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Publicado originalmente em 13 de dezembro de 2022 por Ben Carlson no blog A Wealth of Common Sense
Com que frequência é que o mercado cai em anos consecutivos?
A menos que aconteça um milagre de Natal, o mercado de ações dos EUA terminará o ano com uma queda de dois dígitos.
Se este recuo persistir, será a 12ª vez nos últimos 95 anos que isto acontece.
Portanto, estas quedas são relativamente raras, mas não completamente fora do leque de possibilidades.
Não há nada de especial nestas contabilidades de final de ano. Os ciclos económicos não morrem a 31 de dezembro e renascem a cada ano a 1 de janeiro.
E também não conseguimos prever o que vai acontecer num determinado ano com base no que aconteceu no ano anterior. Os mercados não são assim tão fáceis.
Desde 1928, o S&P 500, após um ano de ganhos, subiu cerca de 55% das vezes. Isto faz sentido quando consideramos que o mercado sobe 3 em cada 4 anos, em média.
Após um ano de subidas, o mercado cai 18% das vezes e após um ano de quedas o mercado sobe 18% das vezes.
Restam apenas 9% das vezes em que os mercados caem dois anos consecutivos.
Podemos constatar pelo quadro abaixo que, por vezes, as perdas se agrupam, mas não frequentemente:
Entre 1929 e 1932, verificaram-se 4 anos consecutivos de quedas. O mercado caiu 3 anos consecutivos entre 1939 e 1941. Isto apenas se voltou a repetir em 1973 e 1974.
A última vez que o mercado de ações registou uma série de anos negativos foi no bear market de 2000 a 2002, quando cada um desses anos caiu mais que o anterior.
Do ponto de vista da psicologia do investidor, um bear market prolongado é provavelmente mais difícil de tolerar do que uma queda severa que acaba em pouco tempo.
Por exemplo, a maioria dos investidores prefere que acabemos este ano com uma queda de 30% e regressemos a um bull market, do que enfrentar uma queda de 15% em 2022 e outra queda de 15% em 2023.
Suponho que o risco de isto acontecer seja uma das maiores razões pelas quais as ações têm um prémio de retorno relativamente a outras classes de ativos.
Anos consecutivos de queda no mercado de obrigações são ainda mais raros do que no mercado de ações:
Na realidade, antes dos anos consecutivos de quedas em 2021 e 2022, a única outra vez em que isto aconteceu, nas últimas nove décadas, foi em 1955-1956 e 1958-1959 (que coincidentemente foi outra altura em que as taxas subiram de um ponto de partida baixo).
Surpreendentemente, se estes níveis se mantiverem, 2022 será o pior ano para os títulos do Tesouro a 10 anos na história do mercado financeiro moderno. A única outra vez em que testemunhamos uma queda de dois dígitos na obrigação de referência do governo dos EUA foi em 2009.
Se nos quisermos concentrar no lado bom das coisas, de uma perspetiva de diversificação, nunca houve um período em que tanto as ações como as obrigações os títulos caíram em anos consecutivos ao mesmo tempo.
Não sei o que vai acontecer com as ações e as obrigações em 2023. O facto de ambas estarem a cair bastante este ano pode significar que o próximo ano será bom para os mercados financeiros.
Mas ninguém consegue prever o curto prazo. Não é impossível que os mercados tenham um punhado de anos maus consecutivos.
Na maioria das vezes, acontecem coisas boas nos mercados.
Mas às vezes também acontecem coisas más.
Para sobreviver no longo prazo, temos de nos assegurar que as nossas expetativas preveem ambos os desfechos.
Publicado no blog A Wealth of Common Sense a 17 de janeiro de 2023 por Ben Carlson
5 lições de um ano terrível para os mercados financeiros
A maior parte dos investidores provavelmente gostaria de esquecer 2022 no que diz respeito ao desempenho do mercado e seguir em frente. Foi um ano muito mau para os mercados. Mas podemos retirar algumas lições valiosas.
