com um desconto tão penalizador.
2. No mesmo dia, o BES anuncia que parte deste aumento de capital - 225 milhões de euros - será usado para comprar a participação de 50% do Credit Agricole na BES Vida. Entendemos que o preço que o BES está disposto a pagar é extremamente elevado: a posição está a ser comprada a 3,97 vezes o valor contabilístico da seguradora, que em 2011 apresentou um prejuízo de 107 milhões de euros. Nesta altura, a seguradora francesa AXA transaciona no mercado a 60% do valor contabilístico e o sector, a nível mundial, transaciona a 88% do valor contabilístico; muito abaixo dos múltiplos deste negócio do BES com o Credit Agricole.
Não se compreende, portanto, porque se concede um desconto tão grande nas ações do banco neste aumento de capital e se gasta parte desse aumento de capital para comprar um ativo tão caro.
Resta-nos dizer que o valor de 225 milhões a pagar pela BES Vida é praticamente o mesmo valor que o Credit Agricole, segundo maior acionista do BES, precisa para ir a este aumento de capital. Não será este um preço demasiado alto para manter os franceses na estrutura acionista?
3. O BES dispõe de activos financeiros líquidos que poderia vender nomeadamente, a posição de 10,45% na Portugal Telecom, que valia 462,68 milhões e a posição de 2,12% na EDP e que valia 213,89 milhões, isto a preços de mercado no mesmo dia do anúncio do aumento de capital. Estas vendas só por si permitiriam um reforço muito significativo dos seus rácios de capital.
4. Poderia ainda, em último caso, recorrer à linha de recapitalização do Estado. Os títulos de capital contingente que irão ser disponibilizados não deverão causar um efeito de diluição tão grande como este aumento de capital.
No auge da crise de subprime nos Estados Unidos, o Governo americano forçou todos os bancos a aceitar dinheiros públicos para que as instituições que realmente precisavam de ajuda não fosse estigmatizadas pelo mercado. Na altura, a JPMorgan, o Wells Fargo e o US Bank Corp eram claramente três dos bancos que dispensavam a ajuda do governo. Foram, no entanto, obrigados a recebê-la.
Estes capitais do Governo americano foram concedidos sob a forma de ações preferenciais, a ligeiros descontos dos preços de mercado . O Estado americano impôs aos bancos a redução drástica no pagamento de dividendos, na maior parte dos casos para 1 cêntimo, e limitações salariais e bónus aos gestores. Foi sem dúvida esta a razão pela qual os gestores destes grandes bancos quiseram pagar estas ajudas o mais depressa possível.
O Governo americano quis, com esta medida, garantir que a banca tinha condições mais robustas para assumir perdas de crédito mal parado. Pretendeu também garantir que o dinheiro entregue aos bancos entrasse na economia real e que o mercado de crédito voltasse a funcionar rapidamente.
Sobre esta intervenção do Estado americano, Warren Buffett escreveu, em 16 de Novembro de 2010, uma carta aberta ao New York Times com o título "Pretty Good For Government Work".
Esperemos que o Estado português faça também um bom trabalho. A qualquer economia é indispensável o bom e normal funcionamento do sistema financeiro. Ao BES, não valeria a pena aguardar pela definição deste processo com o Estado?
Esta operação vai provocar uma enorme diluição sobre as ações do banco, reduzindo o valor contabilístico por ação em 57%. Devido ao tão elevado número de ações novas, as estimativas de lucros normalizados por ação, para os próximos anos, caem 62%. Este aumento de capital vai limitar o potencial de crescimento futuro do BES e reduzir o valor justo do negócio. Vai obrigar os atuais acionistas a investir mais dinheiro para evitar uma maior diluição.
Considerando que os gestores são também acionistas relevantes do banco e com a informação até à data disponível ao público, um aumento de capital desta magnitude não é compreensível.
Katsenelson não investe num índice, investe num conjunto limitado de excelentes empresas com vantagens competitivas, quando estão baratas.
Na conferência organizada pelo Jornal de Negócios dia 19 deste mês, John Authers, principal conferencista e colunista do Financial Times, fez a sua apresentação defendendo que estamos num mercado "caranguejo", ou seja um mercado que anda de lado.
Embora nunca tenha feito referência a Vitaliy Katsenelson ou ao livro de sua autoria "Sideways Markets" (2011), quem leu o livro percebeu que Authers apresentou os argumentos do autor para dizer que não estamos num bull market, estamos, segundo ele, num mercado "caranguejo", que anda de lado há vários anos e tudo leva a crer que continuará a andar mais alguns.
Na sua apresentação, justifica este possível comportamento para os próximos anos por duas razões: primeiro, pelo facto de estarmos num processo de desalavancagem a nível mundial em que Estados, empresas e consumidores têm que reduzir o seu endividamento. Segundo, porque o mercado se encontra ao valor justo, ou seja, os PER´s - Price Earnings Ratio - avaliados com base na média dos resultados das empresas nos últimos 10 anos, estão a níveis que correspondem ao justo valor que produzem. Apesar das grandes variações observadas nos mercados nos últimos 10 anos, se os investidores tivessem investido no índice, desde 2000, estavam a zero. De acordo com esta teoria, até 2020 os mercados continuarão a andar de lado.
Depois, veio o tempo das perguntas: o que devem então fazer os investidores? Nestas situações as respostas raramente são muito concretas, por limitações impostas pelas instituições que cada um representa, ou outras.
O facto dos índices não "irem a lado nenhum", como referiu Authers, não quer dizer que os investidores não devam investir em acções. Katsenelson defende aliás que há excelentes condições para ganhar dinheiro nestes mercados. É importante saber avaliar as empresas, procurar e encontrar as que têm excelentes posições competitivas e que por isso terão bons resultados, verificar que têm pouca dívida e que são geridas por gestores capazes. Depois, comprar apenas quando estão baratas.
Katsenelson, que regularmente expressa as suas opiniões no Financial Times, Barron´s, Institutional Investor, Bloomberg, New York Post, entre outros, é um investidor em valor conhecido pelo seu bom senso. Katsenelson não investe num índice, investe num conjunto limitado de excelentes empresas com vantagens competitivas, quando estão baratas. Portanto, mesmo quando o mercado "transacciona numa banda", é possível obter boas rentabilidades.
Questionados onde investir, os conferencistas sugeriram o mercado americano, com o argumento que é o mercado que tem recuperado melhor.
No site da Casa de Investimentos, pode encontrar um conjunto de artigos escritos desde Novembro de 2008, no Correio do Minho. Ao longo destes últimos três anos, aconselhamos os investidores a investir em acções americanas. A propósito da descida no rating dos Estados Unidos, e com os mercados a cair cerca de 20% dos máximos do ano, escrevi aqui o primeiro artigo: "Ignore a Multidão". Explicámos porque era aquela altura excelente para comprar acções de boas empresas, grandes máquinas de fazer dinheiro para os seus accionistas e que estavam baratas. Desde então, o mercado subiu cerca de 25%.
Como diz Warren Buffett, "O futuro nunca é claro e paga-se um preço muito elevado por um consenso alargado. Aliás, a Incerteza é amiga do investidor de longo prazo"
Continuamos a encontrar excelentes empresas a transaccionar a desconto significativo do seu valor. Contudo, são hoje muitas menos. É, na minha opinião, muito importante dizer aos investidores que é fundamental avaliar os negócios por trás dessas acções e certificar-se que estão baratas. Só assim protegem e rentabilizam o seu dinheiro, quer o mercado se comporte em "sideways" ou não.
Só com más notícias é que conseguimos comprar boas empresas baratas. Como disse um dia Keynes, quando todos concordam com os méritos do investimento já ele estará caro.
Caro leitor ,
Venho trazer ao seu conhecimento o resumo de uma carta que o conceituado gestor de fundos americano, Jeremy Grantham, dirigiu recentemente ao seus clientes. Tenho a certeza, porque os sigo, que estes princípios lhe serão muito úteis. Recomendo que a guarde e, de tempos a tempos, a releia.
(...)"Acredite na História. No mundo dos investimentos, Santayana está certo: "a história repete-se e esquecer o passado é estar condenado a repeti-lo". Todas as bolhas rebentam e todas as manias passam. Devemos, em absoluto, ignorar os interesses escondidos da indústria financeira e as claques inevitáveis que asseguram, de tempos a tempos, que desta vez é diferente e que vivemos um novo paradigma. O mercado é gloriosamente ineficiente e afasta-se, por vezes muito, do seu preço justo mas, eventualmente, após partir o seu coração e esgotar a sua paciência (...), regressará ao valor justo. Eis como deve actuar.
Não empreste, nem peça emprestado. Se pedir emprestado para investir, está a interferir com a sua sobrevivência. Os portefólios alavancados podem ser destruídos por ordens stop. O endividamento reduz o activo crítico de qualquer investidor: a paciência.
Não ponha todos os seus tesouros num único barco. Este é o mais óbvio de todos os conselhos sobre investimento. Foi uma lição que os antigos mercadores aprenderam literalmente há milhares de anos. Vários investimentos diferentes darão resistência ao seu portfólio e a capacidade de resistir a choques inesperados.
Seja paciente e esteja focado no longo prazo. Espere por um bom jogo de cartas. Se esperou e esperou mais um pouco até que o mercado esteja muito barato, essa será a sua margem de segurança. Só tem que ter coragem de comprar. As acções habitualmente recuperam, os mercados recuperam sempre. Se seguiu as regras anteriores, conseguirá aguentar as más notícias.
Reconheça as suas vantagens face aos profissionais. O maior problema para os investidores profissionais é lidar com o risco de carreira, isto é, proteger o próprio posto de trabalho. O segundo maior problema é o excesso de transacções causado pela necessidade de aparentar estar ocupado para merecer o salário. O investidor individual está muito melhor posicionado para esperar pacientemente pela altura certa enquanto ignora o que os outros estão fazer. Isto é quase impossível para os profissionais.
Tente conter o optimismo. O optimismo é provavelmente uma característica positiva de sobrevivência. A nossa espécie é optimista e, de uma forma geral, as pessoas de sucesso são mais optimistas que a média. Mas o optimismo tem uma desvantagem, principalmente para os investidores: não gosta de ouvir más notícias.
Em raras ocasiões, tente ser corajoso. O investidor individual pode investir uma maior parte do seu portfolio quando surge uma oportunidade única. O maior risco para o investidor profissional - perda de comissões e de clientes - não existe para o investidor individual.
Resista à multidão: os números são mais importantes. Este é o conselho mais difícil de seguir: é difícil resistir ao entusiasmo de uma multidão. Ver os vizinhos a enriquecer no fim de uma bolha enquanto estamos fora do mercado é pura tortura. A melhor maneira de resistir é calcular o valor do mercado, focar-se nestes números e ignorar tudo o resto. Ignore especialmente as notícias de curto prazo: o vaivém das notícias económicas e políticas é irrelevante. O valor das acções está baseado no valor futuro total dos lucros e dividendos que a empresa vai gerar nas próximas décadas.
Seja verdadeiro consigo próprio. É imperativo, para ter algum sucesso nos investimentos, que conheça as suas próprias limitações. Se consegue ser paciente e ignorar a multidão, provavelmente terá sucesso. Mas pensar que o consegue e depois adoptar uma estratégia que lhe permite ser seduzido ou intimidado pela multidão é uma garantia de desastre. Se não consegue resistir à tentação, simplesmente não deve investir na bolsa. (...)"
Com consideração,
Emília O. Vieira
Presidente do Conselho de Administração
Casa de Investimentos - Gestão de Patrimónios, S.A.
As alterações sociais que conduziram a uma "sociedade do lucro", em que o dinheiro se sobrepõe à realização pessoal, mede a nossa valia pelo que ganhamos e gastamos.
O primeiro fundo de investimento, Massachusetts Investors Trust (MIT), foi criado em 1924, nos Estados Unidos e era gerido pelos seus próprios depositários. Apesar desta indústria, na sua génese, ter objectivos e princípios sãos - a proteção dos valores investidos e a recompensa dos donos do dinheiro - estes foram rapidamente adulterados em benefício dos seus gestores e dos conglomerados financeiros.
Várias são as razões que contribuíram para essa transformação:
1. As alterações sociais que conduziram a uma "sociedade do lucro", em que o dinheiro se sobrepõe à realização pessoal, mede a nossa valia pelo que ganhamos e gastamos e corrói o círculo virtuoso de confiança em que a nossa sociedade tão profundamente depende.
2. O crescimento dos Fundos de Investimento e a sua transformação num "grande negócio". A SEC - Securities and Exchange Comission, entendia que a venda de uma empresa gestora de fundos era a venda de um dever fiduciário e os lucros excessivos dos gestores constituíam uma apropriação ilegal dos activos dos fundos. Em 1958, uma decisão judicial veio permitir que estas empresas fossem cotadas em bolsa e detidas por indivíduos que não os gestores dos fundos. O grande objetivo dos fundos passou a centrar-se no lucro e no crescimento do negócio.
Só nos Estados Unidos, passou-se de um volume de 2 biliões em 1950, para 8 triliões em 2005. A guarda dos valores confiados passou para segundo plano. A venda e o comissionamento passaram a ditar a estratégia a seguir. Os fundos passaram a ser um dos negócios mais lucrativos para os gestores, em detrimentos dos investidores. Muitos empreendedores foram atraídos para esta actividade, não com o propósito do dever fiduciário, mas antes com o fim claro de criação das suas fortunas individuais.
O prémio Nobel Paul Samuelson declarou, em 1967, de forma pungente: "Só existe um sítio para fazer dinheiro no negócio dos fundos de investimento - da mesma forma como só existe um sítio para um homem moderado num bar - atrás do bar e não à frente... por isso investi numa empresa gestora de fundos". Olhando para a situação actual, Samuelson estava muito mais certo do que alguma vez poderia imaginar.