Aprendemos mais sobre nós próprios durante um bear market do que num bull market.
Este artigo que escrevi para a revista Fortune aborda 5 lições para investidores de 2022.
O ano passado foi um dos piores anos para os mercados financeiros na história económica moderna. As ações entraram num bear market. As obrigações, normalmente um refúgio quando as ações caem, também foram duramente atingidas.
Não foi um ano fácil para os investidores, porque não havia sítio onde se pudessem refugiar.
Eis algumas das lições mais importantes de 2022:
No curto prazo, tudo pode acontecer
É raro que as ações e as obrigações dos EUA caiam no mesmo. Na verdade, antes de 2022, isto só aconteceu três vezes desde 1928:
Tipicamente, quando o mercado de ações cai, as obrigações fornecem o lastro para o portfólio, à medida que os investidores fogem para a segurança do rendimento fixo.
No ano passado, no entanto, o recuo das ações ocorreu, em parte, devido ao que está a acontecer no mercado obrigacionista. A Reserva Federal, para combater a inflação mais elevada das últimas quatro décadas, aumentou agressivamente as taxas de juro.
Uma vez que as obrigações estavam a transacionar com yields tão baixos, as perdas foram das mais elevadas que os investidores alguma vez viram na história do mercado financeiro moderno.
O mercado de ações dos EUA caiu pouco mais de 18% em 2022, enquanto o mercado de obrigações caiu 13%. Os títulos do Tesouro de dez anos caíram mais de 15%, enquanto os títulos do governo de longo prazo caíram mais de 30%.
Portanto, esta não foi apenas a primeira vez em décadas que ações e obrigações caíram no mesmo ano, mas é a primeira vez na história que ações e obrigações registaram perdas de dois dígitos simultaneamente. Há bons motivos para afirmar que 2022 foi um dos piores anos de todos os tempos, em termos de desempenho, para as carteiras tradicionais de ações e obrigações.
2022 recordou-nos que, nos mercados tudo pode acontecer no curto prazo, até coisas que nunca aconteceram antes.
Prever o futuro é difícil
O mercado imobiliário dos EUA entrou em 2022 a ferver. No final de 2021, O Índice Nacional de Preços de Casas Case-Shiller registava uma subida anual de quase 20%.
Uma das maiores causas para o boom dos preços da habitação foi o ambiente de taxas de juros ultrabaixas que surgiu devido à pandemia. No início do ano, a taxa do crédito à habitação para um empréstimo de taxa fixa de 30 anos era apenas 3,1%. Isto não durou muito.
As taxas mais que duplicaram em 2022, atingindo os 7,1% antes de fechar o ano à volta dos 6,4%.
Muitas pessoas previram que, no ano passado, o mercado imobiliário faria uma muito necessária pausa, mas absolutamente ninguém antecipou esta vertiginosa subida das taxas do crédito à habitação em tão curto período de tempo.
2022 recordou-nos, mais uma vez, que as previsões de preços costumam ser afetadas por variáveis económicas e de mercado que a maioria das pessoas não consegue prever atempadamente.
Nada funciona para sempre
As ações tecnológicas foram as grandes vencedoras da década de 2010. Empresas como a Apple, Amazon, Microsoft, Facebook e Google tornaram-se tão grandes e dominantes que só havia uma opção -- e essa opção era comprá-las.
Há um velho ditado em Wall Street que diz que nada falha tanto como o sucesso, porque as expetativas são tão elevadas que se torna quase impossível continuar a superar o que os investidores acreditam que vai acontecer no futuro.
Em 2022, as ações tecnológicas descobriram finalmente como era lidar com expectativas tão elevadas. Algumas das maiores ações tecnológicas registaram as maiores perdas de todos os tempos:
Estas são algumas das maiores e melhores empresas do mundo, mas os preços das ações não sobem sempre.
O ano passado veio reforçar a ideia que mesmo as melhores empresas podem levar a grandes perdas se as comprarmos ao preço errado.