John Boogle, fundador da Vanguard, uma das poucas gestoras independentes que restam, conclui: "a indústria dos fundos de investimento desenvolveu uma estrutura que favorece os interesses dos gestores em detrimento dos interesses dos clientes".
3. As gestoras tornam-se subsidiárias dos grandes conglomerados financeiros, os grandes Bancos mundiais: a extraordinária acumulação de activos sob gestão que resultou destas compras - muitas vezes centenas de biliões de dólares - servem somente o interesses dos gestores dos fundos e dos bancos que detêm estas empresas. A consequência deste aumento de dimensão foi a escalada das comissões, muitas vezes escondidas no preço das unidades de participação.
Por outro lado, esta concentração dificilmente serviria os interesses dos clientes. É muito pouco provável que dimensões gigantes e a procura de lucros crescentes tornem a gestão do dinheiro mais eficiente ou baixem os custos para os clientes ou façam a indústria regressar à sua missão original de guarda e valorização dos patrimónios.
Os retornos para os investidores não foram beneficiados com estas alterações. De facto, o inverso é verdadeiro. Os fundos geridos sob a égide de grandes instituições financeiras conseguiram retornos distintamente inferiores aos conseguidos por fundos geridos por empresas não cotadas em bolsa. Um estudo levado a cabo pela Fidelity Investments analisou as performances de 54 gestoras ao longo da década terminada em 2003. As conclusões são espantosas. As oito melhores gestoras não estavam cotadas em bolsa, eram detidas pelos gestores dos fundos.
A independência e o alinhamento com os interesses dos clientes são fundamentais para a protecção e valorização dos patrimónios financeiros.
Os investidores são incentivados a não meter todos os ovos no mesmo cesto e os fundos de investimento proporcionam uma enorme variedade de investimentos.
Na semana passada, fiz aqui um sumário sobre o aparecimento, crescimento e transformação da "indústria dos fundos de investimento". A perspetiva apresentada nesse artigo é apenas do lado da oferta: os volumes extraordinários em gestão e a procura de lucros crescentes passaram a ser os objetivos das instituições financeiros.
Na venda dos fundos de investimento, a banca recorre sempre a argumentos a que os investidores são sensíveis:
1. Vantagens na diversificação de investimentos - os investidores são incentivados a não colocar "todos os ovos no mesmo cesto" e os fundos de investimento proporcionam uma enorme variedade de investimentos em diversas classes de ativos. Desde fundos mobiliários compostos por ações, obrigações, contratos de futuros; fundos sectoriais, de matérias-primas, de índices, fundos imobiliários, e até fundos de fundos, existe uma imensidão de variantes para todos os gostos e perfis inventados pela indústria financeira. Infelizmente aquilo que é vendido como uma vantagem torna-se na sua maior desvantagem: excesso de diversificação e falta de transparência. O fundo de ações com 300 ou 400 empresas terá certamente retornos semelhantes ou piores aos dos índices. Os retornos das boas empresas são diluídos pelas empresas medíocres e menos boas.
Porquê este excesso de diversificação? Os gestores dos fundos, por restrições legais, internas à própria instituição financeira e até para protegerem o seu emprego, enveredam por uma diversificação que tende a refletir as variações dos índices de mercado. Se tiverem performances (ainda que más) que reflitam o mercado, o seu lugar está a salvo. Por outro lado, os gestores e os seus fundos são constantemente avaliados pela performance do último trimestre e, portanto, vendem quando todos vendem e compram quando todos compram, focados apenas no curto prazo.
2. Possibilidade de investir montantes reduzidos - este é um bom princípio para quem tem valores mais reduzidos. No entanto, verificamos que a banca gere patrimónios financeiros relevantes, com uma grande dispersão por muitos fundos de investimento. Uma diversificação sem sentido e propósito, que têm apenas subjacente o comissionamento na venda.
3. Acesso a uma gestão "profissional" - até Junho de 2009, o bancos aconselhavam os investidores a aplicarem o seu dinheiro em depósitos a prazo: "fique conservador e lá para Junho fique mais agressivo". Em Junho, os jornais noticiavam que os gestores de fundos estavam naquela data, mais recetivos à compra de ações. O mercado já tinha subido 40%. Em Agosto de 2011, em duas semanas, o mercado americano recuou 20%. Nos mínimos desta correção, as grandes gestoras mundiais anunciavam nos canais de televisão, CNBC e Bloomberg, que estavam em dinheiro porque o futuro era incerto. Desde essa altura, o mercado americano subiu 24%.
4. Custos de transação baixos. Este argumento é falso na esmagadora maioria dos casos. Os fundos de investimento têm comissões de subscrição, de resgate, de gestão, de performance e custos de transação. O comissionamento é tão elevado que os retornos só podem ser medíocres. Estas comissões não são comunicadas com transparência, são escondidas aos clientes nas cotações das Unidades de Participação.
John Bogle, fundador da gestora de fundos Vanguard, sumariza muito bem o melhor caminho a seguir: "é fundamental que as gestoras sejam detidas pelos gestores e que sejam independentes dos grandes grupos financeiros. Só assim atuam como guardiões dos donos do dinheiro".
Warren Buffett diz-nos como investir com sucesso: devemos comprar ações de empresas com negócios excecionais, geridos por gente capaz e honesta, quando os seus preços estão a desconto substancial do seu valor justo. Assim, o investidor diversifica apenas o essencial e concentra os seus investimentos em 10 ou 12 boas empresas que conhece muito bem e nas quais se sente inteiramente confiante. Este investimento é completamente transparente. Só devemos investir naquilo que entendemos.
A frase que dá título a esta crónica é de Christopher H. Browne e foi extraída de "O Livro do Investimento em Valor".
O princípio central do investimento em valor é a salvaguarda da margem de segurança. Quanto mais baixo for o preço de compra do ativo em que investimos, maior é a margem de segurança que se consegue e consequentemente, maior será o retorno para o investidor.
Nada,, no investimento, surge de forma fácil - e quando parece devemos usar de grande ceticismo na sua análise - e portanto, a margem de segurança é conseguida devido a diversos fatores de natureza negativa: a crise financeira em que vivemos, abrandamento do crescimento económico, problemas com determinado sector, legislação desfavorável, aumento dos custos de matérias primas em determinado sector, problemas que a empresa tem com determinado produto ou mesmo alterações na gestão. Todos estes fatores geram notícias negativas que, independentemente de serem comunicadas de forma esclarecedora ou não, geram um sentimento de pessimismo, por vezes, extremo, que depreciam os preços dos ativos ainda mais.
Todos somos influenciados por notícias que lemos nos jornais e vemos nas televisões, ou pelo que ouvimos a amigos e pessoas que julgamos especialistas. No entanto, todos sabemos também que a melhor altura para comprar ações, uma quinta ou qualquer outro ativo, é quando estão baratos. Contudo, quando as ações estão baratas é muito fácil encontrar motivos para não as comprar. É nestas alturas que é muito difícil ser contrário e ignorar o que a multidão está a fazer. É nestas alturas que toda a gente vende e, em qualquer conversa de circunstância em que o assunto possa surgir, anuncia que já vendeu.
A experiência do passado recente da maior parte dos investidores em Portugal é de perdas muito significativas. Os títulos mais disseminados na bolsa portuguesa são dos que maiores perdas acumulam. É compreensível que os investidores estejam tão céticos e julguem que o futuro seja sempre este. Esta atitude amplia ainda mais a queda das cotações.
O investidor comum não está sozinho. Este foi também o comportamento dos grandes gestores de dinheiro a nível mundial. Entre Outubro de 2008 e Junho de 2009 muitos, nos principais canais de negócios e nas revista e jornais da especialidade, com grande orgulho apregoavam Cash is King, ou seja, dinheiro é rei. Muitos deles mantiveram esta postura e previram a desgraça por muito tempo. Não queriam desistir da sua genialidade de um dia para o outro. Dos mínimos de Março de 2009 até fim de Junho, o principal índice americano S&P500, subiu cerca de 44%. Dinheiro, afinal, não era rei.
É claro que não sabemos quando o mercado começa a subir e portanto, não tentamos adivinhar o dia em que deveremos comprar. Estou aliás convencida que ninguém sabe. Sabemos, no entanto, o preço a que devemos comprar para garantir uma margem de segurança confortável: é quando nos vendem o valor de 1 euro por 60 cêntimos (nalguns casos os "saldos" na bolsa são ainda maiores).
O futuro próximo não é claro para nós. As recuperações económicas não se fazem de um dia para o outro e a estrada apresentará sempre solavancos. No entanto, sabemos que, a prazo, os mercados acabarão por refletir o verdadeiro valor das empresas. Sempre o fizeram no passado. Sabemos também que quando as notícias sobre a economia e as empresas forem favoráveis o mercado já terá subido substancialmente.
O verdadeiro investidor deve estar preparado psicológica e financeiramente para, no curto prazo, ver grandes desvios entre valor intrínseco das ações e preço a que estão a cotar no mercado e aproveitar para fazer bons investimentos.
Uma carteira diversificada em ações de boas empresas nacionais e estrangeiras que geram bons rendimentos (nalguns casos com dividendos superiores aos depósitos a prazo), compradas tão baratas, mantidas por um horizonte de investimento adequado; proporcionarão excelentes rentabilidades.
Na passada segunda-feira, chegou às livrarias "O Livro do Investimento em Valor", da autoria de Christopher Browne, traduzido e promovido pela Casa de Investimentos e pela Editora Caleidoscópio.
O livro explica numa linguagem simples e intuitiva o que é o Investimento em Valor, o método de investimento popularizado por Warren Buffett e que, ao longo dos últimos 80 anos, produziu retornos superiores a qualquer outra estratégia de investimento. Oferece um conjunto de princípios que apelam fortemente ao bom senso e permitem aos investidores e aforradores tomarem decisões mais conscientes de poupança, investimento e até de consumo.
A tomada de decisões de investimento ponderadas pode ter um impacto significativo na vida das pessoas: pagar a educação dos filhos, preparar uma reforma confortável, proporcionar liberdade financeira para construir um futuro melhor.
Da mesma forma que seleccionamos, das prateleiras dos supermercados, os produtos que precisamos tendo por base uma relação preço/qualidade, devemos estar preparados para rejeitar muitos produtos oferecidos pelas instituições financeiras e subscrever apenas o que entendemos e melhor serve os nossos interesses no futuro.
Neste livro, tão importante como expor o método de investimento e o bom senso que lhe está subjacente sobre o que devemos fazer para rentabilizar a poupança, é o que não se deve fazer para a pôr em risco e o impacto que a passagem do tempo tem sobre o património financeiro que não é criteriosamente gerido. O autor apresenta inúmeros exemplos vividos ao longo da sua carreira de 40 anos como gestor da mais antiga gestora de patrimónios de Wall Street. Avisa os leitores para o facto de grande parte das instituições financeiras no mundo estarem cada vez mais vocacionadas para gerir no curto prazo, para o comissionamento e a venda, criando ilusões e falsa segurança aos investidores.
Acreditamos que a melhor forma de preparar as pessoas para os desafios da vida é através da divulgação do conhecimento. O documentário, que no passado dia 28 de Fevereiro foi transmitido na SIC Notícias, "Nascido para Viver", sobre a extraordinária queda da taxa de mortalidade infantil nos últimos 40 anos em Portugal, realça isso mesmo. Aproveito aqui para endereçar os parabéns a todos os que contribuíram para nos colocar entre os melhores do mundo. Parabéns também à Fundação Francisco Manuel dos Santos por mostrar que é possível trabalhar por um bem comum e que devemos traçar objectivos de médio e longo prazo.
É fundamental educar as pessoas. É importante tornar o conhecimento acessível e combater preconceitos. O saber não ocupa lugar, a falta de conhecimento limita as pessoas, submete-as.
Diz-se que é preciso muito tempo para que os resultados comecem a aparecer. Sou bastante mais optimista. A informação, cada vez mais acessível a um maior número de pessoas, circula cada vez mais depressa. É importante começar.
Deixo aqui três citações do livro:
"A maior parte das pessoas tendem a olhar para tudo o que compram relacionando o valor que recebem com o preço que pagam. Quando os preços baixam, compram mais daquilo que querem ou precisam. Excepto no mercado de acções."
"A maioria das pessoas procura a gratificação imediata em quase tudo o que fazem, incluindo o investimento. Quando compram uma ação, estes investidores estão à espera que ela suba imediatamente. Se isso não acontece, vendem-na e vão procurar outra.
"Os investidores em valor são como agricultores. Semeiam e esperam que as colheitas cresçam. Se o milho demora um pouco mais devido ao frio, eles não arrancam a sementeira para fazer uma nova. Eles esperam pacientemente que o milho brote do chão, confiantes que, eventualmente, isso acontecerá."
Warren Buffett diz que "Preço é o que paga, Valor é o que recebe". Este livro tem o preço de 14,84 Euros. É muito valor por pouco dinheiro. É um Investimento em Valor.
Assistimos a uma enorme transferência de riqueza dos accionistas para os gestores de grandes multinacionais, que pagam a si próprios compensações extravagantes.
O anúncio feito pela DECO na passada quarta-feira e a carta de Greg Smith, ex-responsável pela área de derivados na Europa, Médio Oriente e África da Goldman Sachs, noticiada pela imprensa no mesmo dia, motivam este artigo. A Deco afirma que maus depósitos custaram 1,5 mil milhões aos portugueses em 2011. Greg Smith afirma, entre outras declarações fortes, que "os interesses dos clientes continuam a ser marginalizados".