Grandes ganhos são normalmente acompanhados por grandes perdas
Os tempos do boom da pandemia viram vários ativos e títulos levantarem voo como foguetões com ganhos enormes. Em 2020 e no início de 2021, os investidores fizeram os preços de uma série de investimentos especulativos subir estrondosamente.
No final de 2021 e 2022, muitos desses foguetões regressaram à Terra:
Os melhores títulos dos tempos de boom são frequentemente os piores dos tempos de bust, e nos últimos dois anos, isto não foi diferente.
O ano passado voltou a recordar-nos não é possível obter grandes retornos nos mercados financeiros sem o potencial de grandes perdas.
As perdas nos mercados são inevitáveis
O ano passado foi um dos piores jamais registados no mercado de ações, mas estas perdas fazem muito mais sentido quando as encaramos no contexto dos ganhos que as precederam.
Nos três anos anteriores à perda de 18% do S&P 500 em 2022, o índice subiu 31%, 18% e 28%.
Mesmo com as perdas de 2022, o S&P 500 está a subir mais de 60% desde 2019. Isto significa retornos de 13% ao ano.
2022 recorda-nos que nunca é fácil de lidar com as crises no momento, mas se conseguimos manter uma mentalidade de longo prazo, os ganhos, eventualmente, superarão as perdas.
Procuramos investir num conjunto de negócios excecionais que conseguem capitalizar lucros ao longo de períodos alargados. Temos a convicção que um negócio de elevada qualidade é sustentado por três pilares fundamentais:
1. Vantagens competitivas duradouras,
2. Uma equipa de gestão com provas dadas,
3. Ventos favoráveis ao crescimento estrutural.
É importante que estes negócios sejam suportados por balanços sólidos que lhes deem a flexibilidade e a capacidade para reinvestir ao longo do ciclo económico. Procuramos comprá-los quando cotam a preços sensatos.
A qualidade do negócio e o preço a que o compramos - face à nossa estimativa de valor intrínseco - são a margem de segurança com que procuramos gerir o dinheiro dos nossos Clientes e o nosso.
Este artigo vai focar-se no segundo dos três pilares que sustentam a nossa filosofia de investimento:
Equipas de Gestão com provas dadas
Uma equipa de gestão excelente é frequentemente o ingrediente essencial que diferencia um negócio excecional de um medíocre. Na nossa opinião, uma equipa de gestão desempenha um papel fundamental em três áreas essenciais da empresa: Cultura: a equipa de gestão tem uma influência significativa na cultura de uma empresa.
Grandes empresas tendem a ser obcecadas pelo cliente, estimulam uma mentalidade de melhoria contínua e têm um histórico de tratar todos os stakeholders (Clientes, colaboradores, fornecedores, acionistas e, de uma forma geral, todas as partes envolvidas no negócio) de forma justa.
"Ao longo do tempo, a perícia com que os gestores de uma empresa alocam capital tem um enorme impacto no valor do negócio"
Warren Buffett - Carta aos Acionistas da Berkshire Hathaway, 1994
QUE CARACTERÍSTICAS PROCURAMOS NUMA EQUIPA DE GESTÃO?
Alinhamento de interesses: gostamos de investir em negócios onde os nossos interesses estão alinhados com os da equipa de gestão. Isto significa frequentemente que a equipa de gestão tem uma participação significativa na empresa ou a remuneração indexada à criação de valor de longo prazo.
Foco no longo prazo: criar um negócio é uma tarefa de longo prazo. Construir uma marca e conquistar a confiança dos consumidores demora anos ou décadas. Procuramos aliar-nos a equipas de gestão que estão focadas em tomar decisões sensatas de longo prazo.
Gestores experientes e apaixonados: mudanças nas equipas de gestão criam incerteza. Quando avaliamos a equipa de gestão de um negócio, procuramos estabilidade.
Comunicação transparente e integridade: investir, tal como todas as relações humanas, tem como base a confiança. Gostamos de gestores que comunicam de uma forma honesta e transparente com os acionistas.