Há meses, um artigo da Bloomberg noticiava que por todo o mundo Familly Offices retiravam o dinheiro dos bancos para criarem as suas estruturas de gestão. Nesse artigo, gestores de várias famílias nos quatro cantos do mundo manifestavam a sua insatisfação com os grandes bancos e gestores de dinheiro, alegando que deixaram de actuar como guardiões de capital, para passarem a meros vendedores e comissionistas.
Adam Smith não ficaria muito surpreendido com este resultado. Há mais de 2 séculos escreveu: "Sendo os administradores de tais empresas, os gestores de dinheiro alheio, mais do que do próprio, não se pode esperar que o vigiem tão ansiosamente como os sócios particulares fazem com o seu. Como os guardiões de um homem rico, muito facilmente concedem a si mesmo uma recompensa. A negligência e profusão, portanto, prevalecem sempre".
A grande dispersão do capital das grandes multinacionais em bolsa, financeiras ou não, faz com que não haja "um dono" responsável. Os investidores - grandes institucionais ou particulares - não assacam responsabilidades aos gestores. Os grandes institucionais, que detêm grande parte das acções - e na maioria dos casos são detidos por grandes bancos - gerem os fundos de pensões destas grandes multinacionais e são contratados para as operações de banca de investimento, que proporcionam comissões extraordinárias. Ora, não têm "liberdade" para questionar as remunerações de gestores, as políticas de aquisições ou a falta estratégia de criação de riqueza para os accionistas a longo prazo. Os pequenos investidores são estimulados a olhar para o curto prazo e as acções são papel para trocar de mãos todos os dias, permitindo elevadas comissões de transacção. Os auditores, que deveriam vigiar a actividade dos gestores para minorar conflitos de interesses, são, eles próprios, contratados por aqueles que terão que avaliar.
Assistimos, por isso, a uma enorme transferência de riqueza dos accionistas para os gestores de grandes multinacionais que pagam a si próprios compensações extravagantes. Nas instituições financeiras, esta transferência acontece, não só de accionistas, mas também de clientes para administrações e gestores. Entre 1997 e 2002, o total de comissões pago pelos investidores norte americanos aos bancos, corretoras e fundos de investimentos excedeu os 1,275 triliões de dólares. Parafraseando Churchil, nunca tanto foi pago por tantos a tão poucos por tão pouco.
O nosso sistema de capitalismo de mercado sofreu um falhanço profundo - como a todos os sistemas, às vezes, acontece - com uma variedade de causas, cada uma interagindo com e reforçando as outras: a ascensão do CEO imperial; os truques da engenharia financeira no reporte de resultados; o falhanço dos nossos guardiões - auditores, reguladores, gestores de investimentos e conselhos de administração - que se esqueceram a quem deviam lealdade; as instituições financeiras que passaram a ser traders de acções ao invés de se comportarem como donos de acções; a hipérbole promocional de Wall Street; a vontade dos analistas em pôr de lado o seu cepticismo; a excitação frenética dos media; e, obviamente, os membros do público investidor que festejam sempre o lucro fácil. Foi esta conspiração entre todas as partes interessadas, que baixou os padrões do negócio.
Este é o capitalismo dos gestores e não o dos donos, como deveria ser.
Warren Buffett, num artigo que será publicado a 27 de Fevereiro na "Fortune", explica de forma clara porque não devemos investir em ouro.
A definição de investimento expandiu-se muito nos últimos 20 anos: desde selos, arte, vinhos, ouro, petróleo, todo o tipo de produtos financeiros exóticos, até apostas desportivas. Muitos destes activos não são produtivos e quem os compra tem a esperança que no futuro alguém venha a pagar mais por eles. Quem investe assim, não é inspirado por aquilo que o activo produz, mas sim porque acredita que outros o desejarão ainda mais no futuro. Esta é, na sua essência, a definição de especulação. É desta forma que surgem as bolhas especulativas.
Warren Buffett, num artigo que será publicado no próximo dia 27 de Fevereiro na revista Fortune, explica porque prefere o investimento em activos produtivos. Explica, de forma clara, porque não devemos investir em ouro. Passo a citar:
"O ouro é, hoje, um dos activos favoritos dos investidores que temem quase todos os outros, especialmente dinheiro. O ouro, contudo, tem dois defeitos: não tem grande utilidade nem produz rendimentos. É verdade que o ouro tem alguma aplicação industrial e decorativa mas a procura para estes propósitos é limitada e incapaz de absorver toda a nova produção. Entretanto, se mantivermos em carteira uma grama de ouro por uma eternidade, continuaremos a possuir uma grama de ouro no fim da eternidade.
O que motiva a maior parte dos compradores de ouro é a crença que as legiões de medrosos continuarão a crescer. Ao longo desta última década, essa crença esteve correcta. O aumento do preço gerou, por si só, um entusiasmo comprador adicional atraindo compradores que encaram o aumento do preço como a validação da sua tese de investimento. À medida que mais investidores se juntam à festa, eles criam a sua própria verdade - durante algum tempo.
Ao longos dos últimos 15 anos, tanto as acções tecnológicas como o mercado imobiliário demonstraram os excessos extraordinários que podem ser criados pela combinação de uma tese de investimento sensata, na sua génese, e bem publicitados preços crescentes. Nestas bolhas, um exército de investidores, a princípio cépticos, sucumbem à prova entregue pelo mercado e o grupo de compradores expande-se - durante algum tempo - o suficiente para manter a roda a girar. Mas as bolhas inevitavelmente estouram. E o velho provérbio é mais uma vez confirmado: "aquilo que o sábio faz no princípio, o tolo faz no fim".
Actualmente, o stock global de ouro é de cerca de 170.000 toneladas métricas. A 1.750,00 dólares por onça - o preço actual do ouro - o seu valor global atinge os 9,6 triliões de dólares. Chamemos a este stock, Conjunto A.
Criemos agora um Conjunto B com um valor igual. Podemos comprar toda a terra agrícola dos Estados Unidos (162 milhões de hectares, com uma produção anual de 200 biliões de dólares) e 16 Exxon Mobil's (a mais lucrativa empresa do mundo, com lucros anuais superiores a 40 biliões de dólares). Após estas compras, ficaríamos com uns trocos no bolso, cerca de 1 trilião de dólares. Consegue imaginar algum investidor, com 9,6 triliões de dólares disponíveis, que escolhesse o Conjunto A?
Para além da avaliação estarrecedora que é dada ao stock de ouro existente, os preços actuais do ouro avaliam a sua produção anual em cerca de 160 biliões de dólares. Os compradores - quer sejam joalheiros, utilizadores industriais, indivíduos assustados ou especuladores - têm que absorver continuamente toda esta produção apenas para manter o equilíbrio nos preços actuais.
Dentro de um século, os 162 milhões de hectares de terra agrícola terão produzido quantidades enormes de milho, trigo, algodão e outras colheitas - e continuarão a produzir qualquer que seja a moeda em utilização. As 16 Exxon Mobil´s terão pago triliões de dólares em dividendos aos seus accionistas e terão nos seus balanços activos avaliados em muitos mais triliões. As 170.000 toneladas de ouro não terão variado no peso e continuarão a ser incapazes de produzir qualquer rendimento.
Admito que, daqui a cem anos, quando as pessoas se assustarem, muitas corram a comprar ouro. Estou confiante, contudo, que o Conjunto A terá conseguido uma taxa de retorno muito inferior à do Conjunto B."
Buffett apelidou este conjunto de vantagens competitivas Moat, ou seja, o fosso, como os que existiam à volta dos castelos medievais para os proteger dos inimigos.
O Investimento em Valor pressupõe a selecção de um conjunto limitado de boas empresas cujos negócios subjacentes tenham fundamentos económicos soberbos, que sejam geridas por gestores capazes e honestos e que estejam a transaccionar a preços sensatos. A ênfase deve ser colocada primeiro, na procura de bons negócios, os que têm grandes vantagens competitivas e capacidade para as manter por muitos e bons anos; segundo, no desconto a que a acção transacciona no mercado em relação ao valor justo determinado para a empresa.
É claro que uma excelente empresa pode não ser um bom investimento se comprarmos as suas acções sem margem de segurança. A Microsoft, em 2000, já era uma empresa excepcional. Contudo não era um bom negócio e quem a comprou ainda está a perder dinheiro.
O nosso objectivo na gestão de patrimónios financeiros é encontrar negócios com características excepcionais a preços sensatos. Os negócios medíocres, mesmo em saldo, não interessam ao investidor em Valor. Uma empresa que consiga gerar retornos elevados no capital investido durante muitos anos, irá capitalizar a riqueza dos seus accionistas a taxas de rentabilidade mais elevadas.
Para se encontrar boas empresas com grande potencial a prazo, é necessário concentrar os esforços na análise dos negócios que lhes estão subjacentes e determinar se essas empresas têm o seu futuro protegido por atributos que lhes conferem vantagens competitivas duráveis.
Empresas que conseguem fazer isto não são comuns, uma vez que a obtenção de retornos elevados atrai concorrentes para o sector o que reduz as rentabilidades do negócio. No entanto, algumas empresas resistem aos ataques da concorrência promovendo o seu crescimento por períodos bastante alargados de tempo. Empresas deste género podem preencher qualquer carteira de investimento em acções que tenha como objectivo obter um bom retorno com risco muito reduzido.
Alguns exemplos de empresas com grandes vantagens competitivas e que ao longo dos últimos 30 anos conseguiram rentabilidades excepcionais: Johnson & Johnson (retorno total: 5233% i.e, 14,16% anuais), Exxon Mobil (retorno total: 7144% i.e, 15,33% anuais), Procter & Gamble (retorno total: 5088% i.e, 14,06% anuais), Wells Fargo (retorno total: 8408% i.e, 15,95% anuais) ou Coca Cola (retorno total: 10202% i.e, 16,69% anuais) têm sofrido competição intensa ao longo destes anos. No entanto, continuam a gerar excelentes retornos do capital.
Existem características estruturais específicas que permitem detectar este tipo de empresas. Os atributos mais comuns que conferem vantagens a um negócio são:
1. activos intangíveis, como marcas fortes, patentes ou licenças regulatórias, que lhe permitem vender produtos e serviços que os seus concorrentes não conseguem replicar,
2. produtos e serviços muito difíceis de abdicar pelos clientes, criando custos de mudança que conferem à empresa poder de fixação de preços,
3. efeitos de rede - uma força poderosa de vantagem competitiva que pode permitir manter os concorrentes à margem por longos períodos de tempo,
4. vantagens na estrutura de custos, que podem ter origem nos processos operacionais, na localização, escala ou no acesso privilegiado a determinado activo (uma matéria-prima, por exemplo), que permite à empresa disponibilizar bens e serviços a preços mais baixos que os concorrentes.
Warren Bufett apelidou este conjunto de vantagens competitivas de Moat, ou seja, o fosso, como os que existiam à volta dos castelos medievais para os proteger dos inimigos e que, no caso das empresas com fundamentos económicos excelentes, contribuem para manter a concorrência afastada do seu negócio e rentabilidades excepcionais.
O objectivo do investidor em Valor é ter em carteira negócios de primeira classe. Ao longo de qualquer período de tempo alargado, estes investimentos provarão ser os vencedores destacados face a outras categorias de activos. Melhor ainda, serão os mais seguros.
Se compramos bons activos a um preço barato, garantimos certamente que vamos obter uma valorização desses activos e um bom retorno do nosso investimento.
"Os portugueses são muito conservadores". "Os investidores não gostam de risco". "Acções eu? Não. Só depósitos a prazo, produtos garantidos ou fundos".
Grande parte dos investidores, quando aplicam o seu dinheiro, procuram depósitos a prazo ou produtos de capital garantido. Infelizmente, os resultados dos investimentos feitos nesta última dúzia de anos vieram mostrar que:
1. Os depósitos a prazo são garantidos parcialmente porque houve um movimento mundial ao nível dos governos em Outubro de 2008 para que acabasse a corrida generalizada aos levantamentos da banca. Quanto à conservação do capital investido, o cliente de depósitos a prazo corre o risco real dos seus rendimentos não acompanharem a inflação e perder assim poder de compra. Este é o imposto escondido que vai erodindo o património financeiro.
2. Os produtos de capital garantido são criados e vendidos por grandes instituições financeiras para atrair os investidores que gostam de garantias. Primeiro, têm maturidades longas e os valores são garantidos apenas no seu vencimento. Qualquer vicissitude de curto prazo que obrigue o investidor a vender, implica assumir perdas de capital, por vezes elevadas, dependendo do momento de mercado. Estes valores estão também investidos nos mercados financeiros. Segundo, são produtos opacos, difíceis de entender e com tantos "ses" que aliciam o investidor para um rendimento potencial condicionado por tantas variáveis que dificilmente se conjugam em simultâneo. Têm resultado em rentabilidades próximas de zero. Os bancos que os vende aos seus clientes, são meros comissionistas da banca mundial de investimento.
3. As obrigações de dívida soberana, de empresas públicas, de instituições financeiras e grandes empresas foram outro investimento onde muitas poupanças foram colocadas. Era garantido e todos os 6 meses pagava um valor certo. Ora, uma obrigação é uma promessa que o emitente está a fazer a quem a subscreve, dando o direito a receber juros nas datas acordadas e a devolução do capital no vencimento.
As promessas valem o que vale quem as faz e muitas não foram cumpridas. O que mais chocou o investidor comum nos últimos 2 anos foi verificar que as obrigações valem hoje muito menos do que o valor investido. Cotam diariamente no Mercado Secundário, com mais ou menos liquidez e, se o investidor precisar do seu dinheiro rapidamente, terá que vender com perdas, em muitos casos, substanciais.
Na semana passada, num leilão de dívida alemã, os investidores aplicaram o seu dinheiro motivados pelo medo. Por cada 100 euros emprestados à Alemanha irão receber no vencimento, daqui a 6 meses, 99,99 Euros. Os investidores estão realmente a pagar à Alemanha para lhes "guardar" o dinheiro. Considero que as garantias, independentemente da qualidade que possam ter, estão muito sobrevalorizadas.
4. Os fundos de investimento apresentam custos excessivos que vão desde comissões de subscrição, resgate, gestão e performance. Na maioria dos casos, os clientes não fazem a menor ideia onde estes fundos investem, das percentagens que investem em cada activo e dos custos associados. Por vezes têm investimentos fora da caracterização que apresentam. As rentabilidades são na maioria dos casos negativas ou próximas de zero.
5. Investimentos em acções que, em muitos casos, apresentam perdas de 60 a 70% dos valores investidos. Talvez o título com maior disseminação pelos investidores, o BCP, perdeu nos últimos 5 anos cerca de 94%. Muitas acções foram vendidas com crédito e em carteiras monotítulo. Esta foi sem dúvida uma máquina de destruição de dinheiro e sobretudo uma máquina de destruição de confiança. Hoje, muitos destes investidores não querem ouvir falar em investimentos em acções. Resta dizer que esta actuação nada teve de investimento, foi especulação e jogo.
Se garantirmos que compramos bons activos, que geram bons rendimentos e estão baratos, com tempo, teremos garantido um bom retorno.
No mundo do investimento tudo o que é óbvio é questionável e nada do que é importante é intuitivo.
Incluo, com frequência, nos meus artigos, citações famosas que resistem à passagem do tempo exactamente porque são relevantes, eloquentes e cheias de sabedoria.
De Santayana, "a história repete-se e esquecer o passado é estar condenado a repeti-lo" . De Winston Churchil, "quanto mais longe no passado olhares, mais longe no futuro conseguirás ver". De Mark Twain, "a história não se repete, rima". De que serve a história? No fim de contas, a história é passado.
Li, por estes dias, mais uma carta a investidores digna de nota, desta vez, de Howard Marks, com referências que também já aqui escrevi: "A verdade é que a história pode ser uma grande ajuda... no investimento e na vida. Na quinta década da minha carreira como investidor, sinto que muita da minha capacidade de adicionar valor tem origem na história que testemunhei e no significado que dela consegui extrair".
Como Twain disse, os eventos da história não se repetem exactamente. Raramente se passa a mesma coisa uma e outra vez. No mundo dos investimentos, por exemplo, a duração e amplitude das flutuações raramente são as mesmas de ciclo para ciclo. Mas também, como Twain disse, a história rima. São aquilo a que eu chamo tendências ou padrões comportamentais que apresentam as lições importantes.
A tendência dos investidores em ignorar ou esquecer o passado é notável. Assim como o hábito de sucumbir à emoção. As pessoas esquecem-se, particularmente, da natureza cíclica das coisas, extrapolam até ao excesso as tendências passadas e ignoram a probabilidade da reversão para a média.
"A Morte das Acções", um artigo publicado na BusinessWeek em Agosto de 1979 sinalizando uma mudança tectónica no investimento, é um bom exemplo. A base era a seguinte:
1. Sete milhões de accionistas tinham abandonado o mercado de acções desde 1970,
2. As instituições que geriam fundos de pensões foram autorizadas a investir noutros activos que não acções,
3. Os fundos de investimento, até então com cerca de 80% investido em acções, estavam abaixo de 50%,
4. Poucas empresas encontravam comprador para as suas acções.
O artigo era tão negativo que, quem pensasse só por si, diria: isto já não pode piorar mais. A verdade é que marcou a mudança: o início do maior bull market da história.
"Yogi" Berra, famoso jogador de basebol dos New Youk Yankees, ficou também na história por proferir frases sem lógica: "não chega ao fim enquanto não acaba", "quando chegares a uma bifurcação, segue-a", "deja vu outra vez" ou "na verdade, eu não disse tudo aquilo que disse"
O autor deste artigo "A morte das Acções" não lhe ficava atrás. No artigo justificava o título dizendo: "...com o preço do imobiliário sempre a subir... a terra é uma garantia contra perdas" ou "para os investidores... os preços baixos das acções continuam a ser um desincentivo ao investimento" e "seria necessário um bull market sustentado durante um par de anos para atrair uma base alargada de investidores e restaurar a confiança".
Ora, quando os preços estão tão baixos, as acções podem começar a subir sem a ajuda de um bull market. Da mesma forma, quando as acções estão caras, os preços podem ruir sob o seu próprio peso.
A conclusão é simples: o bom senso não é comum. A multidão está invariavelmente errada nos extremos do mercado. No mundo do investimento, tudo o que é óbvio é questionável e tudo o que é importante é contra-intuitivo. Os investidores provam repetidamente que conseguem ser menos lógicos que Yogi.
Quando os preços sobem para níveis além do céu, quer no mercado de acções ou imobiliário ou outro, reina o optimismo... Do mesmo modo, quando os preços caem para níveis tão baixos que as empresas transaccionam a 60% do valor de substituição dos activos subjacentes e o pessimismo está em máximos, é comum aparecer um novo paradigma: as velhas regras já não se aplicam.
O que, consistentemente, fornece as fundações para esta insistência de que o "jogo" mudou para sempre? As quatro palavras mais perigosas do mundo do investimento: DESTA VEZ É DIFERENTE.
Warren Buffett investe em acções, por vezes comprando toda a empresa, muitas vezes comprando, em bolsa, "fatias" de bons negócios.
Einstein terá dito um dia que o juro composto é a mais poderosa força do Universo. De Warren Buffett, ouvimos falar do efeito bola de neve, de como uma pequena bola vai aumentando de tamanho à medida que vai rolando, resultando na segunda maior fortuna do mundo. Desde 1965, com a Berkshire Hathaway, Warren Buffet investe em acções, por vezes comprando toda a empresa, muitas vezes comprando, em bolsa, "fatias" de bons negócios. Buffett, nestes 46 anos, ganhou para os seus accionistas 20,2% ao ano.
Vejamos então o efeito bola de neve. Quem tivesse em 1965 aplicado 10.000 dólares em produtos de muito curto prazo, teria ganho aproximadamente a taxa média de inflação no período, ou seja, 3% ao ano. O resultado desta aplicação seria hoje de 38.950 dólares. Quem tivesse investido em Obrigações de Tesouro Americano de longo prazo, que no período renderam cerca de 5,5%, obteria, 117.385 dólares, ou seja conseguiria cerca de 3 vezes mais. Warren Buffett, investindo em acções, conseguiu compor estes retornos a uma média de 20,2% ao ano. Os mesmos 10.000 dólares resultariam em 49.228.755 dólares. Exactamente. Leu bem. Quarenta e nove milhões duzentos e vinte e oito mil setecentos e cinquenta e cinco dólares. É uma rentabilidade excepcional e Warren Buffet é um investidor excepcional. Este é o efeito bola de neve. A taxa à qual conseguimos compor os retornos do nosso património financeiro. A força mais poderosa do universo.
46 anos é muito tempo, sem dúvida, e 20,2% é uma taxa excepcional. Contudo, alguém que entra no mercado de trabalho com 25 anos e se reforma aos 65, descontou para a sua reforma cerca de 40 anos. Se, durante este período, para além dos descontos que faz para a segurança social, fizer individualmente o seu plano para a reforma, poderá, passados 30 ou 40 anos, acumular uma soma muito satisfatória para acomodar a subida do custo de vida e permitir maior tranquilidade.
No início da década de 90, muitos aforradores portugueses, motivados por benefícios fiscais, constituíram PPRs - Planos de Poupança Reforma. Nos últimos 20 anos, estes PPRs ganharam em média 3,8% ao ano, o que, num investimento inicial de 100.000 euros, sem qualquer reforço adicional, teria resultado em 210.837 euros. Sensivelmente no mesmo período, o Fundo de Pensões da Holanda ganhou 7,1% ao ano, ou seja, o mesmo investimento teria resultado em 394.266 euros, quase o dobro do caso português.
Este exemplo pretende tornar claro ao leitor, que tão importante como poupar é dar vida à poupança. É essencial assegurarmo-nos que ela é bem gerida, que é aplicada e capitalizada a taxas satisfatórias que incentivem os investimentos a longo prazo, mas com rentabilidades muito superiores àquilo que tem sido oferecido pelas instituições financeiras através de produtos estruturados complexos, seguros de capitalização e mesmo depósitos a prazo puros.
Um investidor com 60 anos tem uma esperança de vida de mais 25 ou 30 anos. Se, durante este período de tempo, investir todo o seu património financeiro em depósitos a prazo ou produtos de seguros de capitalização obtém rentabilidades brutas de cerca de 3,5 a 5% ao ano.
No passado dia 16 de Dezembro, escrevi nesta página " A longa curva da prosperidade". Apresento aí as várias alternativas de investimento em diferentes classes de activos e concluí que investir em empresas com negócios excepcionais ,geridos por gente honesta e capaz, compradas a preços sensatos, permitir-nos-á, compor o retorno dos capitais investidos a taxas de rentabilidade excelentes.
Quando deveríamos estar a ensinar os nossos jovens universitários sobre o investimento a longo prazo e a magia do juro composto, os jogos da bolsa que são organizados pelas universidades e corretoras estão, na realidade, a ensiná-los a especular e a reforçar uma mentalidade de curto prazo.
Um horizonte de investimento de 3 a 5 anos é essencial para conseguir retornos satisfatórios.
O professor Jeremy Siegel demonstrou que as cem empresas do S&P500 que pagam mais dividendos têm uma performance superior à do índice em cerca de 3% ao ano.
Imagine que há trinta anos investiu 1.000 dólares em Altria (antiga Philip Morris, fabricante dos cigarros Marlboro) e as manteve em carteira até hoje. Na altura, teria comprado 29 acções ao preço de 34,50 dólares. Hoje, depois de vários stock splits (divisões das acções em mais unidades) e spinoffs (a distribuição de novas acções de empresas independentes formadas apartir de negócios ou divisões da empresa mãe), teria em carteira:
- 700 acções da Altria - Tabaqueira americana com interesses na área dos vinhos e serviços financeiros,
- Quase 500 acções da Kraft Foods - Empresa de produtos de consumo alimentar e bebidas,
- 700 acções da Philip Morris International - Tabaqueira americana com negócio fora dos Estados Unidos.
Estas posições valeriam cerca de 65.900 dólares. Melhor ainda, teria recebido 32.600 dólares em dividendos. Se tivesse reinvestido esses dividendos, em vez de quase 1.900 acções das três empresas (Altria, Kraft e Philip Morris International), teria mais de 7.400 acções com um valor de 260.000 dólares. Este valor inclui dividendos de 91.500 dólares - quase o triplo do rendimento recebido por quem escolheu não reinvestir os dividendos. E a cereja no topo do bolo é que hoje, sem vender qualquer acção, estaria a receber anualmente 13.000 dólares em dividendos.
Pensará o leitor que este exemplo da Altria é meramente teórico. Na verdade a avó de Jim Mueller, analista do site Motley Fool, fez algo semelhante. No início da década de 60, comprou acções da Exxon e reinvestiu todos os dividendos. Quando se reformou, 30 anos depois, com os lucros deste investimento, comprou dois lotes de terra e construiu a casa onde goza agora a sua reforma. Por outras palavras, a Altria não é o único exemplo de como investir em boas empresas e reinvestir os seus dividendos pode torná-lo mais rico ao longo dos anos.
O Professor Jeremy Siegel, da Wharton School of Business, demonstrou que as cem empresas do S&P500 que pagam mais dividendos têm uma performance superior à do índice em cerca de 3% ao ano. Uma vantagem de 3% ao ano pode não parecer muito mas, em dez anos, significa mais 900 euros extra por cada 1.000 euros investidos.
Como podemos encontrar agora empresas que possam replicar esta performance? Altria e Exxon são "máquinas de dinheiro" não porque eram grandes empresas (apesar de o serem) ou porque pagavam um dividendo - nem todas as empresas que pagam dividendos podem ser consideradas máquinas de dinheiro - mas porque aumentam consistentemente os seus dividendos. E tinham a capacidade de o fazer porque tinham lucros consistentes. E sabemos bem o impacto que o crescimento de lucros tem no preço das acções.
Contrariamente ao que se possa pensar, estas empresas não são raridades; quase 20% das empresas do S&P500 aumentaram em mais de 10% os seus dividendos nos últimos 10 anos. Esta lista inclui nomes tão familiares como a McDonald's (com um aumento de dividendos de 46,5% ao ano), TJX Cos. (com 21,8% anuais), Newmont Mining (12,8%) ou EOG Resources (25,9%).
Estes retornos médios rivalizam com a performance histórica de Warren Buffett. Bastando, para tal, investir em empresas bem geridas com uma história consistente de rentabilidades e crescimento de resultados, com marcas fortes e negócios sustentáveis que lhes permitem suportar aumentos regulares dos dividendos. Definidos os negócios com as qualidades apontadas, resta-nos aguardar pelo preço de entrada que garanta uma margem de segurança, isto é, que proteja o capital investido de evoluções desfavoráveis no negócio. Tal permitir-nos-á salvaguardar o investimento e potenciar a sua rentabilidade futura.
Para os investidores é importante saber se as suas carteiras de investimento possuem acções que possam ser máquinas de fazer dinheiro para o futuro. É fundamental comprá-las quando estão baratas.
Votos de um próspero ano novo.